Espaço Romantizado do Complexo Megalítico da Grota do Medo, Ilha Terceira, Açores -Portugal

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Espaço Romantizado do Complexo Megalítico da Grota do Medo, Ilha Terceira, Açores -Portugal

Félix Rodrigues Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores Campus de Angra do Heroísmo 9700 – Angra do Heroísmo

Resumo De modo a contribuir para o entendimento de lógicas associadas à utilização da paisagem Cultural do Complexo Megalítico da Grota do Medo na ilha Terceira, Açores, Portugal, foi levada a cabo uma recolha fotográfica de objetos e artefactos que se encontrassem à superfície, ou incrustados nas rochas circundantes desse espaço e que permitissem explorar, conjuntamente com fontes históricas, hipotéticos usos recentes ou antigos do Complexo Megalítico. A recolha desse tipo de informação ocorreu durante o ano de 2012. Paralelamente colheram-se ramos e folhas de espécies arbóreas e plantas do local com usos ornamentais na ilha ou noutros locais para serem identificadas com a ajuda de especialistas da área. Uma vez que os dados recolhidos apontam para uma possível romantização de uma pequena área do Complexo Megalítico da Grota do Medo, neste trabalho explora-se única e simplesmente a hipótese colocada sob a forma de questão: “O local terá sido um jardim romântico?”. Encontraram-se cerâmicas do século XVIII ao XIX para além de inscrições em letra capitular quadrada que aponta para o mesmo período. A hipótese sustenta-se no facto de parecer haver no local em estudo um uso romântico que poderá estar relacionado com o facto dos jardins românticos de finais do século XVIII e de todo o século XIX fugirem à rigorosa simetria dos jardins italianos ou franceses, tendo sido os ingleses que começaram a criá-los e a aperfeiçoar a ideia de que um jardim deveria recriar a natureza, concebendo a ilusão, de que pequenas elevações eram montanhas, que charcos de rega eram lagos e que os simples trilhos eram

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caminhos numa floresta encantada. Todos esses elementos paisagísticos parecem estar presentes na Grota do Medo. Capaz ainda de fortalecer a hipótese romântica refira-se a presença, confirmada, de militares ingleses nesse local no período da II Guerra Mundial, que como é sabido, sempre tiveram uma certa predileção pela jardinagem, até aos dias de hoje. Os jardins românticos deveriam induzir sentimentos e diversos estados de espírito aos seus visitantes. Parte dessa lógica parece efetivamente estar presente no local em apreço e uma prova de que existiu um jardim romântico nas proximidades dessas matas, são as ruínas encontradas mais abaixo (Quinta da Pateira) numa propriedade particular distinta, cujas características das construções, bancos, imitação de ruínas, uso de conchas e construção de um pequeno “grotto” (pequena gruta artificial ou natural) que normalmente se encontrava perto de água (tanques) estão presentes e são perfeitamente enquadráveis na lógica dos jardins românticos europeus. Claramente presente, e apenas nas envolvências dos dois torreões do Complexo Megalítico e nas ruínas do Jardim Romântico da senhora Águeda Lopes, encontra-se a espécie Bignonia capensis ou Tecoma capensis que é uma espécie nitidamente ornamental. Trata-se de um arbusto verdejante e muito comum na África do Sul, e que se adaptou claramente ao clima açoriano. Após a análise de artefactos, inscrições, comparação com outros jardins românticos da Europa e análise de fontes históricas, é possível admitir, com alguma segurança, que existiu nas envolvências do Complexo Megalítico e numa pequena área do seu interior, usos românticos da paisagem, mas não claramente um Jardim Romântico.

Palavras-Chave: Paisagem Cultural, Jardim Romântico, Romantismo, História, Adaptação de Espaços Naturais.

Introdução Com este trabalho pretende-se contribuir para o entendimento das ocupações humanas do lugar da Grota do Medo - Pico do Espigão, na freguesia do Posto Santo, Concelho de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores – Portugal, cuja comunicação de descoberta de construções megalíticas no local pelo autor deste artigo, levou a que a Direcção Regional da Cultura dos Açores o integrasse na Carta Arqueológica dos Açores, com o nº de inventário CAA 146-A, que é uma base de consulta pública disponível na plataforma “Centro de Conhecimento dos Açores”. Num artigo intitulado ‘‘The Temporality of the Landscape,’’ Ingold and Bradley (1993) afirmam que a vida é um processo que envolve a formação da paisagem na qual as 2

pessoas vivem. Assim sendo, e na perspectiva desses autores, a paisagem é o testemunho das obras de todas as gerações que passaram, usaram ou viveram num determinado espaço. No mesmo sentido, Appiah-Opoku (2007) refere que as pessoas e as paisagens mudam no tempo, quer através de forças internas como de forças externas que levam a uma redefinição sucessiva dos espaços e das identidades. A ausência de registos históricos que descrevam a ocupação contínua do local em apreço, desde a descoberta da ilha Terceira no século XV até à atualidade, poderá produzir um enviesamento da leitura da paisagem desse local, se se assumir apenas como certo o que tardiamente foi registado ou assumido como resultado da ocupação e identidade da população terceirense com o local. De Reu et al., (2013) alertam para os perigos desses enviesamentos ao referirem que quando estudarmos as paisagens arqueológicas, como é o caso da Grota do Medo na ilha Terceira, se torna efetivamente importante incorporar e compreender as lacunas de conhecimento que poderão estar por detrás dos conjuntos arqueológicos. Afirmam que é preciso ir além do desconhecido, ou de outro modo, tentar conhecer o desconhecido, pois só assim se consegue uma melhor compreensão e interpretação das paisagens do passado e do padrão de distribuição dos artefactos arqueológicos. Esses autores acentuam ainda que se em determinadas circunstâncias, não soubermos lidar devidamente com o desconhecido, as teorias produzidas serão certamente baseadas em conjuntos de dados tendenciosos e não serão mais do que raciocínios circulares e más interpretações. Completude dos dados e confiabilidade nas metodologias de análise são sem dúvida, duas condições importantes na investigação de uma paisagem arqueológica (Reu et al., 2013). Acredita-se que a visão interdisciplinar de uma paisagem cultural arqueológica é a ferramenta fundamental para a sua teorização e interpretação. Assim sendo, há necessidade de observar padrões, sejam eles naturais ou antrópicos, e explorar hipóteses interpretativas, que explicando uma das suas partes, não se poderão generalizar de modo a descrever todos os usos possíveis da paisagem pelas diversas gerações que ocuparam e transformaram um lugar. A visão de exploração arqueológica multidisciplinar de um espaço ou de uma paisagem tem sido descrita por alguns arqueólogos como “Arqueologia alternativa” e é muitas vezes rejeitada por esses profissionais por a considerarem simplista, ridícula e não dar atenção ao paradigma científico dominante que essa classe profissional assume (Pruitt, 2009). A “mainstream” dos arqueólogos classifica como “Pseudoarqueologia” os trabalhos ou ideias que evocam uma certa erudição sem que haja de facto erudição e que confunde o que denominam de “conhecimento real” com “conhecimento alternativo”(Jordan, 2001 3

in Pruitt, 2009). Essa distinção entre “conhecimento real” e “conhecimento alternativo” prece querer indicar uma cerca incapacidade de lidar com a interdisciplinaridade ou então com hipóteses que não sejam validadas por pares profissionais. Pruitt, (2009) ainda vai mais longe ao afirmar que a pseudociência ou pseudoarqueologia é um fenómeno social e que na verdade se demonstra ser, seja ela qual for, inferior à ciência feita na academia e reconhecida pelos seus pares. Tal visão leva a que por exemplo interpretações económicas, biológicas, geológicas ou físicas, entre outras, que não sendo validadas pela “mainstream” de arqueólogos, não seja considerada por esses como ciência se bem que possa ser ciência académica nas áreas científicas anteriormente mencionadas. Não havendo pseudofísica, pseudoeconomia, pseudobiologia ou pseudogeologia, suspeita-se que também não haja pseudoarqueologia. O que certamente existe são teorias deficientes que resultaram de hipóteses iniciais mal formuladas. A arqueologia é entendida como uma ciência social vocacionada para o estudo das sociedades já extintas, estudando-as através dos seus restos materiais, sejam estes móveis ou objetos imóveis e onde também se inclui no seu campo de estudos as intervenções feitas pelo homem no meio ambiente. Ora esse último objeto de estudo da arqueologia é disputado pelas ciências do ambiente e engenharia do ambiente ou até mesmo pela arquitetura paisagística. Se a arte é um produto da cultura, sugerindo uma subjetividade que não precisa ser explicada mas sim sentida, como pode qualquer disciplina almejar ter o “conhecimento correto” das variadas linguagens da arte inequivocamente associadas a um público que lhe dá vida e sentido, e que interage entre a “situação” de quem a produz e a “situação” de quem vivencia a experiência estética, ademais quando essa arte é produzida num tempo sem memória e sem expetadores. Quer-se com isto dizer que o trabalho de leitura de artefactos arqueológicos pode e deve ter tantas leituras quantas as possíveis, no sentido defendido por Reu et al., (2013). Neste trabalho intitulado “Espaço Romantizado do Complexo Megalítico da Grota do Medo, Ilha Terceira, Açores –Portugal” pretende-se explorar apenas uma “camada” da paisagem cultural que aí se encontra, congelando o tempo, e como tal abstraindo-nos de muitos distratores que a envolvem. Tenta-se construir aqui, um encadeamento lógico dedutivo de uma hipótese romântica, de modo a verificar a abrangência explicativa da paisagem construída, tendo por base comparações de artefactos, documentos escritos e identidades locais com essa paisagem, especialmente aquelas que estão associadas a relatos orais. A metodologia utilizada centra-se na exploração de significados, no estabelecimento de paralelismos com outras realidades e na procura de respostas para as questões como: Quem construiu esse espaço? Quando o construiu? E porque o construiu?

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Inscrições com características românticas Existem quatro inscrições em língua portuguesa, perfeitamente identificáveis, entalhadas em paredes e numa construção do Complexo Megalítico da Grota do Medo. Numa das construções megalíticas, a que possui um sistema de captação de água arcaico, existem duas inscrições: uma no interior e outra no exterior. A da interior localizada numa grande pedra sobre um tanque interior de recepção de água, menciona uma ninfa pelo epíteto “Fonte Castalia” (ver figura 1) e a do exterior, fixada sobre uma das pedras que fazem o teto, menciona um poeta: “Gruta de Camões”. Mais adiante, do lado direito do passadiço ou ruela que liga o principal núcleo do complexo megalítico, encontra-se esculpido num dos blocos traquitos do afloramento rochoso, sobre uma pequena fratura da qual brota sistematicamente algumas gotas de água por minuto, quer de verão quer de inverno, a inscrição “Fonte dos Pombos”.

Figura 1- Inscrição (Fonte Castalia) numa das pedras gigantes que constituem o tecto de uma das construções megalíticas do Complexo Megalítico da Grota do Medo. Mais adiante, e também num bloco de traquito do afloramento vertical do lugar, a cerca de 20 metros da inscrição anterior, encontra-se outra que designa esse morro, que 5

contém um torreão, por “Penedo de S. Pedro”. A palavra penedo é muito pouco usual nos Açores, sendo as mais comuns utilizadas como sinónimo dessa palavra, “rochedo”, “grota” ou “morro”. As letras ou caracteres capitulares quadrados encontrados neste espaço estão claramente baseados em conceitos geométricos, aparentando terem sido desenhados sobre uma grelha, num estilo próximo do “Roman du Roi”, “Didot” ou “Bodoni” (ver figura 2). O estilo “Roman du Roi” apareceu no reinado do monarca francês Louis XIV, que nomeou uma comissão real, composta por dez especialistas, para propor “o mais belo estilo de letras” para uso exclusivo da Imprimerie Royale. O estilo proposto foi o de Philippe Grandjean, adotado em 1702 e que mais tarde se rebatizou por “Roman du Roi”. O “Roman du Roi” foi o único tipo de letra usado na Imprimerie Royale francesa até 1811 (Jammes, 1985). Das inscrições anteriormente referidas, só a letra E não é claramente coincidente em algumas epígrafes com esse estilo, aproximando-se mais dos estilos de Didot e Bodoni. O estilo Bodoni, desenhado pelo italiano Giambattista Bodoni, aparece nos finais do século XVIII e pode-se afirmar que é uma evolução da letra romana utilizada nos monumentos históricos (MacGrew, 1993). Essas letras possuíam, à semelhança do que encontramos nas inscrições da Grota do Medo, um contraste acentuado entre linhas finas e linhas grossas.

Figura 2- Estilo “Roman du Roi” à esquerda, estilo Didot, no canto superior direito, e estilo Bodoni, no canto inferior direito.

Dado o anteriormente exposto, pode-se afirmar que as inscrições da Grota do Medo, alusivas a outros locais ou a Camões, são claramente do século XVIII ou posteriores.

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O tipo de letra das inscrições do Complexo da Grota do Medo, bem como os locais a que essas inscrições aludem podem efetivamente remeter-nos para o período romântico português. O Romantismo em Portugal só surgiu como movimento no século XIX. É um período que pode ser caracterizado como um apelo ao individualismo, exaltando o sentimento, a emoção e a genialidade (França, 2004). No período romântico, o “Jardim” é um dos elementos indispensáveis, caracterizado por um arranjo paisagístico, simulando ou melhorando a natureza, onde se integra o edifício, bem como pavilhões puramente cenográficos, falsas ruínas e/ou pagodes. O Jardim Romântico opõe-se ao Jardim Geométrico de tradição barroca, tornando-se claramente um reflexo da mentalidade romântica e do individualismo. Será então o Complexo Megalítico da Grota do Medo um Jardim Romântico, ou pelo menos parte dele? Parecem existir no local alguns indícios físicos que sugerem essa hipótese ou que nos levam para esse tipo de leitura, mas faltam muitos outros elementos. Corroboraria a hipótese o estilo de letra utilizado nas inscrições encontradas. A paisagem do local é perfeitamente compatível com um espaço que facilmente se adaptaria a um jardim romântico. Por outro lado, na envolvência do Complexo encontram-se casas senhoriais, cujos proprietários possuíam, provavelmente, bens e conhecimentos necessários para transformar esse local num Jardim Romântico. Por outro lado, mais abaixo, a menos de 100 m da estrutura megalítica denominada Gruta de Camões encontram-se as ruínas de um jardim romântico, provavelmente do século XIX, mas com azulejos e cerâmica que nos remetem para um período ainda mais amplo: todo o período que vai do século XVII ao XIX.

Jardim ou Jardins Românticos da Quinta da Pateira A Quinta da Pateira foi pertença dos Jesuítas no século XVIII (Direcção Regional de Cultura, 2012), o que justifica a designação dada ao lugar de “Gruta de Camões”, por populares da ilha, como o “Jardim dos Padres”, de acordo com inquérito realizado à população (Vieira et al., 2013). Os vestígios de um Jardim Romântico do Século XIX da Quinta da Pateira não estão integrados no Inventário Municipal do Património de Angra do Heroísmo, nem inseridos em nenhum núcleo histórico da Terceira ou dos Açores, podendo ser vandalizados ou pura e simplesmente derrubados. Não se trata de um conjunto que produza espanto pelo tipo de ocupação, o que é estranho é localizar-se em metade da área de uma pastagem.

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Por um portão tosco, ao qual se seguem duas escadarias em V (ver figura 3), acede-se ao cerrado que contém os vestígios de jardim romântico, agora transformado em pastagem para gado.

Figura 3- Escadaria de acesso ao espaço que constituiria um dos núcleos de um dos Jardins Românticos da Quinta da Pateira. O ponto principal do Jardim parece ser um frontão onde se incrustaram quatro azulejos aparentemente idênticos aos descritos por populares para aqueles que hipoteticamente existem soterrados no interior de um “grotto” ou capela, debaixo de um torreão no Complexo Megalítico e que apresentam uma ornamentação de motivos entrelaçados, não muito comum, com policromia nos tons de azul e amarelo típicos da azulejaria do século XVII (ver figura 4). Esses azulejos têm semelhanças com os que se veem no frontal de entrada do Convento de Santa Cruz do Buçaco e onde se lê: "Frontal do altar da antiga Capela da Encarnação com azulejos de Lisboa de cerca de 1640". Esses azulejos bem que poderiam ser restos da antiga Capela Jesuíta construída no local e que deu origem à atual Capela de Nossa Senhora de Lourdes e que se crê, segundo informações de populares ter sido designada por “Capela de Nossa Senhora da Lapa”. A quinta da Pateira pertenceu primeiramente aos Jesuítas (Enciclopédia Açoriana, sd). Albergaria, (1997), afirma que não existe uma tipologia portuguesa, onde nessa análise a autora inclui os espaços insulares, que se ajuste perfeitamente ao tema “da gruta” nos jardins, e que vindo do Renascimento chega ao Romantismo com muitas variantes. Afirma ainda a autora que os embrechados em Portugal aplicam-se quase sempre no revestimento de nichos, fontes e outros lugares com água e muito raramente no interior de capelas.

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Figura 4- Azulejos em policromia azul, branco e amarelo, com semelhanças com azulejos portugueses do século XVII.

Os embrechados encontrados, no que parece ser um Jardim Romântico do século XIX, decoram os bancos, os pequenos “Grottos” e algumas escadarias. Correspondem, como se pode verificar na figura anterior a uma composição com louças de várias proveniências, conchas originárias de outras localizações e pedra de bagacina vermelha encordoada, típica da ilha Terceira. No centro desse jardim encontra-se um banco de pedra trabalhada de forma clássica, um tanque com jacintos-de-água (Eichhornia crassipes) e um pequeno “grotto” decorado com conchas e pedaços de faiança, como elementos ornamentais e definidores de uma geometria completada por dois tanques maiores, para os quais corre um pequeno fio de água que os mantêm repletos de água (ver figuras 5).

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Figura 5 – Ruínas do centro de Jardim Romântico da Quinta da Pateira.

Provavelmente para limitar o patamar superior do jardim encontram-se pilares ou pegões, também alguns deles com embrechados de faiança e que agora, de forma completamente atípica estão incrustados em paredes de cerrados e barracões (ver figura 6). O jardim aparenta ser de sombra romântico, típico do século XIX, com planta em «L», com fonte com embrechados e lagos, um deles de forma quadrangular, mais atípico, colocado entre os tanques do tipo bebedouro para gado e outro nitidamente ornamental, com conchas e embrechados nas bermas, na cabeceira e na parte de trás da cabeceira.

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Figura 6 – Pegão incrustado em parede, semelhante a três outros que se encontram no interior do Complexo Megalítico da Grota do Medo, um deles com embrechados de faiança portuguesa do século XVIII.

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O muro que dá continuidade ao “Grotto” e no qual encaixam os dois tanques semelhantes a bebedouros para o gado, é revestido por uma argamassa contendo argila e cal, sendo encimado por uma cornija com nervuras, corretamente trabalhadas e que parecem servir para arremate superior de uma obra de arquitetura. As pedras do muro são quadrangulares e parecem encastradas (ver figura 7).

Figura 7 – Muro e cornija que se situam por detrás dos tanques tipo bebedouros para gado. Em frente ao grande banco deste jardim romântico encontra-se uma cisterna que provavelmente serviria para rega de todo o jardim romântico, sobrando apenas como planta ornamental do lugar a Bigonia capensis, como se pode observar na figura 3. A casa que parece estar associada a esse jardim romântico é uma edificação rural que cumpre provavelmente duas funções: armazenamento de produtos agrícolas, provavelmente laranjas, pois ainda se encontram algumas velhas laranjeiras nas suas proximidades, e residência temporária ou de veraneio. Tem características arquitetónicas que podem ser imputadas ao século XVIII-XIX (ver figura 8). Por outro lado no século XVIII abundavam os laranjais na Quinta da Pateira, o que justificaria o seu uso agrícola. 12

Do Banco do Jardim Romântico observa-se uma paisagem que abarca toda a área da ilha desde a Serra da Ribeirinha ao Monte Brasil. Nesse local ainda se observam as ruínas de pocilgas, local de criação de coelhos e capoeiras, cujas escadas de acesso possuem também embrechados e que se suspeita serem construções do mesmo período, ou então construídas a partir da reutilização de materiais do Jardim Romântico.

Figura 8 – Casa rural que se julga estar associada ao Jardim Romântico (A casa e as propriedades envolventes são pertença do mesmo dono, bem como parte da mata na qual se encontra uma fração do Complexo Megalítico). 13

A ideia que se tem quando se observam os embrechados do local e os milhares de pedaços cerâmicos dispersos pelas pastagens circundantes, é muito semelhantes àquela que Albergaria (1997) descreve para os embrechados do Palácio Fronteira em Lisboa: “É tradição aceitar que os embrechados do palácio Fronteira resultaram de um enorme banquete, durante o qual os convivas se entretiveram a partir um serviço inteiro da Companhias das Índias”. Albergaria (1997) afirma que em Portugal os embrechados constituem-se um conjunto de peças bicromes, pintadas com a decoração clássica chinesa. No caso em apreço tal não acontece, mas os fundos dos pratos partidos deixam ver, tal como a autora anteriormente referida sugere, motivos florais, pássaros, casas, castelos, pagodes, etc (ver figuras 9, 10 e 11).

Figura 9 – Pedaços de faiança inglesa do século XVIII-XIX com motivos de casas e castelos.

Figura 10 – Pedaços de faiança inglesa do século XVIII-XIX com motivos florais a verde. 14

Figura 11 – Pedaços de faiança inglesa do século XVIII-XIX com motivos florais a azul. Albergaria (1997) afirma que muito raramente os embrechados em Portugal se aplicavam ao interior das capelas. No Complexo Megalítico da Grota do Medo, existe uma estrutura tipo torreão, com duas escadarias de acesso, uma pela parte de cima do monte ou colina onde este se insere, e outra, pela parte de baixo, ou seja pelos cerrados que lhe ficam defronte. De acordo com o senhor António Câmara de 64 anos, residente na freguesia do Posto Santo, no interior desse torreão existia uma Capela, ou pela descrição que faz, um “Grotto” que, na parede do fundo tinha “desenhada com pedaços de azulejo brancos, azuis e amarelos uma Nossa Senhora ou uma Rainha”. Essa Capela ou “Grotto” (ver figura 12) desmoronou-se, provavelmente no sismo de 1980 que abalou Angra do Heroísmo, pois no pequeno pátio rectangular, em frente a essa estrutura, de dimensões 5m x5 m, completamente invadido por Bigonia capensis, e onde se encontra uma pedra abandonada com a inscrição “1974”, que nada tem a ver com o período romântico português, podendo apenas significar que o local está impregnado de camadas de “usos”. Ora, a hipotética capela que se localiza por debaixo do torreão onde ainda se observa um arco, tinha embrechados com azulejos aparentemente do século XVII, semelhantes aos do jardim romântico próximo, podendo existir aí resquícios interessantíssimos de construções desse século. A capela ou “Grotto”, por debaixo do torreão a que nos estamos a referir, dificilmente faria parte do mesmo Jardim Romântico, propriedade da senhora Águeda Lopes, pois as paredes divisórias de propriedades entre essa estrutura e as anteriores dificultam imenso o trajeto entre os dois locais.

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Figura 12 – Interior de um torreão do Complexo Megalítico da Grota do Medo, onde ocorreu o desabamento da cúpula. O que é incomum no torreão em apreço, quando comparado com outros torreões da ilha Terceira é o duplo acesso ao topo, com uma larga escadaria que acede a um patamar

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intermédio, do qual se domina uma parte da paisagem da Vinha Brava, acedendo-se desde aí diretamente ao que poderia ser um “Grotto” ou Capela (ver figura 13).

Figura 13 – Escadaria de entrada ao primeiro patamar do torreão, do qual se acede ao “Grotto” ou Capela.

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A segunda escada (ver figura 14) que acede ao topo do torreão inicia-se na mata do Pico do Espigão, não se percebendo, na atualidade, quem é efetivamente o proprietário da estrutura. A estrutura foi parcialmente construída no que é hoje propriedade do senhor Paulo Ferreira, mas a primeira escada foi construída a partir da atual propriedade da viúva do senhor Luís Rodrigues, assentando parte do torreão no afloramento traquítico do local, que é uma divisão natural de propriedades.

Figura 14 – Escadaria de acesso ao topo do torreão com “Grotto” ou Capela no seu interior. Uma hipótese interpretativa para a existência desses dois conjuntos de escadas para um mesmo torreão leva a supor que os seus construtores tenham sido proprietários de ambos os terrenos, os da parte de baixo e os da parte do Pico do Espigão, sendo bem provável que tenham sido os Jesuítas no século XVII-XVIII. Do cimo do torreão a paisagem é magnífica, constituindo-se num retrato vivo que conta parte da “história do lugar”, contendo alguma diversidade ecológica e onde aparenta que os seus atributos naturais e geológicos tenham mantido a sua integridade ambiental desde o seu passado até à atualidade. Pela estética e cenário paisagístico, o torreão em apreço poderia ser considerado uma peça do romantismo português, mas parece ser improvável que tenham sido os Jesuítas a construí-lo, especialmente porque a maioria

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desses jardins aparecem após a expulsão dos Jesuítas de Portugal pelo Marquês de Pombal (ver Decreto de expulsão dos Jesuítas, 3 de Setembro de 1759). Que outros indícios existem então no Complexo Megalítico da Grota do Medo, numa área de cerca de 2000 m2 (quando o Complexo ocupa cerca de 25 ha) que poderá ser relacionado com o período romântico Português? De facto existem pelo menos três pilares partidos e um inteiro, com embrechados de louça portuguesa do século XVIII nas proximidades da estrutura megalítica denominada Gruta de Camões (ver figura 15).

Figura 15 – Pilar com embrechados de faiança portuguesa do século XVIII.

Se a área de 2000 m2 em questão fosse um jardim romântico, e os pilares constituíssem um argumento sólido para tal hipótese, seria muito difícil explicar que sendo essa área o principal núcleo, a sua tipologia se afastasse tão drasticamente do Jardim Romântico localizado mais abaixo, sendo aí que se encontra a maior a densidade de pilares reutilizados em construções posteriores (ver figura 16).

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Figura 16 – Parede que incorpora quatro pilares contendo embrechados de faiança portuguesa do século XVIII. Os pilares com embrechados estão todos na propriedade da senhora Águeda Lopes, que também é dona de parte da mata onde se encontram pilares paralelepipédicos e hexagonais. A flora dessa área de cerca de 2000 m2 é exótica e de alguma forma se poderia também enquadrar num jardim romântico do século XVIII-XIX. No ponto seguinte explorar-se-á a sua diversidade. A flora do espaço romantizado do Complexo Megalítico da Grota do Medo A paisagem do local é perfeitamente adaptável a um jardim romântico. Por outro lado, na envolvência do Complexo Megalítico encontram-se casas senhoriais, cujos donos possuíam, provavelmente, posses e conhecimentos necessários para transformar esse local num Jardim Romântico. Normalmente os jardins românticos possuíam árvores exóticas como os eucaliptos ou até mesmo faias ou incensos (Pittosporum undulatum) cujas flores libertam um aroma muito agradável. Em Portugal, a introdução do eucalipto surge em meados do século XIX através dos “amantes das plantas" que o encomendavam a viveiristas estrangeiros (Nature in Action, 2013). A espécie mais usada era o Eucaliptus globulus, uma das que se encontra em maior abundância na área em estudo.

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No Complexo da Grota do Medo, os eucaliptos centenários que aí se encontram são efetivamente da espécie Eucaliptus globulus, usada frequentemente nos Jardins Românticos. A idade estimada dessas árvores pode rondar um século, no máximo dois séculos, remetendo-nos mais uma vez para finais do século XVIII, ou em termos de proximidade com a nossa época, para finais do século XIX. Também faziam parte dos jardins românticos de meados do século XIX, plantas como o incenso ou pitósporo (Pittosporum undulatum) (Rosa, 2013), que no caso em apreço domina parcelas da mata, especialmente as mais abandonadas. O Pittosporum undulatum tornou-se uma infestante nos Açores e invade praticamente todos os ecossistemas açorianos de baixas e médias altitudes. Assim sendo, era esperado encontrar essa espécie numa mata abandonada. O que não era expectável era que esses arbustos adquirissem dimensões tão grandes e portes arbóreos de elevadas dimensões, como aqueles que aí encontramos. A morfologia das árvores dessa espécie apontam também para plantas centenárias, mesmo tendo a espécie em questão caracter invasor. Há nesse recinto, perfeitamente identificáveis fetos arbóreos (Cyathea cooperi) de dimensões consideráveis, também típicos dos Jardins Românticos, mas com idades aparentes, muito menores do que aquelas que se podem associar aos eucaliptos ou incensos. Esses fetos arbóreos foram introduzidos em Portugal apenas no século XIX (Rosa, 2013) e crescem nos Açores por vezes espontaneamente. A sua presença em determinados pontos estratégicos, ou a aleatoriedade da sua distribuição nas matas poderá ajudar a corroborar a hipótese do local em apreço ter sido um jardim romântico. Excetuando um feto arbóreo, que se parecia localizar estrategicamente na proximidade da construção megalítica com a inscrição “Gruta de Camões”, os restantes dez que foram identificados, possuem uma distribuição aparentemente errática. Alguns desses fetos foram destruídos pela tempestade tropical Nadine que assolou a ilha Terceira a 20 de Setembro de 2012. Com essa tempestade também foram derrubados alguns grandes eucaliptos e incensos, para além de algumas paredes e pedras existentes nesse complexo, podendo classificar-se o grau de destruição ocorrido, como ligeiro. Encontra-se na mata da Grota do Medo a espécie invasora Solanum mauritianum Scopoli (Solanaceae), uma solanácea nativa do sudeste brasileiro, conhecida localmente como “Fona-de-porca” ou “tabaqueira”. Essa planta naturalizou-se em África, Australásia, Índia, ilhas do Atlântico, Indico e Pacífico, provavelmente introduzida nesses locais através das navegações portuguesas do século XVI (Roe, 1972). Ainda presente na mata do Complexo Megalítico da Grota do Medo encontram-se as espécies de fetos como as: Culcita macrocarpa e Woodwardia radicans. Dias (1996) refere que estas espécies de origem mediterrânea fazem parte de populações relíquia que existiram no continente europeu e que não são mais do que elementos fósseis da flora do Terciário. Esses fetos Culcita macrocarpa popularmente conhecido como “feto21

cabelinho” e Woodwardia radicans estão associados às formações de florestas e matos temperados húmidos. Também no local se encontra pelo menos uma espécie endémica dos Açores, a Hedera azorica, popularmente utilizada nos jardins da ilha, pois as heras, especialmente a Hedera helix, estavam associadas a imagens de fecundidade e abundância além de produzirem um viçoso jardim verdejante. Não há forma de garantir que a Hedera azorica foi plantada no local, pois sendo endémica dos Açores e ocupando baixas altitudes da ilha, não nos permite afirmar que tenha havido qualquer intenção para a sua introdução nesse local. Dias (1996) afirma que a hera endémica dos Açores é um elemento fundamental do sub‑bosque das florestas açorianas de baixa altitude. Claramente presente, e apenas nas envolvências dos dois torreões do Complexo megalítico, encontra-se a espécie Bignonia capensis ou Tecoma capensis que é uma espécie nitidamente ornamental, introduzida em Portugal no século XIX-XX (Rosa, 2013). Trata-se de um arbusto verdejante e muito comum na África do Sul, e que se adaptou claramente ao clima terceirense. Os botões das flores da Bignonia capensis são amarelos, laranja ou vermelhos e assemelham-se a uma trompete. A planta em questão dispersa-se facilmente nos matos adjacentes, tendo potencial invasor. Ainda se identificaram no local do Complexo Megalítico plantas como Quercus robur, Cyathea cooperi , Blechnum spicant, Psidium littorale e Crinum moorei. Acreditou-se que um levantamento de todas as espécies presentes no local ajudaria a corroborar ou não a hipótese de o lugar ter sido transformado num jardim romântico no século XVIII – XIX mas, objetivamente, nada se pode concluir quanto a isso porque muitas dessas plantas existem noutros locais sem que estes sejam Jardins Românticos. A incaracterística Gruta de Camões Há inequívocas pistas materiais que apontam para um uso romântico de uma pequena área do Complexo Megalítico da Grota do Medo, entre elas, as alusões a outros locais subjacentes às inscrições em letras capitulares quadradas aí encontradas. Uma importante referência do romantismo era a “Fonte Castália”, uma nascente de água junto da antiga cidade grega de Delfos que, segundo a lenda, dela jorravam águas puras e cristalinas. Situada na base do Monte Parnaso, a norte do golfo de Corinto, a Fonte Castália, consagrada a Apolo, estava rodeada por um pequeno bosque de loureiros. Era espectável que, havendo esse conhecimento profundo do romantismo, e a estrutura fosse uma construção tipo “falso Cromeleque” tal como sucede no Jardim Romântico da Pena em Sintra, que ao seu redor se mantivessem algumas árvores endémicas de Laurus azorica.

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Não se encontra na atualidade nenhum loureiro próximo da Gruta de Camões todavia existem, outras áreas arborizadas desse complexo megalítico onde o Laurus azorica x nobilis, abunda. Por outro lado, havendo já no local uma pequena fonte ou captação de água, rodeada de loureiros, alguém conhecedor da mitologia grega, facilmente a associaria à “Fonte Castália”. Na mitologia grega, divindades como deusas menores do canto e da poesia e musas, reuniam-se com as ninfas da água fresca, as náiades, uma delas a própria Castália, junto à fonte na base do Monte Parnaso. Pelo que se acabou de expor a gravação nas pedras da Grota do Medo da inscrição “Fonte Castália” junto a um sistema, aparentemente arcaico de captação ou armazenamento de água, e nas proximidades de uma minúscula escorrência de água denominada de “Fonte dos Pombos” corrobora a hipótese de que pelo menos parte do local tenha sido romantizado, todavia, não explica se as construções desse local foram construídas ou reutilizadas, por isso continua-se a explorar essa hipótese. No local com a inscrição “Fonte Castália” existe um pequeno nicho, que aparenta ter sido construído num período posterior ao da estrutura megalítica e que se assemelha à fonte helenística ou romana de Delfos (ver figura 17), bem como, a incrustação de cauris (conchas vindas do Índico que por exemplo serviam de moeda em Angola) com uma argamassa grosseira de argila e cal (ver figura 18). Foram descobertas conchas cauris, no abrigo de rochas Cro-Magnon em Les Eyzies, cobertas por um pigmento de cor ocre vermelho, que simbolizava o sangue, e que estavam intimamente ligados, na pré-história, ao ritual de adoração de estatuetas femininas. Nessas escavações realizadas em França encontraram-se estatuetas, chamadas vénus neolíticas (Eisler, 2008). Quer isso dizer, que a presença de cauris e a sua utilização em embrechados não contribui para acentuar a lógica romântica, pois remetem-nos para hipóteses temporais muito amplas, desde a pré-história ao século XIX. Curioso é que esses cauris tenham sido incrustados conjuntamente com pedra de bagacina vermelha, cuja cor é próxima do ocre vermelho. Todavia, a lógica e uso de conhas incrustadas em pedras, e a construção de um pequeno “grotto” (pequena gruta artificial ou natural) ou pequenos nichos que normalmente se encontram perto de água (tanques), está presente na “Gruta de Camões”, num torreão e noutras propriedades privadas da Quinta da Pateira, e são perfeitamente enquadráveis, com coerência nos jardins românticos europeus.

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Figura 17 – Fonte Castália, em Delfos.

Figura 18 – Embrechados de cauris e pequeno nicho (lado superior esquerdo) no interior da Gruta de Camões. Há assim uma aparente replicação na Gruta de Camões de um dos pequenos nichos romanos escavados na rocha que, em Delfos, serviam, tal como referido anteriormente, para receber oferendas para os deuses. A Fonte Castália, segundo as lendas greco-romanas, emitia vapores alucinogénios que provocavam, ao oráculo de Delfos, os sonhos e visões que lhe permitiam predizer o futuro. 24

Há no contexto da inscrição “Fonte Castália” na construção megalítica designada por Gruta de Camões, aqui referida, um conjunto de lógicas que convêm sistematizar: a) O termo fonte, não se refere a uma fonte, mas a um local artificializado para captar água. b) Existe um nicho na rocha com semelhanças ao da Fonte Castália romana, onde este último servia para depositar oferendas aos deuses, o que pode conduzir-nos a uma utilização mística desse local. c) A inscrição “Fonte Castália” é manifestamente uma metáfora romântica, mas a réplica ou construção de um nicho parece não o ser. d) A inscrição “Fonte Castália” não está num local visível e imediatamente percetível, está como que escondida, parecendo querer com isso assinalar-se um local secreto, ou então, resultou do aproveitamento de uma parte mais plana da rocha, que aparenta ter sido partida e alisada no local da inscrição. e) Encontra-se um alisamento das rochas em todos os locais com inscrições que designámos de românticas, como que querendo apagar outra inscrição que aí existia, mas isso não passa de uma mera hipótese especulativa. O que é claro é que a patina das rochas do local de inscrição foi removida e é completamente diferente da patina natural, parecendo conter por debaixo dessa traços difíceis de classificar em naturais ou antrópicos. f) É estranho que se o objetivo desse lugar fosse reproduzir o ambiente ou a mística da “Fonte Castália”, onde o oráculo de Delfos, depois de beber a água da fonte entre vapores de enxofre, mascava folhas de louro (a árvore sagrada de Apolo) para entrar em transe ou "delírio divino", quando transmitia as palavras do deus, não se tivessem plantado, o que era relativamente fácil, loureiros em torno do local, e também porque se encontram alguns pequenos exemplares de Laurus azorica noutros pontos do bosque, não muito distantes dessa construção. g) A ausência de loureiros centenários no local e em redor da “Fonte Castália”, contrariamente ao que acontece com outras árvores aí presentes, encaminha-nos para uma justificação incompleta dos indícios que aí se encontram, no sentido das infraestruturas terem sido construídas para um jardim romântico. Centremo-nos agora na construção megalítica que contêm a inscrição na parte superior frontal “Gruta de Camões” (ver figura 19), e que nos remete, mais uma vez para a poesia, quiçá para o romantismo. Está associada à grande obra de Camões, Os Lusíadas, um conjunto de lendas, entre as quais se encontra uma que refere que o poeta vivia em Macau numa espécie de desterro, incitado por invejas e inimizades em Portugal. 25

Conta ainda a lenda que depois de escrever Os Lusíadas, Luís de Camões se despediu da famosa gruta de Patane, em Macau, quando já se encontrava a bordo da Nau de Prata que o traria de volta a Portugal.

Figura 19 – Construção Megalítica designada por “Gruta de Camões” (Fotografia de António Araújo). Não se sabe exatamente onde ficava a Gruta de Patane, todavia julga-se que seria perto da atual. A atual gruta de Camões fica situada à entrada do morro de Patane no Jardim Luís de Camões. Em chinês Patane (Pá Kap Chau) quer dizer “ninho da pomba branca” (Gambeta, 2012). Coincidentemente, umas das inscrições encontradas no Complexo Megalítico, “Fonte dos Pombos”, também nos remete, embora que indiretamente para a “Gruta de Camões” pela alusão à pomba ou pombo. 26

O jardim/gruta de Camões é um dos mais antigos em Macau. No século XVIII, de acordo com Gambeta, (2012), situava-se numa elevação densamente florestada que estava dentro dos terrenos da casa ocupada pelo administrador da Companhia das Índias Orientais. Os ingleses da Companhia das Índias Orientais saíram de Macau em 1835 e o proprietário português desse espaço mandou construir aí uma gruta para albergar o busto de Luís de Camões. A Gruta de Camões em Macau é formada por três grandes rochas dispostas em dólmen, sendo uma construção megalítica tal como a que se encontra na ilha Terceira, no entanto restam muitas dúvidas sobre o que seria efetivamente a “Gruta de Camões” em Macau. Na figura 20 apresenta-se uma litografia da Gruta de Camões em Macau de 1810 a 1825, editada pela Região Administrativa Especial de Macau (2012) e com o título: “Vista da Gruta de Camões em Macau, no Parque Drummond”.

Figura 20 – Postal de Macau da Gruta de Camões no Parque Drummond. (Região Administrativa Especial de Macau, 2013a). Também do mesmo período, entre 1810 e 1825, encontra-se entre os postais de Macau, editados pela Região Administrativa Especial de Macau (2013b) um que corresponde à aguarela de James Wathen (ou Jimmy Sketch) que representa a Gruta de Camões (ver figura 21).

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Figura 21 – Postal de Macau da Gruta de Camões (Aguarela de James Wathen ou Jimmy Sketch) (Região Administrativa Especial de Macau, 2013b). Repare-se que no mesmo período, de 1810 a 1825, outros artistas representam a Gruta de Camões em Macau diferentemente das imagens anteriores, como é o caso da figura 22 cujo postal é uma reprodução do desenho de Thomas e William Daniel (Região Administrativa Especial de Macau, 2013c).

Figura 22 – Postal de Macau da Gruta de Camões (desenho de Thomas e William Daniel). (Região Administrativa Especial de Macau, 2013c). No entanto, mais tarde, em 1843, a Gruta de Camões era gravada pelo inglês Thomas Allom, como na figura 23.

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Figura 23 - Gravura do mirante da Gruta de Camões de autoria de Thomas Allom, 1843. (Dias, 2013). Quando comparamos as várias visões da Gruta de Camões em Macau, de facto existem algumas coincidências entre elas, todas têm um pagode no cimo, típicos dos jardins românticos europeus e dos ideais paisagísticos românticos ingleses. Na atualidade, a Gruta de Camões em Macau é muito distinta daquela que foi representada pelos artistas ingleses (ver figura 24).

Figura 24- Gruta de Camões em Macau (fotografia de Rogério Luz)

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A atual Gruta de Camões é construída com dois blocos laterais, formando duas paredes quase paralelas que distam entre si 135 cm, num prolongamento de 332 cm e com uma altura de 450 cm. O terceiro bloco megalítico assenta sobre os dois primeiros protegendo do sol e da chuva o pedestal e o busto do poeta, havendo ainda nos lados do plinto, entre os rochedos laterais, uma estreita passagem (Gambeta, 2012). Existem algumas semelhanças entre a Gruta de Camões em Macau e a Gruta de Camões na Terceira: em ambas foram usadas pedras gigantes, formando uma construção tipo dólmen. No entanto, a forma das duas “Grutas” não são semelhantes em geometria, não aparentando uma ser a réplica da outra. O que também parece ser comum nos dois locais longinquamente distantes, é a brutalidade e arcaísmo das construções. Voltando à cronologia da construção da atual Gruta de Camões em Macau, tal como se referiu anteriormente, o Jardim que a alberga é historicamente importante, tendo sido criado em meados do século XVIII, como jardim da mansão de um rico comerciante português, tendo sido, anos mais tarde, alugado à Companhia das Índias Orientais onde foi instalada a sua sede no palacete aí existente. Extinta em 1833 a Companhia das Índias Orientais, a propriedade voltou à posse dos descendentes da família proprietária, e o Comendador Lourenço Marques, que herdou o jardim, tendo sido um dos grandes admiradores de Camões, mandou colocar, em 1840, um busto em gesso do poeta, o pedestal e a pedra com os versos de Rienzi, na gruta formada por três grandes penedos. Este busto foi em 1866 substituído pelo atual, em bronze, da autoria do artista português Bordalo Pinheiro (Gambeta, 2012). A palavra penedo, pouco usual na ilha Terceira, também está inscrita num dos blocos do afloramento traquítico do Pico do Espigão (Penedo de S. Pedro), podendo ser uma alusão ao uso corrente da palavra penedo em Macau, ou designa outro local sem clara associação com esse antigo território português. Os ingleses, no século XVIII, eram amantes da arte paisagística. Em Macau, a par dos negócios mandavam vir jardineiros de Londres que, em finais do século XVIII e princípios do século XIX, além de terem ajardinado o espaço, usaram-no como local de recolha de plantas exóticas, que depois enviavam para Inglaterra, nomeadamente para os Jardins Botânicos de Kew (Luz, 2012). Ora se a Gruta de Camões da ilha Terceira pretendia ser uma imitação da Gruta de Camões em Macau, essa estrutura tipo dólmen teria sido construída por meados do século XIX. Se não é uma imitação do monumento macaense, e sendo construída no século XVIII, antes da Gruta de Camões de Macau, então poderia tratar-se, embora tosco, do primeiro monumento ao poeta maior da Língua Portuguesa: Luís de Camões. Em Macau, gravados numa parede em frente à gruta estão os versos extraídos do “Camões” de Almeida Garrett, publicado em 1825; cinco quadras em latim de J. F. 30

Davis, escritas em 1831; um soneto em inglês de D. Bowring, de 30 de Junho de 1849; o soneto do renascentista italiano Tasso, dedicado a Vasco da Gama; duas quadras em espanhol de D. Humberto Garcia de Quevedo, de 1829, outras duas de Francisco Maria Bordalo, de 1851; uma Homenagem em português e chinês, respetivamente dos escuteiros de Nuno Alvares e da Escola Yut Vá, gravadas em Junho de 1932 e no interior da Gruta, ao lado esquerdo de quem entra está uma pedra com dez dísticos do malogrado poeta francês Luis de Rienzi, de 30 de Março de 1827, que se suicidou em França em 1844 (Gambeta, 2012). Se a Gruta de Camões na ilha Terceira fosse uma cópia da Gruta de Camões em Macau, era de esperar encontrar gravado algum poema ou algo mais do que apenas a menção à “Fonte Castália”, ninfa inspiradora dos poetas, mas tal não acontece. Tal pertinência tornar-se-ia óbvia principalmente porque Almeida Garrett, considerado um dos principais e primeiros escritores românticos portugueses, viveu parte da sua vida na ilha Terceira, enquanto adolescente, e aqui retornou mais tarde durante o período liberal. Da análise das inscrições de apenas uma construção megalítica do Complexo da Grota do Medo e do enquadramento biofísico do espaço envolvente dessa estrutura tipo dólmen, parece claro que houve uma tentativa de romantização desse espaço. Se a flora presente no local, bem como o tipo de letra e a significação romântica das inscrições da Grota do Medo nos parecem remeter para os primórdios do romantismo português, início do século XIX, de imediato nos surge a questão: Quem poderia estar por detrás de tal ou tais lógicas? O nome de Almeida Garrett seria o primeiro a surgir, seguindo-se o do proprietário da Ermida de Nossa Senhora de Lourdes, junto ao Complexo Megalítico, e posteriormente Bispo de Macau: D. João Paulino de Azevedo e Castro. D. João Paulino de Azevedo e Castro foi o proprietário da Ermida de Nossa Senhora de Lourdes, junto ao Complexo Megalítico. Também foi Bispo de Macau entre 1902-1918, tendo doado a Ermida ao Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo aquando da sua ida para esse antigo território português. D. João Paulino de Azevedo e Castro sucedeu a D. José Manuel de Carvalho, Bispo de Macau entre 1897-1901 e Bispo de Angra entre 1902-1904, tendo sido este último a proceder à cerimónia de Sagração, em Angra do Heroísmo, de D. João Paulino, seu sucessor em Macau. Se as inscrições românticas do Complexo Megalítico da Grota do Medo se devem a D. João Paulino de Azevedo e Castro esta foram produzidas nos finais do século XIX, princípio do século XX, sendo posteriores à construção da Gruta de Camões em Macau. Sistematizemos então os conjuntos de argumentos e considerandos lógicos, em torno da construção megalítica designada por Gruta de Camões: 31

a) Há semelhanças entre a Gruta de Camões na ilha Terceira e aquela que existe no Jardim de Camões em Macau: Ambas são construções megalíticas; b) A associação entre Castália, ninfa, e Camões, remete-nos para um culto camoniano; c) As plantas ornamentais do local do Complexo Megalítico da Grota do Medo, maioritariamente exóticas, remetem-nos para a hipótese, embora remota, de um uso romântico ou poético de uma pequena área do Complexo Megalítico; d) As possíveis datas de introdução nos Açores da flora exótica que existe no local, cruzadas com as possíveis datas da escrita geométrica associada às inscrições e com o período do aparecimento do romantismo em Portugal, remete-nos para finais do século XVIII a princípios do século XIX; e) Provando-se existir um jardim romântico na Quinta da Pateira, não fica claramente provado que as construções que se encontram nessa mata sejam desse período. Existe sim e de modo inequívoco uma apropriação romântica ou poética de uma área do Complexo Megalítico da Grota do Medo, o que poderia ter resultado do aproveitamento de estruturas aí já existentes. f) Existe grande probabilidade das inscrições, em letra capitular quadrada, encontradas no Complexo Megalítico da Grota do Medo, tenham sido feitas ou mandadas fazer por D. João Paulino de Azevedo e Castro, dono de propriedades próximas e Bispo de Macau entre 1897-1901. Na hipótese de jardim romântico, e tratando-se de um período recente da história, a pergunta “quem o construiu?” é muito pertinente e seria facilmente respondida pela população local, ou por registos históricos desse período. Nada se encontrou até à atualidade.

Considerações finais O espaço romantizado do Complexo Megalítico da Grota do Medo induz, tal como nos jardins românticos do século XVIII-XIX, sentimentos e diversos estados de espírito aos seus visitantes, mas faltam-lhe elementos chaves para que possamos considerar que essa área foi um jardim romântico. Os jardins românticos portugueses e ingleses, ou mesmo aqueles que foram registados por pintores e desenhadores românticos do século XIX possuíam traços orientais. No caso em apreço, esses traços não existem. Também era indiscutível, nos jardins românticos, o uso subtil da água, a mistura de plantas hortícolas com ornamentais, formando um jardim-horto, e a sua construção deliberada como uma metáfora do Paraíso. Se essas evidências são claras no Jardim Romântico localizado mais abaixo, na 32

Quinta da Pateira, estes não aparecem na parte romantizada do Complexo Megalítico da Grota do Medo, mas também é verdade que no século XIX estes temas não eram considerados nos jardins românticos. Surge então aqui uma dicotomia se admitirmos existir aí um Jardim Romântico: o jardim romântico próximo considera todos esses elementos, enquanto a parte romantizada do Complexo Megalítico não, evidenciando tratarem-se de conceitos distintos no tempo, um mais explicado pela mentalidade do século XVIII e outro pela mentalidade do século XIX. Assim sendo, o Jardim Romântico da propriedade da senhora Águeda Lopes não se estendia até à mata de que também é proprietária de uma parcela. Nos Jardins românticos portugueses do século XIX existe a efervescência de elementos decorativos, composições de espaços criados para conseguir atingir, a partir da paisagem, efeitos sublimes e encantatórios, tristes mas belos. Esses elementos estão ausentes no espaço em apreço. Existe o encantatório e o medo ou a tristeza, mas faltalhe o sublime. De facto no romantismo o jardim integra ruínas e a sua vegetação não é mais do que um ingrediente pitoresco, existindo também a procura de uma certa autenticidade, de um regresso às origens, mas estas características são raramente encontradas. Na nossa pesquisa encontraram-se apenas dois jardins românticos europeus que tentam integrar elementos pré-históricos como ruinas: o “Jardim da Pena” em Sintra, com um falso Cromeleque e o Jardim Romântico la Calmette de Marienborg na Dinamarca, que transportou para o local as peças de um verdadeiro Cromeleque. Nenhum deles integrou construções megalíticas. Pode-se afirmar que um jardim romântico que efetivamente integra uma construção megalítica é o do Parque Drummond em Macau, construção essa produzida com uma nobre finalidade: a de homenagear o maior poeta português: Luís de Camões. Um monumento a Luis de Camões, para um camoniano, deveria ser de extraordinária grandeza, justificando-se o enorme esforço de construir uma estrutura megalítica tipo dólmen. Ora o dólmen não é mais do que um monumento ou um memorial, daí que a sua reprodução em Macau seja perfeitamente justificada. Uma homenagem a Luís de Camões na mata em estudo, não se teria construído em segredo, pois se assim fosse, não era um tributo, parecendo ser sim, um aproveitamento de uma estrutura anterior aos séculos XVIII-XIX e que se assemelha com outra de que se tinha algum conhecimento. Mesmo fazendo parte de um jardim romântico, aos elementos presentes nessa pequena área do Complexo Megalítico da Grota do Medo, não explicam ou dão coerência a todos os elementos arqueológicos encontrados, especialmente às construções megalíticas, muito afastadas desse núcleo. A hipótese mais provável para explicar os elementos arqueológicos “românticos” referidos neste trabalho, é admitir que houve uma apropriação romântica ou poética de 33

uma parte do Complexo Megalítico, e que a sua descrição e entendimento é fundamental para a Completude e Confiabilidade dos dados arqueológicos presentes na área de estudo.

Agradecimentos O autor agradece o apoio da Doutora Antonieta Costa, do Doutor Nuno Martins, da senhora Águeda Lopes, do senhor António Câmara e do funcionário da Universidade dos Açores Fernando Pereira.

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