«Essa Besta»: sobre Orpheu, Egas Moniz e Júlio de Matos

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Copyrigch ~ 20 15 by Autores

Cid Seixas e Adriano Eysen • (Organi zação)

Anigo~

de: Jerônimo Pizarro Adriano Ersen M:muela Parreira da Silm Sandro Omella~ Audernaro Taranto Goulan Alana RI fah I Lui? Antonio Valverde Tércia Costa Valverde Cid Seixas Lélia Parreira Duarte

Orpheu em Pessoa Simpósio Internacional I00 anos da revista Orpbm: Pernando Pessoa e as Poéticas da Modernidade

l'ICJ lt\ CATALOGRÁf'ICA ll82 Orpl"'t·u em Pcll.:•o:a: Simrf.ls.in lntcrnacion.::.l 100 *'O~ da. ré\'~a Orphrtr.

F'trna•\do Po~:u e :1, ('H>Ctic.1~ d~ modtl'nidadt JRe('llt.SO dtU'i')nicol I Cid &ixu c \dri:ulO Er-.en (tJrg.). - Fe-ira de Santana. ISditor:a VM•tr:s.it.iri:. dt'l Ll\·ro Dis-al. e.botlk.br. 2015. 216 P·' ~ - (~~ Ofia do Lowo. b) ~lodo

de>«: J•cr: //o'.Olu. 1 pedrarta que o som dos btOIIUI acalllll&

Da sombra se ergue para a Rloria

e a mlo que a utlóra t arst1a fria num •&o brat~co de memor••

Sabemos hoje tJllC os verdadeiros editores de Orpbm foram Pcsso:1 e S:\-Ca rn eir, ain da que o nome de António Ferro iigurasse como editor na capa da revistn. Foram, portanto, os dois poetas q ue fizeram a revisão das provas tipográfic:~-~ dos dois números publicados e optaram - sign ificativameme- por 11ào emendar algumas linhas: l"or exemplo ... Rcvi:.mos nós,~- Carneiro e eu, ~s provas da primeira folho, quando ~urgiu, no prefucio de Ltúz de ~[ontalvor, :1. phr.~sc ((m:wcir.ts ou fonn3S» rranswrnad:t em •manciras de form~». la • emendar, quando o Sá- Carneiro me SU'Ipcndcu. •Ddxc ira~~im, deixe ir :ISsim assim ain:esse caso, porém, estranhaóamos que «simbolismo» surgisse sem o «y» inicial e seria muito improvável que fizesse troça dos nomes de Sá-Carneiro e Guisado. O testemunho, verificou-se mais tarde, era da autoria de um «neurologista anonymo», presumivelmente F.gas Moniz, , por isso tenha exigido o nnonimato. Vejam-se estes pormenores e repare-se em algumas diferenças entre a transcrição de Pessoa e o tc..xto impresso («quizeram» vs. «querem>>, por exen1plo):

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Fernando Pc~~oa conhccb l·:bY.l5 l\r()niz der-ode, pelo menos. 1907.

Teci sick> o f:tmoso ncurologism que o encaminhou para as aulas de gin:ís tica sueca com Lui> rurt"do Coelho: «Quo ndo, em 1907, o Pro f. Egas l\[oniz me pa.ssou, p:u·:a. tins gymnasdcos, p::tr.:t as m3os ele Lwz Funaclo Coclhc), p:Lr:l. ~cr c:1d::wcr !iÔ me f~lt:l\'2 morrer» (Pessoa, 1933). Quanw 3 Mário de S:\-Camciro,cste rer:i, segundo Eduardo Macieira Coc:lho (2005), consulcaclo Egas Muniz pouco depo1s da pubhcoçiio do pnmctro número do Orphtu, niio sendo esCl • primeira,."" que o jo\'cm escritor procura,-. um neurologista. colciÔO ollclno do livro

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u em pessoa

. . 08 ~zcs s:1o

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Ao que parece, à pergunta, «-Douto r. Os rapazes são malucos?>>, o fumro Nobel terá respondido com o texto que Pessoa mmscrevcu e que, mais tarde, criticou duramente em textos que permaneceram inéditos nas suas arc:'ls até a sua morre. O estudo do exemplar de Orphe11 I permitiu-nos, portanto, esclarecer um mistério- a origem desse > Fazemos-lhe o favor de perceber. Quer ele dizer na sua que os jovens b1ariros a finam rodos pelo mesmo diapasão. Vejamos:

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e·book.br

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slmpótlo Internacional

Labirinto de sonhos. .1\dormcço-mc oiro Ancia apagada. Deus desce minha alma em oiro i\feus olhos p'ra te ver, arc:tda.• nM espelhos. Um tltltJ

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Idade acorde d'lntcr sonho c Lua Onde as horas corriam ~cmprc jade. 011111J

'ào posso estar em parre alguma. 1\ minha Patria é onde não estou. Sou docnre c fraco. O comissario de bordo é velhaco Viu-me co'a a sueca... c o rcsro ele adi,~nha. lim dia fuço cscandalo cá a bordo, Só par:t dar que fuhr de mim aos mais. Trrrrtro Eh-lá, e h-lá, elt· l:í, c~redr:tis Deixai-me pardr a cabeça de encontro ás vossas es-

qumas, Ó fazendas nas monLrM! Ó manc4uins! Ó ul timos fi gurir~os!

O artigos inutcis que roda a geme quer compmr! OJ:í grandes armazcns com varias secções! O 111(!0/iti.r.rimo

Uffl Atinai o Oiftw é uma amalgama desharmon iosa de dispauterios. Não merece a peo~ ver mais. Vamos até á janela. A tarde é calma e no , num céu em que «lris dorme meu Ser em cortinados lassos», definemse manchas vagas «em pontos d'alquimi:1», como eles di7.em. Mas o doutor manda-nos chamar. Damo-nos pressa em interrogai-o: colciÓO ollclna do ll111o

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- Doutor. Os rapa7.es são malucos? - Oral São meninos sem talento que querem chamar sobre si as atenções do publico vomitando asneiras. Uns copiam dctest:tvelmente Eugenio de Castro, na sua fase dos Ooristos, outros plagiam horrivelmeme alguns poemas do Só. l-la um novel poeta que publica um soneto sem pontuação alguma. É a sua originalidade. E todos fa7em um simbolismo idiota e grotesco, sem elevação nem critc:rio. Pergunta-me: se são produções de: degenerados. Nada disso. Esses escreveriam melhor. Querem chamar sobre si o escandalo, mas nem isso conseguem. Repare nos nomes: Carneiro, Guisado. l;m mau romeiro pessimamente g11isodo. l moleravel. - Quê!? Não são artistas nem loucos, nen1 profetas? - Não. São rl111rhodoros de mau gosto. - Lá ch11rbodons... Os homens, afinal, parece que fa?:em ayuilo muiro a scrio. - Então levem-nos para os manicomios, e metamnos nos pavilhões dos dementes. Não são dignos de se juntarem com os persegu idos e delirames. Esses são . . rnu1to mats espertos. .. E ficámo-oos com esta, além da recomendação de não declinarmos o nome do nosso ilustre entrevistado.

O sr. dr. Julio de Matos, director do Manicomio Bombarda, manifesta tambcm pelos poetas do zilhn_ Smdies/ejph/pessoaphor>.l/ lssuc7IPDFI 17t\08.pdf

cole1õo olldno do livro

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A lírica da ausência em Alvaro de Campos e Mário de Sá Carneiro Adriano Eysen L' niversidadc Esodmlda &hb

Os poemas de Fernando Pes.~oa (1888-1935) e ;\fário de Sá-Carnetro (1890- 1916) são marcados pela incompreemão da própria eldstência e pela incompatibilidade com a vida. Nessa perspectiva, intrinsecamente contraditórios e impotentes, eles traçam seu itinerário por caminhos labirinticos e, assim, constroem a sua poesia, moldando-a com o tênue fio de refinadas metáforas em que se amalgamam son hos e e...;periências desassossegadas. Notadamente, siio escritores que, cúmplices na anuzade, nos ideais e na arte, construíram uma lírica pejada de téd io e solidão, transitando enrre a vida e a morte, entre a lu cidez c a dcsra:dio, num mal -estar que resulta numa poética em que os eus aparecem íragmentados e dispersos em meio ao cenário da urbe das primeiras décadas do século XX. No autor de Mm!tJ.~e!IJ (1934), o rico universo heteronímico 1, ao mesmo tempo que fascina, causa 1

Ocstacando-sc dos poetas da geração órphico, ainda envolvidos por uma aura n~Hur.llista·amoros:~, fcmando Pessoa cria seu primeiro hetcrônimo, Chcvaloerde Pis, aos seis anos de idade. Aos sete, ele escreve scupocmaon:u.ogutal: uma qu:ldra ontinlhdo '~-\ minho querida ~[:urii".

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