\"Escultura de São Pedro Gonçalves Telmo e Bandeira da Casa dos Pescadores de Tavira\", in AAVV, Tavira - Patrimónios do Mar (catálogo de exposição), Tavira, Câmara Municipal de Tavira, 2008, pp. 252 e 253.

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53- Escultura São Pedro Telmo e Bandeira da Casa dos Pescadores em Tavira 53A- São Pedro Gonçalves Telmo1.ª Metade do século XVIII Madeira estofada e policromada 110 cm x 60 cm Tavira. Igreja de São Pedro Gonçalves Telmo 53B- Bandeira da Casa dos Pescadores de Tavira Século XX (c. 1940-1960) Tecido 94 cm x 98 cm Lisboa. Museu de Marinha Na Cidade de Tavira tem os Mareantes huma Igreja, que elles fabricão, & adornão com grande devoção dedicada ao seu Protector S. Frey Pedro Gonçalves, que nas tormentas lhes acode, & os livra de naufragar, & de serem sumergidos nas aguas. Assim se lê num dos capítulos do Santuário Mariano, de Frei Agostinho de Santa Maria, escrito em 1718. Realça o autor a especial devoção dos mareantes de Tavira a um dos santos mais populares em todo o litoral da Península Ibérica: São Pedro Gonçalves Telmo, também conhecido por Santelmo ou Corpo Santo. Sob a sua invocação constituíram-se desde os finais da Idade Média, de Norte a Sul do País, numerosas confrarias de marítimos, incluindo nos principais portos algarvios (Tavira, Faro, Lagos e Portimão), continuando estas muito activas nos séculos subsequentes. Nascido em Frómista, diocese de Palência (Espanha), entre 1180 e 1190, Pedro Gonçalves Telmo ingressou na Ordem Dominicana e dedicou-se activamente ao ministério da pregação nos reinos de Leão e Castela, acompanhado de gloriosos milagres. Esteve na corte de Fernando III, o Santo, rei de Leão e Castela, assistindo o monarca no cerco de Sevilha [1248], & noutras batalhas famosas contra os Mouros, dando aos soldados admiraveis exemplos de doctrina, & sanctidade (CARDOSO, 16521744, p. 554). Passou depois à Galiza, onde pregou especialmente entre marinheiros e pescadores e se empenhou energicamente na construção de uma ponte sobre o rio Minho, em Ribadavia, operando acções miraculosas: Elle era o architecto, & o pagador, elle o mestre, & o obreiro, não se contentando com menos, que carregar a pedra & cal às costas (…). E faltando peixe co a mesma confiança, que emprendera tam grande machina, assentado nas margens do rio, levantava os olhos ao ceo, e começaua a feruer em cardume, & saltar na terra… (idem, p. 554). Após pregar em Portugal, na província de Entre-Douro e Minho, recolheu-se na cidade de Tui, onde veio a falecer. Depressa começou a ser-lhe prestado culto e a circular a fama dos seus milagres, pelo que se erigiu uma ermida no local onde se finou com o nome de Corpo Santo, designação amplamente adoptada pelas igrejas e confrarias sob a sua invocação.

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Nesta escultura o santo enverga o hábito dos dominicanos, com uma embarcação na mão esquerda, adivinhando-se na mão direita um segundo atributo, já em falta, que seria um círio com a chama do “fogo-de-santelmo” – fenómeno atmosférico que ocorria durante as tempestades no mar, quando em certas partes da embarcação apareciam luzes das descargas eléctricas, sinal interpretado pelos mareantes como sinal da protecção do santo e prenúncio de bonança. Assim concebida, a escultura evoca perante os fiéis a miraculosa aparição do santo, sob a forma de “fogo-de-santelmo”, durante as aflições vividas em alto mar. Considerando a qualidade plástica e certas marcas compositivas desta imagem – como as dimensões, o queixo boleado com covinha, a dobra dissonante do escapulário e a forma da peanha, ornamentada com flores abertas – é possível situála na órbita da oficina do famoso escultor e entalhador algarvio Manuel Martins (1667-1742), o maior entalhador algarvio na sua época, que além do mais era descendente de um mareante. É interessante notar que, com a extinção do Compromisso Marítimo de Tavira e sua substituição pela Casa dos Pescadores (em 1941), ao abrigo da Lei criada pelo Estado Novo Corporativo (Lei n.º 1953 de Março de 1937), se manteve viva a devoção a São Pedro Gonçalves Telmo, conservando-se este como patrono dos pescadores tavirenses. Isso mesmo se reflectiu na composição do emblema e bandeira da antiga Casa dos Pescadores, claramente inspirados na escultura setecentista do padroeiro. Segundo a heráldica, no emblema lavrado na bandeira entram como esmalte o ouro, representando o sol e significando riqueza, constância e fé; a prata, representando a paz e significando também riqueza; o vermelho, representando o calor e significando força, vida e alegria; o verde representa o mar e significa esperança e abundância; o negro representa a terra e significa firmeza, honestidade e modéstia. As faixas onduladas representam o mar, surgindo destacada a imagem do patrono São Pedro Gonçalves Telmo, com seus atributos e assente sobre uma peanha de ouro onde está escrito o seu nome. Envolve a figura um listel com a designação do organismo em caracteres negros. Com a extinção da antiga Casa dos Pescadores, após o 25 de Abril de 1974, foi esta bandeira transferida para Lisboa. Repousa hoje junto ao Tejo, no Museu de Marinha. [DS] Bibliografia específica CARDOSO, Jorge, Agiologio Lusitano dos Santos e Varões Illustres em Virtude do Reino de Portugal…, Lisboa, Vol. II, Officina Craesbeckiana, 1652-1744. LAMEIRA, Francisco, A Talha no Algarve Durante o Antigo Regime, Câmara Municipal de Faro, 2000. LAPA, Albino, O Compromisso dos Pescadores da Cidade dos «Sete Mártires», Separata do “Boletim da Pesca”, n.º 52, Lisboa, 1956. PEREIRA, Fernando António Baptista, “Santelmo”, in AAVV, A Arte e o Mar, (catálogo de exposição), Fundação Calouste Gulbenkian, 1998, p. 63. VASCONCELOS, Damião, Notícias Históricas de Tavira 1242/1840, (anotações de Arnaldo Casimiro Anica), Câmara Municipal de Tavira, 1989.

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