Este Mundo é Meu e as sete sementes

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Es te Mundo é Meu e as 7 Este Sementes:

Arte, Espiritualidade, Educação, Ética, Cultura, Ciência Participação.

Este Mundo é Meu e as 7 Sementes: Arte, Espiritualidade, Educação, Ética, Cultura, Ciência e Participação.

Organizadoras Ermelinda Moutinho Pataca Lizette Toledo Negreiros

São Paulo, 2008

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copyryght ccsp@2008 Centrpo Cultural São Paulo Rua Vergueiro, 1000 01504-000 - Paraíso - São Paulo -SP http://www.centrocultural.sp.gov.br Todos os direitos reservados. É obrigatório a citação dos créditos no uso para fins culturais. _____________________________________________________________________________________________________

Prefeitura do Município de São Paulo Secretaria Municipal de Cultura Centro Cultural São Paulo Divisão de Informação e Comunicação Revisão Foto capa Publicação site Organizadores/Autores

Gilberto Kassab Carlos Augusto Calil Martin Grossmann Durval Lara Paulo Vinício de Brito/Camile Rodrigues Aragão Costa João Mussolin Marcia Marani Ermelinda Moutinho Pataca Lizette Toledo Negreiros

___________________________________________________________________________________ Título: Este mundo é meu e as 7 sementes: arte, espiritualidade, educação, ética, cultura, ciência e participação. ISBN: 978-85-86196-33-1 Organizadora: Ermelinda Moutinho Pataca Organizadora: LizetteToledo Negreiros Fotografias: Paula Lyn Carvalho Edição: 1 Ano de Edição: 2008 Local de edição: São Paulo Tipo de Suporte: E-book Páginas: 131 Editora: CCSP-Idart

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Sumário Sobre Este Mundo é Meu!

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Da Programação

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Expressões Artisticas

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Artes Plásticas .............................................................................................................................

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Verde-Amarelo: site specific, oficinas e palestras

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Programação Audiovisual

O Aquecimento Global, Arnaldo Fernandes Junior

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“Aquecimento Global” - Palestra de A. Ricardo J. Esparta

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Educação ambiental e mudanças climáticas: Relato de uma experiência no Japão, por Isis Akemi Morimoto Sinopses dos filmes

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Fórum de Reflexões - Integrações Socioambientais na cidade de São Paulo, por Ermelinda Moutinho Pataca

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-Música e meio ambiente, Marisa Trench de Oliveira Fonterrada .....................................

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MESA 1 - Arte e Meio Ambiente -Arte-educação e percepção ambiental: uma reflexão sobre os desafios no presente, ..................................... 48

Ana Cristina Chagas dos Anjos e Maria Christina de Souza Lima Rizzi MESA 2 - Ética, Espiritualidade e Meio Ambiente -Sustentabilidade, Espiritualidade e Auto-realização, João Luiz Pegoraro -Por uma espiritualidade pós-metafísica, Leopoldo Gabriel Thiesen

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-RECONECTAR, pois SOMOS TODOS UM! Maria Salette Mayer de Aquino ..........................

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MESA 3 - Território, Sociedade e Políticas Ambientais -Território, Sociedade e Política Ambiental - do risco a sustentabilidade, Pedro Roberto Jacobi

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-Território, Sociedade e Políticas Ambientais, Antonio Carlos Robert Moraes ..........................

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MESA 4 - Educação, comunicação e participação Ambiental - Educação Ambiental Popular: educomunicação socioambiental e participação na construção de sociedades sustentáveis, Marcos Sorrentino e Simone Portugal

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- Projetos escolares no estudo do lugar: (re)conhecimento da realidade socioambiental e formação da cidadania, Vânia Maria Nunes dos Santos MESA 5 - Água, ar e solo – a constituição do ambiente 4

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- A geologia paulistana e o patrimônio socioambiental humanos, o mais importante recurso natural (Carneiro et al. 2008).

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Monitoramento da Qualidade das Águas para Ação Ambiental, Gustavo Veronesi...................

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MESA 6 - Áreas Verdes, Comunidades e Conservação - Áreas Verdes, Comunidades e Conservação, Ondalva Serrano - O verde urbano, Roseli B. Torres

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Relatos de experiência - ExperimentAÇÕES Ambientais, Ermelinda Moutinho Pataca

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- Projeto Rio das Anhumas nas escolas, Maurício Compiani

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- Educação Ambiental em municípios rurais paulistas, Nídia Nacib Pontuschka

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Vigilantes da Natureza ..................................................................................................................

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Contexto da água – Do planeta aos nossos mananciais, Cesar Pegoraro

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Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS)

Sustentabilidade e Educação na permanente construção do Programa USP Recicla

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Atividades educacionais - Aula-espetáculo - Mitos Brasileiros e a Viola, Paulo Freire - Como os índios - As cores da Terra, Cecília Borelli

- Oficina sonoridades visíveis - Instrumentos e objetos sonoros criados para acompanhamento de um filme, Marco Scarassatti e Marcelo Bomfim - Objetos de teatro - TATU-BOLA

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- Foto na Lata - Oficina de Jardinagem e Arte Expedições paulistas, Ermelinda Moutinho Pataca

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Expedições Rocha em Cadê o Itororó?, Carlos Eduardo Alves Rocha CADÊ O ITORORÓ?, Rita Marques

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Expedição pelo Riacho do Ipiranga, Fernanda K. Marinho Silva e Rachel Pinheiro ...............

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A expansão urbana no município de São Paulo, Tiago Davi Vieira Soares de Aquino e Denise de La Corte Bacci

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Reconhecendo a Guarapiranga: identificando a origem da água, César Pegoraro e Pilar Cunha

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Perfil dos participantes ................................................................................................................

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Notas ..........................................................................................................................................

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Sobre Este mundo é meu! Este Mundo é Meu! é um projeto idealizado pela Curadoria de Teatro Infanto-juvenil do Centro Cultural São Paulo, que teve início no ano de 2002 e vem sendo realizado há sete anos ininterruptos. A proposta está sintonizada com a política cultural da instituição para seus espaços e para a cidade; proporciona uma abertura tanto de temas como de programação, e, a cada ano, devido ao apoio e à confiança que a direção do Centro Cultural oferece, o evento cresce também a responsabilidade de fazer sempre o melhor. O atendimento às escolas públicas, instituições carentes e ONG’s permaneceu no ano de 2008, possibilitando que as entidades desfrutem e participem ativamente da programação oferecida. Para completar o quadro artístico e cultural, contamos com a presença de profissionais que se apresentam com grupos musicais, corais, circo, teatro, dança, performances, oficinas, palestras ou artes plásticas. Recentemente as famílias foram convidadas a participar, estreitando laços e estabelecendo aprendizados coletivos. Este mundo é meu! oferece oficinas e palestras, espetáculos de teatro e sessões especiais de cinema para crianças e adultos, nas quais a reflexão está sempre em concordância com a temática do evento. A participação dos convidados não é exclusiva para grupos da capital, instituições de outras cidades do Estado também são convidadas. O evento, realizado sempre no mês de outubro, enfatizou nos primeiros anos de existência o dia 12 – comemoração do dia da criança. Com o passar dos anos, e com a riqueza da programação, o caráter inicial do projeto foi ampliado e passaram a ser realizadas atividades voltadas a todas as idades.

Este mundo é meu e as sete sementes Este Mundo é Meu! chega a sua sétima edição. Em todos estes anos vem buscando aprimorar sua programação com base em perspectivas de entretenimento e atividades que propiciem a reflexão e a sensibilização, não só por meio das expressões artísticas, mas também, contando com a presença de intelectuais que por meio de suas experiências em campos diversos das artes, das ciências e das humanidades, vêm contribuindo para o engrandecimento do evento. Estamos empenhados este ano em explorar o tema Este Mundo é Meu! e as Sete Sementes, que simbolizam Arte, Espiritualidade, Educação, Ética, Ciência, Cultura e Participação. Tratá-lo como assunto pertinente seria pouco pela relevância que ele apresenta na atualidade. Por isso, achamos necessário estimular percepções, expressões, reflexões e experimentações voltadas para as questões sobre o meio ambiente na cidade de São Paulo e no mundo. Em nossa sociedade moderna, a exploração dos recursos naturais é feita de forma bastante agressiva e descontrolada, assim como a configuração de extremas desigualdades 6

sociais, devido ao desenvolvimento da sociedade capitalista, levou a uma crise socioambiental bastante profunda. A resolução de problemas complexos, como a miséria, o aumento de desastres ambientais, a escassez de recursos naturais, a proliferação de epidemias, dentre outros, configura-se como um desafio que tem mobilizado cientistas, políticos e membros de comunidades de todas as regiões do planeta. Tal crise é resultado de um longo processo de apropriação e destruição da natureza, que se intensificou profundamente com o desenvolvimento do capitalismo industrial, baseado na completa apropriação da natureza por meio do desenvolvimento científico e tecnológico, assim como da fragmentação do conhecimento científico e da sociedade. Os estudos sobre as possibilidades de inversão deste quadro são múltiplos. Mas, dentro das estratégias mais aceitas e praticadas para a resolução da problemática ambiental, o destaque é para a educação. Desta forma, o conhecimento sobre meio ambiente apresenta uma grande importância para o cotidiano dos cidadãos, pois abre possibilidades para a sociedade tomar decisões e compreender as aplicações dos conhecimentos sobre a dinâmica natural na melhoria da qualidade de vida. A compreensão da apropriação natural pelo homem e as consequências dessas transformações permitem que o sujeito perceba sua participação real no mundo. A educação ambiental deve ter como princípio a transformação da sociedade, com base no pensamento crítico e inovador, por meio do ensino formal ou informal, envolvendo aspectos relacionados ao desenvolvimento do meio ambiente, como população, direitos humanos, democracia, saúde e fome. Diante disso, percebe-se que o discurso sobre o meio ambiente estabelece, hoje, uma visão idealista de educação e conscientização, vinculada à grande parte dos problemas sociais. A educação ambiental foi então chamada a dar conta da mudança de valores e atitudes em busca de um modelo ideal de sociedade sustentável. É com base na concretização de uma educação crítica e participativa, na construção de um mundo justo e ambientalmente equilibrado, que o Centro Cultural São Paulo apresenta o projeto Este mundo é meu! 2008. O projeto propõe desenvolver atividades que abordem temas como preservação, ocupação do espaço urbano e suas consequências para a qualidade de vida ambiental, utilização dos recursos naturais, sustentabilidade, saúde, desastres naturais e ambientais, desigualdades sociais, recursos hídricos, dentre outros assuntos. A perspectiva adotada é a de dar preferência a temáticas locais, ou seja, aos problemas ambientais da cidade de São Paulo, numa conexão com o meio ambiente em âmbito nacional e mundial. A intenção é estimular, por meio de expressões artísticas, atividades didáticas, debates científicos e educativos sobre o meio ambiente, a participação cidadã e a mobilização individual e coletiva. Partimos da casa para o mundo, propondo a reflexão sobre a crise ambiental na sociedade industrial – com base nas relações consumistas e individualistas. Portanto, o projeto Este mundo é meu! pretende cumprir o papel que desempenhou ao longo de seis edições: desenvolver atividades artísticas, propondo a reflexão das relações sociais. Neste ano, pretende-se ainda ampliar essa reflexão sobre a relação do homem com a natureza.

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Da programação Com ênfase nas questões ambientais, a organização do evento elaborou uma programação de atividades que possam trazer à sociedade esclarecimentos benéficos para as suas ações em defesa da cidade de São Paulo, de si própria e de tudo que gira em seu entorno. O evento será dividido em 5 eixos, como descritos a seguir: 1º) Expressões artísticas A vocação artística e cultural do CCSP permitiu a elaboração de uma programação integrada nas diversas apresentações de teatro, música, dança e artes plásticas que integrarão a programação do Este Mundo é Meu! As artes desempenham uma função considerável na sensibilização ambiental. A percepção social e natural, primeiro passo para o entendimento da problemática ambiental, pode ser bastante desenvolvida no indivíduo a partir da arte. Numa relação entre sensibilização e reflexão as artes também podem conduzir ao conhecimento, à conscientização e ao desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos. Além disto, a arte pode servir como um instrumento de inclusão social, numa sociedade paulistana profundamente marcada por desigualdades sociais, econômicas e ambientais. 2) Audiovisual O audiovisual trará para o evento a questão do aquecimento global e seus desdobramentos e outros assuntos de interesse para a questão do meio ambiente global. A Curadoria de Audiovisual do CCSP ficou responsável pela pesquisa de filmes que retratem essas questões. Algumas das exibições serão seguidas de debates por especialistas da área. 3) Fórum de Reflexões - Integrações socioambientais na cidade de São Paulo Em sintonia com as manifestações artísticas e culturais que ocorrerão no projeto Este mundo é meu! será realizado um Fórum de discussão, com a finalidade de integrar as atividades, e contribuir, principalmente, para a dimensão reflexiva do evento. Segundo alguns críticos, a intensa valorização da racionalidade técnico-científica evidenciada na sociedade industrial contemporânea distanciou o homem da natureza e ocasionou a fragmentação do conhecimento em diversas áreas, a segmentação social e a desvalorização das relações humanas. O processo histórico de apropriação natural levou ao estado atual de intensa degradação socioambiental em que vivemos. Para reverter essa situação buscamos, agora, um caminho de integração entre razão, sensibilidade e espiritualidade. O Fórum pretende fomentar o intercâmbio de opiniões entre representantes de universidades, ONGs, Institutos de Pesquisa, políticos e outros membros da sociedade civil para discutir a questão ambiental. A partir do diálogo é possível colaborar com a investigação, a educação e a divulgação do conhecimento interdisciplinar sobre meio ambiente, com ações que visam a construir sociedades mais justas e sustentáveis. No Fórum serão abordados os seguintes temas: 1. Estética e percepção ambiental nas manifestações artísticas; 2. Ética, espiritualidade e natureza; 8

3. Áreas verdes, comunidades e conservação; 4. Comunicação, educação e participação popular; 5. Ocupação do solo, hidrografia e qualidade do ar; 6. Território, sociedade e políticas públicas. 4) Relatos de experiência - ExperimentAÇÕES Ambientais Constitui-se em um espaço aberto para relatos de experiências em educação e participação ambiental realizadas em espaços de educação formal, como as escolas e universidades, assim como em educação não formal, como centros de saúde, museus, empresas, comunidades, ONGs, bibliotecas, centros culturais, institutos de pesquisa, unidades de conservação, parques, etc. Cada projeto convidado terá 30 minutos para a apresentação. Devido ao caráter cultural e educativo deste espaço do evento, sugerimos que as apresentações incluam a exibição de vídeos de divulgação ou educacionais, com no máximo 15 minutos de duração. As temáticas propostas para as mesas são as seguintes: Relações entre universidades e escolas públicas; Educação e participação popular nas Organizações Não Governamentais (ONGs); A atuação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente; Organismos públicos culturais e o meio ambiente. 5) Atividades Educativas De acordo com os propósitos de formação cultural, as oficinas e workshops são idealizados de forma a relacionar ciência, arte e meio ambiente para a sensibilização do público e a compreensão da problemática ambiental de forma lúdica e descontraída. Desta forma, as ações educativas serão concebidas por artistas e especialistas que abordem a temática ambiental sob uma perspectiva interdisciplinar. As oficinas serão realizadas no Centro Cultural São Paulo, com temáticas com as seguintes abordagens: Mitos e lendas da cultura popular – Oficinas e aulas-espetáculo que resgatem na cultura popular brasileira a relação das comunidades urbanas e tradicionais com a natureza. Expedições paulistas – Estudos de meio elaborados para professores e famílias onde serão abordadas as relações socioambientais de algumas regiões de São Paulo numa temática interdisciplinar. Serão realizados roteiros culturais e educativos em espaços da cidade, como o próprio Centro Cultural São Paulo, a região central de São Paulo, a Represa Guarapiranga, o Jardim Botânico e o Parque da Independência. Lizette Negreiros – Curadora do Projeto Ermelinda Moutinho Pataca – Curadora Convidada

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Expressões Artísticas

Sobre as expressões artísticas Lizette T Negreiros Curadora do evento A diversidade de linguagens e a interação que se estabelece entre palco e platéia, ora como lazer, ora como estudo, dimensiona a responsabilidade da realização a cada ano do projeto. Há sete anos, deu o primeiro passo, cresceu e gradativamente caminhou para mudanças significativas em seu formato, tornando-se mais abrangente pensando a complexidade da sociedade contemporânea. Ele movimenta vários setores do Centro Cultural, além de artistas, escolas, instituições, Ongs e público de todas as idades. Trabalha com temas que possibilitam dialogar com ideias inventivas de programação seja artística ou educativa. Este ano, por exemplo, o tema é: Este Mundo é Meu! E as Sete Sementes: arte, espiritualidade, educação, ética, ciência, cultura e participação. Aliadas a esses sete elementos estão a motivação de abrir espaço à reflexão para as questões sobre o meio ambiente, e a simbologia do plantio das sete sementes, numa homenagem aos jardineiros que trabalham no Centro Cultural. Aliado ao plantio das sementes e aos jardineiros, está o pensamento da multiplicação da vida por meio das árvores que possam nascer e trazer vitalidade a esta cidade. Preparar ou pensar como poderia acontecer a programação artística do Este Mundo é Meu! em 2008 foi uma tarefa relativamente fácil, mas, ao mesmo tempo, complexa, porque existia a vontade de se trabalhar com coerência, ou seja, a programação deveria tratar somente de temas que falassem sobre meio ambiente, ou não? Existia a intenção de absorver a já existente para que não houvesse a descontinuidade. Algumas respostas começaram a aparecer quando o espetáculo infantil para a Sala Paulo Emílio foi escolhido pela comissão constituída 10

para atender o Edital, e o tema não era meio ambiente, e a temporada seria setembro/outubro. O mesmo aconteceu com o Teatro Jovem na Sala Adoniran Barbosa, também escolhido pelo Edital. A partir daí passou a se redesenhar as ações e possibilidades de como fazer essa programação e o que poderia ser contemplado. Por outro lado, o risco de acontecer uma mesmice de temas seria inoportuno. Optou-se por mesclar as atividades, o que facilitou as escolhas e as sugestões que foram surgindo, como a de dança, dos músicos de rua, dos mitos populares, do show especialmente criado para o evento, com participação somente de cantoras e musicistas, representando também a mãe terra, a gia. A parceria com a Curadoria de Música foi uma boa pedida, e a programação normal do Centro Cultural, não deixou de acontecer. Contudo, houve um alinhamento sutil nas escolhas e, no conjunto, surgiu a coerência e, sobretudo, a qualidade dos artistas, sem perder outra característica do evento: crianças, jovens e adultos se apresentando artisticamente dentro do evento no mesmo “pé” de igualdade. A programação de cinema foi cuidada pela Curadoria do Audiovisual que procurou uma filmografia que abordasse o aquecimento global, fazendo com que as questões sobre esse tema ficassem como o forte da programação. Depois, uma mesa de reflexões sobre o assunto. Perfeitamente coerente. Abertura-espetáculo. Dia 8/10/2008/, das 14h30 às 17h30 Na abertura, pretendemos quantificar a importância da temática ambiental de uma maneira simbólica, lúdica e artística, para cerimônias de abertura e que expresse a integração entre áreas e linguagens distintas, especialmente artes, ciências e educação. Assim, a concepção de um roteiro para uma abertura-espetáculo foi realizada, demonstrando que o Centro Cultural São Paulo não poderia ficar indiferente a essa temática. Serão plantadas as sete sementes, que deverão se multiplicar por mais sete, que se multiplicarão por muito mais na cidade de São Paulo. As sete sementes simbolizam o que ocorrerá no evento, ou seja, Arte, Espiritualidade, Ética, Educação, Cultura, Ciência e Participação. É por meio destas manifestações que a humanidade interage com a natureza, e cuja integração constitui um dos caminhos possíveis para a sensibilização, a consciência e a mudança de atitudes da humanidade sobre sua relação com o meio ambiente. A abertura-espetáculo envolverá dois mestres de cerimônia, os jardineiros do Centro Cultural, os atores do Grupo Solas de Vento, dois atores do Centro Cultural São Paulo e uma mandala de 60x60m, com 30cm de diâmetro, que foi preparada para a realização da semeadura. Após a cerimônia, os atores circenses do Grupo Solas de Vento farão a parte artística com várias acrobacias. Roteiro de abertura Autoras: Lizette Negreiros e Ermelinda Pataca Mestres de Cerimônia: Sosô Parma e Marquito Atores do Centro Cultural: Sheylla Gonçalves e Lucas Fabrizzio Atores circenses do Grupo Solas de Vento: Cafi Ota, César Lopes, Emiliano Pedro, Felipe Chagas, Montanha Carvalho, Raquel Rosmaninho, Ricardo Prudente, Célia Borges e Sandra Miyazawa Direção: Ricardo Rodrigues 11

Jardineiros: Eliezer Rosendo da Silva, César Augusto Moreira Araújo, Cleber de Souza Amaro, Jaime Ferreira de Lima, João José da Silva, Valdeci Arcanjo Lopes e Fábio Carlos Dell Antonia (engenheiro agrônomo) Direção geral: Lizette Negreiros Nas portas de acesso ao anexo da Adoniran, ficarão os mestres de cerimônia e os atores. A abertura começará por volta de 14h40. Os atores do Solas de Vento nesse momento estarão todos na parte superior da sala e irão improvisar uma algazarra em volta dela impedindo de começar o espetáculo. O sinal para começar a apresentação deverá tocar normalmente as três vezes. Como os atores não obedecem, volta a tocar repetidamente. Os atores irão parar de brincar quando os mestres de cerimônia Markito e Sosô, (bem bravos) pedirem que eles desçam. Descem “desenchavidos” e “envergonhados” e vão sentar no fundo do palco. Clima. Markito e Sosô respiram e vão assumir a função de mestres de Cerimônias dando inicio a abertura. Markito: - Por favor, Maurízio, a música combinada de abertura. Maurízio:- Não tem. Markito:- Sras e Srs., autoridades presentes, boa tarde. É com prazer que anunciamos a abertura da sétima edição do Projeto “Este Mundo é Meu!.Sete Sementes Este ano foi escolhido como foco principal a reflexão sobre as questões do meio ambiente, assunto que está sendo discutido e fomentado em todo o mundo. A preocupação com a preservação ambiental é um assunto pertinente ao nosso país, ao nosso estado e a nossa cidade. Sosô - Assim, o Centro Cultural São Paulo, não poderia ficar indiferente a esse movimento, fomentando várias ações dedicadas a essa questão. Este Centro de Cultura preza por estar à frente não só das atividades artísticas como atenta às questões interdisciplinares desta cidade primando pela seriedade com que deve ser tratado esse assunto. Sosô - Markito, antes de começar a nossa história vamos fazer um preâmbulo. Hoje estamos aqui para uma celebração; as pessoas vieram prestigiar esse momento e como bons anfitriões que somos... (Markito corta) Markito:- apesar da indisciplina de início né, Sosô! (olham feio para os artistas que estão “quietinhos” sentados no fundo do palco; para o Maurízio) Sosô:- (continuando) Gostaria que um dos anfitriões o Diretor do Centro Cultural São Paulo Sr. Martin Grossmamm viesse até o microfone para sua saudação à essa celebração. O diretor Martin Grossmamm dá boas vindas, o Secretário do Verde Eduardo Jorge também falou. Paulo Rodrigues, Chefe de Gabinete, representando o Sr. secretário Carlos Augusto Calil, fez o seu pronunciamento. Lizette foi chamada e deu prosseguimento à cerimônia. Coro dos atores: HISTÓRIA!!!!? Sheila:- Não podemos fugir dela! Disse Heródoto em 450 a.C. “ A Babilônia ultrapassava em esplendor qualquer cidade do mundo conhecido até hoje”. Antes, em 605 da nossa era, existiam Os Jardins Suspensos da Babilônia! A Babilônia era uma cidade antiga da Mesopotâmia e seu rei Nabucodonosor II reinou por 43 anos. Ele construiu templos, ruas, palácios e muralhas; mas os jardins foram construídos para alegrar a sua amada esposa Amyilis que sentia imensa

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saudade das montanhas verdejantes de sua terra natal Medes. Lucas:- A rainha era filha do rei de Medes e casou-se com Nabucodonosor a fim de estabelecer Aliança entre as duas nações: Mesopotâmia e Medes. Ela gostava de apreciar as montanhas verdejantes e não estava a fim de ver aquele solo plano e arenoso da Babilônia, aquela imensidão de terra seca, empoeirada, aquele calor medonho! Já imaginaram aquele palácio gigante, cheio de entradas e saídas sem nenhuma árvore, sem uma graminha, sem um ventinho? Célia: - Sem uma chuvinha? Sem um chuveirinho, Sem uma frutinha! Nãoooooooooo, Nabuco, assim eu não fico aqui! Sosô:- A rainha ficou brava e fez muito bem em reclamar ao querido esposo. E ele cheio de amor e poderoso, lhe presenteou com um jardim esplendoroso! Sabem o que era? Um teatro da natureza! Sheila:- Mandou construir montanhas, plantou árvores e até instalou um motor de água que era levada do rio Eufrates até os jardins! Que maravilha! Intervenção do ator Ricardinho como GORDINHO RICARDINHO: Maravilha! Adorei a história! Os Jardins Suspensos da Babilônia! He, he! Então, se a cidade de São Paulo fosse suspensa e chegasse ás nuvennnnnnns! Casas! Ruas!O rio Tietê! automóveis!, igrejas!, campos de futebol!, torres de tv!, árvores!, ônibus!, edifícios!, a serra da Cantareira!, a Praça da Sé! O Metrô! E o Itororó? Cadê? O asfalto comeu? Fui ao Itororó beber água não achei...Cadê? Secou! A fonte secou. É como se o ator tivesse tido um surto de loucura. Ele ficará agarrado ao microfone falando todas essas coisas “O Metrô!...” Depois disso fica livre. Estabelece-se uma pequena confusão e a solução será uma bela “cacetada” na cabeça. Ele sairá “carregado” e alguém dirá: “Ele não viu o avião”. Vão saindo com o ator, deixando o palco livre. 4º momento: 2º mestre de cerimônia: Markito:- Sras e Srs., autoridades presentes, se disser que esse acontecido não estava previsto estarei mentindo, mas não estava mesmo. Mas a história dos Jardins Suspensos da Babilônia foi o “único” gancho encontrado pelo roteirista para introduzir o que vem a seguir antes que os srs. vão embora. Pois bem, trata-se de pessoas especiais, que trabalham com dedicação, que tem zelo pelo trabalho que realiza com a responsabilidade de cuidar e de tornar mais bonito, florido, encantador para quem passa, vê e admira. Sosô:- Mexer com a terra, com a gia, com a mãe, com a fecundidade, com a força, com a vida e com a natureza. Estamos falando daquelas pessoas que trabalham neste Centro Cultural e que com seu zelo e trabalho, procuram deixá-lo com todos os atributos já mencionados. Sheila:- Não é o jardim suspenso da Babilônia, mas é o jardim do Centro Cultural São Paulo e como este ano, o Este Mundo é Meu!, será dedicado ao meio ambiente, nada mais justo do que lembrar dessas pessoas: os nossos jardineiros, Cleber, Valdeci, Eliezer, Jaime, João e César, e o engenheiro agrônomo Fábio pedimos que venham ao palco. 5º momento: Os atores do grupo Solas de Vento entrarão em ação: Eles é que trarão a mandala e a

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caixinha com as sementes para o palco e irão buscar os jardineiros e colocá-los nos quatro cantos dela. Começará então a Cerimônia da Semeadura e onde Valdeci será anunciada como símbolo do evento neste ano. Roteiro da Semeadura: Os jardineiros em volta da mandala ocupando os quatro cantos junto com os atores Os quatro cantos representam: TERRA, ÁGUA, AR E FOGO! Cada grupo de ator dirá em voz alta o que significa o lugar em que estão. SETE SEMENTES serão colocadas nas mãos da Valdeci por um dos atores. UM DOS ATORES:- As sementes que serão plantadas nesta mandala são de Ipê Rosa, Ipê Branco e Suinan. Elas foram colhidas pela Valdeci no Parque do Ibirapuera sob a orientação da bióloga do DEPAV 2 Sra. Yone. VAMOS AO PLANTIO!!!!!!!! 1) Sosô:- “Valdeci, neste momento você está sendo, perante todos os que aqui estão e seus colegas de trabalho, eleita como o símbolo do evento Este Mundo é Meu! Você é merecedora desse título porque representa a mãe terra, aquela que procria, que dá frutos, que amamenta seus filhos, que dá amor, que mata a fome. Você planta e zela, cuida, olha, como se fosse uma criança que nasce do ventre materno. Você é nossa gia, nossa mãe terra. Mulher negra e valorosa. Você é nosso símbolo. Seus pares devem lhe render homenagens por ter você junto deles dividindo o mesmo trabalho o mesmo prazer, a mesma gratidão à terra. Lucas:- Sendo você o símbolo do evento, será a primeira a fazer a semeadura. Valdeci, as sete sementes que você tem às mãos simbolizam a Arte, a Espiritualidade, a Ética, a Educação, a Cultura, a Ciência e a Participação. Saiba que elas são espécies raras que ao cresceram formarão um jardim esplendoroso. Sheila: - Você, Valdeci, que conhece melhor que ninguém essas sementes de IPÊ ROSA, IPÊ BRANCO E SUINAN, tem a sabedoria da preparação delas para o plantio e tratálas devidamente para que se tornem belas e viçosas. PODE PLANTAR MÃE TERRA! Ela planta as sementes. Depois dela os jardineiros. A primeira dupla de jardineiros será Cleber e Jaime e será dito o seguinte: Markito:- Vocês, Cleber e Jaime, que representam o AR, que leva as sementes para terras tão distantes mantendo a diversidade, façam-no desejando cultivá-las com dedicação para que bons ventos a levem para onde for necessário. Sosô:- Vocês, João e César, que representam a ÁGUA, que fertiliza a terra, que mata a sede, que faz a planta nascer viçosa, façam-no desejando que em cada tronco exista uma seiva que lhe permita purificar o ar e restabelecer o equilíbrio na atmosfera. Sheila:- Vocês, Eliezer e Fábio, que representam o FOGO, que dá energia, a energia que movimenta a terra, que aquece a vida façam-no pensando que elas sejam úteis as crianças para quando se tornarem adultas saibam do seu valor e possam ser gentis para com elas, sem

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maltratá-las. Markito:- Vocês, atores, que vivem da arte de representar, façam parte dessa semeadura. Plantem a Arte, a Educação, a Espiritualidade, a Ética, a Ciência, a Cultura e a Participação. Levem consigo o compromisso de serem mais que atores tornem-se arautos de um tempo que exige reflexão mesmo quando se faz graça. Lucas:- Você Cabo Rocha (veio como representante do bombeiro Robson e o Chefe de Segurança Oliveira) que agora representa a SOCIEDADE e a todos que aqui estão, molhe esta terra sentindo-se responsável por cuidar da água, do ar, do fogo, e de todos os seres vivos existentes em torno dela, como um guardião, como um valoroso combatente de causas nobres. Após o plantio, os jardineiros voltarão aos seus lugares é retirada a mandala. Markito:- Sras. e Srs., a semeadura foi realizada. As árvores foram plantadas. Sosô:- O cultivo delas dependerá de muitas mãos, carinho e vontade que se multipliquem por mais 7 e mais 7 e mais 7 e muito mais. Lucas:- Temos mais sementes que poderão ser disseminadas em outros cantos, praças, jardins, fazendas. Sheila:- Quem sabe um ipê rosa ou suína na minha casa? Sosô:- é quem sabe... Markito:- Meninas, ainda não acabou. O palco será preparado para a apresentação dos artistas. A continuidade da semeadura agora será em sentido figurado, isto é: a utilização do corpo humano como elemento criador. A vida humana é que estará à disposição da semente da ARTE de representar. Quem sabe Um Jardim Suspenso da Babilônia! Em pleno ar! Fim.

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Artes Plásticas Verde Amarelo Projeto do site specific para o jardim central do Centro Cultural São Paulo. Fernando Limberger e Divisão de Ação Cultural e Educativa/CCSP.

O Centro Cultural São Paulo Concebido inicialmente para abrigar uma extensão da Biblioteca Mário de Andrade, o Centro Cultural São Paulo acabou sofrendo, no decorrer de suas obras, uma série de adaptações para se transformar num dos primeiros espaços culturais multidisciplinares do País. Inaugurado em 1982 o Centro Cultural oferece espetáculos de teatro, dança e música, mostras de artes visuais, projeções de cinema e vídeo, oficinas, debates e cursos, além de manter sob sua guarda vários acervos da cidade de São Paulo: a Pinacoteca Municipal, a Discoteca Oneyda Alvarenga, a coleção da Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, o Arquivo Multimeios e um conjunto de bibliotecas que ocupa uma área superior a 9 mil m2. Sua programação diversificada, oferecida gratuitamente ou a preços populares, atrai faixas distintas da população, fazendo do complexo um dos espaços culturais mais democráticos da cidade. Características espaciais: Por estar integrado ao metrô da linha Norte/Sul o Centro Cultural São Paulo acolhe um público normalmente não encontrado em outras instituições culturais da mesma região. A horizontalidade de sua arquitetura se abre de forma mais livre para o visitante e suas dependências são frequentadas por quem busca um lugar de estudo, de encontro, de vivência e formação cultural. Uma de suas características é a existência de um jardim interno que foi preservado de um quintal das antigas residências que havia nessa região da cidade, próxima ao centro. 16

O Jardim: origem O Centro Cultural tem um jardim interno que restou da antiga vegetação pertencente aos quintais das casas ali existentes. Em 1978, antes do início das obras, quando esta foto foi tirada, a antiga vegetação não existia mais.

Durante as obras de fundação foram removidas grandes quantidades de terra e o terreno, recortado de tal forma, que restou apenas uma fatia do declive do terreno, que corresponde ao volume de terra do jardim central.

Nesta imagem, como no anteprojeto de 1977, podemos ver a presença de três Araucárias voltadas para a Rua Vergueiro, que hoje já não se encontram mais ali. Material fotográfico disponível no site do CCSP.

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Verde-Amarelo: site specific, oficinas e palestras Os vários jardins do Centro Cultural São Paulo são espaços de valor inestimável neste complexo cultural. Além do jardim central, existem mais dois jardins suspensos, paralelos à Avenida 23 de Maio e Rua Vergueiro, cada um com uma pequena forração de grama e algumas flores. Margeando a Av. 23 de Maio existe uma grande faixa verde, além dos jardins laterais à entrada do Metrô (Jardim Eurico Prado Lopes – rampa de acesso ao Metrô) entre a Av. 23 de Maio e a Rua Vergueiro.

O presente projeto tem em vista uma intervenção no jardim central, feita a partir de: 1. revitalização do jardim: recolocação de duas ou três araucárias, na sua posição original; cuidados especiais com as árvores (prevenção contra cupim); colocação de algumas novas espécies; revitalização dos vasos e floreiras. 2. cobertura do solo: a área do jardim central receberá uma cobertura feita com pedrisco (arreia) na cor amarela. Esse material permite a manutenção da permeabilidade do solo, ao mesmo tempo em que introduz uma cor contrastante e luminosa no seu interior. 3. projeto de iluminação. 4. recolocação de placas com o nome das árvores. 5. realização de uma oficina de geração de mudas, aberta ao público e também destinada aos jardineiros do Centro Cultural: uma pequena área das adjacências do Centro Cultural será utilizada para a construção de um viveiro de plantas, onde os participantes farão parte de uma série de oito encontros práticos/teóricos em que serão abordados: 5.1. instrumentação para a jardinagem; 5.2. diferentes tipos de solos e misturas para substratos; 5.3. reprodução por semeadura; 5.4. reprodução por técnicas vegetativas: estaquia, divisão de touceira, bulbos, alporgia, mergulia, enxertia; 5.5. plantio: covas, insolação e irrigação; 5.6. manutenção de jardins, floreiras e vasos, ambientes externos e internos; 5.7. adubação: métodos orgânicos e químicos; 5.8. combate a doenças e pragas, produção de inseticidas orgânicos.

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6. a realização de três encontros em que se traga ao público as discussões entre arte e paisagem. Esses encontros irão reunir artistas visuais e paisagistas, com trabalhos e experiências realizadas no Brasil e no mundo. Entre esses profissionais, temos em vista Amélia Toledo, Carlos Matuck, Eduardo Coimbra, Oscar Bressane, José Tabacow. Verde-Amarelo: aspectos visuais da intervenção A proposta de intervenção no jardim é a de colocação de pedrisco (areia) de cor amarela no chão, delimitando uma área de circulação sob as árvores. As duas imagens abaixo servem de exemplo da proposta de trabalho do artista plástico Fernando Limberger ao trabalhar o contraste da vegetação e do solo em jardins internos.

Verde-Amarelo: o trabalho de Ação Cultural e Educativa Os trabalhos dessa Divisão incluem a coordenação e a produção de oficinas práticas e teóricas, cursos para professores e de aperfeiçoamento profissional para os funcionários (educação fundamental para adultos, requalificação profissional, cursos complementares). Além disso, a equipe é responsável pela monitoria nos roteiros que enfocam a arquitetura do Centro Cultural, a Gibiteca, os espaços Expositivos, a Biblioteca Louis Braille. A Divisão trabalha para ampliar a capacidade formadora do Centro Cultural São Paulo, investindo na oferta de cursos e oficinas oferecidos por artistas e profissionais da área de produção, pesquisa e crítica cultural. Com isso esperamos facilitar a extroversão do conhecimento produzido na casa para diversos públicos, além de promover uma integração entre as muitas áreas de trabalho da instituição.

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Programação Teatro LUNA CLARA & APOLO 11 Grupo: Cia. La Leche Autora do romance: Adriana Falcão Adaptação: Marcelo Romagnoli Direção Musical: Morris Piccioto Composição e arranjos: Morris Picciotto, Camila Lordy, João Taubkin e Bruno Prado Iluminação: Marisa Bentivegna Cenografia: Marco Lima Concepção e Direção Geral: Cris Lozano Elenco: Jacqueline Obrigon, Marcelo Romagnoli, Vany Alves, Priscila Jorge, Fausto Franco, Guto Togniazzolo, Vanderlei Bernardino, Joaquim Lino e Tatiana Thomé. Sinopse: Luna Clara é uma menina de 13 anos que espera a volta do pai, que jamais conheceu. Doravante, pai de Luna, perdeu sua sorte e passou a vagar pelo mundo em busca de Aventura, sua mulher. Até que Luna Clara encontre Apolo 11, muitas coincidências, desencontros e aventuras se sucederão. Teatro Infanto-Juvenil DE ONDE O SOL SE ESCONDE – HISTÓRIAS DO JAPÃO Grupo: Cia. Provisório Definitivo Autores: Paula Arruda e Pedro Guilherme Direção: Paula Arruda e Pedro Guilherme Elenco: Pedro Guilherme e Paula Arruda Idade: 3 anos Gênero: Contação de histórias Sinopse: Para mostrar que brasileiros e japoneses, embora sejam de lugares muito diferentes, podem se divertir da mesma maneira. São quatro histórias japonesas: Bobo Saburo; A Dança do Macaco e do Pardal; A Princesa e o Vaso; O Casamento da Ratinha.

Música CONCERTO AO MEIO-DIA – ESCOLA MUNICIPAL DE INICIAÇÃO ARTÍSTICA (EMIA) Os professores Rosana Massuela e Antonio Vaz Leme, da área de Música da Escola Municipal de Iniciação Artística, vêm desenvolvendo há quatro anos o Curso de Prática de Conjunto – Banda da EMIA, com crianças de 11 e 12 anos. Hoje, a atividade é uma referência para alunos dessa faixa etária, para ex-alunos e até mesmo para as crianças mais novas, que almejam um dia fazer parte da Banda. Promove amplamente o projeto de integração com outras linguagens, tão característico da Escola, tanto no aspecto musical e de desenvolvimento dos alunos como na integração com os pais, com a comunidade e com as outras áreas de atuação da EMIA, como Dança, Teatro e Artes Plásticas. Seu repertório consiste em gêneros diversos como o rock, o blues, o maracatu, o choro, a valsa e o samba. Os arranjos são repletos de riquezas timbrísticas e elaborados especialmente

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para seus componentes: alunos de 10 a 13 anos de flauta transversal, violino, cavaquinho, guitarra, baixo, bateria, percussão, flauta doce, piano, voz, entre outros. Programa: Marcos Valle/ Samba de verão; Luiz Gonzaga/ Baião; Rita Lee e Roberto de Carvalho/ Lança-perfume; Samuel Rosa/ Vou deixar; Luiz Gonzaga/ Xote das meninas; Glen Miller/ In the mood. POEMAS DE CECÍLIA MEIRELES – COM A CANTORA ANA LEE O trabalho de Ana Lee, Cecília Meireles para Crianças, é um show acústico, com dois violões e percussão. No repertório, poemas de Cecília Meireles musicados pela própria Ana Lee. O show é bastante movimentado, com projeções de ilustrações feitas especialmente para cenário digital. Ana Lee (voz), Alê Cueva (violão) e Bruno Sotil (percussão), Regina Izumi (ilustrações), VJ Mrs (imagens) – concepção e produção: Maira Sales. SOPRANDO NOTAS – PROGRAMAÇÃO ESPECIAL Formado oficialmente em 2005, Soprando Notas é o resultado de um trabalho que existe há 35 anos, quando o Zimbo Trio fundou o CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), escola que já formou músicos consagrados de todos os estilos, como Chico César, Ulisses Rocha, Teco Cardoso, Luciana Melo, Jair Oliveira, Nico Assumpção, Duda Neves, Vera Figueiredo, Silvio Mazzuca Jr., João Marcelo Boscoli, entre outros. O grupo de flautas doce e vozes é formado por 15 integrantes com idades entre 9 e 24 anos e regido por Dani Godoy. Vem mostrando um repertório difícil, cheio de improvisos e arranjos de Amilton Godoy, o que tem de melhor na música brasileira e no jazz. No repertório, uma homenagem aos 50 anos da Bossa Nova. O grupo será acompanhados por Amilton Godoy (piano), Rubinho Barsotti (bateria), do Zimbo Trio, num show que emociona e que vale a pena ser visto. Programa Garota de Ipanema / Wave/ Chega de saudade/ Rapaz de bem/ Se é tarde me perdoa Influência do jazz/ Acapulco/ O morro não tem vez/ Samba de uma nota só/ Água de beber Samba de verão.

Dança QUIXOTES DO AMANHÃ Grupo: Companhia de Danças de Diadema. Direção: Ana Bottosso Concepção coreográfica: Fernando Machado Assistente de coreografia: Eloy Rodrigues Ensaiadora: Manuela Fadul Concepção de trilha sonora: Loop B Concepção de Iluminação: Willian Figueiredo. Operação de Luz: Ari Buccioni Concepção de figurino: Orlando Dantas Cenografia: Moraes 21

Mâtre de dança clássica: Valéria Mattos Estagiários: Alexandre Nascimento e Ivan Bernardelli Elenco: Carolini Piovani, Eloy Rodrigues, Francisco Junior, José Manuel, Juliana Lim, Léo Oliveira, Manuela Fadul, Tatiana Fernandes, Thaís Lima, Ton Carbones Sinopse: um espetáculo com temática relacionada ao acúmulo de lixo e seu mau direcionamento provocado pela inconsciência dos homens. A figura de Quixote foi escolhida aqui para parafrasear essa temática onde seres dotados com suas armaduras “recicláveis” vislumbram mudanças por meio de batalhas pessoais em busca de uma nova vida. A possibilidade de reaproveitamento do lixo, de reciclagem, proporciona uma analogia imediata à produção artística: transformação, tanto nos aspectos práticos como nos subjetivos. Tal possibilidade pode ser também sinal de pequenas batalhas vencidas; sermos “Quixotes” de nós mesmos, “Quixotes” em nossas vidas, para que o amanhã possa acontecer.

Show Musical NEUROPOLIS; ORQUESTRA DE MÚSICOS DAS RUAS DE SÃO PAULO. Apresentação da Orquestra de Músicos das Ruas de São Paulo Concepção e direção musical: Livio Tragtenberg Sinopse: Uma orquestra bastante original, formada por 13 músicos, desde músicos anônimos, que atuam nas ruas de São Paulo, até músicos vindos de comunidades de imigrantes importantes na história da cidade e que ainda praticam suas tradições musicais, com melodias e instrumentos típicos, como japoneses, paraguaios, bolivianos, nordestinos e outros. Tudo embalado com muito humor e suingue.

Clássicos do Domingo CORAL DA GENTE DO INSTITUTO BACARELLI Regente: Regina Kinjo Piano: Cláudia Cruz O coral da Gente do Instituto Bacaralli é composto de 55 crianças. Promover o ensino de canto coral a crianças e adolescentes da comunidade de Heliópolis, em São Paulo é o objetivo do Coral da Gente, programa desenvolvido desde o ano 2000. As atividades representam uma introdução ao universo musical e é por essa característica que o Coral da Gente atua como porta de entrada para as crianças no Instituto Baccarelli. As aulas de técnica vocal, postura, respiração, percepção musical e expressão cênica são ministradas por profissionais conceituados e preparados pedagogicamente para trabalharem o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos. Repertório: Anel Mágico, de Marcus Viana; Bolinha de Sabão, de Orlan Divo e Adilson Azevedo; Chorinho, de Maria Menon; Fantasma, de W.A.Mozart; Filhote do Filhote, de J. Gurfunkel, P. Garfunkel; Isto aqui o que é?, de Ary Barroso; O Filho do Seu Menino, de Rildo Hora; O Professor, de Amilson Godoy e Celso Viáfora; O que Cantam as Crianças, de José Luiz Peralez; O Silêncio, de Arnaldo Antunes; Oh! Vamos cantar, de Negro Sipiritual; Pie Jesu, de Mary Lynn Ligh Hoot; Pipa, de Cadmo Fausto; Salada de Fruta, de Mario e Viviane Valladão; Semente do Amanhã, de Gonzaguinha. 22

Performance TECENDO VIDA BOA Texto, interpretação, figurino e objetos cênicos: Cecília Borelli Música: Marcos Viana Esta performance integra linguagem poética, artes plásticas, música e movimentos arquetípicos com a intenção de evocar sentimentos e reflexões sobre valorização da vida, do afeto e da conexão com a natureza. (45min, livre).

Show ENTARDECER COM PAULO FREIRE E AS CRIANÇAS CURUPIRA, SACI E COBRA-QUE-MAMA Este show será um dos momentos do evento em que a criança será homenageada por um dos maiores violeiros do Brasil. Contador de “causos”, escritor de livros para crianças, o músico encantará o entardecer na Sala Adoniran com histórias sobre os mitos brasileiros que estão dentro do imaginário de crianças e adultos. Para curtir em família. Ele acredita que “no mundo em que vivemos, promover a prática de contar histórias é imprescindível para o desenvolvimento do ser humano”. (65min). O BAÚ DO SEU FRANCISCO – ESPETÁCULO MUSICAL Autor: Dinho Lima e Rodrigo Mercadante Grupo: Cia. do Tijolo Figurino: o grupo Música: Chico Buarque e repertório popular brasileiro. Elenco: os atores cantores Dinho Lima e Vivian Bertocco e o músico Júh Vieira Sinopse: Quatro viajantes chegam de muito longe. Seguem um mapa que indica a localização de um Baú do Tesouro que pertenceu a um tal Francisco Buarque de Holanda. Depois de encontrarem, descobrem que o tesouro escondido no fundo da arca é maior que o esperado: poemas, canções, cacarecos cheios de histórias e um diário contendo fragmentos da memória do poeta. Livremente inspirado na obra de Chico Buarque de Holanda. DANÇAS CIRCULARES

Show MITOS BRASILEIROS E A VIOLA - Especial ao Dia do Professor e do Ambientalista - com Paulo Freire Para homenagear o professor e o ambientalista, convidar o violeiro Paulo Freire é sem dúvida uma atração artística das melhores. Ele é um grande contador de “causos”, que fala sobre os mitos brasileiros, seus segredos e mistérios, tirando sons de sua viola para ilustrar as histórias, e desafia o expectador a entrar em sintonia com suas memórias. Diz ele que seu espetáculo é para revelar e partilhar as histórias escondidas em algum canto de nossa memória, individual ou coletiva, a partir dos “causos” de tradição oral. Será um grande espetáculo.

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Concerto ao meio-dia no CCSP IMPRESSÕES SONORAS - Quarteto de cordas e violão Concerto com músicas originais e adaptações de músicas populares brasileiras para esta formação. Músicas do Guia Prático de Villa-Lobos, peças de Ricardo Simões (violão) e músicas de Tom Jobim (homenagem aos 50 anos de Bossa-Nova) O Quarteto de Cordas é formado por Derik Coust (violino I), Luiz Barrionuevo (Violino II), Patrícia Barrionuevo (Viola), Priscila Randon (Cello), Quarteto de Cordas+Violão. O SAGRADO E O PROFANO - CORALUSP XI DE AGOSTO (Faculdade de Direito da USP/Largo São Francisco) Regente e diretor musical: Eduardo Fernandes Diretor Cênico: Reynaldo Puebla Espetáculo coral cênico. Repertório que procura dar um panorama da produção musical de vários períodos, ao mesmo tempo insere diferentes gêneros musicais de diversas partes do mundo. O fio condutor é o contraste existente entre as músicas sacra e profana. Repertório: A Jangada Voltou Só/Ave Maria, Dorival Caymmi – Arr. Mônica Thiele-Gloria; Missa Indígena, Marlui Miranda; Três Cantos Afro-Brasileiros, Vários – Arr. Edu Lopes ; Je ne lose dire, Pierre Certon ; Ofertório da Missa dos Quilombos, Milton Nascimento, Pedro Casaldáglia e Pedro Tierra – Arr. Gilberto Periscinotto; Jubilate Deo, Jay Althouse; Tourdion, Anônimo; Cálice, Chico Buarque e Gilberto Gil; Deus lhe Pague, Chico Buarque; Bogoroditse, Devo; Raduysa, S. Rachmaninov; Ride the Chariot, Negro Spiritual – Arr. Henry Smith; Every Time I Feel The Spirit, Negro Spiritual – Arr. Henry Smith; Sanctus, Jan Sandstrom; Deixa a Vida me Levar, Zeca Pagodinho – Arr. E. Morelembaum; Se Eu Quiser Falar com Deus, Gilberto Gil – Arr. André Protásio; Eu Dei, Ary Barroso – Arr Esmeraldo Ruzanowsky.

Show ao meio-dia no CCSP SOUNDSCAPE BIG BAND Fundado em 1999, é um dos mais tradicionais e conhecidos grupos brasileiros de jazz e conta com músicos profissionais que têm em comum o amor à música. O grupo já gravou dois CD´s e respeita a formação tradicional de uma big band de jazz, com cinco saxofones, quatro trombones, baixo, bateria, piano e guitarra. O show será baseado no repertório dos dois CD´s e em composições e arranjos inéditos. Programa: All Trumb ye e Xo, Alex Minhanovich: Almirante Nelson; Blues for Elisa, Todd Murphy; Dwarf Steps, Uncle Charle, C. Mingus; Goodbye Mingues – arranjo de Todd Murphy; Naked Soul, Ohad Talmor. Show especial para o meio ambiente NOTAS MUSICAIS PARA O MEIO AMBIENTE Cantoras e instrumentistas se reúnem para celebrar a natureza. As cantoras Olívia e Mona Gadelha, acompanhadas por Ana Fridman (piano), Clara Bastos (contrabaixo acústico) e Gabriela Machado (pícolo, flauta transversal e flauta em sol) apresentam o show Notas Musicais para o Meio Ambiente, espetáculo concebido pela produtora e VJ Maira Sales (aka VJ Mrs). O repertório contempla canções que abordam a relação homem-meio ambiente, de 24

autores como Rita Lee, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Beto Guedes, Roberto e Erasmo Carlos. Olívia mostrará Estrada do Sol, de Tom Jobim e Dolores Duran, e Mona fará releituras de Refazenda, de Gilberto Gil, e Panorama Ecológico, de Roberto e Erasmo Carlos, entre outras. Não faltará no roteiro o “hino” pacifista O Sal da Terra, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, que cantarão juntas. Em sintonia com o tema, a VJ Mrs fará exibição de imagens digitalizadas inspiradas na natureza – da floresta amazônica a serras, praias e imagens do aquecimento global. Também usará câmera ao vivo, acompanhando a performance das cantoras e banda. Concepção e Pesquisa: Maira Sales e Mona Gadelha No repertório, entre outras: Heitor Villa-Lobos/ A Canção do Amor, da Floresta do Amazonas e O Canto do Cisne Negro; Gilberto Gil/ Refazenda e Flora; Tom Jobim/ Passarim e Águas de Março; Caetano Veloso e Milton Nascimento/ A Terceira Margem do Rio; Chico Buarque/ Mar e Lua; Roberto e Erasmo Carlos/ A Temporada da Caça; Milton Nascimento/ Estórias da Floresta e Sertão das Águas. DUO AMARILLIS APRESENTA TOCA DAS FLAUTAS com: Marília Macedo, Márcia Fernandes e o artista convidado: Guilherme de Camargo (cordas dedilhadas) Criado em 2001, o Duo Amarillis tem um repertório formado por composições dos períodos medieval, renascentista e barroco e utiliza instrumentos de sopro característicos de cada época. O grupo prioriza a flauta doce como instrumento de ampla expressão e musicalidade, agregando composições contemporâneas, eruditas e populares, além de músicas de várias regiões do mundo. Para este Concerto o Duo Amarillis convidou Guilherme de Camargo, especialista em cordas dedilhadas, alaúde, viola de arame e guitarras espanholas, instrumentos que conferem ao trabalho maior riqueza sonora. Programa Idade Média Autores Anônimos /Chominciamento de Gioia/Saltarello/Estampie Real/Il Trotto/Ductia/ Tempus Transit Gelidum/Fulget Dies Celebris. Renascimento Jacob Van Eyck/ Amarili; Prins Robert Masco/ Doen Daphne; Engels Lied/ Tielman Susato/ Ronde; Thomas Simpson / Mascarada; Pierre Phalèse/ Galharda; M. Praetorius/ Courante P. Phalèse/ Branle/ Tourdion; J. Dowland/Pavane/Galharda. Barroco Anônimo/ Italian Ground; G. Ph. Telemann/ Trio sonata em ré menor; A. Vivaldi/ Trio sonata em mi menor

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ORQUESTRA INFANTO-JUVENIL DA ESCOLA MUNICIPAL DE MÚSICA – EMM Regente: Gretchen Miller Fundada em 2002, congrega 125 crianças e adolescentes, a partir de oito anos. Já se apresentou no Teatro Paulo Eiró, Teatro São Pedro, Teatro Municipal de Santo André, e varias vezes na Sala São Paulo e Teatro Municipal de São Paulo. O repertório abrange o barroco e as músicas mais clássicas do repertório erudito. Gretchen Miller, natural do Arizona, Estados Unidos, atualmente rege também a Orquestra de Câmara de Porto Seguro. Foi fundadora e regente da Orquestra Filarmônica Infanto-Juvenil de São Paulo, durante 10 anos, e com ela viajou em turnê pelos Estados Unidos e Alemanha. Programa Henry Purcell/Rondo de Abdelazar; Johann Strauss / Valsa do Emperador; Antonio Vivaldi Concerto em Si menor p/4 violinos - Allegro - violinos: Karen Macha, Cesar Augusto Bonfim, Thaise Maracaipe, Beatriz Ribeiro; George Gershwin/Rhapsody in Blue; Johannes Brahms/ Dança Hungara nº 1; W. A. Mozart/ A Flauta Mágica - regência: Arthur Zanin; Josef Haydn/ Sinfonia do Adeus - Allegro-Adagi; James Curnow/ Rhapsody for Euphoniom - tuba: Jose Renato Sequeira; Johann Pachelbel/ Cannone; Ary Barroso/ Aquarela do Brasil.

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Audiovisual O AQUECIMENTO GLOBAL Arnaldo Fernandes Junior Curador do Núcleo de Curadoria de Audiovisual do CCSP e do ciclo do evento Este Mundo é meu! 2008 É sempre um desafio muito estimulante conceber a programação audiovisual para o evento Este Mundo é Meu! Primeiro porque o projeto é de uma relevância flagrante. Trata essencialmente do que se costuma chamar modernamente de pertencimento e que outras gerações poderiam traduzir por cidadania. Depois porque ao trabalhar na sua efetiva realização tenho mais tempo para o prazeroso embate intelectual com a criadora e curadora geral do evento, sempre zelosa e atenta a tudo quanto se refere à criatura, o que sempre aumenta a nossa responsabilidade e, creio, tem com desdobramento um resultado mais rico para o recorte que fazemos para o nosso público. Este ano o evento tem como tema geral o Meio Ambiente: “Percepções, expressões, reflexões e experimentações socioambientais”. Tem como objetivo apresentar como o meio ambiente tem sido degradado em face da expansão da chamada Civilização Industrial ao longo dos anos, quais os desdobramentos dessa expansão para a saúde ambiental do planeta e como e a partir de quais ferramentas poderíamos mitigar, controlar, ou mesmo propor um novo paradigma para um desenvolvimento sustentado, ambientalmente correto e socialmente mais justo. Dentro desse recorte nós do Núcleo de Curadoria Audiovisual do CCSP apresentaremos para discussão aquele que é, do nosso ponto de vista, o principal e mais visível resultado dessa ação antrópica sobre o meio ambiente: O Aquecimento Global. Estruturamos o evento tendo com fio condutor uma série de programas sobre o aquecimento global produzidos pelo Globo Ecologia e veiculados pelo Canal Futura, ambos da Fundação Roberto Marinho, que esmiúçam à farta, e de forma muito didática, os elementos principais sobre o tema. A este programa acrescentamos dois clássicos: Uma verdade Inconveniente, dirigido por Davis Guggenheim, tendo como âncora o ex-vice-presidente americano Al Gore, que apresenta uma pungente e impressionante visão da nefasta ação do homem sobre o meio destacando –apoiado em farta quantidade de dados- que o superaquecimento global é um perigo real. Na mesma linha, e tendo como foco o Brasil, trouxemos para o debate o trabalho Mudanças do Clima, Mudanças de Vida, produzido por duas equipes do Greenpeace Brasil e dirigido por Todd Southgate, que

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durante meses viajaram por todo o Brasil documentando os impactos das mudanças climáticas em diversas regiões do País. Como uma homenagem a um dos maiores cineastas brasileiros – Leon Hirszman – apresentaremos o seu raro e pioneiro curta-metragem Ecologia, de 1974, que já à época denunciava os efeitos nefastos do crescimento industrial descontrolado sobre o meio ambiente. Para concluir essa reflexão sobre o tema haverá, ainda, um debate no último dia do ciclo audiovisual. Estarão presentes o engenheiro químico, diretor técnico da Ecoinvest e doutor em energia pela Poli/USP, Ricardo Esparta, e a mestre em Educação, Política e Legislação Ambiental pela ESALQ/USP, Isis Akemi Morimoto. O debate, mediado pelo pesquisador em cinema Luiz Felipe Miranda, abordará o tema “Aquecimento Global” de forma ampla, enfocando, entre outros subtemas, a gênese, a evolução, o estágio atual e os desdobramentos do processo de aquecimento global. Os filmes presentes na mostra enfocam a influência determinante da ação antrópica no processo de aceleração do aquecimento. Porém, como reflexão e contribuição ao entendimento do tema haverá um cotejo entre a versão mais aceita no mundo para tal processo – a antrópica – e aquela defendida, por exemplo, no documentário A Grande farsa do aquecimento global (The great global warming swindle) e por outros cientistas, que credita à natureza o fenômeno. Tal cotejo, creio, dará uma dinâmica muito interessante à análise. Por fim esperamos que o nosso público possa fruir de todas as possibilidades que o evento como um todo oferece e que possamos legar às novas gerações informações preciosas para que, adultos, não cometam os mesmos erros e não deixem para os seus filhos a mesma herança que ora estão recebendo de nós.

Palestra “Aquecimento Global” A. Ricardo J. Esparta em 16/10/2008 O efeito estufa é causado pela absorção por gases de efeito estufa (GEEs) presentes na atmosfera de parte da radiação de calor (radiação infravermelha) emitida pela Terra (esta atua como corpo negro na absorção da radiação do sol), radiação esta que, de outra forma, iria para o espaço. O efeito estufa é um fenômeno natural e a vida na terra, como nós a conhecemos hoje, só é possível graças a ele. Em uma atmosfera livre de GEEs a temperatura média na superfície terrestre passaria dos atuais +15 oC para cerca de -5 oC, ou seja, 20 graus a menos. De forma inversa, o crescimento da concentração dos GEEs pode aumentar a temperatura média da superfície da Terra e de sua atmosfera. Ocorre que o aumento de pelo menos um dos GEEs, o dióxido de carbono (CO2), está intrinsecamente ligado à civilização moderna, já que ele é um dos resultados da queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural, carvão), que perfazem quase 90% das fontes de energias primárias consumidas no planeta. Desde a revolução industrial as atividades econômicas e industriais ocasionaram alterações significativas na biosfera do planeta. Pode-se citar, por exemplo, o aumento de quase 35% na concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera: de cerca de 280 partes por milhão em volume, ppmV, no período pré revolução industrial, no século XVIII, para 28

379 ppmV em 2005. O movimento para análise do risco e definição de ações com relação ao efeito estufa começou a tomar impulso em 1988, durante uma conferência conjunta da Organização Meteorológica 1 Mundial (OMM ou WMO ) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês, “Intergovernmental Panel on Climate Change”). Quando de sua criação, o IPCC foi constituído como um grupo de cientistas em um processo consultivo sem precedentes em tamanho e em escopo. A missão do IPCC é a de reunir o maior número possível de cientistas de diferentes países com o objetivo de coletar e analisar a literatura disponível sobre o aquecimento global e consolidar relatórios sobre a ciência, possíveis impactos e políticas de reposta às mudanças climáticas. Com base nos resultados do Primeiro Relatório de Avaliação do IPCC, de 1990, negociouse o texto final da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), com a adoção de metas voluntárias de redução de emissão de GEEs. O objetivo da Convenção do Clima é explicitado no seu artigo segundo: [...] alcançar [...] a estabilização das concentrações de GEEs na atmosfera em um nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. Esse nível deverá ser alcançado num prazo suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à mudança do clima, que assegure que a produção de alimentos não seja ameaçada e que permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de maneira sustentável. Infelizmente, já em 1995 estava claro que com metas de redução voluntária os resultados seriam insatisfatórios. Apenas alguns poucos países conseguiram de fato reduzir emissões, e o fizeram muito mais a partir de mudanças de política energética do que com ações visando à redução de emissões. Após alguns anos de negociações dentro da UNFCCC, foi acordado em 1997 o Protocolo de Kyoto na Convenção do Clima, impondo reduções de emissões compulsórias aos países industrializados (incluídos no Anexo I da UNFCCC, os chamados países-anexo-I), de cerca de 5% em relação às emissões de 1990, para o período de 2008 a 2012. Países sem metas compulsórias no primeiro período, como o Brasil, por exemplo, não são obrigados a reduzir emissões, mas recebem incentivos se o fizerem. Esta é a essência do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), o artigo 12 do Protocolo de Kyoto. Esses incentivos serão fornecidos na forma de Reduções Certificadas de Emissões de GEEs, que poderão ser vendidas para países e/ou empresas dos países-anexo-I que encontrem dificuldades em cumprir suas metas domesticamente. Um exemplo simples para obtenção de CERs é a substituição, em um processo de obtenção de energia, da queima de um combustível fóssil por outro renovável, por exemplo, biomassa vegetal obtida de maneira sustentável. Nesse caso, o dióxido de carbono emitido na queima da biomassa é “recapturado” da atmosfera pela fotossíntese das plantas no cultivo contínuo e sustentável. Outra possibilidade na busca da redução da concentração dos GEEs na atmosfera seria o “sequestro” de carbono, por exemplo, por meio da fixação do carbono por meio da fotossíntese no crescimento de vegetação, em projetos de reflorestamento Depois de alguns anos de indecisão, o Protocolo de Kyoto, previsto para entrar em vigor em 2000, somente obteve o apoio mínimo necessário de países no final de 2004 e entrou

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oficialmente em vigor em 16 de fevereiro de 2005. Mas a discussão sobre mudança antrópica do clima (causada pela ação do homem) passou definitivamente ao cotidiano da humanidade quando o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, e o IPCC das Nações Unidas receberam o Prêmio Nobel da Paz de 2007, justamente por divulgar o tema. O fato constatado pelo IPCC em seu último relatório de avaliação é que o “aquecimento do sistema climático é inequívoco, como está agora evidente nas observações dos aumentos das temperaturas médias globais do ar e do oceano, do derretimento generalizado da neve e do gelo e da elevação do nível global médio do mar.” Mas, apesar de uma certeza quase absoluta da maior parte dos cientistas que estudam o assunto, ainda existem céticos com relação à responsabilidade humana no aquecimento global. Dentre os “céticos” mais conhecidos mundialmente sobre a responsabilidade humana pelo aquecimento global observado podemos citar o presidente dos EUA, George W. Bush, e o acadêmico dinamarquês Bjorn Lomborg, autor do livro “O Ambientalista Cético”, publicado em 2001. George W. Bush, presidente dos EUA desde 2001, não submeteu o Protocolo de Kyoto ao congresso americano em seu primeiro mandato, alegando que os custos da adoção do tratado não se justificavam mediante as incertezas sobre a responsabilidade humana na mudança do clima. Da mesma forma o professor Lomborg advoga em seu livro de 2001 que as incertezas eram muito grandes, tornando qualquer ação de grande porte injustificável. Desde então ambos mudaram suas posições e hoje reconhecem o aquecimento global antrópico como um problema legítimo, ainda que permaneçam céticos com relação à propriedade das ações em curso para minimizá-lo. Mais recentemente um novo movimento de ceticismo emergiu, depois da exibição em março de 2007 do documentário “A Grande Fraude do Aquecimento Global2 ” pelo canal de televisão britânico “Channel 4”. As principais alegações agora são a incerteza sobre a influência do CO2 e os altos custos dos estudos do IPCC. Para justificar a incerteza da influência do CO2 sobre o aquecimento global, os apoiadores desta tese utilizam um estudo que demonstra haver um período de 800 anos na história durante o qual o aquecimento precedeu o aumento da concentração de CO2 na atmosfera. O estudo indica que em um período analisado total de 5000 anos há efetivamente um aumento significativo da temperatura média global, durante os primeiros 800 anos, que não foi causado pelo aumento da concentração de CO2 na atmosfera. No período restante de 4200 anos as variações de temperatura são consistentes com a variação de CO2 na atmosfera. A conclusão do trabalho é que no período houve um aquecimento global não devido ao CO2, durante um período inicial de 800 anos, seguido de variações provavelmente devidas ao CO2 no período seguinte de 4200 anos. Naturalmente não é razoável concluir, como fazem os céticos, que está provado que a concentração de CO2 na atmosfera não influencia o clima. Com relação aos altos custos do IPCC a alegação dos céticos é de que “os alarmistas do clima deveriam se lembrar de que crime contra a humanidade é gastar US$50 bilhões [que o IPCC e adeptos consumiram] e não chegar a uma conclusão3 ” e de que os cientistas, na realidade, estariam difundindo o pânico para garantir verbas para a ciência. Infelizmente aqui o problema parece ser mais de desonestidade intelectual do que propriamente uma discussão científica4 , uma vez que os gastos totais do IPCC de 2001 até 2007 não passaram de US$50 milhões. Os estimados US$50 bilhões citados pelos críticos não foram despendidos apenas pelo IPCC, mas foram consumidos globalmente em ciência, tecnologia e inovação em fontes 30

renováveis de energia. Para efeito de comparação, este valor é sensivelmente menor do que o que a Petrobras utilizará somente na exploração do petróleo pré-sal. Ou seja, o investimento em fontes renováveis de energia, ainda que pequeno quando comparado com os gastos em fontes fósseis convencionais, tem aumentado continuamente e isso é majoritariamente positivo, do ponto de vista de impactos ambientais. É também uma grande desonestidade intelectual afirmar que o IPCC não chegou a nenhuma conclusão. A diferença aqui é que os cientistas do IPCC honestamente reconhecem que o sistema climático é muito complexo e que ainda existem incertezas, mesmo que sendo elas muitíssimo pequenas. Já para seus críticos, a “ciência honesta” parece ser feita apenas de certezas. Em resumo, os fatos indicam um aquecimento global inequívoco e a melhor explicação conhecida para isso é o aumento da concentração dos GEEs na atmosfera devido a atividades antrópicas. E que a discussão continue. Um bom filme para todos. Educação ambiental e mudanças climáticas: Relato de uma experiência no Japão Isis Akemi Morimoto. O aquecimento global, o efeito estufa, o derretimento das camadas polares, a desertificação, etc., são temas que estão na pauta do dia de diversos jornais, revistas e programas televisivos, e vêm tirando o sono de muita gente preocupada com o futuro da humanidade. Também alguns políticos e artistas demonstram preocupação com estes assuntos em seus discursos, e, apesar de alguns questionamentos sobre o que é real e o que é exagerado pela mídia e, ainda, sobre o que pode ser realmente atribuído às interferências humanas e o que ocorreria como um fenômeno natural de qualquer maneira, a grande maioria das pessoas concorda que algo deve ser feito para evitar maiores prejuízos e problemas causados por estes fenômenos. Assim, como ecóloga e educadora, há algum tempo me perguntava de que forma poderia trazer contribuições da área de Educação Ambiental para este contexto, e em busca de mais informações e aprofundamento, me inscrevi no curso Desenvolvimento de Estratégias em Mudanças Climáticas, oferecido pela Agência de Cooperação Internacional do Japão – JICA. Participando do Curso no Japão, no período de janeiro a março de 2008, tive contato com alunos e professores de diversos países e instituições5 , inclusive com o Sr. Taka Hiraishi do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), que recebeu o Prêmio Nobel, ao lado do ex-vice-presidente norteamericano Al Gore. No curso foram abordados diversos

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temas relacionados a Mudanças Climáticas, com enfoque em Negociações Internacionais, Protocolo de Kyoto, Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, Programas desenvolvidos com o intuito de reduzir emissões de gases causadores do efeito estufa, Compreensão de aspectos técnicos como cálculo de emissões de diversas atividades antrópicas (Inventários), Funcionamento dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, Estratégias para a conscientização de pessoas e instituições sobre impactos das Mudanças Climáticas – Educação/Informação – Artigo 6 da Convenção Quadro, dentre outros. Todos estes temas podem ser aprofundados em consulta ao site do Ministério das Ciências e Tecnologia – MCT (www.mct.gov.br/clima). Gostaria de destacar agora, alguns destes tópicos estudados no Japão: 1) Histórico e conteúdo de acordos Internacionais Em 1990, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou o Comitê Intergovernamental de Negociação para a Convenção Quadro sobre Mudança do Clima, que elaborou o texto da Convenção Quadro firmado por 155 países na “Cúpula da Terra”, durante a ECO 92, ocorrida no Rio de Janeiro. O Brasil foi o primeiro país que assinou a Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima, em 4 de junho de 1992, sendo que a mesma entrou em vigor em 21 de março de 1994, 90 dias após a quinquagésima ratificação. A principal proposta da Convenção é que seja atingida a estabilização da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera em um nível que impeça a interferência humana perigosa no sistema climático, em um período de tempo que permita aos ecossistemas se adaptar naturalmente à mudança do clima, garantindo ainda, que a produção de alimentos não seja ameaçada e que o desenvolvimento econômico prossiga de forma sustentável. O Protocolo de Kyoto, Criado em 1997, veio complementar a Convenção-Quadro das Nações Unidas, pois, mesmo se tratando de um acordo independente, definiu obrigações quantificadas de redução de emissões (metas) para os países desenvolvidos (também chamados de Partes do Anexo I), fazendo com que os mesmos se comprometessem a reduzir suas emissões totais de dióxido de carbono a no mínimo 5% abaixo dos níveis de 1990, no período compreendido entre 2008 e 2012. O Protocolo entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, logo após a ratificação por 55% do total de países membros da Convenção Quadro. Dos países desenvolvidos signatários da Convenção, somente o Estados Unidos não ratificou o Protocolo de Kyoto. Dentre os mecanismos apresentados pelo Protocolo para auxiliar as Partes do Anexo I a cumprir suas metas de redução de emissões, podemos destacar o MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que interessa bastante ao Brasil pois permite a participação das Partes Não-Anexo I (países em desenvolvimento), por meio da venda de reduções certificadas de emissões. Ou seja, para que os países desenvolvidos consigam cumprir seu compromisso de reduzir emissões, assumido ao ratificarem o Protocolo de Kyoto, é possível que eles incentivem (financeiramente) países não desenvolvidos a implementarem projetos voltados à diminuição de emissões em suas atividades produtivas que, por sua vez, podem vender estas “reduções certificadas” no mercado de Carbono. A implantação deste mecanismo não é tão simples assim, pois deve seguir uma 32

metodologia previamente aprovada pelo Comitê Executivo do MDL ou submeter nova metodologia para análise, que, depois de aprovada, torna-se de domínio público. Também deve seguir várias etapas, tais como: Elaboração do documento de concepção do projeto; Validação e aprovação pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima; Registro pelo Conselho Executivo; Monitoramento e verificação; Obtenção das Reduções Certificadas de Emissões para Comercialização. 2) Programas e Projetos do Japão Outro importante destaque que gostaria de fazer sobre o Curso de que participei no Japão, diz respeito aos programas desenvolvidos no país com o objetivo cumprir as metas estabelecidas no Protocolo de Kyoto, bem como para servir como exemplo para outros países. Segue uma breve descrição destas iniciativas: Low-Carbon Society – Programa implantado no Japão em 2005 com a finalidade de mobilizar diversos setores da sociedade (empresas, transporte, indústria, residências, etc.) para a redução de emissões de Carbono a partir de mudanças no estilo de vida dos japoneses, principalmente no que tange a redução do consumo de energia, bem como promover o desenvolvimento e a adoção de tecnologias ambientalmente sustentáveis. Hokubo Clean Center – Centro de processamento de resíduos sólidos, produção de energia e Educação Ambiental. Neste Centro os resíduos sólidos gerados na cidade de Kyoto são separados e processados para serem utilizados pelo setor industrial. O material que não pode ser reciclado é direcionado para a produção de energia. No Centro existe também, um programa de visitação e um teatro especialmente preparado para ações educativas, onde estudantes e visitantes podem conhecer mais sobre a proposta dos três Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), abordada de forma semelhante em nosso país (Na verdade, o Brasil já adota um conceito mais avançado, o dos cinco Rs: Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Recusar determinado produto, se for o caso). Bio Diesel Fuel – Sistema de aproveitamento de óleo de cozinha para produção de Biodiesel. Esta proposta prevê o envolvimento de restaurantes e residências em geral, que devem separar o óleo proveniente de frituras, para ser entregue a um coletor que passa semanalmente em todos os bairros de Kyoto. O produto é processado e transformado em Biodiesel, utilizado em diversos veículos do transporte público municipal. Stop Ondankan – Centro de Educação Ambiental criado para abordar exclusivamente o tema Mudanças Climáticas, no qual estão disponíveis materiais educativos para empréstimo a educadores (kits com jogos, livros, imagens, etc.), e onde também são promovidos eventos, debates e reflexões sobre ações necessárias para se conter o aquecimento global. Logistics Services/Sagawa Express – Os japoneses possuem o hábito de usar o serviço de entregas particulares com grande frequência, assim, algumas empresas do setor começaram a adotar um sistema logístico, com centrais de distribuição estrategicamente

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localizadas, para realizar a distribuição de correspondências e encomendas com maior economia de tempo, energia e combustíveis. Desenvolvimento de tecnologias diversas: Grandes investimentos têm sido feitos em pesquisas tecnológicas visando propiciar o desenvolvimento e o aprimoramento de veículos de baixo consumo de combustível ou movidos a eletricidade, biodigestores para tratamento de esgoto residencial, eletrodomésticos de baixo consumo de energia, captadores solares adaptáveis a diversos equipamentos, etc. 3) Educação e Comunicação Muitos temas abordados no Japão foram enriquecedores, mas, para mim, nenhum deles é mais importante do que o Artigo 6 da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que dispõe sobre Educação, Treinamento e Conscientização Pública. Diz o seu texto: “Ao cumprirem suas obrigações (...), as Partes devem: a) Promover e facilitar, em níveis nacionais e, conforme o caso, sub-regional e regional, em conformidade com sua legislação (...) e conforme suas respectivas capacidades: I) a elaboração e a execução de programas educacionais e de conscientização pública sobre a mudança do clima e seus efeitos; II) o acesso público a informações sobre a mudança do clima e seus efeitos; III) a participação pública no tratamento da mudança do clima e de seus efeitos e na concepção de medidas de resposta adequadas; e IV) o treinamento de pessoal científico, técnico e de direção. b) Cooperar, em nível internacional e, conforme o caso, por meio de organismos existentes, nas seguintes atividades, e promovê-las: I) a elaboração e o intercâmbio de materiais educacionais e de conscientização pública sobre a mudança do clima e seus efeitos; e II) a elaboração e a execução de programas educacionais e de treinamento, inclusive o fortalecimento de instituições nacionais e o intercâmbio ou recrutamento de pessoal para treinar especialistas nessa área, em particular para os países em desenvolvimento.” Diante destas determinações, diversas iniciativas surgiram em âmbito nacional e internacional, tais como: Intercâmbios e Cursos de capacitação como o oferecido pela JICA no Japão; Criação de um link no site da Convenção Quadro das Nações Unidas para divulgar projetos e eventos educacionais: http://unfccc.int/cc_inet/ Formação de Grupos de países voltados a promover troca de informações e tecnologias. Ex.: Asia-Pacific Integrated Model – AIM; No Brasil, houve abertura de fóruns e debates sobre a elaboração da Política Nacional sobre Mudança do Clima (por meio da Comissão Mista Especial das Mudanças Climáticas) e do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, além da realização da Terceira Conferência Nacional do Meio Ambiente, em maio de 2008, cujo tema foi Mudanças Climáticas6 ; dentre outras ações. 34

Neste contexto, e conforme proposto na III Conferência Nacional do Meio Ambiente, a Educação Ambiental apresenta-se por meio de uma proposta de mobilização, organização e educação da sociedade brasileira para que ocorram as mudanças culturais necessárias ao enfrentamento qualificado das causas e efeitos das Mudanças Climáticas. “Os efeitos do aquecimento global alertam para a necessidade de alterações profundas no modo hegemônico de produção e consumo. E o envolvimento profundo, crítico e atuante, de cada cidadão e grupo social, é condição essencial para realizar esta dramática transformação”. (Caderno de Debate/CNMA/2008 p. 84.) Para isto, o texto da Conferência Nacional sugere um conjunto de ações que promovam e incentivem: Formação; Treinamento; Comunicação e Disseminação de Informação (criação e fortalecimento de mecanismos ágeis, interativos e democráticos de acesso a informações qualificadas); Criação e fortalecimento de grupos, coletivos e estruturas formadoras para o enfrentamento das Mudanças Climáticas; Mobilização e engajamento de instituições e sujeitos sociais (inclusive gestores); Exercício da Cidadania Ativa (reivindicando políticas públicas sintonizadas com as demandas socioambientais); Participação coletiva nos processos decisórios; Planejamento estratégico para o uso racional dos recursos naturais e adoção de compromisso ético com as futuras gerações; Busca constante por melhorias na qualidade de vida e recuperação de sistemas naturais; Implantação de ações preventivas e transformadoras. Concluímos assim que, frente a todos os instrumentos presentes nos acordos internacionais, bem como as participações voluntárias e a grande preocupação popular com relação ao tema, podemos encarar este panorama relacionado com as Mudanças do Clima, como uma grande oportunidade para que a humanidade repense sua forma de organização e relação com a Natureza. Uma oportunidade de discutirmos o pertencimento do ser humano na Natureza, não como dominador e mero utilizador de recursos naturais, mas como parte dela e de seu equilíbrio natural. Também uma possibilidade de discutirmos padrões de consumo, necessidades essenciais, responsabilidade por todas as etapas de produção do que compramos (forma de extração do recurso natural, transporte, energia na fabricação, condições de trabalho, embalagens, destinação dos resíduos gerados, etc.). Este tipo de abordagem possibilitaria a participação de cada cidadão, contribuindo com ações simples, como andar de bicicleta ao invés de carro ou usar transporte público, plantar árvores, fazer escolhas conscientes, destinar resíduos para reciclagem, comprar aparelhos com maior eficiência energética, bem como, por meio da participação política e do exercício da cidadania ativa, cobrando providências por parte dos governantes e setores industriais. No entanto, devemos ficar atentos, pois, por envolver acordos comerciais e recursos financeiros, alguns dos mecanismos do Protocolo de Kyoto, por mais bem intencionados que sejam, podem ocasionar adesões que visem apenas ao lucro de empreendedores, não gerando efetiva redução de emissões, e sim uma simples troca do local da ocorrência dessas emissões. 35

Esse comércio de créditos sem observação de critérios mais rígidos poderia vir a ser encarado como verdadeiro mercado de “licenças para poluir”. Além disto, preocupações reais, como a emissão de gases causadores do efeito estufa em processos convencionais de geração de energia, poderiam ser utilizadas para justificar a instalação de usinas nucleares, que de fato reduziriam as emissões do setor energético, porém, ocasionariam outros problemas bem mais graves, como a dificuldade de destinar resíduos nucleares de forma adequada e os riscos de acidentes como o de Chernobil. Neste contexto, formas alternativas de produção de energia, como as energias solares e eólicas, continuariam não sendo priorizadas. Deste modo, ações educativas que apresentem informações reais e bem fundamentadas, tornam-se ainda mais importantes para impedir manipulações da opinião pública em sentido oposto ao que desejamos numa sociedade ambientalmente sustentável. Conforme Al Gore aconselha no filme Uma Verdade Inconveniente: “Aprendam o máximo que puderem sobre a Crise do Clima e então transforme este conhecimento em ação”, Educação! Referências: Caderno de Debate da Conferência Nacional do Meio Ambiente – CNMA/2008. www.mma.gov.br Site do Ministério das Ciências e Tecnologia. www.mct.gov.br/clima Programa Low Carbon Society. http://2050.nies.go.jp/project_e.html Sinopses dos filmes Ecologia (Brasil, 1974, cor, 13min - suporte DVD) direção: Leon Hirszman Sinopse: Documentário pioneiro que trata dos elementos causadores da poluição e seus efeitos sobre o homem e a natureza. Denuncia a utilização indiscriminada dos recursos naturais por diversas indústrias. Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas (Brasil, 2006, cor, 51min - suporte DVD) direção: Todd Southgate - produção: Greenpeace Sinopse: Durante meses equipes do Greenpeace viajaram por todo o Brasil documentando os impactos das mudanças climáticas em diversas regiões. O resultado foi um filme com imagens da seca, inundação e destruição, além de depoimentos de pessoas no Sul, na Amazônia e no Nordeste que sofreram, sofrem ou sofrerão com essas alterações. Uma Verdade Inconveniente (An Inconvenient Truth, EUA, 2006, cor, 96min - suporte DVD) direção: Davis Guggenheim 36

Sinopse: Documentário em que o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore apresenta uma advertência e uma visão do futuro de nosso planeta e nossa civilização por causa do aquecimento global. Aquecimento Global 1 - História do Conhecimento (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Primeiro programa da série que faz uma viagem no tempo para contar o processo de aquecimento na terra e revelar a história das pesquisas cientificas sobre o fenômeno. Aquecimento Global 2 - O Que Aquecimento Global? Que Fenômeno É Esse? (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: O que é aquecimento global? Quais são os sinais desse fenômeno? É a primeira vez que ele acontece? Essas e outras dúvidas sobre o problema ambiental mais debatido do mundo são respondidas neste episódio. Aquecimento Global 3 - Cenários Para o Futuro ? (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: O episódio revela as conclusões do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental em Mudança do Clima) sobre as mudanças climáticas em curso no planeta. Participação do cientista Paulo Artaxo, colaborador do IPCC, e de José Antônio Marengo, coordenador da pesquisa brasileira, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Aquecimento Global 4 - Uma Ameaça às Espécies Tropicais (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: A mudança climática não ameaça apenas os seres que vivem no frio, como o urso polar. Esse episódio mostra que espécies tropicais também correm risco de extinção por causa do aquecimento. Aquecimento Global 5 - O Cerrado Pede Socorro (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Viagem até o Parque Estadual da Serra dos Pirineus, em Goiás, para ouvir dois especialistas do Cerrado: o biólogo Reuber Brandão, professor da Universidade Federal da Bahia, e a engenheira florestal Jeanine Felfili, da Universidade de Brasília. Aquecimento Global 6 - Um Desafio Para Floresta Amazônica (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Mostra o esforço da ciência para entender o papel da Amazônia no clima do planeta e acompanha o trabalho de pesquisadores numa estação científica escondida no meio da floresta.

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Aquecimento Global 7 - Escassez de Água (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Programa que aborda o derretimento das geleiras, uma ameaça à oferta de água doce no mundo, e conta com a participação do glaciólogo Jefferson Simões e com opiniões de Carlos Scaramuzza, superintendente de conservação do WWF-Brasil, e de Oscar Cordeiro Netto, diretor da Agência Nacional de Águas, sobre as medidas que podem garantir água para as futuras gerações. Aquecimento Global 8 - Conservar para se Adaptar (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: As unidades de conservação serão importantes para minimizar o impacto das mudanças climáticas na biodiversidade. Mas o isolamento das reservas prejudica a migração de espécies em busca de clima ameno. Neste episódio: os Mosaicos da Mata Atlântica, iniciativa que une remanescentes da floresta e torna mais eficiente a proteção de plantas e animais. Aquecimento Global 9 - Degradação dos Oceanos (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Neste episódio, especialistas de duas universidades do Sul do Brasil revelam que as mudanças climáticas ameaçam a dinâmica dos oceanos: ph, correntes, etc. Aquecimento Global 10 - A História do Seridó (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: O desmatamento antecipou um cenário de aquecimento global para o semi-árido do Nordeste: a desertificação. Especialistas ensinam como o quadro pode ser revertido. Aquecimento Global 11 - Aumento do Nível do Mar (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: A primeira nação a ser afetada diretamente pelo aumento do nível do mar foi Tuvalu, no Oceano Pacífico. O episódio também revela as pesquisas que apontam as conseqüências para o Brasil. Aquecimento Global 12 - Combate à Pobreza (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Este episódio aborda as populações vulneráveis ao aquecimento global no mundo e acompanha o trabalho de educadores para combater a pobreza rural no sertão do Piauí. Aquecimento Global 13 - Impactos Para Saúde (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Neste episódio o pesquisador Ulisses Confalonieri, da Fiocruz, revela que o 38

aquecimento global agravará os problemas nutricionais e que a contaminação da água aumentará a transmissão de doenças endêmicas e intensificará os efeitos da poluição no nosso organismo. Aquecimento Global 14 - Eventos Climáticos Extremos (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Explicação de como o aquecimento global vai provocar mais desastres naturais. No episódio também são mostradas as causas e conseqüências do primeiro furacão brasileiro, o Catarina, que devastou o Litoral Sul, e é exibido o aparelho que ajudará a prever os temporais que castigam a cidade de São Paulo. Aquecimento Global 15 - Energias do Futuro (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: O episódio aborda a polêmica energia nuclear e a corrida mundial por fontes renováveis de energia. Um exemplo vem do interior de São Paulo, onde o bagaço da cana-deaçúcar gera eletricidade. Aquecimento Global 16 - Construção e Lixo (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: O impacto do lixo e das construções nas cidades. Em Nova Iguaçu, um aterro aponta uma solução: o tratamento adequado dos resíduos evita a contaminação ambiental e a liberação de gás metano. No episódio, participação de especialistas em construção sustentável e apresentação de novas tecnologias que reduzem o desperdício e economizam recursos naturais. Aquecimento Global 17 - O Transporte na Cidade (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Alternativas para diminuir o impacto dos transportes no clima. Neste episódio a cientista Suzana Kahn fala do fim da hegemonia dos automóveis e é exibido um depoimento de Fábio Feldman, ambientalista que se tornou o inimigo número um dos carros em São Paulo. E ainda é mostrado como o transporte não motorizado luta por seu espaço nas ruas e avenidas de Duque de Caxias (RJ). Aquecimento Global 18 - Consciência Ambiental (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: No programa, iniciativas de mobilização contra o aquecimento global e a importância da educação para despertar responsabilidades. Aquecimento Global 19 – Desmatamento (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: O desmatamento é o principal responsável pela posição que o Brasil ocupa no mundo (4º quarto lugar) em emissões de gases que causam o efeito estufa. O programa mostra a evolução do problema nas últimas décadas na região amazônica e apresenta alternativas 39

sustentáveis que evitam a derrubada das árvores. Aquecimento Global 20 - Agricultura e Pecuária (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: Vilã e vítima. O episódio aborda como agricultura e pecuária contribuem para o aquecimento global e por que elas também serão afetadas pelo problema. Aquecimento Global 21 - A Nova Economia (Globo Ecologia/Canal Futura - 26min) Sinopse: O programa mostra o impacto do aquecimento global no mundo dos negócios e o surgimento da nova economia, baseada na sustentabilidade. Especialistas analisam os caminhos do Mercado de Créditos de Carbono, que movimentou US$30 bilhões em 2006.

Fórum de Reflexões - Integrações Socioambientais na cidade de São Paulo Ermelinda Moutinho Pataca Em sintonia com as manifestações artísticas e culturais que ocorrerão no projeto Este mundo é meu! também será realizado um Fórum de discussão com a finalidade de integrar as atividades do evento.O Fórum contribuirá principalmente com a dimensão reflexiva. Segundo alguns críticos, a intensa valorização da racionalidade técnicocientífica, evidenciada na sociedade industrial contemporânea, distanciou o homem da natureza e ocasionou a fragmentação do conhecimento em diversas áreas, a segmentação social e a desvalorização das relações humanas. O processo histórico de apropriação natural teria conduzido ao estado atual de intensa degradação socioambiental em que vivemos. Para reverter essa situação buscamos, agora, um caminho de integração entre diversas áreas do conhecimento que conduzam a um equilíbrio entre as expressões humanas como razão, sensibilidade e espiritualidade. O Fórum pretende contribuir com a interação entre áreas distantes. Desta forma, ele tem o propósito de fomentar o intercâmbio de opiniões entre representantes de universidades, ONGs, Institutos de Pesquisa, políticos e outros membros da sociedade civil que discutem a 40

questão ambiental. A partir do diálogo é possível colaborar com a investigação, a educação e a divulgação do conhecimento interdisciplinar sobre meio ambiente, com ações que visam construir sociedades mais justas e sustentáveis. Com esse propósito, foram constituídas seis mesas de discussão que pretendem abordar a problemática ambiental de forma integrada, com foco na cidade de São Paulo, mas em conexão com a dimensão global. Desta forma, a problemática ambiental em toda a sua complexidade será abordada por especialistas provenientes de áreas diversas: 1) Os sentidos e a percepção ambiental nas manifestações artísticas. Em sociedades industrializadas, a multiplicidade e a intensidade de sons, imagens e aromas, aliadas ao intenso ritmo de vida das populações urbanas, conduzem cada vez mais a uma deficiência na percepção ambiental. Uma das formas de reverter essa situação pode ser realizada com a colaboração das artes que apresentam grande potencial de sensibilização e percepção ambiental. Nesta mesa serão debatidas as diferentes percepções ambientais, especialmente por meio da ecologia acústica e da arte-educação. Palestrantes: professora doutora Marisa Fonterrada,- UNESP Tema: Música e Meio Ambiente Professora doutora Maria Christina S. Lima Rizzi – ECA/USP Tema: Arte-educação e percepção ambiental: uma reflexão sobre os desafios no presente 2) Ética, Espiritualidade e Natureza. Na atual perspectiva da temática socioambiental, quando se unem conhecimentos decorrentes das manifestações de ativistas e das reflexões de pensadores, necessita-se a associação da pessoa ao mundo coletivo em que se convive, fato que reforça a necessidade de encará-la sob os mais ousados formatos, inclusive os que incluem a dimensão espiritualista e a ética. Nessa perspectiva, na mesa serão apresentadas três concepções diferentes sobre essa visão. Palestrantes: doutor Leopoldo Gabriel Thiesen Filósofo, Educador e Artesão. Tema: Por uma espiritualidade pós-metafísica Professor doutor João Luiz Pegoraro – Biólogo. Doutor pela ESALQ/USP. Tema: Sustentabilidade, Espiritualidade e Auto-Realização. Professora M.ss Maria Salette Mayer de Aquino - professora do Instituto de Estudos da Linguagem –UNICAMP Tema: Reconhecer, pois somos todos um! 3) Áreas Verdes, Comunidades e Conservação Quais são os significados das árvores para as populações urbanas? Como vemos as áreas verdes em ambientes urbanos e industrializados? Como os indivíduos e o coletivo das cidades interagem com o ecossistema urbano? Com foco nessas e diversas outras questões relacionadas a fios de memória, racionalidade, espiritualidade e sensibilização das comunidades urbanas e rurais serão discutidas nessa mesa. Palestrantes: doutora Roseli Torres – Bióloga (Botânica) Pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) 41

Tema: O Verde Urbano Professora doutora Ondalva Serrano, doutora em Agronomia Tema: Áreas Verdes, Comunidade e Conservação 4) Educação, Comunicação e Participação Ambiental. A Educação Ambiental tem-se colocado como um importante instrumento para a compreensão e a conscientização sobre questões ambientais, no exercício da cidadania e na busca de transformação da realidade socioambiental. Desta forma, a educação ambiental configura-se como educação política que deve possibilitar o uso do conhecimento não só na relação com os recursos naturais, mas também promover a participação do cidadão nas decisões sobre o seu cotidiano. Nessa perspectiva, o debate desta mesa explicitará princípios e práticas da Educação Ambiental em ambientes diversos como Escolas, Comunidades e Meios de Comunicação, na busca da melhoria da qualidade de vida. Palestrantes: professor doutor Marcos Sorrentino – Biólogo e Pedagogo Tema: Educação Ambiental Popular: educomunicação socioambiental e participação na construção de sociedades sustentáveis Professora doutora Vânia Maria Nunes dos Santos – Socióloga- Doutora em Educação Aplicada às Geociências pela UNICAMP Tema: Projetos escolares no estudo do lugar: (re)conhecimento da realidade socioambiental e formação da cidadania 5) Água, ar e solo. A cidade de São Paulo se desenvolveu num terreno com condições naturais extremamente favoráveis, o que se configurou em quase cinco séculos de sua história, permitindo um grande crescimento urbano. Os parâmetros naturais iniciais, como o relevo favorável, a abundância de cursos d’água, os terrenos de aluviões, periodicamente inundados e bons para cultivo, a proximidade de grandes rios, recursos minerais para a construção civil, etc., hoje estão completamente alterados devido à ocupação desordenada. Mas os paulistanos precisam saber que os fatores naturais são condicionantes que precisam ser respeitados por todos aqueles que aqui instalam edificações, obras subterrâneas, ruas e avenidas, sob pena de haver riscos ambientais, econômicos e até mesmo de perda de vidas humanas. Nessa mesa serão discutidos o patrimônio geológico da cidade de São Paulo e como a população interage com a natureza, especialmente com relação à água e minerais. Palestrantes: Gustavo Veronese – geógrafo, coordenador do Programa Rede das Águas – SOS Mata Atlântica Tema: Monitoramento da qualidade das águas para ação ambiental Professor doutor Celso Dal Ré Carneiro – geólogo, professor do Depto. De Geociências aplicadas ao Ensino – Instituto de Geociências – UNICAMP Tema: A geologia paulistana e o patrimônio socioambiental 6) Território, Sociedade e Políticas Ambientais. Todo território é o resultado do relacionamento de uma sociedade com uma porção da superfície terrestre. A apropriação do planeta constitui a territorialização da humanidade, 42

associando lugares e grupos ao longo da história. Desta forma, as relações do homem com o espaço são resultado das interações sociais deste com o meio ambiente, ou seja, a relação sociedade-espaço configura-se pela apropriação dos meios naturais. Na atualidade o modelo de apropriação do espaço reflete as desigualdades socioeconômicas imperantes, sendo o período marcado pela ineficácia ou mesmo ausência total de políticas públicas para o enfrentamento destes problemas. Nesta mesa serão discutidas as perspectivas de criação de políticas públicas para a resolução de problemas complexos numa associação entre território e sociedade. Palestrantes: professor doutor Antônio Carlos Robert de Moraes – geógrafo e sociólogoprofessor do Departamento de Geografia da FFLCH/USP Tema: Território, sociedade e Políticas Ambientais Professor doutor Pedro Roberto Jacobi – professor titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós Graduação da Universidade de São Paulo – Coordenador da TEIA-USPLaboratório de Educação e Ambiente Tema: Território, sociedade e Política ambiental – do risco á sustentabilidade. MESA 1 -

Arte e Meio Ambiente

Música e meio ambiente Marisa Trench de Oliveira Fonterrada Instituto de Artes – UNESP ETEC das Artes – Centro Paula Souza de Educação Tecnológica Em primeiro lugar, quero agradecer o convite para participar desta mesa redonda, no evento Este Mundo é Meu! Neste agradecimento, quero ressaltar a importância do convite, pois, embora tenha participado de alguns Congressos no exterior, em que abordei a questão do som e do meio ambiente, é a primeira vez que participo, no Brasil, deste tipo de encontro. Minhas comunicações sobre essa temática têm se restringido aos Encontros de Música e Educação Musical, e é a primeira vez que me dirijo a um público não composto especificamente por músicos. O convite, portanto, me encheu de alegria, tanto pela oportunidade de participar do evento e trazer aos presentes um pouco de minhas inquietações quanto por perceber que a temática do som ambiental está começando a ter espaço nas discussões ligadas aos estudos do meio e à ecologia, o que é bastante promissor. O estranhamento em relação à temática Som e meio ambiente é resultado da pouca familiaridade com o que se 43

convencionou chamar de Ecologia Acústica, temática recente, embora a cada ano seja possível constatar o interesse por esse assunto crescer. O estudo dessas questões permite o reconhecimento do papel que o ambiente sonoro desempenha na formação e desenvolvimento das capacidades auditiva e expressiva do homem. O ambiente sonoro apresenta duas características: - as universais, que ocorrem em países ocidentais e ocidentalizados, isto é, aqueles que desfrutam das conquistas empreendidas pelas Revoluções Industrial e Eletro-eletrônica; - as peculiares a cada cultura: língua, sons ambientais e as diferentes formas de manifestações musicais. As mudanças ocorridas no século XX introduziram novos sons ao ambiente, fazendo que hoje vivamos em um meio sonoramente superpopuloso, no qual as informações acústicas em demasia impedem sua clara compreensão, por parte da população em geral. Tal situação exerce grande influência no desenvolvimento e aperfeiçoamento das capacidades auditiva e comunicativa do ser humano, favorecendo o surgimento de anomalias, ou impedindo o pleno desenvolvimento dessas capacidades. A questão do som ambiental foi alvo de pesquisa científica sistemática desde o final da década de 1960 e início de 1970, no Canadá, liderada pelo compositor, educador musical e ensaísta Raymond Murray Schafer. Ele era, a essa época, professor da Universidade de Simon Fraser em Burnaby, um distrito de Vancouver, na Colúmbia Britânica. A questão do som já era alvo de discussões no curso de Comunicações daquela Universidade e estava a cargo de médicos e advogados, que discutiam em suas aulas a influência do som na saúde da população e as questões legais ligadas ao excesso de ruído ambiental. Quando Schafer chegou à Universidade para iniciar o seu trabalho docente, percebeu que os alunos estavam muito descontentes com a disciplina, pois achavam que o que lhes era trazido não era de seu interesse. Eles ansiavam por outro tipo de aula, mais diretamente ligada à futura profissão. Schafer, então, resolveu conversar com eles a respeito do som ambiental e da qualidade da escuta, mudando o enfoque negativo – caracterizado por questões legais, punições e problemas de saúde – para o positivo, em que se discutia a acuidade auditiva, a qualidade dos ambientes que os alunos frequentavam, a importância dos sons em suas vidas e o que fazer para tornar um determinado ambiente sonoramente equilibrado. As aulas eram de caráter prático e a classe visitava diferentes pontos da cidade, gravando, procurando descobrir as características que detinham e estudando o som ambiental por múltiplos enfoques. Como técnica de coleta dos sons ambientais, em geral, eles se guiavam por temas, escolhidos após discussão e as gravações eram feitas de modo a valorizá-los; surgiram, assim, gravações dos sons do porto de Vancouver e dos brinquedos de rua do bairro chinês. O resultado foi gravado em um CD, de nome Vancouver Soundscapes, que pode ser traduzido como Paisagens sonoras de Vancouver. A partir dessas primeiras ações, a problemática do som ambiental teve um importante incremento, quando Schafer criou The World Soundscape Project (projeto Paisagem Sonora Mundial), na mesma Universidade em que trabalhava. Esse projeto estudou extensivamente o Som em sua evolução histórica, e o papel que desempenha na formação integral do ser humano; suas conclusões foram publicadas em 1977, no livro The Tuning of the World, traduzido em

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português sob o titulo A afinação do mundo (2001). Desde então, o som ambiental continua a ser extensamente estudado por pesquisadores de várias áreas, em todo o mundo e a realização, em agosto de 1993, de um encontro multidisciplinar sobre Ecologia Acústica em Banff, Alberta, no Canadá – que recebeu o nome The Tuning of the World Conference (Conferência internacional A afinação do mundo) numa homenagem a Schafer e seu livro pioneiro – vem confirmar essa afirmação. No final dessa mesma conferência, foi criado pelos pesquisadores presentes no The World Forum for Acoustic Ecology (Fórum Mundial de ecologia acústica), que reúne vários pesquisadores do som que desenvolvem projetos, tanto no Canadá quanto em diferentes partes do mundo, e pretende contribuir para o estudo da problemática que envolve o ambiente sonoro, difundindo pesquisas e discussões a respeito do assunto, bem como incentivando medidas positivas que visem à melhoria da qualidade sonora ambiental, passíveis de serem tomadas por pessoas ligadas às mais diversas áreas do conhecimento. A ideia defendida por Schafer é que, até a Revolução Industrial, o homem mantinha equilíbrio em relação ao ambiente sonoro. A partir de então, com o aumento do ruído provocado pela invenção de numerosos aparelhos e máquinas, a descoberta da eletricidade e o alto volume que, em geral, acompanhou as novas invenções, o desequilíbrio começou a se instalar; num aumento constante, os sons começaram a invadir a privacidade das pessoas, provocando-lhes uma série de desconfortos. Hoje começam a ser praticadas algumas ações que pretendem coibir o excesso do som ambiental, e tornar a sociedade consciente de que todos são responsáveis pela qualidade da paisagem sonora, mas as iniciativas nesse sentido ainda são bastante tímidas. É preciso enfatizar, no entanto, que não é apenas no alto volume do som ambiental que está situada a sua problemática; a qualidade do ambiente sonoro é, também, profundamente afetada pelos sons produzidos por máquinas e aparelhos eletro-eletrônicos no ambiente, pois eles são sons constantes, de baixa informação e não provocam interesse especial em quem os ouve. Quando esses sons são extremamente graves como é o caso, por exemplo, do som surdo do tráfego, continuamente ouvido nas cidades grandes, a perda de energia é enorme; e eles estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. O médico francês Alfred Tomatis os denomina “sons de descarga”, porque descarregam a energia de quem os ouve, colocando-os em estado de sonolência e desânimo. As pessoas têm diferentes níveis de tolerância em relação ao excesso de som. Alguns se sentem profundamente incomodados diante do ruído, que pode provocar tensão, dor de cabeça e desconforto generalizado. Outros, porém, convivem com o excesso de ruído ambiental sem se importar com ele e até “estranham” quando se veem em um ambiente silencioso, depois de morar muitos anos em locais barulhentos. No entanto, percebendo ou não o ruído ambiental, sentindo-se ou não incomodado com ele, o excesso de sons no ambiente pode causar muitos danos à saúde, dentre os quais se assinalam perda auditiva transitória ou permanente, aumento de pressão arterial, estresse, insônia, problemas digestivos, alteração do ritmo respiratório, cefaleia e muitos outros. Os sons que provocam bem estar são, em geral, os produzidos na natureza, como a água, o canto dos pássaros, as ondas do mar na arrebentação, ou folhas dançando ao vento. E também os sons musicais, quando fornecem ao ouvinte qualidade diversificada de informação. Mas esses sons estão cada vez menos audíveis, pela sobreposição maciça dos sons

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tecnológicos, que exercem grande influência em boa parte da produção musical, o que explicaria a tendência em utilizar sons repetitivos, de baixa informação e emitidos em regiões muito graves. Mas o que mais preocupa os estudiosos do ambiente sonoro não é o excesso ou a superpopulação de sons no ambiente, diferentemente percebidos em cada caso. O que é motivo de alerta é o fato de que, se isso está ocorrendo em todos os lugares, é porque a sociedade os aceita como inevitáveis e procura se acomodar a eles, não se preocupando em reverter essa situação. De acordo com Schafer, isso decorre da pouca acuidade auditiva dos membros da sociedade; o homem contemporâneo desaprendeu a ouvir. Para ele, não bastam leis restritivas contra o excesso de ruído ambiental, mas um trabalho específico do que denomina Educação Sonora, que leve as pessoas a perceberem o som em suas particularidades, tomando consciência de sua presença e desenvolvendo a vontade de contribuir para a qualidade da paisagem sonora mediante a própria intervenção. Não se trata da simples detecção de ruídos invasivos ou de impacto na vida das pessoas, mas a compreensão de que o meio acústico é portador de preciosas informações a respeito do ambiente em geral, devendo, por isso, ser estudado e analisado em pormenores. Como ciência recente, ainda não se explora suficientemente os indícios fornecidos pelo ambiente sonoro. No entanto, as sociedades tribais e antigas civilizações serviam-se extensamente da escuta, para obter informações acerca do ambiente e, mesmo na sociedade ocidental, isso era constantemente feito até um passado recente, mesmo que não se tivesse plena consciência de tal procedimento. A falta de atenção ao som ambiental é um fenômeno da contemporaneidade. No livro A afinação do mundo, de Schafer (2001), pode-se encontrar muitos dados a esse respeito. Outra questão a ser trazida é o conhecimento de quanto as interferências humana e tecnológica podem influir negativamente no ambiente, provocando alterações nos hábitos das espécies que habitam a região, ou facilitando a ação de predadores. Sabe-se que, entre os sapos, uma das funções do seu canto, difuso e não definido, é ocultá-lo da ação dos predadores, pois o som coletivo resultante provém de todas as partes, dificultando a localização do animal. Com sua exposição ao ruído externo, como a passagem de aviões a jato acima dos locais em que habitam, por exemplo, esse canto apresenta perfil consideravelmente alterado, e o que era difuso e difícil de ser localizado, transforma-se em informações esparsas e localizadas, o que torna os animais presas fáceis de predadores. Um estudo da influência dos sons tecnológicos sobre espécies naturais foi desenvolvido pelo biólogo norte-americano Bernie Krause (2002), que apresenta dados inquietantes a esse respeito. Esse tipo de pesquisa, embora recente, permite a reunião de informações de importantes aspectos do meio sonoro natural e o planejamento e controle das ações a serem implantadas em regiões que abrigam espécies silvestres, de tal modo que o som delas decorrente provoque o mínimo de impacto e danos ao ambiente. Dar ao som a importância que lhe é devida implica em se trabalhar com o aperfeiçoamento da escuta. A primeira tarefa da Educação Sonora é a escuta do ambiente. E isso começa com o Silêncio. O Silêncio pode provocar nas pessoas sentimentos contraditórios: para alguns, pode indicar paz, apelo para a imersão dentro de si, religiosidade, enquanto, para outros, pode assumir características assustadoras, ligando-se a ameaças, tensão e morte. A situação atual de extremo uso de ruídos no ambiente pode indicar que a segunda opção, talvez, tenha se mostrado a mais

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frequente. Muitas pessoas fogem do silêncio, povoando o ambiente com sons perenes: músicas em alto volume, barulho de máquinas e aparelhos, conversas e risadas constantes. Embora momentaneamente essa atitude possa apaziguá-los, a falta de convivência com o Silêncio pode impedi-los de desenvolver suas capacidades de escuta, de si mesmo, dos que estão ao seu redor e do ambiente em que vivem. Isso precisa estar na mente das pessoas que ocupam posições de liderança – professores, animadores culturais, líderes comunitários, políticos ou artistas. A escuta é individual; num determinado ambiente, enquanto alguns sons são ouvidos por todos, outros serão ouvidos mais por algumas pessoas do que por outras. Isso pode acontecer tanto pela posição ocupada por elas no momento da experiência de escuta, pois alguns sons são mais audíveis de um lugar do que de outro, quanto, também, por causa do interesse pessoal de cada um. O interesse conduz a escuta; alguém entusiasmado por carros, por exemplo, escuta e diferencia barulhos de motor, mas ignora sons naturais. Se o interesse for por animais – pássaros e sapos – esse indivíduo os ouvirá, ignorando os sons de motores, também presentes no mesmo ambiente. Isso significa que ouvimos seletivamente, isto é, escolhemos consciente ou inconscientemente, os sons que queremos ouvir. É o que ocorre no meio da noite, quando a mãe, cansada, ouve o choro de seu filho, mas não acorda com buzinas, ou música em alto volume na vizinhança. Várias coisas podem ser feitas para despertar o interesse de um grupo pelo som ambiental: pode-se pedir para que todos permaneçam em silêncio durante um ou dois minutos, simplesmente ouvindo e anotando o que ouvem. Em seguida, essas listas podem ser comparadas. Nesse momento, se verá que a escuta individual opera, pois as listas, embora semelhantes, não serão idênticas. A mesma lista pode ser utilizada para trabalhar distintas coisas. O som é um fenômeno físico, causado pela vibração. Sendo assim, detém uma série de propriedades, que são conhecidas como parâmetros do som. Os sons podem ser classificados pela frequência, isto é, por sua altura. Nesse sentido, podem ser agudos, médios e graves. Essa característica pode dirigir a ordenação dos mesmos sons da lista, que serão dispostos em três colunas, de sons agudos (A), médios (M) e graves (G): Sons do ambiente classificados quanto à frequência A M Canto de pássaros Vozes conversando

G Motor de carro

Outra característica que pode ser buscada é a da duração. Quanto à duração, os sons podem ser curtos (C), médios (M) e longos (L) e podem ser divididos desse modo, em outro quadro: Sons do ambiente classificados quanto à duração C M Pingo de torneira Buzina

L Zumbido de lâmpada

Outra classificação possível é aquela que se faz a partir da intensidade dos sons. Quanto à intensidade, eles podem ser fracos (f), médios (M) e fortes (F).

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Sons do ambiente classificados quanto à intensidade F M Sussurro Voz falada

F Grito

Esse simples exercício vai mostrar que a discriminação sonora ganha qualidade quando se incentiva a escuta analítica do ambiente. Embora não se esteja até agora falando de música, esse tipo de escuta é semelhante à escuta musical. Não nos referimos à escuta amadora, em que se ouve música por prazer ou passatempo. Estamos falando da escuta do músico, focalizada no fenômeno musical. Essa escuta pode ser desenvolvida e apresenta significativo aumento de qualidade, assim que se começa a trabalhar com ela. Com a escuta desenvolvida, o homem pode aprender a fruir o fenômeno musical para além do conceito de música como diversão e lazer, e compreendê-la como importante atividade humana. A música pode atingir profundos recessos da psique e o aperfeiçoamento da escuta pode auxiliar a aproximação com ela e, consequentemente, trazer ao homem mais uma dimensão estética em sua vida. Essas palavras não têm a pretensão de esgotar esse assunto tão instigante. Pretende, apenas, chamar a atenção das pessoas interessadas para a importância do som ambiental, mostrando que, além de sua presença constante em nossas vidas, ele tem outras funções: espelho das atividades humanas, indicativo das condições do ambiente e motivador de prazer estético, quando se apresenta como arte. Referências Bibliográficas: Banff. The Tuning of the World Conference – proceedings. Calgary: University of Calgary, 1993. 2 v. FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. Música e meio ambiente: ecologia sonora. São Paulo: Vitale, 2004. KRAUSE, Bernie. Wild Soundscapes. Bekerley: Wilderness Press, 2002. SCHAFER, R. M. The Tuning of the World. Toronto: McClelland, 1973. (___). O ouvido pensante. São Paulo: Editora da UNESP, 1996. (___). A afinação do mundo. São Paulo: Editora da UNESP, 2001

Arte-educação e percepção ambiental: uma reflexão sobre os desafios no presente Ana Cristina Chagas dos Anjos Maria Christina de Souza Lima Rizzi O que define o pensamento, as três grandes formas de pensamento, a arte, a ciência e filosofia, é sempre enfrentar o caos. Mas a filosofia quer salvar o infinito, dando-lhe consistência. A ciência, ao contrário, renuncia ao infinito para ganhar a referência. A arte quer criar um finito que restitua o infinito. Deleuze e Guattari A Proposta Triangular do Ensino da Arte foi sistematizada pela professora e pesquisadora, da USP, Ana Mae Barbosa no final dos anos 1980. Trata-se de uma visão mais contemporânea no ensino da arte que valoriza a construção, a elaboração e a cognição nos processos artísticos. Procura acrescentar à dimensão do fazer artístico, a importância do acesso 48

ao patrimônio cultural e natural da humanidade. Postula que a construção do conhecimento em arte acontece quando há a intersecção da experimentação, com a codificação e com a informação ao relacionar o fazer arte, ler obras de arte e contextualizar a produção artística na realidade sociocultural, tanto sincronicamente como diacronicamente. Considera como sendo seu objeto de conhecimento, a pesquisa e a compreensão das questões que envolvem o modo de interrelacionamento entre a arte e o público. Podemos considerar a Proposta Triangular como uma proposta de construção de conhecimento em arte que dialoga estreitamente com o Pensamento Complexo de Edgard Morin. Para ele, o problema da complexidade tornou-se uma exigência científica, social e política vital no nosso século: por termos percebido que o pensamento que divide e separa (e que se engana por não saber ordenar as informações e os saberes) não é mais suficiente, pois, conduz a ações mutilantes. Propõe um novo paradigma que busca a transdisciplinaridade. Para este autor, o ser vivo é um ser autoeco-organizador. Organiza-se por si mesmo e tem necessidade de extrair do meio exterior materiais, informações e organização em relações dialógicas. Esta organização tem como característica notável ser ao mesmo tempo informacional e computacional. Ana Mae, discorrendo sobre a prática de leitura de obras de arte, afirma que além dos conteúdos estéticos (formais e filosóficos), a leitura nos remete às discussões relacionadas à consciência de duas importantes dimensões dos indivíduos e seus contextos. No plano individual, à singularidade de cada sujeito biológica e psiquicamente constituído. No plano coletivo à diversidade cultural, às diversas possibilidades de ser e estar no mundo e na vida, na natureza como parte integrante da mesma. Segundo a autora, “O trabalho dos arte-educadores, no sentido de despertar a consciência para o meio ambiente, não é menos importante. Temos que nos aliar a outros especialistas – sociólogos, ecologistas, cientistas, geógrafos, bem como arquitetos, urbanistas, comunicadores, psicólogos sociais e antropólogos – na luta em busca do equilíbrio entre preservação e desenvolvimento, que conduz a uma melhor qualidade de vida e do meio ambiente natural. Os problemas do meio ambiente podem ser resolvidos apenas por meio de análise e decisões multidisciplinares. A educação ambiental somente terá sucesso se envolver um grupo multidisciplinar em processo interdisciplinar de ensino/aprendizagem.” (BARBOSA, 1998, p.116) Fábio Cascino, em Princípios interdisciplinares para a construção de uma educação ambiental, aponta mudanças paradigmáticas para a educação ambiental a partir, principalmente, da Rio-92. Segundo Fábio, “O homem do final da década de 60 reconhece-se como agente transformador/destruidor das coisas sociais e naturais, pois este mesmo homem procura ser consciente dos Limites naturais e sociais. Passados 15 anos, 1987 com o Nosso Futuro Comum, há algo de novo no ar. A realização da Conferência Internacional sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, a Rio/92, marca uma profunda mudança nos paradigmas que orientam a leitura sobre as realidades sociais e os problemas que envolvem a produção e consumo de bens e serviços, a exploração de recursos naturais, a reforma e/ou substituição de instituições de representação e participação política, a transformação dos espaços de formação e educação das futuras gerações.” (CASCINO, 1998, p.55) De acordo o autor, “Com a Conferência de 1992 o planeta passa a ser olhado mais e de

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maneira diferente... Já não cabe apenas desvendar os Limites do Crescimento. Agora se trata de pensar conjuntamente homens e mulheres e a natureza, porque fazem parte dos mesmos sistemas, existem pelas mesmas razões; há uma interdependência inquestionável.” (CASCINO, 1998, p.59) Na área de Arte-educação, foi sob a coordenação da professora doutora Ana Mae Barbosa, nos cursos promovidos pelo Festival de Inverno de Campos do Jordão de 1983, que foram realizadas com estudantes e professores as primeiras experiências “de apreciação da cultura e do ambiente natural”. No seu livro Tópicos Utópicos, afirma que a preocupação com a ecologia vinha sendo considerada característica da pedagogia pós-moderna e o Festival foi o primeiro “evento de orientação educacional pós-moderna no ensino da Arte” e, assim, marco histórico do ensino da arte no Brasil. Nele, foram investigadas as possibilidades de desenvolvimento, ao mesmo tempo, da “capacidade de construção estética e da capacidade de percepção do meio ambiente” (Barbosa, 1998, p.114) Entre 1987 e 1993, Ana Mae Barbosa, então diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC/USP, desenvolveu uma programação voltada para estudos ambientais chamada de Projeto Arte e Meio Ambiente, que incluía na educação estética a natureza, para desenvolver a consciência estética e ambiental, a partir de exposições, cursos para crianças e professores de arte, simpósios e debates. No ano de 2006, o Instituto de Pesquisa em Ecologia Humana – IPEH, em conjunto com o Conselho Comunitário de Saúde Doutor Franco da Rocha – CCSFR, duas das organizações da sociedade civil da região da bacia hidrográfica do rio Juquery (afluente do rio Tietê) e que constituem o movimento de mobilização da comunidade local para recuperação do rio, chamado Juca Vivo, e pró-desenvolvimento sustentável do vale do Juquery e Serra da Cantareira, a Norte/Noroeste da região metropolitana de São Paulo, realizou a quarta edição do Programa de Educação e Conservação Ambiental denominado Projeto Chão Verde Terra Firme, que buscava “Dar continuidade na implementação do Programa de Educação e Conservação Ambiental, aprofundando e consolidando o Programa nas escolas parceiras, a partir da intensificação das atividades de capacitação dos educadores e comunidade escolar na compreensão e manejo de conceitos e instrumentos de educação ambiental e uso racional da água”. O curso semipresencial de Percepção Ambiental, intitulado Arte-Educação Ambiental, foi realizado, de junho a novembro, por 130 professores de diversas disciplinas e áreas do conhecimento, oriundos das 79 escolas da rede pública estadual de ensino das cidades que compõem o Vale do Juquery e Serra da Cantareira (Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, Cajamar e Mairiporã), graças a uma parceria com a Diretoria de Ensino da Região de Caieiras. O curso trabalhou a “leitura crítica de imagens de bens naturais e patrimoniais (culturais)” no processo de ensino e aprendizagem da Educação Ambiental e apresentou a “Leitura Crítica”, a partir de um diálogo com a arte-educação, como mais uma perspectiva para o trabalho pedagógico do professor visando à compreensão e à apropriação de conceitos de Educação Ambiental e Patrimonial, entendendo-se que o conhecimento e a percepção da história da região podem motivar as pessoas a se mobilizarem pelo desenvolvimento local e para a construção de políticas públicas em estreita parceria com os poderes públicos locais. 50

Ao final desta experiência com os professores chegamos às seguintes reflexões: Não são diferentes das outras áreas de conhecimento e atuação os desafios para a Arte - Educação Ambiental no presente: clareza de objetivos, adequação dos métodos aos objetivos, consciência e atuação ética, busca de qualidade estética. Participar de atividades artísticas, estudar temas artísticos e culturais e conversar sobre arte são atividades que colaboram para o amadurecimento do ser humano via desenvolvimento da consciência sensível. A qualidade estética presente nos fazeres artísticos exige harmonia, inteireza e completude. O vivenciar a qualidade estética é uma experiência que transborda para todas as áreas do ser e do conhecimento. Neste sentido, a pessoa esteticamente “afinada” por suas referências pessoais e culturais torna-se mais atenta à percepção de si e do meio. Sabe como dar forma às sensações e ideias. Sabe descriminar, conceber e atuar. Estas são qualidades e valores necessários à consciência sobre o ambiente (natural e cultural) e as necessárias propostas de atuação qualificada. Viver e deixar viver (e conviver) é o mínimo que todos almejamos no presente. Arte-Educação Ambiental não é um modismo, é uma premência. Todos que estão no mundo com consciência têm se preocupado e se debruçado sobre seus temas. Referências bibliográficas BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1994. BARBOSA, Ana Mae. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: Com Arte, 1998. CASCINO, Fábio Alberti. Princípios interdisciplinares para a construção de uma educação ambiental. Tese (Mestrado). São Paulo: PUC-SP, 1998. DELEUZE, G. e GUATTARI, F. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. MORIN, E. O problema epistemológico da complexidade. 2. ed. Lisboa: Europa-América, 1996.

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Ética, Espiritualidade e Meio Ambiente

Sustentabilidade, Espiritualidade e Auto-realização João Luiz Pegoraro A partir da década de 1960 e mais intensamente da década de 1970, quando a problemática ambiental passou a gerar crescente discussão sobre os rumos das sociedades urbano-industriais em solidificação, diferentes encaminhamentos sobre o assunto começaram a ser defendidos e debatidos. De início, propostas polêmicas, surgidas em países ricos, apontavam para radicais medidas de controle do crescimento populacional e de redução do crescimento econômico, as quais atingiriam de forma 51

direta os países pobres. As reações e os debates que se seguiram convergiram para a necessidade de se construírem modelos de desenvolvimento menos impactantes que, por sua vez, propiciaram o surgimento de um largo espectro de formas dirigidas ao entendimento da materialização de tais anseios. Atualmente, há os que acham suficiente a criação de mecanismos capazes de detectarem e solucionarem possíveis focos de problemas ambientais, potenciais ou reais, tratando-os de forma relativamente pontual, a partir de suas especificidades, sem, contudo, tocar efetivamente nem nas bases do modelo de desenvolvimento nem no modo de vida urbanoindustrial consumista. Essa forma de tratar os problemas ambientais é bastante generalizada, como se pode observar no caso da destruição da camada de ozônio e da emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Basicamente, nesses dois casos, as ações giram em torno de identificar os produtos e gases que ocasionam problemas e de reduzir ou substituir, gradativamente, processos ou produtos cujos usos os liberam. A crença de que novas tecnologias sempre surgem e aprimoram os processos de produção, afasta a preocupação com a necessidade de mudanças radicais e reforça essa tendência de enfrentamento dos problemas ambientais. O investimento efetivo em tecnologia industrial suave também está no rol das medidas de outros que admitem mudanças mais proeminentes nos processos de produção e no comportamento da população humana. Além das tecnologias adequadas, propõem políticas públicas adequadas, especialmente associadas à legislação e ao planejamento ambiental, o estímulo ao consumo consciente e “verde”, bem como eficientes programas de Educação Ambiental. Entretanto, muitos ambientalistas consideram que esses encaminhamentos são, no máximo, reformistas e não seriam suficientes para atender às demandas crescentes por energia e matéria, tanto per capita quanto em relação à expansão natural do crescimento da população mundial. Desde a década de 1970, ambientalistas da linha dos ecologistas procuram propagar que os caminhos para equacionar as questões ambientais relacionam-se tanto a mudanças nas bases consumistas que movem a economia e o modo de vida das modernas sociedades urbano-industriais como aos valores que as movem e que nelas são realimentados. Não acreditam que, sob o modelo urbano-industrial de inspiração capitalista-consumista, que inclusive se globaliza, seja possível chegar a sociedades sustentáveis. Para eles, a busca por sociedades sustentáveis não poderia admitir um único modelo mundial, especialmente baseado em acirrados mecanismos de competitividade e em rígidos processos de exclusão. A busca de sociedades sustentáveis deveria contemplar caminhos pluralistas e a autodeterminação das comunidades e povos cujo processo de desenvolvimento necessariamente deveria apontar para a satisfação das necessidades de todos os seus componentes humanos, sem a exclusão que ora atinge largas faixas da população mundial. Para os ecologistas, diante da intensificação no quadro de concentração de renda e de aumento da pobreza mundial, a sociedade contemporânea resgata algo parecido com as antigas propostas dos anos 1970, que desejavam fixar o crescimento, populacional e econômico, dos

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países pobres. Agora, de forma generalizada, faixas das populações dos países pobres são mantidas à margem do consumo básico para “liberarem” recursos ambientais, matéria e energia, necessários à manutenção dos modelos esbanjadores dos países ricos ou países do Norte. Consideram que a sociedade contemporânea exibe níveis de incoerência próxima da insanidade, já que se discursa, o tempo todo e por todos os meios, em defesa da vida; enquanto massas enormes de humanos morrem vítimas das mais variadas causas plenamente superáveis a partir das tecnologias já desenvolvidas e disponíveis. Investe-se muito mais em tecnologia de guerra, na indústria e no mercado da morte do que na promoção plena da vida. Os conflitos armados são emblemáticos devido às extremas agressões socioambientais que provocam. A sofisticação crescente dos equipamentos militares já não permite que sejam produzidos em “fabriquetas” clandestinas e ocultas. Exigem um parque industrial e movimentam um mercado internacional de grande monta. Há muitas pessoas de “bem” que com os ganhos nas indústrias da morte e da mutilação pagam regularmente o dízimo à igreja e cuidam com dedicação de seus filhos. Qual a ética ou o princípio que está por trás, por exemplo, da fabricação e do mercado de minas terrestres, armas que permanecem mutilando e matando estupidamente gente que nasce após o fim do conflito que motivou seu uso? Por sua vez, parece um descalabro, diante de tanta maquinaria e avanços decorrentes das novas tecnologias, um ser humano passar a melhor fase de sua vida, até aposentar-se, trabalhando em atividades enfadonhas, alienantes e desagradáveis, seja em fábricas, nos escritórios ou no campo. Um operador de máquina de qualquer indústria, por exemplo, permaneceria “preso”, ao longo de mais de 30 anos de sua vida, nos melhores horários do dia, ao espaço de utilização da máquina que opera um estrado não maior do que quatro metros quadrados. E esse regime de trabalho não era diferente nos países que se abrigavam sob o título de socialistas, desagradando os ecologistas, que embora execrassem (e ainda execram) os princípios competitivos estimulados nas sociedades capitalistas, questionavam também aquele formato político-social. Se na complexidade do mundo contemporâneo os jogos de interesses não permitem que realidades como essas sejam tocadas, é pouco provável que em médio prazo se possa caminhar em direção a um mundo idealizado a partir dos pressupostos de sustentabilidade. Mais ainda: indicam que há profundas contradições na estrutura da sociedade do século 21, evidenciando que a crise, antes de ser apenas modelo de desenvolvimento, é também modelo de civilização. Com efeito, perscrutar os caminhos para se chegar a novos modos de vida que se contraponham ao modelo do cidadão construído sob valores da sociedade urbano-industrial de orientação consumista passou a ser o objetivo de muitos ambientalistas, inclusive agregados por núcleos de afinidades. A partir dos anos 1970, muitos desses críticos do modo de vida defendido como hegemônico passaram a se agregar em núcleos de convivência coletiva, geralmente rurais, que ficaram conhecidos, entre outros, como “comunidades alternativas”. De forma geral, pretendiam organizar-se em estruturas tribais centradas na convivência solidária, cuja dinâmica de funcionamento permitisse contato mais direto com uma diversidade de elementos do meio natural, que comportassem de forma mais plena as práticas espiritualistas voltadas ao autoconhecimento e que propiciassem maior tempo para tarefas agradáveis. 53

A constituição dessas comunidades alternativas soava como uma ruptura com os padrões tradicionais de uma sociedade organizada em famílias, cujos membros eram tragados por uma faina cotidiana associada tanto a uma competição exacerbada como a um consumismo alucinado. Mas acabavam alvo de críticas de ativistas político-partidários e movimentos sociais que os acusavam de alienados da realidade histórica local, já que, do final dos anos 1960 até meados da década de 1980, a prioridade era a luta para resgatar os direitos civis e políticos, centrando forças nas expectativas de superar o autoritarismo implantado pelo golpe militar de 1964. Entretanto, para integrantes dessas comunidades alternativas, os núcleos de convivência solidária representavam experiências concretas de uma nova ordem de relações e que, de alguma forma, poderiam encontrar níveis de expansão, constituindo-se, portanto, em uma ação de ordem revolucionária. Na verdade, muitos ambientalistas e ecologistas tinham atuações diversificadas, integrando frentes de movimentos de diferentes dimensões ou abrangência, fossem eles de alcance político-social, cultural ou espiritualista. Especialmente nos anos 1980, era possível ver, por exemplo, em diferentes países da América Latina, ações de grupos de ambientalistas e ecologistas pautadas na não-violência ativa. Essa linha de atuação, utilizada com eficiência por Mahatma Gandhi, na Índia, e que foi uma marca de movimentos contraculturais e de grande parte dos grupos de ecologistas, emprega o princípio do pacifismo ativo e da desobediência civil, onde o ativista desafia, expõe-se, mas não revida. Ele não sai, não desocupa: é retirado; não vai preso: é levado preso. Desiludidos com as origens antropocêntricas da tradição judaico-cristã, muitos ecologistas passaram a buscar inspiração em filosofias e práticas espiritualistas orientais e esotéricas, bem como em práticas oriundas de povos indígenas e populações tradicionais da própria América e do Brasil. Acreditavam que práticas mais centradas no autoconhecimento pudessem levar a níveis crescentes de mudanças interiores e que seriam capazes de contribuir de forma mais plena para a organização de coletivos cujos valores incluíam a solidariedade entre os humanos e o respeito aos demais elementos não humanos do ambiente natural. No atual momento do estado da arte da temática socioambiental, quando se unem conhecimentos decorrentes das experiências vivenciadas pelos ativistas e das reflexões de pensadores, já é consenso que se trata de uma questão de extrema complexidade, cujas múltiplas faces se emendam a tantas outras questões contemporâneas associadas à pessoa humana e ao mundo coletivo em que se convive, fato que reforça a necessidade de encará-la sob os mais ousados formatos, inclusive os que incluem a dimensão espiritualista. Essa leitura já se fazia presente em algumas tendências do ambientalismo dos anos 1970, como se vê registrado nos vários números do boletim Pensamento Ecológico, editado de forma alternativa por Luiz Carlos de Barros. É temática que vem sendo enfocada por autores como Guattari (1990), Moraes (1993), Boff (1993), Unger (2000), entre outros. É inegável que fica cada vez mais patente a insustentabilidade dos modos de vida apontados e amplamente divulgados como modelos a serem perseguidos na moderna sociedade urbano-industrial. A autorrealização baseada no consumismo, por exemplo, além de ambientalmente suicida, não dá conta de gerar níveis mais plenos de satisfação ao indivíduo. Qualquer sustentabilidade socioambiental, no mínimo, depende da superação desse princípio, fato que passa pela revisão do significado da autorrealização no mundo contemporâneo. 54

Referências Bibliográficas: BOFF, Leonardo. Ecologia, Mundialização, Espiritualidade: a emergência de um novo paradigma. São Paulo: Ática, 1993. BOLETIM INFORMATIVO PENSAMENTO ECOLÓGICO. São Paulo, s.e. 1979-1986 [Editor: Luiz Carlos de Barros] GUATTARI, Felix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990. MORAIS, João F. Regis de. Ecologia mental. Campinas: Editorial Psy, 1993. UNGER, Nancy Mangabeira. O Encantamento do Humano: ecologia e espiritualidade. São Paulo: Loyola, 2000.

Por uma espiritualidade pós-metafísica 1 Leopoldo Gabriel Thiesen Tudo que o poder do mundo faz é feito em círculo. O céu é redondo e ouvi dizer que a terra é redonda como uma bola, assim como todas as estrelas. O vento, quando se mostra no máximo de sua força, gira. Os pássaros fazem seus ninhos em círculos, pois a religião deles é a mesma que a nossa. O sol nasce e se põe também em círculo. A lua faz o mesmo e ambos são redondos. Até as estações formam um grande círculo em sua passagem e sempre voltam para onde estavam. A vida de um homem é um círculo da infância até a infância. E assim é em tudo onde se movimenta o poder. Alce Preto, Oglala Sioux (1863-1950)

Esta maravilhosa epígrafe me caiu em mãos, ao acaso, quando já concluíra uma primeira versão do texto e já alcançara seu limite máximo. Uma ocasião para revê-lo e eliminar alguns excessos que nos afastam dessa sabedoria tão simples e natural que temos a impressão que podemos tocá-la com as mãos como se tocássemos a água gelada que desce das montanhas. Esta sabedoria que destruímos e hoje nos faz tanta falta. Mas estaríamos dispostos a pagar o preço de renunciar ao nosso modo de vida para reencontrá-la? Se é que pode ser reencontrada? Bem, certamente não em estado puro, mas ela compõe o universo das experiências humanas e pode sempre ser revivida desde que tenhamos coragem de nos abrir a ela. Seria esta a tarefa de uma espiritualidade natural e pós-metafísica? Não deixar se isolar e abrir-se à transitoriedade da vida em sua infinita reincidência circular? Uma infinidade de questões prolifera no cruzamento das problemáticas éticas, ambientais e espirituais. Tanto que nos restringiremos, aqui, devido ao alcance limitado de nossa análise, em sondar algumas tendências que distendem este cruzamento. As proposituras práticas (éticas e morais) geralmente se alinham em: perspectivas de controle, fundadas em instâncias metafísicas transcendentais como fontes únicas de sentido, 55

valor e poder; e perspectivas de criação na imanência em composições complexas e múltiplas de forças que se arranjam de forma mais ou menos aleatória e auto-organizativa. Nas análises que afirmam perspectivas de controle, predomina a tendência que, levada a extremos, incidiu na distinção radical entre o campo espiritual e a realidade imanente e natural. Seria necessária, aqui, uma ampla e cuidadosa digressão genealógica que desse conta de ir às raízes da espiritualidade. Encontraríamos tais origens, provavelmente, associadas a um fato que é geralmente referido como um dos primeiros traços de civilização humana, qual seja, o de enterrar os mortos e prestar-lhes culto. Trata-se, de um cerimonial que traça os primeiros esboços de transcendência. Talvez sua função seja, sobretudo, de amenizar a dor de uma ferida que está, menos na perda dos entes queridos, do que no assombro diante da própria finitude. Tal assombro cresce e a ferida se aprofunda à medida que cresce a consciência da individualidade. Com essa consciência, o indivíduo torna-se o eixo em torno do qual o sentido se articula e é ele (ou sua alma individual e imortal) que precisa ser salvo do fim inexorável que se reitera em cada morte que ocorre na aldeia. Nasce, assim, como fruto da imaginação impulsionada pelo medo da finitude, uma aldeia da memória, onde são cultuados os antepassados e seus feitos, sempre acrescidos de potência fantástica. Aldeia, esta, que deve acolher, primeiro, apenas os heróis e, posteriormente, todo e qualquer membro da comunidade, sempre em escalas hierárquicas de merecimento, conforme os costumes e valores da aldeia. A moral local projeta, assim, um podium fantástico e fecha o círculo que irá estabelecer, no além, o sentido da vida individual e coletiva. Os desdobramentos desse enredo elementar, e as resistências a ele, constituem o próprio destino da humanidade até hoje. A modernidade vem acrescentar, ainda, o acento na autossuficiência moral do indivíduo, perdendo em grande parte a força do sentido da vida comum, que propiciava uma perspectiva de transcendência comunitária. Afirma-se, desse modo, a perspectiva de um indivíduo isolado e amedrontado que se refugia na imaginação para construir uma transcendência que o salve da finitude. Em contrapartida, as vontades de controle, configuradas em morais totalitárias e fundamentalistas, servem-se de tais projeções, manipulando o medo e a esperança que nelas se projetam e alienando o poder de criação autônoma e afirmativa de sentido transcendental. Desenvolvemos, aqui, sem dúvida, uma digressão extremamente simplória das tendências que, até hoje, seguem projetando trás-mundos e pós-vidas que fundamentam o sentido da realidade em que vivemos. Trata-se de um esforço imaginário para explicar, justificar, julgar e dar sentido ao mundo imanente, em que se desdobra a existência na contingência e na precariedade da finitude humana. Tal tendência alimenta uma profunda suspeita em relação à vida e à natureza, acusando-as de inconsistência, apoiada em fundamentos metafísicos, pretensamente, estáveis e absolutos. Para salvar o indivíduo e sua mesquinha alma amedrontada, renega-se a vida, notoriamente negligente com ele. Afinal, que importa, da perspectiva da vida e da natureza, o indivíduo? A vida aposta, e basta observar um pouco a natureza para constatá-lo, na exuberância e na proliferação de sentidos e tentativas individuais aleatórias, sempre perseguindo o acaso extraordinário. Impulsionados pela vontade de controle que manipula a imaginação a partir do medo e da esperança e viciados em transcendências mágicas e fantásticas, não é de se estranhar nossa dificuldade em desenvolver perspectivas de transcendência na imanência, ou seja, conformes à natureza e à vida. Perspectivas de transcendência natural afirmam e se apoiam, 56

necessariamente, na vida e seus dinamismos. Com efeito, a natureza se dinamiza em ciclos reincidentes que jamais se repetem automaticamente, mas que se recriam e reinventam em cada turno, inserindo, assim, diferenciações intensivas em pleno âmago da repetição cíclica. Como seria possível superar o antagonismo entre o mundo do espírito e da natureza? Tal antagonismo resulta numa transcendência separada da natureza e que culmina num deus criador, igualmente desvinculado e que exerce a criação e o controle de fora e, assim, se afirma instaurando ordem sobre uma natureza rebelde e resistente. Trata-se de um deus civilizador e instaurador da ordem num universo caótico comandado por impulsos contraditórios. Para superar tal contradição, torna-se imprescindível criar ou recriar uma espiritualidade a partir da imanência, da perspectiva da vida imersa na natureza. Espiritualidades que se afinem com as potências naturais, numa afirmação plena e unilateral da vida e sua potência criadora livre, diferencial e diferenciante. Mas por que falaríamos, então, ainda em espiritualidade? Não se trataria, então, simplesmente, da vida em seus arranjos e desdobramentos naturais? Uma espiritualidade pós-metafísica faz sentido, ainda, como educação da sensibilidade e do desejo que emergem no corpo e no âmbito sociocultural. Uma espiritualidade capaz de nos religar à terra e seu destino. Tal atitude envolve superar a ilusão do controle instaurada, primeiro pela manipulação mágica, posteriormente pela religião e por fim, também, pela tecnociência. A magia e as religiões nos incutiram a ilusão de que nossa vontade, aliada às forças certas, poderia manipular a natureza. A ciência foi apenas mais objetiva neste intento. A ponto de fazer crer que não haveria limites à manipulação humana ou que os limites eram uma mera questão de tempo. Assim, não apenas as instâncias espirituais e religiosas, senão também as políticas e científicas, tornam-se depositárias de uma confiança mágica. Todas estas instâncias da criação humana têm dificuldade em reconhecer os limites e a precariedade de seus feitos, justamente porque são mobilizadas por ilusões de onipotência. Assim, a perspectiva metafísica se projeta numa vontade de controle, da qual a projeção de instâncias espirituais transcendentes, independentes, criadoras e controladoras da realidade imanente é apenas um desdobramento necessário. É a mesma vontade de controle (humana, demasiado humana!) que estabelece a tendência e opera suas consequências. A crise ambiental se instala a partir da constatação, sóbria e lúcida, dos limites e das consequências incontornáveis da ação humana. E, como vimos, nosso modo de nos relacionarmos com o meio tem raízes profundas. Ele é consequência, sobretudo, de uma postura diante da vida que resulta como reação ao medo da finitude e ao isolamento do indivíduo num meio cultural e físico artificial e hostil. Como reconquistar a confiança capaz de fazer-nos sentir acolhidos no colo da mãe natureza? Talvez este colo esteja para sempre perdido ou tenha existido apenas no nosso desejo e imaginação. Vemos-nos lançados ao desabrigo de uma existência em que devemos criar nosso próprio sentido, visto que a natureza, em sua multiplicidade de potências caóticas e antagônicas, já não o fornece. No que consistiria, portanto, uma espiritualidade capaz de nos harmonizar com as potências naturais e projetar sentidos que congregassem as forças vitais na criação de uma bela existência natural. Como o sentido não existe, ele deve ser criado. E como não existem potências boas e más em si, cada composição será tão mais bela e vigorosa quanto mais forças conseguir arranjar e harmonizar nesta composição. Uma espiritualidade natural terá 57

que partir do despertar da sensibilidade para se abrir às circunstâncias e se harmonizar com as potências e tendências que ali se articulam. Buscará, assim, inserir-se e criar alianças e desenvolver resistências, num jogo que não destrua o conjunto, mas que seja capaz de criar uma harmonia superior. Talvez uma imagem dinâmica possa ajudar-nos a situar melhor esta perspectiva. A semente de uma árvore, por exemplo, se insere num contexto complexo onde poderá desenvolver uma infinidade de sentidos diversos na sua relação com o meio. Poderá servir de alimento aos passarinhos, a um rato, a um coelho, a uma formiga ou mesmo a um ser humano. Poderá cair no solo e ser pisada e apodrecer, alimentando o capim. Poderá, ainda, cair na terra, germinar e se desenvolver numa árvore. Todos estes diversos acontecimentos, envolvendo uma semente e suas potencialidades virtuais, consistem numa abertura ao meio. A árvore está apenas virtualmente na semente. Seu desenvolvimento dependerá da interação com o meio, onde diversas potências concorrerão, ou não, para que se efetive como realidade. Então, se distenderá no tempo como duração do acontecimento arborescer entre forças ascendentes e de expansão, fazendo sua seiva fluir nos dinamismos naturais da evaporação dos líquidos. Absorverá a energia do Sol e a transformará em energia própria, capturada nas estruturas de carbono que constituirão seu corpo. Aproveitará, ainda, a força da gravidade para aprofundar suas raízes e desenvolver estruturas de fixação que lhe possibilitarão resistir às tempestades. São múltiplos e contraditórios as potências e os elementos que condicionam e viabilizam o acontecimento: arborescer. Os virtuais desdobramentos do acontecimento humano são muito mais complexos e livres. Por que, então, esta tendência a estabelecer sentidos hegemônicos, fundamentais, essenciais, necessários e absolutos? Mais do que desvendar o sentido oculto no texto natural, seja, talvez, tarefa de uma nova espiritualidade proliferar sentidos múltiplos em interação criativa com os dinamismos naturais. Isso requer a arte de interpretar a natureza participando da sua intimidade. O que não é tão estranho se redescobrirmos que somos também natureza e podemos conhecê-la por experiência própria. E a partir de dentro sentimos, mais do que sabemos, que a natureza é movida por potências múltiplas e antagônicas e que não há um sentido único, pois não há uma potência capaz de subjugar as demais e impor-lhes uma ordem hegemônica. 1. Leopoldo Gabriel Thiesen – Filósofo, educador e artesão. Autor da tese: Por uma ética da transitoriedade na imanência: criação éticoestética para além da moral – DF/IFCH/UNICAMP. Participa do Grupo de Pesquisa Opará (Unimontes/UFU/Fapemig/Nepam-Unicamp) com o projeto: O pensamento artesanal dos sábios do Sertão: uma etnografia filosófica da relação homem-natureza no Sertão de Guimarães Rosa.

RECONECTAR, pois SOMOS TODOS UM! Maria Salette Mayer de Aquino Quisera ser poetisa ou sábia para reproduzir tantos pensamentos e palavras bonitas que já ouvi e li em minha vida e assim encantar também meu leitor ou ouvinte. Do início dos meus cinquenta anos, já reconheci que a palavra não me é fácil, por outro 58

lado sei hoje que meu coração é só amor e só vontade de não perder mais tempo, pois tempo já não há. Já não há mais tempo, a não ser que todos enxerguem o que os olhos há tempos já viram. Os olhos já viram pela TV ou ao vivo que 1/3 da população mundial se constitui de pobres e miseráveis. Não estamos falando apenas que não tenham oportunidade de frequentar uma escola, de ter um trabalho, de ter algum lazer. Estamos falando de três bilhões de pessoas no mundo que não têm direito a um cômodo decente para chamar de lar, não têm direito ao cuidado com a saúde. Estamos falando de uma massa humana que não tem direito de COMER! Os olhos viram e veem todos os dias as guerras na TV. Já fazem parte do cenário de nossa sala de estar, já não nos horrorizam. Não vamos às ruas para dizer que não queremos armas, não queremos bombas, não queremos genocídios. Os olhos veem todos os dias os rios, nos quais nadávamos até há pouco, desrespeitados, PODRES, e os olhos acompanham o difícil acesso de já bilhões de pessoas à água, não para lavar seus carros, mas para matar sua SEDE! Os olhos viram o primeiro susto ecológico, o Tsunami de 2005, seguido de dezenas de episódios semelhantes – maremotos, terremotos, em várias partes do planeta. Muitos simultâneos. Os olhos veem – isso pouco, porque ficam escondidas – as montanhas de lixo recolhido nas cidades. Em São Paulo são 15 mil toneladas por dia, além das, aproximadamente 22 mil toneladas de entulho de construção civil, o que equivale ao peso de nove mil elefantes adultos ou 37 mil elefantes jovens sendo jogados fora todos os dias na cidade de São Paulo. Sim, os olhos veem, mas parece que a conexão entre os olhos e o coração foi interrompida. A tesoura que cortou essa ligação tem muitos nomes: egoísmo, ganância, rotina, descaso, desesperança. Egoísmo porque o ser humano tende a achar que o mundo gira em torno de si e só tem olhos para seus próprios problemas. Ganância porque o ser humano quer sempre ter mais do que o outro tem e o capitalismo soube explorar essa característica, imputando a todos o desejo desenfreado de ter, de possuir, de consumir. Rotina porque as histórias de desgraças se repetem todo o tempo e já não nos sensibilizam. Descaso porque, mesmo que enxerguemos o que acontece, não nos importamos: “não posso fazer nada”. Desesperança porque mudar tudo o que precisa ser mudado hoje é uma tarefa grande demais, assustadora. Mas é preciso nos reconectarmos porque somos – tudo e todos – criação divina, o que é explicado cientificamente. No Século XIII Leonardo Fibonacci descobriu o que se tornaria hoje a mais famosa progressão matemática, a Sequência de Fibonacci, cuja soma dos termos adjacentes equivale ao termo seguinte: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55... e assim por diante. Nesta progressão, o quociente dos termos adjacentes se aproxima gradativamente do número 1,618, denominado de PHI (fi). Da galáxia aos seres humanos, aos animais, às plantas e até a obras de arte das mais famosas do mundo, todos possuem propriedades dimensionais que se enquadram nesta proporção, à razão de PHI para um. O cálculo nos seres humanos é feito a partir da distância que vai da cabeça até o chão. 59

Depois, dividindo o resultado pela distância do umbigo até o chão, temos o PHI. Do ombro até a ponta dos dedos, dividido pela distância do cotovelo até a ponta dos dedos. PHI. Dos quadris até o chão, depois do joelho até o chão. PHI de novo. Dos nós dos dedos, da coluna vertebral, todo nosso corpo obedece a essa proporção. Sabedores de que há um propósito na Criação e de que já perdemos as rédeas da harmonia planetária, propomos um retroceder, um resgate em várias instâncias, começando por nós mesmos. Devido ao meu envolvimento com várias tradições religiosas, participando da URI – Iniciativa das Religiões Unidas – desde praticamente o seu início no mundo no ano 2000, conheci a meditação. A meditação nada mais é do que fazer um silêncio interno, que permite que nos escutemos, e, ao fazê-lo, sentimos o sagrado dentro de nós. Emerge daí uma força criadora e apaziguadora, ao mesmo tempo uma inteligência superior que nos capacita a viver no mundo. Essa prática deve se tornar um hábito diário, ao acordarmos e ao nos prepararmos para dormir, mas também a cada hora que estivermos ansiosos, nervosos, tristes, indecisos. Nenhuma outra prática é mais eficaz do que sentar uns minutos, respirar e nos interiorizarmos. É simples! De nós para nossa necessidade física mais básica, além da respiração: nossa alimentação. Nosso corpo já não suporta mais o impacto dos alimentos gordurosos, as carnes vermelhas, os fast-foods. Há comprometimento em nossa disposição, nosso humor, e no número de vezes que adoecemos. As mortes devido a entupimento de veias derivado de má alimentação estão cada vez mais crescentes. Então vamos nos voltar à alimentação mais simples, abusar dos alimentos crus, orgânicos, isto é, produzidos com adubo biológico e não com venenos químicos, vamos ingerir muitas sementes. Uma médica do Rio de Janeiro, doutora Ana Branco, compara chips de computadores a sementes: “Chips de computadores são moléculas de água que contêm silício. Sementes também. Dentro delas há informações sobre a vida na Terra. O contato com o ‘chip vivo’ recupera o processo criativo do humano, nos reconectando com os outros, com os animais e com o planeta”. Saindo de nós e vendo nosso ambiente de moradia, temos em primeiro lugar que olhar nossas práticas de relacionamento com quem dividimos nossa casa. A importância dos espaços harmoniosos de convivência, de respeito. Facilitar a vida do outro. Buscar a simplicidade em tudo. [Como éramos felizes quando ganhávamos apenas dois presentes ao ano, um no aniversário e outro no Natal! Tinham um sabor especial!] Do meu ambiente de casa começo a fazer a minha conexão maior com o bairro e a cidade onde moro. Posso economizar água, energia, reduzir consumo de tudo. Preciso cuidar do lixo que gero. Comprar menos e com menos embalagem. Sabemos que 40% do que vai parar nos aterros são vidro, papel, metal e plástico. Porque esse material não está sendo reciclado na maioria das cidades brasileiras (e em muitos países do mundo)?. 50% é lixo orgânico, que deveria estar sendo compostado nos lares de quem mora em casa ou em grandes centros produtores de adubo para hortas comunitárias, por exemplo. Sim, minha parte nessa história é fundamental! Quando se recicla, economiza-se energia, matéria-prima e dá-se emprego e renda. Temos tomado parte de uma prática fantástica que são as Feiras de Trocas. O comércio se iniciou no mundo pela sistemática de trocas. Para facilitar transações foi criado posteriormente o dinheiro, que nos fez esquecer dessa ferramenta tão simples que é tentarmos trocar algo de

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que não mais necessitamos pelo que nosso vizinho tem, não quer mais, e que está me fazendo falta. Há alguns anos essa prática está sendo colocada em uso novamente. E poucos sabem que podemos criar. E poucos sabem que podemos criar para grupos de pessoas e até para um bairro inteiro uma moeda social, decidida coletivamente. Essa moeda facilita também a troca de serviços. E porque não posso contratar aulas de piano para meu filho e em troca passar roupa para essa sua professora, sem que precise sair ou entrar dinheiro? Já há no Brasil algumas experiências de moedas sociais. A mais conhecida é a do banco Palmas, em Fortaleza, Ceará. Na linha do que está ao meu alcance fazer para contribuir com a mudança no mundo, está a possibilidade de me envolver com outra ferramenta para propiciar trabalho e renda para pessoas menos favorecidas economicamente: o microcrédito produtivo e orientado.Criado pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, a sistemática vai além do empréstimo a grupos de desempregados. Ela se inicia fazendo com que as pessoas tomem consciência de que são capazes de produzir algo que lhes venha trazer seu sustento, e em grupos, criam pequenas comunidades de interação, de troca, de respeito mútuo. Também pactuam valores e mudanças de vida rumo à melhoria das condições de sua existência. Como ajudar? Conhecendo melhor a sistemática e resolvendo ser agente desse processo. Em vários países do mundo há experiências de microcrédito e no Brasil algumas cidades já têm estruturas de bancos populares. Na ONG da qual participo, Sonha Barão, temos trabalhado com empréstimos feitos a grupos que mal têm os documentos pessoais mais necessários. Criamos um fundo entre amigos que serve ao nosso propósito. É bonito ver o resgate da autoestima das pessoas, se redescobrindo, descobrindo seus talentos, olhando para o mundo de igual para igual. Para finalizar esse pequeno rol de atividades, aqui arroladas, nas quais posso me envolver para buscar contribuir com as transformações necessárias, pessoais, comunitárias e globais, está a participação na educação como um todo e na educação ambiental conectada com a prática. Participamos de um coletivo educador ambiental em Campinas, que tem formado de maneira participativa os primeiros 130 agentes permanentes de meio-ambiente, que serão multiplicadores em suas regiões do fazer e refletir no ambiente. Temos que difundir essa idéia, arregimentar mais e mais elos para essa rede. Também temos divulgado muito a campanha do plantio de 1 bilhão - agora de 7 bilhões - de árvores no planeta, campanha iniciada pela Professora do Quênia, Wangari Maathai, com, apoio da ONU. Sabemos que é necessário alertar que ao colocar a planta no chão, comprometemo-nos com ela. É como receber uma criança nas mãos na hora do parto. Se ela não for cuidada por muito tempo, ela morre. Concluindo, peço emprestado o pensamento de nossa querida ex-Ministra, a Senadora Marina Silva, para a mensagem final: “Hoje, para quem quiser se engajar, não é mais possível ser só ambientalista, ou só militante de causas sociais, políticas, culturais. É preciso se angajar 61

MESA 3 - Território, Sociedade e Políticas Ambientais Território, Sociedade e Política Ambiental - do risco a sustentabilidade Pedro Roberto Jacobi* Observa-se um lento processo de resolução dos graves problemas ambientais nas metrópoles. O modelo de apropriação do espaço reflete as desigualdades sócio-econômicas imperantes, sendo o período marcado pela ineficácia ou mesmo ausência total de políticas públicas para o enfrentamento destes problemas, predominando a inércia da Administração Pública na detecção, coerção, correção e proposição de medidas visando ordenar os territórios e garantir a melhoria da qualidade de vida. O fato é que as mudanças na transformação de um cenário urbano crescentemente não só ameaçado, mas diretamente afetado por riscos e agravos sócio-ambientais é cada vez mais complexa, dentro de um marco conceitual que se apóia na noção de “ sociedade de risco” (Beck, 1992). O conceito de território representa uma forma de configurar elementos de ordem social, econômica e ambiental. Isto permite definir especificidades locais e articular as relações entre sociedade e natureza, a partir de uma complexa rede de relações que envolve diferentes grupos sociais, cada qual com seus interesses particulares e estratégias específicas. As abordagens sobre o tema, de acordo com o enfoque dos autores (Santos, 2002, Santos, 2003), enfatiza alguns aspectos dentro do território, o aspecto econômico, político e cultural ou o entrelaçamento destes fatores, para explicar o conceito e a dinâmica de um espaço em permanente transformação ao longo de um processo histórico. Os territórios, desde uma perspectiva de política ambiental podem ser analisados como espaços caracterizados pela complexidade e assimetrias nas condições de vida dos indivíduos, pelos conflitos que emergem e pela busca de resolução através da implementação de políticas públicas sócio-ambientais. Historicamente, os processos de ocupação de muitas metrópoles brasileiras evitaram até meados do século XX, os terrenos mais problemáticos à ocupação (altas declividades, solos frágeis e suscetíveis à erosão), que se encontravam mais distantes das áreas centrais, onde a pressão pela ocupação era menos intensa, mas ocupavam áreas de várzea e os leitos dos rios que eram susceptíveis de inundações. Entretanto, a partir dos anos 50, com a exacerbação dos processos de “periferização” e mais intensamente nos últimos 30 anos ocorrem dois movimentos simultâneos: a intensificação das intervenções na rede de drenagem, com obras de retificação e canalização dos rios, o aterramento das várzeas e sua incorporação à malha urbana; e a explosão na abertura de loteamentos de periferia. Os impactos negativos do conjunto de problemas ambientais resultam não só da precariedade dos serviços e da pouca presença do investimento público na prevenção das condições de vida da população, mas também é reflexo do descuido e da omissão dos próprios moradores, inclusive nos bairros mais carentes de infra-estrutura, colocando em xeque aspectos de interesse coletivo. Isto também traz à tona, a contraposição do significado dos problemas ambientais urbanos e as práticas de resistência dos que “têm” e dos que “não têm”, 62

representados sempre pela defesa de interesses particularizados que interferem significativamente na qualidade de vida da cidade como um todo. O crescente agravamento dos problemas ambientais na metrópole e o modelo de apropriação do espaço refletem as desigualdades sócio-econômicas imperantes, sendo o período marcado pela ineficácia ou mesmo ausência total de políticas públicas para o enfrentamento destes problemas, predominando a inércia da Administração Pública na detecção, coerção, correção e proposição de medidas visando ordenar o território do Município e garantir a melhoria da qualidade de vida. A dinâmica da urbanização pela expansão de áreas suburbanas produziu um ambiente urbano segregado e altamente degradado, com efeitos muito graves sobre a qualidade de vida de sua população. Espaços imprestáveis e inadequados para moradias saudáveis foram usados: 1) morros, 2) pântanos e 3) área de proteção aos mananciais de água doce. Além disso, esta ocupação freqüentemente consistiu em habitações pobres em áreas com escassos serviços urbanos. As cidades, assim como suas áreas metropolitanas, caracterizam-se por enormes desigualdades na distribuição de renda. Como exemplo que nos toca diretamente, a cidade de São Paulo tem padrões urbanos similares aos de outras cidades latino-americanas, caracterizadas por grandes disparidades de saúde e status sócio-econômico. A periferia da cidade não é provida de serviços urbanos básicos e tem sido ocupada pelos grupos de menor renda, obrigando-os a conviver com uma multiplicidade de problemas de caráter social e ambiental. No Brasil, e inclusive em São Paulo, em razão da insuficiência da rede de esgotos, há um montante significativo de lançamento de esgotos a céu aberto, conexões clandestinas no sistema de águas pluviais e lançamento direto nos rios. As cidades estão constantemente afetadas por um número crescente de enchentes em pontos críticos das cidades-áreas de risco entre áreas de enchentes e escorregamentos. Condições precárias de habitações em favelas e loteamentos periféricos aumentam o déficit de infra-estrutura urbana, e sua localização em áreas críticas de risco e barrancos multiplicam as condições predatórias à urbanização existente e seu impacto de degradação ambiental. Cotidianamente a população, e principalmente a de mais baixa renda, está sujeita a uma série de riscos associados com a precariedade da sua condição de vida, notadamente os riscos das enchentes, escorregamentos de encostas, contaminação do solo e das águas pela disposição clandestina de resíduos tóxicos industriais. Não há como negar a estreita relação entre riscos urbanos e a questão do uso e ocupação do solo, que entre as questões determinantes das condições ambientais da cidade, é aquela onde se delineiam os problemas ambientais de maior dificuldade de enfrentamento e, contraditoriamente, onde mais se identificam competências de âmbito municipal. As grandes metrópoles brasileiras vivem um quadro ambiental que decorre de um conjunto de fatores dentre os quais se destacam as práticas gerenciais inadequadas das autoridades locais, assim como também da falta de atenção, da omissão, da demora em colocar em prática ações que reduziriam os problemas crescentes e prejudiciais, que estão vinculados às seguintes questões:

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A redução de áreas verdes, o que implica na excessiva impermeabilização do solo e na multiplicação de áreas críticas de ocorrência de enchentes, com impactos ambientais, sociais e econômicos sobre toda a estrutura da cidade, perdurando praticamente por todo o ano. A falta de medidas práticas mais definidas, de curto prazo e de políticas para controlar a poluição do ar. 3) Um enorme atraso na rede de transporte público, notadamente do metrô e de outras alternativas mais adequadas para o transporte público, de forma a possibilitar uma redução no uso dos automóveis. 4) Lentidão na expansão das redes de esgotos. 5) A contaminação da maioria dos mananciais de água e dos rios dentro das cidades, e o risco que isto significa para a população, principalmente nas áreas de enchentes. 6) A exaustão das alternativas convencionais para o despejo de lixo e os problemas resultantes da contaminação das águas subterrâneas e de superfície pelo chorume. O Complexo Desafio da Sustentabilidade Urbana A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto urbano marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, não pode omitir a análise do determinante do processo, nem os atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações alternativas de um novo desenvolvimento, em uma perspectiva de sustentabilidade. A noção de sustentabilidade implica em uma inter-relação necessária entre justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento como tendo uma capacidade de suporte (Jacobi, 1999). A preocupação com o tema do desenvolvimento sustentável introduz não apenas a questão controversa sobre a capacidade de suporte, mas também o alcance e limites das ações para reduzir o impacto dos danos na vida urbana cotidiana e as respostas baseadas na interrupção do modus operandi e da omissão e participação nas práticas auto-destruidoras. Observa-se a necessidade de se incrementar os meios e a acessibilidade à informação, bem como o papel indutivo do poder público nos conteúdos educacionais e informativos de sua oferta, emergem as questões sobre as restrições aos processos que dão novas opções para alterar o quadro atual de degradação sócio-ambiental. Um tema que tem um grande potencial de promover práticas de sutentabilidade numa perspectiva de co-responsabilização é o do lixo. Um maior compromisso da gestão pública com uma política que amplie a coleta seletiva nas cidades pode potencializar o envolvimento da população com a gestão integrada dos resíduos sólidos, sendo que a separação do lixo na fonte geradora como indicador para a população do desperdício e da possibilidade de reaproveitamento dos materiais descartados como matéria prima. Isto pode possibilitar o desenvolvimento sócio-ambiental através do apoio do poder público à criação de cooperativas de catadores e de programas de coleta seletiva que priorizem a presença de organizações comunitárias e organizações da sociedade civil que agregam os setores mais excluídos e com maior dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho. Cabe salientar que uma agenda para a sustentabilidade ambiental urbana deve levar em consideração a importância de se estimular a expansão dos meios de acesso a uma informação 64

geralmente esparsa e de difícil compreensão, como parte de uma política de fortalecimento do papel dos vários agentes intervenientes. Há uma demanda atual para que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para assumir um papel mais propositivo, bem como de ser capaz de questionar, de forma concreta, a falta de iniciativa do governo em implementar políticas ditadas pelo binômio da sustentabilidade e do desenvolvimento num contexto de crescente dificuldade na promoção da inclusão social. O fato da população ainda depender principalmente nas soluções provindas do poder público não implica apenas numa postura de dependência e de desresponsabilização da população, mas freqüentemente de desinformação, da falta de consciência ambiental e de um déficit de práticas comunitárias baseadas na participação e no envolvimento dos cidadãos que propõem uma nova cultura de direitos baseados na motivação e o direito de ser co-participes na gestão da cidade. O desafio que se coloca é de analisar o significado da postura dos moradores, que reforça as soluções pautadas pelo papel indutivo e diretivo da ação governamental: 1) na fiscalização e monitoramento da execução de políticas públicas, 2) no estímulo à coresponsabilização da população na prevenção da desordem e da degradação ambiental e 3) no desenvolvimento de campanhas de educação ambiental e de informação. A administração de riscos ambientais coloca a necessidade de ampliar o envolvimento público através de iniciativas que possibilitem uma elevação do nível de consciência ambiental dos moradores garantindo acesso à informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação numa perspectiva pluralista. Cidadãos bem informados, ao se assumirem enquanto atores relevantes têm mais condições de pressionar autoridades e poluidores, assim como de se motivar para ações de coresponsabilização e participação comunitária. A necessidade de implementar políticas públicas orientadas para tornar as cidades social e ambientalmente sustentáveis representa a possibilidade de contrapor-se ao quadro crescente de deterioração da qualidade de vida e de criar canais para que a população assuma sua parte de responsabilidade na gestão de cidades que não mais podem ser administradas através das formas tradicionais de gestão. Todos os cidadãos terão de se conscientizar dos riscos que são criados pela sociedade como um todo, como é o caso das mudanças climáticas, das suas práticas individualistas e desresponsabilizadas que impactam o cotidiano urbano e reorientar as atitudes para uma perspectiva de sustentabilidade sócio-ambiental que promova a conservação ecossistêmica com as atividades humanas. Referências Bibliográficas BECK, Ulrich. Risk Society. London: Sage Publications, 1992, JACOBI, Pedro R. Cidade e Meio Ambiente. São Paulo. Annablume Editora, 1999. SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A. de; SILVEIRA, M. L. (org.). Território: globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec; Annablumme, 2002. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2003. *. Professor Titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós Graduação da Universidade de São Paulo. Coordenador de TEIA-USP Laboratório de Educação e Ambiente

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em tudo, ser militante da civilização”. É, prezada Marina, eu não preciso ser poeta nem sábia, preciso apenas ser! Referências Bibliográficas Brown, Dan. O código da Vinci. Ed. Sextante. Yunus, M.; Alan Jolis. O banqueiro dos Pobres. Ed. Ática, 2006 www.fbes.org.br. Fórum Brasileiro de Economia solidária. www.unep.org/billiontreecampaign

Território, Sociedade e Políticas Ambientais Antonio Carlos Robert Moraes Departamento de Geografia, FFLCH-USP A relação de uma sociedade com um espaço gera um território. Este é um lugar que se define pela apropriação social. O território é sempre o espaço de algum grupo, que o identifica como parte integrante de sua vida, base espacial de sua reprodução. Nesse sentido, não é correto em geografia falar do território como um espaço natural estranho à presença humana, pois é o uso social que o qualifica como tal. Todo território é o resultado do relacionamento de uma sociedade com uma porção da superfície terrestre. A apropriação do planeta constitui a territorialização da humanidade, associando lugares e grupos sociais ao longo da história. A forma mais elementar de relação sociedadeespaço é a apropriação dos meios naturais, isto é, o acesso ao uso dos recursos ali depositados pela natureza. A reiteração do uso dos lugares pereniza transformações de suas características naturais originais, deixando marcas humanas nas paisagens, que assim começam a se humanizar. Os meios naturais humanizados podem sofrer progressivos níveis de transformação, gerando paisagens cada vez mais alteradas em face de sua originalidade natural. Muitos autores vão falar de uma “segunda natureza” para caracterizar meios naturais que apresentam grande carga de ações humanas pretéritas em sua composição atual. Enfim, a transformação dos espaços naturais constitui uma relação que se sobrepõe ao simples uso dos recursos da natureza local. A reiterada vivência dos mesmos lugares leva os grupos sociais a produzirem espaços para sua habitação nesses locais de permanência. Uma nova ordem de relacionamento das sociedades com o espaço terrestre se estabelece com a edificação de formas especificamente humanas na superfície da Terra. A durabilidade de cada forma subordina-se diretamente à quantidade de trabalho nela depositada, expressando também a expectativa de migração ou fixação de seus construtores. A sedentarização constitui processo central para uma história geográfica, pois estimula uma maior acumulação local de formas criadas pela sociedade, estando na base da formação dos territórios propriamente ditos. Trata-se da produção social 66

de espaço, estrito senso. O ato de gerar meios artificiais (no contraposto com a originalidade natural), espaços criados por ações humanas que os formatam de acordo com suas necessidades e expectativas de uso. As formas humanas produzidas na superfície da terra se agregam ao solo de onde estão edificadas, tornando-se qualidades do lugar. E cada vez mais na atualidade os lugares são avaliados geograficamente pela quantidade e qualidades de seus espaços criados. A diferenciação entre o meio rural e o urbano se dá pela densidade de construções existentes. A cidade é, portanto , um grau de adensamento das formas socialmente produzidas, diferenciandose do campo pela massa de edificações agrupada. Na verdade, como dizia Milton Santos, qualquer paisagem é resultado de uma acumulação desigual de tempo. Podemos dizer: história materializada no espaço. Os lugares possuem, assim, características naturais (como o clima, a topografia, o solo, etc.), mas também uma herança espacial constituída de formas produzidas em outras épocas e para finalidades que já podem ter desaparecido. E o presente anima, continuamente, a relação e o uso dos espaços. Cada lugar é qualificado do ponto de vista de seu uso por uma funcionalidade e uma dinâmica social da atualidade. São os processos atuais que refuncionalizam as formas pretéritas e avaliam os recursos naturais de acordo com técnicas e valores de cada conjuntura histórica. Tal avaliação não se restringe a uma racionalidade econômica, envolvendo também simbologias e imaginários. A formação de um território diz respeito a relações culturais e políticas dos grupos humanos com seus espaços. O direito ao uso, o acesso aos bens, e a autoridade de regular a relação da sociedade com o espaço, são elementos que se combinam na apropriação dos lugares e nas formas de valorização do espaço. Em suma, são as relações sociais de uma dada sociedade que regulam o relacionamento de cada um de seus segmentos com os recursos naturais e com os espaços. Em outros termos: a relação da sociedade com o espaço é uma relação social (logo, econômica, política e cultural, ao mesmo tempo). A cidade é sempre um espaço historicamente denso, com alta agregação de transformações do meio e com o agrupamento de um número elevado de formas produzidas pela sociedade. O uso do solo urbano é geralmente intenso e concentrado, fatores que se acentuam nas grandes cidades e nas metrópoles. As áreas citadinas são lugares de adensamento demográfico no globo, aglomerando populações em pontos específicos da superfície terrestre. Hoje, boa parte da população mundial habita em meios urbanos, e um percentual significativo reside em regiões metropolitanas. A concentração populacional é uma das características geográficas da história contemporânea, com a urbanização crescente marcando profundamente a sociabilidade da nossa época. A cidade e a vida urbana pressupõem certa institucionalização da autoridade política, que torna possível a convivência de grupos demográficos numericamente expressivos num mesmo espaço. Alguma centralização do poder é necessária para a co-habitação citadina. Daí a longa relação histórica entre as cidades e o Estado. A urbanização demanda regulamentações no uso dos lugares, estimulando a codificação dos direitos e a definição dos agentes públicos. A cidade é um tipo de habitat que requer normas (mesmo que mínimas) de edificação e de convívio social. E a ação estatal tem entre suas atribuições esta mediação nas relações sociedade-espaço. Ao estabelecer o âmbito de exercício desse poder concentrado já se consolida o conceito de território, posto como o espaço submetido a uma autoridade política. Nesse sentido, a cidade é um espaço territorializado. 67

O meio urbano pode ser analisado também como um ambiente, na ótica de ser um suporte da vida de seus habitantes. O lugar de habitação de uma sociedade, dotado de condições naturais, recursos e heranças espaciais singulares. Uma natureza bastante transformada se manifesta nas cidades apesar da predominância dos espaços construídos na paisagem urbana. O clima, a topografia, a rede hidrográfica, e todas as demais características naturais dos meios citadinos trazem a marca da ação antrópica, com a natureza impondo-se como limites e como riscos em face do uso de seus recursos. Caberia ao poder público avaliar e regulamentar o processo de ocupação do espaço da cidade, por meio de legislações e ações de gestão que se expressam como políticas urbanas. As normas urbanísticas e os sistemas de saneamento e de transporte emergem como algumas das mais essenciais dessas políticas. A poluição, a destinação do lixo, os desabamentos, a fluidez do transito, entre outros, são resultantes da insuficiência ou inadequação da atuação estatal na urbanização. Do ponto de vista da vivência dos lugares é possível definir padrões de qualidade ambiental para qualquer espaço terrestre, inclusive os altamente urbanizados. Estes padrões seriam instalados, mantidos ou buscados a partir de políticas públicas específicas, no caso das cidades, por meio de políticas ambientais urbanas. No contexto periférico, de grandes desigualdades sociais como o que vivemos, a distribuição dos serviços públicos e as condições ambientais existentes dentro das cidades são altamente variadas. O acesso aos bens, assim como a vulnerabilidade espacial, são elementos centrais da própria condição social dos grupos que co-habitam na cidade. À variedade de condições de vida e de formas de sociabilidade geram identidades múltiplas e culturas específicas no meio urbano. No território da cidade convivem classes sociais, em disputa e em conflito pelos próprios serviços e políticas públicas. A luta pela qualidade ambiental urbana é, portanto, uma luta pela organização do espaço na cidade, uma luta por políticas públicas cujas diretrizes representam o poder de cada grupo em disputa nesse âmbito espacial. Direcionar a atuação do Estado, o grande produtor dos espaços, é uma meta da vida política em cada território, num quadro onde a relação com cada lugar e entre os lugares é determinada pelas relações sociais vigentes. Trata-se de uma batalha cotidiana, na qual toda a sociedade esta imersa. A produção e o uso do espaço nesse sentido espelham o poder e as hegemonias em cada conjuntura histórica.

MESA 4 - Educação, comunicação e participação Ambiental Educação Ambiental Popular: educomunicação socioambiental e participação na construção de sociedades sustentáveis Marcos Sorrentino8 Simone Portugal 9 Um documento de referência para todos aqueles que atuam no campo da Educação Ambiental (EA), dentro de uma perspectiva de estímulo e apoio à participação e de ações voltadas à melhoria da qualidade de vida, é o Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.

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Compromisso que emergiu da conferência paralela organizada pela sociedade civil, realizada no Rio de Janeiro em 1992, durante a Eco-92, o Tratado (VIEZZER e OVALLES, 1995) colocou a responsabilidade individual e coletiva, o pensamento crítico e inovador e a interdisciplinaridade, como aspectos necessários a uma educação para a transformação social. A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e interrelações em uma perspectiva sistêmica, em um contexto social e histórico. Aspectos primordiais para seu desenvolvimento e seu meio ambiente, tais como população, paz, direitos humanos, democracia, saúde, fome, degradação da flora e da fauna, devem ser abordados... Devem capacitar as pessoas a trabalhar conflitos e integrar conhecimentos, valores, atitudes e ações, buscando a transformação de hábitos consumistas e condutas ambientais inadequadas. É uma educação para a mudança. (CNUMAD, 1997, apud DUVOISIN, 2002, p.93). Algumas diretrizes para a ação nele foram propostas, podendo-se destacar as seguintes: Modelar os princípios do tratado em materiais didáticos para serem utilizados nos diferentes níveis do sistema educativo; Atuar a partir das realidades locais, tratando, porém, de conectá-las com os problemas globais do planeta; Desenvolver a educação ambiental em todos os âmbitos da educação formal, informal e não formal; Capacitar especialistas para melhorar a gestão do meio ambiente e para obter uma maior “coerência entre o que se diz e o que se faz”; Exigir dos governos que destinem percentagens significativas do seu orçamento para a educação e meio ambiente; Transformar os meios de comunicação em instrumentos educativos plurais que sirvam de plataforma aos programas gerados pelas comunidades locais; Promover mudanças na produção, nos hábitos de consumo e nos estilos de vida; Reconhecer a diversidade cultural, os direitos territoriais e a autodeterminação dos povos; Fomentar a educação e a investigação superior sobre a educação ambiental. (CARIDE e MEIRA, 2001, p.199). Assim como conhecer o Tratado é importante, entender a natureza da participação sobre a qual estamos falando pode contribuir para o debate e a reflexão sobre a concepção de ambientalismo e de educação popular que anima este texto. Participação como necessidade natural do sujeito, livre de obrigação e moralidade (SAWAIA, 2001), mas por uma vontade de ser feliz e livre, com capacidade de mobilizar-se e comprometerse com a tomada de decisões que se faça necessária. Ela pode ser compreendida a partir de cinco dimensões (SORRENTINO, 2000). A primeira é a da infraestrutura básica para a participação, a qual embora muitas vezes se tenha poucas condições de interferir, é essencial para viabilizá-la ou não. Não adianta dizer que tal pessoa não quer participar, quando na verdade o que acontece é que ela mora a trinta horas de distância, a ser percorrida por barco, do local de decisão. Disponibilizar informações suficientes sobre o que tem de positivo e negativo em cada uma das opções colocadas, é indispensável para que as pessoas tenham condições de escolher e decidir pelo caminho a ser seguido. Mas não basta disponibilizar informação se não houver espaços de locução, a fim de que as pessoas possam dialogar sobre essas informações, 69

trocar ideias e esclarecimentos sobre a temática em questão. A quarta dimensão é a da tomada de decisão. Não é possível todo mundo participar de tudo a toda hora, mas é necessário criar mecanismos de representatividade e definir claramente quais são os limites de decisão para cada assunto e para cada grupo. Não há participação sem que as pessoas se sintam comprometidas, envolvidas com a situação, respeitadas na sua subjetividade, pertencentes ao local, ao planeta, à humanidade e sentir que tudo isto lhe diz respeito. O papel da comunicação neste sentido da participação é essencial. Nesta perspectiva de uma EA que promova a participação, deve responder às demandas relativas à produção, gestão e disponibilização de informações sobre esse tema, de forma interativa e dinâmica. O documento técnico “Programa de Educomunicação Socioambiental”10 do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), baseado nos princípios da democratização, promoção da autonomia e emancipação, enfatiza a visão pedagógica dos processos comunicativos associados à questão ambiental. O termo educomunicação, inicialmente usado para designar a prática crítica da leitura dos meios e de recepção dos conteúdos, atualmente também envolve as ações que compõem o campo da inter-relação entre Comunicação e Educação. Para Soares (2004) a Educomunicação abrange quatro áreas de intervenção: a) a educação para os meios, que promove reflexões e forma receptores críticos; b) o uso e manejo dos processos de produção midiática; c) a utilização das tecnologias de informação/comunicação no contexto ensino/ aprendizagem; d) a comunicação interpessoal no relacionamento entre grupos. Nesse sentido, dialogismo e interatividade são princípios norteadores que podem contribuir para ampliar os espaços de comunicação, potencializando a voz de educadoras e educadores ambientais populares. Educação Ambiental Popular Muitas questões vêm à tona quando se pensa em desenvolver um projeto ou programa educacional voltado à formação de pessoas que atuem como educadoras ambientais populares. Compreender qual é a educação que se deseja construir, definindo objetivos, metas e metodologia, exige explicitar o referencial teórico, os princípios e as diretrizes que animam o processo educacional. Qual é o perfil da educadora ou do educador ambiental a ser formado? Como ele e ela se formam? Onde e de quais maneiras atuam? 11 Debater as características, as habilidades e a ideologia da educadora ou do educador ambiental popular pode levar a conclusões reducionistas e autoritárias, mas, ao mesmo tempo, como definir um processo educacional sem dizer aonde se quer chegar e de onde se quer partir ou de onde se está partindo? Um caminho é ter convicções sem querer impô-las aos outros, compartilhando aquilo que nos ilumina e faz bem, com respeito às demais opções e necessidades. Traçar caminhos e processos educacionais pautados pela construção de arenas, espaços de aprendizagem, de diálogo, onde a vontade de ensinar tenha como pré-requisito o desejo de aprender e o estímulo à capacidade de análise crítica do outro. Ser assertivo e propositivo, ter iniciativas e ser criativo é fundamental, mas mais importante ainda é conseguir estimular e propiciar a assertividade, a iniciativa, a criticidade 70

(como capacidade reflexiva, analítica e intuitiva) e a criatividade nos outros. Propiciar a cada pessoa vontade e capacidade de imaginar e enunciar o seu projeto de futuro e a disposição de dialogar sobre ele, aprimorá-lo e construí-lo individual e coletivamente. Outra questão que se coloca é de caráter metodológico. Como formar lideranças? Protagonistas? No grupo, nos processos educacionais, a liderança e o protagonismo de uns estimula ou inibe a liderança e o protagonismo de outros? Para desenvolver liderança e protagonismo, é necessário, em primeiro lugar, que a questão se coloque individualmente e ao grupo. Em seguida, é preciso exercitar cotidianamente a humildade, despir-se da vaidade e da necessidade de ser líder, sem perder a vontade de fazer, de cooperar, de auxiliar, sem receio de em certos momentos protagonizar e liderar. No livro O TAO da Liderança, de Lao Tsé, há importantes provocações neste sentido e em livros e textos de Boaventura de Souza Santos, de Carlos Rodrigues Brandão, de Rubem Alves, de Eda Terezinha de Oliveira Tassara, de Krisnamurti, de Roberto Freire e outros, depreendemos a compreensão de uma “vanguarda que se autoanula”, de uma liderança que sai de cena para a emergência de novas lideranças e para o desenvolvimento de processos autogestionários. Em terceiro lugar, realizar planejamentos estratégicos, participativos, incrementais e articulados, propiciando, a cada passo, que o aprendizado obtido com ele seja socializado, interiorizado em cada um e no grupo e permita as redefinições na caminhada, redirecionando as velas, o rumo, as estratégias e até mesmo os objetivos. Dar o testemunho é fundamental! Testemunho de disposição ao diálogo, tempo para o outro. Saber ouvi-lo e considerá-lo interlocutor para o seu pensamento e opiniões, incomodandoo, estimulando-o a pensar e a expressar-se, mas dando-lhe segurança de que, seja qual for a opção que ele fizer, continuará a tê-lo como interlocutor/educador (amigo ou amiga, pai, mãe, irmão ou irmã, filho ou filha, professor ou professora, pastor ou pastora, padre ou madre, psiquiatra ou psicólogo(a), estudante, servidor público ou atendente no comércio, entrevistador ou vendedora...). Portanto, ser educador ou educadora ambiental popular, exige ter conteúdos e objetivos a perseguir, mas sejam quais forem eles, são apenas suportes para um objetivo maior de propiciar a todos e a qualquer um, o acesso ao diálogo empoderador. O diálogo crítico e acolhedor que permite a tomada de posições pautadas nas próprias convicções e na capacidade de revê-las e incrementá-las em direção à construção do seu projeto de futuro, dos seus sonhos e utopias. Diálogo que permita abrir-se ao próximo e planejar e avaliar juntos, diálogo consigo mesmo, com os ventos, com as árvores, com os animais, com outros seres e energias que povoam os nossos sentimentos, a nossa alma e enriquecem o nosso espírito. Diálogo com a sociedade, procurando entendê-la crítica, histórica e conjunturalmente, em toda a sua estrutura e contradições, de forma a sentir-se potente para transformá-la com os outros e para o bem de todos. Diálogo voltado à superação das posturas e ações competitivas, intolerantes, homogeneizadoras, machistas, massificantes, imediatistas, predatórias e gananciosas, para o incremento dos conhecimentos e compromissos de toda a humanidade e de cada um com a VIDA, a democracia, a solidariedade, o repúdio a todo e qualquer tipo de totalitarismo, a diversidade, a paz, a justiça, o amor e a emancipação humana. Para a melhor compreensão da concepção de educação ambiental popular sobre a

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qual estamos falando, podemos sugerir uma trilha de leituras, começando por Dermeval Saviani (1992) e Carlos Libâneo (1984), que elaboraram dois importantes textos de taxionomia das correntes pedagógicas. Neles identificavam três correntes no campo da educação transformadora – a libertadora, a libertária e a crítico-social, tendo Paulo Freire e Celestin Freinet respectivamente, como referência para cada uma das duas primeiras e os próprios autores como referência para a terceira. A leitura de cada um dos autores por eles citados pode nos auxiliar a desvendar as tramas da inculcação ideológica promovida pela Escola e por todos os aparelhos ideológicos de estado (FREITAG, 1986) bem como a identificar o seu reverso – a potencialidade emancipatória da Escola e de outras instituições conquistadas a partir de muitas lutas sociais ao longo da história da humanidade. Tais instituições são emancipatórias ou domesticadoras? Boaventura de Souza Santos (1997) pode nos ajudar a compreender esta constante tensão entre regulação e emancipação e o papel do Estado, do mercado e da comunidade, possibilitando um melhor entendimento de uma lógica não linear e complexa onde não existe apenas o certo e o errado (MORIN, 2000). Onde o papel de cada um de nós como educadores e educadoras é criar condições para cada pessoa encontrar os seus próprios caminhos, o seu próprio brilho, pois, como diz um poeta cantor brasileiro, “gente é prá brilhar”. O Relatório Delors (1999), da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, com o título Educação - um tesouro a descobrir, apresenta os quatro pilares da educação – aprender a ser; aprender a conhecer; aprender a viver juntos; aprender a fazer. Pode-se dizer que esta tem sido a base de uma educação ambiental não prescritiva e se entendermos o “conhecer”, o “ser”, o “fazer” e o “juntos”, como sinônimos de práxis, de aprender a analisar crítica e historicamente e com perspectivas de transformar o existente na direção das utopias e heterotopias (SATO, 2005), aprender a desvelar e a desvendar, como nos falam Tassara e Ardans, (2005), então podemos dizer que esta também é a base da educação popular. Jean Jacques Rousseau, Leonardo Boff, Daniel Kim, Raul Seixas, Ira (“nesta vida passageira, eu sou eu, você é você... e vejo flores em você”) e outros educadores e educadoras, filósofos, artistas e pensadores de todas as épocas, regiões e estações, apontaram a autonomia, a liberdade, o respeito ao próximo, o amor, a solidariedade, em uma palavra, a emancipação humana como a grande busca e a principal missão da educação. A Rede de Educação Popular e Ecologia (REPEC), vinculada ao Conselho de Educação de Adultos da América Latina (CEAAL), oportunizou a troca de experiências entre inúmeras atividades neste campo que ocorrem em praticamente todos os países da região. Há uma coletânea, coordenada por Joaquim Esteva em 1994, que relata algumas dessas experiências, na qual se pode encontrar uma definição para Educação Popular Ambiental: “es um proceso formativo permanente, que desde una perspectiva política, proporciona elementos teóricos y práticos com la finalidad de modificar actitudes, elevar la comprensión y enriquecer el comportamiento de los sectores populares en sus relaciones socioculturales y con el medio biofisico, em vias de la construcción de sociedades sustentables que, con equidad social, respondan a las particularidades culturales y ecológicas existentes” (ESTEVA, 1994, p.12). Pode-se ainda perguntar: mas qual é a razão para se incluir o adjetivo popular na EA ou o ambiental na Educação Popular? Uma possível resposta é apontar a perspectiva de romper com a ideia de profissão e de

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formação de especialistas trazendo a EA para o campo da práxis cidadã, a ser exercida por todas as pessoas cotidianamente. Outra é argumentar a respeito do ideário ambientalista, percolando a educação popular e vice-versa, debatendo-se os seus argumentos ideológicos relacionados à busca de outra forma de produção e consumo, de organização e relacionamento nas sociedades humanas, distinta da ordem capitalista hegemônica na modernidade. O mais importante é que o educador ou a educadora ambiental popular promova o debate de tudo isto, propiciando a enunciação das utopias, o debate crítico voltado ao amadurecimento dos projetos individuais e coletivos e as ações coordenadas no sentido da construção dos mesmos. Bibliografia ALVES, Rubem. Conversas com quem Gosta de Ensinar. São Paulo: Cortez Editora e Autores Associados, 1985. BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org). Repensando a Pesquisa Participante. São Paulo: Editora Brasiliense, 1999. ______. A pergunta a várias mãos. São Paulo: Cortez, 2003. ______. Diário de Campo. São Paulo: Brasiliense, 1982. CARIDE, José Antonio; MEIRA, Pablo Ângel. Educação Ambiental e Desenvolvimento Humano. Lisboa: Horizontes Pedagógicos, 2001. DELORS, Jacques (org.). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre educação para o século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1999. DUVOISIN, Ivane Almeida. A necessidade de uma visão sistêmica para a Educação Ambiental: conflitos entre o velho e o novo paradigma. In: RUSCHEINSKY, Aloísio (org.). Educação Ambiental – Abordagens Múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002. p.91-103. ESTEVA, Joaquin (coordenador). Educación Popular Ambiental en América Latina. Pátzcuaro, México: CEAAL, 1994. Red de Educación Popular y Ecologia/Consejo de Educación de Adultos de América Latina. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2001. Coleção Questões da Nossa Época/ 13. ______. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997. FREIRE, Roberto. Pedagogia Libertária. São Paulo: Editora Clacyko, 1996. Coleção Paideia/1. FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Editora Moraes, 1986. Coleção Educação Universitária. KRISHNAMURTI, Jiddu. Novos Roteiros em Educação. São Paulo: Editora Cultrix, 1980. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública – A pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 1984. Coleção Educar/1. MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2000. PROGRAMA DE EDUCOMUNICAÇÃO SOCIOAMBIENTAL. Documento técnico número 2: Programa de Educomunicação Socioambiental. Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Ministério do Meio Ambiente. Brasília, 2005. Disponível em: http://www.mma.gov.br. Acesso em 14 de agosto, 2008. SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1997. ______. Introdução a uma Ciência Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Graal, 2000. ______. Um Discurso sobre as Ciências. Porto: Edições Afrontamento, 2002. SATO, Michele; CARVALHO, Isabel. Educação Ambiental: Pesquisa e Desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005. SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Campinas: Editora Autores Associados, 1992. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo. SAWAIA, Bader. Participação Social e Subjetividade. In: SORRENTINO, M. (Coord.). Ambientalismo e Participação na Contemporaneidade. São Paulo: EDUC/FAPESP, 2001. SOARES, Ismar de oliveira. Educommunication. São Paulo: NCE-ECA/USP, 2004. SORRENTINO, Marcos. Crise ambiental e educação. In: QUINTAS, J. S. (Org.). Pensando e praticando a educação ambiental na gestão do meio ambiente. Brasília: Ibama, volume 3, 2000. TASSARA, Eda Terezinha de Oliveira; ARDANS, Omar. Intervenção psicossocial: desvendando o sujeito histórico e desvelando os fundamentos da educação ambiental crítica. In Ferraro Junior, Luiz Antonio (organizador). Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2005. VIEZZER, Moema Libera; OVALLES, Omar. Manual Latino-Americano de Educ-Ação Ambiental. São Paulo: Editora Gaia, 1995.

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Projetos escolares no estudo do lugar: (re)conhecimento da realidade socioambiental e formação da cidadania Vânia Maria Nunes dos Santos O tratamento de questões socioambientais na escola oportuniza o desenvolvimento de projetos de educação ambiental como contribuição tanto para a formação de professores e alunos críticos e reflexivos, como para o processo de construção da consciência ambiental. Os projetos de educação ambiental e, sobretudo, as intervenções escolares resultantes do seu desenvolvimento, propondo ações/soluções para os problemas da realidade estudados, podem contribuir para a formação do cidadão crítico, participativo e organizado em busca de melhoria da qualidade de vida. Em meio às diferentes conceituações e práticas atribuídas à educação ambiental, a entendemos aqui como um importante instrumento para a compreensão e conscientização sobre questões/problemas do ambiente, cujo desenvolvimento tem-se colocado como uma das mais sérias exigências educacionais contemporâneas para o exercício/construção da cidadania e busca de transformação da realidade socioambiental. A educação ambiental como educação política deve possibilitar o uso do conhecimento não só na relação com os recursos naturais, como também habilitar e promover a participação do cidadão nas decisões sobre o seu cotidiano. Na escola, ao considerar alunos reais e a realidade como espaço de reflexão-ação, os projetos de educação ambiental podem contribuir para a qualificação escolar do lugar/ambiente onde a escola se localiza, favorecendo no seu (re)conhecimento, bem como na construção de novos conhecimentos, comportamentos e procedimentos de ensino. Tais princípios orientaram a elaboração do programa com escolas em Guarulhos-SP intitulado Educação, Meio Ambiente e Cidadania: desenvolvimento de projetos escolares de educação socioambiental com o uso de sensoriamento remoto e trabalhos de campo para o estudo do meio ambiente e exercício da cidadania, realizado por meio da parceria entre Prefeitura de Guarulhos/SAAE, Instituto de Geociências da Unicamp, Diretoria de Ensino de Guarulhos Norte, Universidade de Guarulhos e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O objetivo é promover a formação de professores em exercício para a realização de projetos de educação ambiental em suas localidades, bem como o desenvolvimento de novos procedimentos de ensino para o estudo do ambiente. (Santos, 2006) O mapeamento socioambiental e o (re)conhecimento do lugar Um dos exemplos mais significativos de valorização dos trabalhos de campo para o (re)conhecimento e levantamento/atualização de informações sobre o lugar de estudo se constitui na elaboração do “mapeamento socioambiental”. Realizada pelas escolas esta atividade implica em fazer um levantamento de dados socioambientais da região de estudo em seus múltiplos aspectos, com referência, a exemplo de Guarulhos, na microbacia local, visando à elaboração de um diagnóstico socioambiental desta realidade. São mapeados diferentes indicadores, tais como: tipos de moradia, cursos d’água, áreas verdes, ruas calçadas e ou ruas de terra, lixões, estabelecimentos públicos, comerciais e industriais, áreas de risco a saúde, áreas de risco de desabamentos, áreas de nascentes aterradas e ou várzeas ocupadas, presença ou ausência das redes de água, esgoto e energia elétrica, etc. 74

A elaboração do mapeamento socioambiental propicia o desenvolvimento de atividades didático-pedagógicas complementares à leitura do lugar, tais como relatórios, entrevistas, resgate da história local, registros fotográficos, produção de textos, desenhos e elaboração de materiais lúdicos (jogos didáticos), dentre outras, favorecendo o estudo do local e o entendimento do ambiente como espaço construído/destruído historicamente por relações sociais cotidianas orientadas por diferentes interesses. Na escola, o desenvolvimento dessa atividade contribui na formação de “leitores críticos do espaço”, à medida que propicia aos alunos condições para: saber ler/interpretar o espaço em estudo, saber pensar o espaço em suas relações e saber transformar/fazer o espaço, enquanto contribuição à formação de cidadãos críticos e participativos, sujeitos do seu próprio ambiente. O mapeamento socioambiental, como atividade integrante de um programa de educação ambiental, constitui um importante instrumento de participação da comunidade, tanto para o levantamento de informações e (re)conhecimento da realidade local, expressando demandas, percepções e tendências de seus moradores, como para subsidiar na elaboração de propostas para a solução de problemas diagnosticados e planejamento de ações visando à melhoria da qualidade de vida no lugar. O “olhar geocientífico” e a compreensão de problemas socioambientais Ao promover a compreensão das relações entre ambiente e sociedade, a educação ambiental por meio do ensino em Geociências contribui na formação de cidadãos, aqui entendidos como sujeitos capazes de observar/conhecer o meio em que vivem; refletir sobre este meio e suas determinações, bem como propor/desenvolver ações frente aos problemas estudados visando ao desenvolvimento de soluções para estes, em busca da transformação da realidade socioambiental. Trabalhar com o conceito geocientífico de lugar na escola pressupõe considerar o aluno real com sua experiência social e individual em sua localidade. Nessa perspectiva, o lugar se configura, ao mesmo tempo, como objeto de estudo, de problematização e investigação escolar, bem como de síntese, espaço promotor/possibilitador da produção de novos saberes e posturas. Isto se reflete na produção de conhecimentos contextualizados e originais sobre o lugar de estudo e, portanto, para uma renovada concepção de currículo escolar que articula os conteúdos escolares com a realidade local. Como a análise de questões ambientais requer o desenvolvimento de raciocínios espaciais e temporais e o estabelecimento de relações dialéticas entre local-global, os projetos escolares de educação ambiental devem promover exercícios de contextualização capazes de propiciar uma compreensão ampla e integrada sobre a problemática em estudo, favorecendo a integração de recursos em atividades didático-pedagógicas para o estudo do ambiente. Trabalhos de campo integrados com mapas, fotografias aéreas e imagens de satélite, a exemplo do trabalho realizado em Guarulhos, podem contribuir para o entendimento de problemas e suas repercussões e implicações na qualidade de vida. Contribuem para a compreensão do processo de uso e ocupação do espaço, bem como para o estabelecimento de relações em diferentes escalas de observação e apreensão da realidade socioambiental em estudo. Favorecem na elaboração de novas percepções sobre o ambiente a partir da compreensão das inter-relações entre a “visão horizontal e pontual”, (restrita ao local) e a “visão 75

vertical e abrangente” (o local no seu contexto, em diferentes escalas, e visto “de cima”). Contribuem para a superação de uma visão fragmentada e compartimentada diante da abordagem de fenômenos complexos como os ambientais, promovendo a apreensão sistêmica deste à medida que os alunos percebem que os problemas locais, como de uma microbacia, por exemplo, não se restringem nem se explicam pontualmente, mas sim, estabelecem diferentes relações e implicações com o bairro, o município e a região. Ou melhor, “implicam” e são “implicados” num ir e vir constante. Trabalhos de campo com mapas, fotos aéreas e imagens de satélite contribuem para o estudo dos problemas ambientais, no contexto das dinâmicas e complexas relações entre natureza e sociedade, bem como podem contribuir na formação de alunos/cidadãos informados e conscientes sobre o lugar em que vivem. Os projetos escolares de educação ambiental e a questão da cidadania Os projetos escolares de educação ambiental se constituem em oportunidades para o estudo do ambiente e seus problemas, bem como para a formação de professores inovadores e alunos críticos e participativos. Por meio do desenvolvimento de projetos de educação ambiental, alunos e professores de Guarulhos fazem uma (re)leitura crítico-construtiva da realidade local. Identificam problemas socioambientais com referência no estudo de microbacias, coletam e analisam dados. Estabelecem relações entre as informações levantadas, considerando diferentes escalas de repercussões e implicações e elaboram propostas para a solução de problemas. As propostas escolares vislumbram possibilidades de transformação da realidade local e, nesse sentido, se constituem em exercícios de cidadania dos sujeitos da educação (alunos e professores), na qualidade de sensibilizadores e propiciadores de uma sintonia fina entre conhecimento, cidadania e melhoria da qualidade vida. Considerando que o trabalho de construção da consciência ambiental implica um trabalho de construção da cidadania, os projetos escolares de educação ambiental desenvolvidos em Guarulhos investem na construção de “Núcleos de Cidadania”. Estes Núcleos têm por proposta promover o diálogo entre escola, comunidade e poder público, visando ao desenvolvimento de parcerias e ações voltadas à busca de soluções para os problemas locais diagnosticados nos projetos escolares, como contribuição a definição de políticas públicas organizadas democraticamente. Formados por alunos e professores, os Núcleos de Cidadania tem por objetivo atuar nas escolas como “espaços educativos da comunidade”, visando à multiplicação de conhecimentos produzidos com o desenvolvimento dos projetos de educação ambiental para os moradores das áreas de estudo. Para a realização dessa atividade foi criada a figura do Agente Ambiental Escolar. Aluno participante do projeto de educação ambiental, o Agente tem por objetivo o desenvolvimento de ações socioeducativas voltadas à conscientização da comunidade local com referência em questões de Saneamento, Saúde e Ambiente. Os projetos escolares de educação ambiental, enquanto práticas político-pedagógicas significam, antes de uma possibilidade educativa, uma necessidade social e um compromisso político com a construção de um lugar melhor pra se viver. Nesse contexto, os Núcleos de Cidadania representam a possibilidade de sensibilizar e mobilizar diferentes atores sociais a 76

partir da escola, para participar na transformação de propostas/sugestões escolares focadas na melhoria da vida em projetos da comunidade organizada. Expressam um canal de comunicação do conhecimento escolar e de diálogo sobre as questões do meio ambiente, visando dinamizar a sociedade, promover a responsabilidade socioambiental e planejar um futuro melhor. O trabalho de formação da consciência socioambiental em desenvolvimento nas escolas de Guarulhos, e a partir delas, exige uma constante sensibilização de alunos, professores e comunidade por meio da consolidação dos seus Núcleos de Cidadania. É no desenvolvimento desse processo que as escolas estarão efetivamente contribuindo para o enfrentamento do desafio político-ético da educação ambiental frente à urgente necessidade de construção de uma sociedade mais justa e ecologicamente equilibrada, alicerçada no conhecimento e no exercício da cidadania. Referências bibliográficas: COMPIANI, Maurício. “O lugar e as escalas e suas dimensões horizontal e vertical nos trabalhos práticos: implicações para o ensino de ciências e educação ambiental”. Ciência & Educação, v.13, n.1, p.29-45, 2007. JACOBI, Pedro. “O desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo”. Educação e Pesquisa – Revista da FEUSP. São Paulo. V.31, nº 2, maio/agosto, 2005. SANTOS, Vânia M.N. Formação de professores para o estudo do ambiente: projetos escolares e a realidade socioambiental local. Tese de Doutorado. Instituto de Geociências, Unicamp, Campinas, 2006.

MESA 5 - Água, ar e solo – a constituição do ambiente A geologia paulistana e o patrimônio sócio-ambiental Celso Dal Ré Carneiro Depto. Geociências Aplicadas ao Ensino/ Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Introdução A população que convive na cidade de São Paulo com problemas de trânsito em uma malha viária saturada talvez não tenha interesse em saber que, nos campos de Piratininga, seria difícil escolher local melhor para instalar o povoado. Capturou-se da cultura indígena de 1554 o conhecimento de alguns traços da paisagem, como o relevo favorável, a abundância de cursos d’água, os terrenos de aluviões, periodicamente inundados e bons para cultivo, a proximidade de grandes rios que permitiriam navegação fluvial e serras que facilitariam a defesa etc. Depois de mais de cinco séculos, algumas dessas “vantagens” perderam significado, mas os parâmetros naturais continuam a se impor. São fatores condicionantes que precisam ser respeitados por todos aqueles que aqui instalam edificações, obras subterrâneas, ruas e 77

avenidas, sob pena de haver riscos ambientais, econômicos e até mesmo de perda de vidas humanas. Neste artigo exploraremos alguns aspectos da geologia de São Paulo e seus arredores, para ilustrar a importância desse condicionamento para as mais elementares atividades humanas. Veremos que as rochas, os solos e a água presentes em nosso espaço urbano fazem parte de um patrimônio sócio-ambiental. É importante entender que estamos acostumados a pensar com base no tempo histórico, mas dependemos da perspectiva dada pela idéia de Tempo Geológico para compreender as transformações ambientais e, muitas vezes, ampliar as possibilidades de resolução dos problemas vividos na cidade. É possível que, à luz da experiência e da tecnologia modernas, certas decisões pareçam hoje autênticos equívocos, mas o aspecto central é “aprender com nossa própria história”. Povos que não absorvem as lições da história estão condenados a repetí-la e a cometer indefinidamente os mesmos erros.

Figura 1. Conceito de aquífero (Fonte: SNIRH. Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos. Definição, Caracterização e Cartografia dos Sistemas Aquíferos de Portugal Continental, http://snirh.pt/snirh/actual/folhetos/sqa_vant.html)

II.GeologiaPaulistana Há quase 30 anos uma mesa-redonda promovida pela SBGeo e ABGE reuniu especialistas de várias áreas do conhecimento para debater os Aspectos geológicos e geotécnicos da bacia sedimentar de São Paulo. Na oportunidade, as linhas subterrâneas do metrô estav am em construção e muitas obras de grande porte já se espalhavam pela cidade; a integração de conhecimentos foi valiosa. A cartografia geológica da cidade de São Paulo e seus arredores pouco avançou desde então, quando Coutinho (1980) publicou o Mapa Geológico da Grande São Paulo em escala 1:100.000 pela Emplasa em 1980. Esse mapa foi a base da elaboração da Carta Geotécnica da Grande São Paulo pelo IPT, anos depois. Excetuando-se iniciativas isoladas de pesquisadores universitários e mapeamentos que fundamentaram a elaboração de teses acadêmicas, como p.ex. Coutinho (1972), Carneiro (1983), e outros, a região metropolitana nunca conheceu programas sistemáticos de mapeamento geológico básico. Pode-se dizer que o cidadão paulistano, seus governos e o estado paulista conhecem mal, muito mal, as

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unidades geológicas sobre as quais se erigiu a grande cidade. Preocupa-nos constatar que a própria utilização do conhecimento geológico pode ser mais i ntensa e ampla, fato tantas vezes destacado e, infelizmente, salientado pela mídia quando acontecem acidentes como o da obra do metrô em janeiro de 2006. No plano estadual, já houve incentivos a uma pesquisa geológica coordenada, podendose citar: (a) a construção dos sistemas de abastecimento de água da Grande São Paulo, como o Sistema Cantareira e os estudos para adução de água do Vale do Ribeira; (b) o planejamento e execução do sistema ferroviário e de transportes metropolitanos da cidade; (c) a formação de grupos de pesquisa em universidades; e (d) a implantação do sistema estadual de mineração e pesquisa (conhecido como Pró-Minério). Essas atividades tiveram etapas de apogeu e declínio. Todas deram alento à premissa de que é preciso conhecer cada vez mais e melhor nosso subsolo. Alguns problemas mal ou insatisfatoriamente equacionados relacionam-se com a complexa geologia paulistana e talvez jamais sejam resolvidos. Pretendemos citar alguns exemplos, sem a pretensão de oferecer “soluções milagrosas”. Escassez de água Há escassez de água em várias regiões do Brasil, apesar da vasta rede hidrográfica; o problema também afeta São Paulo. Na região sudeste é boa a disponibilidade de água doce, mas o recurso sofre três tipos de interferências principais: (1) aumento da população, (2) falta de controle sobre certos hábitos de consumo, que fazem explodir a demanda, (3) problemas de contaminação de reservas e (4) crescente ocupação e impermeabilização das terras. Sob este último aspecto, basta lembrar que a região abriga escassas reservas de florestas,ainda ameaçadas peladesenfreada expansão urbana. Uma delas, a Serra da Cantareira, situada a norte da cidade, tem seu nome relacionado ao tempo dos escravos, que caminhavam até suas faldas, em busca do líquido trazido em cântaros. Os espaços disponíveis são avidamente ocupados e as terras se transformam, cada vez mais, em mercadoria e moeda de troca. Ao serem reduzidos os espaços de áreas vegetadas, escasseiam também as fontes naturais e, proporcionalmente, as reservas de água de boa qualidade, pois se reduz a taxa de infiltração. A água subterrânea, armazenada no subsolo, movimenta-se mais lentamente que as águas de superfície, porque ocupa espaços vazios (poros e fraturas abertas) da zona saturada . A superfície de topo é o nível d’água ou limite da zona saturada, que acompanha aproximadamente a superfície do terreno. Aqüíferos são unidades geológicas portadoras de água, delimitáveis nas três dimensões: largura, comprimento e profundidade, e dos quais a água pode ser explotada, termo que significa “extrair em quantidades economicamente aproveitáveis” (Fig. 1) A herança geológica foi generosa para a cidade, graças à ampla bacia sedimentar neogênica, chamada Bacia de São Paulo. São camadas de areias, siltes e argilas que se distribuem de maneira descon tínua e com espessura variável e portanto as reservas de água subterrânea, dependem daqueles materiais e rochas que transmitem e armazenam água. O relevo do núcleo urbano central da cidade é suave e pouco movimentado, formado por colinas e espigões extensos, como aquele onde se implantou a Av. Paulista. Se em Guarulhos a base

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Figura 2. O ciclo hidrológico. As setas em azul claro indicam o percurso da água subterrânea, enquanto a linha tracejada em azul escuro indica o limite da zona saturada, que pode ser rebaixado quando há superexplotação. (Fonte: PA-GEPEP s.d.; ver The Geology of Pennsylvania’s Groundwater, Pennsylvania Geological Survey,Educ.Series3, http://www.dcnr.state.pa.us/topogeo/education/es3.pdf)

da pilha sedimentar está a cotas inferiores a 550 m e no mirante do Sumaré os sedimentos elevam-se a cotas da ordem de 839 m, podemos calcular em pouco mais de 300 m a espessura de sedimentos acumulados sob a cidade. Para compreender melhor como funciona o aqüífero situado sob a cidade, convém examinar brevemente a idéia de ciclo hidrológico (Fig. 2). O conhecimento de assuntos ligados a recursos hídricos - e, sobretudo, a educação em temas ambientais - é importante para utilização racional e proteção deste que é, talvez, para os seres humanos, o mais importante recurso natural (Carneiro et al. 2008). No Sudeste brasileiro, a precipitação é formada pela água que cai na forma de orvalho, chuva ou granizo; uma parte forma córregos, lagos e rios que podem atingir o oceano; outra parte desce, sendo filtrada no solo e no subsolo, dependendo dos materiais e tipos de rocha existentes. Sob as camadas da Bacia de São Paulo, o embasamento cristalino abrange ampla variedade de rochas: xistos, filitos, gnaisses, migmatitos e granitos, que se distribuem de modo desigual. São rochas resistentes formadas durante colisões de placas que tiveram lugar há mais de 540 milhões de anos atrás. O relevo sobre essas rochas – situado na periferia da cidade – é muito mais íngreme e movimentado que na região central, aumentando os problemas de deslizamentos de terra e erosão acelerada, aspectos que pelas limitações de espaço deixaremos de abordar. As águas já vêm sendo explotadas desde a primeira metade do século XX, mas, devido à impermeabilização e desaparecimento de áreas verdes, reduziu-se o volume de água que penetra no subsolo. Felizmente, embora ruim do ponto de vista econômico, não é desprezível o volume de água perdida nos vazamentos do sistema de abastecimento da cidade, que

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ajudam a alimentar o aquífero. Um sistema complexo é exatamente isso, qualquer ação está ligada a outra. A complexa relação do sistema subterrâneo com a impermeabilização superficial é outra forma de entender o fenômeno das enchentes periódicas, provocadas em parte pelo excesso de água que corre na superfície. Se não tratarmos apenas do “recurso água” e adotarmos visão mais integrada de nosso “patrimônio socioambiental”, que inclui o “sistema água”, seremos capazes de estabelecer novas relações. O vídeo The Story of Stuff (A História das Coisas, http://video.google.com/videoplay?docid=-3412294239230716755&pr=goog-sl) aponta que, em resumo, não é possível fazer funcionar indefinidamente um sistema linear dentro de um sistema natural finito, que é complexo, não linear e, acima de tudo, limitado. Possivelmente, uma parte dos problemas vividos pela cidade, como a poluição atmosférica, o trânsito e tantos outros decorrem de nossa insistência em pensar tudo como sistemas simples, lineares e que podem ser resolvidos mexendo-se em apenas uma parte, sem olhar o conjunto, conforme veremos a seguir. Voltemos à água: quanto mais intensa a extração, mais aumenta o rebaixamento do nível da zona saturada, devido a bombeamento excessivo e interferência de poços muito próximos entre si. O nível d’água em um poço em repouso permanece no chamado nível estático. Havendo bombeamento, o nível é gradualmente rebaixado até estabilizar-se no nível dinâmico, que por sua vez depende da transmissividade (a capacidade de transmitir água internamente) do aquífero. Em São Paulo, Guarulhos e outras cidades da área metropolitana há bons exemplos de rebaixamento da superfície da zona saturada devido à superexplotação, que deveria ser mais bem controlada pelo poder público. Em casos extremos, o aquífero pode até se esgotar, quando a taxa de extração é muito maior do que a de recarga. A população de São Paulo não para de crescer, demandando e consumindo cada vez mais água. Também por esse motivo, deve-se combater o desperdício, proteger e preservar a qualidade das águas superficiais e subterrâneas. A poluição da água é observável em córregos e rios, mas a contaminação subterrânea só é detectada por testes especiais. Impermeabilização urbana Rápida análise de mapa geológico da cidade (Fig. 3) revela fato elementar (Carneiro 1999): o rio Tietê, no traçado original, antes de ser retificado, serpenteava sobre planície formada durante seus incontáveis transbordamentos periódicos. No período Quaternário (que compreende os últimos dois milhões de anos), a dinâmica fluvial construiu planícies depositando camadas de sedimentos, neste caso, mais novos que as camadas da Bacia de São Paulo, em função de: a) natureza do relevo adjacente; b) presença de soleiras locais, que são os imponentes obstáculos graníticos que se interpõem, a jusante de Osasco, no caminho do grande rio; c) a própria sazonalidade do ciclo hidrológico (Fig. 2), pois as chuvas jamais se distribuem igualmente ao longo do ano, mas se concentram nos meses mais chuvosos. Para expandir a cidade, urbanizadores retificaram, canalizaram e recobriram rios e riachos, para alojar avenidas como o Anhangabaú, Pacaembu, 23 de Maio, 9 de Julho e outras. A ocupação das áreas aluvionares vizinhas ao Rio Tietê com bairros industriais e residenciais e a construção das vias marginais constituem a pior alternativa possível do ponto de vista geológico (Carneiro 1999). O caso do rio Itororó, que foi canalizado e coberto pela Av. 23 de Maio, exatamente ao lado de onde se localiza o Centro Cultural São Paulo, é exemplar: 81

Figura 3. Trecho de mapa geológico de São Paulo com a grande planície aluvionar (Qa) dos rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros e as zonas onde afloram sedimentos neogênicos (TQs) (Fonte: IPT 1981)

poucas pessoas imaginam, ao passar com seus veículos, que abaixo delas encontra-se um antigo canal fluvial. Quanto mais a cidade se expande, mais a superfície do terreno se impermeabiliza devido às ruas e construções. Resultado: a água que não se infiltra caminha pela superfície, rumo a bueiros e canais, tornando as enchentes mais comuns e mais intensas. Solução paliativa são os piscinões, que se espalham pela cidade a custos elevados. Em muitas cidades adotamse soluções para melhorar a recarga subterrânea. Coletores pluviais de modernos edifícios, avenidas e rodovias são incluídos no projeto arquitetônico e quarteirões inteiros são ocupados por depressões que recolhem a água de chuva; a base, forrada com areia, aumenta a infiltração. Enchentes O desassoreamento do leito do rio Tietê periodicamente extrai sedimentos, lixos, resíduos urbanos e pneus. O volume, no grande rio, desses três últimos indica a alta frequência com que a população os abandona a montante. Tais práticas negativas na relação do cidadão urbano com a cidade deveriam mudar. É preciso conscientizar as pessoas de que educação ambiental é mais do que cuidar de torneiras inutilmente abertas. Os sedimentos naturalmente transportados pelo rio, porém, são um sintoma grave: a erosão nas cabeceiras deixou de ser controlada há muito tempo e isso não é um bom sinal. Os sedimentos não causam cheias, exceto se o volume é tão grande que impeça o livre escoamento do rio. Áreas desprotegidas nas cabeceiras do rio aceleram a erosão, sendo abertas por todo loteamento, aterro, obra de terraplenagem, invasão de terras ou construção de habitações populares. É competência do poder público controlar a ocupação, embora seja mais fácil agir corretiva do que preventivamente, ou seja, executar o trabalho ambientalmente mais consequente de controle de erosão acelerada. Considerações Finais A herança geológica da cidade de São Paulo, formada pela Bacia de São Paulo, de idade neogênica, e pelos aluviões construídos pelos grandes rios que a atravessam, é importante 82

para a cidade. Com pouco mais de 300m de espessura, os sedimentos abrigam água subterrânea. A impermeabilização excessiva, ao lado da falta de controle dos problemas de erosão acelerada em regiões situadas a montante da capital paulista, ajuda a intensificar o fenômeno das enchentes periódicas, um problema de difícil ou impossível solução. Citamos brevemente três exemplos extraídos de nosso patrimônio socioambiental: o abastecimento de água, a impermeabilização urbana e as enchentes. Muitas pessoas que vivem em São Paulo são capazes de listar os problemas mais graves da cidade, mas talvez não tenham percebido quanto o conhecimento geológico pode ser útil para compreender um pouco melhor a dinâmica do ambiente onde vivem. Salientamos que o sistema educacional poderia ser o ambiente apropriado para situar mais precisamente os papéis da água nesses sistemas, que não são, de modo algum, estáticos. Quando a dinâmica urbana interfere na dinâmica natural, efeitos acontecem e muitas vezes eles são desfavoráveis para a sociedade. Um enfoque integrador, nesse caso, deve relativizar o papel do homem como “senhor da natureza”, e aumentar a fundamentação científica para construir uma perspectiva mais responsável frente à natureza, da qual fazemos parte. Referências e Sugestões de Leitura CARNEIRO, C.D.R. 1983. Análise estrutural do Grupo São Roque na faixa entre o Pico do Jaraguá e a Serra dos Cristais, SP. São Paulo: Inst. Geoc. USP. 155p. (Tese Dout.). Carneiro C.D.R. 1999. Recorrência de enchentes nas várzeas de Piratininga. Ciência Hoje, 26(156):68-70. (Opinião). Carneiro C.D.R., Mendonça J.L.G.de, Campos H.C.N.S. 2008. Rios subterrâneos: mito ou realidade?. Ciência Hoje, outubro 2008 (no prelo). Coutinho J.M.V. 1972. Petrologia do Pré-Cambriano de São Paulo e arredores. São Paulo: B. IG-USP, (3):5-100. Coutinho J.M.V. 1980. Relações litológicas e estruturais da Bacia de São Paulo com o Pré-Cambriano circunvizinho. In: MESA REDONDA ASPECTOS GEOLÓGICOS E GEOTÉCNICOS DA BACIA SEDIMENTAR DE SÃO PAULO, São Paulo, 1980. Anais... São Paulo: ABGE/ SBG-NSP. p. 15-12 (Publ. Esp.). Fleeger G.M. 1999. The Geology of Pennsylvania’s Groundwater. 3 ed. Pennsylvania Geological Survey, 4th ser. 34 p. (Educ. Series 3). URL: http://www.dcnr.state.pa.us/topogeo/education/es3.pdf. Acesso em 25.01.2008. Hasui Y., Carneiro C.D.R., Giancursi F.D., Gusso C.L.N. 1976. Condicionamento tectônico da Bacia Sedimentar de São Paulo. In: CONGR. BRAS. GEOL., 29, Ouro Preto, 1976. Anais... Belo Horizonte: SBG. v. 4, p. 257-268. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT. 1981. Mapa Geológico do Estado de São Paulo, escala 1:500.000. São Paulo: IPT. (Monogr. 6, anexo). Merguerian C. 2002. A geological transect from New York city to New Jersey. Hempstead, NY. Hofstra Univ. (Field Trip Notes). URL: http://www.dukelabs.com/Abstracts%20and%20Papers/1CManual0209.htm. Acesso em 18.mar.2008.

Monitoramento da Qualidade das Águas para Ação Ambiental Gustavo Veronesi É fundamental que os problemas relacionados à gestão de Recursos Hídricos deixem de ser uma preocupação dos círculos restritos de especialistas e das pessoas que atuam 83

diretamente com a questão, mas que se tornem uma preocupação de toda a sociedade. A Fundação SOS Mata Atlântica, por meio da Rede das Águas, desenvolve e executa metodologias de educação ambiental, capacitação e mobilização social que são utilizadas como ferramentas de engajamento e desenvolvimento de ações comunitárias para gestão integrada de águas e florestas, em bacias hidrográficas. O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e os Sistemas Estaduais preconizam a gestão integrada, participava e descentralizada da água e adotam o recorte das bacias e subrregiões hidrográficas para implementação da Política Nacional das Águas. Embora bastante estruturado e com ferramentas de gestão como o Plano de Bacias, Cobrança pelo Uso da Água e Comitês de Bacias Hidrográficas em fase de consolidação no País, o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos ainda não é conhecido por uma grande parcela da sociedade. A Fundação SOS Mata Atlântica A Fundação SOS Mata Atlântica é uma entidade privada, sem vínculos partidários ou religiosos e sem fins lucrativos. Seus principais objetivos são defender os remanescentes da Mata Atlântica, valorizar a identidade física e cultural das comunidades humanas que os habitam e conservar os riquíssimos patrimônios natural, histórico e cultural dessas regiões, buscando o seu desenvolvimento sustentado. Fundada em 1986, a SOS Mata Atlântica possui um corpo de profissionais trabalhando em projetos de educação ambiental, recursos hídricos, monitoramento da cobertura florestal vegetal da Mata Atlântica por imagens de satélite, ecoturismo, políticas públicas, aprimoramento da legislação ambiental, apoio à gestão de unidades de conservação, banco de dados da Mata Atlântica, entre outros. Para o desenvolvimento de suas ações a SOS Mata Atlântica é sustentada pela contribuição de mais de 200 mil membros filiados e por apoios, parcerias e patrocínios de empresas privadas, órgãos governamentais, instituições de ensino e pesquisa, entidades e agências nacionais e internacionais. A Rede das Águas É um programa de informação e intercâmbio voltado à mobilização social para gestão integrada da água e da floresta, fortalecimento e aprimoramento de políticas públicas e campanhas do setor. Articula em rede social representante de grupos de monitoramento da qualidade da água, entidades civis, de órgãos gestores de meio ambiente e recursos hídricos, fóruns e redes temáticas. Reúne os projetos da Fundação SOS Mata Atlântica relacionados ao tema água e dissemina metodologias. Consolidou-se como ferramenta de mobilização no setor de recursos hídricos e possibilitou o início das atividades de educação ambiental e mobilização ligadas ao tema água em rede social. Tem como objetivo, sensibilizar, organizar e capacitar cidadãos, usuários de água, representantes da sociedade civil organizada, educadores, estudantes e gestores do setor público para a gestão integrada de recursos hídricos, implementada no País a partir da Lei 9.433/97, com vistas ao uso sustentável da água e ao desenvolvimento de ações locais replicáveis de 84

gestão integrada em bacias e regiões hidrográficas brasileiras. Também tem como meta implementar o Programa de Educação Ambiental e Mobilização para Gestão Integrada de Recursos Hídricos, denominado Observando os Rios. Observando os Rios É um programa de educação ambiental e mobilização que utiliza o monitoramento da qualidade da água como instrumento de sensibilização e engajamento social para gestão da água. A metodologia, desenvolvida especialmente por Samuel Murgel Branco para a Fundação SOS Mata Atlântica, vem sendo aplicada desde a instituição do Núcleo União Pró-Tietê, em 1991, como uma ferramenta de engajamento da sociedade paulista na campanha em prol da despoluição do Rio Tietê. É constantemente aperfeiçoada e foi ampliada para ser aplicada em diversos rios e bacias hidrográficas brasileiras, por meio da formação de grupos de monitoramento que atuam em rede. A partir da consolidação de um termo de cooperação com uma entidade parceira que tenha atuação na bacia hidrográfica são organizadas oficinas para apresentação da proposta. As oficinas ministradas por técnicos da SOS visam oferecer a metodologia do Observando os Rios como instrumento para fomentar o envolvimento direto das comunidades locais, organizar e formar os grupos de monitoramento ambiental que atuarão na coleta e na análise mensal da qualidade da água de rios e córregos em suas cidades e regiões. Esses grupos recebem nome fantasia, ou utilizam o nome da instituição a que pertencem, e são agregados à Rede das Águas. A adesão dos grupos ao programa ocorre por meio da assinatura de um Termo de Adesão e do fornecimento do kit de análise e de um login e senha de acesso para a rede. A atividade dos grupos de monitoramento ambiental é a principal ferramenta de educação ambiental do programa desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica. Ao longo de doze meses os integrantes dos grupos de monitoramento fazem coletas e as análises da qualidade da água dos rios, identificam problemas e elaboraram, em conjunto com a entidade parceira e a Rede das Águas, projetos e ações locais com vistas à conservação e recuperação dos corpos d’água. A coleta e a análise da qualidade da água têm caráter de duração continuada e consistem na principal atividade prática que auxilia os grupos e as entidades parceiras a construírem um retrato ou a caracterização ambiental da bacia hidrográfica, com indicadores de percepção, para engajamento social ao Sistema de Gestão de Recursos Hídricos e à capacitação para o desenvolvimento de ações locais voltadas à defesa e ao uso sustentável da água. Monitoramento Participativo Para que esse processo de educação ambiental apresente resultados ainda

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mais efetivos, no que se refere a um amplo processo de cidadania e participação social, é preciso criar meios de transformá-lo em um programa de duração continuada, de forma a dar subsídios e fortalecimento necessários aos grupos de monitoramento, mantendo-os atuantes em suas regiões. O monitoramento ocorre mensalmente por meio do diagnóstico da qualidade da água, com parâmetros simplificados, feitos pela comunidade, a partir da percepção ambiental e do uso de kits para análises físico-químicas e biológicas. Os kits que são fornecidos aos grupos possibilitam analisar os seguintes parâmetros de qualidade de água: pH, temperatura, fosfato, nitrato, oxigênio dissolvido, coliformes fecais, DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e turbidez. Os kits são fornecidos pelo projeto, sendo que cada grupo realiza análises mensais em trechos previamente escolhidos. Para a realização do monitoramento os grupos utilizam fichas de campo. Além das determinações bio-físico-químicas, também será realizado um diagnóstico ambiental a partir de uma caracterização da área monitorada, totalizando 14 parâmetros observados. Ao final do processo será obtida uma nota de qualidade do rio para o trecho monitorado em função do número de pontos obtidos. Os dados de monitoramento serão repassados para a Fundação SOS Mata Atlântica, que atua coordenando e divulgando os dados. O processamento das informações se dá em um banco de dados online, com recursos do Sistema de Informações Geográficas (SIG) que tem a classificação da qualidade da água do rio no respectivo trecho. De acordo com a “pontuação” encontrada pelo grupo de monitoramento será dada uma nota de qualidade ao rio. Esta classificação de qualidade de água foi dividida em cinco classes: Ótima Boa Aceitável Ruim Péssima A Fundação SOS Mata Atlântica aproxima a metodologia educacional aos parâmetros de monitoramento oficiais: IQA (Índice de Qualidade da Água) utilizado pela Cetesb e às normas vigentes, estabelecidas pelo CONAMA. São objetivos do Observando os Rios: Proteger e recuperar o meio ambiente e a paisagem urbana; Controlar e reduzir os níveis de poluição e de degradação; Incentivar a adoção de hábitos, costumes, posturas, práticas sociais e econômicas que visem à proteção e restauração do meio ambiente; Preservar os ecossistemas naturais e as paisagens notáveis; Garantir a produção e divulgação do conhecimento sobre o meio ambiente por um sistema de informações. Quanto às diretrizes, o Projeto visa esclarecer a população sobre os problemas de uso do solo e da ocupação de fundos de vale, áreas sujeitas à inundação, mananciais, áreas de alta declividade e cabeceiras de drenagem; a ação benéfica quando se amplia a quantidade de áreas permeáveis; evitar a poluição da água, do ar e a contaminação do solo e subsolo. Especificamente, em relação aos Recursos Hídricos, o Projeto se empenha em esclarecer sobre as condições básicas de produção, regularização, disponibilização e conservação de 86

recursos hídricos necessários ao atendimento da população e das atividades econômicas do Município; maximização econômica, social e ambiental da produção de água nos mananciais e aquíferos que abastecem o Município. O Projeto visa também desestimular o desperdício e a redução das perdas físicas da água tratada e o incentivo à alteração de padrões de consumo; o desenvolvimento e aplicação de alternativas de reutilização de água e novas alternativas de captação para usos que não requeiram padrões de portabilidade; o estímulo ao controle social das condições gerais de produção de água, ampliando o envolvimento da população na proteção das áreas produtoras de água. Todas as atividades e ações são fomentadas e promovidas por meio da articulação em rede e os resultados são sistematicamente disponibilizados no endereço eletrônico da Rede das Águas – www.rededasaguas.org.br . MESA 6 - Áreas Verdes, Comunidades e Conservação Áreas Verdes, Comunidades e Conservação Ondalva Serrano Dentro da interdependência existente entre os ecossistemas do Planeta Terra e a grande biodiversidade de seres, por eles gerados, podemos perceber a reciprocidade dos caminhos de mão dupla do universo: “este mundo é meu e eu sou deste mundo”. O corpo do ser humano, além de ser constituído de cerca de 70% de água, ainda é o universo que abriga uma infinidade de outros seres vivos no seu interior e na sua pele; dessa forma grande parte das células que compõem o corpo humano são células não humanas, pois são oriundas dessa enorme quantidade de outros seres vivos que nele convivem: fungos, vírus, bactérias, vermes, protozoários, ácaros, etc. Nós, os seres humanos, somos seres complexos convivendo num mundo complexo. Além de termos um corpo físico constituído por matérias sólidas, líquidas, plasmáticas e gasosas, ainda possuímos corpos energéticos que respondem por nossas ações e nossa existência, ou seja, energia de vida, pensamento, sentimento, vontade, calor, luz, espírito. Essa realidade faz com que nossa existência seja gerida simultaneamente por leis da física, química, biologia, psíquica, quântica, e outras. Somos, portanto, um universo complexo convivendo em outros universos mais complexos ainda, pois o corpo do Planeta Terra é formado pela integração interativa das sociedades de corpos minerais, vegetais, animais, humanos e de microvidas. Com este olhar sobre nossa realidade interna e externa – complexa, dinâmica, interdependente e em processo constante de formação e desenvolvimento –, podemos abordar cada elemento de nossa temática em questão. 87

Áreas Verdes: urbanas, peri-urbanas, ou rurais são ecossistemas geradores de vida e prestadores de serviços essenciais aos seres humanos. Sendo originários da materialidade fornecida pela natureza do planeta terra, os seres humanos se autoconstroem na convivência interativa com a biodiversidade existente em seus ecossistemas. São os ecossistemas (áreas verdes ricas em biodiversidade) que atendem a nossas necessidades básicas de vida, procriação e desenvolvimento ao fornecer ar puro, água potável, afeto, nutrientes, medicações, lazer, conhecimento das leis que regem a vida, abrigo, proteção, beleza da paisagem, etc. De modo sistematizado podemos dizer que os ecossistemas nos prestam serviços de Suporte, Abastecimento, Regulagem Ambiental e Cultural. Suporte: por permitir a existência da biodiversidade e as bases para todas as atividades humanas, culturais, sociais, econômicas, artísticas, políticas e científicas. Abastecimento: por fornecer, ar, água, nutrientes, medicamentos, afetividade nas relações, conhecimento, segurança e saúde em ambiente ético, estético e ecológico. Regulagem Ambiental: por assegurar a ciclagem do ar, da água, da terra, dos minerais, da matéria orgânica e de todas as espécies de vida; por permitir a renovação da qualidade do ar, da infiltração da água das chuvas nos solos abastecendo o lençol freático e consequentemente as nascentes de água potável; por assegurar a estabilidade dos solos controlando a erosão feita pelas chuvas e regulando as condições climáticas por amenizar o clima em regiões quentes, etc. Cultura: por revelar cenários e paisagens inspiradoras da criatividade humana, possibilitando, a partir da convivência interativa, os muitos exercícios possíveis aos seres humanos: aprender, conhecer, fazer, transformar, participar, partilhar, ser, antever e planejar, além de outros; por possibilitar, lazer, meditação, caminhadas, pesquisa, descoberta e desenvolvimento do potencial humano de ser integral. Comunidades: urbanas, peri-urbanas, rurais, integradas ao modelo convencional hegemônico ou as alternativas, como as ecovilas, em fase atual de renovação e expansão. O ser humano, além de ser em si próprio um verdadeiro universo de biodiversidades, ainda é um ser de múltiplos papéis e funções: ele é um ser natural, gerado pela natureza do Planeta Terra; é um ser cultural, criador de obras, produtos e serviços, transformando o meio em que vive; é um ser social pois aprende a viver e atuar de forma interativa e a complementar com seus semelhantes e com outros de outras espécies; é um ser artístico ao perceber a natureza e a qualidade de seu meio e ser capaz de expressá-la a partir da musica, pintura, escultura, teatro, expressão corporal e muitas outras; é um ser econômico porque ao ser capaz de produzir é capaz também de comercializar e trocar seu conhecimento, sua criatividade, seus produtos gerados e seus serviços prestados para auferir receitas e ampliar sua capacidade de trabalho, produção e troca; é um ser político porque desenvolveu a capacidade de criar normas, leis e mecanismos de convivência e interação, de administrar e gerenciar os processos de convivência, produção e distribuição de riquezas e partilha dos benefícios sociais e econômicos, além de controlar e fiscalizar as ações individuais e coletivas; é um ser espiritual

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porque, embora sua materialidade seja originária do Planeta Terra, seu programa de ser humano transcende o espaço desse planeta, ele é um ser do universo, que o concebeu e criou e, portanto, capaz de transitar por toda a galáxia e vir a conviver com outras dimensões deste universo multidimensional no qual estamos todos inseridos e ao qual pertencemos. A complexidade de cada indivíduo se amplia quando nos organizamos em comunidade, exigindo grande esforço de organização, estruturação, e gestão do operar no meio de modo coletivo; a comunidade precisa se organizar para prover todas as múltiplas necessidades de todos os seus habitantes: abastecimento, saneamento básico, educação, saúde, moradia, transporte, segurança e outros; para esse mesmo fim, precisa ainda atuar em setores, meio de concepção, planejamento, execução, fiscalização e controle social para assegurar eficiência e efetividade nas ações de interesse coletivo. A organização, estruturação e gestão de comunidades urbanas, peri-urbanas, rurais, convencionais ou ecovilas precisam estar comprometidas com o equilíbrio, a racionalidade e o respeito no uso dos recursos da natureza e da sociedade para não gerar desestruturações e destruições que comprometam a qualidade e a sustentabilidade da vida no planeta. O não respeito à capacidade de suporte do meio, à capacidade de abastecimento local das necessidades internas de sua população, à capacidade de reciclar e recuperar os impactos das ações dos seres humanos no meio, e à capacidade de gerar oportunidades culturais a todos os seus habitantes, pode tornar essas comunidades insustentáveis e inadministráveis com qualidade e dignidade. Conceber, implementar e desenvolver modelos de uso e manejo sustentável do meio com tecnologias humanas, sociais e ambientais adequadas, que assegurem baixo nível de impactos negativos no ambiente pode assegurar equilíbrio, harmonia, sanidade, solidariedade e suficiência no suprimento das necessidades da população e na qualidade das relações interpessoais. Promover a conscientização das comunidades para o compromisso de todos, ao longo de toda a cadeia produtiva e distributiva dos bens e serviços, pelo uso responsável dos recursos naturais é fundamental nos dias de hoje; essa atitude é indispensável para fazer face ao aquecimento global e à necessidade de redução do impacto de nossa pegada ecológica sobre o meio ambiente. Conservação: segundo o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação (julho de 2000) –, seria o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações; porém mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral. Essas cinco funções abarcadas pela Conservação – preservação, manutenção, utilização sustentável, restauração e recuperação – podem e devem ocorrer de modo simultâneo pela ação antrópica consciente e responsável nas áreas verdes de nossos meios urbanos, periurbanos e rurais da atualidade para assegurar melhor qualidade de vida para todos: Preservação e manutenção do que sobrou de áreas verdes, em decorrência da ação inadequada dos seres humanos sobre o meio natural para permitir a produção e multiplicação dessas espécies remanescentes; Restauração e recuperação das áreas degradadas pelo uso inadequado dos seres 89

humanos na busca de atendimento a suas necessidades básicas e principalmente da geração e acumulação de riquezas pelo uso desequilibrado dos recursos do planeta, superando sua capacidade de suporte no curto prazo; Utilização sustentável de todas as áreas preservadas e recuperadas para não mais comprometer a vida e a continuidade da existência humana com qualidade e sanidade sobre a terra. A herança deixada pelo modo de uso e manejo dos recursos naturais no século XX gerou um paradoxo: forte impacto destruidor da natureza (ecossistemas) comprometendo a qualidade do meio, da vida e da saúde humana, ao lado de acelerado processo de conscientização em todas as esferas sociais do papel dos ecossistemas para a vida e sua qualidade no planeta. Os modelos adotados de urbanização, especulação imobiliária, industrialização poluidora e de baixo rendimento, transporte centrado em combustíveis fósseis, produção de bens e serviços com alto nível de desperdício, crescente índice de queimadas e desmatamentos, matriz energética de alto custo e impacto socioambiental, governança com baixo nível de consciência ambiental, dentre outros, tem sido os principais fatores de alteração da qualidade e capacidade do meio natural em atender às necessidades humanas. São esses fatores e seus impactos que precisam ser revisados agora no século XXI para corrigir os desvios de conduta adotados no século XX. Para tanto os novos conceitos paradigmáticos de consumo responsável, ecomercado de trabalho, tecnologias apropriadas, comércio ético e solidário, sociedade sustentável, dentre outros, estão sendo objeto de reflexão e de experimentação prática de implementação em diversas áreas culturais e étnicas do globo. Dentre as diretrizes para a construção de novas formas e modelos de ação no meio estão sendo recomendados, dentre outros, o uso e respeito das leis e mecanismos dos ecossistemas para orientar a intervenção no meio; a prática do empreendedorismo com responsabilidade humana, social e ambiental; o uso da ética na prática cotidiana e nas relações interpessoais; a adoção de tecnologias apropriadas, de baixo custo e impactos positivos no meio socioambiental. Neste momento torna-se importante o desenvolvimento de uma nova percepção de vida, de mundo e sustentabilidade; a mudança de padrões culturais e de hábitos de consumo; o resgate do direito à vida saudável, simples e solidária; o papel dos grupos organizados na defesa dos seus direitos; e a promoção de políticas públicas de educação, segurança alimentar, habitação, transporte, saúde humana, familiar e pública, etc. O equilíbrio e a harmonia desejados serão alcançados com a prática do protagonismo, da cooperação, da complementaridade, e da mediação de conflitos com auxilio do diálogo entre lógicas diferentes em busca de consensos e convívio solidário. O verde urbano Roseli B. Torres Bióloga (Botânica) Pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas – IAC Nas últimas décadas o processo de urbanização acelerada levou à ocupação desordenada do solo nas cidades. Áreas ambientalmente frágeis, em decorrência do tipo de 90

solo ou da declividade do relevo, por exemplo, e áreas de preservação permanente são transformadas em bairros ou ocupações irregulares. Mesmo as áreas de preservação permanente, definidas no Código Florestal da década de 1960, como as margens de rios, lagos e nascentes são urbanizadas ou transformadas em áreas de lazer, em loteamentos fechados. No caso dos loteamentos fechados, a tendência atual é a de valorizar essas áreas que, no entanto, sofrem um manejo totalmente inadequado, o que compromete a sobrevivência das espécies e a sua função ecológica. Ao lado da utilização das áreas que são legalmente protegidas, observa-se que os remanescentes de vegetação nativa também são destruídos para dar lugar a novos bairros ou ocupações irregulares. E para agravar ainda mais a situação ambiental caótica das cidades, a arborização urbana, os bosques e praças, dentre outros espaços com vegetação, são considerados um entrave à segurança pública, um problema de limpeza para as donas-de-casa e um estorvo para o trânsito e o estacionamento dos veículos. Apesar do consenso sobre a necessidade de mudarmos de atitude em relação ao nosso ambiente; dos problemas acarretados pelo modelo de desenvolvimento econômico, como o aquecimento global, e das várias leis que protegem o ambiente, o processo de destruição da vegetação nativa e da arborização urbana continua. Em várias culturas, as árvores são consideradas sagradas, um símbolo da própria vida, com suas raízes fincadas na terra e sua copa voltada para o céu, interligando estes dois planos da vida na Terra. Para além de uma percepção poética ou simbólica das árvores, elas realmente oferecem uma série de “serviços” ambientais, especialmente nas áreas urbanas. As cidades, de um modo geral, estão circundadas por paisagens homogêneas, com grandes extensões de monoculturas, como pastagem, cana, café, eucalipto, pinheiros, laranja, soja, etc. Além disso, as cidades, devido à poluição atmosférica e à impermeabilização de grandes áreas (com asfalto ou concreto, por exemplo), constituem-se em ilhas de calor, como se fossem gigantescas estufas. Nestas “estufas” a evaporação da água do solo impermeabilizado é menor, o que diminui o efeito refrescante que a umidade do ar produz. As águas da chuva escoam rapidamente sobre as ruas, e por meio da canalização urbana, e as enchentes são outra consequência da impermeabilização do solo. Além disso, esteticamente, as cidades têm se transformado em áreas visualmente degradadas e agressivas. Os benefícios da floresta urbana são muitos e variados: as árvores tornam o clima mais ameno, pois interceptam parte da radiação solar que chega à Terra; aumentam a umidade relativa do ar, devido à transpiração que ocorre em suas folhas, ajudando também a diminuir a oscilação da temperatura ambiente. O clima mais ameno que as árvores propiciam faz com que as pessoas utilizem menos os aparelhos de ar condicionado. O asfalto das ruas em que existem árvores também é menos aquecido, o que diminui não só a liberação de substâncias tóxicas como também o gasto com sua manutenção. Ou seja, esses benefícios representam economia de verbas públicas para a manutenção do asfalto de ruas e avenidas, e economia doméstica com menor demanda de refrigeração, além de menor consumo de energia. As plantas de um modo geral, e as árvores em particular, removem grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2), contribuindo para diminuir o efeito estufa, responsável pelo aquecimento do Planeta. As copas das árvores funcionam como um anteparo para a chuva, suavizando o impacto dos pingos no chão e, assim, diminuem a erosão e melhoram a absorção da água pelo solo. A água que 91

penetra lentamente no solo é fundamental para o reabastecimento do lençol freático. Muitas cidades dependem da água subterrânea para abastecer parte da população. Quando a chuva se infiltra no solo, ajuda também a reduzir o volume de água que escorre superficialmente e que causa as enchentes, desmoronamentos e danos materiais e pessoais. As árvores funcionam como um quebra-vento, diminuindo a velocidade e alterando a direção dos ventos. Também são um filtro das partículas sólidas suspensas no ar, reduzindo a poluição atmosférica. Ainda ajudam a diminuir a poluição sonora, amortecendo parte dos ruídos da cidade. Vários estudos têm demonstrado que uma pessoa que olha uma paisagem natural fica mais relaxada que outra olhando uma cena urbana. A pulsação, a pressão sanguínea e as ondas cerebrais diminuem de intensidade quando uma pessoa contempla uma paisagem natural. A floresta urbana também desempenha importante papel do ponto de vista estético e recreativo, como que emoldurando ruas e avenidas, contribuindo para a redução do efeito muitas vezes agressivo das construções que dominam a paisagem urbana. As árvores, assim como os jardins e as edificações de uma cidade, contam a sua história. Como os monumentos, também as árvores têm significado simbólico para os moradores de uma cidade, podendo estar associadas a fatos históricos marcantes. Em Campinas, por exemplo, o edifício que abriga a administração pública chama-se Palácio dos Jequitibás, devido às árvores que existem no local. Levando em conta todos os variados aspectos positivos e benefícios que a floresta urbana oferece, deveríamos considerá-la tão importante para a saúde pública quanto a oferta de água tratada, a construção das redes de canalização e das estações de tratamento de água e esgoto, bem como as medidas de controle da poluição, dentre outros aspectos. Outra questão que deve ser considerada quando pensamos na floresta urbana é o alto grau de desmatamento da maioria dos municípios do Estado de São Paulo. Em Campinas, por exemplo, o que sobrou da vegetação nativa, na forma de pequenos e isolados fragmentos, não chega a 3% do território. Nesses espaços reduzidos, as espécies nativas estão em risco de extinção, tanto as plantas como os animais. Vários remanescentes dessa vegetação estão em bosques urbanos, isolados no meio do asfalto e das construções e, na maioria dos casos, cercados por alambrados (por uma questão de segurança pública). Neste sentido, a floresta urbana pode contribuir para a conservação das espécies nativas. O uso de espécies nativas na arborização urbana permite que os moradores da cidade conheçam parte da vegetação nativa da sua região, ou do País, valorizando seus recursos naturais. No Estado de São Paulo, por exemplo, estima-se que existam aproximadamente 2 mil espécies diferentes de árvores, mas somente algumas são utilizadas na arborização das cidades. As árvores atraem e fornecem alimento para muitas espécies de animais, como insetos, pássaros e morcegos. A arborização urbana planejada, utilizando diferentes espécies nativas, ajuda a conservar também pelo menos parte da fauna nativa da região. Políticas públicas que levem em conta a qualidade de vida da população devem considerar tanto a participação da comunidade na discussão de alternativas para as questões ambientais como medidas efetivas de implantação e proteção da floresta urbana. No campo da política ambiental, a questão da necessidade de maior sinergia entre a comunidade científica e o público dito “leigo”, visando ao fomento da chamada “ciência cidadã”, é tema recorrente de discussões, tanto na esfera internacional quanto nos processos de discussão e de implantação de marcos regulatórios locais. É necessário aumentar a participação pública para frear a 92

deterioração do ambiente no mundo e para retardar o crescimento global da pobreza. Nesse sentido, maior transparência e responsabilidade podem levar ao manejo mais justo e mais efetivo dos recursos naturais. Os governos devem aumentar a participação das comunidades locais nas decisões que afetam o ambiente e integrar os impactos ambientais nos cálculos das decisões econômicas. E a sociedade civil deve, por outro lado, conquistar seus espaços de participação, discussão, deliberação e fiscalização das políticas ambientais. Em vários países, como os da Europa Ocidental, Canadá, Nova Zelândia, Índia, México, entre outros, procedimentos participativos já fazem parte do processo de construção de políticas ambientais. Por exemplo, a participação nos Conselhos de Meio Ambiente, nos variados níveis, municipal, estadual ou federal, pode influenciar e tem influenciado e direcionado a discussão e a implantação de políticas públicas ambientalmente mais justas. Em termos práticos, para a melhoria da qualidade de vida e do ambiente urbano, algumas medidas podem ser adotadas, e algumas já foram adotadas em municípios brasileiros, como a criação de incentivos fiscais, como a taxação do IPTU proporcional à área do terreno que está impermeabilizada. A maioria das cidades não tem equipes técnicas estruturadas, com profissionais concursados, que tenham a responsabilidade de propor áreas prioritárias para a recuperação das matas ciliares e de nascentes, e planos de manejo para os remanescentes de vegetação nativa, com especial atenção para aqueles que se encontram nos bosques urbanos. Estas equipes também devem organizar os viveiros municipais para a produção de mudas nativas; o planejamento e a manutenção adequados da arborização urbana, considerando a importância da conservação das espécies nativas e dos remanescentes de vegetação; o desenvolvimento de programas de educação ambiental que valorizem a vegetação e a fauna nativas, dentre outras atribuições. Mas somente se a sociedade civil estiver organizada e mobilizada será possível cumprir a legislação que já existe, nos diferentes níveis administrativos; criar novas normas de proteção do ambiente, quando necessário, e fiscalizar a ação do poder público e dos interesses privados. Relatos de experiência ExperimentAÇÕES Ambientais Ermelinda Moutinho Pataca De forma complementar às reflexões do fórum, imaginamos um espaço aberto aos relatos de experiências. Inovamos na experimentação quando pretendemos dar voz e vez àqueles que realizam atividades em educação ambiental, num espaço de socialização, divulgação e troca de experiências. E, para expressarmos os objetivos do novo eixo do Este mundo é meu!, nada melhor do que os relatos das idealizadoras, registrados nas mensagens eletrônicas no momento de criação. Na tentativa de ampliar a atuação do público, já presente nas seis edições anteriores, Lizette pretendia que as escolas participassem mais ativamente: “Bem, quando pensei em dar oportunidade às escolas, foi na intenção de elas estarem 93

mais presentes no evento, e não só como espectadoras... escolas também trabalham com meio ambiente, e nada mais pertinente do que elas estarem inseridas, principalmente aquelas que ninguém dá nada por elas, sem nenhum apoio, de bairro difícil, e é justamente ali que existe um trabalho inteligente, de pessoas conscientes e esforçadas”. Inicialmente, este espaço estava sendo idealizado para a participação mais ativa das escolas a partir de relatos coletivos de grupos articulados em projetos de educação ambiental realizados em parceria com outras instituições. Pensando dessa forma, os relatos também são coletivos, com a apresentação de diversos representantes dos projetos, como professores, alunos, membros das comunidades, pesquisadores, educadores. “Estamos propondo coisas novas, diferentes do que costuma se fazer em outros encontros. O que nós queremos: sair do senso comum. As escolas, até onde eu sei, não costumam ser chamadas a dar depoimentos ou relatos de experiência... Pensei que se poderia dar o nome de Experimentações escolares e o meio ambiente - relato de experiência.” A proposta foi amadurecida e ampliada. Não é somente nas escolas que são desenvolvidos projetos de Educação Ambiental, mas outros espaços também experimentam novas ações com o meio ambiente. Dessa forma, esse fórum de relatos foi ampliado para a participação de ONGs, centros de pesquisa, espaços culturais, bibliotecas, universidades.Assim, as Experimentações escolares se transformaram em ExperimentAÇÕES Ambientais, como um espaço para relatos de experiência, apresentação de práticas culturais e educacionais. Na primeira sessão serão apresentados três projetos de educação ambiental desenvolvidos em ambientes escolares. Priorizamos dois projetos de formação de professores que desenvolvem simultaneamente o ensino e a pesquisa em ambientes escolares. Será apresentado o Projeto Anhumas na Escola, desenvolvido em Campinas sob coordenação do professor doutor Maurício Compiani, e o projeto de Educação Ambiental em áreas rurais, com coordenação da professora doutora Nídia Pontuschka. Ambos têm muito em comum: são desenvolvidos numa associação entre escolas públicas e universidades, a partir da pesquisa colaborativa, em que os professores assumem a pesquisa, e de reflexão de sua própria prática pedagógica. Além desses projetos que podem ser mais bem conhecidos nos textos aqui apresentados, durante o evento ainda serão apresentados os projetos de Educação Ambiental desenvolvidos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima. Na segunda sessão o foco é concedido à atuação de ONGs associadas a centros de pesquisa na execução de projetos de Educação Ambiental. O Instituto Socioambiental (ISA) irá apresentar o Programa Mananciais, que tem produzido informações e materiais para subsidiar 94

reflexões e ações sobre o consumo da água e a conservação dos recursos hídricos. Além deste, será ainda apresentado o Programa de Jovens – Meio Ambiente e Integração Social (PJMAIS), numa associação entre Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, Instituto Florestal, Associação Holística de Participação Comunitária e Ecológica – Núcleo da Terra e coordenações locais. Este é um programa de formação integral e ecoprofissional de adolescentes entre 15 e 21 anos, da rede pública de ensino, em situação de vulnerabilidade social, moradores de zonas periurbanas do cinturão verde de São Paulo. Na terceira mesa serão apresentados projetos de educação ambiental desenvolvidos em Universidades. Teremos a presença de representantes da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, que falarão sobre o projeto de criação da Universidade do Meio Ambiente e da Paz, a UMAPAZ. Nessa mesma sessão será apresentado o Programa USP Recicla, desenvolvido nas unidades da USP na capital e no interior com o objetivo de fomentar posturas participativas e reflexivas de diferentes atores em relação ao consumo responsável e à problemática ambiental. Por último, pretendemos refletir sobre o papel dos organismos culturais em projetos ambientais. Serão apresentados projetos desenvolvidos no CEU Feitiço da Vila e na Biblioteca Temática de Meio Ambiente, Raul Bopp. Esperamos que este módulo de atividades seja repleto de experiências e ações que enriqueçam o debate ambiental, na busca de ações coletivas e colaborativas nos diversos setores da sociedade!

Projeto Rio das Anhumas nas escolas Maurício Compiani (coord.) - Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG-UNICAMP) “Poucos sabem qual é o rio da minha aldeia, para onde ele vai e donde ele vem”, canta Fernando Pessoa quando expressa seu amor pelo rio de sua aldeia, para ele, mais importante do que o grande rio Tejo, o maior rio português. Nas nossas escolas, a situação é oposta. Elas tratam das grandes bacias brasileiras, mas ignoram as bacias nas quais estão inseridas. Poucos conhecem os rios e as bacias invadidos pelas nossas cidades. Se nós estamos em bacias hidrográficas, nosso olhar está distante delas. Os rios das nossas vizinhanças, transformados em lugares de lixo e esgoto, em geral, só voltam a fazer parte de nossas vidas quando eles viram manchete de um jornal que noticia mais uma enchente ou mais um problema de saúde pública. Como trazer para as escolas e comunidades os rios de suas “aldeias”? Esta é a tentativa do projeto Conhecimentos escolares relacionados à ciência, à sociedade e ao ambiente em microbacia urbana, do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG/ Unicamp), do Instituto de Biologia (IB/Unicamp), da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE/USP) e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), até 2010, e com o patrocínio da Petrobras Ambiental, até 2009. Um dos objetivos do projeto é construir currículos locais com a plena 95

participação dos professores. O rio da nossa “aldeia” é o ribeirão das Anhumas, que corta a cidade de Campinas, passando por áreas já ocupadas e áreas em processo de expansão urbana, bastante degradado em vários trechos e sujeito a ocupações, a inundações, ao assoreamento. A bacia do Rio das Anhumas foi anteriormente objeto de um projeto de políticas públicas – Recuperação ambiental, participação e poder público: uma experiência em Campinas – realizado pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto de Geociências da Unicamp e Prefeitura Municipal de Campinas. Esta pesquisa reuniu uma grande quantidade de dados e análises, incluindo meio físico, meio biológico, meio social e os riscos ambientais. O desafio é transformar os dados desse projeto científico em conhecimento escolarizado por meio de uma parceria entre as escolas estaduais Professora Ana Rita Godinho Pousa e Adalberto Nascimento, as instituições de pesquisa envolvidas no projeto anterior e os especialistas em ensino de ciências do Instituto de Geociências. A novidade é vinte professores da rede pública e 15 pesquisadores, em um real processo de troca e colaboração, no qual os professores serão os produtores deste conhecimento escolar, não meros aplicadores de conhecimentos previamente selecionados e formatados por especialistas, como reza a tradição. Como chegar lá? Como construir currículos locais? Os professores estão passando por um processo de formação continuada na tentativa de promover uma visão crítica e reflexiva sobre as questões socioambientais, que resultem em ações e intervenções na busca de uma melhor qualidade de vida das comunidades afetadas. A escola, com seu coletivo de professores de diferentes áreas do conhecimento, tem um papel preponderante e indispensável na transformação das relações homem/ambiente. Os pesquisadores estão num processo de aprendizagem com vistas a constituir uma cultura de colaboração entre universidade, rede pública e partes da administração direta pública.Foram horas e mais horas de trabalho das equipes em 2007. Cento e noventa seis horas de oficinas, chamadas de disciplinares, que trataram de temas como geologia, pedologia, botânica, zoologia, cartografia e riscos ambientais da bacia do ribeirão das Anhumas, ministradas por dezoito pesquisadores. Mais sessenta horas de oficinas temáticas que trataram de educação ambiental (EA), relação conhecimentos locais e regionais (local/regional), interdisciplinaridade e ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA). O ano anterior visou-se introduzir, conhecer e preparar os projetos pedagógicos para aplicação nesse ano de 2008 sobre a microbacia do ribeirão das Anhumas, buscando o uso racional dos recursos hídricos. Esses projetos pedagógicos da escola, de grupo de professores e de cada professor de caráter interdisciplinar estão sendo aplicados em turmas do ensino fundamental e médio. Associado aos projetos pedagógicos aplicados em cada sala de aula está sendo elaborado um projeto de pesquisa individual de uma situação de ensino-aprendizagem, mas articulado a um projeto de um grupo maior de professores e orientado pelos parceiros da universidade. Outra perspectiva diferenciadora do projeto é a ideia de que coletivos de professores são uma forma de trabalho importante no contexto escolar. O trabalho é elaborado, discutido e avaliado pelos grupos de pesquisa de professores das escolas e pelos pesquisadores, quinzenalmente, pelo conjunto de grupos de pesquisa de cada escola semanalmente e pela 96

equipe toda do projeto, em encontros duas vezes ao ano. Numa terceira fase, as escolas pretendem estreitar a relação escola/comunidade, elaborando, por exemplo, a Agenda 21 da bacia do ribeirão das Anhumas, entre outras atividades. Estudos do Meio e o conhecimento ao ar livre No segundo semestre de 2007, alunos da Escola Estadual Adalberto Nascimento tinham ouvido a respeito das péssimas condições ambientais do ribeirão das Anhumas. Duas alunas entre esses estudantes estiveram em dezembro de 2007 no seminário de final de ano do projeto dando o seu depoimento sobre o estudo do meio realizado depois dessa aula. Elas disseram que, embora tivessem ouvido em sala de aula sobre a degradação do ribeirão, somente no estudo do meio realizado no ribeirão das Pedras, afluente do Anhumas, puderam realmente perceber a gravidade da situação. “O asfalto está apenas a 2 metros da nascente... e o parque linear do ribeirão das Pedras está abandonado. A situação é muito pior do que aquela que imaginamos quando assistimos às aulas. Estou muito impressionada com o que vi e hoje é muito mais importante lutar pela recuperação do rio.” Esse despertar de um novo entusiasmo para aprender e para participar já era umas das justificativas apontadas pelo projeto para a realização de estudos do meio Vários alunos moram às margens dos rios e muitas vezes eles estavam em sala de aula, enquanto suas casas eram invadidas pelas águas nos episódios de cheia. Todos que por lá passam ou lá vivem são incomodados pelo mau cheiro que exalam. Estudos do meio remetem à localidade e ao cotidiano das pessoas, aproximam as escolas de suas comunidades. Os depoimentos relacionados ao primeiro estudo do meio dos alunos já foi reflexo direto da experiência vivenciada pelos professores das escolas da rede pública nas oficinas disciplinares. Todas as oficinas disciplinares, geologia, pedologia, risco ambiental, botânica e zoologia, realizaram estudos do meio. Professores e pesquisadores de todas as áreas estiveram 48 horas conhecendo, sob vários enfoques, a bacia do ribeirão das Anhumas. Este ano as escolas já realizaram sete estudos do meio. Mais do que um local de atividade e de conhecimento especializado, essa experiência é uma oportunidade de trocas, com a valorização da escola enquanto produtora de conhecimentos socialmente válidos. Os estudos também permitem contato direto com a natureza e os seus processos e possibilitam a integração entre os saberes prévios e as observações e os dados obtidos no local. A compreensão do lugar é essencial para a construção da prática da sustentabilidade e da educação ambiental na bacia e os estudos do meio, essenciais para elaboração de itinerários curriculares que adotem a investigação sobre o local como eixo da dinâmica curricular

foto 1 - Produção de maquetes nas oficinas para professores da escolas Adalberto Nascimento e Ana Rita

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Educação Ambiental em municípios rurais paulistas Nídia Nacib Pontuschka Representações sociais estudadas do ponto de vista da Psicologia Social direcionaram esta pesquisa no sentido de que as representações conscientes ou inconscientes, intelectuais ou reais orientam a vida dos indivíduos. As representações sociais constituem fenômenos atuantes na sociedade, produzidos pelos indivíduos e sempre revelam a marca do meio a que pertencem. Diante dessas preocupações teóricas, houve a concentração de esforços no conhecimento e na compreensão da origem das representações sociais sobre as questões ambientais. Os contatos iniciais com os professores das escolas revelaram que as representações sobre o meio ambiente e a educação ambiental eram diferentes e até mesmo conflitantes. Uma questão se colocava: como fazer emergir as representações sociais sobre o ambiente pertencentes aos diferentes grupos organizados das sociedades locais? A pesquisa apoiou-se no conhecimento das representações sociais sobre o ambiente e a educação ambiental desenvolvidas nas escolas; na qualidade de vida das populações locais; nos vínculos existentes entre os temas abordados na sala de aula e a realidade dos municípios rurais; e nas ações interdisciplinares realizadas com os sujeitos sociais envolvidos. O objetivo maior da equipe de pesquisadores era que o Projeto contribuísse para a qualificação das pessoas do ponto de vista ambiental com o comprometimento individual e coletivo, para com a vida saudável dos municípios. O diagnóstico das condições ambientais, a análise dos impactos ambientais detectados pelos diferentes usos dos solos e sistemas de cultivo, o desvendar dos processos responsáveis pelo desmatamento generalizado; a análise da qualidade da água e a formação de “boçorocas”16 , a avaliação das condições de moradia, trabalho, educação e saúde das famílias dos moradores realmente propiciaram um acúmulo de experiências e de conhecimentos que, aos poucos, foram penetrando nas escolas. Na Educação, a prioridade da pesquisa colocava-se no sentido de fortalecer a relação da Faculdade de Educação da USP com as escolas do Ensino Básico dessas localidades, pois o conhecimento das representações sociais dos professores e da coordenação permitiria a reflexão dos pesquisadores e dos sujeitos sociais presentes nas escolas. Professores e alunos da Faculdade de Educação e da ESALQ da Universidade de São Paulo trabalharam com as escolas de Vera Cruz no planejamento do ano letivo em cursos direcionados ao ensino da Matemática; com oficinas de fotografias; com Estudos do Meio, visando a um conhecimento abrangente da cidade, promovendo relação entre a escola e as disciplinas escolares. Os professores, individualmente, aproveitaram os cursos, as reuniões e o trabalho de campo, nesses momentos de encontro e de troca bastante significativos. No entanto, apenas uma das escolas – a Gonçalves Dias17 – mostrou ter absorvido as discussões e integrado as metodologias e técnicas ao currículo escolar e, até mesmo, ido além das expectativas em relação às atividades pedagógicas, recriando-as e (re)significando-as. Ao se iniciar o Projeto de Educação Ambiental em Espírito Santo do Turvo, em1999, a população do município era pouco maior de 3 mil habitantes, sem contar a população flutuante que vivia em precárias condições de moradia, durante a safra da cana-de-açúcar. Contavam98

se 1200 alunos inscritos na EEPSG Dom Pedro de Alcântara, mas a evasão acontecia no decorrer do ano, por variados motivos: os alunos trabalhadores precisavam ajudar seus pais nos pequenos sítios ou trabalhar nas safras de cana-de-açúcar da usina produtora de álcool18 , ou de laranja, na Empresa Guacho19 . Os professores, na safra da cana, preocupavam-se porque os alunos abandonavam a escola para ganhar algum dinheiro durante os seis meses de atividade na agroindústria. Outro aspecto constatado foi a falta de professores de determinadas disciplinas por longos períodos, o que desestimulava os alunos a frequentarem a escola estadual. A educação ambiental realizada na Escola Estadual restringia-se a estudos pontuais nas disciplinas de Ciências, Biologia e Geografia. Não fazia parte do Projeto Pedagógico a preocupação das várias disciplinas com a questão ambiental e a educação ambiental. A horta escolar era cultivada para melhorar a refeição oferecida aos alunos, mas não havia reflexão durante as aulas a respeito da importância da variedade na dieta alimentar. Hábitos de higiene eram estudados de forma mecânica, sem modificar comportamentos. Havia a “festa do verde”, com a participação dos professores, alunos e pais, mas, ao terminar o evento, os conteúdos tratados em sala de aula não se vinculavam ao movimento que existira na escola. Professores e estudantes desta escola estavam integrados ao Projeto de Educação Ambiental. Desse modo, houve um recomeço no sentido de estabelecer novos vínculos com as escolas. O trabalho se solidificou em 2000, com a participação dos pesquisadores no planejamento em que se fez uma investigação conjunta com os professores, tendo como objetivos o conhecimento da realidade dos alunos das escolas; dos diferentes grupos comunitários existentes na cidade em consonância com a pesquisa e as ações do Projeto. Foram planejados e concretizados Estudos do Meio, entendidos como método interdisciplinar de ensino e pesquisa com os professores e coordenadores pedagógicos. No retorno do trabalho de campo, foram realizadas discussões sobre a metodologia da pesquisa de campo e como as informações poderiam ser incorporadas ao Currículo Escolar. Na reflexão junto aos alunos, muitos problemas vieram à baila. Por exemplo, as condições do Jardim Canaã, conjunto habitacional de casas populares, onde morava grande número de alunos. Ali havia problemas de locomoção para os moradores, sobretudo nos dias de chuva. As ruas principais de acesso à área central da cidade foram construídas de acordo com a declividade do terreno, sem calçamento os processos erosivos tornavam essas vias quase intransitáveis. Essas condições foram o cerne da formação da Sociedade de Moradores para pensar os problemas da cidade e do bairro. Um outro aspecto importante foi a pobreza da população. A entrevista com os artesãos e a Associação de Mulheres resgatou, parcialmente, a história do município em relação às condições de sobrevivência e de trabalho da população, mostrando a necessidade de fortalecimento e de criação de novos grupos organizados da sociedade local, já que a agroindústria produtora de álcool sofria oscilações em seu funcionamento, tanto na entressafra como nas mudanças de proprietários, o que ocasionava o desemprego e a não-garantia dos direitos dos trabalhadores rurais. A Escola Técnica Agrícola Estadual de Vera Cruz “abriu as portas” para os pesquisadores da USP e do Instituto Agronômico de Campinas e foi importante espaço para a pesquisa de uma microbacia próxima. Houve a produção de conhecimentos fundamentais para a aplicação

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nos cursos e na própria agricultura, com o alvo de preservar e conservar as condições ecológicas. Observamos que os professores do interior de São Paulo enfrentam problemas semelhantes aos colegas das grandes cidades, pois trabalham em mais de uma escola para compor seu salário e, por vezes, em mais de um município. É o conjunto desses trabalhos que lhes permite viver dignamente, mas com grande desgaste físico e mental, o que se mostra como um obstáculo a atividades pedagógicas interdisciplinares. O trabalho com as representações ambientais foi feito durante o planejamento, em 2000, pois a temática interessava à escola e à formação dos professores pois, de acordo com a Constituição Brasileira de 1989, a Educação Ambiental deve ser incluída em todos os níveis de ensino. No entanto, isso está apenas no papel, situação a ser revertida com urgência. Na E.E. de Espírito Santo do Turvo dois problemas foram destaque porque interferiam profundamente no trabalho pedagógico: a rotatividade do corpo docente e a origem da maioria dos professores moradores em outro município. Esses dois fatores fizeram com que o conhecimento dos vários aspectos da realidade local não sofresse um aprofundamento na Escola e que houvesse um contínuo recomeçar. A pesquisa começou, gradativamente, a apresentar resultados, ainda que parciais, de seus trabalhos e a Faculdade de Educação da USP continuou a realizar reuniões com os grupos organizados de Espírito Santo do Turvo – grupos de mulheres, artesãos, idosos, jovens, com representantes das secretarias do governo municipal – para ouvi-los e conjuntamente encontrar soluções para os problemas gerais e, especificamente, os ambientais. O curso As relações Interpessoais como alavancas para o desenvolvimento pessoal e atuação socioambiental foi realizado para representantes dos grupos organizados da cidade, com base no psicodrama pedagógico. Esse curso foi considerado um sucesso pelos participantes de Espírito Santo do Turvo. O prefeito solicitou que se fizesse o mesmo trabalho com os coordenadores das secretarias municipais, com o objetivo de maior integração entre os agentes do governo e a melhoria da qualidade da prestação de serviços. Durante esses cursos, tanto com os grupos organizados da sociedade local como com os funcionários do staff da prefeitura, emergiram concepções sobre o meio ambiente, foram detectados problemas e levantadas propostas de solução. A participação dos secretários estreitou as relações com o Projeto de Educação Ambiental e evidenciou a importância da pesquisa da Universidade, na mobilização dos grupos comunitários e na reflexão conjunta sobre a cidade. Das representações sociais que afloraram, dos desenhos realizados sobre a cidade atual e do futuro surgiu o plano diretor da cidade, incorporado no projeto de governo. À medida que o trabalho se desenvolvia, as representações sociais sobre o meio ambiente emergiam, as discussões apararam arestas e as soluções apareceram. De início, mexia-se com a periferia das representações, mas, gradativamente, elas foram sendo mudadas e, houve enriquecimento nas representações traduzidas em ações participativas, revelando mudanças qualitativas tanto nos indivíduos como no coletivo. O Grupo de Mulheres participou de trabalhos conjuntos com as escolas e algumas mães acompanharam os filhos em trabalhos de campo organizados pela escola municipal. Houve a participação das escolas no mutirão de limpeza da cidade e dos quintais; na limpeza da escola; no plantio de árvores à beira do córrego da cidade. Todo esse trabalho começou devagar e aos poucos foi se consolidando. 100

O Projeto da Escola Municipal na Empresa Guacho, com várias visitas de alunos, mães e professoras com as crianças de 1ª à 4ª série, destacou-se pois, ao abraçar o Estudo do Meio, o fez por iniciativa própria. É preciso lembrar que muitos pais trabalhavam nessa empresa como colhedores de laranja. Todas as classes da escola, em agenda combinada entre a Direção e a empresa, participaram das atividades do Estudo e discutiram sobre as observações e os registros feitos. No retorno, houve o levantamento das percepções e sensações individuais e coletivas, apresentação das informações, análise dos dados com as classes e avaliação dos resultados. Com os dados obtidos no trabalho de campo, cada classe, de acordo com a série, realizou atividades sobre o que observaram e registraram, produzindo desenhos, poesias e redações, consolidando assim o ato de ler, escrever, criar, conviver entre diferentes e valorizar o trabalho de seus pais. Alguns resultados - A divulgação e a reflexão sobre o Projeto, no âmbito da Universidade, no que se refere à Educação, foram realizadas nos estágios supervisionados dos alunos das licenciaturas e da pós-graduação e o livro Pesquisa Ambiental foi publicado com textos produzidos a partir das atividades do projeto. Os levantamentos biofísicos e sua produção gráfica e cartográfica foram completados. Hoje, os municípios contam com o material que pode ser utilizado como recursos didáticos e como material para futuras pesquisas; a análise da qualidade da água em pontos diferentes, nas quatro estações do ano, do córrego Rangel; acompanhados por trabalhos do poder público municipal; os trabalhos pedagógicos sobre as questões ambientais se ampliaram e o relacionamento entre as escolas melhorou. As demandas locais aproximaram os pesquisadores e os diversos segmentos das populações para um pensar integrado e desse modo, mudaram os professores da Universidade e das escolas, mudaram os grupos comunitários na direção de uma educação mais democrática e mais saudável ambientalmente. No entanto, muito ainda deve ser feito na vida socioambiental da cidade.

E.M.E.F. Desembargador Amorim Lima VIGILANTES DA NATUREZA A história da Educação Ambiental em nossa escola começou em 1998 quando criamos um grupo de alunos de 5ª à 8ª série, chamados VIGILANTES DA NATUREZA, que se reunia semanalmente para discutir e atuar em benefício do Meio Ambiente. O trabalho de sensibilização era meta fundamental em nossos encontros. Para estimular o grupo, fazíamos lanches naturais, como, por exemplo, pão de cenoura, hambúrguer de abobrinha, suco de couve, erva cidreira, beterraba, etc. Procurávamos fazer entender a importância de cuidar do meio ambiente, que começa no seu interior, no seu corpo e onde vive (casa, rua, bairro, cidade, escola). Mostrávamos sempre que, por meio de pequenas ações no dia-a-dia, garantíamos vida 101

saudável e praticávamos o exercício de cidadania. Várias ações são desenvolvidas por intermédio de oficinas de artes, vídeo, horta, jardinagem, reciclagem, mosaico, tecelagem, pintura, etc. Produzimos viveiros, composteiras, murais, fôlderes e jornais; produzimos papel artesanal, música, rap, concurso de redação com premiação e muita lição. Estudamos vários textos sobre a história do lixo em São Paulo e entendemos e/ou aprendemos que o lixo deve ser reciclado e gerenciado, principalmente em se tratando da cidade de São Paulo, onde se produzem 18 mil toneladas/dia de lixo. O grupo Vigilantes da Natureza tem a responsabilidade ambiental de cuidar das caixas de reciclagem das salas de aula, regar as plantas, cuidar da horta, vistoriar as torneiras, produzir cartazes, enfocando atitudes ecologicamente corretas. Enfim, cuidar da escola. Equipe Responsável pelo Projeto: Adelina de Barros Carneiro, Regina Moretti, Fernanda Moretti Ferrari e Elen Cristina Faht Endereço: R. Professor Vicente Peixoto, nº 50, Vila Indiana – Butantã – São Paulo – SP Site: www.amorimlima.org.br Email: [email protected]

Contexto da água – Do planeta aos nossos mananciais Cesar Pegoraro Biólogo e educador da Campanha de Olho nos Mananciais do Instituto Socioambiental (ISA) No Mundo, a água passou a ser um dos temas mais abordados e um dos recursos naturais mais disputados. Popularizaram-se as discussões sobre seus limites, seus usos, custos para seu tratamento e distribuição, sobre sua contaminação e as suas consequências para a saúde e para a economia. O fato é tão notório que atualmente 1/5 da população humana enfrenta desafios severos na obtenção de água, mais da metade da humanidade não tem saneamento básico adequado e quase um terço das mortes no Planeta está relacionado com a sua indisponibilidade ou contaminação. As projeções não têm sido muito animadoras, mas vamos ver o que o tempo e a sensibilidade da humanidade irão conseguir. Mesmo a água sendo o recurso fundamental à vida, temos tido sérias dificuldades em usar com responsabilidade esse recurso e mantê-lo com qualidade e em quantidade ao longo da história. Alguns dados a mais para a reflexão: a humanidade ainda apresenta um contínuo crescimento populacional, vem ocorrendo o aumento da longevidade de nossos semelhantes e estamos ampliando nossas atividades industriais e agrícolas. Ou seja, necessitaremos de muito mais água para suprir as demandas ligadas a todas estas questões. Apesar de o Brasil ser o maior detentor de água doce do mundo, tendo cerca de 13% das reservas globais, isto não nos deixa numa situação confortável. O recurso é mal distribuído pelo território nacional e cerca de 70% de toda a nossa água está na bacia hidrográfica do rio 102

Amazonas, onde vivem cerca de 5% dos brasileiros. A região metropolitana de São Paulo (RMSP) apresenta uma situação completamente inversa. Este é um País de contrastes. Para quem acredita que apenas no Semiárido nordestino há desafios para a população obter água para seus afazeres e dessedentação, a situação vivida em várias cidades da região Sudeste, como, por exemplo, a cidade de São Paulo, não é mais tranquila que a vivida lá. Temos uma séria crise de disponibilidade de água e as condições para garantir o abastecimento hídrico estão comprometidas. Para suprir a demanda dos quase 20 milhões de habitantes da metrópole de São Paulo, região formada por 39 municípios, incluindo a capital, são produzidos 66 mil litros de água por segundo. Tal volume seria suficiente para encher 2281 piscinas olímpicas num único dia. Mesmo com esses números impressionantes, a região apresenta uma disponibilidade relativa de água por habitante considerada muito baixa. Algo em torno de 200m³/hab/ano20 , que, de acordo com padrões definidos pela ONU, é considerada uma oferta crítica. Para agravar a situação, os mananciais que abastecem a região estão no limite máximo de sua capacidade de produção hídrica. Além disso, o saneamento básico precário nestas regiões, aliado ao crescimento populacional, vem contribuindo para a crescente contaminação da água, contrariando assim as leis de proteção aos mananciais e a vocação da área como produtora de água com qualidade e quantidade suficientes para o abastecimento público. As bacias hidrográficas da Guarapiranga e da Billings têm juntas, hoje, mais de 2 milhões de habitantes, a maioria com condições inapropriadas de coleta e tratamento de esgoto e disposição dos resíduos sólidos. A contaminação proveniente desta situação encarece o tratamento e, em alguns casos, chega a inviabilizar o uso dessas fontes de água. Esse cenário se agrava se acrescentarmos o fato de que a Capital perde na rede de distribuição mais de 30% da água que é produzida, segundo estudo do Instituto Socioambiental (ISA) sobre o abastecimento nas capitais brasileiras. Se compararmos os mananciais com a caixa d’água de nossas casas, veremos como é importante ter esse reservatório em boas condições. Nessa região produtora de água há algumas questões que devem ser encaradas como urgentes. Entre elas estão o controle da ocupação urbana, evitando assim novos assentamentos ou crescimento dos bairros já instalados ali. Prover essa região de sistemas de coleta e tratamento de esgoto, evitando assim a contaminação dos reservatórios. Recuperar áreas degradadas ou abandonadas, pois a vegetação desempenha um papel fundamental na produção de água, proteção das áreas próximas aos rios e de melhoria das condições ambientais. Estimular usos de lazer e ecoturismo na região, pois são atividades que dependem de preservação ambiental, além de estimular a formação de mão-de-obra local para a realização dessas atividades. Uma das maneiras mais interessantes e eficientes de modificarmos esses cenários é por meio da educação e do envolvimento dos cidadãos com essas questões. Problemas coletivos somente serão sanados na coletividade, para isso é fundamental a proposição de espaços de diálogo e a disponibilização de informações e ferramentas para a organização comunitária. As soluções locais e a participação popular são a base da solução dos desafios globais, portanto, é na comunidade e no cidadão que devemos focar nossos esforços de educação, sensibilização e organização. A partir do momento em que todos os seres humanos têm o planeta como sua

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casa coletiva, a humanidade terá que se envolver com a solução dos desafios enfrentados, buscando novas formas de utilizar os recursos sem comprometer as condições de vida, hoje e no futuro. O Instituto Socioambiental (ISA), por meio do Programa Mananciais, tem feito o esforço, principalmente na metrópole de São Paulo, de produzir informações e materiais para subsidiar reflexões e ações sobre o tema. A comunicação com as pessoas dos mais diversos segmentos para difundir tais informações e a mobilização de todos os cidadãos para uma reflexão coletiva dos nossos papéis tornou-se uma premissa. O ISA realizou uma série de diagnósticos participativos nas bacias hidrográficas da Guarapiranga, da Bilings e do Sistema Cantareira. Juntos estes três mananciais respondem pelo abastecimento de cerca de 70% da população metropolitana. Os diagnósticos agregam um conjunto de informações técnicas relacionadas à interpretação de imagens de satélites, tendo como resultado mapas e análises que traçam um panorama da situação dessas regiões produtoras de águas, seus desafios e perspectivas. Esses estudos, por sua vez, são utilizados como subsídios para uma série de atividades. O ISA atua no acompanhamento e proposição de políticas públicas relativas aos mananciais, englobando aí diversos setores: recursos hídricos, meio ambiente, saneamento, habitação, planejamento, entre outros. Para a proposição de ações, realiza processos participativos com o objetivo de construir uma agenda comum entre os diversos atores inseridos na gestão dos mananciais, agenda esta que traz responsabilidades socioambientais compartilhadas, indicando o que se deve fazer e quem é responsável pela realização das ações. Para contribuir com o debate de propostas em ano de eleições municipais, o ISA desenvolveu uma plataforma de ações para a recuperação e preservação dos mananciais da RMSP. O objetivo do documento é dar publicidade às ações que precisam ser feitas para reverter a degradação e garantir a preservação dos mananciais que abastecem a RMSP. Apenas produzir tanta informação não basta! A comunicação com os mais diversos setores da sociedade é peça fundamental nesta ação do ISA. Por isso a campanha De Olho nos Mananciais desenvolveu várias ferramentas para conversar com os usuários de água. Entre as possibilidades de envolvimento e sensibilização das pessoas para a economia desse recurso, há uma série de dicas voltadas para cada setor da sociedade, a fim de mostrar que qualquer um com pequenas ações pode e deve contribuir com um uso mais racional da água. A ferramenta interativa De Onde vem a Água mostra, por meio da simples inserção do CEP da localidade, qual o manancial que abastece a região, e em que estado este se encontra. Para mobilizar e envolver os moradores de São Paulo com a questão, o ISA realizou duas grandes ações em 2008: a terceira edição do Abraço na Guarapiranga 2008 e a Expedição Fotográfica De Olho nos Mananciais, que reuniram milhares de pessoas na região das represas Billings e Guarapiranga, na parte Sul da Grande São Paulo. Ao todo, cerca de 7 mil pessoas compareceram nos 3 pontos do abraço ao longo do dia e nos mais de 100 roteiros da expedição fotográfica. O Abraço na Guarapiranga é uma grande ação que se repete anualmente, fazendo parte da agenda paulistana. E todo o acervo de imagens produzidas durante a expedição será exposto em uma publicação e em uma exposição em 2009, além de estar disponível para visualização na internet. Por meio da água podemos visualizar toda a teia de relações entre os demais recursos e as nossas ações. Todos têm sua responsabilidade, seu papel e suas possibilidades de transformar suas ações. Convidamos todos a fazerem parte dessa mudança de paradigmas. 104

Todas estas informações estão disponíveis para consulta e uso no sítio: www.mananciais.org.br Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS) Coordenação: Vanessa Cordeiro de Sousa 1) INTRODUÇÃO O Programa de Jovens – Meio Ambiente e Integração Social – da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo é um programa de formação integral e ecoprofissional de adolescentes entre 15 e 21 anos de idade, da rede pública de ensino, em situação de vulnerabilidade social, moradores de zonas periurbanas do Cinturão Verde de São Paulo. Começou em 1996, no município de São Roque, como um modelo diferenciado de educação, que estimula o desenvolvimento de habilidades e vocações, consciência ambiental, preocupação com a conservação do meio ambiente e geração de renda. O local de ocorrência dessas atividades são os Núcleos de Educação Ecoprofissional (NEE), por meio de quatro oficinas temáticas – Agroindústria Artesanal e Consumo, Lixo e Arte, Produção e Manejo Agrícola e Florestal Sustentável e Turismo Sustentável – e a Formação Integral. O estudante, morador de zonas periurbanas, é estimulado a se profissionalizar e gerar renda a partir desse mercado de trabalho, que é voltado para a área ambiental. Isto é, o adolescente que por pressão da sociedade atual se vê obrigado a sair de sua região em busca de trabalho, pode a partir do programa, vislumbrar um futuro profissional em sua localidade, adequando às vocações e habilidades pessoais com as vocações da sua região, promovendo ainda a consciência e a conservação do meio ambiente. Esse modelo sustentável e inclusivo de adolescentes serviu de vitrine para a expansão do Programa para outros municípios. Atualmente existem 16 Núcleos de Educação Ecoprofissional, distribuídos em 14 municípios da RBCV, atuando em rede, estimulando o desenvolvimento sustentável dessa região do Cinturão Verde. Os núcleos são: Caieiras, Cajamar, Cotia (Caucaia do Alto e Morro Grande), Diadema, Embu-Guaçu, Francisco Morato, Guarulhos (Região do Cabuçu), Itapecerica da Serra, Paraibuna, Santo André (Vila de Paranapiacaba e Parque do Pedroso), Santos (temporariamente sem atividades), São Bernardo do Campo (Riacho Grande), São Paulo (Horto Florestal/Parque Estadual da Cantareira) e São Roque. No ano de 2008 estão em fase de implantação os núcleos de Cubatão e Embu. 2) METODOLOGIA O Programa foi concebido como uma ação de política pública a ser executada por diversos níveis do poder público e da sociedade. E é essa concepção justamente o que lhe confere integração interinstitucional, alta flexibilidade a diversos contextos sócio-políticoambientais, replicabilidade e sustentabilidade. O modelo do Programa é relativamente simples. É composto de uma coordenação geral, a cargo da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, da “Associação Holística de Participação Comunitária e Ecológica – Núcleo da Terra” e de coordenações locais ou coordenações de núcleos.

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À coordenação geral cabe articulações institucionais para a Rede; assessoria pedagógica, operacional, mercadológica e administrativa aos núcleos; eventos de integração da Rede, tais como eventos de planejamento, capacitação de professores, integração entre jovens e técnicos; captação de recursos para fortalecimento do processo; assessoria legal/ institucional; divulgação em âmbito nacional e internacional da rede; compatibilização do programa com as ações de gestão da Reserva da Biosfera; articulações regionais/estaduais para criação de postos de trabalho, entre outros. Às coordenações de núcleos, a cargo de atores locais, geralmente de prefeituras em parceria com sociedade e universidade, cabem a disponibilização dos professores e técnicos de apoio; espaços, articulações diversas (incluindo ampliação do leque de parcerias locais); seleção de jovens do ensino público (geralmente médio); treinamento dos estudantes e algumas iniciativas para sua inserção no ecomercado de trabalho. O treinamento ecoprofissional tem duração de dois anos e é realizado simultaneamente à educação do ensino médio. As atividades geralmente ocorrem entre três e cinco dias por semana com duração média de quatro horas por dia. No âmbito da legislação vigente, a LDB (lei de diretrizes e bases da educação), o PJMAIS é um programa de educação profissional de formação inicial e continuada, não formal. Entretanto, a carga horária proposta é semelhante a vários cursos de nível técnico, conforme estabelecido pelas diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional. Essa formação deve propiciar oportunidades de vivências e convivências, em ambientes éticos, saudáveis, seguros e solidários e propiciar também o acesso aos bens e serviços necessários a vida, a saúde e ao bem-estar humano, que são gerados pelos ecossistemas naturais e pela sociedade local. 3) RESULTADOS OBTIDOS O Programa de Jovens iniciou o registro das experiências no ecomercado de trabalho a partir do ano de 2000, contabilizando aproximadamente 895 oportunidades proporcionadas a 410 jovens. Esses registros foram subdivididos por meio de quatro oficinas que compõem o PJMAIS. Como exemplo, pode-se destacar os seguintes casos: 1) O Development Marketplace (Banco Mundial) disponibilizou recursos financeiros durante dois anos para o Programa investir no desenvolvimento de atividades agroflorestais, a partir da produção de 22.933 mudas nativas, 7.587 produtos orgânicos e recuperação de 8.53 ha de áreas degradadas. Com a geração de 233 oportunidades remuneradas para os jovens. 2) O Termo de Ajustamento de Conduta do Centro de Convenções Santa Mônica que, por meio de um acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de Guarulhos e a promotoria ambiental, contratou sete estudantes do Programa para recuperar áreas no entorno e no Parque Estadual da Cantareira – Núcleo Cabuçu. Esse é um importante caso em que a recuperação ambiental foi promovida com a inclusão dos jovens da comunidade. 3) A Neutralização de CO2, com o NEE de Embu-Guaçu, com a participação de sete estudantes, em parceria com a Prefeitura local, a Oficina de Carbono e a Coordenação da RBCV, teve uma importante experiência de neutralizar parte das emissões de CO2 de um 106

evento chamado IT Service Managemente Fórum com o plantio de 250 mudas nativas no Parque Estadual da Várzea de Embu-Guaçu Uma experiência pioneira no envolvimento da comunidade na recuperação ambiental e geração de renda. ‘ 4) O Pólo Ecoturístico Caminhos do Mar – que inclui a Estrada Velha de Santos, localizado no Parque Estadual da Serra do Mar, a maior unidade de conservação de mata atlântica do País –, é um importante atrativo ecoturístico no Cinturão Verde e guarda inestimável memória da história brasileira. As visitas são conduzidas por 18 monitores ambientais, exalunos do Programa de Jovens dos NEE de São Bernardo do Campo e de Santo André – Vila de Paranapiacaba, que estão no entorno desse Parque. Esses estudantes foram contratados pela Fundação de Energia e Saneamento. Sustentabilidade e Educação na permanente construção do Programa USP Recicla A Universidade de São Paulo, maior universidade da América Latina, é uma instituição pública vinculada ao Governo do Estado de São Paulo, que possui uma população estimada em 87.000 pessoas, além de um público externo e flutuante que usufrui as áreas de pesquisa, ensino, extensão e lazer em sete Campi da universidade. Ao longo de quase 75 anos de uma intensa busca pela excelência a USP, fundada em 1934, conta com sua estrutura distribuída nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto, Piracicaba, São Carlos, Pirassununga, Bauru e Lorena, além de unidades de ensino, museus e centros de pesquisa situados fora desses espaços e em alguns municípios brasileiros. Na busca de uma formação qualificada os 229 cursos de graduação estão dedicados a todas as áreas do conhecimento, que distribuídos em 40 unidades são oferecidos a 50 mil estudantes. Os 225 programas de pós-graduação oferecem 587 cursos de mestrado e doutorado aos mais de 20 mil pesquisadores em diferentes áreas. E cerca de 5 mil docentes e mais de 16 mil técnicos administrativos que atuam na viabilização das ações de fim da universidade. Nesse cenário encontramos associada a sua missão acadêmica o desafio de desenvolver estratégias que incorporem e internalizem a complexidade das atividades humanas e cotidianas que num contexto global colaboram, direta ou indiretamente, para o aumento de alguns dos impactos que, hoje, contribuem para a contaminação e a escassez dos recursos hídricos: o aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, a desertificação, o desaparecimento das florestas, a extinção de fauna e flora, na geração excessiva de resíduos, comprometendo a qualidade de vida e saúde da população, bem como implicando negativamente no sistema social e ambiental do Planeta. A partir do fortalecimento do conceito de desenvolvimento sustentável em 1992, e a elaboração de uma Agenda 21 mundial, diversos princípios, diretrizes, metodologias e ferramentas têm sido desenvolvidas no intuito de colaborar para a reversão desses processos 107

de degradação, consumo elevado dos recursos naturais e desigualdades sociais. É nesse contexto que surge o Programa USP Recicla, da pedagogia à tecnologia, concebido em 1993 pela Universidade de São Paulo (USP), como uma das iniciativas comprometidas com a construção de sociedades sustentáveis. Vinculado a Agência USP de Inovação foi institucionalizado em 1994, como um programa interno da Universidade, para atuar sob o enfoque da geração de resíduos sólidos no âmbito da USP buscando a construção de uma política de gestão educacional voltada a estimular: I) posturas participativas e reflexivas de diferentes atores em relação ao consumo responsável e a problemática ambiental; II) gestão, informação e comunicação constituídas em Redes e, III) ações de minimização de resíduos e conservação dos recursos naturais que fomente pesquisas e projetos na área da tecnologia visando a melhoria da qualidade de vida. De caráter inovador o programa atua por meio de uma gestão compartilhada e integrada de resíduos organizados em um conjunto de instâncias que decidem de forma participativa o desenvolvimento de suas ações. Implantado nos sete Campi da USP, atualmente, conta com mais de 600 integrantes (docentes, alunos e funcionários), organizados em 67 comissões de unidades, participando ativamente da capilaridade da gestão de resíduos em cada campus.

Diante da complexidade da temática ambiental, o USP Recicla assumiu uma perspectiva socioambiental que se traduz na seguinte missão: Contribuir para a construção de sociedades sustentáveis por meio de ações voltadas à redução da geração de resíduos, conservação do meio ambiente, melhoria da qualidade de vida e formação de pessoas comprometidas com este ideal. O programa parte do princípio de que a sustentabilidade está imbricada à formação socioambiental das pessoas e, num contexto universitário, pressupõe a formação de sua comunidade e a interiorização desses princípios em seu próprio funcionamento e práticas cotidianas. Os conceitos de Educação Ambiental e Sustentabilidade são fundamentados pela vertente denominada crítica, transformadora ou emancipatória. Busca-se, assim, o engajamento de indivíduos e coletividades em processos que questionem e transformem a lógica hegemônica do atual modelo de sociedade e construam outras interações entre indivíduos, cultura e natureza. Além da necessária consciência sobre a degradação ambiental, estimula-se o fortalecimento das pessoas, grupos e comunidades, contextualizando suas práticas de modo a aumentarem suas capacidades para compreender, refletir e intervir coletivamente. E assim, tornam-se sujeitos pró-ativos e transformadores de sua realidade perante temas como a degradação ambiental, 103 108

a padronização cultural, a exclusão social, a concentração de renda e de poder, a apatia política e a alienação. Na concepção do programa, no início da década de 1990, o lixo se tornou o tema gerador visando promover uma reflexão mais complexa sobre sociedade, cultura e natureza. E as ações de educação e gestão de resíduos articulados pelo USP Recicla são pautadas no princípio dos 3Rs, primando pela redução do consumo e desperdícios e estimulando a reutilização e reciclagem de materiais. E neste sentido, é muito importante manter atenção para que não ocorra uma inversão na aplicação deste princípio, na qual a reciclagem é priorizada em detrimento da redução e da reutilização, que passam a ser meros complementos em programas educativos. Desta forma, o programa de educação continuada do USP Recicla estrutura-se em três eixos articulados entre si: a) disponibilização e problematização de conteúdos - aumentando as possibilidades de argumentação, a construção de saberes e o diálogo com diferentes autores, b) pedagogia da práxis - fomentando processos dialógicos, reflexivos e o protagonismo nas atividades e na produção de novos conhecimentos e c) constituição de comunidades de aprendizagem - fortalecendo grupos, fomentando ações conjuntas, espaços de locução e de

tomada de decisões. A prática cotidiana de gestão e educação do Programa oferece espaços de convivência com pessoas de diferentes áreas, formação e origem proporcionando um ambiente rico e diverso para trocas de experiências, debates e uma atuação crítica na universidade e sociedade. A vivência acumulada pelo Programa constitui um exercício constante de mediação de conflitos exercitados pelas diferentes instâncias, atividades e por meio de desenvolvimento de projetos, reuniões, oficinas temáticas, elaboração e apresentação de propostas de trabalho, comunicação de ideias, análises críticas e complexas de problemáticas socioambientais possibilitando um exercício coletivo de participação na construção dos rumos do USP Recicla. Os reflexos dessa experiência são sentidos no cotidiano de nossas ações, como: a) Engajamento protagonista de funcionários docentes e não-docentes em comissões, ações e projetos socioambientais da e na USP, com efeito direto na minimização de resíduos e envolvimento da comunidade universitária na modificação de rotinas e condutas. b) Aprendizagens no campo da mediação de grupos e atividades educativas para além

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de uma condução centralizada e hierárquica, onde aprender a ouvir mais o outro, estar aberto a críticas construtivas e a dialogar com diferentes saberes e visões constituem a dinâmica de nossa atuação. c) Contato com outras áreas do conhecimento numa perspectiva interdisciplinar, criandose um espaço de construção de projetos, soluções, reflexões, compartilhamento de novas visões, conceitos e interpretações que contribuam para uma análise da problemática socioambiental de forma mais complexa e que estimule a compreensão da inter-relação entre política econômica, social, desenvolvimentista e ambiental possibilitando assim um aprendizado enquanto cidadão. e) Aprendizagens em metodologias participativas de intervenção social possibilitando a adaptação de outras vivências e dinâmicas de trabalho, criadas e re-criadas pelo conjunto de atores envolvidos com o Programa, numa intensa troca de saberes e processo inacabado de aprendizagens.

Com isso os impactos e mudanças na minimização de resíduos na Universidade de São Paulo são refletidos diretamente na geração de lixo da comunidade universitária: . a quantidade de lixo descartado em alguns dos campi da USP caiu em até 70% em peso, graças a ações baseadas no Princípio dos 3Rs. . no tocante à implantação deste Princípio, percebe-se que há resultados no comprometimento da comunidade ao lidar com seu próprio lixo. Alguns exemplos corroboram essa afirmação, como a substituição sistemática de copos descartáveis por similares duráveis em todos os restaurantes universitários dos campi do interior. No Campus da Capital esse processo também foi incorporado em alguns restaurantes e unidades. . outro exemplo da prioridade da “redução” nas ações é a opção institucional de alguns setores em priorizar a impressão de monografias, dissertações e teses utilizando-se frente e verso do papel. Essa norma entrou em vigor em diversas Unidades, estimuladas pela atuação do programa USP Recicla. . o programa também realiza ações/projetos voltados à reutilização de produtos que eventualmente seriam descartados: organização de feiras e de estantes de trocas de objetos usados; incentivo ao reuso de mobiliários e equipamentos institucionais nos diversos setores dos campi, recolhimento e encaminhamento de apostilas para cursinhos pré-vestibulares, além do desenvolvimento de programas de coleta seletiva em todos os campi da USP, com encaminhamento de resíduos recicláveis para indústrias recicladoras.

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Bibliografia: SUDAN, Daniela C.; LIMA, Elizabeth T.; MEIRA, Ana M.; DIAZ-ROCHA, Paulo E. D. - Sustentabilidade e Educação: caminhos na Universidade de São Paulo. Programa USP Recicla/Agência USP de Inovação, SP. I Encontro Latino Americano de Universidades Sustentáveis, Passo Fundo, RS, 2008. MEIRA, A. M. de; ROCHA, P. E. D.; LIMA, E.L. LEME, P.C.S., SUDAN, D.C. – USP Recicla – Gestão Compartilhada e Integrada de Resíduos Sólidos na Universidade de São Paulo. Programa USP Recicla/Agência USP de Inovação, SP. I Encontro Latino Americano de Universidades Sustentáveis, Passo Fundo, RS, 2008. USP, Anuário Estatístico - 2007. SUDAN et al. Da Pá Virada – Revirando o Tema Lixo. Vivências em Educação Ambiental e Resíduos Sólidos. São Paulo. Programa USP Recicla/Agência USP de Inovação, SP. 245p., 2007. LAYRARGUES, P. P. Educação para a Gestão Ambiental. In: Sociedade e Meio Ambiente: a Educação Ambiental em debate, 2006. SUDAN, D. C.; ROSA, A. V.; LEME, P. C. S.; LIMA, E. T.; ROCHA, P. E. D.; MEIRA, A. M.; KIKUTI, C. F.; CARVALHO, M. R. ; LAURENTI, R. Integrando Estágio, Formação Acadêmica E Educação Ambiental Emancipatória: a Experiência do Programa USP RECICLA/CECAE/ USP. V Ibero-americano de Educação Ambiental. Joinville – SC, 2006. CARVALHO, M.R., GUARNIERI, M.C.L, LEME, P.C.S., LIMA, E.T., MEIRA, A M., ROSA, A V., SORRENTINO, M. , SUDAN, D.C. Programa USP Recicla: Como Construir Uma Gestão Compartilhada? I Congresso Mundial de Educação Ambiental, Espinho, Portugal, 2003. CARVALHO, I. C. M. Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação ambiental popular e extensão rural. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 2, n. 2, p. 43-51, abr./jun. 2001.

Oswaldo Massambani Diretor Diretoria Técnica de Inovações para Sustentabilidade/Programa USP Recicla Geog. Elizabeth Teixeira Lima – Diretora Técnica Eng. Fl. Ana Maria de Meira – Educadora/Campus de Piracicaba Biol. Daniela Cassia Sudan – Educadora/Campus de Ribeirão Preto Biol. Patricia Cristina Silva Leme – Educadora/Campus de São Carlos Biol. Paulo Ernesto Diaz Rocha – Educador/Campus Capital Av. Prof. Luciano Gualberto, Trav. “J”, nº 374, 7º andar – Prédio da Antiga Reitoria – Cidade Universitária Butantã – São Paulo SP – CEP: 05508-010 [email protected] – http://www.inovacao.usp.br/usp_recicla

Atividades educacionais Aula-espetáculo - Mitos Brasileiros e a Viola Paulo Freire O Brasil é pródigo em mitos: saci, caipora, mãe d’água, boi tatá, corpo-seco, além do homem do saco, a loira do cemitério, mais recentemente o chupa-cabra e tantos outros. O objetivo desta aula-espetáculo – voltada principalmente aos professores e interessados em cultura popular – é revelar e partilhar as histórias escondidas em algum canto de nossa memória, individual ou coletiva, a partir dos causos da tradição oral. Acredito que, no mundo em que vivemos, promover a prática de contar histórias é imprescindível 111

para o desenvolvimento do ser humano. Os mitos brasileiros são uma mistura das culturas europeia, africana e indígena interagindo em nosso País. Também é fruto desta miscigenação a maneira com a qual o sertanejo brasileiro criou para tocar viola, contar causos e conviver com os mistérios. O aprendizado da viola no sertão passa pelo convívio com todos estes seres e suas histórias – dizem que o violeiro deve fazer o pacto com o capeta para tocar bem seu instrumento. A narrativa sobre os mitos traz sempre um ensinamento para os adultos e cuida da educação das crianças. Travar conhecimento com estes seres é um mergulho no Brasil profundo. Os participantes terão oportunidade de trocar experiências, dar seus testemunhos e reafirmar sua identidade cultural. Nesta aula-espetáculo, Paulo Freire vai contar causos tocando sua viola, mostrar canções caipiras com estas temáticas e mostrar como são construídas as lendas (que nem sempre são apenas lendas). Como os índios - As cores da Terra Cecília Borelli artista plástica e arte-educadora O encontro, o contato e a abertura do olhar e dos sentidos para outra cultura, outros povos que convivem conosco no mesmo planeta abre um canal de comunicação e troca, e de compreensão fraterna das diferenças, um passo importante na construção da educação e formação para Paz. No caso dessa oficina, a proposta é trazer para perto a vivência de danças, cantos, costumes, estética e a poética de alguns povos indígenas que podem nos revelar um outro modo de nos relacionarmos com a Natureza, seus ritmos e elementos. Ao contrário do que fazemos nos grandes centros urbanos, esses povos têm a terra como mãe, como centro, como mestra, como divindade e, assim sendo, mantêm uma organicidade em seu viver, um ritmo, uma reverência, sentimentos de pertinência e responsabilidade para com a natureza que precisamos urgentemente resgatar e reaprender. Este será um dos caminhos para preservarmos nosso Planeta-casa e nos colocarmos como parte integrante da Natureza e não à sua frente, nem como seres independentes dela. Conseguir, como os índios, fazer – com diferentes tipos de terra, sementes, vegetais e minerais –, tintas que revelem, num trabalho artístico, a energia e a infinidade de cores vindas e existentes na terra é uma proposta lúdica e prazerosa de experimentar e ser tocado pela

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alma telúrica, e naturalmente ecológica, dessas culturas. Tons arenosos, terrosos, avermelhados, ocres, azulados, esverdeados e misturas alquímicas, podem ser obtidas e, com elas, traços que persigam e apreendam as infinitas formas da Natureza e que tragam à nossa consciência a diversidade de vidas que se relacionam, interdependem e coexistem, em nosso Planeta. Com as cores poderemos sentir o coração da terra e o chamado para que, como os índios, cuidemos e nos tornemos amorosamente responsáveis por ela. Tinta de urucum, Tinta de açafrão, Louro e amora, Tintas cor do chão Onde vou pintar Onde vou viver Onde vou plantar Onde vou dançar E o coração da terra inteira Fazer cantar

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Oficina sonoridades visíveis - Instrumentos e objetos sonoros criados para acompanhamento de um filme Marco Scarassatti e Marcelo Bomfim

quadribau – Marco Scarassatti A oficina Essa oficina propõe, a partir da exibição de um filme curta-metragem sobre a origem dos sons, ensinar a criar e confeccionar instrumentos musicais a partir de materiais re-utilizados e que possam ser aproveitados para a posterior sonorização do filme. O propósito é a utilização de imagens de um filme como um disparador que suscite, a partir desse estímulo não verbal, a construção de hipóteses acerca da história e também desperte o interesse na temática contida nessas cenas. Terra do Silêncio 21 é um filme produzido em super-8 e narra a origem dos sons no universo mítico de uma contadora de histórias que, enquanto conta, transforma-se na própria agente da origem desses sons. No filme ela aparece em meio a esculturas e objetos sonoros e prepara esse ambiente para o início de uma narração. Porém, quando inicia o texto, a voz que se escuta é de criança, aludindo o fato de que quem conta e reconta essa história é a memória de quem já a escutou em algum lugar ou tempo distante: Era uma vez um lugar Onde os sons não existiam Toda a beleza aparente se escondia Na crueza da ausência Dias passavam, Noites chegavam. E nada acontecia. 114

À natureza que de cima de tudo, A tudo criara, a tudo vivia e via, Ao ver um mundo tão sem graça e alegria, Restou o suspiro, O esbravejo Restou o choro Em silêncio Mas mal sabia, do instante que surgia. Do suspiro fez-se o vento, movimento, Arrastando o silêncio, No esbravejo tremiam raios e trovões Finalmente do seu choro fez-se à chuva e nela se escondia em cada gota que caía O som E a mãe natureza tão contente ficou Que desse dia em diante tocou e nunca mais parou E ainda hoje o faz e relembra, A quem quiser escutar Essa que é a sua lenda

geométrico – Marcelo Bomfim

A cada cena relacionada a um som produzido, a contadora aparece produzindo o som por meio de instrumentos construídos a partir de sucata: pau de chuva, tambores, instrumentos de cordas, folhas de zinco, etc. Os mitos de origem estão presentes em diversas culturas e contextos culturais. Nesse caso trata-se de uma história de origem (dos sons) que pode ser entendida como uma refundação a partir de fragmentos e memórias: da contadora de história, das crianças que já a escutaram e até mesmo dos objetos que, diante da necessidade da instauração de um novo mundo, são reaproveitados numa nova função, a de produzir sonoridades que se harmonizam diante do caos sonoro, representado pelo silêncio primordial.

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Nesse sentido a oficina propõe primeiro a escuta dos ambientes e potencialidades sonoras do filme, para depois propor a criação de instrumentos musicais simples, partindo da ideia do reaproveitamento de materiais e objetos do cotidiano. Será dado enfoque às diferentes famílias de instrumentos musicais assim como às diferentes maneiras de se produzir som, estimulando a ideia do fazer musical, da percepção sensível e da prática de grupo.

flautas de bambu

A proposta de trabalharmos com os materiais residuais tem o objetivo de criar e estimular uma nova relação sensível com tais materiais. Com o problema ambiental dos resíduos sólidos, para nós artistas e educadores, aparece um novo desafio pedagógico de observação, a limpeza, as possibilidades de utilização lúdica e o manuseio dos materiais, experimentando e desenvolvendo várias aptidões criativas, no campo estético, motor, imaginativo, social e emocional. O entendimento de que os resíduos sempre são, a priori, novas matérias-primas, que renovam o conceito do que é lixo, do que é matéria-prima, levando a um novo comportamento, muito mais responsável. Nossos objetivos: . Aproximar a criança do universo discursivo do cinema estimulando a apreciação e leitura fílmica; . Desenvolver o potencial criativo da criança na criação e elaboração de uma história; . Introduzir a criança ao universo da linguagem sonora e musical, por meio de confecção e sonorização da história; . Conscientização do processo de reciclagem e re-significação dos objetos do cotidiano, por meio do reaproveitamento da sucata na confecção dos instrumentos. Marco Scarassatti (1971/Campinas-SP/Brasil) Compositor formado pela Unicamp. Durante seu mestrado em Multimeios, também pela Unicamp, pesquisou o processo criativo do compositor Walter Smetak, construtor de objetos híbridos que reúnem plasticidade e produção sonora. Professor da Faculdade Casper Líbero, é doutorando pela Faculdade de Educação da Unicamp, pesquisa as representações alquímicas na música e prepara a publicação de sua dissertação Smetak e 116

suas plásticas sonoras. Cineasta autodidata, seu curta-metragem Terra do Silêncio, ganhou 12 prêmios entre os anos de 2002 e 2003. Atualmente desenvolve a pesquisa de criação e construção de esculturas e ambientes sonoros, além de atuar também como professor universitário. Curador da exposição Paisagens Plásticas e Sonoras, mostra que reuniu trabalhos de compositores que na busca de novas sonoridades chegaram a novas formas para o instrumento musical convencional. (Mostra Sesc de Artes/2005 – Sesc Pinheiros, Brasil). Marcelo Bomfim (1977/São Paulo-SP/Brasil) Músico-compositor formado em Música Popular pela Unicamp. Há oito anos realiza coleta em áudio de diferentes ambientes sonoros e estuda diferentes instrumentos (cordas, sopro, percussão, piano e acordeão). Trabalha com composição sonora para teatro de animação (Cia. das Cores – SP, Brasil) e pesquisa construção de objetos sonoros, além de atuar em projetos de arteeducação com público infantil em instituições e organizações. Trabalhou em projetos com a Fundação Semco, Senac-RJ, e Unicef. Objetos de teatro TATU-BOLA Divisão de Ação Cultural e Educativa do CCSP Orientação: Cláudia Malaco Os carrinhos do mobiliário educativo tatu-bola recebem o público em família para esta oficina que reapresenta o brincar no processo de aprendizagem. A proposta é de criação de personagens a partir de uma história contada e construção de objetos e roupas que o acompanhem. As oficinas serão diferentes a cada sábado e entre os temas estão maquiagem, máscaras e bonecos. FOTO NA LATA Coordenação: Equipe da Imagem Mágica Utilizando a estrutura e metodologia da ImageMágica, realizaremos oficinas de fotografia com os participantes do evento Este Mundo é Meu! E as Sete Sementes. Ensinar as técnicas fotográficas desde a construção e funcionamento de uma câmara artesanal e os processos de revelação destas imagens (pinhole) tendo como tema o meio ambiente. O objetivo é despertar em cada indivíduo a percepção de seu potencial e responsabilidade para a edificação de um mundo melhor, utilizando como principal ferramenta o poder da imagem. OFICINA DE JARDINAGEM E ARTE Orientação: Fernando Limberger A partir da observação do estado atual do Jardim Interno do CCSP, será proposta uma série de exercícios práticos para a manutenção e recriação deste espaço, como etapa

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preparatória da execução do trabalho artístico Verde e amarelo, do artista e paisagista Fernando Limberger. O público alvo: profissionais de jardinagem, paisagismo, artistas plásticos e interessados em geral. Expedições paulistas Ermelinda Moutinho Pataca O intenso processo de urbanização em São Paulo ao longo do século XX alterou profundamente o espaço junto com todos os elementos naturais, inclusive os hidrográficos. Muitos dos rios foram totalmente alterados pelas obras de canalização, retificação e cobertura. Às suas margens foram construídas grandes vias de transporte, motor da sociedade industrial e comercial que se desenvolveu em São Paulo. As grandes obras de engenharia que significaram o progresso econômico e material da cidade inviabilizaram completamente o contato da população com seus rios, enterrando junto marcos da história e da memória da cidade. Os recursos hídricos, tanto oceânicos quanto fluviais, desempenharam um papel de destaque no processo de ocupação do território brasileiro. Desde o período colonial as fontes de água eram totalmente relacionadas ao cotidiano das populações, pois serviam como meios de transporte, locais de lazer, fontes de água para consumo, força motriz que movimentava engenhos pela roda d’água, etc. Como canais de transporte os rios apresentavam grande referência para as comunidades. Nossa intenção com as oficinas paulistas é de ampliar a sensibilização da população para os cursos hídricos, que se relacionam completamente com a ocupação territorial e com a constituição urbana. Alguns de nossos rios, com grande significado cultural e histórico, serão desencobertos nas expedições, a partir de sua história e memória. Impossibilitados de sermos transportados pelos rios de São Paulo por estarem encobertos pelo asfalto ou em alguns casos em que estão desencobertos não apresentam boa aparência e desagradam os nossos sentidos, especialmente o olfato, optaremos por fazer nossas expedições em ônibus seguindo as ruas e avenidas da cidade. Entretando, os roteiros que traçamos, seguem os caminhos das águas submersas, impulsionados por nossa imaginação. Como ponto de partida de quatro expedições urbanas escolhemos o Centro Cultural São Paulo, localizado à margem do riacho do Itororó, imortalizado pela cultura popular e sepultado no asfalto da Avenida 23 de Maio. A partir daí percorreremos algumas regiões com destacada importância histórica, cultural e ambiental de São Paulo. Na primeira expedição as crianças percorrerão os espaços do Centro Cultural São Paulo com a missão de solucionar um grande mistério: CADÊ O ITORORÓ? Cabo Rocha e seis bombeiros estarão auxiliando as crianças nessa busca pelo riacho tão familiar para as crianças brasileiras – “Fui na fonte do Itororó, beber água não achei...” Será que as crianças encontrarão as águas do Itororó? Ou será que todos ficarão com sede para o resto de suas vidas? No percurso pelos espaços internos do CCSP será ressaltado o histórico da construção e das transformações ambientais empreendidas no entorno da construção. No segundo roteiro, seguiremos o Riacho do Itororó em direção Sul da cidade, até encontrarmos outro riacho de grande importância histórica para São Paulo e para o Brasil. É o riacho do Ipiranga, cujos acontecimentos históricos de 1822 permanecem em nossa memória 118

como símbolo máximo da nacionalidade brasileira. Mas infelizmente, as “Margens plácidas” de outrora agora são cobertas por asfalto e concreto. Até pouco tempo atrás, seu leito estava encoberto e suas águas só eram percebidas pelos paulistanos nas enchentes, tão recorrentes na cidade. Mas felizmente essa situação não durará para sempre. Na expedição urbana que seguiremos o riacho do Ipiranga encontraremos uma grande diversidade de paisagens, configurações e simbologias socioculturais-ambientais do riacho. Partindo das nascentes do Ipiranga no Jardim Botânico de São Paulo, percorreremos remanescentes de Mata Atlântica. Seguindo o riacho pela Avenida Ricardo Jafet, encontraremos alguns trechos que estavam cobertos e que já foram descobertos e em parte recuperados. Acompanharemos as margens do riacho até o parque da Independência, muito conhecido pelos paulistanos por abrigar um importante monumento histórico: o Museu Paulista ou Museu do Ipiranga. Mas esse parque também abriga outros monumentos histórico-ambientais: um bosque e os jardins. Quais são os significados históricos e culturais destes locais? Qual é a nossa percepção sobre eles? Em outro roteiro, partiremos do CCSP e seguiremos o riacho do Itororó em direção à região central de São Paulo até o Vale do Rio Anhangabaú onde deságuam as águas do Itororó. As construções do centro de São Paulo, além de revelarem um grande significado histórico desde a fundação da cidade, também são registros de um tempo muito mais longo: a história geológica. Os monumentos e edifícios foram construídos com rochas com milhões de anos e algumas delas guardam também registros da vida por meio de fósseis. E de onde vem a água que chega às nossas torneiras? Será que essas fontes são inesgotáveis? O Instituto Socioambiental (ISA) preparou uma expedição à Represa de Guarapiranga para mostrar os mananciais da cidade.

Roteiros Expedições Rocha em Cadê o Itororó? Carlos Eduardo Alves Rocha sub-comandante do Goerr Coordenação: Grupo Operações Especiais Resgate Rápido (1º Goerr) - com: Marcelo Augusto B. Moura (comandante geral) e Carlos Rocha (sub-comandante) O convite para fazer atividades com crianças no Centro Cultural São Paulo integrando Este Mundo é Meu! já vem desde o ano passado, da curadoria de teatro infanto-juvenil. A ideia foi amadurecendo gradativamente ao longo deste ano. Sabia que estava sendo articulada a programação, mas ainda não estava inteirado do que viria a ser. Só sabia que este ano o tema seria sobre o meio ambiente. Enquanto isso as ideias foram amadurecendo e várias foram surgindo, mas sem uma definição de como poderia ser viabilizada. Com a possibilidade de ser feita uma expedição dentro do próprio Centro Cultural e depois com a confirmação dela dentro do evento e as características que seria essa expedição, ficou mais fácil esboçar um roteiro que foi apresentado à curadora do evento. O roteiro foi aprovado e as questões técnicas

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como utilização dos espaços, tempo de realização, horário, público alvo, foram detalhes posteriores para que o roteiro atingisse o objetivo pretendido. Mais tarde, após esses acertos, a expedição passou a chamar-se Expedições Rocha e depois, por sugestão da Sra. Ermelinda Pataca, que é a idealizadora do meio ambiente dentro do evento, passou a se chamar Expedições Rocha: Cadê o Itororó? – pelos desdobramentos que houveram de estrutura e de ideias. A importância desse trabalho no Centro Cultural é para que as crianças possam ter contato com a estrutura dos espaços. Para que isso aconteça, dentro do roteiro foram criadas regras de convivência para que os participantes possam conhecer o trabalho que é desenvolvido no CCSP, trabalho este que é ligado à segurança das pessoas e a segurança física do espaço, assim como o contato com os funcionários em determinadas áreas. O foco é receber as crianças e concretizar o que está escrito no roteiro, pois o mesmo envolve várias questões relacionadas a assuntos de segurança que elas, às vezes desconhecem ou outras vezes já ouviram falar, mas não experimentaram. Os adultos também terão a mesma atenção para que possam ser multiplicadores mais tarde dessa experiência. Os funcionários do CCSP e seus familiares também foram convidados a participar. A outra importância da realização da expedição é que o Centro Cultural se tornará o foco de conhecimento cultural e educacional a partir do momento em que as pessoas se apropriarão dele para explorá-lo mais detidamente. O Goerr é um grupo particular e foi criado em 2.002, para prestar serviços comunitários e voluntários no que diz respeito à segurança tanto pessoal como física de pessoas e estabelecimentos. Seus componentes são treinados em PCI – Prevenção e combate a incêndio e 1º Socorros. Por isso as crianças e os adultos que participarão dessa expedição terão toda a assistência preventiva do Goerr para fazer esse trabalho cultural, educativo e lúdico com segurança. Esperamos realmente encontrar o Itororó. Abaixo o roteiro: Procedimentos: 1. regras de segurança 2. palestra sobre o meio ambiente 3. simulação 4. descendo escadas para subsolo 5. dando a volta pelo laboratório 6. Espaço Ademar Guerra 7. duas lareiras com fogo 8. contação de história na biblioteca com a contadora Rita Marques, cujo texto se encontra a seguir. No início os alunos, (caso seja escola, mas o mesmo procedimento se dará quando for público espontâneo) professores e estagiários se reunirão em um espaço onde todos possam 120

ficar para ouvir as instruções. As regras de segurança serão ministradas pelos bombeiros do Goerr como alerta aos participantes de como se conduzir seguramente durante todo o roteiro. Na sequência virá a palestra sobre meio ambiente no próprio espaço. Depois da palestra, os coordenadores passarão a dar as primeiras orientações da simulação dos primeiros socorros e eles seguirão até a biblioteca de onde descerão até o subsolo. No subsolo, outra simulação de primeiros socorros com atividade que os coordenadores irão criar. O espaço a ser ocupado será atrás do laboratório. A expedição seguira em direção ao porão especificamente no Espaço Ademar Guerra. Dentro desse espaço outra simulação com diferentes atividades. A saída será pelas portas de emergência do espaço onde os participantes encontrarão duas lareiras, que servirão para outra atividade. A saída será pela rampa João Julião, subindo a rampa do Metrô até a entrada do Centro Cultural. Depois a expedição seguirá pelas dependências internas do CCSP voltando a biblioteca para ocupar o espaço de leituras. No espaço de leituras a Rita irá contar histórias não só do Itororó como da importância da conservação dos rios assim como mostrar que um rio soterrado pelo asfalto é ruim para uma cidade. Depois disso, descansar! CADÊ O ITORORÓ? Rita Marques (cantando) “Cadê o Itororó que passava aqui? (bis) Cadê o Itororó? Eu mesma nunca vi. Mas, sei que o Itororó passava por aqui. Eu sei que o Itororó passava por aqui!” Há muitos e muitos anos, e posso-lhes assegurar que tudo aconteceu entre os séculos XIX e XX, quando nas noites frias e garoentas da Piratininga – que é esta nossa querida São Paulo – muitas jovens se reuniam no Tanque Reúno. Esse tanque ficava logo ali, nas proximidades de onde hoje é a Rua Humaitá. Essa rua é uma conhecida travessa da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio. As jovens se dirigiam para lá, em verdadeiras procissões poéticas para “lavar” São João Batista. Elas levavam a imagem do santo, toda coberta. Na beira do tanque, enquanto algumas moças para saber se a morte lhes ia acontecer naquele ano, procuravam ver seus rostos nas águas, delicadas mãos femininas descobriam a imagem de São João Batista, para mergulhá-la nas águas geladas do riacho, simbolizando o Batismo de Jesus no Rio Sagrado. (cantando)

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“E conta a lenda do Tanque Reúno, Onde as jovens faziam seus rituais, No Batismo de São João Batista, Eram seguidas até pelos casais, E era quando todos eles cantavam: São João Batista Batista João; Batizou Jesus Nas águas do Jordão!” A nascente do Tanque Reúno, ficava aqui pertinho de nós, no Paraíso. Era um riacho que desaguava no Anhangabaú. Esse riacho que nascia no Paraíso e que antes de chegar no Anhangabaú, formava o Tanque Reúno, ali na Bela Vista, chamava-se RIACHO ITORORÓ. Suas águas eram cantantes e é por este motivo que tem este nome. Em tupi, tororó quer dizer enxurrada, jorro. Imagine-se agora passeando pelas margens deste riacho, ouvindo suas águas, cantando em direção ao vale... Por onde o Riacho Itororó passava, passa hoje a Avenida 23 de maio. E se... (cantando) “Se o Riacho Itororó está embaixo Da avenida, da avenida 23 de maio Sobre ele só passam muitos carros Que nos levam ao Anhangabaú E o som das águas sob a 23 de maio É a canção do Riacho Itororó Diferente do que se ouve aqui em cima, Dos motores de carros com suas buzinas.” E como um belo riacho cantante, ele tinha também uma bela ribanceira. Na ribanceira do Itororó, em certos trechos, pic-nics aos domingos, eram normais. Mas, hoje... Bem, hoje pic-nics, nem se faz mais. Porém, na Ribanceira do Riacho Itororó, ainda é um bom lugar para se passear, ou até mesmo, estudar. E, sabe por quê? Porque foi nesta ribanceira, que o Centro Cultural São Paulo foi construído. Isto se deu em 1982. Abriram-no com uma bela festa no dia 13 de maio daquele ano! E hoje, ali – que é aqui – tem: Teatro, dança, exposições de Artes Plásticas, Fotografias e diferentes Instalações. Um Cinema de apurada seleção!

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Oficinas com temáticas variadas. Palestras de assuntos relevantes, por literatos renomados, com gente muito importante! Livros em Braille. Livros de Artes. Livros maravilhosos sobre todos os assuntos! Jornais. Revistas. E até livros chatos se acha também, porque ali se atende a todos os gostos. Gibiteca, Discoteca, Internet: dispõe-se a toda gente! Até um Tatu-Bola passeia hoje pela ribanceira do Riacho Itororó, digo, pelo Centro Cultural São Paulo: é um objeto de madeira bem bolado para alegria da garotada, que se diverte e aprende, nas visitas monitoradas. Tem também música ao vivo para todos os gostos rítmicos. Uma livraria... Um restaurante-lanchonete ao ar livre, que é para fazer-de-conta que ainda fazemos pic-nic... E o mais recente é o Espaço de Leitura para Crianças e Adolescentes! Porque ao cidadão do futuro, há de se ter toda dedicação. Nesse espaço, que é este aqui, além de se fazer uma gostosa leitura, ouve-se histórias como nos tempos de nossos avós. Brinca-se também, com a poética das palavras, num exercício de reencantar o mundo. Mas, mas... Cadê o Itororó? Perguntam ainda “Cadê o Itororó?” Já lhes contei que está coberto pela avenida, por esta expressa avenida, chamada 23 de maio. Mas, bem sei, isto não é contar tudo. Cobriram sim, o Itororó e muitos outros riachos, dando passagens só para os carros, porque era o jeito moderno de se fazer CIDADE. Era. E hoje, em dias de chuvas o espetáculo que se tem é uma cidade transformada em lagos por todos os lados, onde carros boiam; pessoas ficam durante horas, segurando-se em postes para não serem levadas pela correnteza; casas inundadas pelas águas imundas destes lagos relâmpagos; e, um trânsito parado, de horas, horas e horas... Nem metrô funciona bem. E tudo por quê? Porque quando o solo está coberto por cimento e concreto, todo bem asfaltado, o volume de água das chuvas em circulação aumenta até sete vezes mais que o solo descoberto. Piscinões? Hoje, já não são mais alternativas modernas. Assim, dizem os estudiosos, e mais, que as enchentes não são necessariamente fenômenos inevitáveis, como por exemplo, um terremoto. Afirmam também que as chuvas não seriam nossas inimigas, se fossem respeitadas, 123

cumpridas de fato as leis que determinam que se deve deixar intocada uma faixa de 30 metros nas margens dos rios e de 50 metros nas bordas de suas nascentes. E o que fazer, agora, principalmente, ouvindo o Centro Cultural São Paulo, provocando-nos com: “Esse mundo é meu/esse mundo é meu!” Esse mundo é meu? É! Este mundo é meu! Este mundo é teu, este mundo é nosso! Então, assim como tivemos que rever nosso papel com relação ao lixo, temos de fazê-lo com relação às águas, as águas fluviais. Fazer gramados é um bom jeito de retê-las e isto não é só dever do poder público, fazendo praças e canteiros. Também podemos e devemos reter as águas que caem em nossos telhados: plantando mais e cimentando menos os quintais de nossas casas e condomínios, fazemos assim uma pequena mas, fundamental diferença! Ah! Ainda quero lhes contar mais uma coisa: que de tanto ouvir a Lizette, aqui no Centro Cultural, perguntar “Cadê o Itororó?/Cadê o Itororó?”, acabei descobrindo que além deste, coberto pela “23”, cuja fonte é aqui no Paraíso, há um outro, com sua nascente lá nas bandas de Santos, onde inventaram uma grande roda, como a que eu convido vocês para fazermos agora. Lá, eles cantavam assim: “Fui no Itororó beber água não achei Achei bela morena que no Itororó deixei Aproveite, minha gente, que uma noite não é nada se não dormir agora, dormirá de madrugada Ó dona maria, ó mariazinha, entrará na roda e dançarás sozinha Sozinha eu não danço nem hei de dançar porque eu tenho... vocês para serem meu par. Aproveite, minha gente, porque se uma gota, também, não é nada, com muitas já vira uma enxurrada. E nós somos como a gota que é o NADA e é TUDO. Por isso fazemos mesmo a grande diferença na construção deste mundo, deste mundo que é meu, deste mundo que é teu, deste mundo que é nosso! Vamos, então, cuidá-lo! E dizer bem alto, agora: “este mundo é meu, este mundo é meu!” agradecimentos: Lizette, Maria Helena, Mercedes, Olga e Roque. 124

Expedição pelo Riacho do Ipiranga Fernanda K. Marinho Silva e Rachel Pinheiro Nessa expedição pretendemos seguir o riacho do Ipiranga desde sua nascente até o Parque da Independência, localizado nas margens do riacho no local onde foi proclamada a independência em 1822. O significado histórico do riacho será bastante explorado nesta expedição pela simbologia sobre o significado de nacionalidade do Brasil. Complementar a perspectiva histórica, serão abordados aspectos hidrográficos, geológicos, biológicos e culturais em dois parques de grande importância em São Paulo: o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga e o Parque da Independência. 1º Ponto: Nascente do Ipiranga - Parque Estadual das Fontes Ipiranga (Parque do Estado). No Jardim Botânico seguiremos a Trilha da Nascente, localizada em um fragmento de Mata Atlântica em regeneração. Nesse ponto será abordado o que é uma bacia hidrográfica e da necessidade de preservação dos mananciais. Será feito um passeio na região da nascente, onde serão abordadas questões sobre a história do Rio Ipiranga e o que ele significou no cenário nacional e principalmente paulista. Além disso, serão abordados alguns conceitos sobre a flora e a fauna do local. Translado de ônibus entre o Jardim Botânico e o Parque da Independência. Seguiremos o riacho do Ipiranga canalizado pela Av. Ricardo Jafet até o Parque Independência. Neste trecho serão abordadas questões ambientais sobre a ocupação do espaço urbano, evidenciando as transformações ao longo do Riacho, riscos de inundação e a dinâmica hídrica. Tudo isso pode ser visualizado dentro do próprio ônibus. 2º ponto: Parque Independência. Local de grande importância histórica por abrigar o Museu Paulista, monumento dedicado à Independência do Brasil construído às margens do riacho do Ipiranga. Abordaremos a história do parque e do museu, desde a inauguração do edifício-monumento, em 1890. O local apresenta grande importância para o estudo das ciências naturais de São Paulo, por ter abrigado inicialmente coleções zoológicas, mineralógicas e botânicas resultantes da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo. Será feito um passeio pelo jardim e pelo bosque do parque, onde serão abordadas algumas questões sobre: o que são jardins? O que são bosques? Para que servem? Quais são os conceitos ambientais, científicos, culturais e estéticos destes locais? Serão abordadas algumas questões sobre a conservação e a recuperação de áreas verdes em São Paulo, os significados dos jardins botânicos e ornamentais para os estudos científicos e práticas de recuperação e conservação ambiental. Será feita a observação do Riacho do Ipiranga no local, onde serão discutidos aspectos como poluição, ocupação urbana, canalização do rio, disponibilidade de água, etc.

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A expansão urbana no município de São Paulo Tiago Davi Vieira Soares de Aquino e Denise de La Corte Bacci Impulsionado pelo desenvolvimento capitalista, São Paulo passou e vem passando, por grandes transformações, uma expansão urbana instantânea e descontrolada, em detrimento ao ambiente que a cerca. Abordando temas pertinentes a esta problemática e baseado nos preceitos da Educação Ambiental e Ciências da Terra, a oficina tem por objetivo promover, por meio de interpretação de imagens e uma expedição urbana (atividade de campo), o uso e a ocupação do espaço urbano de forma sustentável. A atividade de campo que consiste basicamente em nove pontos de visitação no centro histórico de São Paulo, terá duração de aproximadamente quatro horas. Os pontos visitados são Teatro Municipal, Viaduto do Chá, Praça da Sé, Caixa Cultural São Paulo, Mirante do Pátio do Colégio, Tribunal de Justiça, Mosteiro de São Bento, Edifício Martinelli e Galeria Olido. Nestes pontos é possível regatar uma parte da história social e cultural da cidade, bem como o seu crescimento urbano dentro de uma perspectiva ambiental. São abordados também temas relacionados às ciências da Terra, dentre eles patrimônios geológicos, e principalmente os conceitos geocientíficos presente no nosso dia-a-dia, que muitas vezes passam desapercebidos. A Galeria Olido, por exemplo, é revestida por uma rocha que apresenta em suas estruturas fósseis de bactérias que viveram a bilhões de anos atrás. Nos locais como o Teatro Municipal, Caixa Cultural, Tribunal de Justiça e Edifício Martinelli é possível discutir a relação dos principais tipos de rochas utilizados nestas construções, em função do período histórico, econômico e social do município em determinadas épocas. Ainda dentro desta perspectiva ambiental, locais como Viaduto do Chá e Mirante do Pátio do Colégio, são essenciais para discutir a questão da ausência de áreas verdes no município e a interferência do homem nas bacias hidrográficas, acarretando assim diversos problemas para a população. É possível observar in loco o rio Tamanduateí, que segundo a língua Tupi quer dizer rio de muitas voltas dado seu padrão meândrico apresentado no passado, mas que hoje está completamente retificado e margeado pela Avenida do Estado, é possível também, observar apenas o vale do rio Anhangabaú, uma vez que o rio está totalmente canalizado por baixo da Avenida Nove de Julho.

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Reconhecendo a Guarapiranga: identificando a origem da água César Pegoraro e Pilar Cunha Quando pensamos na água que sai das nossas torneiras, dificilmente conseguimos refletir sobre a sua origem. Quando falamos de origem não estamos nos referindo a empresa de abastecimento, e sim ao manancial de onde tais empresas retiram a água. Este reconhecimento é fundamental, pois ao identificar in loco o estado do local que reduz a água que estamos consumindo, passamos a rever nossos hábitos cotidianos. Hábitos de consumo, de participação das políticas públicas, de acompanhamento dos fatos ligados ao tema. É impossível fica passível diante de tanta informação e vivência. Vivemos há muito tempo uma crise de água na Metrópole de São Paulo. Produzimos exatamente aquilo que consumimos, não há folga na quantidade de água disponível. Temos hábitos extremamente desperdiçadores e a nossa compreensão sobre nosso papel enquanto cidadãos é bastante reduzida. A proposta desta expedição é apresentar de forma lúdica e envolvente alguns desafios hídricos que temos e evidenciar algumas formas de envolvimento dos cidadãos que minimize este cenário crítico. O roteiro consiste em visitar a barragem da Guarapiranga, onde exploraremos por meio de mapas o processo de urbanização da Metrópole e como isto ocorreu nas áreas de mananciais. Ali, pode-se visualizar o espelho d’água do reservatório e o ponto de captação da Sabesp. Esta represa responde pelo abastecimento de 4 milhões de pessoas e é o manancial mais ameaçado da Metrópole. Dali, seguiremos para o Córrego São José, onde poderemos ver algumas ações que têm sido feitas para conter as ações de contaminação das águas do reservatório por esgoto doméstico. Abordaremos algumas atividades do poder público e como isto tem interferido na qualidade da água que se bebe. O próximo ponto de observação e conversa será às margens do Rio Pinheiros, onde refletiremos sobre a questão do consumo, saneamento básico e as políticas de abastecimento público, evidenciando assim algumas situações conflitantes e indesejáveis quando pensamos em água de beber. Deste ponto retornamos ao Centro Cultural São Paulo.

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Perfil dos participantes Curadoria Lizette Negreiros Curadora do evento Curadora de teatro infanto-juvenil do CCSP. Desenvolve esse trabalho há 20 anos e criou, na instituição, várias atividades com o intuito de beneficiar a criança, o adolescente e o jovem – espetáculos, oficinas e palestras. Criou também o Projeto Teatro Jovem e realizou o Seminário de Teatro na Educação, junto com o Núcleo de Ação Educativa do CCSP. Realizou a Mostra de Teatro infanto-juvenil No Reino do faz de conta procura-se... a verdade e o Projeto Carrocel. Participa como palestrante de Festivais Internacionais de Teatro para a Infância e Juventude em São Paulo. É jurada de Festivais de Teatro para crianças ou adolescentes, é integrante de comissões para escolhas de espetáculos infanto-juvenis da Secretaria Estadual da Cultura. Faz parte da Comissão da Lei Mendonça, como representante da Secretaria Municipal de Cultura, e atriz do Teatro Vento Forte. Ermelinda Moutinho Pataca Curadora convidada Professora doutora na área de Geociências e Educação Ambiental da Faculdade de Educação da USP. Com formação interdisciplinar, a pesquisadora tem graduação em química, mestrado e doutorado em Educação Aplicada às Geociências pela UNICAMP. Durante o mestrado (1999-2001), realizou um projeto de pesquisa que integrava arte, ciência e técnica na análise de imagens produzidas na Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792). Para o doutorado (2001-2006), continuou investigando o mesmo tema, mas de uma forma mais ampla quando realizou o mapeamento das viagens científicas idealizadas pela elite ilustrada luso-brasileira e financiadas pelo Estado Português entre 1755 e 1808. Participa de programas de formação continuada de professores, na USP e na UNICAMP, abordando temáticas ambientais, históricas e científicas para a construção de metodologias de ensino interdisciplinares. Arnaldo Fernandes Júnior Curadoria de Audiovisual Arnaldo Fernandes Junior é formado em Administrador de Empresas pela PUC-SP e em Geografia pela USP. Trabalha com cinema há mais de 15 anos, tanto na gestão de projetos de incentivo (participou do pioneiro PIC-Projeto de Incentivo ao Cinema do Gabinete da SMC), quanto na curadoria e coordenação de eventos audiovisuais. Desde de 1996 - ao lado do cineasta Plácido de Campos Jr. é o curador do Núcleo de Cinema e Vídeo do CCSP, atual Núcleo de Curadoria do Audiovisual do CCSP tendo realizado até o presente mais de quinhentos eventos.

Debate sobre aquecimento global Adelino Ricardo Jacintho Esparta Possui graduação em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo (1988), mestrado em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo (1991), mestrado em “Systemdynamik Und

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Regelungstechnik” pela Universitaet Stuttgart, Alemanha (1993) e doutorado em Energia pela Universidade de São Paulo (2008). Atualmente é sócio-diretor da Ecoinvest Carbon Brasil e professor do Instituto Mauá de Tecnologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Protocolo de Kyoto, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, redução de emissão de gases formadores do efeito estufa, energias renováveis e eficiência energética. Isis Akemi Morimoto Possui graduação em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999) , mestrado em Recursos Florestais pela Universidade de São Paulo (2002) e ensino médio e segundo grau pela Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (1993) . Atualmente é Analista Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e Coordenação de Equipe do Fundo Nacional do Meio Ambiente. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Gestão Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação Ambiental, Direito Ambiental, Árvore, Política Ambiental, Ecologia e Propriedade Rural. Fórum de reflexões – Integrações socioambientais na cidade de São Paulo Ana Cristina Chagas dos Anjos Possui graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996). Atualmente é Educadora colaboradora dos Institutos de Pesquisas em Ecologia Humana. Antonio Carlos Robert Moraes Possui graduação em Geografia pela Universidade de São Paulo (1977), e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1979); mestrado (1983) e doutorado (1991) em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor titular da Universidade de São Paulo. Celso Dal Ré Carneiro Possui graduação em Geologia pela Universidade de São Paulo (1972), mestrado em Geociências (Geoquímica e Geotectônica) (1977) e doutorado (1984) pela Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Doutor do Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino, Instituto de Geociências, da Universidade Estadual de Campinas. Atua principalmente nos seguintes temas: geociências, geologia e ensino de geologia. Gustavo Veronesi Geógrafo e educador ambiental da Fundação SOS Mata Atlântica, do núcleo União Pró-Tietê. João Luiz Pegoraro Possui graduação em Ciências Biológicas, especialização (pós-graduação lato sensu) em Ciências Ambientais, mestrado (1998 - Esalq-USP) e doutorado (2003 - EESC-USP) em áreas temáticas de interface: ambiente, educação e sociedade. Atualmente é professor de graduação e pós-graduação da Universidade São Marcos - SP, desenvolvendo atividades acadêmicas principalmente nas áreas de Ciências Ambientais, Educação Ambiental e Ecologia Aplicada. Possui larga experiência em atividades de intervenções socioambientais, tendo atuado junto a ONGs ambientalistas e conservacionistas desde o final dos anos 1970.

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Leopoldo Gabriel Thiesen

Possui graduação em Filosofia - Licenciatura Plena pela Universidade de Passo Fundo (1982) com Especialização e Mestrado em Filosofia - Ética pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2000) e doutorado em Filosofia pela mesma universidade (2006). Atualmente, atua como professor colaborador da PUC-Minas em Poços de Caldas e desenvolve Pós-doutorado no Programa de Ambiente e Sociedade junto ao NEPAM/UNICAMP. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: história da filosofia, ética, filosofia contemporânea, filosofia da diferença, estética, economia solidária, organização popular, cooperativismo, bioética, ética ambiental e filosofia, literatura, cultura e ambiente. Maria Christina de Souza Lima Rizzi Possui graduação em Educaçao Artistica Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (1980), mestrado (1990) e doutorado (2000) em Artes pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professora doutora exercendo suas atividades junto ao Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde leciona na Graduação e Pós-Graduação. Atua principalmente nos seguintes temas: arte-educação, educação ambiental e museologia. Maria Salette Mayer de Aquino Possui Mestrado em Lingüística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (1994). É docente da Área de Alemão no Centro de Ensino de Línguas da Unicamp desde 1989. Áreas de pesquisa: ensino e aprendizagem de alemão como língua estrangeira, interação em sala de aula e professor pesquisador de sua prática. Participa do Projeto Sonha Barão, dando oportunidade aos alunos de graduação da universidade de envolverem-se com as questões socioambientais, educacionais e culturais do Distrito de Barão Geraldo. Envolveu-se com o Programa Universidade Solidária e com o Projeto Rondon, dos quais participou, respectivamente, em 2001 e 2007. Marcos Sorrentino Possui graduação em Biologia pela Universidade Federal de São Carlos (1981) e em Pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos (1983); mestrado em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (1988), doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (1995) e pós-doutorado pelo Departamento de Psicologia Social da Usp (1999) . Atualmente é DAS5 do Ministério do Meio Ambiente e da Amazonia Legal. Atua principalmente nos seguintes temas: Educação Ambiental, universidade, participação, Educação, ensino superior. Marisa Trench de Oliveira Fonterrada Graduado em Música (Bacharelado) pela Universidade São Judas Tadeu (1977), mestrado em Educação (Psicologia da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991), doutorado em Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996) e foi Professor Livre-Docente em Técnicas de Musicalização pelo Instituto de Artes da UNESP. Atua principalmente nos seguintes temas: educação musical, música, canto coral, ecologia acústica e A disciplina Artes no ensino fundamental, médio e superior. Ondalva Serrano Formada em agronomia pela ESALQ/USP, com especialização em Agronomia para o Desenvolvimento Integral, no Centre International de Hautes Ètudes Agronomiques, na França, e Doutorado em Agronomia na USP. É Coordenadora Pedagógica da Rede do Programa de Jovens da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo, com sede no Instituto Florestal. 130

Pedro Roberto Jacobi Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1973), e em Economia pela Universidade de São Paulo (1972); Mestrado em Planejamento Urbano e Regional pela Graduate School of Design - Harvard University (1976), Doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1986). Livre Docente em Educação -USP. Professor Titular da Universidade de São Paulo, Co-editor da revista Ambiente e Sociedade desde 1997. Membro do conselho editor das revistas Environment and urbanization (0956-2478), EURE (Santiago) (0250-7161) e O&S. Organizações & Sociedade. Tem experiência na área de Políticas Públicas Ambientais, Politicas Sociais, Gestão Ambiental, Movimentos Sociais e Participação, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento sustentável, gestão compartilhada de recursos hídricos, Participação social e gestão de resíduos sólidos, Educação ambiental e participação da sociedade civil na gestão ambiental. Coordenador do TEIA-USP Laboratorio de Educação e Ambiente. Representa a USP no Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê onde exerce a relatoria da Cãmara Técnica de Planejamento e Gestão. Roseli Buzanelli Torres Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas (1984), Mestre em Biologia Vegetal (1989) e Doutora em Ciencias (área de Biologia Vegetal) (1996) pela Universidade Estadual de Campinas. Pesquisadora Científica (PqC V) do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Jardim Botânico, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Trabalha na área de Botânica, com ênfase em Taxonomia Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: Flacourtiaceae (Salicaceae/Achariaceae), Lacistemataceae, florística e ensino de botânica. Atualmente, curadora do herbário IAC. Simone Portugal Possui graduação em Educação Artística/Licenciatura em Música pela Faculdade de Educação Musical do Paraná (1984) e mestrado em Educação pela Universidade de Brasília (2008) . Atua principalmente nos seguintes temas: Educação ambiental crítica, agenda 21 escolar, fazer educativo, Participação, potência de ação e projeto político pedagógico. Vania Maria Nunes dos Santos Graduada em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura); possui Mestrado em Educação (Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares) pela Universidade de São Paulo e Doutorado em Ciências (Ensino e História de Ciências da Terra) pelo Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de ensino desde 1985. Trabalha na área de educação e meio ambiente desde 1994, com assessoria e consultoria técnica para a elaboração, desenvolvimento e coordenação de programas de educação ambiental e de formação continuada de professores em exercício, em parceria com universidades, instituto de pesquisas e órgãos governamentais em prefeituras municipais. Atualmente é consultora técnico-pedagógica da Prefeitura Municipal de Guarulhos e colaboradora em projeto do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas.

ExperimentAÇÕES Ambientais Mauricio Compiani Possui graduação em Geologia pela Universidade de São Paulo (1981), mestrado (1988) doutorado (1996) pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor associado do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Educação, com ênfase 131

em ensino de ciências, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino fundamental, ensino de geociencias, ensino-aprendizagem, investigações em sala de aula, formação continuada de professores, discursos em sala de aula e trabalhos de campo em ciências naturais. Nídia Nacib Pontuschka Possui Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela Universidade de São Paulo (1962), Mestrado em Geografia (1978) e doutorado em Educação (1994) pela Universidade de São Paulo. É Professora Doutora da Universidade de São Paulo pela Faculdade de Educação e pelo Departamento de GeografiaFFLCH. Tem experiência na área de Educação, com ênfase na Formação de Professores. Atua principalmente nas áreas temáticas de Geografia, Formação do Professor, Estudo do Meio, Interdisciplinaridade, História da Disciplina Geografia e Educação Ambiental. Na atualidade integra a Pesquisa: Educação de Adultos Trabalhadores: metodologias de ensino-aprendizagem, itinerário formativo e capacitação de professores. Coordena o Projeto de Estudo do Meio e Formação de Professores da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Guarulhos. César Pegoraro Biólogo e educador ambiental do Instituto Socioambiental (ISA). Participa do Programa de Mananciais do ISA.

Atividades Educacionais Cecília Borelli Cecília Borelli é psicóloga, artista plástica e arte-educadora. Desde 1985 desenvolve oficinas, whorks©hops e palestras sobre arte-educação, sempre ligados à qualidade de vida e aos princípios da ecologia humana. Paralelamente, desenvolve seu trabalho como artista plástica, pesquisando materiais e incorporando elementos, formas e cores da natureza. Tem realizado instalações e exposições em espaços públicos com temáticas que se propõem sempre a despertar no espectador a consciência da preciosidade e responsabilidade de ser cidadão do planeta, de ser natureza. Pertence à Rede Mundial de Educação para a Paz e à Biocentric Foundation. Nos últimos anos também pesquisa e concebe figurinos e objetos cenográficos para músicos, atores e bailarinos. A música está sempre presente em suas oficinas, nas telas e mandalas que pinta e em suas instalações. Marco Scarassatti Compositor formado pela Unicamp, durante seu mestrado em Multimeios pela mesma universidade, pesquisou o processo criativo do compositor Walter Smetak, construtor de objetos híbridos que reúnem em si: plasticidade e produção sonora. Professor Doutor pela Unicamp. Cineasta autodidata, seu curtametragem “A terra do silêncio”, ganhou 12 prêmios entre os anos de 2002 e 2003. Atualmente desenvolve a pesquisa de criação e construção de esculturas e ambientes sonoros, além de atuar também como professor universitário na Faculdade Casper Líbero. Curador da exposição Paisagens Plásticas e Sonoras, exposição que reuniu trabalhos de compositores que na busca de novas sonoridades chegaram a novas formas para o instrumento musical convencional. (Mostra Sesc de Artes/2005 – Sesc Pinheiros, Brasil). Marcelo Bomfim Músico-compositor formado em Música Popular pela Universidade Estadual de Campinas -Unicamp. Há oito anos realiza coleta em áudio de diferentes ambientes sonoros e estuda vários instrumentos

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(cordas, sopro, percussão, piano e acordeão). Trabalha com composição sonora para teatro de animação (Cia. das Cores – SP, Brasil) e pesquisa na área de construção de objetos sonoros, além de atuar em projetos de arte-educação com público infantil em instituições e organizações. Trabalhou em projetos com a Fundação Semco, Senac-RJ, e Unicef. Carlos Eduardo Alves Rocha O Goerr, -Grupo de Operações Especiais de Rápida Resposta foi criado em 03 de março de 2003, com o objetivo de prestar serviços voluntários de primeiros socorros em parques e áreas de acesso público além de proporcionar lazer e campanhas de cunho social não só para a conscientização, mas também para a qualificação técnica de quem se interessa por tais atividades. A estrutura do Goerr foi idealizada por Marcelo Moura que é o Comte Geral e tem como Sub Comte Geral Carlos Eduardo Alves Rocha – (Cabo Rocha) que foi o responsável pelas Expedições Rocha-Cadê o Itororó no Centro Cultural São Paulo. Rita Marques Pedagoga, com especializações em Psicopedagogia Clínica e Institucional e Educação Ambiental. É Contadora de Histórias para crianças e adultos há mais de 15 anos. ministra oficinas sobre A Arte de Contar Histórias há 4 anos. A partir de junho de 2008 passou a trabalhar no Espaço de Leitura Infanto-juvenil da biblioteca do CCSP. Fernanda K. Marinho Silva Possui graduação em Ciências Biológicas (Licenciatura) pela Universidade Estadual de Campinas (1998) e mestrado em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (2002). É doutoranda em Ensino e História das Ciências da Terra pela UNICAMP, onde está desenvolvendo um projeto de formação continuada de professores. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino-Aprendizagem. Rachel Pinheiro Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas (1999) e mestrado em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (2002) . Tem experiência na área de História, com ênfase em História das Ciências. É Doutoranda em Ensino e História das Ciências da Terra pela Unicamp. Tiago Davi Vieira de Soares Aquino Estudante quarto anista do curso de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental, participa de projetos voltados para área de pesquisa e divulgação científica. Atualmente pesquisa alguns empreendimentos minerários na área urbana do município de São Paulo e sua relação com a comunidade adjacente. Denise Bacci Possui graduação em Geologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP, Campus de Rio Claro (1990), mestrado (1995) e doutorado (2000) em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP. Estágios na Università di Milano (1998) e University of Missouri_Rolla (2004). Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP (2004). Atualmente é professora doutora do Instituto de Geociências da USP. Tem experiência na área de Mineração e Meio Ambiente, com foco em: pedreiras em áreas urbanas, impactos ambientais, desmontes com explosivos e monitoramentos ambientais e sismográficos. Desde de 2007 vem se dedicando à área de Ensino de Geociências e Educação Ambiental.

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Notas 1. WMO, do inglês World Meteorological Organization 2. The Great Global Warming Swindle (http://www.channel4.com/science/microsites/G great_global_warming_swindle/, acessado em 29 de setembro de 2008). 3. J. C. Azevedo (2008). “O efeito e a causa”. Folha de S. Paulo, 1º de setembro de 2008. 4. J. E. Veiga e P. Vale (2008). “Baixaria sobre o aquecimento global”. Folha de S. Paulo, 25 de setembro de 2008. 5. Autoridades do setor de Mudanças Climáticas envolvidas no Curso: membros do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), OECC (Overseas Environmental Cooperation Center), Ministério do Meio Ambiente Japonês, Departamento de Promoção dos Mecanismos de Kyoto, Instituto Nacional de Agro-Ambiente, Instituto de Pesquisa Junkankyo, Universidade de Tohoku, Organização para o Desenvolvimento de Novas Tecnologias Industriais e Energéticas, Centro de Pesquisas de Florestas e Produtos Florestais do Japão, Centro de Pesquisas sobre Meio Ambiente Global, Comitê Financeiro para Energia Limpa, Consultores de diversas instituições internacionais como Banco Mitsubishi e Pacific Consultants, Membros de órgãos ambientais dos seguintes países: Japão, Inglaterra, Índia, Indonésia, China, Ilhas Fiji, Ucrânia, Argentina, Swatzland, Botswana, Moldova, Uzbesquistão, Suriname, Chile, Moçambique, República Dominicana, Guatemala, dentre outros. 6. Em abril de 2009 será realizada a III Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, abordando também o tema Mudanças Climáticas. 7. Professor Titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo. Coordenador de TEIA-USP Laboratório de Educação e Ambiente 8. Professor de educação e política ambiental na Esalq/USP (Depto. de Ciências Florestais). 9. Professora e arte-educadora ambiental. Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. 10. Documento técnico número 2: Programa de Educomunicação Socioambiental. Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília, 2005. Disponível em: http://www.mma.gov.br. Acesso em 14 de agosto, 2008. 11. Algumas respostas, que também são perguntas, emergem na sequência: é uma pessoa comprometida com a emancipação da classe trabalhadora ou com a emancipação de todos os seres humanos? É . empreendedor(a), protagonista, líder, um ser humano exemplar, cidadã ou cidadão, uma pessoa que busca, um indivíduo que dialoga com os outros e consigo próprio? É Humanista? Socialista? Anarquista? Democrata? Social-democrata? Democrata-cristão? Liberal? Católico(a)? Protestante? Budista? Taoísta? Esportista? Macrobiótico? Vegetariano? Ciclista? Bem falante? Bom ouvinte, atencioso? Prestativo? Ponderado? . Introspectivo? Extrovertido? Solidário? Cooperativo? Fuma maconha? Consome açúcar? Deve ter no mínimo o ensino fundamental completo? Ser alfabetizado? Ter ensino superior? Ter renda mínima? Não ter terra ou qualquer outra propriedade? Ao final do processo de ensino deve estar habilitado(a) a conduzir reuniões e elaborar projetos e relatórios? 12. 1980, São Paulo, Mesa-redonda Aspectos Geológicos e Geotécnicos da Bacia Sedimentar de São Paulo, ABGE-SBG/SP. 13. SBGeo – Sociedade Brasileira de Geologia. 14. ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental. 15. Zona saturada é a parte do subsolo cujos espaços vazios estão plenamente preenchidos por água, de onde resulta o nome saturação. 16. Boçoroca - No Brasil, nome que se dá a uma escavação na terra, causada pelo efeito da erosão sobre solos frágeis, geralmente, arenosos, originada pela combinação entre a erosão superficial e subterrânea. Há boçorocas muito profundas provocadas pelo desmatamento ou pelas construções de estradas, cidades. 17. Os nomes dados às escolas são fictícios. 18. A Usina produtora de álcool oferecia maior número de empregos para os trabalhadores da cidade, mas, de tempos em tempos, passava por graves crises com a dispensa de grande número de trabalhadores, o que interferia na vida social, econômica e educacional da cidade. 19. A Guacho, dedicada à produção de laranja, situada no município vizinho de Santa Cruz do Rio Pardo, atrai trabalhadores de Espírito Santo do Turvo.

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20. 1 m³ = 1 mil litros 21. Terra do Silêncio, de Marco Scarassatti. Filme em super-8 (7 minutos) disponível no site: http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&VideoID=18130707

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