Empreendedorismo no Brasil do Século XXI - Precedentes e Formas de Atuação

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FACULDADE DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

“EMPREENDEDORISMO NO BRASIL DO SÉCULO XXI: PRECEDENTES E FORMAS DE ATUAÇÃO”

Caio Scofano Diniz Araújo

ORIENTADORA: Christiane Itabaiana Martins Romêo

Rio de Janeiro, 2014.2

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“EMPREENDEDORISMO NO BRASIL DO SÉCULO XXI: PRECEDENTES E FORMAS DE ATUAÇÃO”

CAIO SCOFANO DINIZ ARAÚJO

ORIENTADORA: Christiane Itabaiana Martins Romêo

Rio de Janeiro, 2014.2

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FICHAS CATALOGRÁFICAS

A381 Araújo, Caio Scofano Diniz. Empreendedorismo no Brasil do século XXI: precedentes e formas de atuação / Caio Scofano Diniz Araújo. - Rio de Janeiro: [s.n.], 2014. 35 f.: il. Monografia de Graduação em Relações Internacionais do IBMEC. Orientador(a): Prof.ª Christiane Itabaiana Martins Romêo. 1. Empreendedorismo. 2. MPE. 3. Privatização. 4. Startup.

5. Desenvolvimento Econômico. I. Título. CDD 327

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DEDICATÓRIA

Dedico este projeto a minha família, em especial aos meus pais, Denise Scofano e Rogério Ferreira, que continuamente me auxiliam com o seu grande conhecimento sobre, bem, tudo. À Tábata Almeida, por estar sempre ao meu lado e me motivando, dizendo que faltava pouco para acabar, mesmo desde a primeira página produzida. Por fim, a todos os professores e colegas que me marcaram nestes anos de faculdade, em especial à minha orientadora Christiane Romêo e aos meus grandes amigos Eric Arroio, Bernardo Lobão, Joaquim Fernandes e àqueles que participaram da Panorama comigo. Levarei para sempre os momentos passados com todos vocês.

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RESUMO Este trabalho pretende analisar como ocorreu o processo de surgimento e desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil, com foco no período relativo ao século XXI. Além disso, confere destaque às suas principais formas de atuação nos últimos 20 anos. Dessa forma, são discutidos a conceituação do empreendedorismo, o processo de criação das estatais ao longo do século XX e o posterior processo de privatização empregado pelo governo. Por último, ressalta-se a importância das startups, incubadoras, aceleradoras e investidores anjos no desenvolvimento da cultura empreendedora e da economia brasileira. Palavras-chave: Empreendedorismo, MPE, Privatização, Startup, Incubadora, Aceleradora, Investidor Anjo, Desenvolvimento Econômico, Brasil

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ABSTRACT This paper intends to analyze the birth and the development of Brazil’s entrepreneurship, focusing on the XXI century. Additionally, this document highlights the primary forms of its activity in the last 20 years. Thus, there will be a discussion concerning the conception of the entrepreneurship, the emergence of the Stateowned firms and the later privatization process implemented by the State. Lastly, it is emphasized how the startups, incubators, accelerators and angel investors are to the development of the entrepreneur culture and of the Brazil’s economy. Keywords: Entrepreneurship, MPE, Privatization, Startup, Incubator, Accelerator, Angel Investor, Economic Development, Brazil

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Sumário Dedicatória ................................................................................................................. iv Lista de Abreviações e Siglas ...................................................................................viii Lista de Gráficos ........................................................................................................ ix Lista de Tabelas .......................................................................................................... x INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1 CAPÍTULO I - Conceituação e um breve histórico de como surgiu o empreendedorismo ..................................................................................................... 4 Perspectiva econômica ................................................................................. 4 Perspectiva psicológica ................................................................................. 6 Vinculação do empreendedorismo às Micro e Pequenas Empresas (MPE) . 7 Empreendedor Individual e Intraempreendedor ............................................ 9 Empreendedorismo e a Liderança .............................................................. 11 CAPÍTULO II – Contextualização do Brasil na década de 90 ................................... 12 Breve histórico das estatais brasileiras: décadas de 1930 a 1980 .............. 13 Início da privatização: governos Collor, Franco e FHC ............................... 17 CAPÍTULO III - Análise da evolução do empreendedorismo no Brasil no século XXI .................................................................................................................................. 21 Análise do desenvolvimento empreendedor brasileiro: de 2002 a 2013 ..... 21 Conceituação de startups............................................................................ 24 Conceituação de Incubadoras, Aceleradoras e Investidores Anjos ............ 25 Incubadoras ............................................................................................. 26 Aceleradoras ........................................................................................... 27 Investidores Anjos ................................................................................... 29 Importância do Sebrae para o empreendedorismo nacional ....................... 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 33 REFERÊNCIAS DA INTERNET ................................................................................ 35

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Lista de Abreviações e Siglas ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CEBRAE – Centro Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas CSN – Companhia Siderúrgica Nacional CVRD - Companhia Vale do Rio Doce FHC – Fernando Henrique Cardoso GEM – Global Entrepreneurship Monitor IFRN – Instituo Federal de Ciência, Educação e Tecnologia MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação MPE – Micro e Pequenas Empresas PND - Plano Nacional de Desestatização SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

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Lista de Gráficos Gráfico 1 – Evolução da atividade empreendedora segundo estágio do empreendimento – 2002 a 2013.................................................................................22 Gráfico 2 – Razão da atividade empreendedora de oportunidade pela de necessidade: 2002 a 2013.........................................................................................23

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Diferenças entre Empreendedor e Empresário..........................................5 Tabela 2 – Classificação de Micro, Pequena, Média e Grande Empresas por Faturamento e Número de Empregados......................................................................8 Tabela 3 – Diferenças entre Empreendedorismo Individual e Intraempreendedor....10 Tabela 4 – Resultados do Processo de Privatização das Empresas Estatais: 1979 a 1999............................................................................................................................19 Tabela 5 – Dados do Programa Nacional de Aceleração de Startups...................................28

Tabela 6 – Perfil Brasileiro de Investidores Anjos......................................................30

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INTRODUÇÃO Ao longo dos últimos anos, tem-se dado uma recorrência cada vez maior do termo “empreendedorismo” no Brasil e no mundo. Ele tem crescido em presença tanto no ramo da educação, com faculdades se propondo a oferecer cursos e atividades que ajudem a desenvolver as qualidades empreendedoras de seus alunos, quanto da economia, ressaltando-o como um importante agente de avanço e inovação. Observando esse fenômeno, o presente estudo se propôs a analisar como foi o processo do surgimento e desenvolvimento da cultura empreendedora no país e de que forma se dá a sua atuação no mercado atual. Para tanto, foi utilizada uma abordagem histórica, a partir de levantamento bibliográfico desde 1930, quando a iniciativa privada ainda era incipiente, até o momento presente. Por entender que trata-se de um tema relativamente recente, optou-se por dividir essa análise em três partes, sendo as duas primeiras preâmbulos para a seção final, na qual chega-se às conclusões. No Capítulo I apresenta-se quais são as principais características de um empreendedor e qual a sua importância para o desenvolvimento econômico, baseado em obras de autores clássicos do tema, como Joseph Schumpeter. Também ressalta-se em que tipo de atividade confere-se maior visibilidade a esse ator e o porquê de isso acontecer. Nesse ponto encontram-se similaridades com o pensamento do teórico do liberalismo econômico Milton Friedman. Segundo o autor, “a essência da filosofia liberal é a crença na dignidade do indivíduo, em sua liberdade de usar ao máximo suas capacidades e oportunidades de acordo com suas próprias escolhas [...]” (p.177, 1985), o que vai ao encontro com o conceito do empreendedor apresentado por este estudo, por ser aquele que se desenvolve no sentido de conseguir sempre inovar e trazer novos ganhos para si a partir das possibilidades apresentadas. Já no segundo capítulo, realiza-se um breve histórico da década de 30 até o final dos anos 1990, dividido em duas partes. A inicial tem o seu princípio na primeira era Vargas, para demonstrar como foi o começo do processo da criação das empresas estatais brasileiras e o modo que o Estado assumiu o papel de empresário ao longo dos anos, tornando pública grande parte dos setores da economia e, consequentemente, inibindo o desenvolvimento da iniciativa privada até os primeiros

2 anos da Nova República. É nesse momento que tem início a segunda parte, com foco no desenrolar do processo de privatização das empresas estatais e as suas principais consequências para a economia e a sociedade brasileira. Novamente encontram-se pontos de correlação com o pensamento de Friedman (1985): O liberal teme fundamentalmente a concentração do poder. Seu objetivo é o de preservar o grau máximo de liberdade para cada indivíduo em separado compatível com a não-interferência na liberdade de outro indivíduo. Acredita o liberal que este objetivo exige que o poder seja dispersado. Não vê com bons olhos entregar ao governo qualquer operação que possa ser executada por meio do mercado - primeiro porque tal fato substituiria a cooperação voluntária pela coerção na área em questão e segundo porque dar ao governo um poder maior é ameaçar a liberdade em outras áreas (p.44).

O trecho citado anteriormente ilustra exatamente a situação econômica brasileira da maior parte do século XX. O Estado ocupava tamanha parcela do mercado que não restava espaço para que o indivíduo pudesse exercer sua liberdade de tentar empreender. Após o processo de desestatização, grande parte das empresas foram desmembradas e vendidas separadamente, de forma que não voltasse a ocorrer essa concentração de poder – só que, dessa vez, nas mãos da iniciativa privada –, e tornaram-se muito mais eficientes. O terceiro capítulo foca-se no tema central deste estudo, abordando o modo como se desenvolveu o empreendedorismo brasileiro do início do século XXI até agora. Para isso, ressalta-se a importância da troca do papel assumido pelo Estado, de empresário para regulador e incentivador de novos programas que fomentam a competitividade das novas empresas nacionais, relacionando-se com aquele idealizado por Friedman (1985): Um governo que mantenha a lei e a ordem; defina os direitos de propriedades; sirva de meio para a modificação dos direitos de propriedade e de outras regras do jogo econômico; julgue disputas sobre a interpretação das regras; reforce contratos; promova a competição; forneça uma estrutura monetária; envolva-se em atividades para evitar monopólio técnico e evite os efeitos laterais considerados como suficientemente importantes para justificar a intervenção do governo [...] (p.39)

Além disso, no Capítulo III destacam-se também as novas formas de atuação e de incentivo ao empreendedorismo, como as startups, as incubadoras, as aceleradoras e os investidores anjos, que alavancam a geração de inovações e a proliferação de novos mercados explorados pelo Brasil.

3 Achou-se relevante o estudo do tema empreendedorismo, pois, a partir da queda da União Soviética e da vitória do Liberalismo na década de 90 (FUKUYAMA, 1992), vem ocorrendo um processo de transnacionalização da economia que aumenta a cada dia. Dessa forma, a pesquisa de assuntos como ele, que geram uma repercussão crescente na esfera socioeconômica dos países, faz-se cada vez mais necessária. Soma-se

a

isso

o

fato

de

que

muitos

subtemas

trazidos

pelo

empreendedorismo, como as aceleradoras de startups, são extremamente recentes e ainda quase não possuem estudos acadêmicos. Portanto, a produção desta monografia pretende agregar academicamente neste sentido.

4

CAPÍTULO I - Conceituação e um breve histórico de como surgiu o empreendedorismo

Desde a década de 90, há muitos debates sobre quais seriam as melhores definições para o termo entrepreneurship, ou “empreendedorismo” em português. A sua raiz vem do francês, na qual o seu ator – o entrepreneur – é aquele que assume riscos ao tentar criar algo novo. Segundo o levantamento bibliográfico feito por Melo (2008), a primeira aparição do termo ocorreu no século XVI e era utilizada para definir o capitão responsável por contratar mercenários para prestar serviço ao rei. Somente dois séculos depois os entrepreneurs passaram a ser designados para atores econômicos, como aqueles que inseriam técnicas agrícolas inovadoras ou que arriscavam seu capital nos setores industriais. No Brasil, inicialmente, a tradução foi feita para a palavra “empresário”. Como as atribuições do entrepreneurship vêm sendo debatidas com grande frequência ao longo dos últimos anos, acabou-se por elaborar a expressão “empreendedor”, diferenciando-se do empresário comum por possuir características especiais. Em meio à discussão sobre a definição do termo, a cientista econômica Nathália Máximo e Melo (2008) e o professor Tiago Sá Teles Cordeiro (2011) elaboraram estudos em que comparam os significados teóricos sobre o empreendedorismo, à luz de importantes autores clássicos e contemporâneos. Na obra “Sebrae e Empreendedorismo: Origem e Desenvolvimento”, publicada em 2008, Melo faz duas importantes análises: a apresentação e diferenciação entre as perspectivas das teorias econômica, psicológica e sociológica do empreendedorismo; e a distinção entre os atores empreendedor e empresário. Cordeiro (2011) segue uma linha parecida, também examinando essas perspectivas, mas ele adiciona o papel do empreendedor dentro das empresas e a importância da liderança na sua atuação.

Perspectiva econômica Para a introdução desta teoria, Melo traz o pensamento de Joseph Alois Schumpeter, tido como um dos principais teóricos clássicos do empreendedorismo. Segundo a economista, o autor utiliza o termo para explicar o desenvolvimento

5 econômico, associando-o à inovação, entendida por ele como “a introdução de novos recursos ou combinação diferenciada dos recursos produtivos já existentes” (p.73), podendo se manifestar de cinco formas, enumeradas por Melo (2008, p.7273) como: 1 - Introdução de um novo bem ou uma nova qualidade de um bem; 2 - Novo método de produção (não precisa ser uma descoberta científica); 3 - Abertura de um novo mercado; 4 - Conquista de uma nova fonte de matéria prima (que já existia ou que foi criada); 5 - Nova organização (como a criação de um monopólio ou fragmentação deste).

Em seguida, a autora expõe um trecho de Schumpeter, no qual ele diferencia o empresário do empreendedor: Mas, qualquer que seja o tipo, alguém só é um empreendedor quando efetivamente levar a cabo novas combinações, e perde esse caráter assim que tiver montado o seu negócio, quando dedicar-se a dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negócios (SCHUMPETER apud MELO, 2008, p.73).

Constata-se assim que, para o economista, alguém só é empreendedor quando ocupa um papel de geração de inovações. A partir do momento que esse ator deixar de fazer isso e passar a gerir o processo ou o negócio que criou com base nessa inovação, ele perde sua qualidade empreendedora e se torna apenas um empresário. Com essa definição, o autor não pretende atribuir um sentido pejorativo a esse último, mas apenas distinguir as posições ocupadas por cada um deles e as atividades que são responsáveis por desempenhar no processo do desenvolvimento econômico. Para ilustrar essa diferença, pode-se utilizar os dados produzidos pelo empreendedor José Dornelas e adaptado por Cordeiro (2011), aqui sintetizado pelo quadro abaixo: Tabela 1 – Diferenças entre Empreendedor e Empresário Empreendedor

Empresário

Recursos

Estabelece a visão e os objetivos; depois localiza os recursos

Tenta otimizar os recursos para atingir as metas

Estrutura

Define papéis e tarefas que criam uma estrutura de organização

Opera dentro de estrutura préexistente

Conhecimentos

Apoia-se na autoimagem geradora de Busca aquisição de conhecimentos visão e inovação. Busca o know-how gerenciais e técnicos e o networking

6 Mudanças

Dá início a elas

Adapta-se a elas

Padrão de trabalho

Imaginação e criatividade

Análise racional

Foco do trabalho

Planejamento de processos que resultam de uma visão diferenciada do meio

Processos que se apoiam no meio em que ele se desenvolve

Principal função

Geração de inovações

Gerenciar processos já definidos

Impacto no mercado

Diversificação e desenvolvimento econômico

Manutenção do crescimento econômico

Fonte: elaborado pelo autor a partir de CORDEIRO, 2011, p.64)

O empreendedor, para Schumpeter, enquadra-se como aquele responsável por gerar novos negócios, a partir de inovações, que têm por consequência a diversificação e o desenvolvimento do meio econômico. Já o empresário gere modelos anteriormente criados e estabelecidos, ocupando o papel de administrador e estando presente nos procedimentos de crescimento da economia. É a mistura da principal atividade do empresário com outras de diferentes tipos, responsáveis por trazerem a inovação e sendo exercidas simultaneamente com a primeira, que fazem dele um empreendedor. Para complementar a visão do autor, pode-se citar o discernimento de três pensadores contemporâneos, resumidos na obra de Cordeiro (2011). No texto, eles ressaltam o empreendedor como um ator diferenciado, por ser aquele que é capaz não somente de localizar oportunidades ainda inexploradas, mas também de mobilizar os meios e assumir os riscos para torná-las possíveis. Dornelas (2001) e Degen (2009), por exemplo, defendem que [o empreendedor] é o agente que identifica as oportunidades e se mobiliza ao ponto de criar um negócio viável sobre a mesma, assumindo os riscos inerentes, de forma calculada e consciente. Chiavenato (2006, p.3), defende que empreendedor "é a pessoa que inicia e/ou opera um negócio para realizar uma ideia ou projeto pessoal, assumindo riscos e responsabilidades e inovando continuamente". (CORDEIRO, 2011, p.59)

Perspectiva psicológica Essa disposição para assumir riscos e de se mobilizar para concretizar seus projetos é um dos pontos principais de um empreendedor, conferindo-lhe um perfil psicológico diferenciado. Para entendê-lo melhor, Melo (2008) faz uma análise sob a ótica da teoria comportamental da administração:

7 Na perspectiva comportamentalista, é nas características do entrepreneurship, ou seja, de um tipo de comportamento que se identifica quem é o entrepreneur. Aqui o termo não é traduzido por empresário, mas por empreendedor e este é entendido mais por seus atributos psicológicos e menos por sua ação econômica. Esta, na verdade, seria consequência dos primeiros. (p.74).

Nessa análise torna-se claro que não é o papel desempenhado pelo empreendedor que o distingue dos outros atores em primeiro lugar, mas sim o seu modo de pensar. Para explicitar esse ponto, Melo (2008) aborda o pensamento do psicólogo David McClelland, um dos precursores da perspectiva comportamentalista ou behaviorista. O autor traz o conceito de achievement, que corresponde a essa necessidade, intrínseca ao empreendedor, de conquistar (to achieve) novas realizações, transformando-o em um ator determinante no desenvolvimento econômico, ponto em que conversa com o pensamento schumpeteriano. Por ser uma característica comportamental, e não apenas de mercado, o autor acredita que qualquer atividade possa ser realizada de modo empreendedor (entreneurial way). A título de exemplo, Melo pinça algumas características do comportamento empreendedor apresentado por McClelland: 1. Tomar decisões. Moderar tomada de risco em função da capacidade e não da sorte; 2. Atividade instrumental energética; 3. Responsabilidade individual; 4. Conhecimento dos resultados das decisões (medido em dinheiro); 5. Antecipação das possibilidades futuras (planejamento de longo prazo); 6. Habilidades organizacionais (Melo, 2008, p.74-76).

Vinculação do empreendedorismo às Micro e Pequenas Empresas (MPE) Essa é uma área pouco estudada, mas muito relevante para entender o conceito com que o empreendedorismo é empregado hoje pelas empresas e pelos Estados. Segundo Melo (2008), a assimilação feita entre os termos começou quando “o economista David Birch publicou uma pesquisa nos EUA que levantou dados entre a contratação e a demissão no período entre 1969 e 1976” (p.77). As importantes conclusões apontadas pelo autor acabaram por suscitar várias outras pesquisas, que tomaram as pequenas empresas como objeto de estudo.

8 Dos resultados obtidos, ressalta-se o dado de que 81% do saldo de empregos (número de empregos gerados subtraídos pelos perdidos) provinham das pequenas empresas. Outra informação importante apontada por Melo é a conclusão tirada por Souza Neto (2003), quando este analisou umas das pesquisas motivadas por Birch, de que “durante períodos de recessão econômica [...], as pequenas empresas demonstraram uma contribuição substancial aos níveis de criação de novos empregos líquidos” (SOUZA NETO apud MELO, 2008, 77), porém decaíam logo que a economia voltava a se expandir. Dentre os motivos que podem ser apontados para o crescimento dessas empresas nas épocas de recessão da economia, ressalta-se o de que, com o grande nível

de

demissões comumente

registrado,

muitas

pessoas

encontram-se

desempregadas e, por isso, precisam encontrar uma maneira de gerarem renda para suas

famílias.

Dessa

forma,



uma

espécie

de

incentivo

forçado

ao

empreendedorismo, com parte desses indivíduos optando pela iniciativa privada como alternativa financeira. Analogamente, pode ser explicada a redução da criação de novas empresas nos períodos pós recessão. A partir do momento que a economia começa a se reestabelecer e a oferta de empregos volta a subir, muitos dos que falharam ou que não obtiveram um resultado satisfatório no empreendedorismo voltam a se tornar mão de obra contratada no mercado de trabalho. Essas conclusões acabaram por atrair o interesse de economistas e dos Estados para as MPEs, tanto por demonstrarem contribuir para uma parcela relevante do PIB de seus países, quanto por serem uma importante ferramenta de auxílio nas épocas de crise, ressaltando a importância do seu estudo. A crescente atenção internacional para o ramo das MPE foi suficiente para fazer o Brasil repensar o modo como lidava com esse ramo da economia. Assim, ao longo da década de 70 começaram a surgir as primeiras definições de micro, pequenas, médias e grandes empresas. Elas variavam entre atividades exercidas, capital privado e quantidade de funcionários empregados, segundo o critério que melhor se adequa aos principais objetivos de cada instituição (MELO, 2008), de acordo com a tabela a seguir: Tabela 2 – Classificação de Micro, Pequena, Média e Grande Empresas por Faturamento e Número de Empregados

9 Por Faturamento Porte

Estatuto da Lei Compl. Micro e nº 123, Pequena dez/2006 Empresa Até R$ 244 mil

Micro

Até R$ 240 mil

Por Número de Empregados

BNDES para indústrias

Até R$ 1,2 milhão

De R$ 244 De R$ 240 De R$ 1,2 milhão Pequena mil a R$ 1,2 mil a R$ 2,4 a R$10,5 milhões milhão milhões De R$ 10,5 Média X X milhões a R$ 60 milhões Grande

X

X

Superior a R$ 60 milhões

Sebrae 7

IBGE

Indústria

Comércio / Serviço

Até 19

Até 9

Até 5

De 20 a 99

De 10 a 49

De 6 a 19

De 100 a 499

De 50 a 99

20 ou superior

500 ou superior

100 ou superior

20 ou superior

* Lei 9.841/1999 **Referente à receita operacional bruta anual Fonte: Planalto, BNDES e Sebrae. Extraída de Melo (2008). Editada pelo autor.

A partir dos conceitos de Schumpeter e dos resultados trazidos pelos estudos expostos acima, “as teorias econômicas voltam ao empreendedor como ator do desenvolvimento, além disso, a ação empreendedora passou a ser vinculada mais fortemente

às

pequenas

empresas”

(MELO,

2008,

p.77).

Contudo,

o

empreendedorismo não deve ser ligado exclusivamente a esse segmento de mercado, pois, relembrando o pensamento de McClelland, ele se refere a uma forma diferenciada de atuar e de encarar o mundo. O agente empreendedor pode ser aparecer tanto no meio econômico, desde as pequenas até as grandes empresas, quanto no pessoal.

Empreendedor Individual e Intraempreendedor Ao longo das perspectivas abordadas anteriormente, foram mencionados dois tipos de empreendedorismo, os quais serão melhor consolidados a seguir: o individual e o intraempreendedor. O primeiro é aquele que possui uma ideia para um negócio inovador, tendo que captar recursos e pessoas para torná-lo possível, enquanto o segundo é o agente que ocupa uma posição de gerência dentro de uma empresa e é o responsável por trazer inovações, utilizando-se dos meios e time disponíveis para viabilizá-las.

10 Para diferenciá-los, Cordeiro (2011) elenca quatro pontos principais, que serão apresentados no quadro a seguir: Tabela 3 – Diferenças entre Empreendedorismo Individual e Intraempreendedor Empreendedorismo Individual

Intraempreendedorismo

Origem do Recurso

Responsável por trazê-lo (próprio ou de Provém do empregador terceiros)

Estrutura

Maior esforço necessário no início para Utiliza a já existente do empregador criá-la

Ambiente e Flexibilidade

Maior poder de ação sobre o ambiente interno e facilidade para se adequar a mudanças

Dependente das características corporativas e da cultura organizacional do empregador

Equipe

Pode selecionar segundo os requisitos que achar necessários, conferindo-lhe autoridade significativa

Aproveita o recurso humano já existente na organização, podendo afetar a legitimidade

Fonte: elaborado pelo autor a partir de CORDEIRO, 2011, p.56.

Observando essas características, percebe-se que o empreendedor individual possui mais flexibilidade e liberdade nas suas tomadas de decisão, porém também arca com responsabilidades muito maiores, pois tem que disponibilizar tudo o que o negócio necessita para funcionar. Já o intraempreendedor, apesar de contar com toda uma estrutura já pronta para apoiá-lo em seus projetos, encontra-se muito mais engessado pela empresa que o emprega para realizar as suas atividades. À parte das divergências, o autor também aponta os pontos convergência entre ambos os tipos de empreendedorismo, como a capacidade de assumir riscos calculados, trabalhar com pessoas e realizar o acompanhamento das constantes mudanças tecnológicas. Eles são marcados pela capacidade de influenciar, estabelecer e atingir objetivos traçados, conseguindo manter um alto nível de consciência sobre o ambiente no qual atua. Essas características permitem-lhes detectar melhor as oportunidades emergentes, mas a qualidade de maior relevância desses atores “é o foco em se tornar um facilitador de inovações na organização, ou melhor, um catalisador capaz de mobilizar de forma efetiva as mudanças” (CORDEIRO, 2011, p.57).

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Empreendedorismo e a Liderança Além das definições teóricas sobre o tema do empreendedorismo, é imprescindível ressaltar também a importância da liderança para os seus agentes. Pelo fato de o empreendedor ser aquele responsável pela criação de algo novo, compreendendo desde um processo dentro de um sistema até toda uma empresa, ele deve saber convencer as pessoas da validade de suas ideias e motivá-las a adotá-las. Por tal motivo, a liderança tem um papel essencial para o empreendedor. Ela é “um processo social presente em quase [...] todos os grupos de pessoas que buscam alcançar objetivos comuns” (CORDEIRO, 2011, p. 53), sobressaindo-se aquela que, dentre os membros do grupo, estará à frente dos demais, guiando-os e direcionando-os. Dessa forma, o líder é aquele que deve ter, além da capacidade gerencial, uma visão de futuro e que consiga passar isso para o resto de sua equipe, possuindo total ciência de suas capacidades. Também por isso é importante que o empreendedor saiba escolher com cuidado os membros de seu staff, reunindo pessoas que sejam capazes de concretizar sua ideia. O empreendedor que não possui as habilidades características de um líder, como perfil gerencial e carisma, terá muita dificuldade em concretizar seu negócio. Isso porque ele precisa dar credibilidade a sua ideia, para que os outros, tantos os investidores quanto a equipe que ele precisará coordenar, acreditem que é algo que vale a pena ser criado e que trará algum tipo de retorno para eles e/ou para a sociedade. Além disso, a carência de habilidade gerencial no empreendedor leva a problemas no longo prazo. Mesmo que ele consiga criar seu negócio, ao longo do tempo, ocorrerão ruídos de comunicação, dessincronia, desmotivação e outras dificuldades entre os membros da equipe, as quais poderão gerar grandes prejuízos para a empresa, podendo levá-la ao colapso.

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CAPÍTULO II – Contextualização do Brasil na década de 90

Este capítulo visa abordar os elementos contextuais que levaram à expansão do fenômeno empreendedor na década de 90 no Brasil. Para isso, são apresentados um breve histórico do papel de empresário assumido pelo Estado brasileiro entre os anos de 1930 e 1980 e a concomitante posição em que se encontravam as empresas do âmbito privado e seus representantes. Em seguida, aborda-se o período de redemocratização do Brasil e quais foram as atitudes tomadas por esse novo governo que possibilitaram o crescimento da atuação empreendedora, associando-o à mudança no pensamento do empresariado nacional. Desde 1930, quando da posse da presidência por Getúlio Vargas, o Estado iniciou uma campanha de incentivo ao setor empresarial brasileiro, oferecendo diversos tipos de subsídios para que ele conseguisse se desenvolver. Ao longo de 60 anos o governo manteve o papel de empresário, fomentando o avanço da indústria nacional. Nesse trajeto, foram criadas empresas estatais tanto nos setores essenciais para o desenvolvimento do país, como infraestrutura, energia e telecomunicações, como em alguns secundários, tal qual o hoteleiro. Ao final da década de 80, haviam mais de 200 empresas públicas, dentre as criadas pelo Estado e as que nasceram privadas mas acabaram por ser estatizadas (ALMEIDA; SILVA, 1996). Tal quadro só começou a mudar com a transição do Regime Militar para a Nova República, quando o país se encontrava numa posição extremamente instável. Isso se devia tanto pela migração do sistema político quanto pelas enormes dívidas públicas que cresciam cada vez mais e limitavam as opções de ação do governo. É nesse contexto que ocorre o processo de desestatização das empresas públicas brasileiras, que foi iniciado pelos presidentes Fernando Collor e Itamar Franco e teve seu ápice durante a posse de Fernando Henrique Cardoso (FHC). O seu objetivo era reduzir o papel do Estado na economia, aumentar a eficiência industrial do país e saldar boa parte das dívidas públicas do Brasil.

13

Breve histórico das estatais brasileiras: décadas de 1930 a 1980 Com base no levantamento bibliográfico realizado por Fernando Galvão Almeida e Salomão Quadros da Silva (1996), ao longo do século XX, o Estado brasileiro adquiriu uma característica empresária que acabou por abarcar “segmentos tão distintos quanto os serviços industriais e de utilidade pública, mineração, siderurgia e petróleo, para não falar de incursões acidentais nos ramos têxtil ou hoteleiro” (ALMEIDA; SILVA, 1996, p.27). Os autores sinalizam que até o final dos anos 30 a economia brasileira ainda era fortemente apoiada na agricultura. Para auxiliar no desenvolvimento potencial dessa indústria, o Estado exercia tanto o papel de empresário, fornecendo a infraestrutura necessária para o escoamento de seus produtos, como ferrovias e logística portuária, quanto de regulador, modulando os preços para conferir-lhes maior competitividade. Outro ponto pertinente é evidenciado novamente por Melo (2008), expressando a noção de que o movimento empresário ainda era tido como irrelevante tanto do ponto de vista econômico quanto do político até 1930. Não havia muita variedade dos seus ramos de atuação e grande parte das empresas ainda eram geridas em âmbito familiar, sem visar uma gestão pela eficiência. Foi somente ao longo dessa década que a elite empresarial começou a ganhar um papel de destaque ascendente, ainda que pequeno, no âmbito nacional. “Entre 1930 e 1937, em São Paulo tem-se que a proporção de pequenas empresas decresceu de 18% para 11% e a porcentagem de grandes empresas aumentou de 55% para 63%” (MELO, 2008, p. 16), caracterizando nesse momento a formação de uma pequena elite de empresários de maior porte. Nos anos 40, retomando a perspectiva do Estado empreendedor, há a entrada do setor público em dois novos ramos, cada um possuindo sua razão específica. O primeiro foi no campo da siderurgia, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) fundada através de negociações realizadas entre o governo brasileiro e os Estados Unidos. Já o segundo na área da mineração, com a criação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), sendo ela fruto do nacionalismo crescente no país em reação à grande parcela de investimento de capitais estrangeiros nesse ramo (ALMEIDA; SILVA, 1996).

14 Ainda segundo os autores, na década seguinte, com a justificativa de abastecer a insuficiente oferta de fundos fornecidos a longo prazo pelo setor financeiro privado, cria-se o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE)1, que, ironicamente ou não, vem a ter o Estado como seu cliente majoritário devido ao seu amplo papel empresarial. Também nos anos 50, há a criação da Petrobras, em resposta à reivindicação política nacionalista da campanha “O Petróleo é Nosso”, estabelecendo o monopólio da atividade extrativista desse bem pelo Estado. Ainda dentro do ramo da eletricidade, como havia baixa tolerância ao capital estrangeiro e inexistia interesse privado nacional em investir nesse setor, em 1955, foi inaugurada a primeira usina hidrelétrica de propriedade estatal, elevando em 20% a capacidade geradora existente no país. Pouco tempo depois, o Estado passou a absorver outras empresas de eletricidade, de propriedade estrangeira, até assumir a quase totalidade do controle elétrico nacional. Para que o órgão estatal pudesse coordenar essa absorção de empresas e a posterior expansão do setor, foi criada a Eletrobrás. Nessa época já havia tomado forma o pensamento de que o desenvolvimento econômico somente seria alcançado por meio de uma “estratégia de industrialização acelerada baseada na produção em larga escala e tecnologia moderna” (MELO, 2008, p. 18). Isso ressaltava a importância das grandes empresas e indústrias para o país, que eram aquelas que detinham essa capacidade produtiva, mas ainda não havia

interesse

de

estudo

sobre

o

impacto

dos

pequenos

e

médios

empreendimentos na economia, deixando-os à sombra dos primeiros. Na dependência destas grandes empresas ficavam as pequenas empresas. Consideradas como miniaturas das grandes, ou apresentariam a tendência geral de se tornarem grandes também, ou, do contrário, tenderiam ao fracasso. (MELO, 2008, p.18)

Na década de 60, “o regime militar, que ascendeu ao poder em 1964, priorizou o combate à inflação e em menos de três anos reduziu a taxa de 100% para 35% ao ano.” (ALMEIDA; SILVA, 1996, p.29). Foi nesse contexto que se iniciou o período chamado de “milagre econômico”, que se estendeu entre 1968 e 1973,

1

Segundo Almeida e Silva (1996), só na década de 80 a entidade anexou o “S” à sua sigla,

simbolizando suas novas atribuições na esfera social.

15 devido às altas taxas de desenvolvimento do país, com o crescimento do PIB alcançando a marca de 14% a.a. (GIAMBIAGI et. al., 2011). Com essas condições, a máquina estatal encontrava-se preparada para uma nova expansão, voltando sua atenção agora para as telecomunicações. A exemplo do ocorrido no setor elétrico, o Estado criou, em 1965, a Empresa Brasileira de Telecomunicações, a Embratel, com a finalidade de ser o órgão federal regulador do setor, responsável por fixar tarifas e julgar pedidos de concessão a terceiros. Em seguida, a entidade começou a absorver empresas do ramo, ao mesmo tempo que negava a renovação de concessões a empresas estrangeiras anteriormente instaladas no país, resultando no domínio quase completo do setor pelo Estado em curto período. Assim, para que ele conseguisse coordenar todo esse aparato, em 1972, foi criada a holding Telebrás, responsável por desempenhar o papel gerenciador. Também nos anos 70, Teve início o que se pode chamar de estatização de segunda geração. O número de empresas estatais aumentou em mais de 200, como resultado, na maioria dos casos, da expansão e diversificação das empresas holding, nascidas nas duas décadas anteriores. [...] A estatização dos anos 70 trouxe também novos nomes à cena, como o da Embraer, na produção de aviões, e da Nuclebrás, holding de um setor de energia nuclear [...]. (ALMEIDA; SILVA, 1996, p.30)

Durante essa década, nos anos de 1973 e 1979, ocorreram os dois choques do petróleo, os quais afetaram profundamente a economia brasileira, já que o país importava mais de 80% de tudo o que utilizava dessa matriz energética. Como o Brasil ainda era completamente dependente do petróleo e não podia prescindir de sua compra, esse foi um período de grande contração de dívidas externas e de forte desequilíbrio na Balança de Pagamentos. Foi também durante os anos de 1970 que foram produzidos novos estudos sobre as pequenas e médias empresas, porém agora sob uma nova vertente. Passou a ser validada a ideia de que esses negócios detinham algum impacto sob a economia, mas eram considerados como parte da informalidade. Assumia-se que atuar nesse mercado não seria uma escolha, mas sim uma questão de necessidade, como sendo uma opção ao desemprego. O pressuposto era o de que quanto mais o Brasil se industrializasse menos seriam necessárias as incursões nessas atividades, pois haveriam bons empregos para todos nesse sistema de grandes indústrias e empresas, motivo pelo qual estas eram o foco de atuação do governo (MELO, 2008).

16 Era uma visão que vinculava setor informal e pobreza, pequenos negócios eram estratégias de sobrevivência, uma alternativa ao desemprego, situação contrária à lógica da economia capitalista de acumulação de capital.[...]. [...]. Estas atividades eram consideradas transicionais para o mundo do trabalho assalariado, atividades temporárias realizadas por migrantes do meio rural para a cidade ou imigrantes deslocados de seus países de origem. Enfim, atividades realizadas por falta de emprego assalariado, e não por opção do indivíduo. (MELO, 2008, p.19)

Como apontam Almeida e Silva (1996), foi na década de 80 que houve o esgotamento do processo de expansão de empresas estatais. Começou a haver a busca por uma maior disciplina fiscal, levando ao acompanhamento atencioso dos custos das empresas. Assim, com as estatais “desprovidas de recursos próprios por força da contenção nem sempre criteriosa das tarifas”, e com a fuga de investimentos externos, houve uma desarticulação da infraestrutura física do país, ameaçando o seu crescimento econômico futuro (ALMEIDA; SILVA, 1996, p.30 e 31). Por mais que não tenha havido uma política consistente de privatização nesse período, os governos brasileiros começaram a implementar programas que visavam esse objetivo, de forma desarticulada da política macroeconômica interna. Isso resultou na venda de empresas de pequeno e médio portes que operavam em mercados competitivos (CARVALHO, 2001, p.25), as quais eram as únicas que o governo tinha condições de privatizar na época. Esse processo é descrito pelo economista Marco A. de S. Carvalho, ao afirmar que a privatização dos anos 80: [...] foi marcada pelas "reprivatizações" de empresas que tinham pertencido ao setor privado e posteriormente incorporadas à carteira do BNDES. Entre 1981 e 1989, foram privatizadas empresas estatais que haviam sido absorvidas pelo Estado, em geral por apresentarem elevado endividamento junto ao setor público. Essas vendas contabilizaram um total de trinta e oito empresas de pequeno e médio porte, gerando uma receita de US$ 726 milhões à época. (CARVALHO, 2001, p.26)

É com esse esgotamento que se começa a olhar com outros olhos para o chamado mercado informal. Com um grande contingente de trabalhadores à margem do mercado de trabalho, é “nesta década que as pequenas empresas e novas categorias de atividade, além da indústria, como o comércio e os serviços, passam a ‘entrar em pauta’”. Eles perdem o seu caráter de transitório e passam a constituir uma prática por si só, “que guarda grandes capacidades competitivas, de

17 alocação de mão de obra, [e] que apresenta, portanto, vantagens em comparação ao mercado de trabalho rigidamente regulado pelo Estado.” (MELO, 2008, p.20).

Início da privatização: governos Collor, Franco e FHC Ao longo de todas essas décadas de desenvolvimento sustentado pelo Estado, o país acabou contraindo uma enorme dívida pública, chegando a corresponder a mais de 55% do PIB da época. Com o agravamento constante dessa situação e com a inflação fora de controle – alcançando, no período entre 1985 e 1989, uma média de 471,7% ao ano –, o governo, pós transição, começou a se valer de diversas ferramentas para tentar estabilizar sua economia (GIAMBIAGI et. al., 2011). Em meio a esses acontecimentos, através de uma conjunção dos fatores supracitados, começou a haver uma mudança no direcionamento da política econômica brasileira. Com as crises econômica e fiscal, o Estado não poderia mais sustentar o processo de expansão das suas empresas estatais, os quais já vinham apresentando deterioração do seu desempenho nos últimos anos. Essa era devida à falta de fiscalização de seus gastos correntes e da forte influência exercida pelos políticos para a ocupação dos cargos internos (PINHEIRO; GIAMBIAGI, 2000, p.161). Em 1990, com a eleição de Collor como o primeiro presidente votado pela população da Nova República, foi lançado o Plano Nacional de Desestatização (PND). Esse programa atrelou o processo de privatização à política econômica geral, que agora recebia um grande apoio da sociedade e visava a estabilização econômica do país. Com ele iniciaram-se as alienações de empresas mais complexas e de grandes holdings setoriais (CARVALHO, 2001, p.26). Nesse contexto, começou a haver uma mudança na orientação da atuação do Estado. Ele estava iniciando sua redefinição de empresário para regulador e fiscalizador, deixando de “atuar diretamente em áreas como indústria, infraestrutura e serviços, passando à iniciativa privada a responsabilidade pelos elevados investimentos requeridos” (CARVALHO, 2001, p.27). Para que o processo de privatização, que agora lidaria com grandes volumes de capitais, ocorresse de forma eficiente, foi criado o Fundo Nacional de Desestatização, no qual seriam depositadas as ações das empresas privatizáveis.

18 Para não inflar ainda mais a máquina estatal, o fundo ficaria sob a gerência do BNDES, que, “além de desempenhar o papel de agente executor das privatizações, passou a gerir e administrar o FND.” (CARVALHO, 2001, p.27). O Plano, no entanto, não obteve o êxito inicial esperado, pois as estatais ainda não estavam preparadas para serem privatizadas. Caso as grandes controladoras setoriais fossem vendidas em blocos para poucos compradores, problemas de ineficiência econômica, como concentração de poder de mercado nas mãos do setor privado, poderiam vir a ocorrer. A solução encontrada para isso foi fragmentar os grupos estatais e alienar as empresas controladoras separadamente (CARVALHO, 2001). Esse processo ocorreu de forma lenta e gradual, fazendo com que a primeira venda, no âmbito do PND, ocorresse apenas no final de 1991, com a privatização da Usiminas, dando início à real implementação do programa. Nos três anos seguintes, porém, foram comercializadas grandes estatais, chegando a ser vendidas “33 empresas durante os governos Collor e Franco (19901994), com receitas totais de U$8,6 bilhões e a transferência para o setor privado de U$3,3 bilhões em dívidas” (PINHEIRO; GIAMBIAGI, 2000, p. 164). Entre 1991 e 1994, diversas empresas foram alienadas, muitas das quais deficitárias. As empresas privatizadas concentravam-se em setores industriais, tais como siderurgia, petroquímica e fertilizantes. Essa fase foi mareada pela utilização, em larga escala, das moedas de privatização como forma de pagamento, embora a partir de 1994 houvesse maior ênfase quanto ao emprego de moeda corrente nos processos de desestatização. (CARVALHO, 2001, p.28)

O processo de desestatização ganhou ainda mais força durante o primeiro governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), iniciado em janeiro de 1994. Em 1995 foi aprovada a Lei das Concessões, que estabelecia as bases para que o Estado pudesse conceder direitos de exploração de serviços públicos a terceiros, e foram realizadas as vendas de empresas dos setores de infraestrutura e serviços públicos, destacando-se os setores de telecomunicações, energia elétrica e transportes (CARVALHO, 2001). Segundo Carvalho (2001), a privatização continuou desenvolvendo-se fortemente no ano seguinte, com a entrada dos estados no processo, por meio dos Programas Estaduais de Desestatização, mas foi em 1997 que ela passou a apresentar maiores impactos econômicos e fiscais. Nesse ano ocorreu a alienação da Companhia Vale do Rio Doce, que possuía grande importância estratégica para o

19 Brasil e era uma das maiores mineradoras do mundo, arrecadando R$3,2 bilhões em moeda corrente e destinando-se metade dessa quantia para redução das dívidas públicas. Já em 1998, o fator de maior relevância foi a privatização do Sistema Telebrás. O processo foi iniciado através da entrada do setor privado no meio de telefonia móvel, que antes era dominado pelas estatais. Em seguida, “as empresas controladas da holding Telebrás foram desmembradas, reagrupadas e privatizadas” (CARVALHO, 2001, p.28 e 29), o que trouxe um total de R$27,2 bilhões, sendo que cerca de R$12,2 bilhões desse montante também foram destinados ao pagamento das dívidas públicas. Ainda segundo Carvalho (2001), a adoção dessas práticas de desestatização resultou em grandes mudanças para a situação orçamentária brasileira. O aumento do nível de atratividade das estatais para o setor privado, dado o seu potencial de crescimento, aliado à liberação da participação dos investidores externos no processo, acarretaram em um grande volume de novos recursos para o país, possibilitando ao governo brasileiro a promoção de uma ampla amortização de sua dívida pública. Na tabela abaixo são expostos o número de empresas privatizadas, a receita gerada para o Estado e o montante de dívidas repassadas para o setor privado por meio das privatizações e o saldo de empregos formais criados e destruídos no processo de reestruturação das ex-estatais: Tabela 4 – Resultados do Processo de Privatização das Empresas Estatais: 1979 a 1999

Período

Empresas privatizadas

Receita em milhões de dólares

Transferências de dívida pública em milhões de dólares

Empregos formais envolvidos*

1979-84

20

274

16

-146.980

1985-89

18

549

620

-82.125

Década de 1980

38

823

636

-229.105

1990-92

44

15.128

2.664

-198.136

1993-94

35

17.320

3.752

-47.732

20 1995-99

84

42.008

11.660

-300.120

Década de 1990

163

74.456

18.076

-545.888

Total

201

75.279

18.712

-774.993

*Refere-se ao saldo líquido de empregos destruídos e criados no setor estatal, resultante do efeito do conjunto de empresas privatizadas, fechadas e incorporadas. Fonte: SEST, BNDES e TEM. Elaboração POCHMANN. Extraído de ALMEIDA (2009). Editado pelo autor.

Analisando-se esses dados, pode-se concluir que, apesar de ter conseguido saldar e transferir grandes parcelas da dívida pública, esse amplo processo de desestatização gerou enormes mudanças na estrutura interna da maioria das grandes empresas ao longo dos anos, deixando muitas pessoas à margem do mercado de trabalho. Assim, retomando o que foi anteriormente exposto por Melo (2008), vários desses profissionais começaram a migrar para o setor de comércio e serviços, fomentando a criação de pequenas e médias empresas. Dessa forma, com o aumento da relevância desse tipo de atividade, o Estado começou a gerar cada vez mais ferramentas que incentivassem a iniciativa privada. Agora, ela não era apenas uma forma de combate ao desemprego, mas também uma das principais vertentes para o desenvolvimento econômico nacional. kkddddddss

21

CAPÍTULO III - Análise da evolução do empreendedorismo no Brasil no século XXI Neste capítulo é feita a análise do desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil, tomando por base a sua ligação com as micro e pequenas empresas, anteriormente evidenciada no Capítulo I. Aqui encontram-se as principais informações que servirão para responder à questão chave que originou esse estudo: como se deu a disseminação e o crescimento da atividade empreendedora no Brasil a partir do ano 2000. Na primeira seção é feita a análise temporal do empreendedorismo no Brasil entre os anos de 2002 e 2013, tomando-se por base o relatório mais recente do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), entidade internacional que atualmente gera dados sobre o movimento empreendedor de cerca de 100 países. Serão apresentados os dados que considera-se de maior relevância para entender o desenvolvimento desse vetor da economia, como a proporção de empreendedores que surgem e estabelecem-se no mercado (GEM, 2014). Em seguida, explica-se o que são startups, incubadoras, aceleradoras e investidores anjos, sinalizando qual o papel de cada um no incentivo ao empreendedorismo. Também expõe-se como essas atividades se fazem presentes na realidade atual do mercado brasileiro e como elas evoluíram desde seu surgimento no país. A última seção deste capítulo dedica-se a elucidar, de maneira muito breve, a importância que o Sebrae possui para todo o movimento empreendedor nacional e o porquê de esse tema não ter sido melhor explorado neste estudo. Por ser uma entidade de tamanha significância para o empreendedorismo brasileiro, achou-se necessário que houvesse um espaço devotado a esse fim.

Análise do desenvolvimento empreendedor brasileiro: de 2002 a 2013 Com o promissor crescimento das práticas empreendedoras, surge, em 2000, uma instituição internacional chamada Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que passa a realizar estudos sobre o desenvolvimento da atividade no Brasil. O GEM foi criado em 1999 com o objetivo principal de reunir importantes informações produzidas pela academia e centros de pesquisa internacionais “para investigar o

22 intrincado e complexo relacionamento entre empreendedorismo e crescimento econômico” (GEM, 2000, p.1). Quando realizou o primeiro estudo, a sua pesquisa abrangia apenas 10 países, enquanto hoje esse número chega a 100 participantes. A fim de iniciar a análise histórica a partir dos dados disponibilizados pelo GEM, precisa-se primeiro explicar quatro conceitos que a instituição utiliza para realizar suas pesquisas. Dois deles designam-se a especificar o tipo de empreendedorismo exercido pela população de um país. O primeiro é o de necessidade, que ocorre quando opta-se por atuar na iniciativa privada como alternativa ao desemprego. O outro é o de oportunidade, registrado nas ocasiões em que escolhe-se abrir um novo negócio mesmo possuindo emprego ou outras fontes de renda disponíveis para se sustentar. Este demonstra a real força da vitalidade empreendedora no país, no qual mesmo havendo chance de um trabalho assalariado, a população continua optando por ter seu próprio negócio (GEM, 2013). Os outros dois conceitos criados pelo GEM e que serão utilizados neste estudo têm o propósito de diferenciar os tipos de empreendedores. O primeiro grupo são os iniciais, que compreende aqueles que estão envolvidos na abertura do negócio próprio ou que já o abriram, mas que ainda não completou 42 meses de mercado. Já o segundo grupo, dos empreendedores estabelecidos, trata-se dos empresários que possuem uma empresa estabelecida há mais de 42 meses. Por fim, deve-se explicar que, para realizar o cálculo dos dados, a instituição utiliza-se do total da população brasileira entre as idades de 18 e 64 anos (GEM, 2013). Definidos esses conceitos, realiza-se a primeira análise de dados fornecidos pela GEM: Gráfico 1: Evolução da atividade empreendedora segundo estágio do empreendimento – 2002 a 2013

Fonte: GEM Brasil 2013. Adaptado pelo autor.

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Observando-se os dados do gráfico anterior pode-se concluir que vem havendo um aumento da atividade empreendedora no Brasil ao longo dos últimos 11 anos. Mesmo com o decaimento desse índice em 2011, causado pelos reflexos da crise de 2008 nos anos seguintes, a população continuou apostando na abertura de novos negócios como sendo uma boa decisão, iniciando sua recuperação já em 2012 e retornando para próximo do nível de 2010, quando foi registrado o ápice do desenvolvimento dessa atividade no país. Além disso, é preciso ressaltar que cada vez mais empreendedores entram para o grupo com negócios estabelecidos. Mesmo que tenha havido um espaço de diferença entre os dois índices no início da década passada, agora ambos têm seguido um desenvolvimento similar. Isso demonstra que um número crescente dos novos negócios que surgem todo ano vem conseguindo firmar seu lugar no mercado e escapar da falência. Somando-se os empreendedores iniciais aos já estabelecidos, temos que, em 2013, mais de 30% da população brasileira entre 18 e 64 anos encontrava-se concentrada nessa atividade. Isso comprova o desenvolvimento do espírito empreendedor no Brasil, ainda mais quando associados aos seguintes dados:

Gráfico 2: Razão da atividade empreendedora de oportunidade pela de necessidade: 2002 a 2013

Fonte: GEM Brasil 2013. Adaptado pelo autor.

O gráfico sinaliza que vem havendo um crescimento no número de pessoas que decide empreender não porque precisa, mas porque quer e tem condições para isso. Em outras palavras, uma parcela cada vez maior da sociedade nacional vem considerando a abertura do seu próprio negócio como uma alternativa mais interessante do que se tornar mão de obra assalariada, comprovando a vitalidade dessa atividade no Brasil.

24 Após ser exposto como o empreendedorismo tem sido difundido pelo país ao longo das últimas duas décadas, serão evidenciados os fatores que vêm contribuindo ativamente para que isso aconteça. Inicia-se com o advento das startups, que servirá de base para o desenvolvimento dos demais.

Conceituação de startups Apesar de já não ser um termo novo no ambiente internacional, foi apenas na década de 90, com a explosão da internet e de um novo segmento de mercado com ela, que o termo “startup” começou a ser utilizado no Brasil. Essa novidade era o mercado ponto.com, que trouxe muitas novas oportunidades de negócios e que deu novo impulso aos empreendedores (SEBRAE, 2011). A startup possui muitas definições na bibliografia, mas há pontos convergentes em grande parte delas: são empresas ainda em fase de constituição ou recém criadas que têm por objetivo implantar uma ideia inovadora, tanto num segmento já explorado ou criando um completamente novo, de modo a possuírem baixos custos iniciais e sendo altamente escaláveis, ou seja, elas possuem a característica essencial de serem facilmente reproduzidas em modelos maiores. Disso, pode-se concluir que, quando essas empresas são bem sucedidas, elas trazem grande retorno financeiro em um curto espaço de tempo, o que resulta numa grande atratividade mercadológica para elas (SEBRAE, 2011). O aparecimento desse termo associa-se com o fenômeno da internet porque, por mais que não sejam todas, a grande maioria dessas empresas opera no meio virtual. Isso se deve ao motivo de que, por se tratarem de ideias inovadoras em busca do modelo de negócio mais adequado para implementá-las, todo investimento feito é considerado de risco até que ele seja encontrado e comprovado. Assim, é muito “mais barato criar uma empresa de software do que uma indústria” (SEBRAE MG, 2011, p.2). Por mais que nos últimos anos tenha havido uma empolgação pelo tema das startups e que isso venha ajudando no desenvolvimento do empreendedorismo e da área de inovações brasileiras, não se deve ater-se apenas à quantidade desse tipo de negócio presente no mercado para determinar se ele está crescendo ou não. Da mesma forma não se deve pensar que por haver poucas startups e algumas grandes

25 empresas que dominam o mercado, tal fato cause redução na taxa de desenvolvimento de uma economia por não trazerem inovações. Uma variável não precisa necessariamente prejudicar a outra, mas devem sim exercer um papel de complementariedade. O principal objetivo das startups é justamente testar novas ideias que ainda não foram inseridas no mercado e que, portanto, não possuem um grau de certeza razoável se serão bem-sucedidas. Consequentemente, muitas das empresas criadas com esse objetivo tenderão à falência, restando apenas aquelas que se mostrarem vigorosas o bastante para vingarem no mercado. Seria como aplicar o conceito de seleção natural, pensado pelo cientista Charles Darwin (2004), ao meio mercadológico. Enquanto essas empresas surgem e desaparecem, é necessário que haja outras que já se firmaram no mercado e que garantam empregos e serviços estáveis para a população. Além disso, estas últimas também podem ser responsáveis por gerarem inovações, assumindo que possuem estabilidade e poder financeiro para arriscarem novas fórmulas. Isso fica evidenciado num trecho do artigo produzido por Daniel Isenberg e Fernando Fabre (2014) para a revista Harvard Business Review, posteriormente traduzido por Marcel Buono: Essas companhias em crescimento, que nós chamamos de “scale-ups” para diferenciá-las das startups, representam exatamente o tipo de empreendedorismo a longo prazo que aprimora sociedades, empregos, qualidade de vida e inovações. Companhias “scale-ups”, sejam elas antigas ou novas, que são conduzidas por líderes direcionados ao crescimento, podem conseguir uma nova trajetória de crescimento em qualquer momento de suas vidas. [...] relativamente, empresas de alto-crescimento muitas vezes têm pelo menos 16 anos de idade e são desproporcionalmente fortes condutoras de empregos, crescimento, valor e sustentabilidade. Novas empresas são mais fáceis de contabilizar, mas sozinhas não possuem o impacto positivo em economias como o que empresas em crescimento possuem (ENDEAVOR, 2014).

Conceituação de Incubadoras, Aceleradoras e Investidores Anjos Aqui são apresentados e comparados alguns dos mecanismos criados para auxiliar novos empreendedores e startups a conseguirem atingir as condições mínimas necessárias para se lançarem competitivamente no mercado. São eles as incubadoras, as aceleradoras e os chamados investidores anjos.

26 Incubadoras As

primeiras

possuem

esse

nome

pois

garantem

infraestrutura

e

conhecimento técnico para que as novas empresas possam se originar e desenvolver, até ganharem musculatura suficiente para conseguirem atuar no mercado por conta própria. Grande parte das incubadoras é sem fim lucrativos e encontra-se atrelada a instituições de ensino ou pesquisa e, por esse motivo, visa que seus negócios incubados gerem produtos e conhecimentos orientados segundo diretivas governamentais ou regionais, para que colaborem ou para o avanço das pesquisas dessa instituição ou para fomentar uma indústria local. (SEBRAE, 2014) O procedimento comum para que a incubadora defina qual será o negócio escolhido para ser auxiliado por ela é por meio de um processo de seleção formal. A partir dele, elegem-se aqueles que demonstrarem ter uma ideia inovadora e sólida para ser desenvolvida e que tenham seus ideais indo ao encontro com os da instituição. Em seguida, esses negócios passam a receber assistência das incubadoras por meio de “serviços de consultoria, assessoria, e qualificação para ampliar a [sua] probabilidade de sucesso.” (IFRN, 2014). Segundo Dornelas (2002), “até o início dos anos 1990, o número de incubadoras brasileiras era de apenas 7; em 1995 já havia 27 incubadoras no país” (p.18) e, explorando os dados de um estudo de 2011, realizado pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), [...] o Brasil tem 384 incubadoras em operação, que abrigam 2.640 empresas, gerando 16.394 postos de trabalho. Essas incubadoras também já graduaram 2.509 empreendimentos, que hoje faturam R$ 4,1 bilhões e empregam 29.205 pessoas. O mesmo estudo revelou outro dado importante: 98% das empresas incubadas inovam, sendo que 28% com foco no âmbito local, 55% no nacional e 15% no mundial (ANPROTEC, 2014).

Os dados expostos acima demonstram que esse tipo de entidade gerou retornos muito positivos para a sociedade brasileira. Por esse motivo, cada vez mais instituições vêm sentindo interesse em abrigar incubadoras em suas dependências e acabam promovendo o espírito empreendedor em seus pesquisadores e alunos de pensarem em ideias diferentes e inovadoras e tentarem fazê-las dar certo.

27 Aceleradoras Com relação às aceleradoras, há ainda pouca literatura sobre elas, por serem um tema novo, mas sabe-se que são uma variação do programa de incubadoras (Miller; Bound, 2011). Ambas possuem como uma de suas metas ajudar startups a se desenvolverem, porém as aceleradoras se distinguem por serem empresas privadas e, por esse motivo, possuírem também um interesse em conseguir retorno financeiro para si próprias nesse processo. Elas são mais diretamente orientadas para as startups por causa de seu potencial de crescimento rápido e escalável, que bate com o objetivo da aceleradora de obter lucro a curto prazo. Então, quando uma empresa com esse perfil é selecionada para ser acelerada, o seu capital humano passa a receber treinamentos de todas as áreas que deverá desenvolver para conseguir garantir seu lugar no mercado, podendo receber até mesmo um aporte monetário da aceleradora para conseguir concretizar o que precisa. Outro elemento valiosíssimo para qualquer negócio, principalmente aquele que está nascendo, e que a startup recebe ao ser aceita, é o networking da empresa que irá acelerá-la. Essa rede de contatos é essencial, pois a partir dela pode-se encontrar desde fornecedores a parceiros e clientes (ACELERATECH, 2014). O retorno em forma de lucro para as aceleradoras vem mais tardiamente, quando as suas aceleradas já se encontram mais desenvolvidas e independentes. Isso porque, ao se fechar o contrato com uma aceleradora, a startup aceita que ela seja sua acionária, tendo direito à participação nos lucros. Segue abaixo uma relação de empresas aceleradoras, com seus respectivos perfis de startups desejadas, expectativa de investimento e participação acionária pretendida, elaborada pela organização Startup Brasil: Tabela 5 – Dados do Programa Nacional de Aceleração de Startups Aceleradoras

Cidades de Atuação

Perfil de Empresas Aceleradas

Participação Tempo de Investimento por Startup Aceleração Acionária

28

21212

Rio de Janeiro - RJ e Nova York - EUA•

Acelera Cimatec

Salvador BA

Acelera MGTI

Belo Horizonte MG

Aceleratech

São Paulo SP

Baita Campinas Aceleradora SP

C.E.S.A.R Labs

Recife - PE

Startups com equipe formada e produto 3 a 12 lançado, tanto para meses projetos B2C2 quanto + Suporte B2B3, preferencialmente pós com base de usuários aceleração ativos. Negócios nascentes baseados em Microeletrônica, Sistemas 4 a 8 meses Embarcados ou Software e que atendam a um dos temas prioritários definidos. Startups que já estejam em operação ou bem próximo disso. 6 meses Preferência para startups B2B, mas não restringindo a esse grupo. Empresas com pelo menos um protótipo, de preferência com algum faturamento, atuantes 4 meses em grandes mercados. São aceitos modelos B2B e B2C. Aceleramos tecnologias com propósito em: TI, Telecom, Internet of things, M2M, 6 meses Automação (HW e SW), Energia, Ciências da Vida, Segurança Startups de TIC focadas em B2B (business to business) que estejam com um mínimo produto 6 meses viável ou produto lançado com geração de receita.

R$20 mil a R$50 mil

10% a 20%

R$20 mil a RS70 mil

5% a 15%

R$ 25 mil a R$ 150 mil

4%

R$ 20 mil a RS 50 mil

10% a 15%

R$20 mil a R$100 mil

8% a 18%

R$20 mil a R$40 mil

10% a 25%

*para empresas com potencial de internacionalização Fonte: Startup Brasil.

Segundo a organização, as aceleradoras acima elencadas são algumas das 12 escolhidas para participar da edição de 2014 do Programa Nacional de Aceleração de Startups, que contava com apenas nove no ano passado, quando foi

2

Business to Consumer (B2C): termo que designa negócios que têm como seu público-alvo consumidores físicos 3 Business to Business (B2B): termo que designa negócios que têm como seu público-alvo outros negócios

29 lançado. Ele “é uma iniciativa do governo federal, criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com aceleradoras, para apoiar as empresas nascentes de base tecnológica, as startups, e tem o Softex como gestor operacional.” (STARTUP BRASIL, 2014). A edição de 2013 foi considerada um grande sucesso, pois mais de 1600 empresas se inscreveram para serem aceleradas pelo programa e 87 delas foram selecionadas. Nas negociações, as startups cederam, em média, 10,4% das ações de suas empresas para as aceleradoras e, com o desenrolar do projeto, “os investimentos financeiros das aceleradoras e do Governo totalizaram R$ 19,6 milhões mais R$ 15,4 milhões em infraestrutura, workshops, mentorias, parcerias, bolsas etc.” (STARTUPI, 2014) Com o grande êxito alcançado pelo programa logo em sua primeira edição, é natural que ele tenha se ampliado neste ano. Atualmente são admitidas aceleradoras de outras áreas além da região Sudeste, a qual tinha ficado restrita em 2013, facilitando a participação de startups de outras partes do país.

Investidores Anjos O último impulsionador do empreendedorismo abordado nesta seção é o investidor anjo. Esse ator assemelha-se às aceleradoras por injetar dinheiro em startups em troca de participação acionária em suas empresas, esperando retorno em curto ou médio prazo. O que o diferencia, porém, é o fato de ser uma pessoa física e prestar assistência utilizando-se de seus conhecimentos, geralmente focados em assuntos administrativos e de gestão. Geralmente os anjos são “indivíduos com alto patrimônio que investem em empresas nos seus estágios iniciais de crescimento” (CALVOSA; FREITAS, 2008). O tipo de startup desejada e a forma que o auxílio é prestado varia de acordo com o investidor, partindo-se daquele que é participativo e tem conhecimento sobre o mercado no qual a empresa deseja se inserir até o que apenas repassa o dinheiro e não se envolve com quaisquer outras questões. Em uma pesquisa realizada pelo NEP GÊNESIS PUC-RIO, foi capturado o perfil desses indivíduos no Brasil, exibindo informações demográficas e seus parâmetros econômico-financeiros, retratados na tabela a seguir:

30 Tabela 6 – Perfil Brasileiro de Investidores Anjos Dados Demográficos Varia entre 22 e 62 anos, sendo a idade média de 43 anos e a faixa etária predominante entre 30 e 50 anos

Idade Sexo

94% é do sexo masculino

46% pós-graduados, 43% graduados, 8% sem 3º grau ou graduandos e apenas 3% doutores Parâmetros Econômico-Financeiros dos Investidores Montantes médios que estariam dispostos a 73% preferem investir até R$ 100 mil investir em cada oportunidade Percentagem do Dos entrevistados que já haviam investido em empresas Patrimônio Investido emergentes, 57% o fizeram utilizando até 6% de seus ativos Número de investimentos Vinte e seis anjos (81%) realizaram 61 investimentos em que os entrevistados empresas emergentes nos 12 meses anteriores à pesquisa, pretendem realizar tendo a maioria investido somente em uma empresa anualmente Taxa média anual desejada de retorno do 50% preferem na faixa de 12% a 21,5% investimento Tempo esperado de retorno do investimento 37% preferem, no máximo, entre 4 e 6 anos (período de payback) Participação acionária 95% preferem ter entre 12% e 33% desejada 1ª - possibilidade de obter maior ganho ou rentabilidade relativamente a outros tipos de investimentos; 2ª - confiança no Motivação Para Investir empreendedor ou na equipe gerencial; e 3ª - satisfação pessoal do investidor Educação

Fonte: BOTELHO et al., 2006. Adaptado pelo autor.

De acordo com Botelho et al.(2006), os dados dessa pesquisa foram coletados ao longo do segundo semestre de 2001. Desde então o número de anjos, chamados de investidores informais pelo GEM, quase triplicou no Brasil, passando de 0,9% da população adulta total entre 18 e 64 anos, em 2001, para 2,4% em 2013. (GEM, 2001; GEM 2013). Por mais que tenha havido um aumento significativo, esse montante ainda não é motivo para comemoração, pois o país se encontra na 23ª posição dentre os 28 países que tiveram essa análise feita pela instituição. É necessário que haja um aumento dessa prática, pois muitas vezes negócios que poderiam se tornar rentáveis não conseguem chegar à fase de maturação necessária para firmarem seu lugar no mercado por falta de orientação e, tão importante quanto, de recursos. Por mais que existam incubadoras e aceleradoras,

31 muitas vezes esses negócios não se encaixam com o tipo de empresa buscada por elas, ficando, então, sem qualquer tipo apoio, que poderia ser oferecido por anjos.

Importância do Sebrae para o empreendedorismo nacional

Nascido em 1972 e tendo adotado primeiramente o nome de Centro Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (CEBRAE), o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) surgiu a partir de apelos ao governo federal do atual BNDES. A instituição defendia que deveria ser criado um órgão de assistência aos negócios de pequeno e médio portes, que estavam começando seu processo de ascendência no mercado nacional (MELO, 2008). Atualmente, ele é formado pela sua unidade central, em Brasília, e possui 27 unidades

estaduais,

reunindo

613

pontos

de

atendimento

ao

pequeno

empreendedor. Ele é responsável pela geração de mais de 6500 empregos e ainda conta com um time de quase 10 mil consultores credenciados e 2 mil parcerias institucionais para ajudar esse ator econômico a desenvolver da melhor forma possível as suas atividades no mercado (SEBRAE, 2013). O Sebrae apoia diversos projetos de fomento ao empreendedorismo e capacitação dos pequenos empresários. Dentre eles, encontra-se o Programa de Aceleração de Startups, anteriormente explicado neste capítulo, que ajuda diversos empreendedores a transformarem as suas ideias em negócios de sucesso. O motivo de essa entidade tão importante para o desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil não ter sido mais diretamente abordada ao longo deste estudo é que, por ser um órgão cuja história remonta à década de 1970 e ter passado por diversas transformações, tanto em sua organização interna como no modo que atuava na sociedade, achou-se que, para os objetivos visados, seria melhor não entrar em seus detalhes. Por si só, a criação, evolução e impactos do Sebrae no cenário empresarial brasileiro ao longo dos anos já seria tema para um novo estudo, como realizado por Nathália Máximo e Melo, em sua dissertação de mestrado “Sebrae e Empreendedorismo: origem e desenvolvimento”, publicada em 2008.

32

CONSIDERAÇÕES FINAIS No primeiro capítulo foi realizado um esforço no sentido de conseguir capturar o amplo e complexo conceito que é o empreendedorismo e a imagem do empreendedor. Enquanto isso, também foi explicado o porquê de essa figura encontrar-se constantemente atrelada às micro e pequenas empresas. No capítulo seguinte foi feita uma trajetória histórica do papel do Estado na criação das empresas estatais e de como ocorria o desenvolvimento das MPE no mercado controlado da época. Houve uma maior concentração nos acontecimentos da década de 1990, destacados como cruciais para o entendimento do advento do espírito empreendedor brasileiro. O foco do terceiro e último capítulo foi responder à pergunta de partida deste estudo: como se deu a disseminação e o crescimento da atividade empreendedora no Brasil a partir do ano 2000. Para isso, evidenciou-se como se deu esse desenvolvimento e quais foram os fatores que contribuíram para isso, reforçando sua importância para o mercado brasileiro. Este trabalho trouxe duas novas informações ao campo acadêmico, uma parcialmente pretendida e a outra tendo surgido ao longo do estudo. Esta última é a de ter expressamente vinculado o processo de desestatização/privatização ao tema do advento do empreendedorismo no Brasil, o que não foi explicitamente encontrado em nenhuma outra bibliografia pelo pesquisador e trouxe dificuldade em achar embasamento teórico para a abordagem deste assunto. Já a primeira inovação referida é a de apontar a importância das startups, incubadoras,

aceleradoras

e

investidores

anjos

na

transformação

do

empreendedorismo em um grande ator do desenvolvimento econômico brasileiro. Ela foi parcialmente pretendida, pois a sua ideia inicial era ressaltar a relevância do empreendedor para a economia nacional, mas não se pensava em utilizar esses fatores como base da argumentação. Somente com o decorrer da pesquisa tomouse conta da sua essencialidade para crescimento desse ator. Exatamente por possuir tamanha importância, acredita-se que deva haver mais pesquisas no intuito de entender melhor o papel e os benefícios que podem ser trazidos

pelas

incubadoras,

aceleradoras

e

investidores

anjos

para

o

desenvolvimento econômico do país. Por serem temas recentes, não há ainda muita bibliografia

sobre

eles,

principalmente

com

relação

aos

dois

primeiros.

33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, F. G.; SILVA, Salomão Quadros. Considerações sobre o Estado empresário, lei de Concessões e reformas constitucionais no Brasil. In: Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, v.30, 1996. ALMEIDA, M. D. de. Neoliberalismo, Privatização e Desemprego no Brasil. Tese de Doutorado, São Paulo: Universidade Estadual de Campinas, 2009. BOTELHO, A. J. et al. Impulsionando o Take-off da Inovação no Brasil: O Investidor Anjo. In: Encontro da ANPAD, 30., 2006, Salvador, Bahia. Anais. 2006 CALVOSA, M; FREITAS, J. Angel Investor: Empreendedorismo fomentado através de uma nova modalidade de investidor. In: Revista Cadernos de Administração. Ano 1, Vol. 1, Nº 2, 2008. CARVALHO, M. A. de S. Privatização: Aspectos Fiscais e Dívida Pública. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2001. CORDEIRO, T. S. T. Liderança e Empreendedorismo. Bahia: FTC Digital, 2011. CORRÊA, D. S. O Movimento de Fusões e Aquisições de Empresas e o Processo de Privatização e Desnacionalização na Década de 1990 – O Caso Brasileiro. Universidade de São Paulo, 2004. DARWIN, C. A Origem das Espécies. Trad. Aulyde Soares. São Paulo: Madras, 2004. FRIEDMAN, M. Capitalismo e Liberdade. Tradução de Luciana Carli, 2ª Edição. São Paulo, Nova Cultura, 1985. FUKUYAMA, F. O Fim da História e o Último Homem. Rio de Janeiro. Editora Rocco, 1992. GIAMBIAGI, F. et. al.. Economia Brasileira Contemporânea: 1945-2010. 2 ed. Rio de Janeiro, Elsevier, 2011. MELO, N. M. e. Sebrae e Empreendedorismo: Origem e Desenvolvimento. Dissertação de Mestrado, São Paulo: Universidade de São Carlos, 2008. MILLER, P.; BOUND, K. The Startup Factories – The rise of accelerator programmes to support new technology ventures. Texto para discussão: Junho 2011. Londres: NESTA. 2011

34 PINHEIRO, A. C. Privatização no Brasil: Por quê? Até onde? Até quando?. In: GIAMBIAGI, F.; MOREIRA, M. A Economia Brasileira nos Anos 90. Rio de Janeiro: BNDES, 1999. PINHEIRO, A. C.; GIAMBIAGI, F. Os Antecedentes Macroeconômicos e a Estrutura Institucional da Privatização no Brasil. In: PINHEIRO. A. C.; FUKASAKU, K. A Privatização no Brasil: O Caso dos Serviços de Utilidade Pública: o caso dos serviços de utilidade pública. Rio de Janeiro: BNDES, 2000. SCHUMPETER, J. A. Teoria do Desenvolvimento Econômico: Uma investigação sobre lucros, capital, créditos, juro e o ciclo econômico. Série Economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

35

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