Ensaio Verdade e politica

October 11, 2017 | Autor: Victória Cardoso | Categoria: Hannah Arendt, Filosofía Política
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Filosofia PolíticaAluna: Victória Guimarães de Melo CardosoProf: Antonio Enrique Fonseca RomeroDireito - VespertinoFilosofia PolíticaAluna: Victória Guimarães de Melo CardosoProf: Antonio Enrique Fonseca RomeroDireito - VespertinoVerdade e PolíticaVerdade e Política
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Verdade e Política
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A visão arendtiana da distinção tradicional entre verdade e política não implica aceitar nem um suposto caráter inquestionável da verdade nem o caráter irracional ou não-argumentativo da opinião. Os modos de pensamento e de comunicação que tratam com a verdade, "quando vistos da perspectiva da política", são necessariamente tirânicos; eles não levam em conta as opiniões das demais pessoas, e tomá-las em consideração é característico de todo pensamento estritamente político. De uma perspectiva política, a opinião não é simplesmente um modo de expressão marcado por seu grau intermediário entre o conhecimento verdadeiro e o erro ou ignorância.
Neste sentido, Arendt explica que o apagamento da linha divisória entre verdade fatual e opinião é uma das inúmeras formas que o ato de mentir pode assumir, sendo porém, todas elas, "formas de ação". O mentiroso é um homem de ação, ao passo que o que fala a verdade, quer ele diga a verdade fatual ou racional, notoriamente não o é. Se o que fala a verdade fatual quiser desempenhar um papel político e, portanto, persuasivo, o mais das vezes terá que entrar em digressões consideráveis para explicar por que sua verdade particular atende aos melhores interesses do grupo. O mentiroso, ao contrário, não carece de uma acomodação equívoca semelhante para aparecer no palco político; ele tem a grande vantagem de estar sempre, por assim dizer, em meio a ele. Ele é um ator por natureza; ele diz o que não é por desejar que as coisas sejam diferentes daquilo que são – isto é, ele quer transformar o mundo.
Por fim, o que é mais perturbador, se as mentiras políticas modernas são tão grandes que requerem um rearranjo completo de toda a trama fatual, a criação de outra realidade, por assim dizer, na qual elas se encaixem sem remendos, falhas ou rachaduras, exatamente como os fatos se encaixavam em seu próprio contexto original, o que impede essas novas estórias, imagens e "supostos" fatos de se tornarem um substituto adequado para a realidade?
Sob o sistema atual de comunicação mundial, cobrindo um vasto número de nações independentes, não existe em parte alguma uma potência próxima de ser grande o bastante para tornar sua imagem "irrefutável". As imagens têm, pois, uma probabilidade de vida relativamente curta; é de crer que sejam desacreditadas não apenas quando a fraude for derrubada e a realidade reaparecer em público, mas antes mesmo que isso aconteça, pois constantemente fragmentos dos fatos perturbam e desengrenam a guerra de propaganda entre imagens conflitantes. Como todas as coisas que ocorreram efetivamente no ambiente dos assuntos humanos poderiam ter sido igualmente de outro modo, as possibilidades da mentira são ilimitadas, e é isso a causa de sua derrocada.
No ensaio Verdade e Política, Arendt discute não apenas os dilemas políticos implicados na tradicional subsunção da opinião política a critérios extra políticos para a aferição de sua verdade, pois analisa, também, as desastrosas implicações políticas da redução da "verdade factual" à "opinião" e as consequências de sua destruição pela "mentira" política.
Não se trata de afirmar que a mentira e a manipulação constituam a própria essência do discurso político, mas sim de reconhecer a impossibilidade de extirpá-las desse domínio, extingui-lo. O que é preciso impedir é que a mentira e a manipulação possam converter-se nos elementos centrais do discurso político, de sorte que a luz do espaço público deixe de revelar novas perspectivas do mundo e passe a escondê-las e destrui-las. O problema da mentira na política torna-se grave e urgente, quando ela deixa de ser tópica a passa a abranger todo um contexto em que os fatos contingentes tornam-se significativos.
É nesse sentido que Arendt faz distinção entre os registros da verdade fatual e da opinião, buscando alternativas para se proteger o espaço público da mentira e da manipulação que podem estar contidas no fluxo das opiniões. A possibilidade da preservação da integridade do espaço público em relação à mentira e à manipulação depende da existência de instituições diretamente ocupadas com a reconstituição fidedigna dos fatos gerados pelo espaço público. Para a filósofa, é essencial que os fatos não sejam tratados como opiniões, que eles estejam "além de acordo e consentimento", para serem aquilo sobre o que incide o debate e a troca de opiniões, de sorte que estas não sejam um meio através do qual os fatos são estabelecidos.
Concluindo, a verdade, posto que impotente e sempre perdedora em um choque frontal com o poder, possui uma força que lhe é própria: o que quer que possam idealizar aqueles que detêm o poder, eles são incapazes de descobrir ou inventar um substituto para ela. A persuasão e a violência podem destruir a verdade, não substituí-la.


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