Estudos Culturais no Brasil: do que estamos falando?

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Estudos Culturais no Brasil: do que estamos falando?

Erik Wellington Barbosa Borda – [email protected] Orientador: Prof. Dr. Valter Roberto Silvério UFSCar/DS– Departamento de Sociologia

NEAB - UFSCar Objeto O trabalho aqui apresentado está em fase de projeto e tem como objeto a recepção dos Estudos Culturais e Estudos pós-coloniais nas ciências sociais brasileiras. O estudo da cultura não é recente no Brasil e na América Latina, tendo sua origem nas ricas tradições ensaísticas do século XIX e início do século XX. Nesse sentido, diversos autores no Brasil dedicaram-se ao debate de temas decisivos tais como a questão do nacional e as contradições da modernidade na periferia. Durante o largo processo de formação de uma tradição de estudos da cultura no Brasil, surgia na Inglaterra do pós-guerra também um movimento intelectual que buscava tratar de um novo modo a “cultura”; eram os Estudos Culturais. Atualmente no globo esses estudos se encontram em um estado avançado de desenvolvimento. Quais foram seus impactos nas ciências sociais brasileiras? Como se trabalhou com eles por aqui? Este projeto tem como objetivo mapear a recepção desse amplo campo no Brasil, verificando as diferentes propostas de diálogo e de apropriação pelas ciências sociais brasileiras e como a bibliografia que se debruçou sobre a temática tratou a questão.

Objetivos do trabalho Os objetivos deste trabalho de modo geral são dois; (1) mapear a recepção dos Estudos Culturais e pós-coloniais nas áreas de Sociologia e Antropologia para em seguida (2) analisar qualitativamente tal recepção. Pretende-se, com isso, identificar as diferentes propostas que algumas universidades, e os grupos de pesquisa em seu interior, implementaram com relação ao campo, e como isso se reflete na grade curricular de suas disciplinas. O enfoque tende a não se voltar de modo significativo às outras áreas que também possuem interesse na temática, tais como a Comunicação, Linguística, Artes ou Letras. Isso ocorre porque investigações que se dedicaram a analisar o impacto dos Estudos Culturais sobre essas disciplinas já se encontram relativamente realizadas (ver Cevasco, 2003). Mapear aqui significa realizar uma tarefa de investigação quantitativa acerca do estado atual desses estudos no Brasil. Verificar programas de pós-graduação existentes na área, cursos que tenham em suas bibliografias autores do campo e checar alguns trabalhos produzidos por universidades, do “mainstream” que trataram da temática. Com “analisar qualitativamente” pretendo comparar as múltiplas visões apresentadas por autores que dedicaram algum trabalho a análise da problemática em questão, para com isso tomar conhecimento da forma como foi e é vista a apropriação dos Estudos Culturais e Pós-coloniais pelas disciplinas de Sociologia e Antropologia. O projeto, em suma, busca lançar uma nova perspectiva acerca da recepção do campo no Brasil.

Metodologia Este projeto de pesquisa será realizado em três etapas a fim de melhor analisar os dados obtidos. A primeira etapa acompanhará todo o curso da pesquisa, e consiste em leituras da bibliografia selecionada e de outros trabalhos que darão suporte à pesquisa como um todo. A segunda etapa consiste na quantificação de cursos que tenham em suas bibliografias autores do campo e de grupos de pesquisa e programas de pósgraduação existentes na área. A terceira etapa consiste em um levantamento mais intenso de bibliografia a respeito do tema – algo já realizado em escala reduzida para a redação deste projeto.

Resultados Obtidos A pesquisa preliminar realizada para a redação deste projeto parece indicar que há uma relativa tensão na recepção desses estudos nas ciências sociais brasileiras. No levantamento preliminar para a elaboração deste projeto – realizado no dia 4 de agosto de 2012 – se buscou o número de grupos de pesquisa com a palavra-chave “estudos culturais” no banco de dados do CNPq. A área de ciências humanas possui 107 grupos na temática, desses, apenas 23 pertencem à sociologia ou antropologia, sendo 11 nesta e 12 naquela. O levantamento apresenta dados que interessam ao presente projeto a partir do momento em que se verifica quais desses grupos apresentam linhas de pesquisa na área, ou seja, que mencionem diretamente o campo. O número cai para 10 grupos, sendo seis na sociologia e quatro na antropologia. Dessa forma, os outros 13 grupos restantes, por mais que no banco de dados durante o levantamento aparentemente apresentem perspectivas dos Estudos Culturais, não possuem linhas de pesquisa na temática, ou em certos casos não há nem sequer sinal de aproximação com o campo. Outra maneira de se apreender esta “tensão” pode ser pelo contraste entre um artigo escrito por Renato Ortiz em 2004 e um recente Dicionário de Estudos Culturais latino americanos – que apesar do nome, observa-se uma centralidade do caso hispano-americano. No artigo, Ortiz responde criticamente a autores que o classificaram como um “latino-americanista dedicado aos Estudos Culturais”. Para Ortiz (2004) “Os Estudos Culturais não existem no Brasil como área disciplinar.” Renato Ortiz não se considera um autor do campo dos Estudos Culturais, que segundo ele, dizem respeito a uma conjuntura específica de centros universitários norte-americanos e europeus. A fala deste antropólogo pode ser chocada contra um trecho de um dos verbetes – desterritorialización – do Diccionario de estudios culturales latinoamericanos de Mónica Szurmuk e Robert Irwin (2009), no qual Renato Ortiz aparece ao lado de Néstor García Canclini, Jesús Martín Barbero, e Raúl Prada como produtor de um dos “trabalhos fundacionais” dos Estudos Culturais latino-americanos. Uma vez que se encontra em fase de projeto é necessária uma pesquisa mais intensa para melhor explicitar a aparente ambivalência da recepção desse amplo campo no Brasil.

Referências Bibliográficas Cevasco, M E. Dez lições sobre estudos culturais. 1. ed. São Paulo: Boitempo editorial, 2003. Ortiz, Renato. Estudos Culturais. In: Tempo soc. vol.16 no.1 São Paulo, junho 2004 Szurmuk, M et Irwin, R M (Org). Diccionario de estudios culturales latinoamericanos. México: Siglo XXI Editores: Instituto Mora, 2009.

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