Emoções e Sentimento

June 4, 2017 | Autor: Claudia Coelho | Categoria: Animal Studies, Animal Welfare, Emotions, Antonio Damásio, Emoções, Counsciousness
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Emoções e Sentimento À primeira vista não existe nada de caracteristicamente humano nas emoções, uma vez que é bem claro que os animais também têm emoções. No entanto, há qualquer coisa de muito característico no modo como as emoções estão ligadas às ideias, aos valores, aos princípios e aos juízos complexos que só os seres humanos podem ter. O que são as emoções? As emoções são conjuntos complicados de respostas químicas e neurais que formam um padrão. Todas as emoções desempenham um papel regulador que conduz à criação de circunstâncias vantajosas para o organismo, sendo a finalidade das emoções ajudar o organismo a manter a vida. A palavra emoção abrange uma das 6 emoções primárias ou universais: alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa ou aversão. Existem outros comportamentos aos quais tem sido atribuído o rótulo emoção, onde se incluem as emoções secundárias ou sociais (vergonha, ciúme, culpa ou orgulho) e as emoções de fundo (bem-estar ou mal-estar, calma ou tensão). Função biológica das emoções A função biológica das emoções é dupla. A primeira função consiste na produção de uma reação específica para a situação indutora. Por exemplo, num animal a reação pode consistir na fuga (flight), na imobilização (freezing), no ataque de um inimigo (fight) ou no adotar de um comportamento agradável. Nos seres humanos, as reações são essencialmente as mesmas mas temperadas, espera-se pela razão e pela sabedoria. A segunda função biológica da emoção é a regulação do estado interno do organismo de forma que possa estar preparado para essa reação específica. Por exemplo, um aumento da circulação de sangue nas artérias das pernas para que os músculos recebam mais oxigénio e glucose, no caso de uma reação de fuga, ou uma mudança dos ritmos cardíacos e respiratório, no caso de uma reação de imobilização. O objetivo biológico das emoções é evidente e as emoções não constituem um luxo supérfluo. As emoções são curiosas adaptações que fazem parte integrante do mecanismo através do qual os organismos regulam a sua sobrevivência. As emoções são

inseparáveis da ideia de recompensa ou de castigo, de prazer ou de dor, de aproximação ou afastamento, de vantagem ou desvantagem pessoal. Para espécies menos complicadas que os seres humanos, assim como para os seres humanos distraídos, as emoções produzem comportamentos bastante razoáveis sob o ponto de vista da sobrevivência.

À medida que se desenvolvem e interagem, os organismos ganham experiência factual e emocional com diversos objetos e situações do ambiente, tendo assim oportunidade de associar muitos objetos e situações que poderiam ter permanecido emocionalmente neutros, com os objetos e as situações que causam emoções naturalmente. A forma de aprendizagem conhecida por condicionamento é uma das maneiras de obter esta associação. A infiltração da emoção no nosso desenvolvimento e na nossa experiência quotidiana, liga virtualmente qualquer objeto ou situação da nossa experiência, pela força do condicionamento, aos valores fundamentais da regulação homeostática: recompensa ou castigo; prazer ou dor; aproximação ou afastamento; vantagem ou desvantagem; e, inevitavelmente, bem (no sentido de sobrevivência) ou mal (no sentido de morte).

A emoção e o mecanismo biológico que lhe é subjacente são os companheiros obrigatórios do comportamento, consciente ou não. Um exemplo: quando em presença de uma fonte de alimento ou sexo um animal desenvolve um comportamento de aproximação e exibe manifesta alegria; bloquear o seu caminho e impedi-lo de conseguir os seus objetivos causará frustração e até zanga, uma emoção muito diferente da felicidade. O indutor da zanga não é a expetativa de comida ou do sexo, mas sim do impedimento do comportamento que conduzia o animal para o consumar da boa expetativa. Outro exemplo seria a suspensão súbita de uma situação de castigo, o que induziria bem-estar e até alegria. De facto, podemos encontrar a configuração básica das emoções nos organismos simples, mesmo nos organismos unicelulares, e até somos capazes de atribuir determinadas emoções, como a felicidade, o medo ou a cólera, a criaturas muito simples. Fazemos essas atribuições de emoção baseando-nos apenas nos movimentos do organismo, na velocidade de cada ato, no n.º de atos por unidade de tempo ou no estilo dos movimentos. Tal deve-se a que a emoção, como o nome indica, tem a ver com o movimento, com um comportamento tornado externo, com certas orquestrações de reações a uma dada causa, num dado meio ambiente. Um dos seres vivos que mais contribuiu para o progresso da neurobiologia é um caracol marinho Aplysia californica. Têm sido realizados grandes avanços no estudo da memória utilizando este caracol gigante que pode não ser dotado de uma grande inteligência, mas tem numerosos comportamentos interessantes e um sistema nervoso decifrável do ponto de vista científico. O Aplysia não tem sentimentos como nós, mas tem qualquer coisa que não é dissemelhante das emoções. Dor e prazer fazem parte de duas genealogias diferentes da regulação vital. A dor está alinhada com o castigo e associada com comportamentos como o recuo e a imobilização. O prazer está alinhado com a recompensa e associado a comportamentos como a curiosidade, a procura e a aproximação. O castigo leva os organismos a fecharem-se sobre si mesmos, imobilizando-se e retraindo-se do seu meio ambiente. A recompensa leva os organismos a abrirem-se para o exterior, explorando os seus limites e, ao fazê-lo, aumentando simultaneamente, tanto a sua capacidade de sobrevivência, como a sua vulnerabilidade.

Esta dualidade fundamental é manifesta numa criatura tão simples e tão nãoconsciente como a anémona-do-mar. A essência da alegria e da tristeza, da aproximação e da fuga, da vulnerabilidade e da segurança, são visíveis na simples dicotomia do seu comportamento.

Bibliografia: Damásio, António (2000), O Sentimento de Si - O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência, Publicações Europa-América.

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