Eutanásia de suínos em granjas de crescimento e terminação

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EUTANÁSIA DE SUÍNOS EM GRANJAS DE CRESCIMENTO E TERMINAÇÃO 1

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Pierozan, C.R.* ; Dias, C.P. ; Silva, C.A. 1

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Méd. Vet. mestrando da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, [email protected]; 2 DSc. Med. Vet. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR.

PALAVRAS-CHAVE: Bem-estar animal; Insensibilização; Sacrifício. INTRODUÇÃO Na produção animal há um preceito claro que todos os animais que deverão ser sacrificados, seja para fins de prestar-se como alimento para consumo humano seja por razões humanitárias, devem ter uma morte rápida e indolor (7). O termo “eutanásia” geralmente é usado para descrever a interrupção da vida do animal de forma a minimizar ou eliminar a dor e o sofrimento (2). Uma dificuldade encontrada por todos os gestores de granjas é decidir quando os animais tornam-se economicamente inviáveis e quando devem ser tratados ou sacrificados diante de um quadro de comprometimento grave ou irreversível (8). A falha ou o atraso na eutanásia é uma fonte importante e evitável de sofrimento dos animais em granjas (6). Todo protocolo de tratamento em uma granja deve ter regras para eutanásia de suínos (3). O procedimento a ser utilizado deve ser eficaz, simples de realizar, seguro para o operador, irreversível para o animal, se possível ter preço acessível e isento de crueldade (5). Os métodos de eutanásia podem ser classificados como aceitáveis, aceitáveis sobrestrição e inaceitáveis (4). Objetivou-se com este estudo verificar se a eutanásia está sendo realizada e quais os métodos utilizados para efetuá-la, em granjas de crescimento e terminação (CT) de suínos no Estado do Paraná. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido entre janeiro e abril de 2016 em 47 granjas de CT de suínos integradas a cooperativas localizadas na região Oeste do Estado do Paraná, Brasil. Um lote por granja foi avaliado. A seleção das granjas foi feita com base no desempenho zootécnico de quatro a seis lotes anteriores (alto e baixo desempenho). Um formulário foi aplicado, o qual abordou questões relacionadas à estrutura, ambiente, práticas de manejo e alimentação nas granjas. Dentre as questões, três eram relacionadas à eutanásia, sendo que duas foram feitas diretamente (entrevista face-a-face) ao proprietário ou funcionário responsável pelos animais em cada exploração: “sacrifício de animais doentes que não aparentam recuperação” e; “método de sacrifício”. Com relação ao terceiro item: “algum animal da granja necessita eutanásia”; este foi verificado diretamente pelo avaliador (médico veterinário) durante o período que permaneceu em cada granja, para tanto, foram observados, de uma forma geral, os animais alojados em baias normais, bem como os alojados nas baias hospital. Na decisão de considerar um animal como demandador de eutanásia, procurou-se seguir alguns critérios: animais impossibilitados de acessar o bebedouro ou comedouro; animais desnutridos ou em estado de caquexia; suínos que aparentavam dor ou sofrimento intenso onde as condições na granja mostraram-se incapazes de reduzir estas sensações. Os dados foram tabulados em uma planilha no software Microsoft Excel, sendo calculadas as frequências e as porcentagens de ocorrência dentro de cada categoria para os três itens relacionados com eutanásia. A “granja” foi consider ada a unidade experimental. RESULTADOS E DISCUSSÃO A realização da eutanásia foi apontada por 36 entrevistados (78,26%) (Tabela 1) como um recurso utilizado para o sacrifício de animais doentes que não apresentam recuperação. Todavia, dez deles (27,77%) relataram que o procedimento é utilizado como um recurso extremo, realizado apenas em último caso, sendo raras as vezes que tiveram que efetuá-lo, e para três entrevistados (8,33%) o sacrifício de animais doentes somente é realizado após autorização do setor técnico. Dos 46 entrevistados 21,74% responderam nunca ter feito o sacrifício de qualquer animal na granja. Segundo Blackwell (3), quando um funcionário responsável pelo manejo dos animais diz que nunca sacrificou um suíno está negligenciando uma parte de sua função nesta tarefa. O autor ainda cita que em caso de morte na baia hospital presume-se que as regras de decisão para eutanásia não estão adequadas. Os resultados mostram que o uso da concussão cerebral com equipamentos como a marreta é o método mais utilizado pelos que responderam fazer o sacrifício, sendo citados também os métodos de sangria (feita de forma direta) e o choque elétrico. Outros equipamentos relacionados com o sacrifício, como martelo, machado e arma de fogo, também foram relatados, mas com uso pouco

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frequente. Para o sacrifício pela exsanguinação (sangria), o procedimento somente deve ser utilizado se o suíno estiver insensibilizado e inconsciente, porém o mesmo não deve ser usado como método primário de eutanásia. Para leitões lactentes até aproximadamente 5,5 kg o trauma contundente (golpe rápido e firme no topo da cabeça) é recomendado (9), porém, para animais em CT esse método não é adequado, pois seus ossos do crânio são mais espessos podendo não ocorrer suficiente dano cerebral. Quanto ao método elétrico, além da voltagem, resistência e tempo de aplicação, outro fator que determina a quantidade de corrente que passa através do cérebro é a disposição correta dos eletrodos, uma vez que, quando colocados incorretamente, a quantidade de corrente que entra no cérebro pode ser relativamente pequena (1). Quanto às características dos equipamentos utilizados e as formas da aplicação do método elétrico de sacrifício, não foram considerados nesta avaliação. Em 80,85% das granjas não foram encontrados animais que necessitavam ser eutanasiados. No entanto, em 19,15% das granjas foram encontrados animais que, por meio dos critérios descritos, deveriam ser submetidos à eutanásia. Deste total 12,76% das granjas haviam relatado fazer o sacrifício de suínos doentes que não aparentavam recuperação. Para produtores de suínos na Carolina do Norte (EUA) a clareza dos critérios para a tomada de decisão quanto ao sacrifício de um animal é fundamental e ajuda na redução do estresse no trabalho (8). A eutanásia de um suíno pode ser desagradável para o funcionário, mas pode ser a melhor maneira de fornecer bem-estar ao animal (9). Todos os criadores devem ser treinados para identificar os animais que requerem eutanásia e estar preparados para executá-la imediatamente (6). CONCLUSÕES Os expressivos valores de granjas que não realizam a eutanásia (21,74%), somadas àquelas onde são utilizados métodos inadequados de sacrifício (77,78%) evidenciam o grave comprometimento do bem-estar animal. Os responsáveis pelos suínos devem ser treinados a identificar a necessidade de eutanásia e a forma correta de efetuá-la. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ANIL, M. H. Studies on the Return of Physical Reflexes in Pigs following Electrical Stunning. Meat Sci., v.30, p.13-21, 1991. 2. AVMA – American Veterinary Medical Association. AVMA Guidelines for the Euthanasia of Animals: 2013 Edition. Schaumburg: AVMA, 2013. 102p. 3. BLACKWELL, T. Effective treatment and handling of poor doing pigs in the finishing barn. In: LONDON SWINE CONFERENCE: PRODUCTION AT THE LEADING EDGE, 5., 2005, Ontario. Proceedings… Ontario: J. M. Murphy, 2005. p.167-172. 4. CFMV – Conselho Federal de Medicina Veterinária. Guia brasileiro de boas práticas para a eutanásia em animais: conceitos e procedimentos recomendados. Brasília: CEBEA/CFMV, 2012. 62p. 5. DENICOURT, M. et al. Developing a safe and acceptable method for on-farm euthanasia of pigs by electrocution. Québec: [s.n.], 2009. 64p. 6. GONYOU, H. Practical approaches to ensure animal welfare on farms. In: LONDON SWINE CONFERENCE: PRODUCTION AT THE LEADING EDGE, 5., 2005, Ontario. Proceedings… Ontario: J. M. Murphy, 2005. p.8993. 7. LONGAIR, J. et al. Guidelines for euthanasia of domestic animals by firearms. Can. Vet. J., v.32, p.724726, 1991. 8. MORROW, W. E. M. et al. Financial and welfare implications of immediately euthanizing compromised nursery pigs. J. Swine Health Prod., v.14, p.25-34, 2006. 9. NPB – National Pork Board. On-Farm euthanasia of swine: recommendations for the producer. Des Moines: [s.n.], 2009. Tabela 1. Frequência e porcentagem de ocorrência das respostas relacionadas à eutanásia dos suínos. Variável n 1 Sacrifício de animais doentes que não aparentam recuperação Sim 36 Não 10 2 Método de sacrifício Marreta 16 Sangria 7 Método elétrico 7 Martelo 2 Marreta seguida por sangria 1 Machado 1 Machado/paulada 1 Arma de fogo 1 3 Encontrado algum animal que necessita eutanásia Sim (granjas nas quais se relatou fazer o sacrifício) 6 Sim (granjas nas quais se relatou não fazer o sacrifício) 2 Sim (granjas nas quais não foi questionado sobre a realização de sacrifício) 1 Não 38 1

n=46 granjas; 2n=36 granjas (somente granjas onde afirmaram realizar sacrifício); 3n=47 granjas.

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% 78,26 21,74 44,44 19,44 19,44 5,56 2,78 2,78 2,78 2,78 12,76 4,26 2,13 80,85

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