Ensino de Projeto de Arquitetura: revisão crítica de uma produção teórica moderna

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ENSINO DE PROJETO DE ARQUITETURA: REVISÃO CRÍTICA DE UMA PRODUÇÃO TEÓRICA MODERNA Teaching architectural design: critical review of a modern theoretical work

OLIVEIRA, Juliano Carlos Cecílio Batista (1); ROZESTRATEN, Artur Simões (2) (1) Doutorando no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Professor na Graduação em Arquitetura e Urbanismo e na Graduação em Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia (FAUeD-UFU), e-mail: [email protected]. (2) Doutor em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP, 2007), Professor na Pós-Graduação e na Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-USP, e-mail: [email protected]

Esta pesquisa busca revisar uma produção teórica vinculada à arquitetura brasileira, construída dentro do paradigma moderno, que contribuiu para o ensino de projeto de arquitetura. A qualidade desta produção, envolvendo os diversos campos que envolvem o pensar a arquitetura, constrói uma herança cultural que caracteriza seus arquitetos autores relevantes também para o ensino da arquitetura brasileira. Pretende-se verificar a contribuição teórica da arquitetura moderna brasileira na construção de procedimentos projetuais que viabilizaram sua afirmação como uma produção com qualidade internacionalmente reconhecida e esclarecer o quanto os escritos dos arquitetos modernos brasileiros, indo além de uma explicitação e debate sobre a Arquitetura, enquanto objeto, informavam também um como fazer Arquitetura, num sentido operativo para a prática profissional. A partir da análise desta produção, estabelecida num panorama que se situa entre a constituição do “paradigma moderno” (1930) e estende-se até a abertura dos primeiros cursos de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo no Brasil (1970), a pesquisa buscará mapear a produção dos autores pesquisados, suas fontes, relacionando movimentos, teorias e episódios da arquitetura moderna brasileira, finalmente organizando um referencial bibliográfico para o ensino de projeto, comentado e estruturado em eixos temáticos, a partir de bases conceituais específicas. Palavras chave: ensino de projeto; teoria do projeto; arquitetura moderna.

Introdução

Este trabalho apresenta as notas preliminares referentes à pesquisa em desenvolvimento como projeto de Doutoramento, realizada no “Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo” da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo O trabalho está vinculado à área de concentração “Tecnologia da Arquitetura” em sua Linha 3 – Processo de Produção da Arquitetura e do Urbanismo / Representações. O trabalho buscará revisar uma produção teórica vinculada à arquitetura brasileira, construída dentro do paradigma moderno, que contribuiu para o ensino de projeto de arquitetura. A qualidade da produção arquitetônica deste período constrói uma herança cultural que caracteriza seus autores relevantes também para o ensino da arquitetura brasileira.

  Pretende-se verificar a contribuição teórica da arquitetura moderna brasileira na construção e/ou afirmação de procedimentos projetuais que viabilizaram uma produção com qualidade internacionalmente reconhecida (Bruand, 2003; Curtis, 2008; Goodwin, 1943; Giedion, 2000) e esclarecer o quanto os escritos dos arquitetos modernos brasileiros, indo além de uma explicitação e debate sobre a Arquitetura, enquanto objeto, informavam também um como fazer Arquitetura, num sentido operativo para a prática profissional. Estes diversos arquitetos, também autores, foram responsáveis por grande parte dos principais escritos sobre arquitetura moderna no Brasil, com textos de grande alcance e permanência. Sua leitura acontecia, principalmente, através de artigos – eventualmente de jornais, mas principalmente de periódicos especializados, mas também através de cursos e catálogos de exposições. A produção bibliográfica moderna brasileira foi se escrevendo a partir da década de 30, essencialmente por arquitetos, embasados por fontes, em sua maioria, estrangeiras. Havia textos sobre edifícios escritos por seus próprios autores, havia análises de edifícios de outros profissionais e, também, debates - num plano teórico - sobre os caminhos da arquitetura. O aquecido debate teórico subsidiava intelectualmente a construção de edifícios, indicando caminhos para se pensar a cidade em transformação, fruto da industrialização, das intensas migrações campo-cidade, dos avanços na área da saúde e da tecnologia da construção. Muito além de uma simples mudança de estilo – como até então se baseava o ensino Belas Artes – a linguagem moderna estava carregada de uma nova concepção do espaço e da cidade. A questão que nos interessa, então, é como tais novas premissas – que certamente originavam um “novo fazer” – eram apontadas na produção bibliográfica nacional, na medida em que eram textos que educavam novos arquitetos? Tal produção teórica, inicialmente “importada” dos mestres europeus, amplia-se com o crescente interesse dos arquitetos brasileiros pelo movimento moderno e sua gradativa incorporação nos espaços de ensino, colaborando para sua assimilação1. William Curtis, já numa posição de revisão da história da arquitetura moderna, aponta elementos nesse sentido: Á época da eclosão da Segunda Guerra Mundial, já existiam correntes de arquitetura moderna no México, Japão, Brasil, na Palestina e África do Sul (apenas para mencionar algumas) e várias delas envolviam um ajuste

                                                             1

 Se os espaços de ensino de arquitetura mostram‐se como um dos fatores para a assimilação da teoria  moderna, outro veículo significativo nesse sentido foi a imbricada relação desenvolvida entre os arquitetos, os  patrocinadores e divulgadores do modernismo brasileiro e o Estado. Este tema é desenvolvido, pioneiramente,  por Carlos Martins (1988), mas também por Maria Beatriz Camargo Capello (2006) e Lauro Cavalcanti (2006),  além de, brevemente, por Otávio Leonídio (2013). 

  criterioso às culturas, lembranças e aspirações de suas respectivas sociedades. (Curtis, 2008 : 635)

A arquitetura que passa a ser produzida no país adquire características próprias, mesmo incorporando o International Style. Uma relação mais íntima com a natureza exuberante do Brasil, além de uma frequente preocupação com a insolação tropical, são temas constantemente revistos nos projetos construídos. No início, porém, o movimento é rechaçado nas instâncias oficiais, sendo propagandeado, no campo da arquitetura, por alguns poucos nomes, em que se destacam os arquitetos Gregori Warchavchik, Rino Levi e Lúcio Costa, além de alguns outros intelectuais que já acompanhavam de perto o desenvolvimento do Movimento Moderno nas Artes (Xavier, 2003). Somente nos finais da década de 1920, iniciam-se timidamente as discussões em torno da arquitetura conveniente para o país. Mas é durante as décadas de 30 e 40 que esse debate toma corpo e se faz público (ainda que muito reduzido em números), permitindo hoje os primeiros balanços de acertos e erros. (Katinsky, 2003 : 16)

Após estes manifestos iniciais, uma primeira importante publicação, o catálogo Brazil Builds, de Phillip Goodwin, fruto de uma exposição organizada no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, registra uma percepção dessa moderna arquitetura brasileira. Ali se cristaliza um discurso que seria formatado pelo núcleo que orbitava, essencialmente, as ideias de Lúcio Costa que, tardiamente, recebe uma ‘interpretação final’ pelo estrangeiro Yves Bruand (2003), no seu já clássico “Arquitetura Contemporânea no Brasil” (Leonídio, 2013). Somente alguns anos após a publicação de Brazil Builds, o trabalho profissional e também os textos de outros três arquitetos ganham relevância gradativa no cenário nacional: Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi e João Batista Vilanova Artigas. Porém, além das “individualidades excepcionais”, era sabido que a média da produção dos arquitetos brasileiros, neste período, era carregada de qualidades. Não só Yves Bruand destaca este ponto, mas também Siegfried Giedion: Se certas características são claramente visíveis nas obras de algumas individualidades excepcionais, elas não estão ausentes no nível médio da produção arquitetônica. Isso não ocorre na maioria dos outros países. Por exemplo: a maior parte dos arquitetos brasileiros parece ser capaz de resolver os diversos problemas de um programa complexo com uma planta baixa simples e concisa e cortes claros e inteligentes. (2000 : 17, grifo nosso)

Se a arquitetura, através de seus exemplares construídos, rapidamente mostra sua qualidade, especialmente através do entendimento dos postulados fundantes de origem

  européia, esta mesma preocupação poderia ser observada na formação de uma teoria da arquitetura moderna gestada no Brasil? São questões interessantes e fundamentais, pois revelam como a história da arquitetura pode ser construída mesmo sem um devido esclarecimento das práticas e processos que viabilizam o projeto desses espaços. Ficam renegadas, assim, as discussões sobre processos e representações da arquitetura e do urbanismo, componentes fundamentais e indissociáveis do pensamento arquitetônico. Podemos refazer esta questão, de maneira ampliada: qual foi e como foi formada uma teoria para o ensino de projeto no Brasil Moderno? Como os arquitetos desvincularam-se do ensino acadêmico e instauraram um conhecimento moderno que se desenvolve de maneira tão singular e com tamanho reconhecimento? Para além da agenda política e ideológica que fomentou e patrocinou o Moderno no Brasil, como se deu sua assimilação no sentido stricto da prática? Quais textos demonstram a decantação de suas referências internacionais e colocam à tona um conhecimento já “tropicalizado”?

Algumas questões para uma pesquisa em Arquitetura

Complementando um processo histórico de recuperação e revisão da arquitetura moderna brasileira, percebemos ser importante verificar, para além da arquitetura construída, também seu campo teórico, mais especificamente relacionado à construção de um saber operativo, o “como fazer” arquitetura. Entender como a produção sobre o ensino de projeto no Brasil apropriou-se de fontes externas, notadamente da produção teórica de Le Corbusier e Gropius, e construiu um conhecimento especifico à nossa realidade. Como evoluiu, neste campo teórico, o saber especificamente relacionado ao ensino de projeto de arquitetura? A formação do estudante brasileiro foi pautada pela leitura de textos clássicos dos mestres europeus, mas também de nossos arquitetos autores. Como estes textos apresentavam, para além da teoria moderna, conhecimentos específicos ao “método” de projeto moderno? Ou, melhor dizendo, havia uma produção específica nesse sentido? A

produção

teórica relativa

a

processos

projetuais,

principalmente

a

partir

do

Neoclassicismo, é bastante relevante. Os textos da tratadística de arquitetura continham questões explícitas relativas a formas de composição, tipologia e partido arquitetônico. O resultado disso era uma arquitetura consistentemente elaborada a partir de uma sistemática muito específica. [...] o método Beaux-Arts era bastante claro e ensinava a estudantes e arquitetos, em termos muito precisos, quais passos deveriam ser tomados para atingir o objetivo final. Essa clareza, e o fato de que foi, por muito

  tempo, o único método de projeto disponível foram responsáveis por sua aceitação contínua inclusive no século XX. (Mahfuz, 1995 : 19)

O argentino Alfonso Corona Martínez (2000) faz uma importante revisão destes métodos projetuais, apresentando desde a formalização do modelo Belas Artes até propostas contemporâneas, passando por diversos extratos da teoria moderna e a fundamental relação destes métodos com o ensino de projeto – e consequentemente, com o ensino de arquitetura como um todo. O método projetual explicitado por Durand no começo do século XIX não representa uma inovação revolucionária, é bem mais uma legalização das práticas projetuais das décadas que precedem seu Curso, as quais podem ser caracterizadas por uma independência crescente das partes dos edifícios, uma redução da subordinação perfeita da arquitetura barroca em favor de uma estruturação por componentes relativamente autônomos. (Martínez, 2000 : 21)

Em seu trabalho, há uma ênfase em mostrar como a forma do edifício moderno ainda carregava uma grande dependência com o processo projetual Belas Artes: as variadas linhas de circulação que organizam distribuições mais complexas – em função de programas com maior complexidade – de maneira aditiva ou subtrativa, por exemplo. “O processo de abstração que dá origem ao sistema circulatório [...] culmina com a generalização de esquemas circulatórios aplicáveis a diferentes temas de arquitetura [...]” (p. 31). Martínez nota uma continuidade em determinados processos de projeto, por mais que a síntese projetual conduza a uma proposta espacial consideravelmente distinta do modelo anterior. Ele entende que, ainda baseado no modelo Belas-Artes, grande parte do ensino moderno perpetua uma separação entre “Composição da Arquitetura” dos “Elementos de Arquitetura”. Substituíram-se os Elementos, manteve-se o processo de Composição2. [...] era possível, desde a época do ecletismo, substituir um repertório de elementos por outro, sem enfraquecer o procedimento. [...] Mesmo substituindo as pautas formais do partido (simetria, axialidade, etc.) pelas disposições que chamávamos estratégicas do partido-organograma, essa abstração não se modificava como parte do procedimento a não ser em seu “caráter formal”. (MARTÍNEZ, 2000 : 71)

Seria este também o caso brasileiro? Teria nossa arquitetura moderna se erguido sobre processos compositivos Belas Artes, utilizando-se essencialmente do concreto armado e de outros novos elementos de arquitetura, num fenômeno “que deu margem a que                                                              2

 “Durante a maior parte deste século [XX], o termo composição teve uma conotação negativa, pois estava  associado à tradição acadêmica de imitação estilística, à qual o Movimento Moderno se opunha e tentava  superar. [...] [Ainda assim] temos, então, o mesmo instrumento tanto na tradição acadêmica como no  modernismo.” (MAHFUZ, 1995, p. 17‐18) 

  experimentássemos, no plano arquitetônico brasileiro, uma série de aspectos e formas que tiveram sucesso universal” (Artigas, 1997 : 199)? Se for esta também nossa realidade, como nossos autores apresentavam esta “revisão” do processo compositivo, com fundamentos Modernos? Esta é uma questão que propomos estudar e buscar esclarecer, sistematizando e revisando os principais escritos que balizam o ensino de projeto no Brasil, elaborados a partir da inserção do movimento moderno como filosofia do ensino de arquitetura, notadamente a partir da década de 30 até o início dos anos 70. Tal recorte se justifica pois, a partir deste intervalo, começam a surgir os cursos de pós graduação em arquitetura no Brasil3, alterando o modo da produção teórica e, consequentemente, a produção bibliográfica corrente. A produção moderna brasileira tem sido alvo de estudos, cada vez mais sistemáticos, a partir do início dos anos 70, tanto do ponto de vista da tecnologia quanto, principalmente, da historiografia. Abílio Guerra (2013 : 13-15) destaca, por exemplo, dois importantes catalisadores para tal fenômeno: o desenvolvimento da pesquisa acadêmica científica nos programas de pós-graduação brasileiros e a afirmação das revistas de arquitetura, ambos a partir dos anos 1970-80. Se já se encontra estruturado no Brasil um campo de pesquisa em história, planejamento urbano e tecnologia da arquitetura4, nossa proposta visa contribuir para outro campo que tem se desenvolvido, de maneira mais intensa, nos últimos 10 anos: o da pesquisa em ensino e teoria do projeto5.

Apontamentos preliminares                                                             

3

 O Programa de Pós Graduação da FAUUSP inicia suas atividades, com o Mestrado, em 1973 e o doutorado em  1980. O Mestrado em Arquitetura da Escola de Engenharia de São Carlos, também da USP (hoje IAUUSP), inicia  seu Mestrado em 1971. Na FAU UNB, o Mestrado também tem início no começo da década de 1970.  4  Vide o fato de encontros como os do DOCOMOMO Brasil acontecerem regularmente desde 1995, da ANPUR  completar este ano 30 anos de existência (realizando o seu 15º encontro), do ENTAC acontecer regularmente  há 13 anos, fazendo parte de uma associação com quase 30 anos e, paradoxalmente, do Projetar, evento  itinerante em faculdades brasileiras – talvez hoje o principal fórum de discussões sobre ensino e teoria do  projeto de arquitetura – estar realizando este ano apenas o seu 6º encontro. Destaca‐se ainda um “novo”  evento, o Representar – dedicado às representações em arquitetura, urbanismo e design, num campo  diretamente relacionado à produção e ensino da prática profissional ‐, que realizou ainda este mês seu  segundo encontro (bienal), pela primeira vez no Brasil.  5  Foi a partir de tal contexto que surgiu nosso interesse pelo tema. Há cinco anos, defendíamos nossa  Dissertação de Mestrado no Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo do atual IAU‐USP  (OLIVEIRA, 2007). Naquele momento, um aprofundamento crítico necessário para a prática de projeto em  escritório, como um jovem arquiteto, que acabava de iniciar a carreira docente. Hoje, 10 anos após iniciar  aquele trabalho, buscamos reorientar nosso olhar para o ensino de projeto, foco de nosso interesse a partir de  um horizonte mais amplo possibilitado pela nossa atividade docente, desenvolvendo‐se de modo regular e  efetivo, como Professor Assistente II na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade  Federal de Uberlândia. 

  O presente trabalho prevê seu desenvolvimento em quatro anos de pesquisa. Estamos, atualmente, pouco além da metade do primeiro ano. Mesmo assim, começamos a reunir informações

que

apontam

questões

interessantes

e

bastante

pertinentes

para

aprofundamento. Um esforço inicial tem se dado no sentido de estruturar “linhas do tempo”, que permitam a visualização dos diferentes dados de diferentes autores, que serão discutidos à frente. Este trabalho para a visualização da informação deriva de nosso interesse em garantir leituras transversais dentro da produção teórica dos diferentes autores analisados.

Fig. 01: Linha do tempo – Algumas pioneiras faculdades de arquitetura no Brasil – graduação e pós-graduação. Fonte: autor, 2014.

Nesse sentido, inicialmente foi interessante esclarecer a abertura dos primeiros cursos de graduação e pós-graduação em Faculdades de Arquitetura no Brasil. A definição destes importantes marcos vai na origem dos pressupostos da pesquisa: afirmação de um primeiro campo teórico na arquitetura brasileira, diretamente vinculado à formação do profissional Arquiteto – na sua acepção Moderna - em Faculdades de Arquitetura, independentes das Escolas de Belas Artes ou Escolas Politécnicas, estas com bastante tradição no Brasil. A Figura 01 apresenta este levantamento, ainda preliminar, elencando as faculdades pioneiras no Brasil. Destaca-se o vanguardismo da Escola de Arquitetura de Belo Horizonte, atualmente vinculada à UFMG. Na sequência, a abertura quase simultânea, no início dos anos 1940, de Faculdades que desvinculavam-se das Escolas de Beaux Arts ou Politécnicas: FAU-UFRJ, FAU-Mackenzie, FAU-USP e FA-UFRGS. Temos aí um período fundamental para a afirmação da Arquitetura Moderna Brasileira, em vários aspectos: estruturavam-se os campos de formação de alunos a partir do ensino Moderno, abria-se um campo de trabalho para os arquitetos – ensinar formalmente arquitetura moderna e, como desdobramento inevitável, a necessidade de construção de

  uma teoria moderna de base nacional, complementando as importantes referências estrangeiras já então utilizadas. Neste sentido, começamos a avançar também no mapeamento desta produção teórica, advinda de relevantes arquitetos no cenário brasileiro. A Figura 02 representa um primeiro levantamento da obra do arquiteto Lúcio Costa. Em azul, sua produção bibliográfica; em verde, seus principais projetos, alguns com a marcação do seu tempo de construção (obra); em amarelo, sua vinculação a trabalhos formais (empregos).

É interessante observar como sua produção textual tem uma pujança inicial, entre os anos 1935 e 1950, que praticamente cessa após Brasília. Esta produção organiza-se, especialmente, dentro de dois marcos fundamentais da Arquitetura Brasileira: a reforma curricular da ENBA, no Rio de Janeiro e o concurso de Brasília. Não por acaso, Lúcio Costa foi o protagonista nestes dos eventos. Dentro deste período, inauguram-se as Faculdades de Arquitetura que formam, por décadas ainda, pólo e referência no ensino brasileiro. Realizam-se, também neste período, alguns dos principais edifícios destas primeiras gerações modernas: o MESP, o Pavilhão do Brasil em Nova Iorque, os projetos para a Pampulha, alguns dos principais museus brasileiros, etc. A própria tônica dos textos também vai sutilmente se alterando: da valorização da herança colonial e a afirmação dos valores da nova arquitetura, para uma intensa fase de debate e defesa de Brasília até alguns trabalhos finais, de revisão de seu percurso histórico na construção do Moderno no Brasil. A fase atual do trabalho consiste, então, no estudo da produção destes autores para, em seguida, avançar nestas leituras transversais – quando esperamos que os mapas de informação ajudem na sobreposição de eventos, episódios, biografias, auxiliando na construção de relações entre o papel da produção teórica, da ação educativa – formação de arquitetos modernos – e o fazer operativo – a prática do projeto de arquitetura.

  Referências6 Artigas, J. B. (1997). Um lugar à utopia. In: M. C. Ferraz (Ed.), Vilanova Artigas (p. 199). São Paulo:  Fundação Vilanova Artigas.  Bruand, Y. (2003). Arquitetura Contemporânea no Brasil (5 ed.). São Paulo: Perspectiva.  Curtis, W. (2008). Arquitetura moderna desde 1900 (1 ed.). Porto Alegre: Bookman.  Giedion, S. (2000). O Brasil e a Arquitetura Contemporânea. In: H. Mindlin (Ed.), Arquitetura Moderna  Brasileira (pp. 17‐18). Rio de Janeiro: Aeroplano/Iphan.  Goodwin, P. (1943). Brazil Builds: Architecture New ad Old ‐ 1652 ‐ 1942. New York: The Museum of  Modern Art.  Guerra, A. (2013). A construção de um campo historiográfico. In: A. Guerra (Ed.), Textos  fundamentais sobre história da arquitetura moderna brasileira (Vol. 1, pp. 11‐22). São Paulo: Romano  Guerra.  Katinsky, J. R. (2003). Os aprendizes da liberdade. In: A. Xavier, Depoimento de uma geração:  arquitetura moderna brasileira (pp. 15‐19). São Paulo: Cosac&Naify.  Leonídio, O. (06 de agosto de 2013). Um quarto de século de "Arquitetura contemporânea no Brasil".  Homenagem a Yves Bruand. Vitruvius . (R. Online, Ed.) São Paulo. Acesso em 06 de agosto de 2013,  disponível em Arquitextos: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/05.060/3121  Mahfuz, E. d. (1995). Ensaio sobre a razão compositiva: uma investigação sobre a natureza das  relações entre as paartes e o todo na composição arquitetônica. Viçosa/Belo Horizonte: UFV/AP  Cultural.  Martínez, A. C. (2000). Ensaio sobre o projeto. Brasília: UNB.  Xavier, A. (Ed.). (2003). Depoimento de uma geração: arquitetura moderna brasileira. São Paulo:  Cosac & Naify. 

                                                             6

 Elaboradas a partir do modelo Harvard. 

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