Entrevista com François Chesnais

July 23, 2017 | Autor: Jorge Felix | Categoria: Marxist Economics, Marxismo, Economia Política, Financeirização do mundo
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EMILIANO CAPOZOLI/VALOR

François Chesnais: “A esquerda francesa está em grande crise. Neste instante, não existe. Se vai existir de novo um dia, deve ser reconstruída completamente”

caso como a revolta dos jovens dos subúrbios, terminará em muito sangue. Ele não tem nenhum poder, com exceção da repressão. Porque simplesmente não existem respostas mágicas para os problemas da economia francesa. Se Ségolène ganhar, será um alívio. Uma resposta dos movimentos sociais. Valor: Os líderes da América Latina são apontados como populistas, mas adotaram um discurso que definem de esquerda. Como vê esse perfil dos novos líderes latino-americanos? Chesnais: Antes de tudo, gostaria de explicar que o modo de inserção da América Latina no mercado a faz dependente de um sistema mundial altamente vulnerável. Isso faz a vida política na América do Sul difícil, porque ela não pode fazer nada diante desse quadro. A coisa mais importante na política, num sentido amplo, é manter a consciência, a capacidade de organização política autônoma. Mas a grande novidade na América do Sul não são os políticos. São os movimentos dos campesinos, dos trabalhadores pobres, dos autóctones, que viviam aqui antes dos europeus, que se reafirmam. É simbólico isso no presidente da Bolívia, Evo Morales. Mas é preciso destacar que, neste contexto mundial, esses dirigentes não são totalmente livres.

Valor: O mundo está muito preocupado com a questão do aquecimento global. É possível resolver esse problema na conjuntura econômica atual? Chesnais: O fio condutor para a análise é a noção da reprodução da dominação do sistema capitalista e de classe; a lógica própria do sistema e da concorrência, o mecanismo endógeno da crise. A crise de consciência de que o problema é grave é sempre abordada com a idéia de que tem de ser tratada, mas tratada em benefício da dominação, e que a reprodução se dê na melhor forma possível. Hoje há elementos de verdadeira inquietude no bloco dos países dominantes, preocupados com a possibilidade de as mudanças climáticas criarem uma situação política incontrolável. O grau de mundialização do sistema financeiro seria incapaz de absorver essa crise. Mas a cruzada de Al Gore, por exemplo, é vista de modo bem diferente na Europa. Valor: Qual é essa visão? Chesnais: Ele é minoria nos Estados Unidos. Nem é o porta-voz da visão da Casa Branca, muito menos dos Estados Unidos. Mas representa outra forma da concepção de dominação, um pouco menos fascista ou um pouco mais democrática. Al Gore não está muito longe de Jack London [escritor].

Valor: Como analisa toda a discussão mundial em torno do etanol? Chesnais: É uma solução que provoca comoção no interior do oligopólio da indústria automobilística, entre os grupos que estão fabricando, ou quase, o motor a etanol. Mas é a solução para que o mundo do automóvel continue, sobreviva; para que o fetichismo do automóvel continue; para que todos os investimentos dessa indústria continuem. Para mim é um exemplo puro de uma solução para ajustar as coisas um pouquinho para que tudo continue como antes, mesmo que certas coisas se agravem. Valor: Diante da crescente concentração do capital financeiro, o sr. crê que ainda seja possível uma reversão da mundialização do capital? Chesnais: Afirmei nos anos 1990 que isso era possível, quando as coisas não pareciam tão irreversíveis como atualmente. Hoje são irreversíveis porque o que se passou daquela época para hoje foi que os fundos de investimentos modificaram completamente a estrutura de seus portfólios. Primeiro, a prioridade não é mais uma estratégia no longo horizonte, mas o rendimento do acionista. Esse sistema de stock option, as fusões e aquisições e os investimentos estrangeiros diretos modificaram todo o sistema nos anos 1990. I Sexta-feira e fim de semana, 4, 5 e 6 de maio de 2007

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