Estudo PROSPOR - Avaliação dos graus de alerta e conhecimento da população portuguesa acerca das doenças da próstata

June 21, 2017 | Autor: N. Monteiro Pereira | Categoria: Prostate Cancer, Prostate, Benign Prostatic Hyperplasia
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Urologia

Estudo PROSPOR

Avaliação dos graus de alerta e conhecimento da população portuguesa acerca das doenças da próstata José Santos Dias, Nuno Monteiro Pereira, João Paulo Rosa, Carlos Santos Androclinic – Centro de Urologia e Medicina Sexual, Lisboa.

RESUMO Objectivos: Avaliar os graus de alerta e conhecimentos da população adulta portuguesa acerca das doenças da próstata. Material e Métodos: Inquérito independente que inquiriu um total de 1000 indivíduos, 473 homens e 527 mulheres, com idade superior a 18 anos, residentes em Portugal Continental. A distribuição pelas diferentes regiões foi feita de acordo com o último recenseamento geral da população portuguesa (Censos 2001). O inquérito foi realizado através de entrevista telefónica para a residência dos inquiridos, entre os dias 21 de Outubro e 13 de Novembro de 2004, tendo contado com recurso a CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing) e a participação de 26 entrevistadores. Resultados: Quando inquiridos sobre se já haviam ouvido falar de “hipertrofia benigna da próstata“, 54.1% dos homens e 62.8% das mulheres respondeu negativamente. Quando inquiridos sobre qual a doença mais frequentes dos homens, 84.9% dos inquiridos fizeram espontânea referência ao cancro da próstata e apenas 22.4% ao aumento benigno da próstata. A maior parte dos perscrutados (42.9%) não tinham qualquer ideia sobre quais os exames que servem para diagnosticar o aumento benigno da próstata. Quando se fez a pergunta sobre qual o tipo de cancro que os inquiridos já tinham ouvido falar, numa tentativa de se avaliar a notoriedade espontânea dos diversos tipos de cancro, a próstata foi referida por 42.1% dos inquiridos, sendo o quarto tumor mais nomeado. Apenas 12% dos inquiridos referiram não ter ideia sobre quais os exames diagnósticos do cancro da próstata, mas os exames analíticos à urina foram referidos por 41.4% dos inquiridos e o PSA foi apenas referido por 34.8%. Conclusões: Os resultados do estudo indicam que há um significativo défice do grau de alerta e de conhecimentos da população portuguesa em relação com as doenças da próstata. Impõe-se a realização de programas educacionais públicos que promovam diagnósticos adequados e tratamentos precoces. Palavras-chave: Hipertrofia benigna da próstata, cancro da próstata, alerta, conhecimento, diagnóstico precoce.

Estudo independente, apoiado financeiramente pela Sanofi-Aventis, entidade que não teve qualquer interferência no desenho do estudo nem nos resultados e conclusões apresentados, que são da exclusiva responsabilidade dos autores.

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Introdução

As doenças da próstata – a hipertrofia benigna e o adenocarcinoma – têm uma elevada prevalência nos homens dos países mais desenvolvidos. A hiperplasia benigna da próstata (HBP) é, em termos histológicos, quase universal nas idades avançadas, sendo sintomática em cerca de 30-50% dos homens com mais de sessenta anos. Os sintomas precoces são essencialmente miccionais, habitualmente o aumento da frequência urinária, a demora em iniciar a micção e a diminuição da força do jacto urinário. Estes sintomas são muitas vezes vistos pelos doentes como problemas menores (mesmo quando os sintomas são severos), sendo frequentemente encarada como uma consequência normal, e inevitável, do envelhecimento. O diagnóstico da HBP sintomática é sobretudo clínico, embora possa ser importante quantificar o volume do órgão e o grau de obstrução urinária que provoca. Para isso recorre-se ao toque rectal, à ecografia transrectal e à fluxometria urinária. O medo de padecer de cancro afasta muitas vezes o doente de recorrer ao médico. Se o faz, e este lhe assegura não se tratar de patologia maligna, muitas vezes o doente descansa e deixa de se preocupar com a prós-

tata, não tratando a HBP mesmo que esta lhe determine uma diminuição da qualidade de vida (QoL). Contudo, a ausência de tratamento, além de progressivamente agravar a QoL, pode acarretar consequências e complicações a longo prazo, nomeadamente infecção urinária, a retenção de urina, a litíase vesical e a insuficiência renal. Nas fases precoces, o tratamento actual da HBP é sobretudo medicamentoso, sendo a cirurgia, endoscópica ou “aberta”, cada vez menos utilizada. Em Portugal, o carcinoma da próstata ocupa o terceiro lugar da incidência de doenças oncológicas e o segundo lugar em termos de taxa de mortalidade por cancro no sexo masculino. Estima-se que surjam cerca de quatro mil novos casos por ano, morrendo cerca de 1.800 homens com cancro da próstata nesse intervalo de tempo. Uma das principais características clínicas do tumor é a quase ausência de sintomas nas fases precoces, nomeadamente miccionais. A hematúria é também rara. Daí a importância do doseamento do PSA no sangue, que pode indiciar muito precocemente a presença de tumor. O toque rectal e a ecografia transrectal são também importantes. Actualmente existem eficazes possibilidades de tratamento, quer nas formas localizadas, quer nas formas mais avançadas, apesar da abordagem ideal ser ainda tema de discussão. Se diagnosticado em estádio precoce é potencialmente curável através de cirurgia radical, de braquiterapia ou de radioterapia externa. A hormonoterapia deve ficar reservada para os tumores avançados e a quimioterapia para os tumores hormono-refractários. Apesar de persistir o debate acerca da real eficácia dos rastreios do cancro da próstata, parece ser um objectivo importante, à luz dos co-

nhecimentos actuais, procurar aumentar a taxa de diagnóstico e de tratamento precoces na comunidade. Com características tão marcadas, seria de supor que o público em geral apresentasse um conhecimento razoável dos diversos aspectos destas entidades. Contudo, apesar da frequência crescente com que a patologia prostática é abordada nos diferentes meios de comunicação, das campanhas levadas a cabo no nosso e noutros países e da procura crescente de cuidados médicos pelos indivíduos afectados, admitimos que ainda persistem muitas dúvidas, medos e mitos acerca destas doenças. Na expectativa de avaliar os graus de alerta e conhecimento da população portuguesa para as doenças da próstata, decidimos proceder a um estudo alargado, representativo da referida população. A opção de avaliar simultaneamente patologias benignas e malignas – contrariando a maioria dos raros estudos sobre o grau de conhecimento populacional, que habitualmente só avaliam as patologias oncológicas – parece-nos importante, precisamente devido à nossa convicção, atrás citada, de existir um elevado grau de confusão, por parte dos doentes e restante população. Parece-nos ser esta a mais adequada forma de proceder, tendo sobretudo em vista uma futura efectivação de programas de diagnóstico e tratamento precoces de doenças prostáticas, tão significativas nas suas diversas vertentes sociais: individual, familiar, profissional e comunitária. Na verdade, para que este tipo de programas seja verdadeiramente eficaz é fundamental não só que o público esteja alerta para as doenças, mas também que a campanha se desenvolva no senti-

do de défices informativos previamente detectados. Material e Métodos

O presente estudo foi denominado PROSPOR (PROStata em PORtugal) para efeitos de referência futura. Pretendeu-se realizar um estudo independente de eventuais interesses governamentais, da indústria farmacêutica ou de outros. O questionário base, construído para ser efectuado através de entrevista telefónica (one shot), para a residência dos inquiridos, de duração não superior a 10 minutos, compreendia 21 questões clínicas e 10 questões de carácter demográfico. Os inquéritos foram realizados entre 21 de Outubro e 13 de Novembro de 2004 por uma empresa independente, especializada em sondagens e estudos de mercado (Intercampus), tendo contado com software que permite a validação automática dos dados recolhidos a nível dos itens de resposta e da articulação entre as perguntas (CATI - Computer Assisted Telephone Interviewing). Houve recurso a 26 entrevistadores, todos com experiência anterior em trabalhos de características semelhantes, seleccionados com provas próprias de controlo de subjectividade e de desvio do entrevistador. Todos foram ainda sujeitos a sessões de formação e treino específicos para o presente estudo. A qualidade do trabalho foi verificada através das habituais acções de controlo, a cargo dos responsáveis pelo trabalho de campo. Foram subscritas todas as códigos e normas existentes no sector de estudos de Mercado e Opinião (código CODEMO, código de qualidade da APODEMO, normas ICC/ ESOMAR e normas EMRQS/ EFAMRO). O total de pessoas inquiridas foi

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de 1000, sendo 473 homens (47.3%) e 527 mulheres (52.7%), todos residentes em Portugal Continental, com idade superiores a 18 anos. A distribuição pelas diferentes regiões feita de acordo com o último recenseamento geral da população portuguesa realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (Censos 2001). A amostra foi estratificada proporcionalmente, tendo por base uma matriz que cruzou as variáveis região e habitat. Em cada estrato, a selecção do lar foi efectuada aleatoriamente. O indivíduo a entrevistar, dentro do lar, foi aleatoriamente seleccionado através do método do “próximo aniversariante” com idade superior a 18 anos, condicionada por quotas de sexo e idade. Desse modo, a região Norte teve 37.5% das respostas, o Centro teve 25.4%, Lisboa e Vale do Tejo com 27.5%, Alentejo com 5.5% e, finalmente, o Algarve obteve 4.1% das respostas. Os meios rurais foram responsáveis por 42.3% dos inquiridos, havendo 17.5% de residentes em pequenos agregados populacionais (menos de 9.999 habitantes), 26.3% em médios agregados (entre 10.000 e 99.999 habitantes) e 13.9% em grandes cidades (6.1% em Lisboa e 2.8% no Porto). O nível de instrução dos inquiridos revelou 21.7% com formação universitária, 18.2% com curso secundário completo, 24.0% com curso secundário incompleto, 27.8% apenas com instrução primária e 8.3% analfabetos. Os homens tinham, em geral, um nível de instrução um pouco superior, havendo 29.0% de mulheres com instrução primária e 11.8% de analfabetas. O status social foi auto-avaliado como elevado em 4.0% dos inquiridos, médio-alto em 20.3%, médio em 15.1%, médio-baixo em 42.6% e baixo em 18.0%. 56

A actividade profissional foi muito diversa, relevando 28.2% de trabalhadores por conta de outrem, 19.0% de reformados e pensionistas, 11.4% de domésticas, 10.5% de profissões técnicas e artísticas, 7.2% de empregados de escritório, 6.2% de estudantes, 4.9% de trabalhadores por conta própria, 2.3% de profissões liberais e 4.0% de desempregados. O número de profissionais liberais foi sensivelmente igual nos homens e mulheres. Os trabalhadores por conta de outrem eram sobretudo homens (34.4%), as domésticas eram exclusivamente mulheres e os desempregados eram sobretudo mulheres (5.1%). O estado civil revelou 68.3% de pessoas casadas ou em união de facto, 21.2% de solteiros, 7.7% de viúvos e 2.6% de divorciados. Os dados obtidos foram processados e analisados pela Intercampus. As diferenças entre os diferentes grupos foram estatisticamente analisadas utilizando-se o Z-test. Procurou-se que apenas fossem valorizadas as diferenças com significado estatístico, pelo que só foram consideradas as bases iguais ou superiores a 30 indivíduos. Os resultados a seguir apresentados foram seleccionados não só por terem significado estatístico, mas também por terem significado clínico ou sociológico. Resultados

A presença de, pelo menos, um homem com mais de 45 anos (n=674, média=60.85, dp=10.26) no agregado familiar foi registada em 57% dos lares inquiridos, sendo que em 37.9% desses casos se tratava do marido, em 30.7% do próprio inquirido e em 26.4% do pai do entrevistado. Quase metade da população masculina portuguesa (47.4%) admitiu já ter sido avaliada para doenças da próstata,

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ou teve familiares próximos que o foram, número muito semelhante ao da população feminina (48.2%) que afirmou que familiares ou amigos do sexo masculino já haviam sido avaliados para essas doenças. Em ambos os casos, quanto maior a idade do indivíduo respondente (homem ou mulher) maior a percentagem dos que admitiram essa situação. As doenças mais frequentes nos homens

Quando inquiridos sobre qual a doença mais frequentes dos homens, 49.5% dos inquiridos respondeu cancro da próstata, tendo 13.5% respondido “doenças do coração” e 13.2% cancro do pulmão. A “trombose” (8.7%) e as doenças benignas da próstata (7.0%) foram as doenças a seguir referidas. Tendo sido dada a oportunidade de dizerem mais duas doenças frequentes, verificou-se que, no total, 84.9% dos inquiridos fizeram referência ao cancro da próstata e só 22.4% às doenças benignas do órgão. Somando essas três respostas, a segunda doença mais valorizada passou a ser o cancro do pulmão (54.4%), passando as doenças cardíacas para terceiro lugar, com 44.6% das referências. As diferenças de apreciação em relação à frequência das doenças masculinas foram muito pequenas entre os géneros dos inquiridos, com excepção do cancro da próstata, que foi valorizado por 53.3% das mulheres como primeira doença masculina, o que só foi feito por 45.2% dos homens. Repare-se que, quando inquiridos sobre qual a doença mais frequentes nas mulheres, o cancro da mama foi imediatamente referido por 78.5% dos inquiridos (79.9% dos homens e 77.2% das mulheres), ficando as “doenças ginecológicas” remetidas para segundo lugar, com

apenas 9% de primeiras respostas, sem diferenças significativas entre os respondedores dos dois sexos. As doenças do coração e as tromboses foram muito pouco valorizadas (2.3% e 1.9% de primeiras respostas). A Hipertrofia Benigna da Próstata

Quando inquiridos sobre se já haviam ouvido falar de “hipertrofia benigna da próstata“, 54.1% dos homens e 62.8% das mulheres respondeu negativamente (total de 58.7%). Esse desconhecimento foi particularmente elevado no Algarve (63.4%) e na região Norte (61.1%), sendo menor no Alentejo (52.7%) e na região de Lisboa e Vale do Tejo (56.7%). O desconhecimento foi também mais frequente nas idades mais jovens, especialmente nos solteiros, diminuindo progressivamente com a idade. Em relação ao status social, só existiram diferenças significativas no status médio-alto, que foi menos desconhecedor, e no médiobaixo, que foi o mais desconhecedor. Não existiram diferenças significativas nos agregados familiares que incluíam homens com mais de 45 anos, em relação aos que os não incluíam. Factores de risco. Explicado que o termo “hipertrofia benigna da próstata” significa o aumento benigno da próstata, inquiriu-se quais consideravam ser os mais importantes factores de risco da doença. A maioria dos inquiridos não soube responder a essa questão (40.6% dos homens e 48.2% das mulheres, num total de 44.6%). O desconhecimento foi mais frequente na região Norte (49.6%) e menos frequente na região de Lisboa e Vale do Tejo (38.5%). O factor “idade” foi o factor de risco mais citado (47.7% de todas

as referências). Foram também citados o álcool (41.0%), a alimentação (38.8%), a história familiar (27.1%) e as doenças sexuais (22.0%). O stress, a poluição e a origem étnica foram referidos em número e forma não significativos. Idade de início. Inquirindo sobre qual a idade a partir da qual aumenta a probabilidade de desenvolvimento de um aumento benigno da próstata, 38.1% dos inquiridos (34.2% dos homens e 41.6% das mulheres) não arriscaram sequer um palpite relativamente a este tópico. Consideraram que o início se faz na década dos quarenta anos 27.6% dos inquiridos (29.0% dos homens e 26.4% das mulheres), enquanto que 21.8% (22.6% dos homens e 21.1% das mulheres) consideraram que acontece na década dos cinquenta anos. O aumento da probabilidade de desenvolvimento da HBP a partir dos sessenta anos foi apenas considerado por 8.2% das pessoas. Os inquiridos que consideraram que o início da doença é precoce (abaixo dos cinquenta anos) foram essencialmente os homens mais novos e os moradores na região de Lisboa e no Alentejo. Os inquiridos que julgaram, de modo significativo, que o início da doença acontece em idades superiores a setenta anos foram as mulheres, os homens mais velhos e os moradores no Algarve. Sinais e sintomas. Um número elevado de inquiridos (41.6% dos homens e 44.6% das mulheres, num total de 43.2%) não soube identificar qualquer sintoma de crescimento benigno da próstata. Esse desconhecimento foi mais frequente no Algarve (53.7%) e menos frequente no Alentejo (34.5%). Referiram que os sintomas mais frequentes eram “problemas urinários” 38.3% dos inquiridos (41.2%

dos homens e 35.7% das mulheres), enquanto que 31.4% referiram ser a presença de sangue na urina (29.4% dos homens e 33.2% das mulheres). A “impotência” foi referida por 16.1% dos inquiridos (18.4% dos homens e 14.0% das mulheres). As dores lombares e a queda de cabelo foram também referidas, mas de forma não significativa. Apenas 2.7% dos inquiridos admitiu poderem não existir sintomas. Complicações. A maior parte dos inquiridos (39.3% de homens e 41.9% de mulheres, num total de 40.7%,) não soube assinalar qualquer complicação da HBP. O desconhecimento foi mais frequente na região Norte (46.1%) e menos no Alentejo (34.5.0%). A infecção urinária foi referida por 29.5% dos inquiridos, havendo 25.8% que falaram na presença de sangue na urina, 24.1% na retenção urinária (“urina presa”), 16.3% na insuficiência renal e 11.0% nas “pedras na bexiga”. A retenção urinária foi sobretudo referida pelos inquiridos de status social médio-alto (38.9%) e pelos moradores na região de Lisboa e Vale do Tejo (32.0%). A litíase vesical foi referida sobretudo na região Centro (17.3%). Os mais novos raramente referiram a insuficiência renal e a litíase vesical. Os mais velhos foram os que mais referiram o sangue na urina. Diagnóstico. A maior parte dos perscrutados (42.9%, com o igual número de homens e mulheres) não tinham qualquer ideia sobre quais os exames que servem para diagnosticar o aumento benigno da próstata. O desconhecimento foi sobretudo marcante na região Norte (49.9%), sendo muito menos frequente na região de Lisboa e Vale do Tejo (36.0%). O toque rectal foi referido por

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27.4% dos inquiridos, a ecografia por 25.9%, o PSA/análises ao sangue por 24.2% e os exames à urina por 22.1%. A fluxometria urinária foi citada apenas por 6,7% das pessoas (8.0% dos homens e 5.5% das mulheres). O toque rectal foi sobretudo referido pelo status social médioalto (42.5%) e pelos moradores em Lisboa e Vale do Tejo (33.5%), tendo sido pouco relatado pelos inquiridos do Norte (20.8%). A ecografia foi também menos referida pelos residentes no Norte (21.3%), tendo sido sobretudo dita pelos inquiridos no Algarve (34.1%). A fluxometria urinária quase não foi referida pelos algarvios (2.4%), tendo sido sobretudo referida pela população do Alentejo e de Lisboa e Vale do Tejo (9.1%). Tratamento. A maioria da população (47.4% dos homens e 43.3% das mulheres, num total de 45.2%) não soube quais os tratamentos habituais do aumento benigno da próstata. O desconhecimento foi mais frequente na região Norte (52.8%) e menos frequente na região de Lisboa e Vale do Tejo (36.0%). Os medicamentos orais foram referidos por 24.3% dos inquiridos, número quase igual aos que referiram a cirurgia (24.2%). A medicação oral foi reconhecida de modo muito uniforme em todas as regiões, excepto no Alentejo, onde foi mais vezes referida (30.9%). Foi também o status médio-alto que mais vezes falou na medicação oral (50.0%), sendo o status social médio-baixo que menos vezes a referiu (19.2%). A cirurgia foi sobretudo lembrada na região de Lisboa e Vale do Tejo (32.4%), sendo muito pouco referida na região Norte (17.3%). O tratamento hormonal foi referido apenas por 5.6% das pessoas. 58

Cancro da Próstata

Quando inquiridos sobre quais as doenças mais frequente dos homens, apenas 15.1% da população não reconhece o cancro da próstata, havendo 84.9% de pessoas que o consideraram entre as três doenças mais frequentes no homem. Quando se fez a pergunta sobre qual o tipo de cancro que os inquiridos já tinham ouvido falar, numa tentativa de se avaliar a notoriedade espontânea dos diversos tipos de cancro, a próstata foi referida por 42.1% dos inquiridos (47.4% dos homens e 37.4% das mulheres), sendo o quarto tumor mais nomeado, depois do cancro da mama (referido por 77.6% dos inquiridos), do cancro do cólon/intestino (50.3%) e do cancro do pulmão (47.4%). Foram as mulheres quem mais referiu o cancro da mama (84.4% versus 70.0% referido pelos homens), enquanto foram os homens quem mais referiu o cancro da próstata (47.4% versus 37.4%). Factores de risco. Perante a pergunta sobre quais consideravam ser os mais importantes factores de risco do cancro da próstata, apenas 17.3% dos inquiridos não soube responder, havendo uma forte diferença entre homens (12.7%) e mulheres (21.4%). O desconhecimento foi particularmente frequente no Algarve (26.8%) e na região Norte (21.3%), sendo menos frequente na região de Lisboa e Vale do Tejo (12.0%). O factor “idade” foi o factor de risco mais citado (62.3% de todas as referências), seguido do consumo de álcool (51.1%), da alimentação (47.8%) e da história familiar (27.4%). A importância da história familiar foi essencialmente referida pelo status social mais elevado (46.7%) e pelos residentes em Lisboa (31.6%). As doenças sexu-

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ais, o stress, a poluição e a origem étnica foram referidos em número insignificante. Idade de início. Inquirindo sobre qual a idade a partir da qual aumenta a probabilidade de desenvolvimento de cancro da próstata, apenas 5.4% dos inquiridos (3.4% dos homens e 7.2% das mulheres) não responderam. Consideraram que o início é na década dos quarenta anos 44.4% dos inquiridos (46.7% dos homens e 42.3% das mulheres), enquanto que 36.5% (35.3% dos homens e 37.6% das mulheres) consideraram que é na década dos cinquenta anos. O aumento da probabilidade de desenvolvimento de cancro a partir dos sessenta anos foi apenas considerado por 8.9% das pessoas. Os inquiridos que consideraram que o início da doença é precoce (abaixo dos cinquenta anos) foram os homens mais novos e os moradores na região de Lisboa e no Alentejo. Sinais e sintomas. Um total de 9.4% de inquiridos (9.7% dos homens e 9.1% das mulheres) não soube identificar qualquer sintoma de cancro da próstata. Esse desconhecimento foi mais frequente no Algarve (14.6%) e menos frequente na região de Lisboa e Vale do Tejo (7.6%). A maioria dos inquiridos (67.9%, sendo 71.0% dos homens e 65.1% das mulheres) referiu que os “problemas urinários”eram os sintomas mais frequentes do cancro da próstata, enquanto que 57.8% referiu ser a presença de sangue na urina (53.5% dos homens e 61.7% das mulheres). A “impotência” foi referida por 30.2% dos inquiridos (31.3% dos homens e 29.2% das mulheres). As dores abdominais (17%) e das costas (14%) foram também referidas, na maior parte dos casos, curiosamente, pelas

mulheres solteiras. Apenas 1.2% de todos os inquiridos referiu que poderiam não existir sintomas. Diagnóstico. Apenas uma pequena parte dos inquiridos (12.0%, sendo 11.0% dos homens e 12.9% das mulheres) não tiveram ideia sobre quais os exames diagnósticos do cancro da próstata, embora esse número fosse mais elevado no Algarve (17.1%) e no Norte (15.7%) e mais baixo na região de Lisboa e Vale do Tejo (6.9%). O toque rectal foi referido por 46.2% das pessoas, os exames à urina por 41.4% e a ecografia por 38.8%. O PSA/análises ao sangue foi referido por 34.8% dos inquiridos (35.5% de homens e 34.2% de mulheres) e os exames aos ossos apenas por 1.4%. O toque rectal foi sobretudo referido pelo status social médioalto (63.5%) e pelos moradores em Lisboa e Vale do Tejo (54.9%), tendo sido pouco nomeado pelos inquiridos do Algarve (36.6%). A ecografia foi menos citada pelos residentes no Alentejo (32.7%) e mais citada pelos residentes no Algarve (46.3%). O PSA foi também pouco referida pelos algarvios (22.0%), tendo sido sobretudo lembrado pela população do Alentejo (52.7%). Tratamento. Bastantes investigados (24.5% dos homens e 21.8% das mulheres, num total de 23.1%) não souberam responder à questão sobre quais os tratamentos habitualmente utilizados no cancro da próstata. A grande maioria dos inquiridos respondeu, contudo, que o tratamento mais vulgar é cirurgia (47.5%, sendo 46.7% dos homens e 48.2% das mulheres). A quimioterapia foi a segunda resposta mais frequente, mas bastante distanciada da primeira (14.8%, sendo 13.1% dos homens e 16.3% das mulheres).

A radioterapia foi citada por 6.9% dos inquiridos e o tratamento hormonal por 6.4%. Ficar a vigiar-se o tumor foi apenas referida por 1.1% dos respondedores. A cirurgia foi referida de modo bastante uniforme por todas as regiões do País, embora fosse mais vezes referida pelos inquiridos de Lisboa e Vale do Tejo (53.5%) e do Algarve (51.2%) e pelo status social alto e médio-alto (55.7%). Esperança de vida. Instados a responder sobre qual a esperança de vida se o cancro da próstata for diagnosticado numa fase precoce, comparativamente com as restantes questões sobre cancro da próstata uma elevada percentagem de inquiridos (24.5% dos homens e 29.4% das mulheres, num total de 27.1%) não soube responder. A grande maioria, no entanto, respondeu ser superior a 20 anos (35.0% sendo 41.2% dos homens e 29.4% das mulheres), grupo no qual dominava o status médio-alto (47.8%) e os residentes no Alentejo (43.6%). Falaram em um máximo de 5 anos de esperança de vida 10.7% dos inquiridos, sendo esta a segunda resposta mais frequente. Fontes de informação sobre doenças da próstata

No final da entrevista telefónica, a população foi inquirida sobre que meios utilizaria se quisesse encontrar mais informações sobre as doenças da próstata. Apenas 0.9% não respondeu a esta questão, tendo a maioria afirmado ir procurar o médico de família /clínica geral (60.9%, sendo 62.2% dos homens e 59.2% das mulheres). O médico especialista foi a resposta de 43.4% dos perscrutados (41.0% dos homens e 45.5% das mulheres), tendo 18% referido a internet e 13% a pesquisa em livros e revistas.

Apenas falaram no farmacêutico 2.2% dos inquiridos e nos grupos de doentes 1.5%. Perguntando quais os médicos especialistas que considerariam mais adequados como fonte de informação, 22.4% não soube responder, mas o urologista foi referido por 65% dos inquiridos, enquanto que o oncologista foi apenas referido por 11.8%. Discussão e conclusões

Os resultados deste estudo independente demonstram inequivocamente um forte défice de conhecimento da população portuguesa em relação às doenças da próstata, mas muito em particular em relação à hipertrofia benigna. Na verdade, em relação à frequência relativa das duas doenças, um apreciável número de pessoas referiu espontaneamente o cancro da próstata, que foi mesmo considerado por quase 50% dos inquiridos como a doença mais frequente nos homens. Em relação à HBP apenas cerca de 22% a referiu, sendo somente considerada por 7% dos inquiridos como a doença masculina mais frequente. Mais significativo desse desconhecimento foi, contudo, a confissão de quase 60% da população, especialmente a feminina e mais jovem, de nunca terem ouvido falar do termo “hipertrofia benigna da próstata”. Em relação ao cancro da próstata, apenas 15% da população não reconheceu o cancro da próstata como uma das três doenças mais frequentes no homem e, quando se procurou avaliar a notoriedade espontânea dos diversos tipos de cancro, a próstata foi referida por 42% dos inquiridos (47% dos homens e 37% das mulheres). Esses valores de reconhecimento são francamente superiores aos referidos num estu-

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do similar recentemente publicado (1) , onde foram encontrados valores de alerta de 39% para os homens e 28% para as mulheres. Refira-se que esse estudo decorreu em seis países europeus (França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia e Reino Unido) e nos Estados Unidos da América, tendo sido avaliados 1400 indivíduos de ambos os sexos, também através de inquérito telefónico. O estudo difere do nosso essencialmente por dois factores: • Apenas foram abordados conhecimentos relativos ao cancro da próstata; • Os inquiridos do sexo masculino tinham entre 50-70 anos e os do sexo feminino mais de 30 anos mas coabitando com homens entre 40 e 70 anos. Apesar do aparente bom nível de alerta da população portuguesa para o cancro da próstata, repare-se que em relação ao cancro da mama – e o cancro da mama deve ser considerado uma boa referência comparativa já que é a neoplasia com mais campanhas de alerta por todo o mundo –, os valores que encontrámos foram bastante inferiores: houve notoriedade espontânea para o cancro da mama por 78% da população, sendo que o fizeram 84% de mulheres e 70% de homens. Mesmo entre os homens, o cancro da mama foi mencionado mais vezes do que o próprio cancro da próstata (70% versus 47%, respectivamente). Em relação à HBP, depois de explicado sumariamente que se tratava do crescimento benigno da próstata, a população mostrou um conhecimento bastante insuficiente das características da doença, ignorando vários factores importantes e, acima de tudo, constantemente confundido a HBP com o cancro. A maioria das questões teve uma ele60

vada taxa de não respostas, variável entre 40 e 47% dos inquiridos consoante a questão formulada. Enquanto que quase metade dos pesquisados identificou a idade como o mais importante factor de risco do HBP, o consumo de álcool e a alimentação – factores que ainda não foram ainda cabalmente demonstrados – foram igualmente referidos como importantes. Contudo, apenas pouco mais de um quarto dos inquiridos referiu a história familiar. Também a idade de início dos sintomas de HBP foi exageradamente baixa, com metade dos perscrutados a responderem ser anterior aos sessenta anos. Do mesmo modo, os sintomas urinários foram subavaliados, já que foram apenas reconhecidos por menos de 40% dos inquiridos. A impotência sexual foi citada por apenas 18% dos homens, valor que nos surpreendeu por habitualmente se considerar que os homens correlacionam exageradamente a próstata e a disfunção eréctil. No que se refere ao diagnóstico da HBP, enquanto o toque rectal foi reconhecido como importante por quase um terço dos inquiridos, a fluxometria urinária – um exame fácil que objectiva o grau de obstrução urinária – foi quase esquecido, com apenas cerca de 7% das respostas. O PSA, em contrapartida, foi sobrevalorizado, com um quarto das respostas. O mesmo aconteceu com o valor dos exames à urina. Em termos de tratamento da HBP, este foi o tema em que a incapacidade de fornecer uma resposta mais foi evidente, atingindo o valor de quase 50% de entre os homens, sendo um pouco menor entre as mulheres. A indicação de cirurgia foi praticamente a mesma dos medicamentos orais, o que não corresponde nem de longe à realidade

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actual, em que a enorme maioria dos doentes prostáticos é tratada farmacologicamente. A medicação hormonal, completamente desadequada na HBP, foi referida por um número significativo de pessoas, numa clara confusão com a terapêutica do cancro. Em relação ao cancro da próstata, os níveis de informação da população, em comparação com os da HBP, foram significativamente maiores. A taxa de não respondedores foi muito mais baixa, variando, consoante a questão, entre 5 e 27%. Contudo, os inquiridos tenderam a mostrar apenas um conhecimento básico da doença, ignorando vários factores importantes. Por exemplo, a idade foi identificada como o mais importante factor de risco do cancro da próstata, sendo também referidos por cerca de metade da população o consumo de álcool e a alimentação. Contudo, apenas cerca de um quarto dos respondedores mencionou a importância da história familiar e muito poucos referiram a origem étnica. Do mesmo modo, enquanto que os sintomas urinários foram reconhecidos como possíveis sintomas, muitos poucos consideraram que a doença podia ser assintomática. O toque rectal foi reconhecido como importante por quase metade das pessoas, mas a referência à análise do PSA foi relativamente baixa, mesmo entre aqueles que diziam já terem feito estudos para avaliar doenças prostáticas ou que tinham familiares ou amigos próximos que tivessem feito estudos desse tipo. O mesmo poder-se-á dizer em relação à ecografia, atendendo à generalização e popularidade desse exame. Mais de 40% dos inquiridos erraram ao valorizar os exames urinários para o diagnóstico do cancro da próstata.

Em termos de tratamento da fase precoce do tumor, este foi um dos dois únicos assuntos relacionados com o cancro da próstata em que houve uma significativa diminuição da taxa de respostas, denotando um importante grau de desconhecimento e/ou confusão. Quase metade dos inquiridos - especialmente as mulheres - afirmou ser a cirurgia o mais habitual método de tratamento, enquanto que a radioterapia (sem ser especificado qual o tipo) apenas foi referida por cerca de 7% das pessoas. A opção pela vigilância activa, apesar da sua indicação em muitos doentes, especialmente idosos, foi insignificante. A hormonoterapia, menos indicada nas fases precoces da doença, foi referida por poucos. A quimioterapia, que não é um tratamento standard das fases precoces, foi no entanto afirmada por quase 15% dos respondedores. A esperança de vida do cancro da próstata foi o outro assunto que teve elevada taxa de não respondedores. Os que o fizeram foram bastante optimistas, especialmente os homens, muitos referindo tempos de sobrevida superiores a vinte anos. Em termos gerais, vários níveis de alerta e conhecimento foram registados nas diversas regiões portuguesas. A região claramente menos alertada e informada é o Algarve e – curiosamente, porque geograficamente oposta – a região Norte. Em relação ao Algarve, 75.6% dos inquiridos nunca ouviu falar de HBP e não cita como importante o cancro da próstata, valor que é de 66.4% na região Norte. As regiões mais alertadas são, com base nos mesmos critérios, o Alentejo (56.3% nunca ouviram falar) e a região de Lisboa e Vale do Tejo (59.6% nunca ouviram falar).

Se nos cingirmos ao cancro da próstata, as populações menos alertadas são também a região Norte com 33.3% de pessoas alertas e o Algarve com 34.1%. A região mais alertada para o cancro é a região Centro (45.3%) e a de Lisboa e Vale do Tejo (45.1%). Em termos de comparação internacional refirase que o trabalho já anteriormente citado (1) encontrou os maiores valores de alerta na Alemanha (54%) e menores em França (29%), o que coloca Portugal (42%) em termos razoáveis de alerta para o cancro da próstata. Os nossos resultados estão, na generalidade, de acordo com os achados dos raros estudos internacionais publicados (2,3,4) sobre os níveis de alerta e conhecimentos das doenças prostáticas, apontando todos para significativos défices de alerta e conhecimento na população. Contudo, a experiência internacional e até nacional com o cancro da mama sugere que um elevado grau de alerta público pode ser alcançado através de programas educacionais para a saúde (5). Acreditamos que, através de programas similares, que consigam um maior conhecimento público da doença, o mesmo possa ser conseguido com o cancro da próstata. Acreditamos também que a hipertrofia benigna da próstata merece uma acção de informação igualmente eficaz, que melhore a qualidade de vida dos doentes e evite o surgimento de complicações sérias. Acreditamos, até, que será possível integrar as duas patologias numa mesma acção de informação e divulgação, que desmistifique crenças, esclareça confusões, promova diagnósticos adequados e tratamentos precoces.

Referências Bibliográficas 1. Schulman CC, Kirby R, Fitzpatrick JM. Awareness of Prostate Cancer among the General Public: Findings of an International Survey. Eur Urol 2003; 44: 294-302 2. Mainous III AG, Hagen MD. Public awareness of prostate cancer and the prostate-specific antigen test. Cancer Pract 1994, 2: 217-21 3. Egawa S, Suyama K, Shitara T, Uchida T, Koshiba K. Public awareness and knowledge of prostate cancer in Japan: results of a survey at short-stay examination facilities. Int J Urol 1998; 5: 146-51 4. Fitzpatrick P, Corcoran N, Fitzpatrick JM. Prostate cancer: how aware is the public? Br J Urol 1998; 43-8 5. Fink DJ. Community programs. Breast cancer detection awareness. Cancer 1989; 64 (Supl 12): 2674-81

A pedido dos interessados, será enviado

o questionário do estudo PROSPOR. Correspondência: José Santos Dias AndroClinic Av. Almirante Reis, 175 – 1º 100-048 Lisboa [email protected]

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