Estratégias na interpretação simultânea: a Teoria da Relevância e o Desempenho Experto

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Descrição do Produto

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Para os meus pais e uma dedicatória especial para a minha mãe de quem heredou a propensidade e amor de línguas.

« Ce qui se conçoit bien s’énonce clairement » Nicholas Boileau, l’Art poétique (1674) “O que bem se concebe claramente se enuncia” (minha tradução)

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer os professores do Curso de Formação de Intérpretes de Conferência que tiveram muito paciência enquanto eu melhorava o meu português. Agradecimentos especiais para a minha orientadora Professora Branca Vianna que me incentivou a aprimorar os conceitos e cujo próprio trabalho de pesquisa e como intérprete é um marco que espero um dia aproximar. Igualmente, gostaria de agradecer a Professora Raffaella Quental que teve a gentileza de fazer a segunda leitura dessa monografia e que sempre foi um excelente exemplo do intérprete profissional. Um agradecimento ao Professor André Bekenn cujo bom sentido de humor, grande inteligência e curiosidade são inspiradores. E, sobretudo, gostaria de agradecer a minha querida professora de português a Professora Maria Teresa Moreira que me ensinou pacientemente e sempre teve uma palavra simpática para me ajudar. Graças a ela e a sua grande conhecimento do português, posso agora fazer o elogio do sotaque suave da Bahia que me ajudou muito na elocução e pronúncia das palavras.

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Sumário Resumo Abstract

p. 5 p. 6

Introdução

p. 7-8

1.0 Primeiro capítulo — Gabarito Téorico

p. 9

1.1 A Teoria dos Modelos dos Esforços de Gile (1995)

p. 10-11

1.2 Pragmática 1.3 Teoria da Relevância 1.4 Desempenho Experto1

p. 11-12 p. 13-14 p. 15-16

Capítulo 2: A interpretação simultânea

p. 17

2.1 A interpretação simultânea e a Teoria da Relevância 2.2 A interpretação simultânea e o Desempenho Experto 2.3 Memória e a Teoria de Desempenho Experto 2.4 Prática / Treinamento 2.5 Estabilidade 2.6 Meta-reflexão

p. 21-24 p. 24-25 p. 25 p. 25-26 p. 26-27 p. 27-28

3.0 Terceiro capítulo — As estratégias na interpretação simultânea

p. 29

3.1 Criando a melhor situação de trabalho possível 3.2 Estratégias de controle de tempo : uso de adições e diminuições e a generalização

p. 29-31

Conclusão

p. 35

Bibliografia

p. 36-43

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p. 31-34

Ericsson, K.E. 2000a 5

Resumo : Ao procurar saber mais sobre a profissão de intérprete e destacar informações úteis para a melhoria do desempenho do intérprete profissional, foi escolhido o tema “Estratégias na interpretação de conferência” para o presente trabalho. Na leitura de vários estudos e teorias sobre o desempenho na interpretação (tanto simultânea quanto consecutiva), tornou-se evidente a importância da Teoria dos Modelos dos Esforços, o papel da relevância (definida pela Teoria da Relevância) e a necessidade do amparo da psicologia do desempenho (performance psychology) para uma melhor captação da práxis da profissão. O entendimento destes conceitos apoiou a procura de estratégias que poderiam ajudar a aprimorar a qualidade da interpretação.

Nos textos,

evidenciou-se a importância da teoria da relevância e do contexto, como bases a partir das quais é possível alcançar uma grande qualidade na interpretação. Da mesma maneira, o conceito de experto mostrou-se valioso nesta procura da melhor atuação possível. Essa monografia apresenta uma tipologia de estratégias ligadas ao papel da memória, à psicologia do desempenho e à relevância, tal como entendidas na literatura especializada, que poderão ser úteis para os intérpretes que buscam o aperfeiçoamento. Foi incluída a leitura de textos sobre interpretação em línguas não européias, nas quais a enorme diferença de estruturas linguísticas e culturais exige um grande esforço da parte do intérprete na transposição para línguas européias, concluindo-se assim, que as estratégias utilizadas nestes casos podem ser facilitadoras para a interpretação entre línguas mais aparentadas.

Na conclusão, avalia-se o aporte que as estratégias

levantadas poderão trazer e apresenta-se tópicos de interesse para pesquisa futura.

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Abstract : Seeking to learn more about the interpreter’s profession and highlight useful information on improving the professional interpreter’s performance, the theme “Conference Interpreting Strategies” was selected for this paper.

While reading

various studies and theories about interpreting performance (both in simultaneous and consecutive modes), what stood out was the importance of the Efforts Models Theory, the role of relevance (as defined by Relevance Theory) and the filter afforded by performance psychology to better capture the profession’s praxis. Understanding of these concepts guided the search for strategies which might help improve the quality of an interpretation. In the texts, the importance of relevance theory and context as bases from which one can achieve great quality in interpreting became evident. In the same way, the concept of the expert was valuable in this investigation of information on the best possible performance. This paper presents a typology of strategies related to the role of memory, performance psychology and relevance found in specialized literature and which might prove useful to interpreters who seek improvement. Also included were readings of texts on interpretation in non-European languages, wherein the enormous difference in linguistic structures and cultures requires a great effort on the interpreter’s behalf when transposing into European languages. These readings were done in the belief that the strategies used in these cases might facilitate interpretation between more closely related languages. In conclusion, we evaluate the contribution that the strategies collected might be able to make and present topics of interest for future research.

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Introdução No intuito de aprofundar o conhecimento sobre a profissão de intérprete de conferência e aprender estratégias que possam ser úteis na atuação de um intérprete de conferência que visa ter o melhor desempenho possível — ou seja, um profissional com grande domínio da interpretação, um experto2— foi pesquisada a literatura sobre estratégias de interpretação de conferência e desempenho excelente, buscando distinguir quais dentre estas poderiam ser utilizadas para solucionar dificuldades específicas da interpretação. Dada a diferença entre as várias modalidades de interpretação e, consequentemente, o teor das diferentes demandas feitas ao intérprete no seu desempenho, optou- se por dar enfoque à interpretação simultânea. O método utilizado na pesquisa foi o levantamento bibliográfico, sendo o primeiro passo o exame da literatura acerca de interpretação de conferência, em particular da simultânea, a fim de apreciar a ação conjunta de vários elementos. Para tal, a literatura de base incluiu os principais textos da área de estudos de interpretação, assim como a leitura de textos sobre linguística e psicologia. Devido ao escopo desta monografia, as teorias serão descritas sucintamente. Basicamente, procurou-se entender o funcionamento da interpretação simultânea, com o objetivo de aprimorar e aprender estratégias que possam ser úteis na atuação da profissão. Partindo do princípio de que existe uma excelência de desempenho, passível de ser adquirida, na interpretação simultânea, foram levantadas as estratégias encontradas na literatura específica. No momento, sem ter a grande experiência necessária para opinar sobre as estratégias, fez-se a opção de exibir uma tipologia das mesmas. O grande foco dessa monografia é a compreensão da dinâmica dos diferentes esforços envolvidos na busca do aperfeiçoamento e o estabelecimento de um lastro de conhecimento que o propicie. Outrossim, o objetivo da monografia é fornecer um gabarito teórico e um guia da tipologia das estratégias para os profissionais interessados em melhorar o seu desempenho. Uma vez que há lacunas nos estudos sobre as estratégias na interpretação de conferências em modalidade simultânea, o presente trabalho espera poder contribuir, apontando as áreas de 2

Ericsson, K.A. 2000.

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pesquisa que poderão esclarecer a atividade do intérprete mestre em interpretação simultânea, não apenas aprofundando seu aprendizado, como também aprimorando seu desempenho na profissão.

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1.0 Primeiro Capítulo – Gabarito teórico Antes de mais nada, é importante definir e explicar a interpretação simultânea, uma atividade prática cujo objetivo é

traduzir oralmente o conteúdo das falas

enunciadas pelo orador3. Destacamos que para fazer uma tradução oral simultânea, é imprescindível não somente ter um domínio completo dos idiomas envolvidos, mas também dispor de uma agilidade na cognição, ou aquisição de conhecimento, no processamento do conhecimento e na subsequente transmissão dele numa outra língua. Parte dessa celeridade no processamento consiste na capacidade da memória e da meta-cognição — o ser consciente dos seus próprios conhecimentos e a capacidade de compreender, controlar e manipular os seus próprios processos de aquisição do conhecimento. Na interpretação simultânea, a aptidão de monitorar e escolher é a capacidade de peneirar o conhecimento para produzir uma fala que diga o que mais se aproxima do conteúdo, tom e estilo do original4. Ao filtrar, é necessário que o intérprete consiga achar a formulação verbal mais apropriada, o que se consegue graças à escolha pragmática das falas mais relevantes ao conteúdo e ao contexto, para produzir uma comunicação. Ao fazer o levantamento bibliográfico, notou-se que existem três teorias, duas linguísticas e uma psicológica, que podem ser úteis para entender melhor como funciona uma interpretação simultânea. As duas primeiras teorias são a Teoria dos Modelos dos Esforços e a Teoria da Relevância, que faz parte da Teoria da Pragmática Linguística. O Modelo dos Esforços é um modelo desenvolvido por Gile (1995) que explica as relações entre os esforços empenhados para fazer uma interpretação simultânea. Quando a interpretação simultânea é exitosa, essas relações são regidas por um equilíbrio. A Teoria Linguística Pragmática é interessante para o nosso estudo, pois expressa a criação de significado numa dada situação, tomando em conta a relação entre os interlocutores e o contexto. Dentro desta área, a Teoria da Relevância trata do 3 4

http://www.aiic.fr/types_interpretation Seleskovitch, D. 1968.

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contexto e das falas nos instantes em que o orador discursa e o ouvinte constrói uma interpretação para entender o que ouviu. Por se tratar do contexto no momento e na relação direta entre ouvinte e falante, essa teoria é, de acordo com Vianna (2005), a área da linguística que mais se aplica ao estudo da interpretação simultânea. A terceira teoria é da área da psicologia e se chama Teoria do Desempenho Experto5. Essa teoria visa observar os fatores que contribuem para o desempenho de alto nível, a fim de entender os mecanismos necessários para atingir uma excelência de desempenho. 1.1 A Teoria dos Modelos dos Esforços6 de Gile (1995) A Teoria dos Modelos dos Esforços foi desenvolvida por Gile como um conjunto de modelos cognitivos da interpretação para explicar os erros e omissões que acontecem na interpretação e que não seriam resultantes de uma deficiência linguística, de uma insuficiência de conhecimento extralinguístico ou de condições de trabalho. Nesta teoria, Gile explicita que a dificuldade intrínseca existente na interpretação se deve às tarefas cognitivas envolvidas. No início, essa teoria foi desenvolvida para ser utilizada como quadro conceitual por estudantes de interpretação. Ao se basear no conceito de que há uma capacidade de processamento e a disponibilidade dessa capacidade é finita, Gile criou uma esquema simples de maior alcance explicativo. Sobretudo, ele criou conjuntos a partir de operações complexas e dividiu os conjuntos em três “esforços” conscientes (ou seja, não automáticos). Ele apresentou estes esforços como sendo entidades distintas, apesar da existência provável de componentes cognitivos que se sobreponham. Para Gile, a interpretação consiste no esforço de ouvir (O), definido como todas as operações envolvidas na compreensão, da análise dos sons do texto de origem à identificação das palavras, prosseguindo até às decisões finais sobre o significado de uma frase. 5 6

da Silva, 2007, p. 24. Tradução de “Efforts Model” por Freire, E., 2008.

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Gile define o esforço de produção (P) na interpretação simultânea como um conjunto de operações que se estende desde a representação mental inicial da mensagem a ser entregue, passando pelo planejamento do discurso, até à implementação do plano do discurso. O esforço da memória (M) está sempre ativado. Na interpretação simultânea, há alta demanda da memória de curto-prazo devido à operação de vários fatores, a saber (a) o intervalo de tempo entre o momento em que são ouvidos os sons do discurso e o momento em que acabam os sons que serão processados para a compreensão, (b) o intervalo de tempo entre o momento em que a mensagem a ser formulada na língua alvo é determinada e a finalização de sua formulação, (c) quaisquer estratégias utilizadas, e (d) razões linguísticas (sintaxe, gramática, etc.). A partir dessas definições, Gile concluiu que a interpretação simultânea poderia ser modelada num processo que consiste em três esforços, acrescido de um esforço de coordenação (C), que é explicitado como: O + P + M + C = interpretação simultânea. Ainda, ele fez uma estimativa do total dos esforços de processamento de capacidade requeridos (requisitos totais ou RT) que poderiam ser expressas como RT = RO + RP + RM + RC. Para que haja uma interpretação fluente, a capacidade disponível (D) para cada esforço (OD, MD, PD e CD) deverá ser igual ou maior do que os requisitos da tarefa. Essa relação está expressa como: OD>RO, MD>RM, PD>RP, CD>RC. Uma vez que entendemos que a capacidade total de processamento disponível é finita, o modelo se torna significante. A Teoria dos Modelos dos Esforços também poderia ser uma boa base para criar um quadro conceitual para uma discussão sobre as questões teóricas. 1.2 Pragmática Os contextos que influenciam os esforços na interpretação simultânea podem ser organizados quanto à sua dinâmica, graças aos princípios da pragmática. Dentro de uma teoria de interpretação, há três componentes principais, a saber: uma teoria sintática, uma teoria semântica e uma teoria pragmática. A primeira, a teoria sintática,

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seria uma descrição abstrata da competência sintática de uma pessoa A que fala a língua L, isto é, o conhecimento tácito que A tem da sintaxe (regras da formação das frases gramaticais) da língua L. A segunda, a teoria semântica, é uma descrição abstrata da competência semântica de A, o conhecimento tácito ou outro que A tem das semânticas (significados das falas) da língua L. A terceira, a teoria pragmática é uma descrição abstrata dos mecanismos que tornam possível aos intérpretes identificar o que um orador quer dizer ao enunciar uma fala F numa dada ocasião, visto o que a teoria semântica teria a dizer sobre F. Assim, a teoria pragmática é a descrição de um sistema rico e propositalmente inferencial, a competência pragmática comum7. A pragmática, segundo Charles Sanders Pierce (1878), entende-se como uma regra de lógica encorpada num axioma pragmático, isto é, o significado de um conceito é a soma de todas as implicações para todas as eventuais observações e ações.8 Quando uma palavra é dita, há várias interpretações potenciais para o seu significado. O ouvinte recorre à pragmática para gerar, a partir da significação literal da palavra, as várias possibilidades de sentido. É difícil chegar a uma única definição da pragmática, já que os pesquisadores da área entendem de maneira diferente o seu escopo, porém é possível dizer que, de maneira geral, ela consiste em todas as maneiras de entender o significado literal e de que modo estas maneiras emergem. Segundo Leech (1983)9, é possível enxergar a complementaridade entre a semântica e a pragmática contida no significado, pois são independentes e ao mesmo tempo têm uma certa dependência entre si. Podemos dizer, citando Leech, que a pragmática constrói a partir do significado, definido em termos de semântica e aumenta este significado, segundo um dado de contexto ou de situação.

1.3 A Teoria da Relevância

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Neale, S. 2005. Pietarinen, A.V. 2005. 9 Leech, G. 1983. 8

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A Teoria de Relevância (doravante TR) foi desenvolvida por Deirdre Wilson e Dan Sperber em 198510. Assim definem eles o princípio da relevância : “Todo ato de comunicação ostensiva comunica a presunção de sua própria relevância ótima”11. Essa definição envolve três elementos básicos, que são o estímulo ostensivo, o ambiente cognitivo e os efeitos contextuais. O termo ‘estímulo’, no sentido utilizado por Sperber e Wilson, é uma fala que provoca uma modificação no ambiente físico, com a finalidade de ser percebida conforme essa interpretação psicológica. Para Sperber e Wilson (2003), o orador cria um estímulo que comunique explicitamente, tanto para o orador quanto para o ouvinte, as informações que o orador pretende transmitir, isto é, por meio do estímulo, o orador comunica um conjunto de suposições. Para estes dois autores, existe na TR uma presunção de relevância ótima, que consiste em um estímulo ostensivo, suficientemente relevante para justificar o esforço que o ouvinte empenhará para processá-lo. Este estímulo ostensivo é o mais relevante e compatível com as habilidades e preferências do orador12. O ambiente cognitivo de uma pessoa consiste no conjunto de suposições que o indivíduo pode criar. Gutt (1992) explica que na TR o contexto é o conjunto de premissas utilizadas para interpretar uma fala. Acrescenta ele que na TR, o contexto compreende o subconjunto de crenças que o ouvinte tem a respeito do universo, referente a apenas uma parte do ambiente cognitivo do ouvinte. Gutt (1992) define o ambiente cognitivo como todas as informações que uma pessoa é capaz de representar em sua mente e de aceitar como verdade, ou provável verdade. A origem dessa informação poderia ser a percepção física (visual, auditiva, etc.), a memória ou uma inferência da percepção física juntamente com a memória. Para Sperber e Wilson, a comunicação envolve a produção de um determinado estímulo com duas intenções, a de informar o ouvinte sobre alguma coisa e a de informar uma intenção informativa13.

Sperber e Wilson (1986/1995) definem o

contexto como “o conjunto de premissas utilizadas na interpretação de um 10

Sperber, D e Wilson, D., 1986/1995. Sperber, D e Wilson, D., 1986/1995. 12 Sperber, D e Wilson, D., 1986/1995. 11 13

Sperber e Wilson, 1986/1995, p. 29. 14

enunciado”14.

O efeito contextual segundo Gutt (2000), é entendido como as

modificações no contexto. Essas modificações podem ser divididas em três tipos: a dedução de implicações contextuais, a confirmação de suposições pré-existentes e a eliminação de suposições devido a uma contradição. Sperber e Wilson consideram que a relevância é uma propriedade psicológica inata que faz parte dos processos mentais e a relevância é responsável pelos efeitos contextuais. Explicada brevemente, o indivíduo está atento às informações que lhe são relevantes, que lhe procuram efeitos contextuais. O indivíduo processa os efeitos contextuais para otimizar a relevância. As informações que não são relevantes não produzem efeitos contextuais, pois não há interação entre elas e o ambiente cognitivo. O efeito contextual depende de um estímulo associado a alguma informação relevante. Sperber e Wilson explicam que, para um indivíduo, uma suposição é relevante segundo o peso dos efeitos cognitivos positivos que dela resultam, no caso de um processamento ótimo. Da mesma forma, a relevância de uma suposição aumenta quando for menor o esforço requerido para atingir o efeito cognitivo. Resumindo, existe um conjunto de suposições relevantes comunicado por meio de um estímulo ostensivo. O estímulo ostensivo cria efeitos contextuais, cujo número aumenta de acordo com a relevância do referido estímulo. Os efeitos contextuais consistem na inferência, confirmação ou eliminação das suposições e sua presença numerosa atesta a veiculação desejável do conteúdo proposto. O processamento é otimizado, quando resulta no maior número possível de efeitos contextuais, com o menor esforço15.

1.4 Desempenho Experto Uma teoria oriunda da psicologia e desenvolvida principalmente por K.A. Ericsson, a Teoria do Desempenho Experto é uma tentativa de explicar os fatores presentes nos altos níveis de desempenho. Segundo Ericsson (2009), a pesquisa recente sobre um 14 15

Sperber e Wilson, 1986/1995, p.15. Sperber e Wilson, 1986/1995, p. 265-6. 15

desempenho reproduzível de alto nível, desafiou exitosamente o mito de que a expertise e o alto nível de desempenho se desenvolvem como consequências naturais e inevitáveis, depois de muitos anos de experiência numa área. Afirma ele que existe ampla evidência de diversas áreas, de que o número de anos de experiência é péssimo indicador objetivo do desempenho profissional. Para preencher a lacuna deixada pela duração da experiência, foi proposta uma abordagem alternativa16 chamada a abordagem do desempenho experto. Nesta abordagem focaliza-se o desempenho superior, passível de ser medido de modo objetivo, de tarefas representativas, que capturam o expertise numa determinada área17. A referida abordagem implica na identificação de situações críticas, que demandam uma ação imediata e nas quais a ação correta pode ser avaliada posteriormente. Ericsson (2009) indica que os níveis superiores de desempenho são mediados por sistemas integrados e complexos de representações para a execução, o monitoramento, o planejamento e a análise do desempenho. Ele nota que para adquirir um desempenho hábil, é preciso ter uma abordagem metódica e deliberada. A prática deliberada é aquela que foca na melhoria de um aspecto específico do desempenho. Ao desenhar tarefas de treinamento que capturam as condições das situações representativas, o indivíduo ocupará os seus mecanismos cognitivos complexos, os que gerem um desempenho superior. Estes mesmos mecanismos e representações permitirão também ao experto de se monitorar, se avaliar e raciocinar o seu próprio desempenho. Resumindo, Ericsson destaca dois fatores-chave no Desempenho Experto, a saber, primeiramente, o fato do experto ter uma memória de informação relevante a longo prazo, superior à de pessoas com menos habilidades. Em segundo lugar, o fato do experto se comprometer a ter uma prática deliberada de atividades específicas, a fim de melhorar aspectos do seu desempenho e facilitar o desenvolvimento de suas representações cognitivas. Uma representação cognitiva é uma representação mental da realidade física, que permite que a pessoa projete possibilidades. As representações

16 17

Ericsson & Lehmann, 1996; Ericsson & Smith, 1991. Ericsson, 2006; Ericsson & Smith, 1991.

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cognitivas dão ensejo ao experto de continuar melhorando os mecanismos que permeiam o seu desempenho e atingir maiores níveis de controle sobre o mesmo.

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Capítulo 2: A interpretação simultânea A presente monografia interessa ao intérprete que visa aperfeiçoar sua atuação profissional. Especificamente, o foco foi dado à atuação na modalidade simultânea, por ser uma das mais usadas nas reuniões internacionais. Embora a maioria da literatura especializada em estudos de interpretação indique que o início dessa modalidade foi o Tribunal de Nuremberg em 1945, as pesquisas de Takeda (2007) indicam que essa modalidade existia antes, citando o estudo de Shveitser (1999), que destaca o uso da interpretação simultânea sem cabines em 192818, no Cominterm, e no Cominterm de 1933 com cabines e fones para os intérpretes.

Da mesma forma, cita-se Baigorri,19 que assinala a existência da

“verdadeira” interpretação simultânea nos anos 1920, destacando sobretudo a Conferência Internacional de Trabalho de 1928. Takeda sustenta que foi durante o Tribunal de Nuremberg que a interpretação simultânea amadureceu, tornando-se uma modalidade que passou a ser utilizada de forma constante por prolongados períodos de tempo.20 Definida pela Associação Internacional de Intérpretes de Conferência, a interpretação simultânea é : “...a tradução oral de um discurso à medida que este se produz. O intérprete, instalado num cabine a prova de som com visibilidade direta da sala, ouve o discurso, que interpreta em tempo real para sua língua de trabalho... Os ouvintes acompanham por meio de fones.”21 (minha tradução) O objetivo da interpretação simultânea é comunicar de maneira imediata e com grande precisão o que o falante quer transmitir.22 A busca para entender melhor os processos envolvidos na interpretação simultânea teve o intuito de procurar descrições do melhor desempenho possível, conforme delineado por intérpretes considerados mestres na profissão, tais como Taylor-Bouladon (2000) e Seleskovitch (1968). Ambos consideram que, na interpretação simultânea, procura-se uma comunicação 18

Shveitser, A.1999. Baigorri, J. 1999. 20 Moser-Mercer, B. 2005. 21 Sitio internet AIIC France — minha tradução. 22 Herbert, J. 1952. 19

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que tenha o mesmo tom, estilo, cadência e fluidez do orador, transmitindo-se o conteúdo do discurso proferido através de uma terminologia apropriada. Uma vez que o objetivo é comunicar com precisão e exatidão o conteúdo completo do discurso, devem ser incluídas as informações extra-linguísticas necessárias para a boa compreensão do ouvinte. O intérprete visa, sobretudo, criar uma comunicação coerente, terminando todas as frases e sendo fiel à especificidade da língua de destino em todos os níveis, inclusive na pronúncia de palavras estrangeiras, procurando assim evitar qualquer esforço de entendimento desnecessário da parte do ouvinte. MoserMercer (2008), Kurz (2001), Kalina (2005) e Pöchhacker (2002) referem-se à qualidade visada na interpretação como dependente, tanto do contexto do texto original, quanto da cultura de origem do orador e do evento em si. Eles são unânimes em julgar que uma interpretação simultânea de qualidade pressupõe o empenho do intérprete em facilitar a comunicação entre os diversos contextos. Para atingir essa meta de qualidade na interpretação simultânea é importante entender os processos necessários. Gile (1995) considera os esforços, na Teoria dos Modelos dos Esforços, como etapas não isoladas de produção dentro da interpretação simultânea, imanentes à própria produção, como indica o nome da modalidade. Os esforços, ou etapas, muitas vezes são ativados ao mesmo tempo ou com idas e voltas. Um bom exemplo disso é a memória, ativada e referenciada durante as quatro etapas, a fim de que o intérprete entenda o que está ouvindo e ache as falas correspondentes na língua de destino, assim como organize as informações e coordene essas atividades. Durante todo este tempo é preciso manter um equilíbrio entre os esforços, para evitar quaisquer estresses que possam ser adversos à produção de qualidade. Na interpretação simultânea, a memória é utilizada tanto para resgatar palavras no idioma de origem, quanto para manter presente o conteúdo ouvido a ser reproduzido no idioma alvo. A memória de trabalho, definida por Baddeley (1986) se refere à informação mantida armazenada, que pode ser acessada facilmente, somente durante um período curto, sem treinamento ou reativação. Kintsch, Patel e Ericsson (1999) expandem essa definição para incluir a interação com uma área da memória, onde está armazenada informação de longo prazo. Eles definem a Memória de Trabalho como tendo dois componentes; a memória de trabalho de longo prazo

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(MTLP23), na qual é armazenado todo o conhecimento adquirido, mas que não é necessariamente usado de maneira regular, e a memória de trabalho de curto prazo (MTCP24), onde a informação está imediatamente acessível. Ericsson (1989) destaca que a informação armazenada na MTLP pode ser acessada sem atraso, graças a ajudas eficientes na MTCP para resgatar a informação requisitada e utilizá-la. Ele explica que o desenvolvimento dessa competência provém da organização dos conhecimentos e denomina a teoria desta competência como Teoria de Memória Especializada. Para manter o equilíbrio entre os esforços e velar pela qualidade da interpretação simultânea, é necessário que o intérprete tenha desenvolvido a competência de meta-cognição. Graças a essa competência, o intérprete pode monitorar sua produção ao longo de um discurso e manipular seus próprios processos de aquisição de conhecimento, para conseguir um equilíbrio dos esforços. Quando o intérprete procura na sua MTCP uma informação e não acha, ele procura na sua MTLP e verifica sua escolha num rápido vaivém entre a MTLP e a MTCP, tentando se certificar de que recebeu e entendeu corretamente a representação que o orador pretendeu transmitir ( palavra, estilo, expressão ou construção) no idioma original. Da mesma maneira, ao se monitorar, o intérprete organiza seus conhecimentos, um dos elementos-chave na aquisição da memória especializada. Na interpretação simultânea, a memória e a meta-cognição são elementoschave em todas as etapas. Podemos dizer que a interpretação simultânea é composta por uma dinâmica de elementos sempre sujeita aos contextos, sejam do assunto, do palestrante, do público, do ambiente ou dos equipamentos. Assim, a interpretação simultânea se assemelha a um tecido de organza de seda, no qual cada contato (contexto) altera a forma e cada esforço (fio) desequilibrado pode prejudicar o total. 23

A teoria de Memória de Trabalho de Longo Prazo (Ericsson e Kintsch, 1995) restringe-se às tarefas praticadas com frequência e às áreas de conhecimento conhecidas. A teoria explica que a competência de MTLP é uma habilidade de expertise, pois foi desenvolvida na memória uma área de longo prazo. O conteúdo da memória de curto prazo cria o conteúdo da de longo prazo. Este conteúdo de longo prazo está diretamente ligado ao conteúdo da memória de longo prazo e poderá ser resgatado facilmente. As ligações são estruturas estáveis e fixas da memória. A MTLP existe somente nas áreas em que somos especialistas – nas quais tivemos muito prática. 24 A Memória de Trabalho de Curto Prazo é um conteúdo da memória que está disponível em qualquer condição, mas que tem uma capacidade extremamente limitada.

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2.1 A interpretação simultânea e a Teoria da Relevância Como vimos, o intérprete recebe o significado do discurso do orador e, graças ao equilíbrio dos quatro esforços da interpretação simultânea, expressa o conteúdo do texto original na língua de destino, recorrendo aos mecanismos da pragmática, que possibilitam a recepção dos significados expressos na língua de origem, seu entendimento, organização e escolha do sentido, de acordo com a situação ou contexto. Como parte da pragmática, a Teoria da Relevância ajuda a explicar os mecanismos que permitem a escolha do conteúdo a ser produzido. A idéia básica é que a comunicação humana visa alcançar o melhor entendimento do conteúdo, dentro do ambiente cognitivo do ouvinte e do contexto indicado pelo orador. Essa busca da relevância faz sentido, pois é uma cooperação implícita. Paul Grice,25 filósofo inglês, influenciou Sperber e Wilson quanto ao conceito de implicatura — que denota o ato de criar significado, implicar ou sugerir uma coisa ao dizer outra, ou o objeto deste ato26. Ele entende a comunicação como sendo feita graças a um princípio de cooperação, dividindo-a em quatro níveis, sendo o primeiro a forma (maneira de falar) e os três restantes o conteúdo (qualidade, quantidade e relação).27 Neste princípio a intenção de criar sentido é fundamental, pois para que o ouvinte possa inferir significado e entender, é necessário que exista uma cooperação entre o falante e o ouvinte, resultante de um dado contexto. A teoria de Grice explica igualmente a cooperação mútua entre falante e ouvinte, que gera a comunicação. Graças à TR, podemos ver que a cooperação implícita na comunicação, possibilita a escolha do sentido mais relevante, descartando a possibilidade de falas completamente aleatórias, sem conexão, nem contexto. É justamente o contexto que norteia a seleção do significado na comunicação. Por exemplo, quando um orador fala em ‘regularização fundiária’, o intérprete procura achar o equivalente em inglês que explicaria o significado no contexto brasileiro e embora a tradução literal seja Land Regulation, o intérprete poderia 25

Vianna, B. 2005. Davis, W. 2010. 27 Grice, P., 1968. 26

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especificar melhor este significado, traduzindo mais adequadamente como Land Title Regulation, indicando assim o tipo de contexto jurídico. O intérprete consegue fazer essa dinâmica graças ao treinamento e também por estar ciente do contexto do discurso e da cultura do orador. Com a inclusão da palavra title, o intérprete tornou a interpretação mais relevante para o ouvinte anglófono. Outro exemplo seria a escolha de significado conforme o contexto cultural. Um orador começa o seu discurso com piadas que, na maioria das vezes, são completamente aleatórias. Se um canadense francófono mencionar son cadran, não é a mesma coisa que um francófono europeu ou africano para quem a palavra cadran significaria um relógio de sol, ou outra superfície plana com marcações indicando variações de ordem de grandeza, como um barômetro. Não obstante, o francófono canadense está se referindo ao seu despertador. A situação pode se resolver assim que o quebequense começar a falar, pois ouvindo o sotaque quebequense, o intérprete logo selecionará a versão mais relevante da palavra e filtrará as falas na malha fina do contexto quebequense, para melhor entendê-las e, consequentemente, poder traduzi-las corretamente. Podemos imaginar a relevância como sendo uma visão mental do contexto. Essa visão implica grandes mudanças no processamento textual, quando o intérprete tem que lidar com uma situação de comunicação de partida que não lhe seja familiar, isto é, afastada temporal, histórica, geográfica e culturalmente. Gutt (2000a, 2000b) chama a situação na qual o intérprete não possui as informações em seu ambiente cognitivo de “contexto artificial”. Essa situação acontece quando o tradutor não tem informações sobre o texto, nem no nível consciente (MTCP), nem no consciente potencial (MTLP). Num contexto artificial, a TR poderia servir de metodologia para solucionar problemas ao ser utilizada como um esforço cognitivo relacionado ao processamento inferencial das falas.

Neste caso, podemos imaginar a situação

fascinante da declaração de rendição incondicional das forças japonesas do Imperador Hirohito em 1945, que foi transmitida pelo rádio para japoneses. Na época, a maioria dos japoneses não entendeu o japonês clássico utilizado pelo imperador pois era a

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linguagem do Imperador28. Consequentemente, tiveram que pedir que sua fala fosse traduzida para o japonês padrão dos meios de comunicação, uma vez que as pessoas não entenderam que o país capitulara. Os intérpretes precisaram inferir o sentido da declaração histórica, repleta de alusões eloquentes, que o Imperador Hirohito proferiu, para entender que a Declaração de Potsdam foi aceita. Neste caso extremo, foi a primeira vez na história que o público japonês ouviu a voz do Imperador, que era considerado um Deus na época e houve necessidade de que o intérprete concentrasse todos os seus esforços para achar as balizas no contexto da época (segunda guerra mundial, bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki) para em seguida entender o sentido da fala. A TR explica que o intérprete escolhe o significado mais relevante do contexto e que para chegar a essa escolha, o intérprete precisa ter adquirido duas competências processuais que são a da meta-cognição, que já examinamos, e a da meta-reflexão, para conseguir um equilíbrio entre os processos e manter os gabaritos de qualidade na produção. Uma competência de automonitoramento semelhante à meta-cognição, a meta-reflexão foi definida como a capacidade de avaliar seus próprios processos reflexivos.

Alves (2006) nota que quando consegue atingir um nível mais

desenvolvido de meta-reflexão, o tradutor tem mais capacidade de articular um julgamento crítico sobre os seus processos de tradução.29 Para o escopo dessa monografia, podemos notar que essa distância crítica dos processos de tradução interage com a meta-cognição, que monitora a aquisição de conhecimento. Na metacognição trata-se da aquisição do conhecimento e na meta-reflexão, trata-se dos processos de produção de tradução, ou interpretação simultânea.

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Tradicionalmente, o Imperador japonês se expressa num japonês específico do Imperador, que é diferente hierarquicamente da linguagem utilizada na Corte Imperial, que também é mais complexa, abstrata e acrescentada de honoríficos do que o japonês padrão utilizado nos meios de comunicação. Devido à recente catástrofe no Japão (2011), houve novamente uma transmissão histórica, um discurso ao vivo na televisão nacional: no dia 16 de março de 2011, o Imperador Akihito fez um discurso à nação. Para os japoneses mais idosos, lembrava o discurso do Imperador Hirohito, mas, diferentemente de seu pai, o Imperador Akihito usou o japonês padrão, que é utilizado nos meios de comunicação para expressar mais proximidade e, consequentemente, mais solidariedade ao povo da nação. 29 Alves, F. (2006). p. 111.

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Cabe acrescentar a dinâmica entre os quatro esforços definidos por Gile e incluir o papel da memória, o desenvolvimento de Memória Especializada, a metacognição e a meta-reflexão. A meu ver, essa dinâmica ampliada pode ser norteada pelo princípio de relevância da TR, assim o intérprete recebe, entende, organiza e reproduz uma comunicação conforme o contexto, procurando sempre as escolhas mais relevantes. Podemos dizer que a TR ampara o aprimoramento do desempenho do intérprete, ao explicar uma negociação eficiente entre idiomas, que produz uma comunicação. Na interpretação simultânea, que exige agilidade e eficiência, o fato de entender a TR e incorporar as competências descritas acima, conseguindo um equilíbrio nos esforços da interpretação, constitui um conjunto de elementos-chave para um desempenho de grande qualidade.30 2.2 —A interpretação simultânea e o Desempenho Experto31 Tendo descrito a interpretação simultânea e os vários aspectos da Teoria da Relevância junto às competências e aos esforços requisitados, assim como o equilíbrio entre eles, como soma de interpretação de qualidade, iremos explicar a relação entre a interpretação simultânea e a Teoria de Desempenho Experto, pois o objetivo dessa monografia é procurar assinalar um desempenho experto na interpretação simultânea. Nas pesquisas sobre o desempenho de experto examinadas, a maioria tratava de desempenho na área dos esportes, xadrez e música e, como o próprio Ericsson observou no seu artigo (2000), a interpretação entre duas línguas tem semelhanças cognitivas com o que acontece com os jogadores de xadrez ou com os músicos, pois ambos precisam receber, entender, processar, organizar e produzir de uma linguagem para outra. Portanto, mesmo que não exista ainda nenhum estudo aprofundado sobre o desempenho de experto na interpretação simultânea, a teoria é útil para entender o que é o desempenho de alto nível. Da mesma forma, torna-se imperioso este estudo, para que possam ser escolhidas as formas de aprimoramento e as estratégias adequadas para a aquisição de uma excelência de desempenho.

30 31

Alves, F. 2005a. da Silva, 2007, p. 24.

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2.3 Memória e a Teoria de Desempenho Experto Explicamos a interação entre a MTCP e MTLP e, segundo a Teoria de Desempenho Experto, a MTLP é uma competência-chave para alcançar um alto nível de atuação, sendo uma competência de expertise32. Na interpretação simultânea, é importante que o intérprete tenha desenvolvido a sua capacidade mnemônica, para estocar uma grande quantia de vocabulário nos idiomas de trabalho e ser capaz de fornecer de forma instantânea a palavra ou frase necessária. Além disso, o intérprete deve reter o que Herbert (1952) chama de uma “imagem”33, o mais completa, detalhada e exata possível do que acabou de ser falado. Porém, logo depois, o intérprete deve esquecer essa carga mnemônica para liberar a memória das pressões de sobrecarga e facilitar a produção linguística. Ericsson e Kintsch (1995) desenvolveram uma teoria sobre a memória de trabalho de longo prazo, que explica parcialmente como a memória está sendo utilizada nos processos cognitivos complexos. Para eles, a memória de trabalho de longo prazo é uma capacidade do especialista. Kintsch, Patel e Ericsson (1999) confirmam que parte integrante da formação de um experto numa habilidade é o desenvolvimento de uma memória superior numa área especializada.34 A memória de trabalho de longo prazo (MTLP) é mais importante para o desempenho de experto do que as outras habilidades. 2.4 Prática / Treinamento Mesmo que o treinamento não garanta um alto nível, segundo Ericsson e Staszewski (1989), foi comprovado que o desempenho melhora de forma contínua devido à pratica de atividades altamente estruturadas e conceituadas para aprimorar aspectos específicos do desempenho e facilitar o seu desenvolvimento, através da prática deliberada.35 No artigo de Ericsson (2000), o Desempenho Experto na interpretação acontece mediante as representações mentais de equivalências entre as

32

Kintsch, Patel e Ericsson, 1999. Herbert, J. 1952, p. 5. 34 Kintsch, W. Patel, V. e Ericsson, K. 1999. 35 Ericsson, 2000. p. 2. 33

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línguas e os mecanismos acionados nos esforços presentes na interpretação. 36 As representações e os mecanismos, organizados através do filtro da relevância conforme o contexto, fornecem as ferramentas para ganhar mais controle sobre o desempenho.37 O resultado é mais facilidade ao fazer a tarefa e poderia ser explicado como a aquisição e o refinamento de representações, que são as possibilidades de significado. O ato de refinar as representações consiste em atender e concentrar-se unicamente nos aspectos da mensagem apresentada que são relevantes à tradução, junto a um controle e uma estocagem maior na MTLP, enquanto outros aspectos sem relevância são ignorados. Podemos ver neste refinamento a presença da atuação do filtro de relevância assim como as competências de meta-cognição e meta-reflexão. O treinamento, ou a prática deliberada, providencia mais facilidade em descartar significados sem relevância ao contexto, e uma maior eficácia na meta-cognição e na meta-reflexão possibilita um ambiente positivo à atuação do interprete. 2.5 Estabilidade Silva, Oliveira e Lima (2008), Ericsson & Smith (1991) definem um individuo experto como aquele que tem uma estabilidade no seu desempenho de alto nível, a qual é entendida por esses autores como uma regularidade de realizações que merecem ou ganham destaque em diferentes circunstâncias dentro de uma determinada área ou domínio.38 Na literatura pesquisada para essa monografia, segundo Ericsson39, não consta nenhuma informação sobre a existência de diferenças generalizáveis e estáveis entre intérpretes, que possibilite a definição da estabilidade da interpretação simultânea de experto. Mesmo assim, destaca Ericsson, se for possível identificar intérpretes expertos com um desempenho superior consistente, muito provavelmente 36

Infelizmente, a maior parte das pesquisas sobre os mecanismos mediante a interpretação de experto é baseada na análise introspectiva pessoal dos intérpretes expertos dos seus próprios processos. Do mesmo modo, Ericsson não encontrou pesquisas feitas a longo prazo que poderiam validar as representações e os mecanismos descritos de maneira verbal pelos intérpretes expertos. Na pesquisa para essa monografia, consta a mesma lacuna de informações sobre o intérprete de alto nível, enquanto a maior parte dos estudos concentramse no desempenho de intérpretes médios e estudantes. 37 Kiraly, 1997; Seguinot, 1997; Shreve, 1997 Citado em Ericsson, K. A. 2000, p. 3. 38 Ericsson e Smith, 1991, Citado em Silva, Oliveira e Lima, 2008.p. 280. 39 Ericsson, correspondência pessoal do dia 19 de janeiro de 2011 e artigo “Expertise in Interpreting– Insights from Adopting an Expert-Performance Perspective” (2000).

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apresentarão oportunidades interessantíssimas para a avaliação e exploração da estrutura detalhada, mediante as representações da memória de trabalho, tal como na memória de trabalho de longo prazo40.

2.6 Meta-reflexão

Outro aspecto essencial dos intérpretes que dominam a sua atuação segundo Alves (2005b)41, é que eles são capazes de alcançar níveis de meta-reflexão mais altos. Num artigo tratando do treinamento de tradutores, Alves indica : “de uma perspectiva localizada no cognitivo, o desempenho de expertise na tradução é guiado pela meta-reflexão e o despertar da consciência desenvolvese em consequência da prática consistente e persistente, que pode ser monitorada e refinada, utilizando dados do processo levantados pelo próprio tradutor, para permitir uma melhoria qualitativa no desempenho deste.”42 (minha tradução) Continuando, Alves destaca no trabalho de Gonçalves (2003) uma conectividade, que considera a cognição como uma ação encorpada que dependeria das interações com o meio, assim incorporando a dinâmica dos processos intersubjetivos.43 Alta competência na tradução, segundo Gonçalves, incluiria cinco elementos, que são (1) a cognição ou a ação em si localizada (conforme Elman et al.), (2) a expertise, segundo Ericsson 2002, (3) uma competência geral apoiada em subcompetências ou as várias competências particulares que compõem a chamada competência geral numa área (PACTE 2003), (4) guiada pela Relevância (Sperber e Wilson) e, (5) meta-cognição para solucionar problemas, tomar decisões e atribuir a semelhança interpretativa às

40

Ericsson e Kintsch, op. cit. 1995. Alves, Fábio. 2005b. 42 Alves, F. 2005c p. 2. “from a cognitively situated perspective, expert performance in translation is guided by meta-reflection and awareness-raising develops as the result of consistent & persistent practice which can be monitored & refined using process-oriented data elicited by the practitioner translator himself in order to allow for a qualitative increment in translator’s performance.” 43 Alves. F. 2005c, p. 5. 41

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unidades de tradução (Alves e Gonçalves, 2003).44 Contudo, a meta-reflexão é crucial para solucionar problemas e para a tomada de decisões, crucial para alcançar o conhecimento de expertise da área de especialização que leva ao Desempenho Experto, o qual implica em uma quantidade extraordinária de conhecimento consciente, conhecimento acessível na memória de trabalho e deliberado, isto é filtrado por relevância e verificado através da metacognição e da meta-reflexão, ao mesmo tempo que explícito, ou seja, conhecimento expresso plena e claramente. Resumindo, com uma atualização do tema por Alves, o tradutor que tenha um Desempenho Experto saberá alocar de modo eficaz o esforço em ritmos equilibrados de cognição, conseguirá uma memória de trabalho de longo prazo dotada de padrões segmentados, fará uma meta-reflexão que o levará a solucionar problemas e tomar decisões com sucesso e terá uma relação equilibrada entre o esforço cognitivo e o efeito contextual.45

44 45

Alves, F. 2005c, p. 6. Alves, F. 2005c, p. 6.

29

3.0 Terceiro capítulo — As estratégias na interpretação simultânea. Como nos capítulos anteriores foram ressaltados os elementos necessários para distinguir um intérprete experto e explicadas as teorias subjacentes, neste capitulo não se pretende rever o treinamento do intérprete e sim apresentar de forma simples e prática a tipologia das estratégias levantadas para solucionar problemas encontrados na interpretação simultânea. As estratégias foram levantadas na literatura consultada e, além da estratégia de se criar um ambiente de trabalho propício ao alto nível de desempenho, elas podem ser organizadas quanto ao conceito geral de controle do tempo. Neste conceito, as estratégias foram divididas entre as que procuram adicionar ou diminuir elementos e as que recorrem à generalização. As estratégias da interpretação simultânea são processos, tanto conscientes quanto inconscientes, verbais ou não-verbais, que um intérprete usa para solucionar os problemas que encontra ao interpretar, de acordo com suas necessidades específicas46. Na sua tese de doutorado, Abuín (2005) desenvolveu uma pesquisa baseada na interpretação consecutiva e ofereceu a definição de estratégia, que nos pareceu ser a mais apropriada no escopo dessa monografia: “o processo mediante o qual o intérprete tenta resolver ou minimizar problemas relacionados a um ou outro dos vários componentes das fases de recepção e produção a fim de executar de maneira correta a tarefa interpretativa”47. 3.1 Criando a melhor situação de trabalho possível Na interpretação simultânea, existem vários fatores que podem influenciar o desempenho do intérprete e sobre os quais o intérprete tem controle, para preparar a melhor base possível para a sua prestação.

Entre estes, poderíamos destacar a

importância da qualidade do som que o intérprete receberá nos fones e do som emitido pelas falas do intérprete. Evidentemente, a qualidade dos equipamentos de som não é responsabilidade do intérprete, porém é possível prevenir eventuais problemas, chegando com bastante antecedência ao local do discurso para conversar com os 46 47

Abuín, M. 2005. Abuín, 2005: 52 in Morelli, 2008.

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técnicos dos equipamentos e testar os equipamentos para assegurar o bom estado de funcionamento destes. Além disso, é possível conversar e pedir que os técnicos expliquem ao orador ou aos organizadores a importância de manter a distância adequada do microfone, quando um indivíduo for falar, para evitar que a fala chegue irreconhecível ao intérprete e ao público. Explicando este ponto-chave, muitas vezes os técnicos de som podem intervir e lembrar o orador de afastar a boca do microfone, caso ele utilize o microfone de maneira errada. Essa intervenção poupa o intérprete de estresse na cabine, além de ser uma maneira diplomática de corrigir um potencial erro do orador, pois seria só uma correção técnica do profissional de som. Numa situação semelhante, um intérprete nem consultou nem organizou um sistema de “sinais de socorro” com os técnicos de som e, ao fazer a interpretação simultânea de um orador que não tinha experiência com microfones e que gritava reclamações no microfone, como se fosse um alto-falante, o intérprete ficou condenado a apenas imaginar o que o orador estaria dizendo – resultado: ninguém entendeu o que estava sendo dito. O intérprete só conseguiu fazer a interpretação quando captou pedaços de palavras ligadas à temática (organização, política, reclamando, repentinamente). Não é exagero dizer que ter boas e cordiais relações com os técnicos de som é de enorme importância na interpretação simultânea. Outros fatores sobre os quais o intérprete poderia ter influência para criar uma situação propícia à sua prestação são, a saber, o ambiente na cabine e o nível de preparo do próprio intérprete. Este último é o que consideramos o fator sine qua non do profissional. Toda a literatura destaca como fundamental o preparo do intérprete, que deveria visar entender o máximo possível do assunto com o qual irá trabalhar, inclusive preparar os termos técnicos. Não caberia no escopo dessa monografia fazer a exegese do porquê da importância do preparo, mas como a interpretação não se restringe ao conhecimento de idiomas, segundo toda a literatura lida, vale ressaltar o capítulo “Généralités” no L’interprète dans les conférences internationales de Danica Seleskovitch (1968), segundo a qual a chave para estabelecer uma base para o bom desempenho do intérprete é a preparação antes do evento. Quanto ao terceiro fator, o bom ambiente na cabine, é também de grande influência no desempenho do profissional. Embora pareça óbvio que cada intérprete

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deva se comportar de maneira respeitosa, tanto com seu parceiro de cabine, como com os demais membros da equipe do evento da qual faz parte, muitas vezes seria bom lembrar a conveniência de conversar amigavelmente com o seu parceiro e se empenhar em criar um ambiente de equipe.

Além de dar dicas para um bom

entendimento de equipe na cabine, em Conference Interpreting: principles and practice, Taylor-Bouladon (2000) enumera as características de bom comportamento que cada intérprete deveria observar na interpretação simultânea de um evento — e o autor considera a interpretação prestada como se partisse de uma equipe, pois o intérprete, por definição, não deve se destacar como uma personalidade, mas unicamente como um prestador de serviços, que comunica o que diz o orador, no idioma de chegada48. Já que os intérpretes são considerados também pelo contratante como prestadores de serviços, todos deveriam trabalhar em conjunto, respeitando uma boa e agradável conduta para que se consiga, em geral, o melhor desempenho possível no trabalho. Segundo Moser-Mercer (1996), a melhor qualidade é “a qualidade que um intérprete pode oferecer, se as condições externas estão apropriadas”49, ou seja, “[...] um intérprete fornece uma versão completa e rigorosa do original que não deforma a mensagem original e tenta capturar todas as informações extralinguísticas que o orador poderia ter fornecido, sob as restrições impostas por certas condições externas”50 3.2 Estratégias de controle de tempo : uso de adições e diminuições e a generalização Muitas vezes uma estratégia pode ser utilizada tanto na etapa de compreensão quanto na de produção devido à simultaneidade própria da interpretação simultânea. Entre as estratégias levantadas, destacou-se o conceito geral de ações para ajudar no controle do tempo, durante todos os esforços envolvidos na interpretação simultânea. Este conceito engloba igualmente o tipo de ação que adiciona ou diminui elementos e o tipo de ação que visa a generalização. Cada ação permite mais controle temporal 48

Ver o código de ética da AIIC no site www.aiic.net. Mercer-Moser, 1996: 44. “the quality an interpreter can provide if external conditions are appropriate” (minha tradução). 50 Mercer-Moser, 1996, p. 44. 49

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para gerenciar o conteúdo, beneficiando o intérprete na interpretação simultânea, quando este enfrenta problemas. O conceito geral de estratégias da tipologia controle do tempo visa a retomada de controle do tempo dos esforços empenhados na interpretação. Por exemplo, Kohn e Kalina (1996) sugerem que quando o intérprete encontrar problemas de compreensão, devido a frases com cláusulas complexas, ele poderá prolongar ou reduzir uma frase. Estes autores notam que é importante que o intérprete tenha o cuidado de manter o máximo de sintonia com o orador. Outra estratégia deste tipo sugerida por Riccardi (1999) é a de deixar as cláusulas abertas para adicionar outras ou especificá-las por meio de outra, quando o intérprete conseguir retomar o controle e compreender o conteúdo do discurso. Tanto Riccardi (1999) quanto Messner (2001) sugerem a repetição como outra maneira de controlar o tempo e enriquecer a acuidade léxica com sinônimos. Parafrasear poderia ser útil também para expressar uma fala, caso o intérprete não consiga encontrar o equivalente exato na língua de destino; parafraseando, o intérprete não se estressa e não perde tempo. A antecipação é uma outra estratégia para controlar o tempo. Por meio de indicações intralinguais (partes de expressões idiomáticas e colocações entre um verbo e o complemento), o intérprete pode antecipar uma fala, ganhando tempo e diminuindo esforços51. Caso a velocidade do orador sobrecarregue o processo de compreensão, é possível intercalar as falas com pausas. Caso o orador fale em alta velocidade, o intérprete pode optar por fazer mais pausas e intercalar falas com pequenas “explosões”52. Ao usar a estratégia das pausas, o intérprete precisa manter uma produção que tenha uma estabilidade e um ritmo o mais equilibrado possível. A segmentação é outra estratégia que visa propiciar melhor controle sobre o tempo e a produção do intérprete. Riccardi (1999) descreve essa estratégia como uma transformação morfosintática na qual uma cláusula subordinada é transformada numa cláusula principal, ou uma frase verbal tranformada numa substantiva. 51 52

Riccardi

Kohn e Kalina (1996); van Besien (1999); Willis (1978). Gerver (1969) In: Póchhacker e Schlesinger (2002).

33

(1999), Jones (1998) e Setton (1999) explicam que o intérprete pode dividir as cláusulas compridas para criar frases separadas. Numa situação de urgência, quando o intérprete não consegue entender o orador, o intérprete pode segmentar o conteúdo ao micronível, traduzindo palavra por palavra53. Essa estratégia de urgência deverá ser utilizada somente em situações criticas. O tipo da estratégia que consiste em adicionar ou diminuir conteúdo permite ao intérprete gerenciar melhor o seu desempenho e seu tempo também.

Uma

possibilidade é a simplificação de uma fala, que passa por uma simplificação léxica ou estilística de uma mensagem54. Quando o intérprete usar a estratégia de diminuir um conteúdo, normalmente, o intérprete deverá selecionar, para omitir, as informações supérfluas ou redundantes55.

O caso extremo seria a condensação das falas nos

pontos-chave, uma estratégia que só deveria ser utilizada numa emergência pois torna qualquer correção muito difícil56. Neste mesmo sentido, a estratégia das adições explicatórias consiste na expansão do léxico ou do conteúdo para esclarecer o significado para o ouvinte57. Essa última estratégia permite ao intérprete comunicar plenamente o conteúdo para o seu público, sobretudo quando se trata de um “contexto artificial” conforme Gutt (2000a, 2000b). O último tipo de estratégia encontrada foi a da generalização, que é útil tanto para o gerenciamento do tempo, quanto para manter um equilíbrio entre esforços empenhados. Uma estratégia para utilizar quando confrontado com problemas de compreensão seria a de inserir falas genéricas para continuar o mesmo ritmo do orador e “esperar” até compreender uma frase complicada, por exemplo58. A generalização também pode ser feita no nível do macroléxico, se o intérprete apagar o conteúdo no nível do microléxico.

53

Gile, 1995; Riccardi, 1999. Kalina, 1998; Riccardi, 1999. 55 Kalina, 1998; Riccardi, 1999. 56 Kohn e Kalina, 1996. 57 De Feo, 1993; Kohn e Kalina, 1996; Riccardi, 1999; Van Dijk e Kintsch, 1978. 58 Gile, 1995; Riccardi, 1999; Russo, 1989, In: Morelli, 2008. 54

34

Embora as estratégias sejam úteis quando o intérprete encontrar um problema ou enfrentar uma situação de emergência, elas deverão ser utilizadas com grande cuidado, pois sempre há uma perda na proximidade com o conteúdo original da interpretação produzida e muitas estratégias requerem uma excelente capacidade de memória. Alem disso, é importante que o intérprete mantenha uma semelhança de sintonia com o orador, para não perder a confiança do ouvinte, que poderia começar a duvidar do intérprete, não havendo grande sincronia entre o discurso do orador e a interpretação feita. No Desempenho Experto da interpretação simultânea, as estratégias podem ser interpretadas como manobras que propiciam maior controle para o intérprete em situações de dificuldade. Apesar disto, o intérprete experto estará sempre desenvolvendo a sua memória de longo prazo e praticando regularmente atividades que busquem melhorar as respostas às dificuldades enfrentadas. Talvez possamos propor que as estratégias sejam incorporadas à prática deliberada do intérprete, para que ele possa aprimorar sua agilidade.

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Conclusão Nessa monografia foram apresentadas a Teoria dos Modelos dos Esforços, a Teoria da Relevância (TR) e a Teoria de Desempenho Experto para apoiar o entendimento dos processos envolvidos no melhor desempenho na interpretação simultânea, para que possa ser alcançado o mais alto nível de atuação, e em seguida foi apresentada uma tipologia simples de estratégias que poderiam ser úteis para o intérprete profissional. As teorias linguísticas e a teoria psicológica ajudaram a propor a importância da interação entre os princípios encontrados nelas para atingir uma grande qualidade na interpretação simultânea. A apresentação da tipologia das estratégias no final da monografia buscou indicar as que foram encontradas na literatura, porém nem todas foram apresentadas. O propósito foi indicar possíveis caminhos para solucionar eventuais problemas encontrados na atuação do profissional. Devido à especificidade e ao contexto de cada evento de interpretação simultânea, as estratégias indicadas no levantamento não deveriam ser utilizadas como regras, mas como possibilidades de manobra numa situação difícil. Cada contexto requer uma resposta específica e caberia ao intérprete se basear no seu conhecimento e nas estratégias para criar a resposta apropriada à situação. Cabe notar na leitura das obras para essa monografia a falta de pesquisas feitas sobre intérpretes considerados expertos, como destacou Ericsson.

Neste âmbito,

talvez, humildemente, essa monografia poderia sugerir uma área para pesquisa futura.

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