ESTUDO EXPLORATÓRIO DE SINGULARIDADES E PARTICULARIDADES DO COMPLEXO MEGALÍTICO DA GROTA DO MEDO – ILHA TERCEIRA - AÇORES-Portugal

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FIPED III Portugal - Fórum Internacional de Pedagogia-12 e 13 de Abril de 2013. Angra do Heroísmo

ESTUDO EXPLORATÓRIO DE SINGULARIDADES E PARTICULARIDADES DO COMPLEXO MEGALÍTICO DA GROTA DO MEDO – ILHA TERCEIRA - AÇORES Ana Vieira ([email protected]), João Lemos ([email protected]), Mário Mendes ([email protected]) e Félix Rodrigues ([email protected]) Universidade dos Açores – Campus de Angra do Heroísmo - Portugal

Resumo: Desde 2003 que a UNESCO afirma, através da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que os sons podem fazer parte da identidade de uma comunidade, e promove o registo e arquivo de ambientes acústicos raros ou característicos. O ambiente sonoro do Complexo Megalítico da Grota do Medo pareceu-nos à partida singular, hipoteticamente derivado da sua geologia e ocupação humana, daí que se tenha encetado uma investigação que visou caracterizar essencialmente a sua acústica e paisagem sonora. As metodologias de colheita e análise de dados foram diversificadas, tendo passado pela realização de um inquérito a 30 pessoas residentes na freguesia do Posto Santo, com idades superiores aos 60 anos, na tentativa de encontrar atividades, crenças, designações ou soluções de adaptação da população àquele ambiente. A intensidade sonora dos sons produzidos no local foi avaliada em vários pontos do Complexo Megalítico com recurso a um sonómetro, em dois momentos distintos: com vento e sem vento. Também se tentou estabelecer neste trabalho paralelismos entre os registos fotográficos e sonoros de modo a verificar se existiam propriedades sonoras específicas relacionadas com os tipos de construções ou o local onde essas construções estavam instaladas. Foi possível identificar pelo inquérito algumas ocupações e usos do local, nomeadamente a utilização silvícola e a ocupação militar no período da Segunda Guerra Mundial. Menos claras foram as referências feitas pela população a atividades descritas como ilícitas ou a sons estranhos que aí ocorrem e que no seu entender desencadeiam uma valorização negativa desse ambiente. A intensidade sonora dos sons produzidos foi relativamente elevada variando entre os 38 dB, no dia sem vento, e os 71 dB no dia com vento, verificando-se que existem reflexões sonoras relacionadas com a geomorfologia do local.

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Objetivos Com este trabalho pretendeu-se contribuir para a compreensão do espaço natural/cultural designado por Complexo Megalítico da Grota do Medo, localizado na freguesia do Posto Santo, Concelho de Angra do Heroísmo, Açores, Portugal, procurando encontrar aspetos físicos que o possa diferenciar de outros locais da ilha. Pretendeu-se igualmente auscultar a população de modo a entender a percepção que têm do lugar e as interpretações que fazem do uso ou usos do sítio e das atividades que lá se tenham desenvolvido quer num passado recente quer inclusivamente num período mais longínquo. Pretendeu-se investigar a origem do termo “Grota do Medo” dado que é uma designação pouco usual para um local, mesmo comparada com outras designações estranhas dadas a locais de outras ilhas do Arquipélago dos Açores. O termo de imediato provoca perplexidade e remete-nos para um imaginário de receio, incerteza e fantasia. Não foram encontradas fontes escritas capazes de justificar a atribuição desse nome ao local, sendo opinião corrente, mas pouco fundamentada, que no local ocorreram diversas situações estranhas e inexplicáveis, mencionadas como estando relacionadas com as infraestruturas e objetos que lá se encontram. Normalmente o medo está associado a ruídos incompreensíveis, sejam eles naturais ou humanos, tendo-se neste trabalho procurado caracterizar minimamente o ambiente sonoro, e também um pouco da paisagem sonora do local. Metodologia utilizada Para a concretização dos objectivos da investigação, foi elaborado um inquérito com 9 questões (ver Anexo) a aplicar às pessoas mais velhas do Posto Santo visando a obtenção de algumas informações que se pensou serem essenciais para a discussão, posicionamento ou levantamento de hipóteses interpretativas acerca dos arranjos paisagísticos do local e do seu carácter antrópico ou natural. A amostra da população escolhida para aplicação do inquérito correspondeu a pessoas de ambos os sexos com idades superiores a 60 anos. Preferiram-se os inquiridos com residência na freguesia do Posto Santo, especialmente aqueles cujas habitações se localizavam próximo da “Grota

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do Medo”, por se entender que essas condicionantes poderiam fornecer informações mais credíveis, por serem mais conhecedoras da realidade do local em estudo. Para que os resultados pudessem ser estatisticamente representativos em termos de percepções, ou de diversidade de percepções, a amostra teve uma dimensão de 30 inquiridos. Os inquéritos foram realizados em diversos dias, sempre pelo mesmo grupo e presencialmente, entre os meses de Outubro e Novembro de 2012. Para entendermos o ambiente sonoro do Complexo Megalítico da Grota do Medo foram realizadas medições da intensidade sonora dos sons captados em várias secções da mata contendo construções megalíticas, construções megalíticas essas entendidas como tendo sido produzidas com recurso a pedras gigantes. Havendo possibilidade de se produzirem sons graves e sons agudos em condições de vento distintas as medições foram realizadas durante dois dias: Um dia que poderíamos classificar sem vento, avaliado pela escala de Beauford com o grau 1 (existência de uma aragem) e noutro dia com vento, grau 6 na escala de Beauford (vento fresco). As medições das intensidades sonoras foram efectuadas com um sonómetro sem filtro, durante 15 a 20 segundos em cada local, sem a opção do “ Filtro A” que ajusta a intensidade sonora ao diagrama de audibilidade humana, visto podermos captar deste modo tanto os sons audíveis como os não audíveis pelo ser humano. Num terceiro dia, foram-se gravar, nos mesmos locais anteriormente estudados, os sons aí produzidos para se efetuar uma análise da frequência, de modo a podermos clarificar algumas questões, que a mera avaliação da intensidade sonora, não nos permitiu interpretar com clareza. Enquadramento histórico do Complexo Megalítico da Grota do Medo O local da Grota do Medo apresenta características muito próprias e distintas de outros locais da ilha Terceira. Historicamente, e segundo Gaspar Frutuoso, na sua obra “Saudades da Terra”, o Posto Santo e a sua envolvente sempre foi um local associado a grandes disponibilidades de água, que nos primeiros séculos do povoamento, era

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aproveitada pelas pessoas da freguesia em quintas de pomares e também para abastecimento de água às populações de freguesias vizinhas. O facto de terem existido diversos pomares no Posto Santo, contribuiu em muito, segundo os dados recolhidos junto da população local, para defesa contra a peste que se instalou na ilha Terceira nos finais do século XVI e inícios do século XVII, já que a enorme quantidade de laranjas aí existente, serviu para contrariar os efeitos mortais da peste nessa freguesia, passando então a denominar-se um local santo, dandose-lhe por isso a designação de Posto Santo. Semelhante argumentação usa a Junta de Freguesia do Posto Santo, no seu sítio oficial da Internet (http://www.jfpostosanto.pt/) pois também remete para uma relação com a peste e os bons ares da freguesia: “Segundo uma arreigada lenda popular, o nome Posto Santo deriva de um facto histórico importante e trágico para os Açores: a peste epidémica que grassou em toda a ilha Terceira, no ano de 1599, que vitimou milhares de pessoas. Apenas a população de Posto Santo escapou ao infausto acontecimento, e aí refugiaram muitas famílias de Angra do Heroísmo. A partir dessa altura, ficou o Posto Santo." Não foi possível encontrar na bibliografia consultada justificação clara e objetiva para os Nomes de “Posto Santo” e para o local designado por “Grota do Medo”. Também na bibliografia consultada não se encontrou qualquer referência direta ao tipo de construções ou trabalhos em pedra que se facilmente se percebe existirem no designado Complexo Megalítico da Grota do Medo, inventariado na Carta Arqueológica dos Açores (inventário CAA-146-A) em consequência da nota de descoberta entregue na Direção Regional de Cultura e Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, pelo seu descobridor Félix Rodrigues em 2012 e co-autor deste artigo. Enquadramento geológico e hidrológico do Complexo Megalítico da Grota do Medo O Complexo Megalítico da Grota do Medo situa-se numa zona geográfica localizada entre o Império da Grota do Medo e a mata no início da Ladeira da Pateira, designada popularmente por Pico do Espigão, Mata das Azeitoras ou Mata dos Azeitores, especialmente numa zona de afloramento rochoso, que se desenvolve no flanco sudoeste do maciço do Guilherme Moniz. É uma zona instável geologicamente,

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uma vez que é atravessada por falhas geológicas e, desta forma, sujeita a hipotéticos movimentos de vertente aquando da ocorrência de sismos. Além disso, o facto do Complexo se situar numa zona elevada e exposta aos ventos, pode levar a que esteja sujeita a uma maior influência dos agentes de erosão, que podem explicar algumas alterações nos traquitos existentes no local. Por outro lado, o local em análise encontrase numa zona da ilha com índices de precipitação anual algo elevados, na ordem dos 1600 mm, o que poderá explicar a existência de algumas construções que visam o aproveitamento da água da chuva. Outra particularidade interessante da localização do Complexo Megalítico da Grota do Medo tem a ver com o facto de se encontrar numa zona elevada, altitude aproximada de 200 m, o que constitui um miradouro importante, por permitir ter uma visão abrangente sobre grande parte da ilha Terceira e do mar que a circunda, desde a freguesia de Santa Bárbara, na zona oeste, até ao Porto Judeu, na zona este da ilha. São as características da paisagem do local, ou que se obtém do local, que pode ajudar a explicar a existências de algumas estruturas (algumas em ruínas), tipo paióis ou torreões, que serviriam para apoio militar e para vigia do Atlântico, a Sul da ilha, por altura da II Guerra Mundial. Importa realçar que a parte da mata que se encontra próximo do início da Ladeira da Pateira, possui uma estrutura de organização do espaço particular, em socalcos, de grande inclinação e com um solo pedregoso, que nos impele a afirmar que a utilização desse terreno não deveria ser na agricultura, mas provavelmente outra função. Pelo que se acaba de expor, a paisagem de parte do Complexo Megalítico da Grota do Medo foi organizada para prestar um serviço específico que só uma investigação aprofundada poderá revelá-los. A paisagem sonora Em meados da década de 60 do século passado, desenvolveu-se um projeto na Simon Frayser University, Canadá, onde se propunha realizar uma análise do ambiente acústico como um todo. O projeto designado por “Soundscape” pretendia com a escolha dessa palavra ter uma analogia com a palavra Landscape (paisagem). É nessa época que

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surge o conceito de paisagem sonora, que segundo Schafer, (2001) corresponde, tecnicamente, a qualquer parte de um ambiente sonoro. Num ambiente sonoro natural existem propriedades emergentes, relacionados com a ecologia, que se situam fora do nível físico, e que resultam da interação entre o ouvinte e o ambiente onde este se encontra. Numa paisagem sonora existem relações simbólicas construídas a partir da pura audição dos objetos naturais. Existem sensações que podem ser despertadas pelo som, como o medo, a calma, a empatia com o lugar, entre muitas outras (Toffolo et al., 2011). Ao tratar da relação entre imagem, perceção e tempo, Santaella e Noth (1997) afirmam que as artes visuais e a música podem ser tomadas por dois sistemas de significados distintos. O primeiro “toma corpo na simultaneidade do espaço”, enquanto o segundo, “toma corpo na sequencialidade do tempo”. Assim sendo, uma paisagem sonora que subsista numa paisagem natural, hibridiza a noção de espaço com a de tempo, tornando as sensações diferentes daquelas que se pressupõe que o ouvinte tenha quando é um mero espetador ou consumidor de sons. Admitindo que uma das hipóteses explicativas do local em estudo fosse a existência de um espaço romantizado, essa hipótese poderia ser apoiada também pela análise dos sons audíveis no local, já que o vento ao passar pelos traquitos erodidos e fraturas, ou até mesmo por pedras sobrepostas em socalcos pode alterar a sua frequência e intensidade, o que poderia levar-nos a concluir que estaríamos num espaço acusticamente escolhido para um “anfiteatro musical”. A ligação ao local e o conhecimento do local Neste ponto exploram-se os resultados dos inquéritos realizados à população do Posto Santo de modo a percebermos a sua ligação ao local ou as interpretações que possuem sobre a paisagem e construções que se encontram no Complexo Megalítico da Grota do Medo. Quando se inquiriu a população, tentou-se ter um instrumento de avaliação credível e objetivo, de modo a que não existissem equívocos acerca das questões que lhe estavam a ser colocadas. Por exemplo quando se inquiriu a população sobre o nome

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do local em estudo, ou sobre o nome do Império mostrou-se-lhes uma fotografia da mata, vista desde a Quinta da Pateira e uma fotografia do Império da Grota do Medo. Os inquiridos facilmente identificaram os locais e conseguimos perceber que a mata em questão se designa habitualmente por Mata das Azeitoras ou Mata dos Azeitores, havendo mesmo quem lhe chame Mata das Oitoras. Nenhum inquirido lhe chamou Pico do Espigão. Quanto ao nome dado ao Império, também todos os inquiridos referiram ser designado por Império da Grota do Medo, pelo facto de se localizar na zona que é conhecida pelo o mesmo nome. A maioria das pessoas que nasceu nas suas proximidades conhece o local como Grota do Medo desde que nasceu. Em relação à mata, os inquiridos referem ser propriedade do senhor Paulo Ferreira “das “bananas”, não se referindo a mais nenhum outro proprietário. Quanto ao proprietário anterior dessa mata, só alguns dos inquiridos dizem tê-lo conhecido. Referem tratar-se do Sr. Ramalho, já falecido. Quanto aos usos da mata do Complexo Megalítico da Grota do Medo os inquiridos referiram que o atual proprietário a utiliza para produção de madeira, essencialmente de criptoméria e acácia, e para pasta de papel, produzida a partir da madeira do eucalipto, Também referem haver aí, produção de castanhas resultantes da plantação dessas árvores pelo atual proprietário. O antigo proprietário apenas fazia uso da mata para produção de madeira, extraindo dela, acácias. Havendo a presença militar inequívoca de soldados portugueses no interior da mata do senhor Paulo Ferreira “das bananas”, pelo registo nas paredes de cimento de uma das construções dos números mecanográficos de soldados portugueses, inquiriu-se a amostra da população do Posto Santo, acerca dessa realidade. Relativamente a esse tipo de atividade desenrolada na área do Complexo Megalítico da Grota do Medo, mais de metade dos inquiridos (60%) dizem conhecer tal facto, apontando inclusivamente algumas das estruturas construídas por eles que designaram por “paióis de armas”. Relativamente às construções megalíticas existentes na mata, 73% dos inquiridos diz que as conhece, contra 27% que afirma nunca ter visto ou ouvido falar delas.

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Aos que afirmaram conhecer as estruturas megalíticas, questionados sobre a sua utilidade apontaram-lhe diferentes funções: Paióis de pólvora (20%), local de vigia (20%), local de lazer (7,5%) e moradia antiga (12,5%). Os restantes 40% que afirmaram conhecer as estruturas megalíticas afirmam não saber qual foi a sua utilidade. No gráfico seguinte, figura 1, apresenta-se a distribuição das perceções da população inquirida relativamente à utilidade dada às construções megalíticas. Inquiriu-se a população relativamente à designação atribuída ao local como o de “Jardim dos Padres”. Os inquiridos revelaram um desconhecimento geral acerca dessa terminologia, embora alguns deles tenham contraposto a designação de “Casa dos Padres”, casa essa que se encontra nas redondezas da mata, localizada próximo à Ladeira da Pateira e que apresenta uma configuração que remete para os antigos solares, alguns do século XVIII, o que poderia perfeitamente coincidir com o facto do Jardim Romântico ser propriedade desta casa por altura do período Romântico, embora faltem evidências que possam confirmar essa questão e que poderia facilmente dar origem a outro trabalho de investigação (Rodrigues, 2012). 45 40 35 Paiol de polvora

30

Vigia

25

Lazer 20

Moradia

15

Não sabe

10 5 0

Figura 1- Distribuição das perceções da população inquirida relativamente à utilidade das construções megalíticas. Perante uma última questão, esta mais subjetiva, pediu-se aos inquiridos uma opinião para explicar o nome de “Grota do Medo”. A maioria das pessoas remeteram as suas interpretações para o facto da ribeira (de regime torrencial) que passa junto ao

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Império da Grota do Medo ter, no seu passado, dado origem a uma grande inundação onde foram arrastados diversos bens das pessoas e que, segundo relatos dos antigos, o cenário foi tremendo e desencadeou muito medo. Análise dos níveis sonoros no Complexo Megalítico da Grota do Medo Nesta análise procedeu-se à medição da intensidade sonora em pontos do ambiente de estudo em dias distintos, tal como referido na metodologia, ao registo fotográfico das estruturas próximas dos locais de medição da intensidade sonora e ao registo audio dos sons nesses locais, num dia de vento fraco. Na tabela seguinte apresentam-se os resultados obtidos.

Tabela 1-Medições da intensidade sonora (dB) LOCAL

INTENSIDADE

INTENSIDADE

sem vento (dB)

ventoso (dB)

1.

Entrada

30 dB

48 dB

2.

Ruínas

35 dB

49 dB

38 dB

60 dB

das vigias

3.

Abrigo

megalítico

IMAGENS

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4.

Torreão

35 dB

47 dB

5.

Cimo do

40 dB

67 dB

Monte

6.

Desnível

40 dB

69 dB

7.

Cons-

38 dB

60 dB

38 dB

56 dB

trução antes do Penedo de S. Pedro

8.

Gruta

do Camões

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9.

Cadeira

48 dB

71 dB

de Pedra

De acordo com os dados da tabela anterior verifica-se que a intensidade sonora mais baixa á observada nos dois dias de medição junto ao Império da Grota do Medo e as mais elevadas, também nos dois dias de estudo, junto à cadeira esculpida na pedra. Apesar do conjunto de dados não ser suficientemente extenso que permita dizer com rigor estatístico suficiente que existe uma dependência entre os níveis sonoros entre os vários locais nos dois dias estudados, parece relativamente claro que os locais da Cadeira e do Império do Espírito Santo da Grota do Medo, constituem pontos com propriedades sonoras específicas (ver figura 2).

Intensidade sonora em dB num dia com vento

75 70 65 60 55 50 45 40 29

34

39

44

Intensidade sonora em dB num dia sem vento

49

Figura 2- Relação entre as intensidades sonoras medidas em vários pontos do Complexo Megalítico da Grota do Medo.

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Os pontos que apresentam dependência linear localizam-se debaixo do copado da floresta, tornando-se claro que quando o vento aumenta, também aumenta o ruído produzido pelo ramalhar das árvores. Assim sendo, quanto maior é a intensidade do vento, maior será o ruído produzido no interior da floresta. O ponto de medição: Império da Grota do Medo, localizado junto à estrada e sem obstáculos capazes de atenuar o ruído ou de outro modo diminuir a intensidade do vento, apresentará certamente características sonoras muito dependentes das condições meteorológicas. O local onde se situa a cadeira tem efetivamente uma acústica diferente, onde parece existir uma ampliação do som, que poderá certamente resultar da reflexão das ondas sonoras nos rochedos que se localizam à sua frente. Este é assim um local que pode ter sido escolhido para a implantação de um altar ou cadeira, de onde o som parece ser mais intenso e o discurso aí produzido será refletido de cima para baixo. Tal suposição necessita de ser melhor estudada e associar-lhe uma análise de frequência das ondas sonoras que possam ser produzidas nesse local. Apesar da relação linear observada na figura anterior, na figura seguinte (figura 3) verifica-se que o som é ampliado e absorvido em diferentes locais do Complexo Megalítico. É nos dias com vento que se notam melhor as absorções e ampliações dos sons produzidos no interior da mata. 80 70 60 50 40 30

Sem vento

20 10 0

Figura 3- Variação da Intensidade sonora dos ruídos produzidos no Complexo Megalítico da Grota do Medo.

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Na figura seguinte faz-se a análise do agrupamento de frequências do som captado junto ao primeiro torreão, verificando-se que este é constituído por um ruído particamente contínuo e com pouca variabilidade

Figura 3- Espectro de frequências do som captado junto ao primeiro torreão.

O som junto à construção megalítica situada no cimo do Pico do Espigão apresenta um espetro sonoro muito distinto, provavelmente resultante da sua entrada dentro da cavidade, fazendo aí alguma ressonância. Na figura 4 apresenta-se o espectro acústico a que nos referimos.

Figura 4 – Espetro acústico obtido junto à entrada da construção megalítica situada no cimo do Pico do Espigão.

Há uma nítida diferença entre o espectro acústico obtido junto do primeiro torreão e o obtido na frente da construção megalítica mencionada. Junto à cadeira, já na parte de baixo do afloramento, o som é monótono sem grandes alterações de frequência ou intensidade (ver figura 5).

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Figura 4 – Espectro sonoro obtido junto à cadeira situada junto a uma construção megalítica.

Pode-se afirmar que após esta análise sucinta, cada local do Complexo megalítico da Grota do Medo parece ter uma acústica única com sons/ruídos também eles únicos. O visitante do Complexo Megalítico da Grota do Medo, além de se movimentar na observação de construções e peças variadas, vai-se expondo a uma panóplia de frequências e intensidades que não são comuns encontrar noutros ambientes naturais. Aperceber-se-á certamente primeiro que na simultaneidade do espaço existe uma sequencialidade do tempo. A simultaneidade do espaço prende-se com as várias camadas de ocupações históricas percecionadas e a sequencialidade do tempo poderá ser marcada pela multiplicidade de sons e intensidades sonoras. Tal como afirma Taffolo et al., (2011) “Todo objeto sonoro carrega informação sobre a fonte que o produz e sobre o ambiente em que a fonte e o recetor estão situados”. Entende-se que se poderá representar a paisagem sonora do Complexo Megalítico da Grota do Medo, como na imagem-slogan que abaixo se apresenta (figura 6).

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Figura 6- Representação simbólica artística da paisagem sonora do Complexo Megalítico da Grota do Medo pelos autores deste trabalho. Considerações finais. Terminada a análise dos variados dados obtidos, suspeita-se que a origem do nome “Grota do Medo” esteja relacionado com o regime torrencial da Ribeira que se localizado ao lado do Império da Grota do Medo, na freguesia do Posto Santo, no Concelho de Angra do Heroísmo. Junto ao Império da Grota do Medo a ribeira sofre um estreitamento que poderá facilmente produzir ruídos estrondosos. Na atualidade, a escorrência superficial da ribeira a montante aumentou, provavelmente como consequência da uma diminuição da retenção de água nas turfeiras, que foram desaparecendo devido ao aumento de áreas agrícolas (Rodrigues,2012). Estes factores reunidos têm tendência para causar inundações e ser fonte de receios e medos. Apesar disso, não se pode justificar pela atualidade o nome de “Grota do Medo”.

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As medições sonoras efectuadas nas diferentes secções do Complexo Megalítico da Grota do Medo, tanto com vento como sem vento, levam-nos a concluir que a parcela, que aparenta ter sido romantizada, é caracterizada por intensidades sonoras superiores às restantes, provavelmente relacionada com morfologia das rochas e arranjo do terreno, em socalcos, que amplia a ação do vento e consequentemente a dos sons, à semelhança do que ocorre num anfiteatro. Esta ampliação resulta num facto curioso, que consiste na ultrapassagem dos limites sonoros estabelecidos por lei para as áreas sensíveis, já que o valor médio em dias ventosos se encontra em torno dos 55 dB, ou seja, os sons estão bem presentes e deles será difícil abstrairmo-nos. Por último, não se pode abandonar por completo a associação do nome Mata dos Azeitores ou Mata das Azeiteiras ao receio da população, implícito mas não explícito, de que aí existiam atividades ilícitas ou bruxarias e como tal lhes provocava algum receio lá entrar. Os inquiridos nunca referiram esses aspetos aquando da aplicação dos inquéritos, mas sempre aquando da sua conclusão, em conversas informais. Espera-se ter contribuído com este trabalho para um melhor entendimento do espaço físico do Complexo Megalítico, especialmente sobre o seu ambiente sonoro e com alguns elementos que permitam perceber a história contemporânea do local. Bibliografia.

Frutuoso, G. 1873/1984. Saudades da Terra. Livro VI. DRC. Rodrigues, A. (2012). Comunicação pessoal. Professor universitário.26/11/2012. Santaella, L. & Noth, W. 1997. Imagem – cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras. Shafer, R. 2001. A afinação do Mundo. São Paulo: Editora UNESP. Toffolo, R., Oliveira, L. e Zampronha, E. 2011. Paisagem Sonora: uma proposta de análise. Universidade Estadual Paulista – UNESP. Brasil.

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Anexo

Inquérito

Como se chama o local? Porquê?

1. Qual o nome do Império da foto? Porquê?

2. Desde quando o conhece por Grota do Medo? 3. Conhece

algum

antigo

proprietário ou o atual proprietário

daqueles

terrenos? 4. Para além da agricultura, conhece alguma outra atividade que aí ocorreu? Por exemplo, extração de pedras ou outras? 5. Ouviu falar da presença de militares ingleses no Posto Santo aquando da 2ª guerra mundial? Se sim, quando e porquê?

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6.

Tem conhecimento das ruínas lá existentes? Se sim, quais seriam as finalidades dessas construções agora em ruínas?

7. Já ouviu falar no Jardim dos Padres? Se sim, onde e porquê? 8. Na sua opinião, porque se chama Grota do Medo a este local?

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