Ensino de Temas Ambientais- Dificuldades de Professores de Escolas Públicas

September 14, 2017 | Autor: E. Oliveira Vieira | Categoria: Health Promotion, Primary Health Care, Health Promotion In Schools
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Ensino de Temas Ambientais: Dificuldades de Professores de Escolas Públicas SIEXBRASIL: 17697 Área Temática Principal - Saúde Área Temática Secundária – Educação Linha Programática – Atenção integral à criança e ao adolescente Estela Aparecida Oliveira Vieira – profissional voluntária - Letícia Pereira Mattos – aluna bolsista - Efigênia Ferreira e Ferreira – coordenadora do projeto - Andréa Maria Duarte Vargas – participante docente - Flávio de Freitas Mattos – participante docente Departamento de Odontologia Social e Preventiva Faculdade de Odontologia Palavra-chave – escola promotora de saúde Introdução Questões pertinentes ao ambiente vêm sendo a tônica de várias pesquisas e discussões, dando ênfase ao enfoque ecossistêmico de saúde (MINAYO, 2002), que visa equivalente importância à complexa relação entre o ambiente, economia e comunidade. Para a autora, o Relatório Lalonde (1974), é uma expressiva representação do modelo ecossistêmico de saúde. Na década de 70, com o avanço do paradigma de promoção da saúde, passa a ter grande importância a integralidade do ser humano e os determinantes do processo saúde/doença passam a ser entendidos não somente a partir das características individuais, mas também do ambiente em seus aspectos físicos, sociais, econômicos e culturais. Na década subseqüente (BUSS, 1998) surge o movimento cidades saudáveis que privilegia locais onde as estratégias de promoção podem ser aplicadas de maneira mais abrangente, abarcando outras extensões pertinentes ao relacionamento humano. O foco destas ações é representado por locais de trabalho, hospitais e também a escola, surgindo a idéia da “escola promotora de saúde” (EPS). A escola, por seu potencial, é considerada um importante centro de ensino, aprendizagem, convívio e desenvolvimento. Nela se compartilham valores vitais fundamentais, possuindo influência sobre as crianças e adolescentes nas etapas formativas mais importantes de suas vidas (OPAS, 1998), sendo considerada um espaço ideal para a aplicação de programas de promoção da saúde de ampla abrangência e repercussão. Em 1991 surge a primeira rede EPS na Europa e em 1995 a rede européia de EPS é estendia aos países da América Latina (BUSS, 1998). A Organização Mundial de Saúde (OMS) convoca o comitê de especialistas em educação e promoção integrais em matéria de saúde escolar para junto com instituições afins determinarem as recomendações necessárias para uma escola se tornar promotora de saúde. Em linhas gerais, existem três pilares de grande importância: educação para a saúde com enfoque integral, provisão de serviços de saúde e criação de entornos saudáveis. Dentro destas linhas cada comunidade deve estabelecer suas próprias EPS, com dinâmicos adequados e planos de estudo adaptados às circunstâncias e necessidades locais. Em âmbito geral, os planos podem englobar temas sobre higiene pessoal e saúde bucal; nutrição e hábitos alimentares saudáveis; exercício e atividade física para uma ótima saúde física e mental; perigos do consumo de tabaco, álcool e drogas; sexualidade humana e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, efeitos negativos da gravidez

prematura; saúde mental e emocional, prevenção de acidentes, traumatismo e danos intencionais e acidentais, e doenças transmissíveis ou não transmissíveis (OPAS, 1998). No Brasil, existem várias experiências e articulações sendo realizadas. Em 2001, foi formulada uma estratégia direcionada para a população escolar articulada entre os Ministérios da Saúde e da Educação, incluindo temas transversais relativos à saúde nos parâmetros curriculares nacionais para instrumentalizar a comunidade escolar (OPAS/BRASIL, 2005). Em meio a estes temas está presente o ambiente. Para a OMS, uma escola apresenta ambiente saudável quando conta com um ambiente físico seguro, limpo e estruturalmente apropriado. Ambiente que assegure uma atmosfera psicossocial harmônica e estimulante, sem agressões nem violência verbal, física ou psicológica. Isto determina o clima emocional e as interações sociais que podem afetar o bem estar e a produtividade dos alunos e dos profissionais da escola (OPAS, 1998). Muitos são os fatores que assinalam a importância da educação sanitária. Podem ser citados ensaios cada vez mais abundantes abordando a relação entre a saúde dos escolares e seu conhecimento na matéria. O fato de que as escolas constituem um excelente canal de comunicação para realizar atividades e transmitir mensagens sobre e a relação entre a aprendizagem na escola e o comportamento fora dela são alguns dos exemplos a serem mencionados (OPAS, 1998). Para a efetivação da ação, a participação da comunidade em seu contexto socioeconômico e cultural é fundamental, ou seja, a escola e seu entorno, devem estar envolvidos. Todos precisam sentir-se parte do projeto, não apenas fazer parte do projeto. Devem contribuir para o planejamento, execução e avaliação do empreendimento como atores sociais que são (BUSS, 1998). O envolvimento da comunidade escolar na ação é condição fundamental para que o projeto aconteça. A Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (FO-UFMG) desenvolve projetos sob a estratégia da EPS. O Programa de Promoção de Saúde para crianças e adolescentes, voltado para escolares, tem como base esta estratégia. O projeto busca formar crianças e adolescentes reflexivos e cientes da possibilidade de ter uma vida de melhor qualidade. Busca também a interação dos graduandos da universidade com a comunidade local com o intuito de aproximá-los de parte do cotidiano destas pessoas e possibilitar a troca de conhecimentos. Os temas são tratados de maneira simplificada e pedagógica e as atividades conduzidas de forma lúdica (VIEIRA, 2003). Para que a proposta se concretize o projeto lança mão de metodologias que permitam uma melhor interação e opta pelo uso da pesquisa-ação como base metodológica. A pesquisa-ação aproxima o conhecimento formal e o conhecimento informal e possibilita estabelecer um diálogo, uma comunicação entre os dois universos do saber. Os problemas são colocados, interpretados e a partir destes, as ações são definidas. Este método permite uma maior interação da comunidade e o reconhecimento de seu papel social dinamizador (THIOLLENT, 2000). O projeto de extensão Escolas Saudáveis, parte do Programa de Promoção de Saúde envolve escolas de Belo Horizonte, Regional Pampulha, localizadas nos bairros Confisco, Sta. Terezinha e Sarandi, com uma população de aproximadamente 40 mil habitantes. Nos bairros, a limpeza pública é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (SMLU) e as ruas são atendidas regularmente por veículos de coleta de lixo, com freqüência alternada, três vezes por semana. A área verde nestas áreas corresponde à cerca de 40% do total, com parques e áreas de lazer. A porcentagem de atendimento de domicílios pela rede de água tratada chega a 99,9% e pela rede de esgoto a 90,8%. Segundo classificação de risco feita pela Prefeitura de Belo Horizonte, a região pesquisada engloba áreas de médio, alto e baixo risco. Essa classificação, de acordo com o programa BH - Saúde, diz respeito às condições de habitação, renda salarial, acesso aos serviços de saúde, e indicadores de morbi – mortalidade. As três escolas possuem boa estrutura física que permite assistência aos alunos, tanto nas

atividades ligadas ao aprendizado quanto naquelas de lazer. Existem também atividades extracurriculares nas escolas e estas são abertas à comunidade nos fins de semana. Devido ao esgotamento da capacidade de aceitação de novos alunos em algumas turmas, crianças das comunidades tiveram de ser encaminhadas para outras instituições de ensino fora dos três bairros (MATOS, 2005). Este estudo teve o intuito de conhecer a opinião de professores de três escolas públicas de Belo Horizonte, onde a FO-UFMG atua através do Projeto Escolas Saudáveis, sobre as dificuldades por eles encontradas no tratamento de questões ambientais com os estudantes, com vistas ao aprimoramento das atividades do projeto. Metodologia O universo do estudo foi representado pelos 210 professores do ensino fundamental das três escolas públicas de Belo Horizonte, integrantes do Projeto de Extensão Escolas Saudáveis, da FO-UFMG, localizadas na Regional Pampulha. A partir do cálculo amostral, pelo método de estimativa de proporção, considerando o padrão estimado de 50%, o erro de 10% e o nível de confiança de 95%, foi calculada como ideal a amostra de 96 professores. Após solicitação de aprovação do COEPE/UFMG, foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário baseado nos trabalhos realizados por Fontanela (2001) e Pelicioni (2000), que aborda a questão do ambiente na educação escolar. O questionário continha itens para a caracterização dos respondentes e perguntas com a finalidade de verificar a prática do trabalho com temas ambientais em sala de aula e as dificuldades relacionadas a ela. Sendo este trabalho relativo à parte do questionário aplicado, aqui serão discutidas apenas as questões pertinentes às dificuldades relacionadas à abordagem do tema ambiente. Foi realizado um pré-teste com o instrumento, atentando para possíveis erros, com a finalidade de obter sua maior compreensão e melhor consistência. Todos os professores dos turnos diurno e vespertino receberam o questionário em uma de suas reuniões de rotina. Para os professores do turno noturno, o instrumento foi entregue em mãos de maneira individual e ao longo de três dias. Os professores responderam os questionários no próprio ambiente escolar, voluntariamente. Resultados e Discussão Foram devolvidos, devidamente respondidos, 95 questionários. Tal número representa 45% do universo de professores a serem estudados e traz boa representatividade ao estudo visto a pequena diferença numérica em relação à amostra necessária previamente calculada em 96. Entre os respondentes 25,75% ministravam aulas de geografia ou ciências. O total de 92,7% dos respondentes trabalhava questões ambientais em sala de aula. Houve grande número de professores respondentes entre aqueles que ministravam aulas de ciências, história e geografia. Isto se deve ao fato de que a própria natureza dos objetos de estudo de tais disciplinas levam à abordagem de temas sobre o ambiente. Ainda assim, permanece imprescindível a participação de outras áreas para que seja feita uma abordagem multidisciplinar. As dificuldades enfrentadas pelos professores na abordagem de questões ambientais com os alunos estão expressas no Gráfico 1.

Dificuldades encontradas 26,24% 17,65% 13,12%

9,95%

9,95%

6,33%

11,31%

0,90%

0,90% 0,45%

3,17%

Passagem da teoria para prática

Interesse do estudante

Tempo

Espaço

Material

Continuidade pela família

Tempo para preparar aula

Tempo para trabalhos de campo

Qualificação do professor

Não encontram dificuldades

Sem resposta Gráfico 1 : Dificuldades encontradas pelos professores na abordagem do tema ambiente, na escola Segundo o relato dos entrevistados (GRAF.1), as principais dificuldades enfrentadas foram: a não continuidade do trabalho na família (26,24%), a transposição da teoria para prática (17,65%), a falta de interesse do estudante (13,12%) e a falta de tempo para trabalhos de campo (11,31%). Não relataram dificuldades 0,45% dos docentes. A família é a principal responsável pela educação em saúde, pela formação de hábitos, conceitos e habilidades da criança (VASCONCELOS, 2002). Sob esta perspectiva, sua pouca interação, conforme relatado pelos professores torna-se um problema fundamental a ser solucionado. A escola e principalmente o professor também são responsáveis. O professor é peça fundamental nesse processo de educação em saúde. Ele é um referencial, um modelo de conduta e de hábitos para seus alunos. Sua presença constante na vida dos estudantes cria laços emocionais fortes permitindo exercer forte influência em seus comportamentos. A criança ou o adolescente passa grande parte do seu dia na escola. O professor tem a oportunidade de conhecer bem seu aluno através desse contato diário e por isso passa a ter um papel importante de ajuda no processo de educação e formação social da criança. Para que o professor atue como agente promotor de saúde ele precisa se sentir capaz, ter competência, ser treinado. Isso deveria ocorrer durante sua formação como educador (VASCONCELOS, 2002). Assim, obtendo treinamento adequado grande parte da dificuldade relatada pelos entrevistados ao transpor a barreira teoria/prática poderia ser superada. O relatado desinteresse dos estudantes está intimamente associado à falta de tempo exposta pelos professores. A superação de tal desinteresse depende substancialmente da utilização de metodologias e material didático capazes de conquistar a atenção. A OPAS (1998) propõe a elaboração de material educativo (impresso e áudio visual) dirigido aos alunos, aos professores e à comunidade em seu conjunto. O material deve conter mensagens atrativas e fáceis de compreender e de transmitir, de modo que os alunos possam explicá-lo a outras crianças e seus familiares. Desta maneira amplia-se o alcance do programa e pode-se conseguir o apoio de distintos grupos da sociedade para sua realização. A constituição da metodologia utilizada deve incluir, de uma maneira geral, uma lista de temas que façam parte

de um programa de educação para a saúde escolar. Não obstante, os planos de trabalho e estudo devem designar o tempo que seja necessário para o tratamento adequado destes temas, tanto para que os professores possam preparar-se adequadamente quanto para que os estudantes possam expressar suas dúvidas e enriquecer o aprendido através da investigação e da discussão grupal. É importante contar com bibliotecas previstas de material de referência e recursos didáticos atrativos que tratem sobre temas atuais e de interesse para os jovens e que estes possam utiliza-los em atividades participativas. É possível apoiar as escolas para que elaborem materiais didáticos próprios. Neste sentido, o trabalho no Projeto escolas Saudáveis procurou, a partir daí, metodologias que pudessem envolver as famílias, inicialmente indiretamente, considerando a dificuldade do contato pessoal. Este “indiretamente” consistiu em estímulo a conversas em casa com relatos do que fez, viu e ouviu, participação da equipe do projeto nas atividades extra-classe, aos sábados, sem pré com o objetivo de iniciar o envolvimento da comunidade. Conclusão A metodologia da pesquisa-ação, adotada no projeto de extensão Escola Saudável pressupõe a interação da comunidade escolar. Ela deve partir do envolvimento de professores, alunos e familiares. Os relatos de dificuldades enfrentados pelos professores que envolvem principalmente a não participação das famílias nas ações desenvolvidas e o desinteresse dos alunos nos mostram importantes barreiras para o desenvolvimento do trabalho proposto. Na infância os hábitos estão sendo formados, as rotinas estão sendo aprendidas. É uma fase em que as possibilidades de se estabelecer rotinas saudáveis são grandes, por isso a importância de se implantar programas de saúde nas escolas com a participação dos professores. Há grande empenho e mérito no trabalho dos professores para a inclusão de temas ambientais no contexto do ensino das escolas. Entretanto, percebe-se neste trabalho, que há a sensação entre os profissionais, de desamparo, visto que grande número salientou a necessidade de maior comunhão de interesses entre professores, alunos e pais para efetivação da proposta. Referências BUSS PM, et al. Promoção da saúde e a saúde pública. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998, 178p. FONTANELA, L.B. Educação Ambiental como Processo Transversal do Currículo Escolar. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina - Programa de PósGraduação em Engenharia de produção. Florianópolis, 2001. MATOS, L.P.; FERREIRA, E.F. Estratégias para o empoderamento comunitário em escolas promotoras de saúde: caracterização das condições de vida. Manuscrito: FOUFMG, 2005. MINAYO MCS. Saúde e ambiente sustentável: estreitando nós. 2ª ed. Rio de Janeiro: FIO CRUZ; 2002. OPAS/BRASIL. A Construção de uma política pública de promoção da saúde no contexto escolar: um relato da experiência brasileira. Disponivel em: . Acessado em 30 de agosto de 2005. OPAS. Escuelas promotoras de la salud - entornos saludables y mejor salud para las generaciones futuras. Washington: OPAS; 1998. PELICIONI, M.C. F. Educação em saúde e educação ambiental estratégias de construção da escola promotora da saúde. Livre Docência. Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública. São Paulo, 2000. 1. THIOLLENT M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortes Editora, 2000.

VIEIRA, E.A.O.; FERREIRA, E.F.; MATTOS F.F. Escola promotora de saúde: o envolvimento da comunidade através dos agentes mirins. In 21ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica. SP, 2004. VASCONCELOS, R. Repensando a saúde bucal na perspectiva da escola promotora de saúde: O que pensam os professores do ensino fundamental. 2002. 147f. Dissertação (Mestrado em Odontologia, Odontopediatria) – Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

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