Estágio Prático III - Arqueologia

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Universidade do Minho Licenciatura em Arqueologia

ESTÁGIO PRATICO III Ano lectivo de 2013/2014 Orientação: Dr. Gonçalo Passos Correia da Cruz Dr. José Luís Antunes

Estagiário: Nuno Tiago Correia de Oliveira - A63980

Agradecimentos Desde já tenho de prestar uma singela homenagem à Sociedade Martins Sarmento, instituição que me acolheu e os meus colegas da melhor forma possível, com respeito e amizade neste último estágio curricular do curso de Arqueologia da Universidade do Minho. Tenho também de agradecer aos dois incansáveis doutores e orientadores, Gonçalo Cruz e José Antunes pela sua boa disposição, amizade e acima de tudo profissionalismo com que presentearam este pequeno grupo de alunos no qual estou incluído tornando a aprendizagem neste estágio algo que nunca irei esquecer. Foi uma experiência única e não importaria de escavar mais um mês na companhia de tão admiráveis pessoas e a aprender tanto e a consolidar conhecimentos num espaço único como a Citânia de Briteiros. Tenho, claro de agradecer aos meus colegas pelo companheirismo, pela verdadeira equipa que formamos neste mês de escavação e de estágio e que sem eles nada teria sido possível sem a sua alegria, motivação e camaradagem teria sido menos cativante e pouco proveitoso.

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Índice Agradecimentos ............................................................................................................................ 2 Introdução ..................................................................................................................................... 4 Citânia de Briteiros .................................................................................................................... 5 Localização ................................................................................................................................ 6 Período de ocupação................................................................................................................. 6 Recursos do Povoado ................................................................................................................ 6 Urbanismo ................................................................................................................................. 8 História das Escavações........................................................................................................... 11 Parte I - Diário de campo............................................................................................................. 14 Parte II - Relatório de Aprendizagem .......................................................................................... 24 Parte III – Relatório das Actividades de Enquadramento ........................................................... 35 Parte IV – Relatório sucinto da escavação da sondagem ou sector que teve sob sua responsabilidade ......................................................................................................................... 35 Considerações Finais ................................................................................................................... 38 Anexos I ....................................................................................................................................... 41 Anexo II........................................................................................................................................ 53 Bibliografia .................................................................................................................................. 64

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Introdução Este relatório tem como objetivo sintetizar, se é que vai ser possível, todo o trabalho desenvolvido durante este Estágio III mas, para além disso, irei também relatar um pouco do que foi uma aprendizagem contínua ao longo de três estágios que complementaram a minha formação neste 1º Ciclo de estudos do curso de Arqueologia da Universidade do Minho. Descreverei aquilo que aprendi, os métodos, as técnicas e tecnologias de que fui tomando conhecimento ao longo não só deste estágio mas de 3 anos de estudo, as capacidades que fui adquirindo, o kown-how, o saber-fazer tão importante para se querer ser arqueólogo. Assim, irá ser um relatório um pouco extenso, mas tentarei ser o mais claro e conciso possível. Boa parte das fontes deste relatório e particularmente alguns pormenores sobre a história das investigações da Citânia de Briteiros, ou no desenho arqueológico e posicionamento do nível topográfico e na forma como devemos escavar e o que é crivar terra, foram ensinamentos avidamente absorvidos por mim, proporcionados pelos dois doutores e orientadores deste Estágio Prático III, respeitosamente, Gonçalo Cruz e José Antunes. Este relatório está dividido em 4 partes: a parte I diz respeito ao diário da escavação onde irei relatar o que foi o dia-a-dia deste estágio, onde não entrarei em muito pormenores acerca daquilo que foi o resultado da sondagem onde estive a estagiar, a parte II é o relatório de toda a aprendizagem feita ao longo deste estágio mas também dos outros dois estágios, a parte III irá descrever o que foi o trabalho desenvolvido pela minha colega Daniela Januário do segundo ano e, finalmente, a parte IV será um resumo mais desenvolvido do que apresentarei na parte I, descrevendo mais pormenorizadamente aquilo que foi a escavação da sondagem em que trabalhei e que ficou sob a minha responsabilidade e alongar-me-ei mais no que diz respeito sobretudo à interpretação da sondagem. Irei fazer a vectorização dos perfis da minha sondagem e de alguns dos planos. Quanto às fotografias tiradas ao longo deste mês de estágio estão algumas delas nos Anexos I e II, e algumas na capa: duas delas (do lado esquerdo, em cima e em baixo) são da visita guiada do dia 23 de Julho; do lado direito, em cima é uma foto do meu grupo enquanto escava a sondagem, e do lado direito, em baixo é a “Pedra Formosa” do Balneário Sul.

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As fotografias apresentadas ao longo do relatório são minhas e do Doutor Gonçalo Cruz. Grande parte deste relatório e da experiência que vou relatar nas próximas páginas são fruto de experiências e do contacto com a realidade arqueológica que só com os Estágios Práticos foi possível. Irei utilizar várias fontes bibliográficas para produzir este relatório, bibliografia que foi gentilmente fornecida pelos orientadores deste estágio, mas também usarei aquilo que sei, aquilo que me foi transmitido e ensinado e, por consequência, apreendido ao longo deste Estágio e dos dois anteriores. Nesta introdução irei fazer, de seguida, uma contextualização do espaço onde estagiei neste terceiro Estágio Prático, falando primeiro sobre a discussão que existe sobre o conceito de Cultura Castreja, depois tratarei da localização do espaço da Citânia depois do período de ocupação, descreverei sucintamente alguns dos recursos que a população da Citânia tinha, abordarei ainda um pouco também do fenómeno protourbano a que se assiste neste povoado. Ainda retratarei resumidamente a história das investigações na Citânia de Briteiros, que já duram há mais de um século.

Citânia de Briteiros Conceito: Castro ou Cultura Castreja ou Povoado Fortificado? Ainda hoje muitos investigadores e arqueólogos que se debruçam sobre este complexo período cronológico que compreende a Idade do Ferro e transição para a Época Romana. Muitos ainda hoje discutem o que se deve chamar ao fenómeno protourbano a que se assiste um pouco por toda a Europa e no Noroeste Peninsular em particular. Em Arqueologia como em História existem muitos preconceitos sobre alguns conceitos como por exemplo a “Cultura Castreja”, conceito inicialmente cunhado por Martins Sarmento, que é um conceito composto por duas palavras, a primeira é tão ambígua que pode representar a cultura material, ou a forma de pensar a concepção do espaço, a forma de pensar o mundo e toda a cultura religiosa e ritual, e a segunda que deriva da palavra Castro que significa um habitat em altura e fortificado. Pode existir aqui uma confusão entre conceitos, que autores como a Doutora Manuela Martins prefere chamar de povoado fortificado a Castro ficando à margem um pouco daquilo que são já conceitos que já possuem quase cem anos. (Lemos 2006). Contudo, tanto a palavra “Castro” como “Cultura Castreja” são utilizadas muitas vezes

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como meros conceitos operativos, por isso utilizar as palavras povoado fortificado, Castro, oppida ou até mesmo Cultura Castreja é estarmos a tratar de conceitos que podem significar uma quantidade enorme de problemáticas, sem que saiamos do fenómeno da construção de povoados fortificados localizados no cimo de montes e numa longa faixa temporal entre o final da Idade do Bronze e a Segunda Idade do Ferro e no contexto da Época Romana.

Localização A Citânia de Briteiros fica situado entre os rios Douro e Minho e que separa o que é o litoral e o interior. É um povoado proto-histórico que ocupa uma pequena elevação cuja altitude é de cerca de 300 metros. Hoje esta pequena elevação tem o nome de Monte de São Romão, onde está instalada uma capela do século XIX com o nome desse santo. No sopé desta elevação estão situados três localidades: Santa Leocádia de Briteiros, Salvador de Briteiros e Santo Estevão de Briteiros. Este povoado instala-se num esporão que detém domínio privilegiado sobre o rio Ave. Sendo que a Nordeste encontra-se o Castro de Santa Iria, e a Sudoeste o Castro do Sabroso, ambos incluídos na mesma cronologia. Até hoje ainda não se conseguiu compreender se existia ou não alguma relação económica, social ou até mesmo política entre o Castro de Sabroso e a Citânia de Briteiros.

Período de ocupação Proto-histórico  Este povoado fortificado ou oppida possui uma longa diacronia no tempo desde da Segunda Idade do Ferro, 200 a.C. até ao século II d.C. período da última ocupação efectiva. Contudo, houve uma continuidade de ocupação neste espaço porque se registam já vestígios no Neolítico final e Calcolítico através da arte rupestre e até mesmo à Idade Média de uma capela da Alta Idade Média, e um conjunto de, pelo menos, 13 sepulturas datadas desse período. De ressaltar que a ocupação efectiva com construção de povoados fortificados ou não fortificados se regista desde do Bronze Final até à Romanização (I milénio a.C. até século I - II d.C.). Porém ainda não foram descobertas estruturas da Idade do Bronze. Apenas se acharam alguns fragmentos de cerâmica desse período.

Recursos do Povoado Este povoado encontra-se num local de substrato granítico e tudo leva a crer que este teve grande importância para o povoado. Estes afloramentos rochosos ofereceram

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outrora a fonte de matéria-prima para a construção das muralhas e das habitações da Citânia, ou para a construção de objetos, designadamente, as mós. Em muitos locais o granito foi cortado na vertical ou na horizontal e aplanado para servir como pátio ou pavimento das construções e até das ruas. Numa fase inicial aquando da instalação dos primeiros aglomerados habitacionais este esporão estava repleto de afloramentos graníticos. Tinham acesso a nascentes devido ao tipo de solo e estando o rio Ave situado a sul e oriente da Citânia oferecia recursos piscatórios abundantes e ainda junto às praias fluviais seria possível encontrar e recolher minerais preciosos como ouro pelo método do bateamento. No sopé das encostas corriam pequenos afluentes que, permitindo uma agricultura de tipo regadio, com culturas como o milho-miúdo servia para a alimentação de pessoas e gado, e linho para o vestuário. Nos solos secos plantava-se trigo. Nas encostas mais ingremes favoráveis ao pastoreio conservavam-se carvalhais e sobreiros, estes últimos ainda mais recentes encontram-se por toda a Citânia porque foram mandados plantar ao longo das sucessivas intervenções arqueológicas deste espaço. Têm sido encontradas também, em grandes quantidades, bolotas o que se pensa ser mais provável era que seriam para alimentar gado suíno e não tanto para consumo humano. Enfim, quanto aos recursos alimentares podemos afirmar que neste povoado havia uma alimentação rica e variada, começando pelos cereais, pelas leguminosas como a fava e ervilha, e carne a partir de animais como gado ovino, caprino, bovino e suíno para além dos recursos piscatórios. Quanto à produção artesanal e pelo que já se conseguiu apurar assiste-se a duas grandes actividades: por um lado a produção de cerâmica, e por outro a metalurgia. Destaco aqui a metalurgia que conheceu duas fases distintas: a primeira baliza-se entre o Bronze Final e o século II a.C. e a segunda entre o século II a.C. e o século I d.C. Na segunda fase calcula-se que existissem já famílias especializadas em diferentes áreas económicas, neste caso na metalurgia ou olaria. Com efeito, existem unidades domésticas que foram marcadas em algumas pedras como elemento decorativo tenazes. Ora tenazes são um objeto próprio da actividade metalúrgica, portanto simbolizam essa actividade. A propósito de objetos, há que destacar alguns que foram achados em contexto arqueológico como fíbulas, vários utensílios, como machados, e lingotes de chumbo e ainda alguns objetos em ouro, como arrecadas em ouro. Contudo, é de

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constatar que provavelmente a Citânia pela sua dimensão e pelo seu contexto geográfico já salientado fosse um centro metalúrgico ao longo de um eixo de circulação e alguns destes objetos tenham vindo ter aqui por trocas comerciais ou intercâmbios. Uma coisa é certa para produzir objetos em metal a matéria-prima estava a quilómetros de distância, o mais perto era na Serra de Agra, e em Trás-os-Montes Ocidental. Nesses eixos de circulação de trocas comerciais e intercâmbios o sal que vinha da orla marítima era muito importante para a economia desta sociedade. Pensa-se que este castro ou povoado fortificado situado no limite entre a costa e o interior seria o mercado para redistribuir os produtos que chegavam aqui, chegando também bens de luxo, que seriam importados da bacia do Mediterrâneo. Não esquecer que a Citânia fica também num local estratégico porque ali terminava o curso navegável do rio Ave e, por isso, pensa-se que era um mercado de passagem obrigatório nesta região do Noroeste Peninsular.

Urbanismo Todas as ruínas que se encontraram até hoje datam da Segunda Idade do Ferro, portanto cerca de 200 a.C.. Começando pelo sistema defensivo; contam-se 3 muralhas e uma linha de muralha a Nordeste o que perfaz 4, com mais dois fossos escavados na rocha. As muralhas possuem aparelho ciclópico, são facetadas dos dois lados, o interior é preenchido com pedras e areia. Chegam aos 3 metros de espessura e possuem em alguns pontos 4 metros de altura. Não se encontraram até agora vestígios de torreões, há, contudo, vestígios de escadarias para as muralhas e também rampas. Alguns troços destas muralhas foram durante o século XX restauradas por ordem de Mário Cardozo. Adiante explicarei em que consistiu esse restauro. Os acessos que existem nas muralhas têm 1,25 a 2,50 metros de largura. O troço sudoeste da terceira muralha possui uma área plana que seria acessível pela rua pavimentada que ligava ao centro do povoado à zona Sudeste passando pelo balneário Sul. A concepção do espaço com este sistema defensivo evidencia a existência de uma elite administrativa cujos cargos deviam oscilar entre os políticos e religiosos/rituais que queriam fortalecer a sua legitimidade. Isto crendo que desde do Bronze Final a sociedade dessa altura começou a estar assente numa ideologia bélica no que se traduz em povoados fortificados com extensos alinhamentos de muralhas, inclusive torreões e junto às entradas das muralhas faziam

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representar estátuas quase como se fossem heróis divinizados, estátuas de guerreiros com indumentária ornamentada, alguns inclusive ornamentados com escudo. A área urbana corresponde, grosso modo, à acrópole a qual se encontra circunscrita pela primeira muralha, a encosta nascente, e ainda o espaço para além da E.N. 309. No total são 7 hectares escavados de um total de 24 da propriedade que Martins Sarmento comprou no final do século XIX, que estão escavadas e conhecidas. Contam-se o número interessante de 104 unidades habitacionais. Existem duas plantas da Citânia de Briteiros: uma de 1892 e outra de 1999 (Anexo II, Figuras 2 e 3) que apresentam a Citânia com uma malha aproximadamente ortogonal pelo menos no que diz respeito aos eixos principais, demonstrando aqui um proto-urbanismo já complexo. Este proto-urbanismo encontra-se presente noutros sítios do Noroeste Peninsular, tanto em Espanha como em Portugal, mas também encontramos este fenómeno da “Cultura Castreja” ou de povoados fortificados noutros lugares na Europa Ocidental, como na bacia mediterrânica, ou mesmo em regiões como a bacia do reno (WOOLF, 1993; FERNÁNDEZ GÖTZ, 2011), ou mesmo no Sul de Inglaterra. (PITTS, 2010), sendo este fenómeno próprio da Segunda Idade do Ferro. Este fenómeno proto urbano traduz-se em ruas que se apresentam pavimento lajeado, tendencialmente ortogonais, mas muitas vezes oblíquos, formando ângulos que permite a criação de quarteirões habitacionais delimitados por muros que rodeia as unidades familiares. Assiste-se, pois, à criação de espaços ortogonais que se foram adaptando à irregularidade da topografia. Assim, apresenta sucessivas fases de desenvolvimento do povoado. Mas o estudo e escavação das sucessivas fases foi e é complexo e está irremediavelmente perdido em alguns casos porque, aquando das escavações mais antigas do século XIX e de meados do século XX, não se tinham em conta aspectos científicos de grande importância para a Arqueologia como a estratigrafia. Perdendo-se assim informação preciosa. Considera-se que este tipo de ordenamento proto urbano do Noroeste da Península Ibérica date da campanha de Decimus Iunius Brutus em 137 a.C. ou 136 a.C.. Contudo, há a possibilidade de ter começado antes já na primeira metade do século II a.C., como resultado de uma crescente complexidade daquilo a que se pode chamar “Cultura Castreja”, em progressivo contacto do mundo ibérico com outros povos do

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Norte de África e Itália ou mesmo mais longínquos foram desenvolvendo a sua concepção dos espaços. Assim, no interior do espaço já se encontra definido o que era espaço público e o que seria espaço privado. Espaço público como a chamada “Casa do Conselho”, os dois balneários e o espaço privado das unidades habitacionais espalhadas neste povoado constituindo uma organização ímpar e complexa para a época em que é datada. Quanto aos espaços comunitários: a Casa do Conselho é uma estrutura circular que possui bancos corridos no seu interior, possuiu em tempos uma lareira no seu interior, e seria provavelmente um lugar de prática política e administrativa e um espaço de reunião. Isto sugere um contexto político centralizado neste oppida ou Citânia. (CRUZ 2013) Visitamos os dois balneários. Um deles, o balneário Sul, encontra-se estudado e bem conservado. Os balneários são o mais complexo sistema estrutural na Citânia, sendo ele tripartido, ou seja, é constituído por pátio, câmara de sauna e fornalha. A câmara de sauna e o pátio eram separados pela “Pedra Formosa”. (Anexo II Fotografia 40. e Figura 1.). O único acesso entre estes dois compartimentos é por um pequeno orifício na parte inferior da “Pedra Formosa”. Só por este pequeno orifício, onde cabe uma pessoa de cada vez, era pequeno, para não haver fugas de calor. Alguns autores atribuem a esta estrutura para além da função de banhos públicos uma função simbólica como se os banhos constituíssem uma espécie de purificação. Estes dois balneários estão implantados no interior das muralhas, mesmo assim são espaços de excepção e próximos às vias principais que ligam ao centro do povoado, à acrópole. Tal como existe noutros povoados fortificados, existiam nestes oppida um espaço ou recinto de consideráveis dimensões que parece ter como função algum tipo de santuário, onde possivelmente se realizavam rituais colectivos como banquetes, ou local para festividades, locais sagrados e de comunhão e propícios à realização de rituais de carácter público. Assim, tomo como exemplo o Castro de Monte Mozinho onde se encontra perfeitamente delimitado esse espaço onde também se encontraram grandes quantidades de ânfora. Assim, o espaço que conduz a este recinto ficava normalmente na região central e alta da acrópole e constituía uma desembocadura de um arrumamento de carácter monumental e era uma área sem construções próximas. Seria quase como que um “santuário urbano”. (CRUZ 2013) Ora, na Citânia de Briteiros e seguindo o arruamento central da acrópole parece que desemboca numa área ampla, só

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que esta área foi profundamente afectada pela construção da capela do século XIX. (CRUZ 2009) Curiosamente, ou não, a famosa “Casa do Conselho” de que já falei situase ao lado deste grande espaço amplo e possível recinto. Assim, como se nota pela ortogonalidade das ruas da Citânia percebemos que há como que uma concepção “mediterrânica” do povoado, em que o espaço público e aberto multifuncional «se contrapõe uma “cúria, local de funcionamento restrito de um órgão político.» (CRUZ 2013), ou seja, a “Casa do Conselho”. Falou-se numa capela, esta é mais recente, datada da Alta Idade Média, que existia no topo deste castro em volta da qual foram escavadas 13 sepulturas. Seria, portanto, uma forma de cristianizar um espaço considerado pagão. Hoje restam poucos vestígios dessa capela, cujo lugar encontra-se marcado hoje por um pequeno cruzeiro com uma cruz em pedra. Mesmo assim, na minha óptica, nunca se saberá o porquê de tantas muralhas e da própria grandiosidade deste povoado proto-histórico, que é indiscutivelmente um dos maiores e mais complexos do Noroeste da Península Ibérica.

História das Escavações As escavações no local começaram a 1874 com Martins Sarmento através de campanhas anuais de escavações que resultou na descoberta de maior parte das ruínas. Com efeito, os 24 hectares de área intramuros da Citânia foram comprados pelo Martins Sarmento, e é um dos maiores castros alguma vez escavados e conhecidos de Portugal. Martins Sarmento foi um verdadeiro arqueólogo, inovador para a sua época e apesar de ter escavado sem qualquer método científico e arqueológico, preocupando-se só com determinado espólio, compreendeu contudo a verdadeira importância histórica e arqueológica que este sítio possuía e ainda hoje possui. Foi inovador em alguns aspectos. Utilizou, por exemplo, pela primeira vez, a fotografia como meio de registo científico. Este registo que hoje constitui um património fotográfico único em Portugal, possuindo fotografias de escavações de Briteiros, do Castro do Sabroso, e de outros monumentos da região do Minho que são propriedade da Sociedade Martins Sarmento. Conta-se até que chegou a utilizar a sua própria esposa como meio de escala para as fotografias.

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Formulou diferentes hipóteses de interpretação deste sítio, considerando-o sempre um exemplo de um mundo pré-romano, pondo de lado a forte influência céltica que fazia sentir na mente dos investigadores da altura, foi sempre contrário a esta tendência demonstrando a hipótese que este povoado poderia representar uma antiga cultura indígena pré-romana a nível regional, o que é de facto mais plausível. Ele escavava sempre até ao que pensava serem estruturas visíveis e parava pensando que essa seria a cota original. E assim sendo a maior parte das estruturas ficou a descoberto mas só em parte. Assim, já em 1892 o Eng. Álvaro Castelões elaborou um levantamento topográfico de toda a área escavada. (Anexo II, Figura 2.) Nas décadas de 30 a 60 do século XX o coronel Mário Cardozo com a recentemente criada Sociedade Martins Sarmento, concebida pelo próprio Martins Sarmento, surgiu uns anos depois da sua morte. Mário Cardozo dirigiu novas escavações que puseram a descoberto boa parte das ruínas da encosta nascente, mas a sua acção não se ficou apenas pelas escavações mas sim pela sua obra de restauro e manutenção das ruínas da Citânia como por exemplo das estruturas familiares e sobretudo das muralhas. Para restaurar estas muralhas, Mário Cardozo utilizou a técnica de escavar a área junto às muralhas onde se encontram as pedras do derrube da muralha e colocou as pedras em cima das muralhas. O problema é que escavou sem pensar no registo arqueológico por baixo dessas pedras de derrube e ainda foi mais fundo escavando mesmo as fundações das muralhas recolhendo só o mais interessante ou mais “bonito” deixando o resto em montes, chamados, por nós, de escombreiras. (Anexo II, Figura 2.) Estas escombreiras foram sendo feitas por toda a Citânia no decorrer das escavações ao longo dos anos constituindo-se autênticos montes de terra que, como se calcula, contém imenso material arqueológico. Mário Cardozo teve o apoio do Estado visto ser de alta patente militar. Mário Cardozo defendeu a teoria da ocupação simultânea da Citânia, do Castro de Sabroso e de Santa Iria. Definiu os limites do povoado num único levantamento topográfico e tornou a Citânia um sítio visitável, sendo por isso responsável pela configuração actual de Briteiros.

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Já nos anos 70 do século XX Armando Coelho da Silva e Rui Centeno conduziram sondagens na zona Nordeste da Citânia. Foi-nos dito também que até aos anos 80 desprezava-se o contexto em que os artefactos apareciam, portanto escavava-se sem existência de unidades estratigráficas ou camadas. Teorizou-se ao longo do tempo, e bastante, sobre a ocupação humana deste espaço da Citânia. Já na passagem do novo milénio, em 2002 uma intervenção arqueológica foi feita para se construir o que é hoje o Centro de Acolhimento. Mais recentemente em 2005 e 2006, na zona da acrópole, na “Casa Espiral” nos espaços adjacentes conduziram-se sondagens pontuais. Assim, não obstante tantos e sucessivos trabalhos arqueológicos, com tanta informação para organizar, há ainda muito trabalho a fazer e muitas questões por resolver, pelo que em 2004 iniciou-se um projeto de estudo, valorização e divulgação da Citânia de Briteiros. Os trabalhos que foram levados a cabo ao longo de mais de um século de estudos neste povoado foram sendo feitos segundo modelos metodológicos diferentes, com concepções científicas diferentes e tornou-se necessário este novo projecto para que o estudo seja feito à luz dos critérios e métodos actuais. Assim, no âmbito das funções da Casa de Sarmento pela direção e colaboração com a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, com o total apoio da Sociedade Martins Sarmento com objectivos bem definidos para o estudo e conservação da Citânia de Briteiros, como um sítio a preservar, estudar e como fonte de informação para história e arqueologia em Portugal.

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Parte I - Diário de campo 30/06/2014 No primeiro dia deste último estágio quando chegamos à Citânia foi-nos desde logo explicado parte da sua organização urbanística do povoado. Assim, as estruturas privadas, como as casas circulares com vestíbulo que se encontram dispersas por todo o complexo ou oppida são mais antigas que outras estruturas rectangulares encontradas pela Citânia que são uma solução posterior, e exterior à forma de pensar e organizar esse tipo de estruturas. Com efeito, pensa-se e há provas de que as estruturas em forma rectangular são fruto do contacto com os romanos que a partir de determinada altura dominaram o Noroeste da Península Ibérica. Assim sendo as casas que datam desse período da ocupação romana deste povoado tem o nome de Unidades Domesticas, ou casas “de tipo Domus”. Foi também comentado o que são as 4 muralhas existentes, havendo

várias

hipóteses

interpretativas,

duas

dessas

hipóteses

quanto

ao

funcionamento real destas muralhas são: ou teriam uma função simbólica e de representatividade e de poder ou meramente uma função defensiva, podendo conciliar essas duas funções. Foi relatado também que toda o material pétreo utilizado nas estruturas da Citânia foram cortadas perto do local onde se implanta a Citânia e foram cortadas da rocha a partir de cunhos em madeira onde se ia colocando água enquanto que a madeira ia inchando até fracturar a rocha. Foi dito que existem tanques o que equivale a fontes. (Anexo I, Fotografia 13.) Quanto às estruturas circulares sabemos hoje que eram mais baixas do que as duas que foram mandadas restaurar por Martins Sarmento, sendo que ele próprio não gostou do resultado final dessa reconstrução. Sabemos também que o tecto seria em giesta e teria pelo menos duas janelas. De manhã também fizemos uma visita ao Museu de Cultura Castreja, onde nos foi relatado um pouco da vida de Martins Sarmento a sua importância a nível regional para a Arqueologia em Portugal. De tarde permanecemos no Museu de Cultura Castreja em Briteiros, e assistimos a uma aula teórica sobre a história das investigações na Citânia de Briteiros das quais já falei na introdução deste relatório.

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Após estas e outras explicações fomos, no que restou do dia, para o Castro de Sabroso que também é propriedade da Sociedade Martins Sarmento, que foi praticamente todo escavado ao longo do século XX mas não foi alvo de um projeto de conservação pelo que se encontra ao abandono. Durante a visita o doutor José Antunes encontrou restos de uma estrutura do que parece ser um balneário. Este balneário já foi referenciado por alguns arqueólogos mas nunca se soube onde este se encontrava com rigor. Mais tarde já no final desta campanha de escavação voltaremos para tirar algumas fotografias, para um posterior estudo, mais atento. Aqui acabou este primeiro dia, e voltamos para Braga. 01/07/2014 Neste dia fomos, primeiramente, antes de ir para a Citânia, buscar todo o material necessário para a escavação. Fomos buscá-lo ao Museu de Cultura Castreja. Nós, os estagiários, organizamos o material em diferentes caixas constituídas de forma em cada caixa possuísse o material necessário para cada grupo, uma vez que irá haver dois grupos a trabalhar ao mesmo tempo. (Anexo I, Fotografia 1, 2 e 3.) A partir daqui levamos todo o material para a Citânia na carrinha, cedida gentilmente pela Casa do Povo de Briteiros, para estas deslocações diárias. Em vez de fazermos a entrada pela área onde está o Centro de Acolhimento para entrar na Citânia fomos antes pela entrada pela terceira muralha. Esta será a entrada pela qual durante este mês de campanha entraremos para estagiar. Chegados ao topo do antigo povoado colocamos todo o material no interior de uma das habitações reconstruídas. De seguida, definimos aquilo que foi o objecto deste primeiro dia de estágio que foi proceder ao arranjo de uma rua que se encontra na encosta nascente e que se encontra praticamente em frente ao Centro da Acolhimento que durante os últimos anos se tinha degradado e a gravilha que tinha sido colocada já tinha rolado para longe da área, que foi abatendo com o passar do tempo. (Anexo I, Fotografia 4 e 5.) Para esta tarefa foram precisos: enxadas, colherins, vassouras, baldes, uma escala, a máquina fotográfica e geotêxtil. Ainda de manhã, retiramos o resto da gravilha que se encontrava já espalhada pela rua.

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A seguir, fotografamos o local e notamos a real dimensão do problema. Enchemos essa área afectada com geotêxtil que foi cortado para ser colocado com as medidas corretas. Por conseguinte, o trabalho continuou e era necessário terra para cobrir todo o geotêxtil. Para isso, dirigimo-nos ao topo do povoado e num dos montes que foi criado com o entulho e terra que foi fruto de uma escavação relativamente recente e utilizando uma pá e enxadas fomos colocando terra para dentro dos baldes e repetimos este processo algumas vezes. Enquanto isto, as colegas Diana e Daniela estiveram a limpar a conduta perto da calçada, que estava preenchida com terra e com detritos. (Anexo I, Fotografia 6.) Após o almoço e durante toda a tarde, para consolidar e encher toda a área afectada foram sendo colocadas várias pedras de dimensões consideráveis. Assim, partimos da base de trabalho em que o colega Saúl esteve verdadeiramente a calcetar esse troço dessa rua, enquanto eu e os colegas, Israel, Isaac e o Guilhem, este último estudante da Universidade de Barcelona e inclusive os nossos orientadores formamos uma verdadeira cadeia humana em que íamos levando as pedras até à rua afectada. As pedras foram retiradas de vários pontos deste sítio arqueológico, (encosta nascente da Citânia) mas foram todas retiradas nesta parte mais inferior e foram escolhidas pelos professores de locais onde essa pedra não seria necessária. Enquanto tudo isto as colegas Daniela e a Diana continuaram a limpar a conduta de água que já referi. (Anexo I, Fotografia 7.) No final do dia voltamos e arrumamos o material no local que já previamente disse, e eu estive a colocar em sacos separados alguma cerâmica e ainda escória. As etiquetas nos sacos plásticos possuem diferentes informações referentes não só ao local especifico de onde foram retiradas como que tipo de material que pode ser Cerâmica, Metal, Material Orgânico. (Imagem. 1) BRIT 14 Limpeza de Conduta ou Limpeza/reparação

de

Rua Imagem 1.

Cerâmica/Metal 01/07/2014

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02/07/2014 Acabamos a reposição de parte de uma rua e também se terminou a limpeza da caldeira adjacente a essa rua. A partir das 10.30 horas dirigimo-nos, eu, os colegas Saúl e a Diana para o cume do sítio arqueológico onde estão situadas duas casas que foram restauradas. Aqui foi-nos explicado o que iria ser a escavação nas próximas semanas. Assim, irão constituir-se duas equipas, uma irá estar sob a orientação do professor Gonçalo e a outra equipa sob a orientação do Doutor José Antunes. Com efeito, iremos escavar duas sondagens, próxima uma da outra que pertencem a uma só casa mas que possuiu ao longo do tempo várias fases de construção. Essas duas sondagens são a 97 V e 99 V. A explicação sobre isto alongou-se durante a tarde. (Anexo II, Figura 3.) 03/07/2014 Chegados ao local onde iriamos começar a escavar, cada um de nós pegou no material necessário para a escavação, que corresponde a um balde, uma pequena vassoura, um colherim, um apanhador e ainda um pico. Para além disto, levamos connosco o nível, o tripé, pastas com informações sobre escavações de 2009 na área onde vamos escavar e caixas com material de desenho, caixas com sacos de plásticos, com outras ferramentas, com fio-de-prumo, elásticos, cavilhas, uma pá, sacholas, cavilhas. Foram divididas as equipas e então os colegas, Saúl e Daniela, ficaram no meu grupo e contamos com a ajuda do doutor Gonçalo. De seguida, este fez a contextualização daquilo que irá ser trabalhado e do que já foi posto a descoberto na sondagem, que ficou à nossa responsabilidade, que foi a sondagem 97V. Neste dia baixamos todas as UE’s (Unidades Estratigráficas) a 211, 212 e 214. As pedras que se encontravam como que a separar duas UE’s 211 e 212 foram três delas retiradas, visto já terem sido desenhadas, e como baixamos a cota destas UE’s, parte dessas pedras ficaram completamente descalçadas. Isto foi o que eu e o colega Saúl fizemos. Já a colega Daniela esteve na UE (Unidade Estratigráfica) 216 que corresponde ao que se pensa ser uma lareira da casa que existia anteriormente à presença romana (Anexo I, Fotografia 10 e 12), e baixou até uma nova UE de cor mais escura sendo esta a UE 217. A UE 213 corresponde às pedras que foram retiradas pelo Saúl, e ainda a UE 215 corresponde às pedras da lareira.

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Após isto limpamos todo o espaço para no dia seguinte limparmos esta sondagem, e colocarmos uma fita métrica para depois fazermos o desenho. 04/07/2014 Ao chegarmos ao sítio arqueológico foi-nos explicado como se deve colocar o teodolito. Neste dia passamos directamente a fazer o desenho. Este desenho será o Plano 9, ou seja é um novo plano, e não desenhamos a UE que corresponde à parte do lajeado da sondagem, visto nessa área estar já desenhada. Foi colocado uma fita métrica ao longo de uma das arestas da quadrícula para servir de eixo para desenharmos e ainda precisamos de um fio-de-prumo e de uma fita métrica. Todos nos ajudamos no desenho, eu estive a desenhar, e o colega Saúl foi corrigindo algumas pedras e a acrescentar alguns pormenores, e a colega Daniela foi também ajudando o Saúl a dar os pontos necessários para o desenho. Após isto colocamos no desenho as UE’s existentes e as cotas que seriam tiradas de tarde. Durante a tarde, primeiramente esticamos os elásticos para delimitar a nossa quadrícula como não encontramos um dos vértices dessa quadrícula tivemos que encontrar o ponto exato para colocar uma nova cavilha, visto as outras três termos encontrado. Para isso puxamos o eixo Sudoeste e o eixo Noroeste para exatamente encontramos o ponto exato aos 4 metros e assim fizemos com fitas métricas e um fiode-prumo. Calculamos também a cota da própria cavilha. Chegou-se à conclusão de que a UE 217 já não é a suposta lareira mas será outra coisa. E ainda durante 30 minutos tivemos a decapar as UE’s existentes. 07/07/2014 Continuamos a escavar a UE 212 e 217 chegando praticamente nessas UE à rocha na UE 217. Limpamos todo este plano 9. Neste dia também arrumamos o material de uma das casas reconstruídas para a outra e limpamos a casa que ficou sem o material.

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08/07/2014 Continuamos a escavar a sondagem 97V tentando chegar até à rocha. Durante a manhã foi solicitado ao meu grupo sem a presença da colega Daniela, fomos descarregar com a ajuda do Isaac as estruturas das bancadas para o dia da Citânia Viva usada para os espectadores para uma peça de teatro. De seguida, levantamos todo o lajeado que estava na sondagem onde trabalhei. Cada uma das lajes foi numerada, com tinta branca uma a uma pelo orientador e responsável pela escavação José Antunes. De seguida, tiramos fotografias a esse Plano 9 A, e ainda aplanámos a área onde estava o lajeado. (Anexo, Fotografias 15, 16, 17, 18 e 19) O lajeado foi como que cortado e definitivamente destruído por "escavações" mais antigas do século XIX e XX. Ainda nos foi explicado um pouco o que foram os dados estratigráficos levantados aquando da escavação de 2009. Foi criada uma nova EU, a 218 que é o nível de regularização por baixo do lajeado. 09/07/2014 Expliquei à colega Daniela o que se fez no dia anterior. Começamos o dia por retirar toda a terra e erva que se encontravam entre as lajes. Eu preenchi a ficha de UE para caracterizar a nova UE. Limpamos a nova UE nivelando mais ou menos tudo à mesma cota, contudo há sempre áreas que pela sua morfologia ficam mais altas ou mais baixas. Achamos muito material cerâmico e ainda restos de um possível achado de metal. O que indica que estamos perante níveis que não foram mexidos há séculos. E que as escavações do século XIX e XX não chegaram a intervir esta área e por isso passou incólume à destruição. Neste dia ainda limpamos o plano, estendemos uma fita métrica para desenharmos. Desta feita foi o orientador Gonçalo a fazer desenho do novo plano que é o 10. (Anexo II, Imagem 4) Ainda começamos a tirar as cotas para o desenho mas, como eu e a colega Daniela fizemos mal as contas, passou para o dia seguinte esse trabalho de tirar as cotas.

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10/07/2014 O nível demorou a ser montando porque o tripé está com problemas. Os colegas Saúl e Daniela não vieram. A cota do dia é 0,75 metros. Achei com a ajuda do colega Isaac as cotas para o plano 10. Baixamos alguns centímetros da UE 218 contudo encontramos muito material cerâmico e resto de objeto de metal. No final do dia de trabalho limpamos toda a sondagem. Achamos a preparação de um piso. 11/07/2014 Neste dia só trabalhamos de manhã para limpar toda a rua principal que liga o Centro de Acolhimento ao cume da elevação da Citânia de Briteiros. O objectivo foi que essa rua fosse usada como meio de circulação para a Citânia Viva. Daniela não veio. Tiramos no fim da limpeza várias fotografias com escala a este eixo que foi limpo. (Anexo I, Fotografia 14) 12/07/2014 Dia da Citânia Viva. Trata-se de uma representação histórica. 14/07/2014 Cota do dia, 0,68 m. Voltamos a limpar a UE 218. E como encontramos em dia anteriores a preparação de um piso foi necessário criar uma nova UE a 219, abrindo uma nova ficha para caracterizar a UE. (Anexo II, Ficha de UE.) Tirei fotos com a minha câmara visto a câmara que normalmente usaram ficou esquecida. (Anexo I Fotografias 21, 22, 23 e 24) Assim, desenhei um novo plano, o plano 11 (Anexo II, Imagem 5) com a ajuda dos meus dois colegas de grupo. A colega Daniela neste dia encontrou uma cabeça de alfinete (Anexo I, Fotografia 20) e tivemos de posicionar o achado, a partir do nível topográfico, com duas fitas métricas e fio-de-prumo, para achar a latitude, longitude e cota altimétrica do achado. Este achado é o número 12, pertence à UE 219. Durante a tarde limpamos o espaço do que ficou dos objetos e cenários da Citânia Viva.

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15/07/2014 Neste dia acabamos de baixar a UE 219. Limpamos e tiramos fotos ao plano 11A. Baixamos debaixo de intenso calor esta UE. Encontramos uma nova UE 220 repetimos o procedimentos, esta UE era muito escura quase preto, apanhamos muitos carvões e fomos guardando em sacos de plástico separados da cerâmica. (Anexo I, Fotografia 22.) 16/07/2014 Neste dia continuamos a baixar as duas UE’s 219 e 220 que se dividiram no espaço que estamos a escavar e durante a manhã fiquei naquilo que correspondia, grosso modo, à UE 220. Encontrei um bloco considerável de granito em decomposição e o orientador Gonçalo disse para não escavar mais nessa pequena área. Achamos muito material cerâmico e muitos carvões. Encontramos já no final da manhã e da parte da tarde a continuação dos afloramentos rochosos que estão na área escavada que não tinha lajeado o que indica que estaremos a acabar esta intervenção na sondagem 97V. (Anexo I, Fotografia 25.) 17/07/2014 Apesar da UE 220 ter-se como que propagado ocupando um espaço maior, a verdade de que neste dia e de manhã percebemos que a espessura da UE 220 é reduzida concluímos portanto que continuamos a baixar aquilo que era a UE 219. Baixamos até à rocha o que era a afinal a UE 219 mas deixamos o bloco de saibro e uma grande faixa dele junto ao perfil SO. Após isto limpou-se todo plano final de seguida borrifamos com água o plano e fotografamos de seguida dos quatro lados do quadrado da sondagem. (Anexo I, Fotografia 25) De tarde o colega Isaac desenhou enquanto eu e o Saúl e a Daniela tiramos pontos para o desenho e fomos ajudando o Isaac. Como parte do plano já estava desenhado não foi preciso desenhá-lo todo e apenas com papel vegetal foi desenhado o que faltava do plano final. (Anexo II, Imagem 7) (Anexo I, Fotografia 26.) De tarde tiramos a cota do dia. E tiramos cotas para o desenho. 18/07/2014 Estivemos todo o dia no Museu de Cultura Castreja a lavar todo material que recolhemos durante o estágio. (Anexo I, Fotografia 27)

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20/07/2014 Visita a Citânia de Terroso, Castro de São Lourenço, Castro Santa luzia. 21/07/2014 Limpamos toda a sondagem e principalmente os perfis NE, o SE e SO para de seguida fotografa-los e desenha-los. (Anexos I, Fotografias 23, 24 e 25) (Anexo II, Imagens 1, 2 e 3). A cota do dia foi 1,23 metros. Cota da fita métrica do perfil SO a 0,10, que foi um desenho feito pelos doutores Gonçalo e José. Os perfis NE e SE eu o Saúl e a Daniela desenhamos sendo que o perfil SE a cota da fita métrica é de 0,70 metros. 22/07/2014 Neste dia, entramos pelo segundo balneário, cujo pátio se encontra quase todo destruído. A degradação é ainda maior porque as pedras das paredes estão a ser recolhidas por obra criminosa. Este balneário foi destruído pela construção no século XX da estrada nacional 309 que leva à Citânia. Visitamos também, antes de iniciarmos o trabalho, a terceira e quarta muralhas da Citânia. Neste dia preenchemos a sondagem 97 V com geotêxtil, e de seguida enchemos de pedras e terra que eram fruto de outras escavações e mesmo da escavação deste ano. (Anexo I, Fotografias 28, 29, 30, 31, 32 e 33.) 23/07/2014 O trabalho começou às duas horas da tarde. A equipa onde estive e o doutor Gonçalo fomos ao Castro de Sabroso. Fotografamos o que será uma possível estrutura de um balneário. Ou seja, será possivelmente uma estrutura inédita. (Anexo I, Fotografias 38 e 39.) De seguida, dirigimo-nos para o Museu de Cultura Castreja onde lavamos o resto da cerâmica desta campanha de escavações. Finalmente, já no final do dia, subi a uma árvore para fotografar o plano final da sondagem 99V. A seguir houve uma visita guiada ao público pelo doutor Gonçalo às sondagens onde estivemos a escavar. Expliquei de forma muito sucinta o que foi o trabalho desenvolvido durante este mês de escavações na sondagem em que trabalhei. Duas das fotografias deste

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momento encontram-se na capa deste trabalho. A colega Diana explicou a sondagem 99V. O presidente e outros responsáveis pela Sociedade Martins Sarmento estiveram presentes e felicitaram o nosso esforço e contributo para o estudo deste sítio arqueológico. 24/07/2014 Neste dia eu e a colega Daniela estivemos a desenhar parte do alçado norte da sondagem 99V. O colega Saúl faltou. O dia de trabalho também começou às 14 horas prolongando-se até às 20. A cota do dia foi de 1,16 metros. 25/07/2014 No último dia de estágio desenhei com o Guilhem o perfil SO da Sondagem 99V, a cota da fita para esse desenho foi de 0,25. A cota do dia foi 1,17 metros. Ainda durante a manhã deste dia estive a acabar do desenho que tinha começado ontem do alçado norte. Durante a tarde toda a equipa esteve a fazer exatamente o mesmo processo de enchimento da sondagem 97 V mas agora para a sondagem 99V. (Anexo I, Fotografia 34.) Um pormenor a acrescentar em todos os dias em que se escavou foi ter usado crivos para crivar a terra e assim não se perder material arqueológico ou mesmo material orgânico carbonizado como é o caso de carvões ainda em estado de decomposição e bolotas, e estas muito carbonizadas.

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Parte II - Relatório de Aprendizagem Na Arqueologia para fazer uma escavação ou prospecção é necessário imenso trabalho muito antes de ir sequer para o campo. Primeiro é preciso tratar de todo um trabalho de preparação de uma escavação ou prospecção. Assim, é necessária uma planificação de intervenção arqueológica (avaliar todos os dados disponíveis); depois para se fazer uma escavação é fundamental ter a obtenção de autorização por parte da tutela e financiamento para todo o material necessário. Quando se vai para o terreno é necessário uma estratégia de abordagem da futura escavação, é preciso reflectir como se vai proceder à escavação. E finalmente é absolutamente fundamental a criação de um sistema de registo das realidades topográficas e estratigráficas nas quais se encontram as realidades culturais. Com efeito, estratégia de abordagem do terreno terá sempre de ter em conta dois aspectos principais: o primeiro diz respeito às características do próprio sítio arqueológico e o segundo é aquilo que se chamam os objectivos da escavação, ou seja, o que pretendemos saber sobre o referido sítio. Essa estratégia de escavação traduz-se no sistema de escavação que queremos implementar, que podem ser vários sistemas. Por exemplo, por sondagem, ou seja, quadrículas um pouco espalhadas pelo terreno para encontrar estruturas ou achados; ou por quadrados alternados que se traduz em quadrículas com determinadas dimensões localizadas uma a seguir à outra, como é o caso do sistema implementado no Teatro Romano, em que estive no Estágio Prático I e agora na Citânia de Briteiros neste Estágio Prático III, sistema implantado a partir de 2005. (Anexo II, Figura 3.) Contudo, em Briteiros o primeiro sistema que se assistiu ainda durante os séculos XIX e XX foi um outro sistema de escavação, o chamado sistema em Open área que significa escavar um determinado porção de terreno, toda ao mesmo tempo sem malhas de quadrículas. Finalmente existe um outro tipo de sistema de escavação que é o sistema de quadrados com banquetas ou sistema Wheeler, que é deixar entre as quadrículas 1 ou 2 metros de intervalo. Contudo, o valor real de uma escavação repousa no valor do seu registo, e por este motivo registam-se: as realidades topográficas que dizem respeito à leitura espacial e horizontal do registo arqueológico; e ainda as realidades estratigráficas que correspondem à leitura temporal da sucessão dos sedimentos que encerram o registo

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arqueológico, ou seja, a leitura estratigráfica. Pelo que têm que ser criados sistemas de referência para proceder a esses registos. Já no terreno faz-se um levantamento topográfico do sítio através da georreferenciação do sítio arqueológico para a sua localização num contexto mais amplo em termos de espaço e altitude. Este levantamento deve ser feito com um nível topográfico ou também chamado de teodolito. Assim, para montá-lo devidamente devese ter em atenção o seu tripé que deve ser colocado a uma altura que seja confortável para todos na escavação olharem depois pelo teodolito e que as pernas do tripé fiquem bem presas no solo. De seguida o teodolito deve ser colocado em cima do tripé e bem apertado com o auxílio do tripé. A seguir, o nível deve ficar bem posicionado para que fique bem nivelado com o tripé e não inclinado. Assim, deve-se ter em atenção à bolha de ar que existe de lado no nível e essa bolha deverá ficar no meio de um pequeno círculo sabendo assim que está nivelado. Para isso devemos mexer primeiro nas pernas do tripé para o pôr o mais alinhado possível do círculo que já referi e quando isso acontecer basta rodar nos três manípulos que estão na base do nível para que o teodolito fique bem posicionado. Foi assim que aprendi a montar o nível topográfico no primeiro e terceiro estágio. Para a obtenção da localização absoluta de um achado ou de um sítio arqueológico faz-se com o nível topográfico, achando o X = longitude; Y = latitude; Z = altitude. Utiliza-se também as coordenadas terrestres (latitude/longitude, coordenadas UTM) através do uso de cartas militares 1:25000 ou GPS para localizarmos o sítio arqueológico num contexto mais amplo. Quanto à criação de um sistema de leitura (Quadriculagem do terreno) corresponde a uma malha de quadrados de dimensão variável, puramente local e topográfico, organizada segundo um sistema de coordenadas cartesianas para registo da informação. Há vários tipos de sistema de registo numa escavação: primeiro há a identificação da UE (unidades estratigráficas) que corresponde à numeração, descrição, sobreposições e relações e respectivas fichas; segundo o registo planimétrico de artefactos e contextos (desenhos de planos e plantas); terceiro, o registo estratigráfico (desenho de perfis, secções); quarto, o registo das estruturas e construções (desenho de plantas, cortes,

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alçados); quinto, o posicionamento dos objectos e respectivas fichas; e ainda o registo fotográfico, neste último caso é usado nas escavações do Teatro Romano em Braga. No trabalho em Arqueologia são necessárias imensas ferramentas de trabalho o que torna cada escavação um processo logístico complexo; conseguir as pessoas para escavar e o material necessário, assim como o trabalho logístico e de preparação para uma escavação tem de ser feito antecipadamente de acordo com as necessidades de material que a escavação irá comportar comparando com a equipa que irá para o terreno. Assim, foram necessários para o terceiro estágio; uma pá, enxadas, colherins, vassouras, baldes, uma escala, a máquina fotográfica, geotêxtil e picos. Para além disto, levamos connosco o nível topográfico, o tripé, pastas e caixas com material de desenho, caixas com sacos de plásticos, com outras ferramentas, como vários fio-de-prumo, elásticos, cavilhas, uma pá, sacholas, cavilhas. (Anexo I, Figura 1.) Para proceder ao desenho científico em Arqueologia precisamos de papel milimétrico, lápis, borracha, uma prancheta, para além de fio-de-prumo, elásticos, cavilhas, e fitas métricas. Os desenhos em Arqueologia são tão ou mais importantes que o registo fotográfico, uma vez que no desenho consegue-se captar pormenores que passam despercebidos nas lentes de uma máquina fotográfica. É um desenho meticuloso e demorado onde se regista tudo o que se vê. Há vários tipos de desenho, o desenho de um plano, que se traduz no desenho de toda a superfície da sondagem e no final tirámos várias cotas para esse desenho, um outro tipo de desenho que é o desenho de perfil. Neste desenho vamos obter uma leitura vertical dos perfis de uma sondagem o que torna a percepção da estratigrafia e da relação entre as diferentes unidades estratigráficas mais nítida e perceptivel. Neste desenho, também podem constar as informações que o desenho dos planos contém, como por exemplo a indicação das sondagens e perfis relativamente ao que está a ser desenhado. Existe ainda um outro desenho que é o alçado que se utiliza para desenhar muros ou estruturas. Quanto às escalas utilizadas e devido ao rigor e pormenor destes desenhos utilizam-se as escalas 1/1cm, 1/20cm ou 1/50cm. Nestes estágios eu desenhei à escala 1/20cm. Finalmente quanto às convenções que existem para este desenho, a argamassa pode ser apresentada com sombreado, o piso ou preparação de piso é desenhado e preenchido à cor correspondente, materiais como tijoleira são desenhados e preenchidos

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com linhas diagonais. Caso exista uma depressão nos planos, deve-se representar com uma linha e com pequenos traços e pontos, e se existir rocha é representada com cruz ou coloca-se a palavra “ROCHA”. Deve-se também fazer representar no desenho zonas que ainda não foram escavadas com as palavras “Zona não Escavada”, ou simplesmente “Não Escavado”. Para posicionar um achado em qualquer escavação é necessário antes de mais explicitar quais os que devem ser georreferenciados e aqueles que não o são. Assim, os que são georreferenciados no decorrer de uma escavação normalmente são objectos metálicos, como moedas, alfinetes, pregos, algum lítico que tenha importância como uma prisão de gado, ou objectos que sejam de ouro ou mesmo achados que são considerados raros. Obviamente que essa georreferenciação de determinados achados é feita na base de escolhas que dependem da escavação em que nos encontramos e de quem dirige essa escavação, do contexto arqueológico e da forma como se estiver a escavar. E claro que cada achado, especialmente moedas romanas, ou pré-romanas, cerâmica rara ou cerâmica fina romana como Terra Sigilatta oferecem cronologias muito precisas que servem para datar unidades estratigráficas e estruturas ao longo de uma escavação. Mesmo os carvões e restos orgânicos quando são encontrados servem para datar muitas vezes uma escavação, ou determinados estratos, apenas o seu estudo é mais demorado porque é necessário estudo laboratorial. No decorrer das escavações na Citânia foram encontrados muitos carvões e mesmo bolotas carbonizadas e até um fragmento de cerâmica que possuía junto a si, já em pedra, restos orgânicos que irão ser analisados. Cada achado tem um único número atribuído, indicando-se a sondagem em que foi encontrado. E preenchemos essa informação na ficha de achados, colocando a data de quando foi encontrado, e uma pequena descrição do achado. Quando encontramos um achado, temos primeiro de retirá-lo do solo, e marcar de imediato o sítio onde ele se encontrava marcando com a ponta de um colherim, por exemplo. Para o posicionar necessitamos de material como fitas métricas porque precisamos de usar um dos eixos da sondagem que estamos a escavar, precisamos ainda um fio-de-prumo. Precisamos também, claro, de um nível topográfico, um tripé, e ainda uma mira telescópica. Para saber a localização exata do achado então precisamos de

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saber a latitude, longitude e a cota altimétrica. Quanto à latitude e longitude mede-se em relação às fitas métricas que estão na sondagem, e em relação à cota ou altitude é necessário montar o nível topográfico depois com o auxílio de uma mira telescópica tiramos a cota do dia, que podemos tirar de um ponto da escavação que tenha uma cota absoluta, seja uma árvore ou algo que sabemos que vai manter-se no local. A partir do momento em que se encontra a cota absoluta, deve-se calcular a cota do dia que pode ser diferente todos os dias e depois é só colocar a mira telescópica no sítio onde encontramos o achado e soma-se ou subtrai-se à cota do dia à posição do objeto conforme se situar acima ou abaixo do nível topográfico. De seguida o achado é colocado numa saca de plástico à parte com um etiqueta igual a todas as outras para os materiais que encontramos que possui a sondagem, a UE com a diferença que deve indicar que é um achado e não o tipo de material que está dentro da saca. Finalmente, para além dos achados que devem ser tratados de forma individualizada, todo o material que encontramos numa escavação, seja ele cerâmica ou material orgânico, como ossos, carvões, todo este material deve ser colocado em sacos plásticos transparentes. Estes devem ser furados para não deteriorar o registo, e cada um destes sacos deve ter sempre a indicação num pequeno rectângulo de papel do sítio arqueológico, da sondagem de onde vem esse material, a UE, que tipo de material é, e a data. Esse pequeno rectângulo é depois agrafado ao saco, de seguida o saco é fechado agrafando a sua abertura por esse pequeno rectângulo e transporta-se para o laboratório para futura limpeza, marcação, se for possível, e estudo. Quanto à prospecção que foi feita no Estágio II, tive a oportunidade de durante um mês participar na prospecção sobre várias hipóteses sobre as vias romanas que partiam de Bracara Augusta para vários pontos da Península Ibérica. Em termos metodológicos e o percurso que se fez pensa-se que correspondeu àquilo que seria a saída da Porta Norte da cidade de Bracara Augusta, isto a partir do traçado da muralha romana, seguindo aquilo que poderá ter sido a Via XIX em direcção a Asturica Augusta, que fazia ligação às três capitais do Noroeste Peninsular. Os trabalhos de prospecção foram feitos ao longo daquilo que seria a Via XIX entre Braga e o Rio Cavado. Este Estágio incidiu mais naquilo que se pode chamar a

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Arqueologia da Paisagem, uma vez que se estudaram as transformações da paisagem, neste caso a paisagem urbana da cidade de Braga ao longo de séculos. Nesse estágio II também tentamos confirmar ou infirmar alguns eixos do cadastro romano que existia nesta área geográfica e aquilo no que corresponde hoje. Para além disso, e relativamente ao grupo em que me incluí, tivemos como objectivo principal compreender os possíveis trajectos da via XVI que ligava Bracara Augusta a Olisipo via Cale. Por conseguinte, seguimos várias hipóteses do trajecto dessa via. Seguimos a ideia de três fontes diferentes, contudo partimos de uma das hipóteses mais viáveis, uma proposta por Francisco de Sande Lemos que defende que a Via XVI começava logo a seguir à rua de S. Geraldo e dirigia-se pela veiga de Lomar continuando para Cale e partindo daí até Olisipo. Também durante este Estágio tomei contacto com uma ferramenta fundamental para o trabalho em Arqueologia, pelo menos bastante útil para os trabalhos de prospecção, que é o Sistema de Informação Geográfica (GIS) através do programa informático Quantum-GIS que disponibiliza informação espacial para a análise e gestão de uma zona ou área geográfica, georreferenciando-a. Isto permite depois manipular esta imagem atribuindo-lhe um conjunto de dados, criando uma base de dados que pode ter milhares de elementos alfanuméricos, associando a esta base de dados ficheiros matriciais. Esses ficheiros podem ser de variada ordem como: cartografia, fotografia aérea, no caso da Arqueologia podemos ainda colocar os sítios arqueológicos e vias romanas que podiam existir num dado território, desde cartas hidrográficas e topográficas, e depois de tudo isto podem ser cruzados todos este elementos para compreender fenómenos que podiam passar despercebidos à primeira vista. Aprendi também com este estágio e com as aulas lecionadas no primeiro ano a saber usar as Cartas Miliares de Portugal à escala 1:25000. Para fazer prospecção, sobretudo incidindo sobre a época romana devemos utilizar sempre que possível e necessário várias fontes. Desde logo as fontes documentais são uma preciosa ajuda que se podem dividir em manuscritas, escritas, gráficas e cartográficas; as fontes materiais são fundamentais para termos a percepção mais aproximada de determinado estudo que estamos a fazer são exemplos as fontes epigráficas e a numismática.

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A cartografia é um dos elementos mais importantes e mais presente durante qualquer trabalho de prospecção e mesmo em escavação, nem que seja na parte inicial. Quanto à cartografia tradicional seja em papel seja em formato digital continua a ser o instrumento mais utilizado pelo arqueólogo na prospecção e mesmo na escavação nos momentos iniciais. No caso português a cartografia à venda inclui cartas topográficas, geológicas e temáticas como de solos, higrométricas, entre outras. As que arqueólogos utilizam com maior frequência são as Cartas Militares Portuguesas publicadas pelo Instituto Geográfico do Exército na escala 1:25000, cartas que cobrem todo o território. A informação nestas cartas é fundamental para o trabalho em Arqueologia. Para além da informação topográfica representada pelas curvas de nível, equidistantes de 10 em 10 metros, estas cartas possuem descrita a toponímia, bem como a localização de informação referente a estradas, fontes, poços. No caso da Citânia de Briteiros existem duas plantas diferentes e feitas em contextos históricos e de interpretações arqueológicas diferentes do espaço. É interessante a partir delas compreender a organização deste povoado, as suas interpretações ao longo do tempo, e partindo delas proceder a novas campanhas de escavações. Já falei de uma, falta falar de outra. Existe hoje um Levantamento Geral por Sectores de Intervenção, produzida pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho elaborado em 1999 que servirá para essas futuras campanhas de escavações. (Anexo I, Figura 3.) Os arqueólogos têm ao seu dispor, para além deste tipo de cartografia mais tradicional, vários géneros de imagens, e uma das mais recentes é a que resulta dos sistemas de teledetecção remota provenientes do posicionamento e movimentação orbital de satélites de vários modelos aos quais temos hoje acesso - os ortofotomapas. Um outro exemplo de imagem é o da fotografia aérea. A importância da fotografia aérea na localização de sítios arqueológicos aumenta quanto maior for o número de estruturas existentes no sítio. Em consequência, sítios do período dos caçadores recolectores são muito difíceis de detectar visto não deixam estruturas duráveis no tempo como por exemplo os muros ou estruturas da Idade do Ferro ou Romanas. Este tipo de imagem permite o registo de determinados padrões, geológicos, topográficos, ou outros que por sua vez e mais tarde nos processos de investigação vão permitir o reconhecimento dos padrões de povoamento, para além disso conseguimos ter indícios higrométricos, indícios fitológicos, indícios pedológicos e os indícios ciográficos. Possivelmente este

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tipo de imagem seria interessante utilizar em algumas áreas do território onde está implantada a Citânia de Briteiros para colocar a hipótese da existência de algumas estruturas escondidas entre a vegetação. Um método de prospecção que nos foi explicado foi a prospecção geofísica que se baseia no pressuposto da existência de estruturas arqueológicas soterradas e provoca alterações no meio físico, suscetível de interpretação. Pode-se subdividir em eléctricos, magnéticos e acústicos. Os eléctricos servem para medir a resistividade na terra para detectar existência de pedra, ou estruturas subterradas. A resistividade do solo é diferente se existirem estruturas no subsolo ou não. Já na prospecção directa no terreno é necessário alguns procedimentos prévios como a burocracia, desde da autorização oficial (da tutela, no caso Português é o Direção Geral do Património Cultural) e claro no caso de se prospectar um terreno é necessário primeiro pedir uma autorização ao proprietário não sendo muitas vezes pacifico que estes cedam as necessárias autorizações (e no Estágio Prático II este aspecto foi determinante para se prosseguir com as investigações). Um dos métodos utilizados para se fazer prospecção de superfície pode também ser o field walking (nesta técnica recolhe-se tudo o que estiver à superfície) pode ser feito de forma sistemática, por amostragem, por aleatório de quadros ou aleatório de secções. Finalmente, as fontes materiais arqueológicas. Estas sim são a essência daquilo que é fundamental para um projecto em Arqueologia, sendo eles epígrafes, cipos gromáticos, marcos de delimitação de terrenos, cerâmica da antiguidade, sejam bifaces da pré-história, sejam eles outro tipo de artefactos ou estruturas antigas, é a partir deles, que se pode começar um projecto em Arqueologia. Com todo esse trabalho fiquei a perceber o quanto, em Arqueologia e tanto na escavação como em prospecção, o trabalho está sempre incompleto. De facto, em Arqueologia é necessário tempo, e muito estudo e dedicação para ter uma percepção de como, e o mais aproximadamente possível, se organizava um povoado proto-histórico, ou como se organizava o espaço no período de ocupação romana. Mas sabendo que a prospecção pode e deve ser feita não só ao serviço da Arqueologia da Paisagem, mas para estudos mais aprofundados sobre a implantação geográfica e espacial de sítios

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arqueológicos podendo projectar-se outro tipo de conclusões e pontos de vista que, sem o Quantum GIS, seria pouco provável chegarmos a determinados pontos de vista. Quanto a este terceiro e último Estágio Prático funcionou para mim como que uma consolidação de todo o trabalho e aprendizagem feita ao longo de três anos de estudo no âmbito desta licenciatura e sobretudo compreendi o que é trabalhar e fazer Arqueologia. O esforço e a dedicação que implica são imensos. Percebi durante estes três anos que o registo arqueológico é muitas vezes danificado não pelos processos naturais mas muito por causa da acção humana, por inacção ou acção por desconhecimento ou propositadamente. Havendo também os casos em que julgando estar a preservar ruínas e registos arqueológicos, acabam por danificar um pouco todo esse registo, como foi o caso das escavações efectuadas na Citânia de Briteiros, particularmente nos finais do século XIX e primeira metade do século XX. O trabalho de equipa que é algo fundamental em Arqueologia, a camaradagem e apoio que damos uns aos outros, tornam a Arqueologia um trabalho que se torna mais que um trabalho, torna-se uma experiência profissional e de vivência fantástica. Neste estágio fiz algo que ainda não tinha feito, que era crivar terra, isto é, partindo de vários crivos colocava terra em cima do crivo e ia mexendo até toda a terra cair e ficar no crivo restos de bolotas carbonizadas, carvões e ainda material cerâmico que tivesse sido colocado nos baldes com o resto da terra sem serem notados, e depois tudo isto é recolhido. Vi, in situ, o que foi uma realidade de escavação no século passado e compreendi o quanto isso ainda hoje condiciona o trabalho de investigadores deste povoado. Entendi que ao longo dos anos surgiram e inventaram-se mesmo as mais diversas teorias sobre a organização deste povoado, quem seria o povo e do que viviam, muitas vezes sem atenderem ao que o registo arqueológico nos podia e pode fornecer. Claro que o próprio registo é muitas vezes pouco informativo, e não se pode passar para conclusões sem antes analisar e interpretar bem o registo arqueológico. Por isso, uma das coisas que melhorei e apreendi foi a capacidade crítica de pensar o registo arqueológico e de equacionar questões sobre ele. Por isso só as perguntas certas, feitas no momento certo e conforme o registo que possuímos, é que podem ser respondidas com alguma qualidade, baseadas sempre na informação do registo. Um arqueólogo não

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pode simplesmente inventar interpretações, tem de se cingir ao que o registo nos pode confirmar ou no máximo conjecturar. Mais, em Arqueologia não há verdades absolutas, pode haver sempre novas interpretações se surgirem novos dados em relação a alguma escavação já produzida. Por isso, um arqueólogo deve pensar um sítio arqueológico, seja ele qual for, de espírito aberto mas com o maior rigor possível. Durante este estágio também melhorei e muito a minha capacidade de desenho científico, uma vez que, desenhei boa parte dos desenhos da sondagem 97V e ainda estive a desenhar um alçado e um perfil da outra sondagem a 99V, como já referi na Parte I deste relatório. Aqui denota-se a importância, reafirmando o que já tinha dito anteriormente que o desenho arqueológico é uma parte fundamental do registo numa escavação e é insubstituível. Percebi o quanto foi importante o pioneirismo de Martins Sarmento nomeadamente do seu gosto pela fotografia e a sua ideia de fotografar as suas campanhas de “escavações” na Citânia o que possibilitou a existência hoje de um registo ímpar e único no que a escavações arqueológicas diz respeito, no norte de Portugal e creio mesmo que em todo o território português. Por consequência, na sondagem 99V foi encontrada uma prisão de gado, que o doutor Gonçalo possuindo algumas das antigas fotografias das campanhas de Martins Sarmento conseguiu detectar numa dessas fotografias que essa prisão figurava num muro. Resta agora o problema de saber em que muro da Citânia se localizava essa prisão de gado, uma vez que essas fotografias não possuem coordenadas geográficas nem nenhuma referência do sítio exato onde se encontrava. Aqui, nota-se, não obstante algumas dificuldades, o quanto um registo fotográfico antigo possibilita uma melhor interpretação do registo e é também muito importante para o estudo numa escavação. Na introdução deste trabalho falei das duas cartas topográficas feitas propositadamente para este sítio arqueológico. Ora, foi de facto fundamental e ainda são hoje muito importantes para se fazerem novas campanhas de escavação. Quando referi as escombreiras que se traduzem em autênticas elevações espalhadas pela Citânia, estas foram representadas no levantamento topográfico de 1892 o que permite hoje localizar e preparar novas escavações e saber onde se encontram esses montes, que, pensa-se, conterão no seu interior muito material das antigas escavações.

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Uma outra ferramenta que utilizei neste relatório e que aprendi nas aulas deste terceiro ano foi a utilizar um programa de computador que se chama AutoCAD. Aprendi a trabalhar com ele nas aulas de Arqueologia e Informática, leccionada pela professora Maria do Carmo, e achei pertinente usá-lo. Este programa de desenho assistido por computador serve essencialmente para gerar desenhos electronicamente. Este programa, como outros do género, são utilizados por Arqueólogos servindo-se dele para elaborar peças de desenho técnico em duas dimensões (2D) e para a criação de modelos tridimensionais (3D). É exatamente neste sentido que vou digitalizar os desenhos deste Estágio Prático. São dezenas as vantagens para a produção de desenho assistido por computador, primeiramente a precisão. Não se pode comparar um desenho feito manualmente com a um desenho produzido no computador, depois no computador podemos copiar, apagar, substituir qualquer componente do desenho, recuperar informação e guardar e transportar numa simples pendrive. Um desenho de uma escavação pode ser perdido ou danificado. No caso desta ferramenta tecnológica ao serviço dos arqueólogos e da Arqueologia, o AutoCAD serve por exemplo para a digitalização dos múltiplos desenhos de trabalhos arqueológicos tanto de planos como de perfis e alçados, que depois servem para fazer uma planta final com o conjunto de todos os planos digitalizados. Após este trabalho podemos proceder a uma interpretação do desenho podendo através dos vários layers (camadas), com diferente tipo de informação, fazer interpretações sobre o que queremos especificamente saber. E pode-se ainda georreferenciar esse desenho já digitalizado. Para finalizar, resta acrescentar que a participação do Guilhem Domingo, aluno de Arqueologia da Universidade de Barcelona que fui muito interessante. Permitiu perceber que numa escavação trabalhamos muitas vezes com pessoas que não conhecemos, sejam elas da nossa nacionalidade ou de outras. Assim, percebi que na Arqueologia e numa equipa, numa campanha de escavação, por muito pequena que seja, não existem fronteiras, toda a ajuda é bemvinda numa contínua aprendizagem, camaradagem, como decorreu neste último Estágio.

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Parte III – Relatório das Actividades de Enquadramento No caso do meu grupo, em que estivemos a escavar a sondagem 97V ficamos com a colega Daniela sob a nossa responsabilidade de orientação e enquadramento do seu trabalho. De facto, a colega esteve sempre disposta a trabalhar, ajudou em todos os processos da escavação, não desenhou mas ajudou a tirar os pontos para o desenho e os pontos das cotas senhos. Nos dias em que faltou, eu e o colega Saúl enquadramos o melhor possível o que estivemos a fazer nos dias em que faltou a Daniela. Exactamente no dia 9 de Julho, como a Daniela faltou no dia anterior, estive a explicar como se processou o levantamento do lajeado, e como as lajes foram numeradas. Estive ainda a explicar que a UE que estava debaixo do lajeado representava uma nova UE. Apesar de ter faltado algumas vezes, a Daniela tentou recuperar esse tempo na escavação. Eu e o colega Saúl tentamos integrá-la no grupo a que pertencia tentando explicar tudo o que se tinha passado quando faltou, e tentando animá-la sempre que as forças começavam a faltar, com boa disposição e companheirismo. Participou em todo o processo de escavação, desde da escavação propriamente dita, passando por fazer as etiquetas das sacas com espólio arqueológico. Estava sempre disposta a ajudar e a trabalhar e ajudou sempre a transportar o material da escavação. Esteve comigo diversas vezes a tirarmos as cotas, havendo uma vez que reconheço por erro meu correu menos bem. Contudo, foi um bom trabalho da parte da colega Daniela.

Parte IV – Relatório sucinto da escavação da sondagem ou sector que teve sob sua responsabilidade. Tentarei agora de forma sucinta explicar um pouco o contexto da sondagem sob a minha responsabilidade que foi a sondagem 97 V. Esta encontra-se no sector 7 no centro do pátio da unidade habitacional 3, cujos trabalhos das escavações de 2009 permitiram escavar e retirar um aterro que resultou das campanhas de Martins Sarmento do século XIX que estava por cima de um lajeado. (Anexo II, Figura 3.) Esta unidade habitacional considera-se ser “de tipo Domus”. Este tipo de construções na Citânia de Briteiros têm sido consideradas e interpretadas como uma demonstração do fenómeno da Romanização neste povoado, são datadas do período Romano Alto-Imperial. Antes de começarmos as escavações nesta sondagem, foi limpa e fotografada. (Anexo I, Fotografia 8 e 9.)

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Assim, os objetivos de escavação no âmbito deste Estágio, no que ao meu grupo e a mim diz respeito foram: por um lado baixar toda área que está sem lajeado uma vez que essa área foi perturbada pelas escavações de Martins Sarmento, que corresponde a uma vala de saque; por outro lado era necessário perceber quais os níveis de ocupação por baixo do lajeado, e por isso numa segunda fase da escavação era necessário levantar e numerar as pedras do lajeado, e por fim escavar também essa parte da sondagem e ver que resultado fornece esta campanha. Começamos por decapar e baixar as UE’s 212 e 211 a 214 percebendo se são as mesmas ou se vão já ser outras UE’s. Apercebemo-nos que são iguais. E retiramos 3 pedras do contexto destas UE’s que correspondem à 213. Escavámos também a UE 216 que corresponde ao que se pensa ser uma lareira da casa que existia antes da presença romana. Encontrou-se uma nova UE a 217 que possui uma cor mais escura. A UE 215 corresponde às pedras da suposta lareira. Contudo, no dia seguinte e acabando de levantar a nova UE 217 percebemos que essa lareira era só um nível diferente, que pensávamos ser o começo de uma estrutura. Desenhámos o plano 9. O que veio a ocorrer é que continuando a escavar essa UE 217 chegamos à rocha, ou seja neste canto da sondagem não existia nenhuma nova estrutura. Continuamos também a escavar a UE 212, até encontrar a rocha e outras pedras de consideráveis dimensões. Numa nova fase da escavação levantamos o lajeado em aparelho poligonal, que corresponde ao pavimento do pátio da unidade habitacional que corresponde à UE 203. As UE’s que servem de nível de preparação do lajeado da UE 203 são a 205, 206 e 207. Esta última ainda tinha argamassa era uma camada sedimentar de cor amarela. As UE’s 204, 208 e 209 eram camadas de cor escura que correspondiam ao enchimento da vala de saque do século XIX. Área por baixo do lajeado é uma nova UE 218, corresponde ao enchimento de regularização do lajeado que foi em parte cortada pelas antigas escavações do século XIX. Na UE 218 foram encontrados muitos fragmentos de cerâmica e ainda um fragmento de metal, algo que não é de espantar visto ter sido uma camada que nunca foi remexida, e nivelamos esta UE. Desenhamos o plano 10 (Anexo II, Imagem 5) e cotamos esse plano. A UE 218 é igual às UE’s 205 e 206 da Sondagem 99 V. Ao baixarmos a UE 218 encontramos vários fragmentos de cerâmica e ainda um fragmento metálico indeterminável.

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Continuamos a baixar a UE 218 e criamos uma nova UE a 219. Desenhamos o plano 11 e tiramos cotas. (Anexo II, Imagem 6) Encontramos nesse momento um achado importante, uma cabeça de alfinete. (Anexo I, Fotografia 20) De seguida nos dias seguintes acabamos de baixar a UE 219. Foi fotografado um novo plano o 11 A e cotamos. Continuamos a baixar essa UE e deparamo-nos com uma outra UE a 220 que possuía a terra muito escura e recolhemos muitos carvões que se revelou ser igual à 217. Partimos para uma conclusão que seria um nível de incêndio. Continuamos a baixar essas duas UE’s que pareciam dividir este espaço da sondagem. Contudo a partir de determinada altura a UE 220 passou também a ocupar parte a outra UE principalmente de um dos lados. Surgiu também um bloco considerável de granito em decomposição. Apesar de tudo isto percebemos que ao baixar aquilo que pensávamos a UE 220 que teria uma grande dimensão porque começava a ocupar a UE 219, afinal tinha uma espessura reduzida e portanto concluímos que devíamos continuar a baixar aquilo que era a UE 219. Após termos baixado um pouco mais essa UE até à mesma cota onde se situava já a rocha e o delimitando o bloco de saibro, passamos ao desenho do Plano Final desta sondagem. Na última semana, limpamos toda a sondagem e especialmente os perfis para os desenhar. Os perfis foram o NE, o SE que incluiu as pedras que se encontram no aterro, e ainda o perfil SO. O outro perfil não foi desenhado por constituir praticamente só rocha. (Anexo II, Imagens 2, 3, 4) Finalmente, no dia 22, o meu grupo preencheu a sondagem 97 V com geotêxtil, e de seguida enchemos de pedras e terra que eram fruto de outras escavações e mesmo da escavação de aterros com terra desta campanha de escavação. Portanto, quanto aos objetivos que também passavam por encontrar vestígios de ocupação pré-romana por baixo do lajeado e mesmo no resto da sondagem chegou-se à conclusão de que existe um nível de ocupação nesta sondagem, uma vez que parte dela já se encontrava saqueada, e por outro lado na esperança de existir algum nível de ocupação mais abaixo do lajeado o que podemos concluir no máximo é que existiu uma ocupação pré-romana deste espaço e provavelmente um nível de incêndio devido à quantidade de carvões e bolotas carbonizadas encontrados e todos os níveis tanto por baixo do lajeado como no resto da sondagem permitiu encontrar grande quantidade de

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cerâmica da Idade do Ferro e pré-romana, e poucos fragmentos de cerâmica comum romana e um fragmento de Terra Sigilatta romana. (Anexo I, Fotografias 25, 26 e 27) Encontrou-se predominantemente nesta sondagem, muitos fragmentos de cerâmica da Idade do Ferro, das quais algumas decoradas, recolhemos também um fragmento de cerâmica fina romana, que se traduz num fragmento de Terra Sigilatta encontramos também um achado, uma ponta de alfinete em ferro. Encontraram-se também muitos restos orgânicos de carvão e bolota, as quais foram separadas em sacos diferentes para posterior análise. Para concluir, deixo uma figura sobre todas as áreas intervencionadas neste Estágio e as áreas que poderão no futuro ser intervencionadas. (Anexo II, Figura 4.) Relativamente à Sondagem 99 V foram encontrados de assinalar fragmentos de cerâmica da Idade do Ferro com restos de comida já em pedra, e ainda meia mó. (Anexo I, Fotografia 11.) Durante esta campanha, e em particular nesta sondagem, foram atribuídas 4 novas unidades estratigráficas e preenchidas as respectivas fichas. Encontrou-se 1 achado, e foram desenhados 5 planos, incluindo o plano final e 3 perfis. (Anexo II, ficha de Achado e Fichas de UE). Ainda tive tempo de vectorizar no AutoCAD três perfis e os três planos 10, 11, e Plano Final. (Anexo II, Figura 5, 6, 7, 8, 9 e 10)

Considerações Finais Para terminar este relatório resta-me expressar algumas opiniões e aquilo que senti durante este mês de intenso trabalho e fazer o balanço do que foram três anos neste curso de Arqueologia em geral e dos Estágios Práticos, em particular. Este Estágio foi, na minha opinião o melhor dos três Estágios, onde usufrui mais da aprendizagem teórica que fui adquirindo ao longo de três anos, onde fui além dos meus limites, superando algumas dificuldades que tinha, especialmente no que diz respeito ao desenho arqueológico. Aperfeiçoei a forma de escavar, adquiri uma noção maior do que são unidades estratigráficas, como lê-las e compreendê-las. Foi neste estágio que percebi que um arqueológo não é apenas um arqueólogo em sentido estrito, é mais do que isso, tem de ser mais do que isso; tem de ser, por vezes, guia turístico, tem de restaurar ruas, tem de preservar o património onde se

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encontra a escavar, um arqueólogo não se pode nunca esquecer de que o seu trabalho é feito de pessoas e para pessoas, e sem o contacto com o público, sem que este compreenda o nosso trabalho de pouco nos serve o suor e o esforço de remoção da terra durante as campanhas de escavação. Senti o que é realmente o trabalho de arqueólogo, e gostei mesmo. Sendo este contexto arqueológico preferencial para mim foi fantástico ter podido trabalhar durante um mês num dos mais ricos e interessantes sítios arqueológicos do Norte Portugal, isto na minha opinião. Não podia deixar em claro uma participação especial neste estágio. Foi um prazer ter trabalhado e podido dar o meu contributo para um aluno de outro país, de Espanha, mais especificamente da Catalunha, que veio da Universidade de Barcelona participar neste estágio. Este colega é o Guilhem Domingo. Foi fantástico ter partilhado com ele toda a vivência e camaradagem que existiu neste Estágio. Quanto à sua participação neste Estágio espero que tenha aprendido o máximo sobre o que é fazer Arqueologia, o que me pareceu que ele ficou completamente inteirado. Pelo que sei ele gostou tanto como cada um dos estagiários que participaram neste estágio. Considero que este curso de Arqueologia é o melhor que temos no nosso país, porque para além de toda a bagagem teórica extraordinária que levamos connosco em praticamente todos os domínios da história e da arqueologia, temos a possibilidade de frequentar três estágios curriculares onde contactamos com a realidade da Arqueologia, e compreendemos no corpo, literalmente, o que é fazer Arqueologia, e o que significa ser arqueólogo em Portugal. Ao contrário de outros cursos de arqueologia espalhados por quase todas as universidades do país que, com certeza terão as suas valências, o curso de Arqueologia da Universidade do Minho é sem dúvida único, pela sua relação com o mercado de trabalho, uma vez que aquando da criação do curso na Universidade do Minho, foi criada a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho que depende da reitoria da Universidade e que se concretiza em protocolo celebrado com o município de Braga, para a escavação, preservação e divulgação do que é o Projeto de Salvação de Bracara Augusta, para além de apoiar os alunos durante a licenciatura e mestrado no âmbito das Ciências Sociais. Para finalizar, algumas sugestões sobre futuras investigações na Citânia. Na minha opinião e a curto prazo desenvolver e realizar mais sondagens perto no local onde decorreu este estágio para chegar a conclusões mais precisas sobre a funcionalidade do

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espaço que já foi escavado que era uma casa “de tipo Domus”, e tentar compreender quais foram os níveis ocupacionais mais antigos e em que consistiram, se o registo arqueológico assim o permitir. No que diz respeito à sondagem em que estive, a 97V, na minha opinião seria uma boa aposta escavar o resto da escombreira que se situa a sul deste sondagem, para tentar perceber se havia mesmo uma continuidade do lajeado e se assim for, seria interessante ser escavado para perceber se essa nova sondagem traria novas interpretações e provavelmente mais questões sobre a sondagem desta campanha de estágio. Isto a curto prazo. A médio ou longo prazo penso que seria interessante escavar aquilo que alguns autores já interpretaram com podendo ser um templo pré-romano ou romano na encosta nascente. Seria interessante verificar se foi ou não um templo, visto até agora não ter sido encontrado nenhum vestígio desse tipo de estruturas neste povoado. (Anexo II, Figura 4.) A meu ver seria também interessante escavar o que resta, que já é pouco, do segundo balneário a Nordeste em ruínas e já alvo de saque das suas pedras. Seria curioso saber o que ainda reserva este balneário, se possui ou não espólio e até que ponto pode ser requalificado e restaurado. Na minha opinião um outro tipo de intervenção seria escavar algumas das escombreiras que se encontram espalhadas pelo sítio arqueológico produzidas pelas primeiras escavações feitas por Martins Sarmento no final do século XIX. O objetivo de escavar algumas dessas escombreiras seria, em primeiro lugar recolher o material e estudá-lo apesar de não se saber a sua origem neste sítio arqueológico, acho que valeria a pena desenterrar todo esse entulho, e em segundo lugar tornava o sítio mais amplo e sem esses autênticos montes. Um outro local interessante a ser escavado seria aquilo que o orientador Gonçalo Cruz considera ser, à semelhança de outros castros, um recinto público da Citânia que pode estar na área onde se implanta a capela do século XIX. (Anexo II, Figura 1.) Relativamente ao Castro de Sabroso, e pelo que me fui apercebendo, parece ser o parente pobre da Sociedade Martins Sarmento, eventualmente por falta verbas, e seria interessante, quando fosse possível, proceder a um novo estudo à luz das metodologias e interpretações actuais de todo o complexo e, pelo menos, limpar e requalificar esse sítio que se encontra praticamente ao abandono. Já sei que isso implica custos, mas penso

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que ao rentabilizarem o espaço e ao procederem a essa limpeza e requalificação resultaria algo interessante e que com certeza atrairia visitantes a este Castro. Sei que este Castro não é, aparentemente, tão magnífico como a Citânia, mas acho que valeria muito a pena o seu estudo. Para terminar, quero só reafirmar que isto não é apenas a opinião de um aluno que está praticamente a acabar o curso de Arqueologia, mas também de alguém que, mesmo sem um curso superior nesta área do conhecimento, sempre entendeu que o património como o que temos em Portugal deve ser preservado. Aliás, é de salientar o extraordinário trabalho que a Sociedade Martins Sarmento, com o apoio da Universidade do Minho, tem levado a efeito, pelo estudo e preservação da Citânia de Briteiros. Mas, por favor, não olvidem o Castro de Sabroso. Assim, no final de três anos de estudo seguidos de outros tantos estágios que frequentei posso afirmar que estão dados os meus primeiros passos no mundo da Arqueologia, sabendo perfeitamente que o caminho a percorrer será longo, porque claramente me falta muita experiência de campo e muitos anos de estudo, suor e pó e o contacto com os mais diversos contextos arqueológicos para ser, de facto, arqueólogo mas, como escreveu Fernando Pessoa, “…Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor.”. Foi um gosto enorme ter contribuído para o estudo e conservação de um dos sítios arqueológicos mais interessantes em Portugal, que há mais tempo se encontra em estudo, que já foi fruto de restauros e escavações sucessivas mas que ainda hoje é uma fonte de inesgotável conhecimento para todos aqueles que se interessam pela arqueologia e pela história do nosso país, a qual deve ser preservada e respeitada e sobretudo conhecida por todos. Espero que em breve, possa voltar a trabalhar neste espaço absolutamente fantástico, com as pessoas extraordinárias que tive a oportunidade de conhecer e de com eles trabalhar e aprender.

Anexos I

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Bibliografia CARDOZO, Mário. (1956) Citânia de Briteiros e Castro de Sabroso, Notícia Descritiva para servir de guia ao visitante, (4ª ed). Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, Companhia Editora do Minho. LEMOS, Francisco de Sande (2006) – A Cultura castreja do Minho – espaço nuclear dos grandes povoados proto-históricos do Noroeste Peninsular. Versão Provisória. Citânia de Briteiros, Povoado proto-histórico, The proto-historic settlement, (2007) Sociedade Martins Sarmento, Guimarães. CRUZ, Gonçalo Passos Correia.; LEMOS, F. S.; MARTINS, M. (Junho 2010) Relatório de trabalhos arqueológicos de 2009, Sociedade Martins Sarmento, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho. CRUZ, Gonçalo Passos Correia (Janeiro 2013) – O surgimento do espaço no Noroeste da Ibéria. Uma reflexão sobre oppida pré-romanos: Actas de Congresso de León 2013. Sociedade Martins Sarmento – CITCEM, Universidade do Minho. Estudo e valorização da Citânia de Briteiros - Trabalhos arqueológicos de 2014 (BRIT14) - Anexo cartográfico. https://www.flickr.com/photos/voz_do_berco/3896773196/ - acedido a 15-08-2014

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