EMOÇÕES EM PSICOTERAPIA: TERAPIA FOCADA NAS EMOÇÕES E PSICOLOGIA POSITIVA

October 13, 2017 | Autor: A. Dias Holmqvist | Categoria: Emotion, Positive Psychotherapy, Positive psichology, Emotion-focused therapy
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INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DE SÃO PAULO IPQ HCFMUSP

ANDRÉA PEREIRA DIAS

EMOÇÕES EM PSICOTERAPIA: TERAPIA FOCADA NAS EMOÇÕES E PSICOLOGIA POSITIVA

SÃO PAULO – SP 2014 ANDRÉA PEREIRA DIAS

EMOÇÕES EM PSICOTERAPIA: TERAPIA FOCADA NAS EMOÇÕES E PSICOLOGIA POSITIVA

Trabalho de Conclusão do Curso de Terapias Cognitivas do Instituto de Psiquiatria

de

São

Paulo

como

requisito exigido para obtenção do título de Especialista. Orientador: Prof. Ms. Rodrigo P. de A. Sampaio

SÃO PAULO – SP 2014

À minha mãe e à minha irmã, meus primeiros e eternos amores.

AGRADECIMENTOS

Aos que me incentivaram, me apoiaram e sempre acreditaram em mim e representam a prova viva da teoria do bem-estar em minha vida; minha fonte de emoções

positivas,

de

engajamento,

de

realização,

de

sentido,

meus

relacionamentos positivos. Minha família, meu irmão Alexandre, meu pai Omar, grandes suportes nessa jornada. Minha irmã e grande amiga Adriana, mais que um suporte, minha parceira em tantas histórias e minha mãe Maria Luiza, a fonte de amor supremo e de vinculação segura, uma verdadeira coach emocional. Meus amigos, em especial as amigas Ianda, Glaucia, Renata, Fabíola e Nadia, por me escutarem, várias vezes, discorrer sobre minha paixão pelo trabalho com as emoções e com o positivo no ser humano. Ao Professor Cristiano Nabuco que me apresentou o Construtivismo de Mahoney em 1994 e, também, o responsável por me apresentar a Terapia Focada nas Emoções em 2013. Ao meu Orientador Rodrigo Sampaio pelas trocas, orientações e suporte na realização desse trabalho. Aos colegas de curso, em especial a Vanessa e a Maria Claudia por todas as trocas, momentos de estudo e escutas. Aos meus clientes, que compartilham comigo suas narrativas, emoções e sentimentos e aceitam o meu convite para caminhar pelo belo caminho das emoções em psicoterapia.

No esforço para entender o comportamento humano, muitos tentaram passar ao largo da emoção, mas não tiveram êxito. O comportamento e a mente, consciente ou não, assim como o cérebro que os gera, recusam revelar seus segredos, a menos que a emoção (e os muitos fenômenos que se escondem sob seu nome) seja inserida na equação e tenha sua importância reconhecida. António Damásio (2011, p. 140)

RESUMO

Os resultados dos estudos e pesquisas relacionados com os processos emocionais nos seres humanos vêm ganhando destaque na contemporaneidade, ocupando um importante espaço nas bases teóricas e intervenções de algumas psicoterapias pós-modernas. Nesse contexto, destacam-se a Terapia Focada nas Emoções e a Psicologia Positiva. Os objetivos desse trabalho consistem em apresentar as duas abordagens destacadas, verificar o papel das emoções em suas bases teóricas e nos respectivos processos de psicoterapia e analisar as duas abordagens em relação à conceitualização das emoções e ao trabalho com as emoções em suas intervenções. Para tanto, o método definido foi de pesquisa bibliográfica, o que evidenciou a ausência de artigos e publicações nacionais referentes às duas abordagens de psicoterapia em questão, de acordo com o conteúdo necessário para o atingimento dos objetivos desse trabalho. Verificou-se que a Terapia Focada nas Emoções e a Psicoterapia Positiva contam com bases teóricas similares e com uma gama de pesquisas e validações das suas intervenções por demonstrações empíricas e, mesmo com processos de trabalho distintos, extrapolam um tratamento voltado para a eliminação ou minimização dos sintomas de um transtorno mental ao incorporar uma visão de cura e ao propiciar o florescimento do ser humano e uma postura responsável pelo próprio bem-estar, como também, uma vida mais significativa. Além disso, se por um lado a Terapia Focada nas Emoções apresenta um passo à frente em relação às pesquisas e evidências do processo de mudança humana com a utilização da emoção, a Psicologia Positiva, apresenta um passo à frente nos estudos e trabalhos com a emoção voltados para uma atuação preventiva da Psicologia.

Palavras-chave: Emoção. Terapia Focada nas Emoções. Psicologia Positiva. Psicoterapia Positiva.

ABSTRACT

The results of study and research related to emotional processes have been gaining prominence in contemporary times, occupying an important position in the theoretical bases and interventions of some postmodern psychotherapies. In this context, Emotion-focused therapy and Positive Psychology have distinguished themselves. The objectives of the present work are to introduce both of these prominent approaches, to examine the role of emotions in their theoretical bases and respective psychotherapeutic processes and to analyze them in relation to the conceptualization of emotions and the work with emotions in their interventions. Bibliographic research was the method selected for this purpose, which has shown the lack of national articles and publications related to the psychotherapy approaches in question, as far as the content needed for achieving the objectives of this work is concerned. It has been verified that Emotion-focused therapy and Positive Psychotherapy rely on similar theoretical grounds and on a range of research and validation of their interventions through empirical demonstrations. Even though they have distinct work processes, they extrapolate to a treatment aimed at the elimination or minimization of mental disorders by incorporating a vision of cure, promoting human flourishing and a responsible attitude towards one’s own well-being, as well as a more meaningful life. Furthermore, if on the one hand Emotion-focused therapy presents a further step in research and evidence related to human change by working with emotions, Positive Psychology, on the other hand, offers a step ahead in studies and practices with emotions focused on the preventive activities of psychology. Keywords: Emotion. Emotion-focused therapy. Positive Psychology. Positive Psychotherapy.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Emoções humanas básicas ..................................................................... 16 Figura 2 – Visão da emoção pelas Terapias Construtivistas ..................................... 21 Figura 3 – Esquema emocional ................................................................................. 31 Figura 4 – Processo de geração da emoção ............................................................. 35 Figura 5 - Características essenciais e adicionais para o florescimento humano ..... 64 Figura 6 - Classificação Valores em Ação das Forças de caráter ............................. 67 Figura 7 - Visão geral do modelo da PPT com quatorze sessões ............................. 77

SUMÁRIO 1

Introdução................................................................................................... 10

2

Revisão bibliográfica .................................................................................. 13

2.1

Emoção ...................................................................................................... 13

2.1.1

Conceitos gerais ......................................................................................... 13

2.1.2

Emoções em psicoterapia ......................................................................... 19

2.2

Terapia Focada nas Emoções ................................................................... 23

2.2.1

Visão geral ................................................................................................. 23

2.2.2

Visão teórica .............................................................................................. 27

2.2.2.1

Teoria das emoções .................................................................................. 27

2.2.2.1.1 Tipos de emoção ........................................................................................ 29 2.2.2.1.2 Esquemas emocionais ............................................................................... 31 2.2.2.2

O modelo do construtivismo dialético de autofuncionamento: integração da biologia e da cultura ................................................................................... 34

2.2.2.3

Regulação emocional ................................................................................ 37

2.2.2.4

Construção de narrativa e significado ........................................................ 38

2.2.2.5

Visão da disfunção ..................................................................................... 39

2.2.3

Intervenções e o processo de psicoterapia ................................................ 40

2.2.3.1

Princípios de tratamento ............................................................................. 41

2.2.3.1.1 Princípios de relacionamento ..................................................................... 41 2.2.3.1.2 Princípios de tarefas ................................................................................... 42 2.2.3.2

Habilidades do terapeuta ............................................................................ 42

2.2.3.2.1 Habilidades de percepção .......................................................................... 43 2.2.3.2.2 Habilidades de intervenção ........................................................................ 44 2.2.3.3

Formulação de caso ................................................................................... 54

2.2.4

Aplicabilidade e outras considerações ....................................................... 56

2.3

Psicologia Positiva ...................................................................................... 58

2.3.1

Visão geral.................................................................................................. 58

2.3.2

Visão teórica ............................................................................................... 60

2.3.2.1

A teoria do bem-estar ................................................................................. 61

2.3.2.2

Emoções positivas ...................................................................................... 64

2.3.2.3

Forças de caráter e virtudes ....................................................................... 66

2.3.3

Intervenções e o processo da psicoterapia ................................................ 69

2.3.3.1

A Psicoterapia Positiva ............................................................................... 71

2.3.3.1.1 Fundamentos teóricos da Psicoterapia Positiva ........................................ 73 2.3.3.1.2 O processo da Psicoterapia Positiva .......................................................... 76 2.3.3.2

Mecanismos de mudança na Psicoterapia Positiva .................................... 81

2.3.3.1.4 Aplicabilidade e outras considerações ....................................................... 82 3

Discussão .................................................................................................. 84

4

Considerações finais ................................................................................. 88 Referências ................................................................................................ 89 Anexo 1 - Condições necessárias de Carl Rogers ..................................... 92

10

1

Introdução “Alguns dos mais excitantes progressos em nossa compreensão da

experiência humana têm ocorrido na área das emoções, da identidade e nas complexidades do desenvolvimento humano.” (MAHONEY, 1998, p. 172). Tal fala de Mahoney é altamente propícia no contexto atual em que a emoção ou os processos emocionais (emoção, afeto e sentimentos) passam a ter um destaque nos processos humanos de mudança, sendo suportada por pesquisas em diferentes áreas de conhecimento, como: as Neurociências, a Biologia e a Psicologia. O que representa uma evolução e mudança de paradigma, conforme a pontuação de Mahoney (1991), que relembra que historicamente os processos emocionais estavam associados com os mais básicos e primitivos aspectos animais da natureza humana, além de serem vistos como um dos principais impedimentos para a racionalidade e para a busca da verdade. Na visão contemporânea, as emoções mostram o que é importante nas diversas situações da vida, tendo um papel de guia orientador para as necessidades ou desejos, como também, para o conhecimento de quais ações são mais apropriadas nas diferentes situações da vida de uma pessoa. Em complemento, a emoção identifica o que é significativo para o bem-estar e prepara a pessoa para tomar uma ação adaptativa e provê um senso de plenitude unificadora, dessa maneira, a emoção diz o que é importante para as pessoas. (ELLIOT et al., 2004). Além disso, de acordo com Mahoney (1998, p. 174), “Os significados pessoais raramente mudam sem o envolvimento emocional”, sendo assim, se reforça a importância do trabalho com as emoções no processo de psicoterapia. Dessa maneira, pode-se destacar a Terapia Focada nas Emoções e a Psicologia Positiva, em que a emoção é um importante referencial em suas bases teóricas e nas respectivas intervenções. A Terapia Focada nas Emoções é pouco conhecida no Brasil, porém, em outros países, como Estados Unidos, Canadá, Portugal, Itália e outros países europeus, é bem conhecida e conta com um vasto conteúdo publicado, resultado das diferentes pesquisas realizadas, além de validações por meio de demonstrações empíricas das suas intervenções/ tratamento. Já a Psicologia Positiva, apesar de ser uma abordagem lançada no final

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da década de 1990, é mais conhecida no Brasil e conta com associações1, publicações nacionais: artigos, teses de mestrado e doutorado, como também, cursos de extensão e de formação, tal como em outros países da América Latina, América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia. Assim, essas são as abordagens que fazem parte do escopo desse trabalho. Além do destaque para o estudo das emoções nos processos de mudança humana no cenário atual, o meu interesse pelo trabalho com as emoções, como também, pelo desenvolvimento de pessoas com base em seus pontos fortes e nos aspectos positivos do ser humano e em uma atuação preventiva da psicologia, são os pontos que justificam a realização desse trabalho. Alinhado a isso, a ausência de bibliografia em português sobre a Terapia Focada nas Emoções2, como também, a inexistência, observada em minha pesquisa, de trabalhos comparativos entre a Terapia Focada nas Emoções e a psicoterapia ou atuação clínica da Psicologia Positiva reforçam a relevância de tal estudo. Sendo assim, os objetivos desse trabalho são: 1) apresentar a Terapia Focada nas Emoções e a Psicologia Positiva; 2) verificar o papel das emoções em suas bases teóricas e nos respectivos processos de psicoterapia e intervenções; 3) analisar as duas abordagens em relação à conceitualização das emoções e ao trabalho com as emoções em suas intervenções/ processo de psicoterapia. Para tanto, o método definido foi o estudo de revisão da narrativa com amostra de conveniência de material bibliográfico nacional e internacional acerca de: teoria das emoções, tendo como principal referência trabalhos de neurociência e em relação às emoções em psicoterapia, a visão da Psicoterapia Construtivista; Terapia Focada nas Emoções e Psicologia Positiva: objetivos, base teórica, conceito de emoção, intervenções e processo da psicoterapia. As etapas do método de trabalho consistiram

em:

pesquisa

bibliográfica;

análise

dos

materiais

levantados;

desenvolvimento do trabalho; realização de reuniões com orientador e conclusão do trabalho.

1

APPAL: Associação de Psicologia Positiva da América Latina e ABP+: Associação brasileira de Psicologia Positiva. 2 No momento da finalização desse trabalho no final de setembro de 2014, um dos livros de Leslie Greenberg, em inglês, referidos nesse trabalho, teve sua versão em português editada pela editora Coisas de Ler de Portugal em parceria com a Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Construtivista. GREENBERG, L. Terapia Focada nas Emoções. Portugal, 2014.

12

Assim, após essa breve introdução, o presente trabalho está estruturado da seguinte forma: Revisão bibliográfica dividida em três partes: 1) visão geral das emoções: conceitos gerais e emoções em psicoterapia, uma pincelada introdutória, tendo como bases teóricas: a Psicologia Construtivista de Michael Mahoney e os estudos de neurociência de António Damásio; 2) Terapia Focada nas Emoções: visão geral, base teórica, intervenções e processo da psicoterapia e aplicabilidade e outras considerações; 3) Psicologia Positiva: visão geral, base teórica, intervenções e processo da Psicoterapia Positiva e aplicabilidade e outras considerações; Discussão: análise das duas abordagens em relação à conceitualização da emoção e utilização das emoções no processo de psicoterapia; Considerações finais do trabalho.

13

2

Revisão bibliográfica

2.1 Emoção 2.1.1 Conceitos gerais Apesar do destaque para o estudo e para a importância das emoções nos processos psicológicos acontecer no final do século XX, citando alguns nomes como Leslie Greenberg, Jeremy Safran, Barbara Fredrickson, Diana Foscha, Robert Elliot e Laura Rice, o estudo das emoções não é algo recente, conforme relembrou Mahoney (1991, 1998) sobre a existência de uma extensa literatura a respeito das emoções produzida em tempos passados, a qual William James, no século XIX, fez uma detalhada revisão. Mahoney (1991, 1998), elucida sobre a existência de diversas evidências relacionadas com o papel dos processos emocionais em todas as atividades de um indivíduo e relembra que a atividade emocional no aspecto biológico apareceu junto ao surgimento dos primeiros mamíferos (há mais de cento e sessenta e cinco milhões de anos), em que uma nova organização cerebral surgiu como uma amplificação do antigo tronco cerebral vertebrado, formando o sistema límbico, a parte subcortical do cérebro relacionada com os padrões de comportamento emocional e de aproximação e evitação. O sistema límbico dos mamíferos além de propiciar a plasticidade comportamental, introduziu novos aspectos para o relacionamento mente-corpo e organismo-ambiente, como por exemplo: -

Capacidade de aprendizado e memória;

-

Monitoramento simultâneo e ajustes dos domínios internos (corporais) e externos (comportamentais) pelo sistema neurológico;

-

Capacidade de relacionamento emocional e vinculação (expressa por meio dos cuidados do mamífero com a respectiva prole).

Mais ou menos cento e quinze milhões de anos depois, mais uma evolução cerebral ocorre com o surgimento do neocórtex nos primatas. Apesar do neocórtex funcionar de maneira parcialmente independente do sistema límbico, quando se fala de emoção tal separação é enganosa, já que o processo de sentir não é uma

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exclusividade do sistema límbico e o processo de conhecer não é exclusivamente do neocórtex. (Mahoney, 1991, 1998). Essa brevíssima explanação remete a importância do conhecimento de aspectos cerebrais envolvidos nos processos emocionais para o trabalho com as emoções em psicoterapia. De acordo com Mahoney (2006), um dos principais fatos relacionados à mudança humana é que tal mudança é emocional e os sentimentos não são apenas vestígios do legado animal. Emoções e sentimentos representam as fundações e os filtros para grande parte da consciência humana e a corporificação e a emotividade são os caminhos para o processamento mental "superior". E assim, o mesmo autor, complementa afirmando que o pensamento, a atenção e as atividades humanas estão incorporados em mares de emoções e a emotividade é uma expressão essencial para a auto-organização e para o autofuncionamento. Para Damásio (2004), a compreensão da biologia das emoções, além de que o valor das diferentes emoções depende das circunstâncias atuais, oferece novas oportunidades para a compreensão do comportamento humano e, também, que os cérebros humanos continuam munidos com a estrutura biológica que leva os indivíduos a reagir de maneira ancestral, ineficaz e inaceitável em certas circunstâncias, por exemplo, quando se percebe em uma situação de perigo. Em adição, o mesmo autor em 2011 destaca que o estudo da emoção direciona para a questão da vida e valor, ou seja, requer menção a recompensa e a punição, aos impulsos e a motivação e, necessariamente, aos sentimentos. Mahoney

(1991,

1998),

também

destaca

a

relação

entre

motivação

e

emocionalidade que é levada em conta na abordagem construtivista em contrapartida com as teorias sobre motivação que raramente elucidam sobre a interdependência com o estudo das emoções. Os programas de emoção incorporam todos os componentes do maquinário da regulação da vida que foram surgindo na história da evolução, como a percepção e a detecção de condições, a mensuração dos graus de necessidade interna, o processo de incentivo com seus aspectos de punição e recompensa, os mecanismos de predição. Os impulsos e as motivações são constituintes mais simples da emoção. (DAMÁSIO, 2011, p. 144).

Dessa maneira, para Mahoney (1991, 1998), o crescente consenso em relação à importância dos processos emocionais na experiência humana e no desenvolvimento psicológico direciona para algumas questões básicas como: o que

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são as emoções, qual a funcionalidade e como elas interagem com outros fenômenos. Em relação às emoções, Damásio (2011) conceitua que são programas de ações complexos e em grande medida automatizados e engendrados pela evolução. Tais ações são complementadas por um programa cognitivo que inclui ideias e modos de pensar, mas o mundo das emoções é, sobretudo, feito de ações executadas no corpo, desde expressões faciais e posturas, até mudanças nas vísceras e no meio interno. Quando se fala em emoção é inevitável se remeter a sentimentos, o que às vezes causa uma confusão, pois se pode encontrar na literatura autores que não fazem distinção para ambos os fenômenos e aqueles que os diferenciam, no entanto, consideram que são fenômenos altamente relacionados. Damásio (2004, 2011) enfatiza a diferença entre tais fenômenos e descreve os sentimentos emocionais como percepções compostas do que ocorre no corpo e na mente quando uma emoção está em curso, ou seja, os sentimentos são compostos por imagens de ações e não pelas ações em si. Assim, as emoções constituem ações acompanhadas de ideias e determinados modos de pensar e os sentimentos emocionais são as percepções da expressão do corpo durante o surgimento de uma emoção. E, adiciona que esses sentimentos funcionam como marcadores somáticos, isto é, quando conteúdos do self emergem no fluxo da mente de um indivíduo, estimula o surgimento de um marcador que está relacionado com a imagem mental que desencadeou esse respectivo marcador. “A emoção e as várias reações com ela relacionadas estão alinhadas com o corpo, enquanto os sentimentos estão alinhados com a mente.” (DAMÁSIO, 2004, p. 15). Similarmente, para Bowlby (2002), os afetos, os sentimentos e as emoções são etapas de avaliações intuitivas de um indivíduo sobre seus próprios estados e desejos orgânicos para agir ou sobre a sucessão de condições ambientais em que ele se encontra. Essas avaliações geralmente são vivenciadas como sentimentos, ou seja, o processo de sentir de uma pessoa, que fornece um serviço de monitoria que permite avaliar o desenvolvimento de seus próprios estados, desejos e condições. Tais processos são frequentemente acompanhados de expressões faciais distintas, posturas corporais e movimentos incipientes, que costumam fornecer valiosas informações.

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Complementando a conceitualização da natureza da emocionalidade humana, Mahoney (1991, 1998 p. 179) selecionou, de diversas teorias da emoção, os componentes fundamentais da emocionalidade que são comuns em cada uma dessas teorias: -

Os processos biológicos, especialmente aqueles relacionados às funções neuroquímicas e endócrinas;

-

A expressão comunicativa, com ênfase no comportamento emocional;

-

Os processos cognitivos, incluindo as operações básicas da atenção, da percepção e da avaliação;

-

A experiência subjetiva, enfatizando a fenomenologia dos sentimentos;

-

Os componentes motivacionais que incluem a intenção, a direção e a prontidão diferencial para as várias classes de atividade. Em relação à classificação de emoções, Mahoney (1991,1998) discorreu

sobre o consenso das emoções humanas mais básicas com base no trabalho de diferentes teóricos, porém, tal consenso não pode ser considerado como universal, uma vez que as idiossincrasias das experiências emocionais são influenciadas culturalmente e expressas de maneira individual. De seu levantamento, destacou a relação de três teóricos para ilustrar as emoções humanas básicas: FIGURA 1 – Emoções humanas básicas Teoria psicoevolutiva (Plutchik) Medo Raiva Prazer Tristeza Aceitação Desgosto Antecipação Surpresa

Teoria da expansão Teoria diferencial das emoções (Tomkins) (Izard) Medo Medo Raiva Raiva Prazer Prazer Angústia Tristeza Desgosto Desgosto Interesse Interesse Surpresa Surpresa Desprezo Desprezo Vergonha Vergonha /Timidez Fonte: MAHONEY (1998, p. 180)

Para Damásio (2011), não é interessante o estabelecimento de um conjunto completo de classificação das emoções humanas em função dos critérios para as classificações tradicionais serem falhos e, assim, qualquer lista de emoções pode ser criticada por não estar completa ou contar com emoções em excesso. Dessa maneira, alinhado com a conceitualização da emoção como um programa de ações complexo que pode incluir uma ou mais respostas reflexas que foi/ foram

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desencadeada/ as por um objeto ou fenômeno identificável, isto é, um estímulo emocionalmente competente, simplifica e denomina como emoções universais: medo, raiva, tristeza, alegria, nojo e surpresa. Tal autor justifica que essas emoções atendem aos critérios de programa de ações complexos e que são produzidas em todas as culturas e fáceis de reconhecer, por exemplo, por meio das expressões faciais do ser vivo.

As emoções universais, também, foram classificadas por

Damásio (2004) como emoções primárias ou básicas e essas emoções estão presentes inclusive em culturas que não possuem designação para elas e cita Charles Darwin como o responsável pelo reconhecimento pioneiro da universalidade das emoções em humanos e em animais. Esse mesmo autor esclarece que a universalidade das expressões emocionais revela o grau em que o programa de ação é automatizado e não aprendido, bem como, que a emoção pode ser modulada em relação à intensidade ou duração dos movimentos componentes: movimentos externos, mudanças viscerais no coração, pulmões, intestino, pele e mudanças endócrinas. E, complementa que a execução de uma mesma emoção pode variar nas diferentes ocasiões da vida de uma pessoa, mas não o suficiente para torná-la irreconhecível para si próprio ou para os outros. Além das emoções universais, Damásio (2011, 2004) propõe mais dois grupos de classificação, as emoções de fundo, tal como, o entusiasmo e o desânimo e as emoções sociais: compaixão, embaraço, vergonha, culpa, desprezo, ciúme, inveja, orgulho e admiração. Algumas das emoções constantes nesses grupos estão representadas como emoções básicas nas três teorias da emoção listadas na FIGURA 1 desse trabalho. Em relação aos fatores desencadeantes das emoções, Damásio (2011) pontua que as emoções ocorrem por imagens de objetos ou fenômenos que estão acontecendo no momento ou por meio da recordação de eventos ocorridos no passado. Assim, os sinais das imagens processadas tornam-se disponíveis a várias regiões do cérebro, como: as relacionadas à linguagem, ao movimento e/ ou a áreas que constituem o raciocínio e direcionam para uma série de respostas: palavras para nomear um objeto, evocações de outras imagens que propiciam a relação ou a conclusão de algo acerca de um objeto, entre outras respostas. Tais sinais de imagens relacionadas com um determinado objeto também atingem regiões capazes

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de provocar alguma reação emocional, como por exemplo, a amígdala ser estimulada em situações de medo ou uma situação que causa compaixão atingir o córtex pré-frontal. Em adição, as emoções de fundo podem ocorrer em função de diferentes circunstâncias da vida, além de, em razão de estados internos como doença ou cansaço. Essas emoções podem surgir por meio da reflexão de uma situação passada ou situação que possa ocorrer. E, as emoções sociais são geradas em situações sociais representando um papel importante no funcionamento dos grupos sociais, são emoções mais recentes na trajetória da evolução humana que podem ser aprendidas e reforçadas no decorrer do desenvolvimento de uma pessoa. As emoções e seus fenômenos subjacentes são tão essenciais para a manutenção da vida e para a subsequente maturação do indivíduo que se encontram confiavelmente prontas para uso já em fase inicial do desenvolvimento. (DAMÁSIO, 2011, p. 159).

Pode se entender da frase de Damásio que “manutenção da vida e maturação do indivíduo” fazem parte da funcionalidade das emoções, em adição, Mahoney (1991, 1998) mostra uma evolução na visão da funcionalidade das emoções com base em estudos contemporâneos que ‘quebram’ estereótipos nem tão antigos acerca das emoções: “Até recentemente, o estudo e a compreensão da emocionalidade eram prejudicados por velhos estereótipos que consideravam o afeto negativo – como um obstáculo e um perigo em termos de desenvolvimento humano.” (MAHONEY, 1998, p. 182). Alguns dos estereótipos em relação às emoções resumidos por Mahoney (1991,1998) são: a) As emoções fazem parte de domínios de funcionamento “inferiores” ou “animalescos”, ou seja, não fazem parte das funções mentais “superiores”; b) As emoções motivam ou podem direcionar o indivíduo para agir irracionalmente e de maneira potencialmente destrutiva; c) As emoções “negativas” como a raiva, a ansiedade e a tristeza são indesejáveis ou intoleráveis em função de serem perigosas; d) Os padrões crônicos e agudos da emocionalidade intensa devem ser eliminados, regulados ou controlados, mas também, em algumas situações, compreendidos para se transcender tais padrões.

19

E, a visão contemporânea, conforme o compilado de Mahoney (1991,1998) baseado no trabalho de diferentes teóricos da emoção, é representada por alguns dos seguintes pontos: a) Os processos emocionais estão envolvidos no processo de atenção e as emoções “negativas” podem ter um papel poderoso no direcionamento da atenção; b) As emoções estão completamente envolvidas na percepção dos indivíduos, como também, no aprendizado e na memória; c) O desenvolvimento emocional e o desenvolvimento cognitivo estão totalmente relacionados da infância até a morte de um indivíduo; d) As emoções negativas podem sugerir um prejuízo no desempenho de uma pessoa por estarem relacionadas com uma diminuição da curiosidade; e) Os

processos

emocionais,

em

razão

dos

seus

fundamentos

neurofisiológicos e bioquímicos, estão relacionados aos fenômenos psicológicos relevantes para a saúde e para o bem-estar do indivíduo (padrões de estresse, atividade hormonal e sistema imunológico); f) A expressão das emoções interfere nos relacionamentos interpessoais, na vinculação e na comunicação.

2.1.2 Emoções em psicoterapia Os processos emocionais como material de trabalho para a psicoterapia não é algo recente, a grande questão está relacionada com a visão da emoção e como ela é manejada nas diferentes abordagens. De acordo com Mahoney (1991, 1998), a relevância da afetividade pode ser observada em diferentes contextos, desde a questão da dor da angústia emocional e, consequentemente, a desorganização no funcionamento do indivíduo, que representam umas das razões mais comuns para a procura da psicoterapia, como também, nos processos humanos de mudança, por meio de psicoterapia ou não, que tendem a ser estressantes e amplamente emocionais.

20

Mahoney (1991, 1998) apresentou de maneira organizada como a emocionalidade é trabalhada em psicoterapia em três diferentes métodos: descarga, insight e controle, conforme explanação a seguir: a) Terapias pela descarga ou catarse: o método da descarga ou catarse é baseado no encorajamento do indivíduo para experienciar a emoção de maneira intensa com o objetivo de dissipá-la. A catarse é utilizada nas seguintes abordagens: Psicanálise, Reichiana, algumas Existencialistas, Humanistas e Gestalt. A efetividade das técnicas de descarga tem sido questionada por pesquisas sobre os processos de mudança em psicoterapia, incluindo estudos relacionados à emoção; b) Terapias de insight: o insight é outra maneira bastante utilizada para se trabalhar às emoções intensas ou dolorosas. Geralmente, o insight está associado com alguma forma de compreensão racional dos padrões afetivos em questão. O insight foi combinado aos métodos ad-reativos e catárticos por Freud e seus seguidores e é utilizado pelas abordagens: Psicodinâmicas,

Cognitivas,

algumas

terapias

Comportamentais,

Existencialistas e Humanistas; c) Terapias de controle e eliminação: o trabalho com as emoções nesse método é baseado no controle absoluto. O objetivo geral é regular o afeto indesejável em direção à restauração do equilíbrio e da conveniência social. Os métodos de controle e eliminação são utilizados por tratamentos médicos, psicocirurgia, biofeedback e algumas terapias Comportamentais. Não cabe nesse trabalho discutir sobre a eficácia desses três métodos, como também, compará-los, mas sim, apresentar uma visão geral e diversa das diferentes maneiras que a emoção é trabalhada em psicoterapia. Em relação às abordagens construtivistas, Mahoney (1991, 1998) apresentou que as emoções são consideradas processos poderosos e de conhecimento primitivo que integram a organização do indivíduo ao longo de toda a sua vida. Ou seja, tais processos emocionais

podem

estar

relacionados

com

processos

de

desconforto

e

desorganização, mas são entendidos como expressões naturais das realidades atuais do indivíduo e elementos necessários e, frequentemente, facilitadores da reorganização das suposições tácitas do indivíduo sobre ele mesmo e acerca do

21

mundo. Por meio de uma relação segura no contexto da terapia, o indivíduo é encorajado a examinar a sua própria consciência e as suas reações aos seus sentimentos, como também, ponderar os episódios de angústia, como elementos necessários para o desabrochar do seu desenvolvimento individual. O quadro abaixo resume a visão das Terapias Construtivistas em relação à emoção, disfunção e ao plano de tratamento com a utilização das emoções. FIGURA 2 – Visão da emoção pelas Terapias Construtivistas Visão da emoção As emoções são processos primitivos e poderosos de conhecimento que refletem os padrões da organização e desorganização da experiência individual.

Disfunção Os padrões disfuncionais ou dolorosos da experiência emocional refletem tentativas individuais imperfeitas para se adaptar e se desenvolver. A desorganização emocional reflete os estágios da reorganização sistêmica geral.

Plano de tratamento A ênfase está na experiência e na apropriada expressão das emoções, tal como na exploração do seu desenvolvimento, das funções (do passado e do presente) e possíveis papéis em desenvolvimento. De acordo com os limites e flexibilidade de cada indivíduo, os períodos de desorganização emocional podem gerar ou refletir oportunidades de mudança. Fonte: MAHONEY (1991, p. 207, tradução nossa)

A Terapia Construtivista é alinhada com uma teoria voltada para a funcionalidade, a organização e a evolução das emoções, ou seja, as emoções têm um papel essencialmente positivo e precioso na vida das pessoas, em contrapartida com abordagens que se baseiam em teorias voltadas para a disfuncionalidade, desorganização e patologia, em que a expressão das emoções não é vista como um processo adaptativo, mas muitas vezes disfuncional. Sendo assim, o alinhamento teórico da psicoterapia (foco na funcionalidade ou disfuncionalidade), interfere diretamente na conceitualização e no tratamento dos padrões da experiência emocional. (MAHONEY, 1991, 1998). Complementando, para o Construtivismo, as emoções têm papéis críticos na direção da atenção, nas percepções, na organização da memória e motivam o engajamento com o aprendizado que a vida exige dos indivíduos. Assim, as emoções são entendidas como algo central na experiência humana. Sentir não é ruim, perigoso ou não saudável, mas sim, não sentir ou brigar contra o que se sente é extremamente ameaçador para a saúde e para o bem-estar. Dessa maneira, o

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relacionamento dos indivíduos com os seus sentimentos é, geralmente, tão importante quanto os sentimentos em si. (BUGENTAL apud MAHONEY, 2006).

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2.2 Terapia Focada nas Emoções 2.2.1 Visão geral A Terapia Focada nas Emoções - TFE (Emotion-focused therapy - EFT) é uma abordagem de psicoterapia que foi desenvolvida por Leslie Greenberg (psicólogo e pesquisador na York University em Toronto no Canadá) e seus colegas na década de 1980 com base em estudos empíricos sobre o processo de mudança. (GREENBERG, 2010). É uma abordagem de tratamento suportada empiricamente, integrativa e vivencial, que pode ser definida como uma prática de terapia guiada pelo conhecimento do papel da emoção na mudança humana. (GREENBERG, 2011). É um enfoque que, por meio de suas estratégias, propicia ao terapeuta e ao cliente o conhecimento, a aceitação, o entendimento, a expressão, a utilização, a regulação e a transformação da emoção, como também, uma correção da experiência emocional. Os objetivos de tal abordagem são: o fortalecimento do self, a regulação do afeto e a criação de um novo significado, o que inclui ajudar os clientes a desenvolver a sua inteligência emocional (entende-se aqui por inteligência emocional, a habilidade em identificar, acessar e usar as emoções), a fim de poder lidar melhor com os seus problemas e viver em harmonia consigo e com os outros. (ELLIOT et al., 2004). A TFE é uma abordagem neohumanista em que os princípios humanistas foram reformulados e renovados com base na teoria contemporânea da emoção, na teoria da vinculação (ELLIOT, 2010), no construtivismo dialético, assim como, em mais de vinte e cinco anos de pesquisa em psicoterapia (ELLIOT et al., 2004). É salutar também falar das influências das teorias humanistas e fenomenológicas (Terapia Centrada no Cliente, Gestalt Terapia e Logoterapia), das teorias cognitivas, da neurociência afetiva, da psicodinâmica e da sistêmica familiar. (GREENBERG e GOLDMAN, 2007). É uma terapia centrada no cliente, mas com uma postura relacional orientada para o processo, com um terapeuta com um estilo exploratório de respostas e guiado por uma estratégia de marcadores e tarefas, ou seja, é uma psicoterapia processual vivencial que provê uma distinta perspectiva da emoção como uma fonte de sentido, direção e crescimento. (ELLIOT et al., 2004). “Consideramos a emoção como ponto crucial do processo de mudança dos clientes e também como núcleo do que significa ser-se humano.“ (ELLIOT, 2010, p.1).

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A TFE tem como premissa principal que as emoções são fundamentais para a construção do self e são determinantes para a auto-organização dos indivíduos (GREENBERG, 2004). No nível mais básico de funcionamento, as emoções apresentam uma forma adaptativa para o processamento de informações e direcionamento para ações, orientando as pessoas a respeito do ambiente em que estão inseridas, além de serem atuantes na promoção do bem-estar da pessoa. (GREENBERG, 2010). Sendo assim, o potencial adaptativo inato das emoções, quando ativado, pode ajudar as pessoas a mudar os estados emocionais problemáticos e as suas interações (GREENBERG, 2011), ademais, mostrar ao indivíduo o que é importante em diversas situações da vida. Isto é, o potencial adaptativo das emoções serve como um respeitável guia para as necessidades ou desejos individuais e para orientar o conhecimento de quais ações são mais apropriadas nas diferentes situações e interações da vida. A visão de que os indivíduos têm uma natureza basicamente afetiva e as emoções definem um modo básico de processamento (GREENBERG, 2011, 2002) está alinhada com a teoria das emoções que baseia a TFE. Por exemplo, o medo estimula um mecanismo de processamento que procura por perigo, a tristeza informa sobre perdas ou sobre a raiva por ter sido violentado. Além disso, as emoções fazem parte do primeiro sistema de comunicação das pessoas que rapidamente sinaliza as intenções e os afetos nas relações interpessoais. Ao invés de ‘Eu penso, então existo’, para a TFE faz mais sentido dizer ‘Eu sinto, por isso eu sou’, pois primeiramente, o indivíduo sente antes do ato de pensar. (GREENBERG, 2011). A TFE enxerga que as psicoterapias tradicionais deram excessiva ênfase na compreensão da consciência e na mudança da cognição e do comportamento e, com isso, negligenciaram o papel central e fundamental da mudança emocional no processo de mudança humana. Porém, a TFE não nega a importância da criação de significados e a mudança comportamental, mas enfatiza a importância do trabalho com as emoções, ou seja, promover uma experiência visceral com a emoção no processo terapêutico a fim de gerar uma mudança emocional, que por sua vez favorecerá uma mudança humana. (GREENBERG, 2011). Complementando, Jon Carlson e Matt Englar-Carlson pontuaram de forma interessante o processo de mudança emocional na visão da TFE:

25 A TFE advoga que a mudança emocional é necessária para uma mudança permanente e para o desenvolvimento dos clientes tal como para o bemestar. A TFE baseia-se no conhecimento em relação ao efeito da expressão emocional e identifica o potencial adaptativo das emoções como cruciais para criar uma mudança psicológica significativa. (CARLSON e ENGLARCARLSON apud GREENBERG, 2011, p. 157, tradução nossa).

Mudar as emoções é um ponto central para o tratamento dos problemas humanos, sendo assim, o trabalho com as emoções é um caminho crucial para a mudança, contudo, isso não quer dizer que a TFE trabalha somente com o foco nas emoções. A abordagem tem uma visão integrativa do ser humano e considera questões motivacionais, cognição, comportamento e interações, uma vez que muitos dos problemas humanos podem estar relacionados com questões biológicas, emocionais, cognitivas, motivacionais, comportamentais, fisiológicas, sociais e culturais, o que quer dizer que tais questões necessitam de atenção e não são deixadas de lado na TFE. (GREENBERG, 2011). Essa abordagem foi inovadora ao integrar perspectivas humanistas da natureza

humana,

disfunção

e

desenvolvimento

humano

com

a

teoria

contemporânea da emoção e com uma posição filosófica que se refere ao construtivismo dialético. (ELLIOT et al., 2004). Assim, a base teórica da TFE conta com uma visão humanista e holística do ser humano e uma visão integrativa da motivação e as diversas forças que guiam as experiências e os comportamentos. Um importante aspecto da motivação é a regulação do afeto, uma vez que as pessoas estão frequentemente buscando sentido para as suas emoções. Segundo Greenberg (2011), a principal motivação para se viver é a busca por um sentido na vida, e um sentido para a vida não é dado ao indivíduo, mas sim alcançado. Em complemento, a teoria das emoções contempla os seguintes elementos: os esquemas emocionais, os tipos de emoção ou respostas emocionais, a visão do construtivismo dialético que inclui a integração da biologia e da cultura (completamente alinhada com a visão integrativa da motivação descrita acima com a busca por sentido), regulação emocional e a construção de narrativas e significado. (GREENBERG, 2004, 2010, 2011; ELLIOT et al., 2004). Outro ponto de destaque na TFE é a ênfase na importância da relação terapêutica para o processo da psicoterapia. Em poucas palavras, é uma relação empática, centrada no cliente, respeitosa, que flui de maneira sinérgica por meio de uma postura de seguir e liderar o cliente. Nessa relação, o cliente é visto como o

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‘expert’ em sua própria experiência e o responsável por construir os significados das situações e questões da própria vida. E nesse cenário, o terapeuta também é um líder ativo do processo da psicoterapia, o que não significa uma postura professoral, conselheira, de controle ou de manipulação, tampouco, busca corrigir os problemas do cliente ou fornecer conhecimento ou explicação a respeito de algum assunto ou situação, mas sim, trabalha ativamente com e para o cliente para ajudá-lo a resolver as questões levadas para a terapia. Essa relação é baseada na colaboração ativa entre o cliente e o terapeuta. (ELLIOT et al., 2004). Tais premissas propiciam um processo de tratamento em que a divisão das questões a serem trabalhadas, tal como a formulação de caso, são realizadas em conjunto com o cliente, o que promove uma responsabilização do cliente com o seu tratamento. Para Greenberg (2011), o terapeuta TFE ajuda seus clientes a compreender as complexidades dos seus relacionamentos de longo prazo, as suas origens psicogênicas, a gerenciar os seus pensamentos, comportamentos e as suas interações de uma maneira saudável. Os seguintes elementos são pontuados por Greenberg (2011) como chave para o trabalho psicoterápico em TFE: a) Relação empática; b) Exploração diferenciada da experiência emocional do cliente e as origens e dinâmicas dessas emoções; c) Encorajamento do cliente para permitir e aceitar as informações que as emoções fornecem ao invés de se utilizar de uma repetição catártica da expressão emocional para se livrar da emoção; d) Foco em processos interruptivos que interferem nos esforços do cliente para acessar a emoção; e) Acesso a novas emoções com o intuito de modificar emoções antigas; f) Simbolização e reflexão a respeito da emoção a fim de criar uma nova

narrativa. Assim, é fundamental para um terapeuta TFE ter conhecimento a respeito das emoções, das dinâmicas da emoção e de como trabalhá-las (GREENBERG, 2011) e também do seu próprio esquema emocional (ELLIOT et al., 2004). Essas e as demais habilidades do terapeuta TFE estão descritas mais adiante nesse trabalho.

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A TFE é aplicável na psicoterapia individual, de casal ou familiar e o trabalho com as emoções tem sido integrado a abordagens psicodinâmicas e cognitivas. Inicialmente, a abordagem para a terapia individual era chamada de Process Experimental Psychotherapy (PE) e para casais de Emotionally Focused Therapy3. O termo Emotion-focused therapy (EFT) foi proposto por Leslie Greenberg por volta de 2002 como um termo integrativo e mais abrangente a fim de englobar as diferentes aplicações da psicoterapia (individual, casal e família) em que o foco principal das suas intervenções esteja baseado no trabalho com as emoções. (GREENBERG, 2011). 2.2.2 Visão teórica 2.2.2.1 Teoria das emoções Para a TFE, a emoção é fundamentalmente adaptativa e provedora do modo básico de processamento dos indivíduos, pois, automaticamente e rapidamente, consegue avaliar as situações de acordo com a sua relevância para o bem-estar da pessoa e, assim, produzir ações a fim de atender as suas necessidades. (GREENBERG, 2011, 2002; ELLIOT et al., 2004). Dessa forma, as emoções servem de guia para os diferentes aspectos da vida das pessoas e sinalizam os eventos que afetam os mais importantes relacionamentos, as questões pessoais, além de ajudar as pessoas a se conectarem, se sentirem energizadas, amadas e interessadas, como também, frequentemente, propiciar o encontro dos indivíduos com as suas respectivas essências. (GREENBERG, 2011). Da mesma maneira que as emoções são adaptativas e servem como um guia orientador para a ação, as emoções podem tornar-se problemáticas em função de traumas do passado ou, simplesmente, porque as pessoas foram ensinadas a ignorá-las ou desprezá-las. (ELLIOT et al., 2004). Algumas vezes, as emoções podem levar a ações incompreensíveis e ao arrependimento, além de poderem ser vagas ou nebulosas somente se tornando claras quando simbolizadas e expressadas para outras pessoas. (GREENBERG, 2011).

3

Termo ainda adotado por Sue Johnson que é uma das fundadoras do Centro internacional de excelência em Emotionally focused therapy http://www.iceeft.com/

28

O desconhecimento, a negação ou, até mesmo, a complexidade do sistema emocional humano podem ocasionar em erros e disfunções. A falta de habilidade para acessar as próprias emoções ou os aspectos da experiência emocional é uma dificuldade comum e priva a pessoa de uma valiosa e adaptativa informação. Outra dificuldade comum, é que uma resposta emocional desadaptativa pode estar escondendo outras respostas emocionais, como por exemplo, a raiva esconder o medo. Assim, pessoas que tem problemas com regulação da emoção podem ser acometidas por fortes ou dolorosas emoções ou, até mesmo, não perceber ou apresentar certo distanciamento das suas emoções. (ELLIOT et al., 2004). A emoção é um fenômeno cerebral que é muito diferente do pensamento e tem sua própria base neuroquímica e fisiológica. (GREENBERG, 2011). Segundo Le Doux (1998), há dois diferentes caminhos para produzir emoção: via amígdala cerebral 4, que é o caminho mais curto e rápido, que envia um sinal automático de emergência ao cérebro e ao corpo e produz respostas instintivas ou intuitivas ou via neocórtex cerebral, que é um caminho mais longo e vagaroso, por meio da produção de emoções mediadas por pensamentos. Em algumas situações, tal como de perigo, é primordial e adequado responder rapidamente, porém, há situações na vida de uma pessoa que demandam uma reflexão acerca da emoção antes de se reagir, ou seja, uma ação que foi resultante da integração entre a reação emocional e a cognição. Para isso, o neocórtex é fundamental, pois é a parte do cérebro responsável por propiciar ao indivíduo novas respostas emocionais, isto é, com emoções aprendidas de acordo com a experiência de vida de cada indivíduo e que faz parte das respectivas memórias emocionais em adição às respostas emocionais herdadas, tal como, o medo do escuro. (GREENBERG, 2011, 2010). As emoções dos clientes servem como um tipo de bússola na TFE, guiando o cliente e o terapeuta ao que é mais importante para o cliente, sobre quais as necessidades estão sendo atendidas e quais necessidades não são ou não foram atendidas na vida do indivíduo. Um princípio chave da TFE é que as emoções fornecem acesso às necessidades, desejos ou objetivos e às tendências de ações respectivamente associadas. Assim, cada sentimento tem uma necessidade e cada ativação de um esquema emocional provê um direcionamento para ação que deve propiciar a satisfação da necessidade. Por exemplo, quando um cliente se percebe 4

A amígdala faz parte do sistema límbico que é uma parte do cérebro de todos os mamíferos.

29

triste, tal estado de sentimento leva a um tácito processamento que avaliou que algo importante

foi

perdido

e

direciona

para

uma

necessidade

de

conforto.

(GREENBERG, 2011). Dessa maneira, a emoção como foco da terapia propicia o entendimento de como o indivíduo organiza as suas experiências por meio de esquemas emocionais e como é o funcionamento do seu processo emocional. (ELLIOT et al., 2004). 2.2.2.1.1 Tipos de emoção Nem todas as emoções têm a mesma função e, na TFE, é fundamental que o terapeuta saiba distinguir entre os quatro diferentes tipos de resposta emocional, pois o conhecimento dos diferentes tipos de emoção propicia clareza das formas adaptativas e não adaptativas da emoção e ajuda a orientar as intervenções no processo da psicoterapia. (GREENBERG, 2011; ELLIOT et al., 2004). Os quatro tipos de emoção, apresentados por Greenberg (2011), são: a) primária adaptativa, b) primária desadaptativa, c) secundária desadaptativa e d) instrumental. O funcionamento normal de uma emoção consiste num processamento rápido das informações acerca das situações com o intuito de preparar a pessoa para uma ação efetiva. Dessa maneira, a emoção primária adaptativa acaba sendo o único tipo de emoção totalmente funcional e os outros três tipos são geralmente disfuncionais. a) Emoções primárias adaptativas: a resposta emocional é consistente com a situação e ajuda a pessoa a tomar a ação mais apropriada. Como por exemplo, a raiva frente a alguma possibilidade de violação com a própria pessoa ou alguém de seu cuidado ou relacionamento íntimo (filhos, pais, irmãos ou amigos), a atitude será voltada para que não ocorra ou que se interrompa a possibilidade de violação ou a violação em si; o medo em face de alguma situação de perigo e/ ou ameaça que prepara o indivíduo para uma ação a fim de evitar ou reduzir o perigo; a vergonha que sinaliza que a pessoa possa ter sido exposta ou ter agido de maneira não apropriada e corre o risco de ser julgada ou rejeitada pelos outros, motivando a pessoa a se corrigir.

30

b) Emoções primárias desadaptativas: também são reações diretas às situações, porém, são respostas que não ajudam a pessoa e enfrentar construtivamente

a

situação.

Essas

respostas

emocionais

estão

relacionadas com experiências anteriores ou histórias de aprendizado, que na maioria das vezes foram experiências traumáticas. Por exemplo, uma pessoa que aprendeu desde pequena que a proximidade com outra pessoa era geralmente seguida de abuso físico ou sexual acaba respondendo com raiva e rejeição, pois enxerga uma possível violação por aqueles que buscam uma proximidade com ela. c) Emoções secundárias desadaptativas: a reação desse tipo de emoção, que pode ser chamada de “reação da reação”, ofusca e/ ou transforma a emoção primária em uma emoção secundária, que são consideradas desadaptativas, pois direcionam para ações que não são pertinentes para a situação em questão. Por exemplo, um homem que se deparou com uma situação de rejeição poderia se sentir triste ou com medo, mas tornarse irritado com a rejeição e com raiva (foco externo) ou bravo consigo próprio por ter sentido medo (foco interno). Muitas das emoções secundárias obscurecem ou tentam se defender contra uma dolorosa emoção primária ou são reações emocionais das emoções primárias. As emoções secundárias também podem ser respostas de racionalizações ou pensamentos, isto é, a pessoa sentir-se ansiosa em função de uma expectativa de rejeição, e neste ponto Greenberg (2011, p. 842, tradução nossa) destaca que: “embora um pensamento possa produzir uma emoção, nem toda emoção é produzida pelo pensamento”. d) Emoções instrumentais: são as emoções ‘fingidas’ pelas pessoas a fim de influenciar, controlar ou conseguir algo dos outros, ou seja, são de natureza mais interpessoal e que não refletem, necessariamente, as emoções sentidas no momento ou com a situação. A expressão das emoções instrumentais pode ocorrer de maneira consciente ou por hábito da pessoa, como também, pode ocorrer automaticamente ou sem consciência da pessoa. Em ambos os casos, a emoção demonstrada é independente da resposta emocional que seria originada pela situação. Embora o processo de atuação possa induzir a alguma forma de

31

experiência emocional interna, não será consistente com a situação atual do indivíduo. Por exemplo, uma pessoa que se mostra triste para obter atenção de alguém ou um indivíduo que se mostra com uma cara de bravo a fim de intimidar ou dominar outra pessoa. 2.2.2.1.2 Esquemas emocionais Os esquemas emocionais são formados pelas memórias emocionais e pelas organizações das experiências emocionais vividas e estão na base do sistema de resposta emocional de uma pessoa adulta. São estruturas internas da memória emocional que sintetizam os elementos do afeto, da motivação, da cognição e do comportamento em organizações internas que são rapidamente ativadas por meio de sinais relevantes. Ou seja, as experiências importantes que foram significativas em função de terem ativado respostas emocionais são codificadas em esquemas de memórias emocionais. Um esquema emocional representa como uma situação foi interpretada e qual foi o efeito emocional no indivíduo. Por exemplo, a memória emocional de cuidados recebidos ou abusos sofridos enquanto criança é codificada em memórias processuais do que aconteceu e como o indivíduo se sentiu. (GREENBERG, 2011). O desenvolvimento dos esquemas emocionais pode ser entendido como uma rede neural que representa a história de uma experiência vivida, conforme ilustrado na figura (3) apresentada por Greenberg (2011) a respeito do medo que um cliente tinha de falhar em função de ter falhado certa vez em relação à expectativa de sua mãe. FIGURA 3 – Esquema emocional

Fonte: GREENBERG (2011, p. 782)

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Elliot et al. (2004), apresentaram que os esquemas emocionais são tanto a base para o funcionamento normal de uma pessoa, como a fonte para as disfunções humanas e organizaram a seguinte lista para explicar os esquemas emocionais: a) Um esquema emocional é um processo em vez de uma coisa. Os processos dos esquemas emocionais podem incluir componentes linguísticos, mas geralmente são compostos por elementos não verbais (sensações no corpo, imagens visuais e até mesmo cheiros), são ativos e também podem ser orientados para a ação. b) Os esquemas emocionais não estão diretamente disponíveis para a consciência, mas podem ser acessados indiretamente por meio das experiências relacionadas com a produção dos esquemas emocionais. Para ser identificado é necessário, primeiramente, ativar experiências específicas para assim, serem exploradas ou expressas antes de se refletir a respeito. c) Os processos de esquemas emocionais são entendidos com base no construtivismo dialético: os esquemas emocionais estão envolvidos em complexos processos de auto-organização que se organizam com base na emoção.

Os

esquemas

emocionais

não

são

estáticos

e

estão

constantemente sendo construídos e descontruídos, o que demanda uma avaliação personalizada e flexível. d) Os

esquemas

emocionais

de

uma

pessoa

podem

ser

ativados

separadamente ou simultaneamente. A auto-organização baseada em esquemas emocionais funciona como se existissem “vozes” internas na pessoa. É vital que o terapeuta reconheça e respeite a multiplicidade de auto-organizações, pois são importantes fontes de desenvolvimento e adaptação criativa. e) Os processos de esquemas emocionais e as respectivas auto-organizações podem ser visualizados como se fossem um composto de elementos relacionados conjuntamente em uma rede, em que a ativação de um único elemento pode se espalhar para outros componentes. Os elementos dos esquemas emocionais podem ser definidos da seguinte maneira e estão na ordem de como geralmente são ativados no processo de psicoterapia:

33

1) Elementos perceptivos conceituais: representam o ambiente passado ou o ambiente atual da pessoa e inclui o conhecimento imediato da situação atual e de memórias episódicas. 2) Elementos de expressão corporal: representam os processos de esquemas emocionais por meio do corpo (enjoo, nó na garganta, formigamentos nos braços ou nas pernas) ou expressão de emoções (cara de medo, risada nervosa). 3) Elementos

simbólicos

conceituais:

são

elementos

verbais

ou

representações visuais do processo do esquema emocional produzido por meio da reflexão autoconsciente das percepções situacionais e elementos de expressão corporal. Geralmente, podem assumir uma forma de declarações verbais: “eu poderia ter sido atacada a qualquer momento”, mas, também, pode incluir qualidades metafóricas associadas ao esquema emocional. 4) Elementos motivadores de comportamento: são ativados por processos de esquemas emocionais e representados em forma de desejos associados, necessidades, vontades, intenções (ser salvo de um ataque) ou tendências para a ação (fugir do medo tentando ignorá-lo). 5) Processos nucleares do esquema emocional: organizam todos os diferentes componentes em torno de uma emoção em particular e costumam ser reconhecidos somente após uma autorreflexão dos outros quatro primeiros elementos. O processamento emocional normal envolve todos esses cinco elementos e a disfuncionalidade ocorre quando o indivíduo negligencia um ou mais tipos de elementos, ocasionando na não completude da experiência, ou seja, o bloqueio da experiência emocional. Sendo assim, os esquemas emocionais promovem organizações implícitas da experiência com base nas respostas emocionais biologicamente fornecidas e influenciadas pelo histórico da vivência emocional da pessoa. O sistema da memória emocional é o catalizador central para a auto-organização e é responsável pela geração de estados saudáveis, como: confiança, calma e segurança, como também,

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de auto-organizações em casos disfuncionais, como: insegurança ansiosa, vergonha baseada em sentimento de inutilidade, solidão e abandono. (GREENBERG, 2011). 2.2.2.2 O modelo do construtivismo dialético de autofuncionamento: integração da biologia e da cultura A anatomia do cérebro humano contempla dois importantes processos: a habilidade de ter emoções e a habilidade de refletir sobre tais emoções e, assim, a vida envolve duas avaliações principais: uma em que é realizada automaticamente pelo sistema emocional humano, não consciente e sem linguagem e outra que ocorre por meio de uma reflexão consciente acerca da resposta da primeira avaliação. Basicamente, o que ocorre é uma avaliação a respeito das orientações oriundas da primeira avaliação e se o indivíduo pode ou deve segui-las. (GREENBERG, 2011). O processo dialético trabalha por meio da base biológica que é o sistema adaptativo emocional e da capacidade humana em simbolizar e dar significado para as coisas/ situações, em prol da sobrevivência, manutenção e aprimoramento do self. O organismo está sempre produzindo uma tendência direcional que é alimentada por tudo o que se aprende, se experiencia e pelas interações do indivíduo. A figura 4 apresenta os elementos envolvidos na construção dialética do self. Pode-se observar que a experiência consciente é alimentada por dois principais elementos: um interno, de base biológica e de natureza afetiva, e outro externo, de base linguística e de natureza cultural. Ambos estão em constante interação com os outros e com o meio ambiente em um processo dialético de construção de significado. O elemento afetivo provê os pilares para a auto-organização básica que no decorrer do desenvolvimento da pessoa passa a incorporar as influências culturais (que inclui a educação recebida), os aprendizados e as experiências e são organizados por meio de esquemas baseados nas experiências emocionais dessas situações. Tais esquemas emocionais se tornam os primeiros geradores de experiência, que são sintetizadas em forma de auto-organização que podem resultar em experiências conscientes. Quando uma experiência é simbolizada em palavras,

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este processo dialético consciente forma uma história da experiência vivida pela pessoa. (GREENBERG, 2011). FIGURA 4 – Processo de geração da emoção

Fonte: GREENBERG (2011, p.878)

Constantemente, uma pessoa é organizada por um processamento tácito e por uma síntese dialética de diversos esquemas emocionais em uma das muitas possibilidades das auto-organizações, isto é: sentir-se confiante, inseguro, sem valor, triste ou com vergonha e tais sentimentos podem mudar a qualquer momento. Essa organização tácita promove “o sentimento do que acontece”, ou seja, uma sensação corporal que pode ser chamada de intuição ou uma sensação/ emoção visceral (gut feeling). A experiência consciente resulta quando esse sentimento implícito é atendido e explicitamente simbolizado e o indivíduo é capaz de sentir o caminho completo e criar um significado coerente para a sua experiência. (GREENBERG, 2011). Dessa maneira, o self, na visão da TFE, é um sistema dinâmico com múltiplos processos e organizações que emergem da interação dialética de diferentes elementos desses componentes. Assim, como na visão do construtivismo dialético, o self representa uma síntese dos diferentes níveis e aspectos do processamento mental que buscam coerência para explicar o conhecimento humano. Alinhado a isso, é pertinente a frase de Greenberg (2011, p. 901, tradução nossa): “As emoções nos movem, enquanto o sentido é para que vivemos”.

36

Em complemento, na visão do construtivismo dialético, as pessoas vivem um constante processo de significar as suas emoções. Assim, uma integração ente razão e emoção é atingida por meio de um processo circular constante de significar as experiências, simbolizar as sensações corporais na consciência e articular em linguagem, propiciando a construção de novas experiências. (GREENBERG, 2010). Dessa maneira, a experiência corporal delimita e influência como o indivíduo compreende as suas vivências, contudo, o que as pessoas fazem de suas experiências também as tornam quem elas são. Além disso, ao refletir a respeito das suas experiências, as pessoas conseguem dar um sentido narrativo ao que sentem, como também, a maneira como elas “explicam” as suas experiências para o self e para os outros, cria significado (s) para as suas narrativas. (GREENBERG, 2011). Uma analogia útil para o entendimento da expressão corporal pode ser as formas que são enxergadas nas nuvens. Ao se observar as formas das nuvens pode-se ver a formação de um animal, de estruturas arquitetônicas, objetos cotidianos ou, até mesmo, de um rosto. Assim, considerando que qualquer uma das formas avistadas nas nuvens não se encontra de fato presente em tais estruturas, mas são apenas formações impostas pelo observador, o sentimento corporal pode formatar o que a pessoa se tornará. Assim, um terapeuta TFE deve perceber que o animal ou a face não estão implícitos na nuvem, ou seja, o cliente apresenta uma sensação corporal, mas os sentimentos vêm de uma organização e de uma simbolização que combina com as situações. Os indivíduos foram biologicamente programados com respostas afetivas inatas, contudo, também constroem e desenvolvem o seu repertório afetivo de acordo com os contextos culturais e com as suas experiências. Em adição, embora as dimensões biológicas e culturais possam ocasionar um conflito, a TFE não enxerga tais processos como antagônicos, mas como fluxos necessários para uma síntese dialética do gerenciamento da interação de fatores internos e externos, biológicos e sociais e emocionais e racionais. Assim, o indivíduo perceber os aspectos da sua experiência como parte de si mesmo é crucial para o processo de mudança na TFE. (GREENBERG, 2011).

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2.2.2.3 Regulação emocional O desenvolvimento de habilidades para uma regulação emocional saudável é parte importante do desenvolvimento emocional e a utilização de tais habilidades faz parte da inteligência emocional. Ou seja, ser capaz de reconhecer as próprias emoções, refletir sobre elas e, em função disso, agir ou adiar uma ação é a quintessência humana. (GREENBERG, 2011). Em função disso, a regulação do afeto é uma das principais tarefas do processo terapêutico, que envolve a habilidade em tolerar, estar consciente, conseguir colocar em palavras o que se sente e usar a emoção de maneira adaptativa para regular a própria angústia e atender às próprias necessidades e objetivos. (GREENBERG, 2011; ELLIOT et al., 2004). Elliot et al. (2004) destacaram o trabalho de vários pesquisadores5 que reconheceram o impacto que as experiências de vinculação na primeira infância têm na capacidade das pessoas em regular as suas emoções e o seu funcionamento neurofisiológico. Para Greenberg (2002), a habilidade de regular as emoções deriva em parte das experiências de vinculação na primeira infância, com os pais ou outros cuidadores, em que os cuidadores podem ser grandes fontes de ensino da inteligência emocional por meio de exemplos e orientações no dia a dia da criança. Assim, se os pais são bons ‘coaches emocionais’, eles reconhecem as emoções dos seus filhos como oportunidades para o contato, validam e empatizam com as suas emoções e os ajudam a usar suas emoções como um guia para uma efetiva expressão social e para o atingimento de seus objetivos. Para a TFE, a regulação emocional é intrínseca à experiência da geração da emoção e a maneira como se enxerga a regulação emocional tem implicação na psicoterapia. Alinhado a isso, se entende que o sistema emocional é capaz de ser transformado ou regulado por processos emocionais e pelo estilo de vinculação, como também, que a regulação emocional está relacionada com a automanutenção e com o aperfeiçoamento e não com o autocontrole do sistema emocional. Faz parte da regulação emocional ter emoções nos níveis adaptativos, assim, é enfatizado a aproximação e o acesso às emoções que foram anteriormente evitadas e a

5

Gross, 1999; Gross & Muñoz, 1995; Van der Kolk, 1995; Van der Kolk, Mc Farlane, & Weisath, 1996, apud Elliot et al., 2004, p. 539.

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capacidade de tolerar, aceitar, validar e entendê-las como um método de otimização da regulação emocional na terapia. (GREENBERG, 2011). O processo de regulação emocional na TFE não inclui atividades voltadas para a inundação emocional, evitação, eliminação, negação e entorpecimento das emoções, pois são experiências que podem ser perigosas e até traumáticas, além de poder promover uma desregulação emocional em forma de efeito rebote. (GREENBERG, 2011). 2.2.2.4 Construção de narrativa e significado A capacidade em construir narrativas, entender e integrar as mais importantes histórias da própria vida, é chave para o desenvolvimento de uma identidade adaptativa e para o estabelecimento de uma coerente e diferenciada visão de self. A interpretação que a pessoa dá às suas experiências influência as suas vivências e muda os papéis, muitas vezes incoerentes, de impotência e de vitimização, para histórias mais coerentes e com resultados positivos, o que acaba por promover uma atitude e uma visão saudável de si mesmo. Assim, uma articulação mais coerente e emocionalmente diferenciada de si e dos outros é uma forma de correção da experiência emocional, pois facilita um aumento da autorreflexão e de novos resultados interpessoais, já que uma das fontes de disfunção está calcada na maneira como as pessoas significam as suas experiências e as narrativas acerca de si mesmas, dos outros e do mundo. (GREENBERG, 2011). Dessa forma, a presença de narrativas mais significativas e um sentido para a vida pessoal são aspectos chave para uma vida saudável, ou seja, para o bemestar. Além disso, ter um sentido para a vida é uma maneira de enfrentamento (coping) às questões existenciais da vida, como morte, perda, liberdade e isolamento (GREENBERG, 2011). 2.2.2.5 Visão da disfunção Na teoria da TFE, a disfunção não é algo decorrente de um único mecanismo sozinho, mas sim, algo que pode surgir em função de diversas possibilidades, tais como: a falta de consciência das emoções ou a evitação dos

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estados internos; a desregulação emocional como uma má adaptação das respostas baseadas no aprendizado traumático ou em déficits de desenvolvimento; a vergonha representada como um mecanismo de proteção contra danos à autoestima; os conflitos internos e os bloqueios para o desenvolvimento de significado. (GREENBERG, 2011). Dessa maneira, muitas das disfunções ocorrem devido à evasão, à supressão ou por falta de consciência das emoções, como também, em função da inabilidade em regular as próprias emoções. (ELLIOT et al., 2004; GREENBERG, 2011). Alinhado com a premissa de que diferentes tipos de dificuldades emocionais contribuem para muitas formas de disfunções, Greenberg (2011) organizou as dificuldades no processamento emocional em quatro tipos principais, conforme descrição a seguir: a) Falta de conscientização da emoção: que é a inabilidade do indivíduo em simbolizar a experiência corporal da emoção. A evitação ou a inabilidade em nomear as próprias emoções e as experiências internas podem representar uma das principais causas de ansiedade e depressão. Por outro lado, a pessoa ao conseguir perceber o que sente, pode se reapoderar das suas respostas emocionais primárias adaptativas e reprocessar as emoções renunciadas ou dolorosas. b) Respostas emocionais desadaptativas: são as respostas desenvolvidas por uma série de razões, por exemplo, respostas biológicas ou relacionais. A disfunção ocorre quando a pessoa apresenta uma má ou fraca autoorganização e o funcionamento atual do processamento emocional é regrado por respostas de situações do passado que não representam a situação presente, por exemplo: o medo e a tristeza pelo abandono estão no centro da organização do “eu fraco” e a vergonha é o centro da organização do “eu mau”. A maneira disfuncional como a pessoa lida com esses sentimentos, evitando e retraindo, agrava ainda mais o problema. Sintomas como depressão e ansiedade podem ocorrer quando há uma combinação de sentimentos de insegurança e de não ser amado ou sentir-se humilhado, preso e impotente e a pessoa é incapaz de mobilizar respostas alternativas.

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c) Desregulação emocional: a inabilidade em regular as próprias emoções pode gerar, por um lado, pessoas oprimidas por uma forte e dolorosa emoção e, por outro lado, pessoas entorpecidas e distanciadas das suas emoções. A falta de regulação emocional pode ser apresentada, também, na forma de excessivo controle das emoções, que pode levar a pessoa a se engajar em ações impulsivas, seja por meio de exageros na comida, na bebida, em compras ou com sexo. d) Problemas na construção da narrativa e com o sentido existencial: estão relacionados com as dificuldades ou com a incapacidade em construir narrativas a respeito da própria experiência, entendê-las e integrá-las. As narrativas traumáticas perpetuam a angústia e as narrativas incoerentes apresentam um sinal de uma natureza caótica da auto-organização em que as pessoas são incapazes de construir um senso estável do self. Problemas existenciais, falta de sentido na vida e sensação de vazio apresentam uma disfunção em resposta à falta de autenticidade e alienação da própria experiência e da falta de sentido que emana da ansiedade existencial. 2.2.3 Intervenções e o processo de psicoterapia O processo da terapia e as intervenções estão altamente relacionados, como também, estão alinhados com a base teórica da TFE. O processo da terapia que será explicado a seguir tem como principal referência o trabalho exposto por Greenberg (2011) que contempla: os princípios de tratamento; as habilidades do terapeuta: de percepção e de intervenção: princípios da mudança emocional, fases do tratamento e marcadores e tarefas; e formulação de caso. 2.2.3.1 Princípios de tratamento O tratamento da TFE conta com dois princípios gerais: princípios de relacionamento e princípios de tarefas. Os princípios de relacionamento recebem prioridade em relação aos princípios de tarefas, no entanto, no processo de tratamento ambos estão interligados e alinhados com a máxima ‘following and leading’ da abordagem, em que seguir o cliente é precedente a liderar, guiar ou

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orientar, contudo, seguir e liderar o cliente estão combinados sinergicamente em senso de fluxo. 2.2.3.1.1 Princípios de relacionamento Os princípios de relacionamento estão diretamente ligados com as bases da construção da Terapia Focada nas Emoções: valorização genuína, regulação do afeto, relação empática que conta com um terapeuta totalmente presente, altamente sintonizado e sensível às experiências do cliente. Dessa maneira, pontua-se como parte dos princípios de relacionamento: a presença e a sintonia empática, as condições necessárias de Rogers6 e a aliança terapêutica. O terapeuta tem uma postura respeitosa, aberta e é coerente em sua maneira de se comunicar com o cliente. Para a TFE, o relacionamento em si é visto como curativo, justificado em função da empatia, da abertura e da aceitação do terapeuta que promovem quebra de isolamento, validação e fortalecimento do self, além da auto-organização. Assim, um relacionamento com tais bases propicia um conforto interpessoal e o desenvolvimento da regulação emocional, como também, ajuda os clientes a regular sua desorganização e as suas dores emocionais. Além disso, esse tipo de relacionamento cria um ótimo ambiente terapêutico que contribui para a regulação do afeto e para o cliente se sentir suficientemente seguro para se engajar no processo de autoexploração e novos aprendizados e de criação de novos significados. O estabelecimento de uma aliança terapêutica voltada para a colaboração com os objetivos e com as tarefas da terapia é fundamental, uma vez que a aliança propicia uma experiência de trabalho em conjunto do terapeuta e do cliente para a superação dos problemas do cliente. A aliança anda de mãos dadas com uma postura empática, como por exemplo, uma atuação empática facilita a captação das dores emocionais do cliente, como também, a obtenção de um acordo sobre as tarefas e metas da terapia, com o cuidado dispendido do terapeuta para propiciar ao cliente o entendimento das tarefas e metas.

6

Vide Anexo 1 – As condições necessárias de Rogers.

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2.2.3.1.2 Princípios de tarefas Os princípios de tarefas guiam os terapeutas no processo de ajuda para a resolução das questões internas do cliente e problemas relacionados com as emoções, por meio de um trabalho que considera os objetivos pessoais do cliente e as tarefas das sessões. Faz parte dos princípios de tarefas: a promoção de um processamento diferencial, a conclusão das tarefas, foco e autodesenvolvimento que inclui responsabilidade e empowerment. As tarefas terapêuticas facilitam os diferentes tipos de processamento de acordo com os diferentes estados e momentos (tempos) do cliente. Nesse processo, os problemas ou estados apresentados pelo cliente nas sessões são marcadores que servem de guia para a definição das intervenções mais adequadas a fim de facilitar um trabalho produtivo com foco no problema apresentado. As tarefas nas sessões de terapia são designadas para promover o acesso às experiências do cliente, por meio da articulação de emoções primárias e de necessidades, para atingir a aceitação e a transformação de emoções doloridas e não resolvidas e para propiciar a explicação de sentimentos implícitos e os respectivos significados. Ou seja, o trabalho da terapia não é voltado diretamente para a obtenção de enfrentamento, de mudança e de correção, mas sim, é voltado ao processo de permissão e aceitação da experiência emocional. A mudança ocorre em resposta a um processo dinâmico de auto-organização, que é facilitado primeiramente pela aceitação, mais do que em resposta aos esforços diretos para provocar uma mudança ou o atingimento de um objetivo específico. Afinal, faz parte de tais princípios de tarefa a visão de que os seres humanos são seres ativos e contam com necessidades inatas para a exploração e para o domínio de seus ambientes internos e externos. 2.2.3.2 Habilidades do terapeuta As habilidades destacadas para um terapeuta da TFE são as habilidades de percepção e as habilidades executivas ou de intervenção e o tratamento é guiado por ambas as habilidades. De maneira geral, as habilidades de percepção são

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necessárias para a identificação dos diferentes tipos de emoção e marcadores de problemas e as habilidades executivas guiam as intervenções. 2.2.3.2.1 Habilidades de percepção A avaliação do tipo de emoção é uma habilidade de percepção do terapeuta e uma vez desenvolvida passa a fazer parte de maneira implícita e natural da sintonia empática, como também, a habilidade para acessar as emoções dos clientes. Uma avaliação acurada dos diferentes tipos de emoção é de extrema importância, já que para cada tipo de emoção há uma intervenção pertinente. Antes mesmo de avaliar o tipo de emoção, é fundamental ao terapeuta ter a habilidade para perceber e avaliar a expressividade de emoção do cliente, ou seja, se o cliente apresenta muita ou quase nada de expressão emocional. Esta deve ser a primeira avaliação da emoção que o terapeuta realiza, a fim de direcionar para a intervenção adequada com o intuito de acessar ou regular a emoção do cliente. O terapeuta deve ter claro que na terapia todas as emoções emergem em um contexto relacional e que uma emoção surge por influencia de um contexto relacional, tal como pelas regras culturais do cliente relacionadas com a expressão emocional. Complementando, a inabilidade em regular as emoções ou a tendência a uma super-regulação representam uma construção interpessoal e um processo cultural e não somente uma função ou característica da personalidade do cliente. Para acessar e discriminar o tipo da emoção expressa pelo cliente (adaptativa primária, primária desadaptativa, secundária ou instrumental), o terapeuta lança mão de diferentes habilidades e informações. É importante destacar que o terapeuta nunca acessa as emoções com base, unicamente, em seu quadro próprio de referências, mas, também por meio da colaboração com o cliente para codeterminar como a emoção está funcionando no momento do acesso para o cliente. Dessa maneira, a sintonia empática é essencial e cabe reforçar que o terapeuta deve se atentar às dicas não verbais do cliente, especificamente o tom da voz, a face e os gestos, uma vez que todas essas expressões não verbais são fontes de informação da natureza do que está sendo expressado internamente. Por exemplo, por meio da observação da voz ou da face do cliente pode-se perceber se

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a emoção é primária e sincera ou se é secundária e está ofuscando outros sentimentos. O terapeuta, também, deve estar atento às suas próprias respostas emocionais em relação ao cliente, uma vez que tais reações podem fornecer dicas interessantes para a avaliação da emoção do cliente. Por exemplo, as pessoas geralmente sentem compaixão em função da dor primária e do sofrimento do outro e tendem a sentir irritação com um choro secundário. Dessa maneira, se destaca a habilidade do terapeuta em perceber as próprias reações emocionais em relação às expressões e sentimentos apresentados pelo cliente por ser uma rica fonte de informação do tipo de emoção que o cliente está sentindo. Além disso, também é relevante ter a habilidade para conhecer os caminhos típicos de resposta emocional dos clientes (padrões) e os tipos de respostas emocionais de acordo com aspectos culturais. O conhecimento do contexto da expressão emocional é mais relevante do que o conhecimento da emoção em si. A expressão de uma emoção na sua vigésima vez é diferente da primeira expressão da mesma emoção. Sendo assim, o resultado dessa expressão pode direcionar-se para um processo tanto produtivo quanto adaptativo ou, então, produzir desregulação mostrando assim se a emoção presente é uma emoção primária adaptativa ou não. 2.2.3.2.2 Habilidades de intervenção As

habilidades

de

intervenção

estão

baseadas

nos

princípios

e

conhecimentos que guiam as intervenções da TFE, que são: princípios de intervenção com a emoção, conhecimento dos processos emocionais e dos marcadores de problemas e das respectivas intervenções aplicáveis. O conjunto de habilidades e conhecimentos, fundamentais para um terapeuta TFE, é descrito a seguir com a seguinte divisão: a) estratégias gerais da TFE para trabalhar com a emoção; b) princípios da mudança emocional; c) fases do tratamento; e d) marcadores e tarefas. a) Estratégias gerais da TFE para trabalhar com a emoção Para a TFE, ao se trabalhar com a emoção há duas tarefas principais que estão relacionadas com: ajudar as pessoas com pouca ou baixa expressão

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emocional a acessarem e expressarem as suas emoções e ajudar as pessoas com muita ou exagerada expressão de emoções a conterem a sua expressão emocional. Para tanto, cabe destacar a exploração empática e a atividade de focalização que fazem parte das estratégias gerais para o trabalho com as emoções. A exploração empática é um modo fundamental de intervenção, sendo uma marca registrada de um terapeuta TFE. A exploração empática vai além de empatizar com cliente, é uma postura centrada na experiência do cliente que por meio de uma atenção sensível, momento a momento, ao que é mais agudo na narrativa verbal e não verbal do cliente, ajuda a capturar as experiências de uma maneira mais rica. A atividade de focalização (focusing 7) é geralmente utilizada quando não foi possível ocorrer um aprofundamento da experiência passada por meio da exploração empática, dessa maneira, o terapeuta aplica a atividade que também direciona a atenção do cliente para o seu interior, a fim de provocar um aprofundamento

na

experiência

e

percepção

das

sensações

corporais.

Frequentemente, após a atividade de focalização interna se parte para outra intervenção, como a técnica das duas cadeiras ou da cadeira vazia ou um trabalho com imagens a fim de trazer a emoção vivamente para a consciência. Há diferentes maneiras que o terapeuta pode lançar mão para ajudar aos clientes acessarem seus sentimentos, como também, a desenvolver estratégias adaptativas para ‘conter’ a expressividade exagerada das emoções: - Encorajar o cliente para se atentar às sensações corporais que são sinais das emoções; - Direcionar o cliente para lembrar-se de episódios prévios com conteúdo emocional ou situações que trouxeram sentimentos particulares; - Usar dicas emocionais por meio de palavras comoventes ou comunicação por imagens; - Sugerir ao cliente atuar como se estive sentindo a emoção de episódios anteriores, como por exemplo: falar com voz de raiva, chacoalhar o pulso ou falar alto. Nessa atividade é importante ajudar o cliente a monitorar o nível de ativação, a fim de manter um nível de segurança que permite que a

7

Para saber mais sobre Focusing, ler Eugene Gendlin – www.focusing.org

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emoção apareça e prevenir que ele se desconecte da emoção/ dos seus sentimentos, caso sinta que está perdendo o controle; - Sugerir ao cliente que observe e simbolize os sentimentos que o oprimem por meio da criação de um distanciamento seguro ao adotar uma atitude de observador e descrever o medo como uma bola preta localizada no estômago, por exemplo; - Solicitar ao cliente realizar uma ‘lista de problemas’: o terapeuta oferece suporte e compreensão e encoraja o cliente a procurar suporte externo e entender o que pode ser útil para a regulação emocional por meio da organização das emoções angustiantes; - Realizar exercícios de respiração: indicado para o cliente que se sente oprimido/ sobrecarregado na sessão, como também, em casos de muita ativação emocional, o terapeuta pode regular a angústia do cliente sugerindo exercícios de respiração; - Ajudar o cliente a ter a consciência de quando pode ocorrer uma expressão exagerada das emoções, não conter a expressão, mas, rapidamente, decidir o que fazer quando a reação emocional está para surgir. b)

Princípios da mudança emocional Na visão da TFE, o processo de mudança envolve ajudar as pessoas a

perceberem e a darem sentido (significarem) às suas emoções por meio dos seguintes

subprocessos:

conscientização,

expressão,

regulação,

reflexão,

transformação e experiência corretiva da emoção. Tais subprocessos são facilitados pelo contexto seguro da terapia, que é proporcionado com base no relacionamento com o terapeuta e na respectiva sintonia empática. - Conscientização A ampliação da consciência acerca da emoção é um objetivo fundamental do tratamento na TFE, uma vez que, quando as pessoas sabem o que sentem, se reconectam com as suas necessidades e se motivam para atendê-las. Quando um indivíduo se torna consciente e simboliza as suas principais experiências emocionais em palavras, promove um acesso às informações adaptativas e às tendências de ação da respectiva emoção. É importante ressaltar que a consciência emocional não consiste em pensar sobre os sentimentos, mas

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sim, em sentir a emoção conscientemente. Neste processo é necessário sentir a emoção que vem sendo negada, para assim, poder ocorrer uma mudança. A conscientização de emoções problemáticas pode ser retratada em três estágios: 1) Conscientização da emoção depois do evento, quando a pessoa reflete sobre o que sentiu no passado que pode servir como base para aprender a como responder melhor no futuro – também pode envolver o conhecimento das situações gatilho para a resposta emocional; 2) Redução do tempo para perceber o sentimento de acordo com o estímulo emocional; 3) Reconhecimento da emoção que está por surgir e antes de se ter uma reação e poder transformá-la, ou seja, ao perceber o impulso da raiva ou de desapontamento, não se deixar ser totalmente invadido por tal emoção. - Expressão A expressão das emoções, em terapia, envolve superar a evitação de algumas experiências emocionais e ser capaz de expressar as emoções primárias anteriormente negadas ou ofuscadas, ao invés de desafogar as emoções secundárias. Em função da forte tendência humana em evitar experienciar e expressar emoções dolorosas, os clientes necessitam ser encorajados a superar a evitação e abordar as emoções dolorosas em sessões por meio da experiência corporal que ocorre geralmente em pequenos passos. Para tanto, pode ser necessário mudar algumas crenças explícitas, tais como: “sentir raiva é perigoso” ou “homens não choram”. O papel da ativação e da expressão das emoções e o grau para que sejam úteis na terapia e na vida depende do estímulo que deflagra a expressão de tal emoção, de quem a experiencia e a expressa, para quê e para quem, quando e sob quais condições tal expressão se manifesta e em qual caminho a expressão emocional é seguida por outras experiências de afeto e significado. Na visão da TFE, as etapas de processamento emocional: aproximação, ativação e tolerância da experiência emocional são necessárias, mas não são suficientes para mudar as emoções primárias desadaptativas. O processamento emocional ideal envolve a integração da cognição e do afeto em si e a

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transformação do afeto, não bastando somente tolerá-lo. (GREENBERG, 2002). Isso quer dizer que após o contato com a experiência da emoção primária desadaptativa, como por exemplo: vergonha ou insegurança, o cliente necessita, inclusive, ser orientado cognitivamente pra a experiência como uma informação, simbolizá-la em consciência e explorá-la para, assim, refletir a respeito e poder fazer sentido para, finalmente, poder transformá-la. - Regulação A regulação emocional envolve a capacidade de reconhecer as próprias emoções, refletir sobre elas e, assim, agir ou adiar uma ação. Na terapia, um importante aspecto da regulação consiste em saber quais as emoções devem ser reguladas e como elas devem ser reguladas, o que acaba sendo um aspecto central do tratamento. Dessa maneira, emoções que requerem uma regulação geralmente são as secundárias, tais como: ‘desespero’ e ‘falta de esperança’ ou ansiedade em relação às emoções primárias desadaptativas, como: ‘vergonha em se sentir inferior’, ‘a ansiedade da insegurança básica’ e o ‘pânico’. É fundamental para a regulação emocional, contar com um ambiente seguro, calmo, tranquilo, validador e empático. As seguintes ações fazem parte do processo de regulação da emoção na terapia: identificação das situações gatilho, evitação das situações gatilho, identificação e nomeação das emoções, aceitação e tolerância das emoções, aumento das emoções positivas, promoção de autoconforto, exercícios de respiração e busca de distração. Além disso, faz parte da regulação emocional ajudar o cliente a desenvolver habilidades para se autoacalmar e para desenvolver a autocompaixão. Ou seja, ajudar o cliente na aquisição de habilidades para se acolher e ser compassivo com as próprias experiências emocionais dolorosas é uma importante etapa para a tolerância e para o autoconforto. No passar do tempo, tais habilidades vão sendo incorporadas pelo indivíduo e a regulação das emoções passa a ser automática e implícita sem qualquer esforço deliberado. - Reflexão A reflexão a respeito das experiências emocionais que foram identificadas e simbolizadas, ajuda no processo de definição do significado narrativo das experiências do cliente e promove a assimilação das próprias narrativas em curso.

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Além disso, o processo de reflexão emocional ajuda na criação de novos significados e no desenvolvimento de novas narrativas que acabam por auxiliar no entendimento da própria experiência. A exploração das experiências emocionais e a respectiva reflexão em forma de narrativas coerentes são, também, processos importantes para a mudança. A reflexão promove um entendimento de como o self é psicologicamente construído e constituído e a narrativa promove um processo de organização cognitiva, sendo assim, o significado dos eventos individuais e as ações são determinados por um particular enredo ou tema. A reflexão em forma de narrativa torna a experiência e as memórias do cliente em uma história significativa e coerente, além de prover um senso de identidade para o cliente. - Transformação O processo de transformação é uma das maneiras mais importante para se lidar com as emoções desadaptativas, ou seja, transformar uma emoção desadaptativa em uma emoção adaptativa. Antes da promoção da transformação citada (emoção desadaptativa em adaptativa) deve ocorrer uma total aceitação da emoção dolorosa antes de se tentar mudar tal emoção. Ou seja, para que a transformação seja efetiva, é importante que o cliente sinta completamente a emoção para poder perceber a respectiva mensagem e assim, se abrir para a mudança por outra emoção. Tal ação requer uma autoaceitação por parte do cliente e que está alinhada com uma forte premissa que guia as intervenções de TFE que diz que se o indivíduo não se aceita como é, ele não pode se fazer disponível para a transformação. Greenberg (2011, p.1437, 2002, p.1758, tradução nossa), pontua: “Não se pode deixar um local antes de se ter chegado nele”. Em associação, o indivíduo necessita primeiramente sentir a emoção para em seguida transformá-la e ser ‘curado’ dela. Dessa maneira, é reforçado que mesmo aqueles aspectos que a pessoa quer mudar, primeiramente precisam ser aceitos já que a autoaceitação precede a autotransformação. O processo de mudança da emoção com emoção vai além das ideias de catarse, finalização e liberação, exposição, extinção ou habituação, ou seja, a emoção desadaptativa não é purgada, nem é simplesmente atenuada pela pessoa que a sente, ao invés disso, usa-se outro sentimento para a transformação da

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emoção desadaptativa. Embora as emoções secundárias desreguladas, como por exemplo: o medo e a ansiedade em fobias ou pânico, possam ser superadas por meio de técnicas de exposição, em muitas situações de emoções primárias desadaptativas, como ‘vergonha dos sentimentos de inferioridade’ ou ‘tristeza do abandono’, são melhor transformadas por meio do contato com outras emoções. Na terapia, o medo do abandono desadaptativo, uma vez ativado no presente, pode ser transformado em segurança por meio da ativação de mais empowerment e do estabelecimento de fronteiras para a emoção da raiva adaptativa que foi sentida no passado, mas não foi expressa ou, então, por meio da evocação de sentimentos mais suaves de tristeza que estavam inacessíveis anteriormente junto à necessidade de conforto e autocompaixão. Isso quer dizer que a raiva desadaptativa pode ser desfeita por meio de tristeza adaptativa. Assim, a mudança emocional duradoura de uma resposta emocional desadaptativa ocorre pela geração de uma nova resposta emocional, ou seja, por meio da geração de novas respostas para as situações passadas incorporando as novas repostas na memória e não por meio de um processo de insight ou entendimento. As memórias são reconsolidadas de um novo jeito a partir da incorporação desses novos elementos, propiciando uma nova visão do passado. - Correção da experiência emocional A correção da experiência emocional ocorre por meio das novas experiências vividas pelo cliente com outra pessoa, muitas vezes o terapeuta. As experiências que propiciam conforto, desconfirmação de crenças patológicas ou que ofereçam novas experiências de sucesso, podem corrigir padrões estabelecidos anteriormente pelo cliente. Por exemplo, o cliente ter a sua raiva aceita pelo terapeuta e não ser julgado por isso ou ser rejeitado pode levar a novas formas de ser para o cliente. Ou seja, no contexto da terapia, o cliente pode expressar a sua vulnerabilidade ou a sua raiva sem ser punido ou censurado pelo terapeuta. A correção emocional ocorre predominantemente na relação terapêutica, mas não é exclusiva desta relação e, assim, o terapeuta encoraja o cliente em relação à vivência de experiências de sucesso fora da relação terapêutica. É um objetivo da TFE que o cliente reexperiencie as emoções que não conseguia lidar no passado, a fim de obter uma correção emocional que repara os

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danos influenciados por experiências anteriores. A reexperiência de tais emoções ocorre em função da ajuda propiciada pelas circunstâncias favoráveis da terapia. Sendo assim, pode-se afirmar que uma experiência genuína entre o terapeuta e o cliente é uma experiência de correção emocional. c) Fases do tratamento O tratamento da TFE é dividido em três grandes fases: 1) vinculação e conscientização; 2) evocação e exploração e 3) geração de novas emoções e criação de novos significados para as narrativas. 1) Fase de vinculação e de conscientização A primeira fase do tratamento envolve quatro etapas: - Escuta ativa e empatia, validação dos sentimentos do cliente e do senso atual de self; - Fornecimento de uma explicação a respeito do trabalho com a emoção; - Promoção da consciência para a experiência interna; - Estabelecimento de um foco colaborativo de trabalho. 2) Fase de evocação e exploração A segunda fase do tratamento, também, é composta por quatro etapas: - Estabelecimento de suporte para a experiência emocional; - Evocação e ativação dos sentimentos problemáticos; - Dissolução de interrupções da emoção; - Ajuda ao cliente para acessar as emoções primárias ou os esquemas desadaptativos centrais. 3) Fase de geração de novas emoções e criação de novos significados para as narrativas A terceira fase do tratamento é composta por três etapas: - Geração de novas respostas emocionais a fim de transformar os esquemas emocionais desadaptativos centrais; - Promoção da reflexão para que o cliente possa significar ou ressignificar as suas experiências/ narrativas; - Validação dos novos sentimentos e suporte para um novo senso de self.

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d) Marcadores e tarefas Os marcadores servem para guiar as intervenções da TFE. Ou seja, os marcadores propiciam informações relacionadas aos problemas dos clientes, indicam o seu estado atual e o tipo de intervenção a ser usada, além de mostrar a disponibilidade atual do cliente para trabalhar os respectivos problemas.

Dessa

maneira, os terapeutas são treinados para identificar os marcadores dos diferentes tipos de problemas de processamento emocional e nas formas específicas de intervenção de acordo com o problema apresentado. Os principais marcadores e as intervenções aplicáveis de TFE estão descritas abaixo: - Expressão de reações problemáticas - perplexidade em relação às respostas emocionais ou comportamentais em situações específicas: Tal marcador é pertinente para a aplicação do processo sistemático de desdobramento evocativo. Ou seja, a evocação da experiência vivida a fim de promover uma reexperiência de tal situação e da respectiva reação que o individuo apresentou na situação original, para assim, estabelecer as conexões entre a situação, os pensamentos e as reações emocionais e, em seguida, chegar ao significado implícito que faz sentido para a reação. A resolução envolve uma nova visão de autofuncionamento. - Senso de falta de clareza ou confusão e inabilidade em conseguir dar um sentido claro para a própria experiência: Para uma sensação de falta de clareza direciona-se para a aplicação da focalização (focusing). O terapeuta guia o cliente para perceber os aspectos corporificados da sua experiência com atenção, curiosidade e vontade para experienciá-los e colocar em palavras as sensações sentidas no corpo. A resolução envolve a mudança da sensação corporal e a criação de um novo significado para a experiência. - Conflito entre duas partes do self - oposição entre dois aspectos do self, geralmente com um aspecto muito crítico ou opressor: Para conflitos no self é aplicável o trabalho com as duas cadeiras, para que as duas partes do self sejam colocadas em contato ao vivo. Os pensamentos, os sentimentos e as necessidades de cada parte do self são explorados e comunicados

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em um diálogo real a fim de atingir um abrandamento da voz crítica. A resolução envolve uma integração entre os dois aspectos do self. - Autointerrupções - uma das partes do self interrompe ou oprime a experiência ou a expressão emocional, por exemplo, o indivíduo ‘corta’ o choro: Para a autointerrupção, a tarefa aplicável é o trabalho com as duas cadeiras que proporcionará que a parte do self que interrompe apareça para que o cliente se torne consciente de como ocorrem as interrupções e, assim, ser guiado para expressar as maneiras que ele realiza, seja por meio de atos físicos: ficando sem ar ou sem palavras, metaforicamente (se enjaulando) ou verbalmente (se calando), não sentindo, ficando quieto. A resolução envolve a expressão da experiência previamente que foi bloqueada. - Situações inacabadas (unfinished business) - envolve a sensação de algo não resolvido com outra pessoa significativa para o cliente: A intervenção aplicável para situações inacabadas é o trabalho com a cadeira vazia, para que o cliente, por meio de um diálogo com a pessoa significativa na cadeira vazia, ative a sua visão interna da outra pessoa e possa experienciar e explorar as suas reações emocionais frente ao outro, para conseguir fazer sentido do que foi explorado e experienciado. Por meio do trabalho da cadeira vazia, as necessidades não atendidas são acessadas e pode-se alterar as visões do outro e do próprio self. A resolução envolve entender o outro ou perdoá-lo. - Vulnerabilidade, um sentimento de fragilidade, profundidade, de vergonha ou de insegurança: Marcadores de vulnerabilidade demandam a validação empática. Por meio da sintonia empática, o terapeuta captura o conteúdo do que o cliente está sentindo e percebe a vitalidade e espelha o ritmo e o tom da experiência, além de validar e normalizar a experiência. A resolução envolve o fortalecimento do self. Além dos seis marcadores descritos, faz parte da relação de marcadores e tarefas da TFE: Marcador

Tarefa (intervenção)

- Trauma

- Recontar a narrativa

- Ruptura de aliança

- Reparação

- Autodesprezo

- Compaixão

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- Sofrimento emocional

- Autoconforto

- Confusão

- Limpeza do espaço

Marcadores de narrativas e tarefas que combina o trabalho da TFE com o trabalho da Terapia Narrativa (ANGUS e GREENBERG, 2011): - Histórias repetitivas

– Promoção da reexperiência

- Histórias vazias (desprovidas de emoção)

– Conjectura empática a respeito de sentimentos implícitos

- Histórias não contadas

– Exploração empática

- Histórias ‘quebradas’

– Promoção da coerência

2.2.3.3 Formulação de caso De acordo com Greenberg e Goldman (2007), uma forte relação terapêutica necessita ser formada para o processo de formulação de caso ser seguido, pois o processo empático é chave para que o cliente e o terapeuta negociem constantemente os termos do trabalho, clarifiquem os problemas e os objetivos imediatos, as tarefas, tal como, a responsabilidade compartilhada pelo tratamento. A formulação de caso na TFE está baseada no processo diagnóstico, no desenvolvimento de um foco, no identificador de marcadores e no desenvolvimento de temas, ao invés de se basear em um diagnóstico da pessoa ou de uma síndrome específica. Ou seja, é privilegiado o processo ao invés do conteúdo trazido pelo cliente, em linha com a Psicoterapia Construtivista (MAHONEY, 2006) e o processo diagnóstico é privilegiado sobre o diagnóstico da pessoa. (GREENBERG, 2011). Na abordagem de processo diagnóstico, a formulação de caso é um processo contínuo, sensível ao momento e ao contexto da sessão, uma vez que é direcionada para a compreensão do indivíduo como um caso. O terapeuta deve seguir o processo do cliente e identificar as suas dores principais, que servem como bússolas para o tratamento, e os marcadores das questões emocionais atuais, ao invés de desenvolver uma figura da personalidade dominante ou da dinâmica de personalidade. (GREENBERG, 2011). A formulação de caso é útil, pois facilita o desenvolvimento de um foco de trabalho e ajuda a alinhar as tarefas terapêuticas com os objetivos do cliente, o que auxilia no estabelecimento de uma produtiva aliança de trabalho. (GREENBERG,

55

2011). A identificação colaborativa dos assuntos principais e o estabelecimento do foco temático são importantes aspectos para a formação da aliança terapêutica, além de contribuir para que o cliente perceba a relevância das tarefas do tratamento. As tarefas iniciais que o cliente necessita perceber como relevantes são: ‘revelação’, ‘exploração’ e ‘aprofundamento na experiência’, uma vez que o cliente se engaja nessa proposta, inicia-se a exploração para o foco do trabalho. (GREENBERG e GOLDMAN, 2007). A formulação de caso e as intervenções são inseparáveis e estão presentes durante todo o processo da terapia e acontecem constantemente e em diferentes níveis. Toda formulação é testada e é confirmada com o cliente para verificação e checagem de sentido para ele, sendo que, o que o cliente processa na sessão é o guia final. (GREENBERG e GOLDMAN, 2007). As etapas para o desenvolvimento da formulação de caso apresentadas por Greenberg e Goldman (2007), são: 1) Identificação do problema do cliente; 2) Escuta e exploração da narrativa do cliente em relação ao problema apresentado; 3) Observação e atenção ao estilo de processamento das emoções do cliente; 4) Levantamento de informações relacionadas ao estilo de vinculação e às histórias de identidade do cliente e com os relacionamentos atuais e preocupações; 5) Identificação e resposta dos aspectos dolorosos das experiências do cliente; 6) Identificação de marcadores e sugestão de tarefas apropriadas; 7) Focalização na temática emergente dos processos intrapessoal e interpessoal e nas narrativas do cliente; 8) Atendimento ao processamento momento a momento do cliente para guiar as intervenções com as respectivas tarefas pertinentes.

56

2.2.4 Aplicabilidade e outras considerações A TFE é um tratamento baseado em evidências e com um grande número de pesquisas, publicações etc. Segundo Greenberg (2011), a TFE é a abordagem de psicoterapia que mais apresenta pesquisas relacionadas com o processo de mudança humana. A TFE é aplicável para uma série de transtornos mentais, desde transtornos afetivos, como casos de depressão e ansiedade, a transtornos alimentares e transtornos relacionados com os diferentes tipos de vícios e comportamento impulsivo. Apesar da efetividade do tratamento da TFE, validada por meio de demonstração empírica, para uma série de transtornos, Greenberg (2011) pontuou algumas situações (ou estilos de cliente) em que existe a possibilidade de ocorrer alguns obstáculos ou problemas na utilização da abordagem como linha inicial de tratamento. Como por exemplo, pessoas que apresentam uma alta restrição emocional ou com um nível muito elevado de controle, pois podem ter dificuldade em acessar as próprias emoções e em se engajar nas vivências e role-plays; indivíduos que querem soluções práticas e rápidas para os problemas ou aconselhamento, podem achar o processo exploratório não palpável. Essas situações podem dificultar a formação da aliança terapêutica que é um dos pilares fundamentais da abordagem. Os clientes altamente frágeis, que apresentam um alto nível de desregulação e engajamento em automutilação, também, podem não se beneficiar

inicialmente

com

o

protocolo

da

TFE,

fazendo-se

necessário

primeiramente desenvolver um senso de segurança e a habilidade em regular as próprias emoções, antes da adoção do protocolo padrão da TFE. Apesar do fato da TFE contar com muitas pesquisas e trabalhos publicados, Greenberg (2011) faz uma ressalva em relação à necessidade da realização de mais pesquisas, como por exemplo, para obter evidências da efetividade da mudança de emoção com emoção. Além disso, ele destaca a ideia que já tinha apresentado em 2002, quanto aos terapeutas TFE atuarem como coaches emocionais. Para tanto, ele complementa que é necessário o desenvolvimento de treinamentos voltados para um trabalho preventivo a fim de desenvolver habilidades de gestão emocional nas pessoas, ou seja, habilidades para gerenciar as próprias emoções, para identificar e conseguir discriminar as emoções, para diferenciar os seus sentimentos

57

dos sentimentos das outras pessoas, para tolerar as emoções e saber como utilizálas como fontes de informação. Um passo crucial na aplicação do trabalho da TFE de forma mais abrangente é por meio do desenvolvimento de programas preventivos para crianças, adolescentes, jovens adultos, pais, professores e gestores, para que possam aprender sobre as suas emoções e serem encorajados para a prática de perceber as suas emoções, se tornarem mais compassivos consigo próprios e com os outros e aprender a regular a emoção para refletir e transformar as emoções. (GREENBERG, 2011 p. 2560, tradução nossa).

58

2.3 Psicologia Positiva 2.3.1 Visão geral Em 1.998, o psicólogo americano Martin Seligman, então presidente da APA (American Psychological Association), publicou o artigo “Building human strenght: Psychology´s forgotten mission”, com a sua visão em relação ao contexto histórico da Psicologia e, consequentemente, a justificativa para o lançamento da Psicologia Positiva. A seguir, alguns trechos compilados do respectivo artigo8: Antes da Segunda Guerra Mundial, a psicologia tinha três missões: curar as doenças mentais, tornar a vida das pessoas mais satisfatórias e identificar e cultivar talentos superiores. Depois da Guerra dois eventos mudaram a cara da Psicologia (nos EUA): a criação da “Administração para os Veteranos de Guerra” e a instituição do “Instituto Nacional de Saúde Mental”, sendo assim, os psicólogos focaram seu trabalho no tratamento e pesquisa sobre as doenças mentais e passos enormes foram dados em relação à compreensão e ao tratamento da doença mental. [...] Cinquenta anos depois, quero lembrar à nossa área de que ela se desviou. A Psicologia Positiva não é apenas o estudo da fraqueza e do dano, mas também o estudo da qualidade e da virtude. Tratar não significa apenas consertar o que está com defeito, mas também cultivar o que temos de melhor. [...] Descobrimos que há um conjunto de qualidades humanas que são os mais prováveis parachoques contra a doença mental: coragem, otimismo, habilidade interpessoal, ética no trabalho, esperança, honestidade e perseverança. Cinquenta anos de trabalho dentro de um modelo médico baseado no defeito pessoal e no cérebro problemático deixaram as profissões da saúde mental mal equipadas para realizar a prevenção eficaz. Precisamos de pesquisas de grande porte sobre qualidades e virtudes humanas. Precisamos de profissionais que reconheçam que grande parte do melhor trabalho que realizam é amplificar essas qualidades, em lugar de consertar os defeitos de seus pacientes. Precisamos de psicólogos que trabalhem com famílias, escolas, comunidades religiosas e empresas para enfatizar seu papel fundamental de potencializar as qualidades.

Assim, surge a Psicologia Positiva (PP) que é uma área da ciência que estuda as emoções positivas, o caráter positivo (traços, virtudes, forças de caráter e habilidades, como a inteligência e a capacidade atlética) e as instituições/ organizações que possam desenvolver as características positivas: governo, empresas, família, escolas, religião, comunidades, ou seja, organizações que devem 8

apud SNYDER e LOPEZ, 2009, p. 18-19, grifo nosso.

59

agir como facilitadores do desenvolvimento e da utilização das emoções positivas e das forças de caráter e as virtudes. (SELIGMAN e CSIKSZENTMIHALYI, 2000). Para Biswas-Diener (2011), a Psicologia Positiva é uma ciência aplicada que estuda o florescimento humano e conta com uma série de intervenções comportamentais a fim de aumentar o bem-estar subjetivo. Seligman et al. (2005), destacaram que as pesquisas e os seus respectivos os resultados são destinados a complementar e não a substituir o que já se sabe sobre o sofrimento, a fraqueza e os transtornos humanos. Ou seja, o propósito é ter uma compreensão científica mais completa e equilibrada da experiência humana, que inclui a compreensão do sofrimento e da felicidade, bem como as suas interações, além de contar com intervenções validadas cientificamente que aliviem o sofrimento e propiciem felicidade. Um dos questionamentos principais que orienta os trabalhos da PP é “O que há de certo com as pessoas?”, ampliando o questionamento que permeou os estudos da Psicologia no século XX: “O que há de errado com as pessoas?” (SNYDER e LOPEZ, 2009). Os psicólogos positivos não inventaram a emoção positiva ou o bem-estar ou o bom caráter, nem foram eles os primeiros a iniciar o estudo científico de tais fenômenos. No entanto, a contribuição da Psicologia Positiva tem sido campeã na investigação científica desses tópicos, mostrando relevância e chamando a atenção de várias fundações e agências para o financiamento de pesquisas, ajudando, assim, a levantar dinheiro para o seu estudo e, possivelmente, fornecer uma estrutura conceitual abrangente. (DUCKWORTH, STEEN E SELIGMAN, 2005, p. 633 – 634, tradução nossa).

Mahoney (2002, p. 745, tradução nossa) expôs que: “embora o termo Psicologia Positiva seja recente, tal abordagem compartilha um rico legado com os estudos humanistas, da psicologia da saúde, do construtivismo e da espiritualidade”. Dessa maneira, A PP pode ser entendida como um movimento que aprimorou e ampliou os estudos e teorias de diversos estudiosos das áreas das ciências por meio de trabalhos científicos focados nos aspectos saudáveis do ser humano e no seu potencial de desenvolvimento. (SELIGMAN e CSIKSZENTMIHALYI, 2000). Em relação aos estudos humanistas, a PP se alimentou e buscou aperfeiçoar os trabalhos de alguns psicólogos humanistas como, Carl Rogers, Abraham Maslow, Henry Murray, Gordon Allport e Rollo May que antes do surgimento da Psicologia

60

Positiva

buscavam

responder

questões

como

(DUCKWORTH,

STEEN

E

SELIGMAN, 2005): - O que é a boa vida? - Quando as pessoas estão no seu melhor? - Como podemos incentivar o nosso desenvolvimento pessoal e dos outros? - O que significa ser autêntico? - Como os terapeutas podem ajudar a construir a responsabilidade pessoal? Há também outras importantes referências para a PP, como os trabalhos da psicóloga austríaca Marie Jahoda9 em relação aos componentes da saúde mental (aceitação de si mesmo, desenvolvimento, autonomia, percepção acurada da realidade e domínio sobre o ambiental) e ao bem-estar (algo de direito de todos os indivíduos) (SELIGMAN, DUCKWORTH e STEEN, 2005) e, também, do psiquiatra austríaco Viktor Frankl10, que em 1963 pontuou que o primeiro propulsor do ser humano não é o prazer, mas sim a busca de sentido na vida. (RASHID e SELIGMAN, 2013). A Psicologia Positiva objetiva aprimorar a qualidade de vida das pessoas e prevenir o surgimento de transtornos mentais e patologias e promover instâncias que ajudem no desenvolvimento de competências que propiciem o florescimento nas pessoas. Para Fredrickson (2001), as atuais contribuições da PP mostram que as potencialidades humanas têm um papel extremamente relevante na prevenção da doença,

não

apenas

na

dimensão

física,

mas

também

na

psicológica,

nomeadamente no que diz respeito aos grandes distúrbios emocionais. 2.3.2 Visão teórica Inicialmente, a teoria apresentada por Seligman como tema da Psicologia Positiva foi a teoria da felicidade (felicidade autêntica), composta por três fatores: ‘emoções

positivas’

(prazeres,

entusiasmo,

êxtase,

conforto

e

sensações

relacionadas, ou seja, o que faz parte do caminho para uma vida agradável); ‘engajamento’ (envolvimento e entrega às atividades e relações, ou seja, ter uma

9

Leitura sugerida: JAHODA, Marie - Current Concepts of Positive Mental Health, New York: Basic Books, 1958. 10 Leitura sugerida: FRANKL, Viktor E. - Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Tradução de Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline. Porto Alegre: Sulina, 1987.

61

vida engajada) e ‘sentido’ (sentido e significado, ter um propósito de vida, pertencer a algo maior do que o próprio self). Uma década depois, com a evolução dos estudos da PP, sua base teórica passa a ser a teoria do bem-estar (SELIGMAN, 2011) composta por cinco elementos: a) emoções positivas, b) engajamento, c) relacionamentos positivos, d) sentido e, e) realização, que formam em inglês o acrônimo PERMA – Positive Emotions, Engagement, Relationships, Meaning e Accomplishment. Os elementos do bem-estar são eles próprios coisas diferentes; não são meras autoavaliações de pensamentos e sentimentos de emoção positiva, do quanto se é engajado e de quanto sentido se tem na vida, como na teoria original da felicidade autêntica. Portanto, o construto do bem-estar, e não a entidade de satisfação com a vida, é o tema focal da Psicologia Positiva. (SELIGMAN, 2011, p.410).

2.3.2.1 A teoria do bem-estar De acordo com a explanação de Seligman (2011) cada elemento da teoria do bem-estar conta com três propriedades: 1) Contribuição para o bem-estar; 2) A busca pelo elemento é baseada em seus componentes e não apenas para a obtenção de algum dos outros elementos; 3) Independência na definição e mensuração em relação aos outros elementos. E, cada elemento conta com aspectos que podem ser avaliados subjetivamente pelo relato da pessoa ou com aspectos que podem ser mensurados objetivamente. A seguir, breve explanação dos cinco elementos da teoria do bemestar: a) Emoções positivas O elemento ‘emoções positivas’ ou da vida agradável, num sentido mais amplo,

está

associado

ao

hedonismo

filosófico

moderno

que

amplia

a

conceitualização do hedonismo grego de prazer como um meio de felicidade e satisfação com a vida. Na teoria do bem-estar, a felicidade e a satisfação com a vida, como medidas subjetivas, são fatores que fazem parte da vida agradável, ao contrário do exposto na teoria da felicidade autêntica em que eram consideradas o objetivo de toda a teoria. “Como o elemento hedônico ou aprazível, a emoção

62

positiva abrange todas as variáveis subjetivas do bem-estar: prazer, êxtase, conforto, afeição e outras afins”. (SELIGMAN, 2011, p. 432). b) Engajamento O elemento ‘engajamento’ ou vida engajada, de uma forma mais ampla, tal como o elemento das ‘emoções positivas’, é avaliado subjetivamente e está relacionado com a busca de engajamento e envolvimento com a vida, com os relacionamentos, com o trabalho e com o lazer. A noção de engajamento é fortemente influenciada pelo conceito de FLOW (fluxo) de Csikszentmihalyi11, que é conceitualizado como o estado psicológico que o indivíduo atinge quando está altamente concentrado, focado e envolvido em alguma atividade desafiante que exige habilidades que o indivíduo possui, o tempo passa despercebido e, muitas vezes, com a sensação de que não há separação entre indivíduo e atividade (ambos se tornam uma coisa só), ou seja, tudo flui harmoniosamente. (RASHID e SELIGMAN, 2013). c) Relacionamentos positivos O elemento ‘relacionamentos positivos’ contribui para o bem-estar e pode ser mensurado de maneira independente dos outros elementos. Tal elemento não deixa de ser uma forma de engajamento, propicia emoções positivas, pode ser fonte de sentido e de realização, além de ser uma importante forma de suporte social e apoio para o enfrentamento de situações difíceis na vida. “Bem poucas coisas positivas são solitárias. [...] As outras pessoas são o melhor antídoto para os momentos ruins da vida e a fórmula mais confiável para os bons momentos”. (CHRISTOPHER PETERSON, apud SELIGMAN, 2011, p. 495). d) Sentido O elemento ‘sentido’ ou vida significativa, em sua forma mais ampla, envolve a busca por sentido na vida, ou seja, o uso das forças pessoais para pertencer e servir a algo maior do que si próprio e está relacionada com a teoria de Viktor Frankl. As pessoas que buscam atividades que as conectam com um objetivo maior, atingem uma vida significativa (RASHID e SELIGMAN, 2013). Uma vida significativa pode ser atingida por diferentes caminhos: relacionamentos interpessoais, busca por

11

Leitura sugerida: CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. Flow: The psychology of optimal experience. New York: Harpers, 1990.

63

inovações artísticas, intelectuais ou científicas, contemplação filosófica ou religiosa, ativismo social ou ambiental, carreiras experienciadas como chamados ou o ato de seguir a própria vocação, como também, buscas solitárias por meio da espiritualidade ou da meditação. (STILLMAN e BAUEISTEN, 2009 apud RASHID e SELIGMAN, 2013). Uma vida com significado e propósito vai além de ter metas e objetivos e pode ser um fator protetor para diversos incômodos emocionais e psicológicos. A psicoterapia pode ser uma das maneiras para auxiliar os indivíduos a identificar e definir significado, sentido e propósitos na vida. Complementando, Seligman, Rashid e Parks (2006, p. 777, tradução nossa), sugerem que: “a falta de sentido na vida não é somente um sintoma, mas uma causa de depressão, assim, intervenções que promovam sentido na vida do cliente pode aliviar a depressão”. e) Realização A ‘realização’ ou vida realizada, de maneira mais ampla, é o elemento da teoria do bem-estar que representa a busca por si própria, independente da promoção ou não de emoção positiva, de sentido ou de relacionamentos positivos. As pessoas que levam uma vida realizadora estão frequentemente absorvidas no que fazem, muitas vezes buscam o prazer avidamente e sentem emoção positiva (embora evanescente) quando ganham, e vencem a serviço de algo maior. (SELIGMAN, 2011, p. 479)

O elemento ‘vida realizada’ também enfatiza uma das características da Psicologia Positiva que é ser descritiva em de vez de ser prescritiva, ou seja, é uma abordagem que descreve o que efetivamente as pessoas fazem para obter o bemestar, contudo, não prescreve o que se deve fazer. A teoria do bem-estar suporta o objetivo da PP que é avaliar e produzir o florescimento humano. E, o florescer para a Psicologia Positiva está em linha com a visão de florescimento apresentada por Felicia Huppert e Timothy So da Universidade de Cambridge (apud SELIGMAN, 2011), que ilustra que um indivíduo para florescer deve ter todas as “características essenciais” e três das “características adicionais” apresentadas a seguir:

64 FIGURA 5 - Características essenciais e adicionais para o florescimento humano Características essenciais Emoções positivas Engajamento e interesse Sentido e propósito

Características adicionais Autoestima Otimismo Resiliência Vitalidade Autodeterminação Relacionamentos positivos Fonte: SELIGMAN (2011, p. 616)

2.3.2.2 Emoções positivas Barbara Fredrickson, da Universidade da Carolina do Norte (EUA), é uma das referências mundiais no estudo das emoções positivas. Um dos seus principais trabalhos:

“Teoria

das

emoções

positivas:

potencializar

e

construir”

(FREDRICKSON, 2001), destaca que a capacidade dos indivíduos em experienciar emoções positivas pode ser uma força fundamental e central para o estudo do florescer humano que vai ao encontro da missão da Psicologia Positiva que é entender e promover os fatores que propiciam aos indivíduos, comunidades e sociedades a florescer (SELIGMAN e CSIKSZENTMIHALYI, 2000). As emoções positivas servem como marcadores de florescimento ou de bem-estar. Para Fredrickson (2001), quando as pessoas experienciam, em momentos de suas vidas, emoções positivas, tais como: alegria, interesse, satisfação, amor, não são atormentadas por emoções negativas, tais como: ansiedade, tristeza, raiva e desespero. Apesar da distinção e até mesmo oposição, em alguns casos, entre as emoções positivas e negativas, elas assumem um papel de complementaridade na vida dos indivíduos, enquanto algumas emoções negativas direcionam para um comportamento focado em situações que se exige uma rápida ação para a proteção da vida, tal como lutar ou fugir, as emoções positivas propiciam uma ampliação do repertório de pensamentos e ações que levam o indivíduo a explorar, brincar, apreciar e interagir. (FREDRICKSON, 2001). Uma vez que toda emoção tem um componente sensorial, de sentimento, de raciocínio e de ação, é entendido que os sentimentos positivos e negativos induzem a diferentes modos de pensar e agir, enquanto os sentimentos positivos direcionam, por exemplo, para a criatividade, a generosidade, a gratidão, a tolerância e a abertura para novas experiências e relações, os sentimentos negativos direcionam

65

para a concentração no que está errado e necessita ser eliminado (SELIGMAN, 2002). O componente de sentimento de todas as emoções negativas é a aversão, traduzida por desgosto, medo, repulsa, ódio e outros sentimentos parecidos. Estes, como as imagens, os sons e os cheiros, penetram na consciência e dela tomam conta. Ao agir como um alarme sensorial que avisa sobre a possibilidade de um jogo em que, para uma das partes ganhar, a outra tem necessariamente que perder, os sentimentos negativos mobilizam o indivíduo a descobrir e eliminar o que está errado. O tipo de raciocínio que essas emoções necessariamente provocam é direcionado e rigoroso, fazendo com que o assaltado concentre a atenção na arma, e não no corte de cabelo do assaltante. Tudo isso termina em uma ação rápida e decisiva: luta, fuga ou proteção. (SELIGMAN, 2002, p.676).

Para Seligman (2011), a emoção positiva é muito mais do que uma sensação agradável, é um sinal evidente de crescimento que consequentemente gera um acúmulo de capital psicológico. Mesmo sendo provisórias, as emoções positivas têm um papel essencial no processo de desenvolvimento das pessoas, propiciando mais flexibilidade, criatividade e eficiência (RASHID e SELIGMAN, 2013). E por outro lado, o desenvolvimento e a presença de emoções positivas na vida das pessoas são fatores chave para o enfrentamento de problemas e situações difíceis da vida. Diversas pesquisas investigaram tal afirmação, como por exemplo, Fredrickson e Joiner (2000 - apud FREDRICKSON, 2001) constataram que pessoas que experimentam emoções positivas apresentam um estilo de enfrentamento que conseguem considerar os diferentes ângulos da situação ao se manterem com a mente aberta e darem um passo atrás do problema. E, Folkman e Moskowitz (2000 – apud FREDRICKSON, 2001), identificaram três tipos de enfrentamento vinculados à existência e a manutenção de emoções positivas durante situações de estresse crônico: reavaliação positiva, ação dirigida e focada ao problema e a infusão em eventos comuns com uma significação positiva, em indivíduos que apresentam um escopo ampliado de atenção e reflexão das situações problemáticas. Dessa maneira, faz todo sentido a colocação de Seligman (2002, p. 93): ”As emoções positivas de confiança e esperança, por exemplo, não nos são mais úteis quando a vida é fácil, mas quando ela é difícil”. Para a Psicologia Positiva, as emoções positivas podem estar ligadas ao passado, ao presente ou ao futuro. Assim, as emoções positivas relacionadas ao passado

contemplam:

satisfação,

contentamento,

realização,

orgulho e

66

serenidade, em relação ao presente contemplam: alegria, êxtase, calma, entusiasmo, animação e prazer e em relação ao futuro contemplam: otimismo, esperança, fé e confiança. (SELIGMAN, 2002, grifo nosso). É importante salientar que a visão e a utilização das emoções positivas nos trabalho da PP não estão baseadas no estilo de “pensar positivo”, para tanto, Seligman (2002) enfatiza que uma emoção positiva desconectada do exercício do caráter pode levar ao vazio, à inverdade, à depressão e à medida que os anos passam, pode levar à corrosão de toda a realização que foi buscada até o último dia de vida da pessoa. Assim, para ele, o sentimento positivo gerado pelo exercício das forças e virtudes e não por soluções rápidas é um sentimento autêntico. 2.3.2.3 Forças de caráter e virtudes Em 1.999, Neal Mayerson12 direcionou a Martin Seligman o seguinte questionamento “Podemos ter a esperança de que a Psicologia Positiva será capaz de ajudar as pessoas a desenvolver seu elevado potencial?”. A partir daí, Seligman e Peterson13 e diversos outros profissionais iniciaram um longo trabalho de pesquisa a fim de identificar virtudes e forças de caráter que fazem a boa vida possível, para, assim, definir um “manual das sanidades” (Character Strengths and Virtues: a handbook and classification) em oposição ao DMS (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). (PETERSON e SELIGMAN, 2004). Para tanto, Peterson, Seligman e os demais pesquisadores estudaram de filósofos gregos a livros sagrados das culturas ocidentais e orientais, tais como: Aristóteles, Platão, São Tomás de Aquino, Santo Agostinho, a Bíblia, o Talmude, Confúcio, Buda, Lao Tze, Bushido (código dos samurais), Alcorão e catálogo de virtudes. Como resultado, vinte e quatro forças (de caráter) foram selecionadas e organizadas em seis grupos de virtudes alinhados com os seguintes critérios (SELIGMAN e RASHID, 2013; PETERSON e SELIGMAN, 2004, SELIGMAN, 2002): - Ser valorizada por quase todas as culturas; - Contribuir de diferentes maneiras para a boa vida do indivíduo e para a vida de outros; 12

Membro da Fundação Mayerson que criou o Values in Action (VIA) Institute – Instituto Valores em Ação. apud PETERSON e SELIGMAN, 2004, p.v, tradução nossa. 13 Christopher Peterson (1950 – 2012) - Psicólogo e Professor da Universidade de Michigan.

67

- Ser valorizada pelo valor moral do que é certo, mesmo na ausência de benefícios pessoais; - A demonstração da força por uma pessoa não diminui as demais pessoas; - Manifestar-se constantemente ou em fases por meio dos comportamentos, atitudes, pensamentos e sentimentos de um indivíduo. A relação compilada das vinte e quadro forças organizadas nos grupos das seis virtudes pode ser consulta no quadro a seguir: FIGURA 6 - Classificação Valores em Ação das Forças de caráter Sabedoria e Conhecimento – Qualidades cognitivas que implicam aquisição e uso do conhecimento.  Criatividade: Pensar em formas novas e produtivas de conceituar e fazer as coisas  Curiosidade: Interessar-se pela experiência em andamento por si só  Abertura: Refletir sobre as coisas e as examinar a partir de todos os ângulos  Amor por aprender: Dominar novas habilidades, tópicos e corpos de conhecimento  Perspectiva: Ser capaz de dar conselhos sábios aos outros Coragem – Qualidades emocionais que envolvem o exercício da vontade de atingir objetivos diante de oposição, externa e interna.  Bravura: Não recuar diante de ameaças, dificuldades, sofrimento  Persistência: Terminar o que se começou; persistir em um curso de ação apesar dos obstáculos  Integridade: Falar a verdade, mas mais amplamente, apresentar-se de forma genuína  Vitalidade: Encarar a vida com entusiasmo e energia; não fazer coisa alguma com pouco entusiasmo Humanidade – Qualidades interpessoais que envolvem tomar conta e fazer amizades com outras pessoas.  Amor: Valorizar relacionamentos íntimos com outros, especialmente aqueles nos quais há solidariedade e cuidado mútuo; ser próximo das pessoas  Gentileza: Fazer favores e boas ações para os outros; ajuda-los, cuidar deles  Inteligência social (inteligência emocional, inteligência pessoal): estar ciente dos próprios sentimentos e motivações, bem como dos outros Justiça – Qualidades cívicas que estão por trás de uma vida saudável em comunidade.  Cidadania: Trabalhar bem como membro de um grupo ou equipe; ser leal ao grupo  Imparcialidade: Tratar todas as pessoas segundo as mesmas noções de imparcialidade e justiça  Liderança: Estimular um grupo do qual se é membro para fazer as coisas Temperança – Qualidades que protegem contra excessos.  Perdão e compaixão: Perdoar os que erraram; aceitar as falhas dos outros  Humildade/ Modéstia: Deixar que as suas realizações falem por si  Prudência: Ser cuidadoso em relação às próprias escolhas, não correr riscos indevidos  Autorregulação: Regular o que se sente e faz; ser disciplinado Transcendência – Qualidades que forjam conexões com o universo mais amplo e dão sentido.  Apreciação da beleza e excelência: Observar e apreciar a beleza, a excelência e o desempenho habilidoso em vários domínios da vida  Gratidão: Estar ciente e agradecido pelas coisas boas que acontecem  Esperança: Esperar o melhor no futuro e trabalhar para atingi-lo  Humor: Gostar de rir e fazer brincadeiras; levar sorrisos às outras pessoas  Espiritualidade: Ter crenças coerentes em relação ao propósito e sentido maiores do universo Fonte: PETERSON e SELIGMAN (2004), apud SNYDER e LOPEZ (2009, p. 66)

68

Seligman (2002) destacou que algumas forças pessoais permeiam toda a vida e as ações dos indivíduos, enquanto que outras podem ser momentâneas ou fásicas, como também, que algumas forças são típicas da personalidade de um indivíduo e outras não. Os elementos que podem ser fásicos são: perseverança, perspectiva, justiça e coragem, pois uma única ação no decorrer da vida de um indivíduo que reflita alguma dessas características pode ser suficiente para demonstrar a aplicabilidade e/ ou capacidade de usar a respectiva força. Além disso, todas as pessoas possuem várias forças pessoais que podem e devem ser exercitadas diariamente nos relacionamentos interpessoais, no trabalho, nos momentos de diversão e lazer, na criação dos filhos, entre outras situações. Além disso, um ou mais dos seguintes critérios deve ser aplicável quando no exercício e utilização de das forças (SELIGMAN, 2002): - Senso de participação e autenticidade; - Sensação de entusiasmo (principalmente no início); - Rápida curva de aprendizagem (em especial se for a primeira vez de utilização da força); - Contínua aprendizagem de novas maneiras de colocar a respectiva força em prática; - Vontade de encontrar meios para usar determinada força; - Sentimento de inevitabilidade; - Fortalecimento em vez de exaustão; - Criação e busca de realização de projetos pessoais que girem em torno de determinada força; - Alegria, animação, entusiasmo e, até mesmo, êxtase. É importante pontuar que as forças de caráter são distintas de talentos e habilidades. As forças apresentam aspectos morais, enquanto os talentos e as habilidades não (RASHID e SELIGMAN, 2013). No entanto, da mesma maneira que indivíduos podem aprender, desenvolver e aperfeiçoar habilidades, também é possível desenvolver, aprender e aperfeiçoar as forças de caráter. E assim, afirma Seligman (2002, p.102): ”Os melhores terapeutas não curam simplesmente os sintomas; eles ajudam a construir forças e virtudes”. As vinte quatro forças pessoais sustentam todos os cinco elementos da teoria do bem-estar, uma vez que a utilização de tais forças propicia mais emoção

69

positiva, mais sentido, melhores relacionamentos, além de realização, em contrapartida com a teoria da felicidade em que as vinte quatro forças eram o suporte para o engajamento. (SELIGMAN, 2011). O mapa individual das forças de caráter pode ser usado em trabalhos em diferentes

atividade

e

contextos:

psicoterapia,

coaching,

educacional

e

organizacional. O VIA Institute (www.viacharacter.org) disponibiliza os seguintes questionários em diversas línguas: - Values in Action Inventory of Strengths (VIA-IS) - Values in Action Rising to the Occasion Inventory (VIA-RTO) - Values in Action Inventory of Strengths for Youth (VIA-Youth) 2.3.3 Intervenções e o processo da psicoterapia As intervenções positivas apresentaram um progresso na última década por meio de estudos e pesquisas empíricas e do alinhamento com o rápido crescimento da Psicologia Positiva a partir de 2000 com a publicação do artigo: “Positive Psychology: An Introduction” de Seligman e Csikszentmihaly. Uma das premissas de uma intervenção positiva é propiciar o aumento de sentimentos, da cognição ou de comportamentos positivos e, por outro lado, não é foco das intervenções positivas, amenizar a patologia ou corrigir pensamentos negativos ou padrões desadaptativos de comportamentos (SIN E LYUBOMIRSKY, 2009). Ou seja, uma intervenção positiva consiste em identificar, desenvolver e aplicar as respectivas forças pessoais e não dedicar demasiado esforço à correção das fraquezas e no que não está funcionando na vida do indivíduo. Alguns exemplos de intervenções positivas validadas por meio de demonstração empírica são: Contagem de bênçãos, Prática da gentileza, Definição de objetivos pessoais, Gratidão e Uso das forças pessoais, (BOILER et al., 2013), essas intervenções foram desenvolvidas com base na teoria da PP. Em adição, há diversas intervenções voltadas para o aprimoramento do bem-estar e que são incluídas nos processos de psicoterapia da PP, como: mindfulness, loving kind meditation e outras formas de meditação, terapia do perdão, intervenção para autocompaixão – técnica das duas cadeiras da Gestalt entre outras (RYE et al., 2013).

70

De acordo com Seligman (2011), a PP veio com o propósito de ser uma nova abordagem de cura, com a proposta de não ser apenas um tratamento cosmético, ou seja, as intervenções positivas são essenciais para propiciar uma psicoterapia que vai além do alívio cosmético dos sintomas e propicia a cura. O mesmo autor também enfatiza que a psicoterapia e os remédios como estão sendo utilizados são insuficientes para um processo de cura e de florescimento, uma vez que o foco de tratamento é ‘livrar’ o indivíduo do sofrimento, da miséria e dos sintomas negativos, o que não necessariamente promove bem-estar ou propicia uma vida feliz, mesmo quando são completamente bem sucedidos. Sendo assim, remover as condições que muitas vezes são debilitantes na vida de um indivíduo, não é o mesmo que desenvolver condições propícias para a vida. Com tais constatações, de maneira alguma se prega que a minimização do sofrimento não é importante, mas para uma pessoa florescer, além da minimização do sofrimento é essencial ter e contar com um repertório de emoção positiva, sentido, realização e relacionamentos positivos. Dessa forma, as práticas e os exercícios que promovem os elementos da teoria do bem-estar são particularmente diferentes das práticas que minimizam o sofrimento. Tais práticas estão alinhadas com uma necessidade que os indivíduos frequentemente direcionam aos psicoterapeutas: ‘eu somente quero ser feliz’, e assim, se acredita que as pessoas com problemas psicológicos desejam mais alegria, satisfação, entusiasmo e coragem em suas vidas, além de simplesmente, menos tristeza, medo, raiva ou tédio. (RASHID e SELIGMAN, 2013). Em adição, Seligman (2011) destaca que a Psicoterapia Positiva é composta por um conjunto de técnicas que são mais eficazmente utilizadas se associadas aos princípios terapêuticos

básicos

de

acolhimento,

empatia,

confiança,

sinceridade

e

relacionamento profissional, ou seja, os mesmos princípios básicos de outras psicoterapias. Para Rashid e Seligman (2013), o foco nas potencialidades e forças de caráter é um dos diferenciais da Psicologia Positiva e tal foco está altamente relacionado com as intervenções e com o processo da psicoterapia. O conhecimento das forças de cada indivíduo (mapa das forças de caráter) é fundamental para uma melhor compreensão dos caminhos, atividades e situações que o cliente possa ser bom, saudável, eficiente e competente, em contrapartida com a atuação da

71

psicologia tradicional, baseada nos sintomas e nas respectivas severidades, direcionada para entender o estresse, a tristeza, a raiva e a ansiedade de cada cliente. Sendo assim, da mesma maneira que a psicologia entende que indivíduos que experienciam emoções negativas, como: raiva, hostilidade, vingança ou que apresentem traços narcisistas estão mais propensos a desenvolver uma série de problemas psicológicos,

os indivíduos que

experienciam gratidão, perdão,

humildade, amor e bondade são mais propensos a reportar que são mais felizes e mais satisfeitos com a vida. Dessa maneira, conhecer as forças do cliente, além dos sintomas apresentados, é crucial para uma prática clínica mais equilibrada e holística, ou seja, é fundamental entender que a “psicoterapia é muito mais que a cultivação do bem-estar e é mais do que o alívio da angústia” (RASHID e SELIGMAN, 2013, p. 470, tradução nossa). Assim, tais autores, também, argumentam que a psicoterapia é um dos mais importantes processos para desenvolver as forças de caráter, em função de: - O aprimoramento das forças produz crescimento e mais bem-estar, enquanto a correção de fraquezas é apenas uma maneira de remediação; - A reparação ou a correção das fraquezas não, necessariamente, faz as pessoas mais fortes ou mais felizes; - O uso das forças amplia a autoeficácia e a confiança de maneira que o trabalho focado nas fraquezas não permite; - As forças oferecem caminhos para o indivíduo ser bondoso, gentil, bemhumorado, diligente, curioso, criativo e agradecido; - As forças, essencialmente, vêm de ser bom e não de se sentir bem e são construídas por meio de ações realistas. Nas palavras de Seligman (2002, p.340): O bem-estar que a utilização das forças pessoais produz tem sua base na autenticidade. Mas assim como o bem-estar precisa se ancorar em forças e virtudes estas devem estar ancoradas em algo maior. E assim como a vida boa está além da vida agradável, a vida significativa está além da vida boa.

2.3.3.1 A Psicoterapia Positiva O processo de psicoterapia da Psicologia Positiva escolhido para ser ilustrado

nesse

trabalho

é

o

da

Psicoterapia

Positiva

(PPT



Positive

Psychotherapy), que foi desenvolvida e sua validade demonstrada empiricamente

72

pelo psicólogo Tayyab Rashid com Martin Seligman. A PPT foi apresentada em 2006 por Seligman, Rashid e Parks como um esforço da Psicologia Positiva para ampliar o escopo da psicoterapia tradicional. (SELIGMAN, RASHID e PARKS, 2006). A Psicoterapia Positiva é baseada em três principais premissas conforme detalhamento de Rashid e Seligman (2013): 1) A felicidade, tal como a psicopatologia, não é algo que reside dentro da pessoa, mas sim é gerada por meio de sua interação com o ambiente. Tal como outras psicoterapias humanistas, a PPT acredita que a psicopatologia resulta quando as capacidades inatas dos indivíduos para crescer ou para se sentirem realizados e felizes são frustradas por questões socioculturais. Assim, a psicoterapia oferece uma opção viável para reestabelecer as tendências de crescimento do cliente que foram prejudicadas em função de suas interações. Complementando, Rashid (2008 ?, p.1, tradução nossa) afirma que: “os clientes desejam crescimento, completude e felicidade ao invés de somente evitar a miséria, as preocupações e a ansiedade”. 2) As emoções positivas e as forças de caráter pessoal são tão autênticas e reais quanto os sintomas e os distúrbios. Os recursos positivos (emoções e forças) não são, simplesmente, resultantes da ausência de traços negativos. Quando uma psicoterapia trabalha ativamente para restaurar e nutrir, por exemplo, coragem, gentileza, humildade, perseverança e inteligência social e emocional, a vida do cliente se torna completa, em contrapartida, uma psicoterapia que, principalmente, foca na diminuição ou na melhora dos sintomas, o cliente passa a viver menos miseravelmente. A incorporação da visão das forças de caráter, além da visão dos sintomas, expande as opções terapêuticas para os clientes e para os psicoterapeutas. 3) Uma relação terapêutica efetiva pode ser formada por meio da discussão e da manifestação dos recursos positivos e não somente por meio de uma longa análise das fraquezas e deficiências. (RASHID, 2008?). Uma abordagem de psicoterapia que foca em analisar e explorar somente os problemas do cliente, além da visão distorcida da psicoterapia propiciada pelas mídias populares, pode levar os clientes a acreditar que a psicoterapia é exclusivamente voltada para falar sobre problemas, ventilar as emoções reprimidas e recuperar uma autoestima abalada ou perdida. Isso não quer dizer que falar ou discutir a respeito dos problemas, traumas

73

de infância, insatisfações e necessidades não atendidas, não seja relevante, mas tais discussões não podem ser condição sine qua non para a relação terapêutica. 2.3.3.1.1 Fundamentos teóricos da Psicoterapia Positiva A PPT foi baseada nas teorias da felicidade e do bem-estar propostas por Seligman (2002; 2011), descritas anteriormente nesse trabalho. A visão geral dos fundamentos teóricos da PPT resumido por Rashid e Seligman (2013) está apresentada a seguir. Vida prazerosa A dimensão da vida prazerosa está relacionada com as teorias hedonistas de felicidade e consiste na experiência e na vivência de emoções positivas em relação ao passado: satisfação, contentamento, completude e serenidade, em relação ao futuro: esperança, otimismo, fé, confiança e em relação ao presente: alegria, prazer, entusiasmo. As emoções positivas, como as emoções negativas, tendem a ser provisórias, contudo, as emoções positivas desenvolvem resiliência e são essenciais para a flexibilidade e para a criatividade de um indivíduo. Faz parte do processo da psicoterapia, identificar e vivenciar as emoções positivas, como também, que o cliente aprenda novas habilidades para ampliar e intensificar a duração dessas emoções (SELIGMAN, RASHID e PARKS, 2006). Como por exemplo: - A presença de pouca apreciação dos acontecimentos positivos do passado e de ênfase excessiva aos acontecimentos negativos da própria vida pode resultar no enfraquecimento da serenidade, do contentamento e da satisfação. (SELIGMAN, 2002). Assim, são utilizados exercícios de perdão e gratidão a fim de propiciar memórias positivas. A gratidão aumenta a apreciação dos eventos positivos vividos e o perdão ajuda a reescrever a história

passada.

(LYUBOMIRSKY,

SHELDON

e

SCHKADE,

2005;

SELIGMAN, 2002). - Um indivíduo com depressão, além da anedonia, apresenta descrença no futuro e falta de esperança, assim, são aplicáveis as intervenções baseadas no trabalho do otimismo, uma vez que são fortemente utilizadas no tratamento da depressão (SELIGMAN, 2002, 2005).

74

- Uma das maneiras de promover a experiência de emoções positivas no presente é por meio de uma atitude mindfulness (atenção plena), que pode ser trabalhada por meio de meditação e exercícios de concentração, como também, com exercícios voltados para se aprender a aproveitar e ‘saborear’ o momento, tal como desfrutar tranquilamente de uma atividade que se costuma fazer correndo, por exemplo: se alimentar. (SELIGMAN, RASHID e PARKS, 2006). Uma vida sem a presença de emoções positivas e de prazeres pode ser causa, tal como sintoma de psicopatologia, assim, promover a vida agradável pode ser um dos objetivos da psicoterapia. (RASHID e SELIGMAN, 2013). Vida engajada Para Seligman, Rashid e Parks, (2006), a depressão está correlacionada com a falta de engajamento nas principais áreas da vida e a falta de engajamento pode causar depressão. McCormick et al. (2005), pontuaram que as características: anedonia, apatia, tédio, multitarefa e inquietação, que estão presentes em muitos distúrbios psicológicos, nada mais são que manifestações de falta de atenção, o que dificulta ou impossibilita o atingimento de um estado de flow. Como afirmam Rashid e Seligman (2013, 478, tradução nossa): “O engajamento pode ser um importante antídoto contra o tédio, a ansiedade e a depressão”. Uma vida engajada, com relacionamentos positivos e saudáveis, trabalho e lazer, por exemplo, são fundamentais para uma vida agradável e para o bem-estar. Dessa maneira, reforçar, aumentar ou até mesmo ajudar as pessoas a criar engajamentos em suas vidas faz parte do trabalho da PPT. Uma das maneiras para aumentar o engajamento, proposto por Seligman (2002), consiste na identificação dos talentos e das forças pessoais do cliente e das situações e oportunidades propicias para a utilização das forças pessoais de maneira consciente e autêntica. As situações podem estar relacionadas com atividades esportivas, profissionais, espirituais, sociais, relacionamentos afetivos, lazer, hobbies entre outras a serem identificadas de acordo com o perfil e ambiente em que o cliente está inserido. Vida significativa As pessoas que buscam atividades que as conectam com um objetivo maior, atingem uma vida significativa. E, uma vida significativa pode ser atingida por

75

diferentes caminhos: relacionamentos interpessoais, busca por inovações artísticas, intelectuais ou científicas, contemplação filosófica ou religiosa, ativismo social ou ambiental, carreiras experienciadas como chamados e buscas solitárias por meio da espiritualidade ou da meditação (STILLMAN e BAUEISTEN, 2009 apud RASHID e SELIGMAN, 2013). Ter um sentido e propósito na vida vai além de ter metas e objetivos e pode ser um importante fator protetor para diversos incômodos emocionais e psicológicos. A psicoterapia pode ser uma das maneiras para auxiliar os indivíduos a identificar e definir significados, sentido e propósitos na vida. Em adição, Rashid e Seligman (2013, p.478, tradução nossa) afirmam que: “significado e propósito podem motivar os clientes psicologicamente angustiados a definir objetivos e buscar atingi-los, [...], além disso, clientes cujas vidas estejam imbuídas com sentido são mais propensos a persistirem frente às dificuldades”. Relacionamentos positivos Conforme explicado na teoria do bem-estar, os relacionamentos positivos são importantes em função de que poucas das coisas que são positivas são solitárias. A psicoterapia tradicional com foco nas deficiências, acaba subestimando a forte influência do contexto dos relacionamentos interpessoais dos clientes. Os relacionamentos interpessoais representam uma fonte essencial para suporte social ou como afirmam Rashid e Seligman (2013, p.478, tradução nossa): “As outras pessoas são o melhor antídoto contra o desânimo diante dos desafios da vida”. Dessa maneira, a PPT, considera o ambiente em que o indivíduo está inserido, tal como a qualidade das relações interpessoais do cliente no seu processo psicoterápico. Realização A dimensão “realização” também é levada em consideração na PPT. Levase em consideração que as pessoas voltadas para ‘realização’ são absorvidas e comprometidas com as suas buscas e utilizam de emoções positivas em tal processo, principalmente no momento em que atingem a realização. Na esfera do bem-estar, as pessoas utilizam-se de emoções positivas para ‘saborear’ e celebrar as suas realizações.

76

Vida plena Uma vida plena implica em ter prazer, engajamento, sentido na vida, realizações e relacionamentos positivos de acordo com o exposto na teoria do bemestar. Rashid e Seligman (2013) ressaltam que esses elementos não são exclusivos ou exaustivos, mas por outro lado, uma vida vazia (sem prazer, sem engajamento, sem sentido, sem realizações e sem relacionamentos positivos), principalmente em relação com a falta ou problemas de engajamento e sentido, resulta em problemas psicológicos. Sendo assim, esses problemas, quando existentes, fazem parte do processo de trabalho da Psicoterapia Positiva. 2.3.3.1.2 O processo da Psicoterapia Positiva Rashid (2008 ?, p.2, tradução nossa) expõe que apesar do positivo no nome da abordagem, o foco da PPT não é exclusivo nos aspectos positivos da experiência humana: “Seria ingênuo e utópico conceber a vida sem experiências negativas”. O processo da PPT aqui exposto foi baseado no modelo apresentado por Rashid e Seligman (2013). O foco inicial do tratamento é a formação da relação e do vínculo terapêutico, ou seja, o terapeuta deve focar em construir uma boa relação terapêutica por meio de uma postura de atenção plena voltada para escutar as preocupações do cliente e para o encorajamento do cliente a fim de narrar uma história real de sua vida, com destaque para uma situação de sucesso ou que ele entenda como uma situação em que apareceu o seu melhor lado ou uma experiência de enfrentamento de uma situação desafiadora. Os aspectos da Psicologia Positiva (positividade de sua teoria) são apresentados no início do processo e acaba fazendo parte naturalmente da narrativa por todo o processo da terapia. Rashid e Seligman (2013) apresentaram um modelo da PPT para o tratamento da depressão em quatorze semanas, ilustrado a seguir.

77

Sessão

FIGURA 7 - Visão geral do modelo da PPT com quatorze sessões

1

Tópico e tarefa de casa Descrição (TC) Orientações sobre a Psicoterapia Positiva

Confidencialidade e os seus limites; regras, papéis e responsabilidades são discutidos; também é ressaltada a importância de concluir as tarefas de casa. Os problemas apresentados são discutidos no contexto de falta de recursos

positivos,

como

as

emoções

positivas,

engajamento,

relacionamentos positivos, sentido e significados na vida, realizações e forças de caráter. TC: Introdução positiva

Escrever uma página (cerca de 300 palavras) com uma "introdução positiva" a respeito de uma história concreta em que o cliente apresentou o seu melhor ou uma situação que ele considere de sucesso em sua vida.

2

Forças de caráter Avaliação dos pontos fortes

O cliente identifica seus pontos fortes (de acordo com as forças de caráter), incluindo os ilustrados na sua introdução positiva; as forças de caráter são discutidas, como também, engajamento, fluxo (flow) e os benefícios das emoções positivas. Preenchimento do inventário das forças de caráter, online, com 72 itens; de duas outras pessoas significativas (um membro da família e um amigo), identificação dos seus pontos fortes com base no mapa das forças de caráter - também conhecido como mapa individual de forças ou assinatura das forças de caráter. (opcional)

TC: Jornal de bênçãos

O cliente deve iniciar um diário para registro de três coisas boas a cada noite. No início das próximas sessões há a apresentação da visão semanal do jornal diário e a identificação dos benefícios, padrões e desafios relacionados.

3

Assinatura de forças

A assinatura das forças é identificada integrando várias perspectivas.

(parte do mapa individual Cliente e terapeuta discutem metas específicas, que devem ser das forças de caráter) mensuráveis e realizáveis, voltadas para problemas específicos do cliente ou para cultivar mais engajamento.

4

TC: Plano de ação da assinatura de forças

Completar a relação de objetivos com o respectivo plano de ação da assinatura de forças.

Memórias boas vs. Memórias ruins

O papel das memórias ruins e amargas é discutido em termos de como elas perpetuam o sofrimento psicológico. Discussão de estratégias para a reavaliação cognitiva positiva para reescrever e resignificar lembranças ruins e amargas e dos benefícios

78

das boas lembranças ou memórias.

5

TC: Escrevendo sobre memórias

Escrever sobre memórias ruins e os sentimentos de raiva e amargura e seu impacto na perpetuação do sofrimento emocional.

Perdão

O perdão é explorado como uma opção potencial para transformar os sentimentos de raiva e amargura, relacionados com uma situação específica, em neutralidade ou, até mesmo, em emoções positivas.

TC: Carta do perdão

Escrever uma carta para alguém que o machucou/ magoou, falar sobre a situação, as emoções relacionadas e comprometer-se a perdoar o transgressor. Não necessariamente a carta será entregue para a outra pessoa, mas pode ser entregue e lida pelo cliente, se ele desejar.

6

Gratidão

Discussão de gratidão como uma postura de agradecimento perene. Os papéis das memórias boas e das más são discutidos novamente com ênfase na gratidão.

HW: Carta de gratidão e Escrever e entregar, pessoalmente, uma carta de agradecimento para visita alguém que fez algo significativo para ele, mas que ele não agradeceu adequadamente. 7

Sessão de feedback

Acompanhamento (follow-up) do plano de ação da assinatura de forças,

(metade do processo)

as atribuições do perdão e da gratidão. Discussão do progresso terapêutico e de necessidade de realização de mudanças em tal processo/ plano da terapia.

8

9

Satisficing vs.

Discussão de conceitos de satisficing (se contentar com o bom e

maximização

suficiente) e maximização.

TC: Satisficing

Identificar as áreas e planejar onde pode se beneficiar da visão/ postura “satisficing”.

Esperança, otimismo e

Discussão detalhada sobre otimismo e esperança. Ajudar o cliente a

Crescimento póstraumático

refletir sobre momentos em que aspectos/ questões importantes foram

TC: Uma porta se fecha e uma porta se abre

Escrever sobre situações da própria vida em que três portas se fecharam e perguntar quais portas se abriram.

10 Comunicação positiva

TC: Prática de resposta ativa-construtiva 11 Assinatura de forças de

perdidas, mas outras oportunidades foram abertas. Exploração do crescimento potencial pós-trauma.

Discussão sobre comunicação “ativa-construtiva”, uma técnica de comunicação positiva. Automonitoração de oportunidades para resposta ativa-construtiva.

Discussão da importância do reconhecimento e associação das forças

79

outros significativos

de caráter dos membros da família.

TC: Árvore de forças da família

Solicitar para alguns membros da família o preenchimento do inventário de forças online para em seguida poder elaborar a árvore de forças da família. Sugere-se que o cliente discuta com um membro da família a respeito da árvore de forças da família.

12 Savoring

Discussão sobre Savoring (‘saborear’/ ‘curtir’) e respectivas técnicas e estratégias.

Planejar atividades para ‘saborear’ utilizando técnicas específicas. TC: Plano com atividades para savoring 13 Altruísmo TC: Presente com o tempo próprio 14 Vida plena

Discussão dos benefícios terapêuticos ao ajudar os outros. Planejar para dar como presente para alguém parte do seu tempo ligado com a utilização de algumas das forças da sua assinatura. Discussão da vida plena como uma integração de emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, sentido e realização, e, dos ganhos terapêuticos e experiências, como também de maneiras para sustentar as mudanças positivas. Fonte: RASHID e SELIGMAN, 2013, p. 480-481, tradução nossa

Apesar do modelo apresentado para ilustrar a PPT contar com quatorze sessões e com uma ordem de aplicação das atividades, Rashid e Seligman (2013) esclarecem que no processo da PPT os exercícios e tarefas são customizados de acordo com as necessidades clínicas imediatas do cliente, como por exemplo: conflito em relacionamentos interpessoais, separações ou questões relacionadas com a carreira ou trabalho do cliente, como também, o plano de trabalho e a duração da terapia variam de acordo com as circunstâncias de cada cliente. Cabe salientar outras considerações importantes da PPT, como o aparecimento de emoções negativas durante o processo, associação do trabalho das forças de caráter com as queixas do cliente, comprometimento com o processo terapêutico e relação terapêutica. Rashid (2008?) pontua não ser incomum alguns exercícios da PPT gerarem emoções negativas ou desconfortáveis, sendo assim, cabe ao terapeuta perceber tais emoções e ser empático com elas. Em complemento, Rashid e Seligman (2013) ilustraram que a PPT não nega a existência das emoções negativas ou encoraja os clientes a enxergarem o mundo por meio de óculos cor de rosa, mas sim, encoraja

80

os clientes a explorar os efeitos das experiências negativas e das suas emoções negativas e buscar encontrar as possibilidades de positividade ou de força em suas experiências difíceis ou traumáticas. Assim, o cliente pode aprender a perceber as experiências negativas com uma visão mais positiva e reformular essas experiências de maneira mais útil para si. O trabalho com o mapa das forças de caráter do cliente deve ser relacionado com as queixas apresentadas, por exemplo, para um cliente que apresente ansiedade e reclama de não se sentir vivo, de não conseguir ter entusiasmo em suas atividades, é indicado sugerir o desenvolvimento de ‘entusiasmo’ por meio do engajamento em experiências e atividades propícias. Além disso, os clientes são encorajados a desenvolver uma inteligência prática por meio de uma cuidadosa análise de qual força é relevante para o problema atual, como também, se há algum conflito com o seu mapa de forças para, assim, aprender a usar as forças a seu favor nas atividades do dia a dia e em suas relações. Os clientes são auxiliados para contextualizar o uso das forças e automonitorar esse processo a fim de aprender como e quando calibrar ou realocar os seus recursos mentais e físicos, para que possam atingir um estado saudável e otimizado por meio da utilização das forças. (RASHID e SELIGMAN, 2013). As intervenções e os exercícios utilizados pela PPT ajudam os clientes a se sentirem responsáveis pelo seu processo e por suas escolhas em oposição a uma postura de vitimização encontrada como padrão em alguns clientes, padrão que costuma ser gerado pelas emoções negativas e memórias negativas. Além disso, é propiciado ao cliente a criação de um espaço entre ele e as suas memórias negativas com o objetivo de ampliar a perspectiva ou a visão em relação à situação. (RASHID e SELIGMAN, 2013). A relação e o vínculo terapêutico também são bastante enfatizados na PPT, e, como já ilustrados nesse trabalho, considerados fatores chave para o sucesso da psicoterapia. Rashid e Seligman (2013) destacam que o ambiente promovido pela PPT - um contexto que promove a proximidade, a compreensão, a autenticidade, a colaboração e a boa vontade - está alinhado com uma postura do terapeuta que escuta de maneira plena e interessada e está voltado para a facilitação da expressão afetiva. Tal ambiente ajuda o cliente a explorar e refletir sobre as suas experiências desconfortáveis de uma maneira que direciona para resultados

81

positivos. Além disso, esses autores acreditam que o trabalho do terapeuta baseado no conhecimento de onde e como olhar para as forças do cliente e como alinhar as respectivas forças com os aspectos da personalidade, objetivos, valores, recursos, ambiente e as circunstâncias da vida do cliente, possibilita uma relação terapêutica mais igualitária do que as relações baseadas na orientação para o negativo ou para os déficits. 2.3.3.2 Mecanismos de mudança na Psicoterapia Positiva Rashid e Seligman (2013) listaram diversos mecanismos de mudança da Psicoterapia Positiva, são eles: 1) A PPT amplia a perspectiva do cliente para que ele possa perceber e realizar atividades que gerem emoções positivas. Embora as emoções positivas sejam de natureza efêmera, elas propiciam sentido, expandem repertórios de comportamento, ajudam na geração de novas ideias e facilitam a reinterpretação de memórias amargas. Tal ampliação ocorre em níveis cognitivos, afetivos e comportamentais e está diretamente relacionada com o papel das emoções positivas para a PPT, ou seja, elas não representam somente indicativos de alegria ou felicidade, mas sim, de maneira mais importante geram mudanças cognitivas, comportamentais e afetivas. 2) Aumento da flexibilidade refletida nos comportamentos, na cognição e no afeto do indivíduo ao se trabalhar a reavaliação positiva dos problemas causados por emoções e memórias negativas, por exemplo. 3) Desenvolvimento da respectiva assinatura de forças por meio de exercícios vivenciais e do desenvolvimento de habilidades. Os exercícios da PPT não são como as atividades hedonistas que geram um prazer rápido e efêmero, pois apresentam longa duração, ou seja, um efeito mais duradouro resultante de reflexões e interpretações que nem sempre são fáceis. Já no início da terapia os clientes são orientados na direção de que a felicidade não acontece simplesmente, mas é algo que necessita ser feita acontecer. 4) Atendimento empático às preocupações dos clientes que os ensina ativamente a serem funcionais apesar de seus sintomas depressivos. A

82

identificação sistemática das suas forças permite ao indivíduo pensar mais profundamente sobre as suas reais qualidades positivas. Assim, o pensamento de maneira realista sobre suas forças e qualidades positivas propicia um reforço para a autoconfiança e prepara o cliente para lidar de maneira mais efetiva com os seus problemas. 5) A reeducação da atenção é um mecanismo global da mudança na PPT. Muitos clientes se apresentam para a psicoterapia com uma elevada tendência natural para o negativo, que direciona para um exagerado foco e retomada dos aspectos negativos das suas experiências. Dessa maneira, muitos exercícios objetivam reeducar a atenção, a memória e as expectativas para uma base positiva e de esperança, em oposição ao padrão negativo e catastrófico. O processo de mudança ocorre por meio das intervenções pertinentes, sendo indispensável a relação terapêutica empática, de aceitação e interesse genuíno pelo cliente e suas questões. E, para Rashid e Seligman (2013), a postura inicial do terapeuta e o foco inicial nos aspectos positivos do cliente e não em suas fraquezas, facilita a criação de um forte vínculo terapêutico que terá relação direta no processo de mudança e sucesso da terapia. 2.3.3.1.4 Aplicabilidade e outras considerações De acordo com Rashid e Seligman (2013) a PPT, tal como a Psicologia Positiva, não é prescritiva, mas sim uma abordagem descritiva baseada em evidências científicas acerca dos benefícios gerados quando o indivíduo se atenta para

os

aspectos

positivos

da

sua

experiência.

A

partir

dessa

visão,

responsabilidade e livre-arbítrio são ideias essenciais na PPT. Os mesmos autores enfatizam que a PPT não é uma panaceia, sendo assim, não é aplicável para todos os clientes e para todas as situações. Algumas situações e circunstâncias da vida de um indivíduo podem não ser beneficiadas inicialmente pela PPT, como por exemplo, se a problemática relacionada demanda um tratamento específico, ou seja, situações de trauma tendem a se beneficiar incialmente de uma abordagem de tratamento de stress pós-traumático do que com a da PPT num primeiro momento.

83

Por outro lado, indivíduos com depressão e quadros ansiosos são bastante beneficiados com a abordagem da PPT, porém, não é necessário ter algum problema psicológico para ser um cliente da PPT. Ou seja, a PPT é aplicável, inclusive,

para

indivíduos

que

não

apresentam

quadros

psicologicamente

problemáticos, mas que necessitam de ajuda para aprimorar o seu bem-estar. Além da terapia individual de adulto, a PPT também tem sido adotada em terapia de grupos, de casal, familiar e para crianças e adolescentes (RASHID e SELIGMAN, 2013). Além do tratamento clínico, os exercícios utilizados na PPT têm sido usados em atividades não clínicas, como coaching de vida e de carreira, educação e em organizações (SELIGMAN, 2011). “Em função de a PPT propiciar o alívio do sofrimento e desenvolver o bem-estar, oferece um tremendo potencial para expandir os horizontes da psicoterapia.” (RASHID e SELIGMAN, 2013, p. 487, tradução nossa). Tal como a Psicologia Positiva, a Psicoterapia Positiva conta com uma série de estudos voltados para a validação, por meio de demonstração empírica, da efetividade de suas intervenções. Contudo, apesar das evidências e validações para as intervenções da PPT, Seligman (2011) pontuou que a Psicoterapia Positiva está apenas nos estágios iniciais de prática e aplicação e os resultados são preliminares, precisando ser replicados. Os resultados com a PPT têm sido interessantes e efetivos, no entanto, Rashid e Seligman (2013) destacam a necessidade de realização de mais pesquisas para avaliar a efetividade da PPT nos variados transtornos mentais, como também, para poder comparar com os tratamentos tradicionais focados em sintomas.

84

3

Discussão Alinhado com o terceiro objetivo desse trabalho, esse capítulo discorre sobre

a análise em relação à conceituação da emoção na TFE e na PP e ao trabalho com as emoções em psicoterapia por ambas as abordagens apesentadas. Pode-se afirmar que a conceitualização e a visão da emoção nas duas abordagens, mesmo ao utilizar termos distintos, apresentam similaridades, em função de utilizarem de fontes em comum, como por exemplo, os trabalhos das neurociências (com destaque para a neurociência afetiva), do construtivismo e de trabalhos de filosofia e das teorias humanistas. A TFE tem como premissa que as emoções são fundamentais para a construção do self e são determinantes para a auto-organização dos indivíduos. (GREENBERG, 2004). No nível mais básico de funcionamento, as emoções apresentam uma forma adaptativa para o processamento de informações e direcionamento para ações, orientando as pessoas a respeito do ambiente em que estão inseridas, além de serem atuantes na promoção do bem-estar da própria pessoa. (GREENBERG, 2010). Percebe-se um entendimento parecido, de acordo com a pontuação de Seligman (2002) em relação à visão de que toda emoção tem um componente sensorial, de sentimento, de raciocínio e de ação, dessa maneira, os sentimentos positivos e negativos induzem a diferentes modos de pensar e agir, enquanto os sentimentos positivos direcionam, por exemplo, para a criatividade, a generosidade, a gratidão, a tolerância e a abertura para novas experiências e relações, os sentimentos negativos direcionam para a concentração no que está errado e necessita ser eliminado, porém, complemento que muitas vezes, tal direcionamento no que está errado e precisa ser eliminado, pode ser uma atitude de proteção e segurança para o ser humano. O estudo das emoções positivas é um dos pilares da PP e a ampliação do repertório das emoções positivas na vida de um indivíduo é um dos objetivos da Psicoterapia Positiva. As emoções positivas, além de ser um dos elementos para o florescimento humano e para o bem-estar do indivíduo, é um importante instrumento de enfrentamento (colping) para situações adversas na vida de uma pessoa. Como disse Seligman: (2002, p. 93): ”As emoções positivas de confiança e esperança, por exemplo, não nos são mais úteis quando a vida é fácil, mas quando ela é difícil”. Ou,

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seja, as emoções positivas não somente estão relacionadas com uma vida agradável, como também são elementos para a força pessoal, sendo assim, saber identificá-las e utilizá-las faz parte do trabalho de regulação emocional da TFE. Em complemento, a TFE, também, visa propiciar um aumento do repertório das emoções positivas, uma vez que os objetivos da abordagem, segundo Elliot et al. (2004) envolvem o fortalecimento do self, a regulação do afeto, a criação de um novo significado, ou seja, ajudar os clientes a desenvolver a sua inteligência emocional. Aqui, relembro a explanação de Greenberg (2011) referente ao potencial adaptativo das emoções, isto é, servir de guia para os diferentes aspectos da vida de uma pessoa e sinalizar os eventos que afetam os mais importantes relacionamentos, as questões pessoais, além de ajudar as pessoas a se conectarem, se sentirem energizadas, amadas e interessadas e, frequentemente, propiciar o encontro dos indivíduos com as suas respectivas essências. Em adição, cabe a pontuação de Seligman (2011), que diz que a emoção positiva é muito mais do que uma sensação agradável e um sinal evidente de crescimento que consequentemente gera um acúmulo de capital psicológico. Adicionalmente, apesar do foco na emoção e da perspectiva da emoção como uma fonte de sentido, direção e crescimento da TFE, (ELIOTT et al., 2004), tal abordagem não se limita a olhar somente para as emoções e os respectivos processos emocionais dos clientes, como também, se alimentar exclusivamente da teoria das emoções. Dessa maneira, cabe destacar os alinhamentos teóricos da TFE, como o construtivismo dialético (a integração da biologia e da cultura) e a construção de narrativa e significado, o que baseia uma visão integrativa do ser humano. Ou seja, a TFE considera as questões motivacionais, a cognição, os comportamentos e as interações, uma vez que muitos dos problemas humanos podem estar relacionados com questões biológicas, emocionais, cognitivas, motivacionais, comportamentais, fisiológicas, sociais e culturais. (Greenberg, 2011), o que interfere diretamente nas intervenções e no processo da psicoterapia. Tal visão e base teórica, também apresentam pontos em comum com a base teórica da Psicologia Positiva, com destaque para os elementos da teoria do bem-estar: emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, sentido e realização, além do estudo e trabalho com as virtudes e forças de caráter, que também são base para as intervenções e para o processo da Psicoterapia Positiva. Além disso,

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cabe complementar que a PPT também entende que o trabalho com as emoções deve estar relacionado e resultar em aperfeiçoamentos do indivíduo nos níveis cognitivos, afetivos e comportamentais. (Rashid e Seligman, 2013). Em relação à disfuncionalidade, a TFE apresenta uma visão de que muitas das disfunções podem ocorrem quando o indivíduo suprime ou não apresenta consciência das suas emoções ou apresenta uma inabilidade em regular as próprias emoções. (ELLIOT et al., 2004; GREENBERG, 2011), de maneira complementar, a PP apresenta a visão de que uma vida sem a presença de emoções positivas, de prazeres e sem engajamento pode ser a causa, como também, sintomas de psicopatologia. Apesar das similaridades na visão e na função das emoções na TFE e na PP, o manejo das emoções no processo da psicoterapia acontece de maneira diferente, como se pode perceber no subitem ‘intervenções e processo da psicoterapia’ das respectivas abordagens do presente trabalho. Por exemplo, na TFE há um trabalho do terapeuta em identificar o nível de expressividade da emoção do cliente e o tipo de resposta emocional a fim de ter clareza da adaptabilidade ou desadaptabilidade da emoção identificada, além da identificação dos esquemas emocionais. Na TFE, as emoções dos clientes servem como uma bússola, que além de guiar o cliente e o terapeuta ao que é mais importante para o cliente, suas necessidades atendidas e as não atendidas (Greenberg, 2011), são marcadores fundamentais para as intervenções e tarefas no processo da psicoterapia. Por outro lado, alguns exercícios podem até serem similares, como por exemplo, ambas as abordagens utilizam a técnica da cadeira vazia da Gestalt, porém, na PPT não há o trabalho de mudar uma emoção com outra emoção da maneira como é realizado na TFE, até porque na base teórica da PP não há a classificação dos tipos de emoção (adaptativa, desadaptativa e instrumental) como na TFE. Para finalizar, é pertinente destacar a importância da relação terapêutica enfatizada pelas duas abordagens. A maneira como ambas enxergam e trabalham com a emoção, requerem do terapeuta um conhecimento dos próprios esquemas emocionais e a adoção da regulação emocional para a TFE e na PPT a utilização das emoções positivas conectadas com as forças de caráter, já que tais conhecimentos e vivências são fontes facilitadoras para uma postura autêntica e genuína por parte do terapeuta junto ao seu cliente. Para a TFE, o relacionamento

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em si é visto como curativo justificado em função da empatia, da abertura e da aceitação do terapeuta que promovem quebra de isolamento, validação e fortalecimento do self, além da auto-organização (Greenberg, 2011). Similarmente, para a PPT, a postura de atenção plena e interessada do terapeuta facilita a expressão afetiva e incrementa com um diferencial que é o olhar para o positivo e para as forças, além de olhar e buscar o que deu certo na vida do cliente, como facilitadores para a expressão emocional no processo da terapia.

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Considerações finais Tanto a Terapia Focada nas Emoções, quanto a Psicologia Positiva estão

alinhadas com a teoria da terapia construtivista voltada para a funcionalidade, organização e evolução das emoções, isto é, para ambas, as emoções têm um papel essencialmente positivo e precioso na vida das pessoas. Com bases teóricas similares, mas com um processo de trabalho diferenciado, a TFE e a PPT extrapolam um tratamento voltado para a eliminação ou minimização dos sintomas de um transtorno mental, incorporando uma visão de cura e objetivando um florescimento do indivíduo, uma postura responsável pelo próprio bem-estar, inteligência emocional e uma vida mais significativa. As principais referências, utilizadas nesse trabalho, Leslie Greenberg para a TFE e Martin Seligman e Tayyab Rashid para a PPT, enfatizam a necessidade de mais estudos e validações por meio de demonstrações empíricas das intervenções das respectivas abordagens. Como se pode perceber nas pesquisas realizadas nas referências bibliográficas para esse trabalho, se por um lado a TFE apresenta um passo à frente em relação às pesquisas e validações por demonstrações empíricas do processo de mudança humana com a utilização da emoção, a PP apresenta um destaque nos estudos voltados para uma atuação preventiva de transtornos mentais e nas potencialidades e forças e virtudes do ser humano, até mesmo por ter uma proposta e estar inserida e ser explorada em instituições que podem facilitar o trabalho preventivo com as emoções, como escolas, organizações públicas e privadas, dentre outras. Seria interessante, uma maior divulgação da Terapia Focada nas Emoções no Brasil e a condução de estudos e pesquisas no cenário nacional, como também, mais estudos da atuação clínica da Psicologia Positiva.

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psychology:

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ANEXO 1 - Condições necessárias de Carl Rogers

As seis condições necessárias para a mudança terapêutica estabelecidas por Rogers são: 1. Contato psicológico de terapeuta e cliente: deve existir uma relação entre o cliente e o terapeuta e deve ser percebida como importante por ambos; 2. Cliente em incongruência: incongruência do cliente em relação com a sua experiência e a sua conscientização; 3. Congruência do terapeuta ou autenticidade: o terapeuta é congruente com a relação terapêutica, e está profundamente envolvido no processo terapêutico, não está atuando e pode contar suas próprias experiências (autorevelação), para facilitar o relacionamento; 4. Consideração positiva incondicional: o terapeuta aceita o cliente de maneira incondicional, sem julgamento, desaprovação ou aprovação. Isso facilita o aumento da autoestima do cliente e, também, pode tornar-se consciente de experiências em que a sua visão de autoestima foi distorcida pelos outros; 5. Compreensão empática: o terapeuta experiencia uma compreensão empática do quadro de referência interna do cliente e compartilha tal experiência com o cliente; 6. Percepção do cliente: o cliente deve perceber, pelo menos um grau mínimo, a consideração positiva incondicional e a compreensão empática do terapeuta. As condições 3, 4 e 5 são conhecidas como os como as ‘condições fundamentais’. Fonte: PROCHASKA, J.O e NORCROSS, J.C. Systems of Psychotherapy: A trans-theoretical analysis. New York: Thompson Books/Cole, 2007, p. 142-143, tradução nossa.

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