FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SÃO PAULO - O ESTRESSE HÍDRICO E O REÚSO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA E SUSTENTÁVEL

June 4, 2017 | Autor: Rogério Celeste | Categoria: Environmental Sustainability, Water and Sanitation, Meio Ambiente, Saneamento Ambiental
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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SÃO PAULO

CURSO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO AMBIENTAL

O ESTRESSE HÍDRICO E O REÚSO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA E SUSTENTÁVEL

RICARDO PARDELLI ROGÉRIO CELESTE

ORIENTADORA REGINA HELENA PACCA GUIMARÃES COSTA

São Paulo 2013

RICARDO PARDELLI ROGÉRIO CELESTE

O ESTRESSE HÍDRICO E O REÚSO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA E SUSTENTÁVEL

Monografia apresentada à Faculdade de Tecnologia de São Paulo, como parte dos requisitos

para

obtenção

do

titulo

de

Tecnólogo em Hidráulica e Saneamento Ambiental. Orientadora: Profª Regina Helena Pacca Guimarães Costa.

São Paulo 2013

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DEDICATÓRIAS

Dedico este trabalho especialmente à minha esposa Karina, minha companheira e parceira, que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos, fáceis e difíceis, dessa caminhada, e aos meus filhos Lucca e Isabela, razão pela qual estarei sempre em formação pessoal e profissional, servindo de exemplo também em suas próprias formações.

Ricardo Pardelli Jr.

Dedico este trabalho a meus filhos, que apesar de minha presença menos constante, compreenderam e incentivaram, à minha enteada, que acompanhou com entusiasmo minha trajetória, e especialmente à minha esposa, por incentivar-me a começa-lo, mesmo sabendo que os finais de semana passariam a ser nossos maiores aliados.

Rogério Celeste

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RESUMO Quando falamos sobre estresse hídrico queremos na verdade falar sobre a falta de água potável em algumas regiões e o aumento de água não potável em outras. Assim, iniciamos o trabalho justamente no ponto que mais nos assombra: Os conflitos armados que podem ocorrer em torno da falta de água. Aos poucos descortinam-se vários pontos de vista e informações que convergem para o mesmo foco, a escassez da água, porém tornando-se mais ameno à medida que o caminhamento dos tópicos guia-nos por novas situações e pesquisas mais reveladoras sobre a viagem da água pelo planeta como bem de consumo, tais como a Água Virtual e a Pegada Hídrica. Neste momento entraremos no racionalismo humano e os motivos que nos levam a tomar atitudes, tais como nossa consciência, nossas obrigações legais ou nossos interesses financeiros. Qualquer que seja esta motivação, uma norma, como a Produção Mais Limpa lançada pela UNESCO nos anos 1990, ou uma lei, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010, que obriga governo, empresários e população a fazerem parte de um ciclo que, fatalmente, provocará uma ação, como a reciclagem. Toda ação leva a uma reação, e são essas reações, alavancadas pela divulgação feita por instituições de credibilidade, como a FIESP e a CETESB, a finalidade do presente trabalho: disseminar a prática do reuso de água industrial, expondo os benefícios ambientais desta prática sem deixar de lado os benefícios econômicos e os benefícios incomensuráveis, como a imagem de uma empresa e a educação de uma população, utilizando-se como grandes exemplos as ações que empreenderam grandes empresas, tais como: Pirelli, Aquapolo e JBS, citadas nesta monografia, para que não tenhamos que chegar um dia àquele ponto que mais nos assombra, citado no início do Capítulo 2 e deste Resumo: As Guerras da Água.

Palavras-chave: água, recursos hídricos, estresse hídrico, reuso, reciclagem, resíduos, escassez, água virtual, pegada hídrica, PNRS.

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SUMÁRIO DEDICATÓRIAS ............................................................................................ 2 RESUMO ....................................................................................................... 3 SUMÁRIO ...................................................................................................... 4 LISTA DE FIGURAS ...................................................................................... 5 LISTA DE ABREVIATURAS........................................................................... 6 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 7 2. REVISÃO da LITERATURA ..................................................................... 10 2.1 Estresse Hídrico ..................................................................................... 10 2.1.1 Água Virtual e Pegada Hídrica – Estudos sobre o consumo ............... 14 2.1.1.1 Água Virtual...................................................................................... 14 2.1.1.2 Pegada Hídrica ................................................................................ 16 2.2 Os motivadores das mudanças .............................................................. 17 2.3 Em busca do equilíbrio ........................................................................... 18 2.3.1 Produção Mais Limpa (P+L) ................................................................ 18 2.3.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) .................................. 19 2.3.2.1 Por que reciclar? .............................................................................. 20 2.4 Exemplos a difundir ................................................................................ 21 2.4.1 Fiesp ................................................................................................... 22 2.4.1.1 Pirelli Pneus – Campinas/SP ........................................................... 23 2.4.1.2 Aquapolo Ambiental – São Paulo/SP ............................................... 35 2.4.2 Cetesb ................................................................................................. 47 2.4.2.1 Case JBS Couros S/A - Grupo Friboi (resumido) ............................. 47 3. CONCLUSÃO .......................................................................................... 50 3. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 53

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – “As Guerras da Água” ................................................................. 10 Figura 2 - Desigualdade no Acesso da População à Água Potável ............. 11 Figura 3 – Banner para a campanha do Dia Mundial da Água em 2013 ...... 12 Figura 4 – Balanço da Água Virtual, por país ............................................... 16 Figura 5 - Gráfico de consumo de água em 2011 ........................................ 25 Figura 6 – Tanque de Água de Reuso com capacidade de 300m 3 .............. 26 Figura 7 – Filtro de Areia e Carvão já em operação..................................... 26 Figura 8 - Aquário utilizado no controle biológico......................................... 27 Figura 9 – Visão Geral da ETE Industrial e Aquário de controle biológico. .. 28 Figura 10 - Dia do Meio Ambiente realizado em Setembro/2011 ................. 29 Figura 11 – Quadro de atividades do Programa Sócio Ambiental................ 30 Figura 12 – Escola EMEF Barraquet - Visita á Pirelli - Julho/2011. ............. 31 Figura 13 – Acompanhamento do consumo de água................................... 31 Figura 14 – Gráfico da evolução do consumo específico - 2010.................. 32 Figura 15 – Gráfico de consumo de água específico - 2011. ....................... 33 Figura 16 – Gráfico demonstrativo da redução do consumo de água .......... 33 Figura 17 – Volume captado ........................................................................ 34 Figura 18 – ETE ABC ................................................................................... 36 Figura 19 – Refinaria Petrobras – Capuava/ABC......................................... 37 Figura 20 – Braskem ABC ........................................................................... 38 Figura 21 – Filtros-disco ............................................................................... 41 Figura 22 – Tanque de tratamento biológico. ............................................... 41 Figura 23 – Membranas de polissulfona. ..................................................... 42 Figura 24 – Sistema de ultrafiltragem com membranas submersas ............ 42 Figura 25 – Água de reuso produzida na Aquapolo Ambiental .................... 43 Figura 26 – Etapa de filtragem por osmose reversa .................................... 43 Figura 27 – Adição de uma solução de dióxido de cloro. ............................. 44 Figura 28 - Estação de Tratamento de Efluentes - Friboi / Lins ................... 48

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LISTA DE ABREVIATURAS ABC

-

Grande ABC, região metropolitana de São Paulo

BBC

-

Empresa Britânica de Comunicação

CETESB

-

Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CONAMA

-

Conselho Nacional do Meio Ambiente

DAEE

-

Departamento de Águas e Energia do Estado de São Paulo

DBO

-

Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO

-

Demanda Química de Oxigênio

EMEF

-

Escola Municipal de Ensino Fundamental

EPAI

-

Estação Produtora de Água Industrial

ETA

-

Estação de Tratamento de Água

ETE

-

Estação de Tratamento de Efluentes

EUA

-

Estados Unidos da América

FIESP

-

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

MMA

-

Ministério do Meio Ambiente

ONG

-

Organização Não Governamental

ONU

-

Organização das Nações Unidas

P+L

-

Produção Mais Limpa

PCS

-

Produção e Consumo Sustentáveis

pH

-

Potencial Hidrogeniônico

PNRS

-

Política Nacional de Resíduos Sólidos

SABESP

-

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

TPA

-

Tonelada de Produto Acabado

UNESCO

-

ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura

WF

-

Water Footprint, do inglês Pegada Hídrica

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1. INTRODUÇÃO Nosso planeta corre sérios riscos de grandes conflitos, secas e fome por conta da falta de água potável que se vislumbra em médio prazo. O pronunciamento da Deputada Federal Maria do Carmo Lara (PT/MG), na Sessão da Câmara do dia 10/04/2002, isto é, há 11 anos, fomentava uma situação já perturbadora: [...] a água vem recebendo a qualificação de "ouro azul" e fala-se até na possibilidade de, num futuro próximo, haver guerras em busca de água potável. Portanto, há que se tomar consciência desta problemática que tem a ver diretamente com a continuidade da vida e sua qualidade. [...] o rápido crescimento da população mundial e a crescente poluição, causada também pela industrialização, torna a água o recurso natural mais estratégico de qualquer país do mundo. Para cada 1.000 litros de água utilizados, outros 10 mil são poluídos. Segundo a ONU, parece estar cada vez mais difícil se conseguir água para todos, principalmente nos países em desenvolvimento.

Assim, de um lado estão os países extremamente pobres, como a Etiópia, onde mulheres, adultas ou crianças, são as responsáveis pela obtenção de água andando até dezenas de quilômetros diariamente para obter algumas dezenas de litros de água imprópria para o consumo humano; do outro lado estão os países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América onde, em média, o consumo de apenas uma pessoa equivale ao consumo de seiscentas pessoas na Etiópia. O Brasil é outro grande exemplo dessa desigualdade hídrica. Aqui estão 11,6% de toda a água doce do planeta. Aqui também se encontram o maior rio do mundo - o Amazonas - e os maiores reservatórios de água subterrânea do planeta - o Aquífero Guarani e o Aquífero Alter do Chão. No entanto, essa água está mal distribuída: 70% das águas doces do Brasil estão na Amazônia, onde vivem apenas 7% da população. Essa distribuição irregular deixa apenas 30% do potencial hídrico para abastecer 93% da

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população. Essa é a causa do problema de escassez de água verificado em alguns pontos do país. Mas isto não seria um problema se a água fosse bem gerenciada e se a infraestrutura urbana tivesse sido projetada em comum acordo com o sistema natural: as bacias e sub-bacias, o ecossistema e o ciclo hidrológico. Ao invés disso, proliferaram grandes avenidas e uma imensidão de edifícios e shopping centers, cuidando para que a impermeabilização do solo fosse perfeita; adicione-se a isto que o sistema de drenagem e de esgoto sanitário contribuíssem para a completa degradação de nossos próprios mananciais. Lembra-nos o professor Oscar Cordeiro Neto (março/2002): [...] São Paulo e Rio de Janeiro, cidades que sofrem, ao mesmo tempo, com a falta de água e com as enchentes. Porque a água que inunda é tão poluída que não pode ser aproveitada e a água que se bebe é buscada em locais muito distantes.

Ainda que timidamente e um tanto esparsas, atitudes estão sendo tomadas. Estudos reconhecidos internacionalmente, como a Água Virtual e a Pegada Hídrica, vêm sendo adotados por empresas, governos e pela própria ONU, quando da mensuração destes no consumo de água. Programas como a Produção Mais Limpa (P+L) da ONU/PNUMA, criado há décadas, ressurgem mais fortes e dão origem a outros programas e leis, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/2010), “tendo como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população, impulsionando o retorno dos produtos às indústrias após o consumo e obrigando o poder público a realizar planos para o gerenciamento do lixo” (MMA/2010). A reciclagem passou a ser vista como saída para a socialização de catadores, organizados em cooperativas de trabalho, ao passo que neste ponto, aliado à obrigatoriedade da logística reversa, disseminou-se a ideia de que reciclar e reusar são sinônimos de legislação, economia financeira e sustentabilidade. O tratamento de efluentes industriais é prática obrigatória de acordo com diversas leis e resoluções, como o Código e a Lei das Águas, a

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Resolução 357/05 do CONAMA, a Portaria 2914/11 do Ministério da Saúde, entre outras. Mas o que o empresariado está passando a perceber é que o custo com estas adequações poderiam ser “diluídos” caso houvesse o reaproveitamento do descarte em seus próprios processos industriais. O conceito do reuso de água industrial deixou de ser, aos poucos, uma teoria poética disseminada por alguns “nobres cruzados” do ambientalismo para se tornar uma prática rentável e ambientalmente correta. Porém, neste país a educação, a cultura e o acesso à informação são deficientes ou manipulados. A massificação de informações e diversões efêmeras, porém imediatas, são os preferidos pois trazem resultados também imediatos. Se somarmos a isso o bombardeio feito diariamente quanto às mudanças climáticas, será fácil deduzir que o espaço extremamente importante relegado ao saneamento ambiental fica próximo a zero. O objetivo geral do presente trabalho é trazer um panorama do consumo hídrico englobando: a) uma previsão do futuro, caso nada seja modificado; b) quais são os motivadores para mudança de atitudes; c) citação de programas e ações advindos em prol do equilíbrio e da sustentabilidade; d) exemplos de sucesso na implantação de reuso industrial, com suas características e resultados, divulgados por instituições extremamente conceituadas, como FIESP e CETESB. Especificamente, o objetivo é demonstrar que, diante de um quadro precário de acesso à informações ou atividades, toda e qualquer iniciativa de práticas sustentáveis do uso de recurso hídricos deve ser disseminada. A justificativa deste tema reside em que há uma inércia por parte da mídia em geral com relação a conceder-lhe um espaço maior. Algo precisa ser feito nestes próximos anos para reverter uma situação prevista há décadas atrás, a acontecer em algumas décadas à frente, e que esse algo a ser feito é tão mais simples e econômico do que tentar, lá no futuro, remediar. Propagar o reuso em geral e seus empreendedores é, com certeza, uma das saídas.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Estresse Hídrico Muito se tem dito sobre a atual escassez de água em nível mundial e as consequências que isso poderia trazer: racionamentos, fome e conflitos armados são os principais. A frequência com que os meios de comunicação vêm noticiando sobre tais ocorrências tem aumentado, como podemos verificar na Figura 1.

Figura 1 – “As Guerras da Água” – Matéria publicada no programa Matéria de Capa da Rede Cultura de Televisão Fonte: Sítio CMAIS – Rede Cultura/2013

O Guia do Estudante (versão escrita) e a revista Planeta Sustentável (versão eletrônica), publicaram simultaneamente em 2009 uma matéria de cinco páginas do jornalista Sérgio Adeodato sob o título “Líquido Precioso”, reportando-nos que a água vem sendo disputada como um tesouro e pode

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transformar-se em motivo de conflitos e guerras, alegando também que hoje (2009), levantamentos mostram que 2,2 bilhões de pessoas (figura 2), ou seja, quase um terço da população do planeta vem sofrendo com a escassez de água potável, calculando-se ainda que em 20 anos haverá 3,9 bilhões de pessoas com sede.

Figura 2 - Desigualdade no Acesso da População à Água Potável Fonte: IBGE, 2003

Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU/2013) demonstram que um bilhão de pessoas não tem acesso suficiente à água, o qual é definido como 20 litros por pessoa/dia a uma distância não superior a mil metros de alguma ligação doméstica, fonte pública, fossos, poços e nascentes protegidas e a coleta de águas pluviais. Ainda de acordo com a ONU: [...] causas de abastecimento inadequado de água incluem o uso ineficiente, a degradação da água pela poluição e a superexploração das reservas de águas subterrâneas. Ações corretivas visam a alcançar uma melhor gestão dos escassos recursos de água potável, com foco particular na oferta e na demanda, quantidade e qualidade. Atividades do Sistema das Nações Unidas visam ao desenvolvimento sustentável dos recursos finitos e frágeis de água doce, que estão sob pressão crescente com o crescimento populacional, a poluição e as demandas de usos agrícolas e industriais.

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A UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, um dos braços da ONU, que vem enfatizando a preocupação da comunidade internacional em concretizar os compromissos assumidos com relação aos recursos hídricos do planeta, lançou 2013 como o “Ano Internacional de Cooperação pela Água”. O órgão tem veiculado material informativo e educacional visando uma conscientização acessível e de fácil assimilação pelo público em geral, em linguagem iconográfica (figura 3) simples, porém direta.

Figura 3 – Banner para a campanha do Dia Mundial da Água em 2013 Fonte: UNESCO/2013

O próprio órgão manifestou sua preocupação com relação a conflitos internacionais por conta da escassez de água quando menciona: [...] são ações que podem ajudar na construção de respeito, entendimento e confiança mútuos entre os países, e também na promoção da paz, da segurança e do crescimento econômico sustentável. [...] Surpreendentemente, os territórios de 148 nações estão dentro de bacias hidrográficas internacionais, e mais de 30 países estão localizados quase completamente nessas bacias. No total, existem 276 bacias internacionais. Elas cobrem 45% da superfície da parte terrestre do planeta, abrigam cerca de 40% da população

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mundial e são responsáveis por aproximadamente 60% dos rios do mundo (UNESCO, 2013).

Para o Prof. Milton Matta, da Universidade Federal do Pará (2013), a verdadeira crise teria origem no gerenciamento deste recurso. A quantidade de água existente no planeta é suficiente para abastecer o dobro de sua população, desmistificando a chamada „crise da água‟. O consumo da água distribuir-se-ia em 10% no consumo humano, 20% no uso industrial e 70% na agricultura. Segundo o professor, se pudéssemos ser mais eficientes em sua distribuição e em seu uso, não teríamos qualquer risco de escassez. Imaginando que esta eficiência reduzisse os consumos humanos e industriais, teríamos então disponíveis para uso esses mesmos índices; por exemplo, reduzindo 10% teríamos disponíveis então mais 10%, e assim sucessivamente. Isto sem considerarmos a Agricultura, onde há o consumo de maior demanda e pior gerenciado com perdas assustadoras originadas nos projetos. Basta visualizar que uma redução mínima efetiva de 10% significaria todo o consumo humano. A dificuldade no correto gerenciamento estaria nas diferentes características locais: clima, disponibilidade, acessibilidade e qualidade hídrica, bem como o desenvolvimento econômico e social do país. O Brasil seria um exemplo dessa falta de gerenciamento. O crescimento desordenado acelera o processo de degradação de recursos ambientais, principalmente os hídricos, mas os poderes públicos não contemplam o seu uso racional. Além disso, a falta de educação não permite com que sua população entenda conceitos básicos. Toma-se como exemplo o povo da Amazônia: Como convencê-los a economizar água se todas as tardes veem o céu escurecer, num prenúncio de mais chuvas? Portanto, na opinião do professor, o planeta favorece-nos com relação à abundância de água, mas esta relação de quantidade não está sempre diretamente ligada à sua qualidade.

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2.1.1 Água Virtual e Pegada Hídrica – Estudos sobre o consumo

2.1.1.1 Água Virtual

Segundo a ONU (2013), estima-se que cada ser humano gasta em média 110 litros de água por dia em suas necessidades básicas, tais como preparo de alimentos, higiene, etc. Nos Estados Unidos da América (EUA) o consumo varia entre 400 e 600 litros/hab./dia, enquanto que na Etiópia o consumo médio é de 1 litro/hab./dia. Porém, esta estimativa considera apenas o uso direto, como ingestão, higienização, preparação de alimentos, etc. O consumo utilizado nos processos de produção de tudo o que se consome, tais como livros, alimentos e automóveis, não são levados em consideração. Tal consumo indireto, denominado Virtual Water, ou Água Virtual é parte de um estudo que vem chamando a atenção de especialistas, pois demonstra que a demanda por esse recurso é muito maior do que se imaginava e, em contrapartida, sua disponibilidade vem diminuindo. O estudo da Água Virtual tem uma definição simples, segundo a qual o volume de água utilizado na produção de qualquer bem ou produto, seja de origem animal, vegetal ou mineral, é considerado Água Virtual. No setor produtivo, esta água seria dividida em verde (chuva), azul (na superfície e debaixo da terra) e cinza (poluída). Em novembro de 2004, uma empresa jornalística de expressão mundial, a BBC, abriu espaço em seu sítio para esta preocupação de escassez e mencionou este novo conceito de Água Virtual. Segue uma tradução do início da matéria: Um terço da população mundial vive em países com carência

de

água

atualmente

e

em

2025

este

número

provavelmente terá aumentado para dois terços. Poderíamos resolver os problemas de água do mundo e, se sim, como fazer? As opiniões divergem - embora a maioria concorde que a escassez de água é uma questão complexa, sem solução simples.

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Uma série de especialistas em água tenta explicar de que forma o setor privado, do comércio internacional e da tecnologia podem ajudar. [...]

Naquela matéria, um professor da Universidade de Londres afirma que noventa por cento da água consumida por um indivíduo é utilizada para produzir sua alimentação. Os demais 10% da água doce, necessários aos trabalhos domésticos ou não-agrícolas, estão quase sempre disponíveis localmente. Ele afirma ainda que onde há escassez de água, a dessalinização tornou-se uma opção econômica - embora as populações em altitudes elevadas enfrentem problemas. O professor anteriormente mencionado é John Anthony Allan, professor da Universidade de Londres, que iniciou esses estudos em 1993. Ele calcula que cerca de um quinto de toda a água vai para a produção de culturas e de commodities para exportação, parte de um fenômeno global que ele denominou, como mencionado anteriormente, Água Virtual. Por conta deste estudo, o professor Tony Allan recebeu inclusive um prêmio do Stockholm International Water Institute, em 2008, pela relevância do trabalho e, como pudemos atentar no início deste tópico, a denominação Água Virtual já vem sendo utilizada inclusive pela ONU. A Reuters, agência internacional de notícias, publicou em 2008 que o próprio Stockholm International Water Institute afirma que a ideia de Água Virtual vem fazendo parte da produção de alimentos e de produtos industrializados. Segundo avaliação daquele instituto, as pessoas não consomem apenas água quando a bebem ou tomam um banho. Por trás de uma xícara de café, por exemplo, há 140 litros de água que foram consumidos para fazer crescer, produzir, empacotar e enviar o grão. Ainda de acordo com a agência Reuters, o instituto declarou que nos EUA uma pessoa média consome cerca de 7.000 litros de água virtual todos os dias, mais de três vezes o consumo médio de uma pessoa chinesa.

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2.1.1.2 Pegada Hídrica

Com origem intelectual nos anos 1990, a Pegada Hídrica (WF, do termo original em inglês Water Footprint), passou por vários ajustes até sua final edição e apresentação em 2011 pelos pesquisadores Hoekstra e Mekonnen, do Department of Water Engineering and Management da Universidade de Twente, na Holanda. Com base nos princípios da Água Virtual, este estudo quantifica e mapeia a WF da humanidade em uma resolução espacial, isto é, estimada por nação, tanto da produção quanto uma perspectiva de consumo. Fluxos de WF internacional são estimados com base no comércio de commodities agrícolas e industriais. De acordo com os autores (Hoekstra & Mekonnen, 2011), o estudo ilustra a dimensão global do consumo de água e poluição, mostrando que vários países dependem fortemente dos recursos hídricos estrangeiros e que muitos países têm impactos significativos sobre o consumo de água e poluição em outro lugar (figura 4).

Figura 4 – Balanço da Água Virtual, por país Fonte: Sítio da Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America/2012

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A seção Economia & Negócios no sítio do jornal O Estado de São Paulo destaca, em um comentário do professor Paulo Roberto Haddad (2012), Ex-Ministro da Fazenda e do Planejamento (1992/93), a dimensão e o uso deste estudo: É crescente, entre os principais líderes públicos e privados em escala mundial, a preocupação com a extensão e a magnitude que as organizações empresariais e os consumidores estão interferindo nos ciclos hidrológicos de países e regiões, frequentemente de forma não sustentável. [...] O cálculo da pegada hídrica na linha de produção pode contribuir para tornar efetiva

a

responsabilidade

social

ampliada

das

grandes

corporações.

2.2 Os motivadores das mudanças

Existem três motivadores das mudanças de atitudes relacionadas ao meio ambiente: OBRIGAÇÃO, ECONOMIA e CONSCIÊNCIA. → Motivador OBRIGAÇÃO: Temos duas formas, a obrigação legal e a obrigação comercial. 

Obrigação legal: é aquela imposta pelos órgãos públicos

reguladores e/ou por leis específicas federais, estaduais ou municipais; 

Obrigação comercial: é aquela exigida por clientes ou

fornecedores, como condição ao fechamento do negócio. Por exemplo, vários fabricantes certificados pela ISO14000 exigem que seus clientes também o sejam, assim como o cliente certificado exige esta reciprocidade de seu fornecedor. → Motivador ECONOMIA: puramente racional, está relacionado ao aumento da procura por produto ou serviço de empresas cujos processos e imagem ajustam-se às questões sustentáveis e consequentemente aos seus clientes, fornecedores ou às leis e opinião pública; é inerente aos empresários e origina-se da intenção de maiores lucros e menores prejuízos, os quais podem ser inclusive resultado dos outros motivadores. Portanto,

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este pode ser um motivador subproduto do resultado de um ato de obrigação ou de um ato de consciência. → Motivador CONSCIÊNCIA: contrariamente ao anterior, este motivador é passional, mas dentro da racionalidade pois nasce quando há o vislumbre de um futuro caótico, visto através dos meios de comunicação ou da educação. Inerente ao cidadão melhor informado e/ou com bom nível de formação, entre eles alguns empresários, os quais entendem que o lucro visado é a preservação da natureza para as futuras gerações.

2.3 Em busca do equilíbrio

Ações que visem, se não reverter, ao menos minimizar os efeitos de um possível estresse hídrico, precisam ser adotadas agora enquanto o problema é previsto mais à frente. Isto não seria preocupante se o ser humano tivesse por hábito evitar suas tragédias anunciadas mas, historicamente, ele tende a remediar as situações críticas ao invés de preveni-las.

2.3.1 Produção Mais Limpa (P+L)

O P+L é um conceito introduzido na década de 1990 por dois braços da ONU: o UNIDO (Organização pelo Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas) e o PNUMA (Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas). Em resumo, este conceito é definido como a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva integrada aos processos, produtos e serviços com o intuito de aumentar a ecoeficiência e reduzir os riscos à saúde e ao meio ambiente (MMA, 2012). Posteriormente, a preocupação com o aquecimento global contribuiu para a evolução do P+L, inserindo a ideia de Produção e Consumo Sustentáveis (PCS) a qual une os extremos dos processos produtivos que

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impactam diretamente no meio ambiente e, consequentemente, na sustentabilidade. Portanto, o advento da P+L tem papel fundamental na conservação dos recursos hídricos dentro da produção industrial.

2.3.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)

A

lei

12.305/2010

instituiu

o

mais

moderno

plano

para

gerenciamento de resíduos urbanos do mundo: A Política Nacional de Resíduos Sólidos

– PNRS.

Com

o princípio

da

responsabilidade

compartilhada entre governo, empresas e população, este marco histórico da gestão ambiental impulsiona o retorno dos produtos às indústrias após o consumo, obrigando o poder público a realizar planos para o gerenciamento do lixo e determinando o fim dos lixões até agosto/2014. Uma reportagem no sítio da Agência Brasil (março, 2013), empresa de comunicação do Governo Federal, responsável inclusive pelo programa "A Voz do Brasil" posicionou oficialmente a situação atual: [...] Em outubro todas as contribuições da 4ª Conferência Nacional de Meio Ambiente serão consolidadas em um encontro nacional. A proposta do governo com a iniciativa, que, pela primeira vez vai abrir espaço para que organizações da sociedade civil também apresentem sugestões em uma página na internet (www.conferenciameioambiente.gov.br), é criar as condições necessárias para que a lei saia definitivamente do papel.

Esta fase de entrega de propostas venceu em agosto/2012 e apenas 10% dos municípios haviam entregado seus planos. Apesar disto, há grandes possibilidades de que sua implantação se dê ainda dentro do prazo inicialmente previsto: agosto/2014. Findo o prazo, os municípios que ainda estiverem irregulares ou não entregaram suas propostas, ficarão sem o repasse.

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2.3.2.1 Por que reciclar?

Na fabricação do papel, por exemplo, considerando o estudo da Água

Virtual

anteriormente

mencionado



capítulo

2.1.1.1,

seriam

necessários 10 litros de água para produção de cada folha tipo “A4” com gramatura de 90g/m2. Então, para se produzir uma tonelada serão necessários: - Área de uma folha A4 = 0,21m X 0,297m = 0,06237 m 2 - Peso de uma folha A4 = 0,06237 m2 X 90 g/m2 = 5,6133 gramas - Total de folhas A4/T = 1000 kg / 0,0056133 kg = 178.148 folhas - Água utilizada = 178.148 folhas X 10 litros = 1.782 m 3 de água Portanto, são gastos 1.782 m3 de água para produzir-se uma tonelada de papel. Em matéria feita por Lydia Cintra para a revista SuperInteressante eletrônica (junho/2011), um quilo de papel consome 540 litros de água. Então, para uma tonelada teremos: 1000 X 540 = 540.000 litros ou 540 m3 de água. Como este cálculo não está baseado na Água Virtual, mas apenas na etapa de produção, o balanço de valores resulta a quantidade utilizada no plantio:  1782 m3 – 540 m3 = 1242 m3 utilizados na fase de plantio.

De acordo com o prof. Rui Meira (2002), uma tonelada de papel reciclado economiza cerca de 20.000 litros de água ou 20 m3, isto novamente considerando apenas a etapa de produção. Se considerarmos a etapa de plantio com sua respectiva irrigação, somada à economia na etapa de produção, teremos:  1242 m3 + 20 m3 = 1262 m3 de água economizada na reciclagem de uma tonelada (1 T = 1000 kg) de papel. 20

Este cálculo simples pode ser feito para todos os materiais passíveis de reciclagem ou reuso, mas que são descartados diariamente sem uma correta destinação: alumínio, vidro, etc.

2.4 Exemplos a difundir

Hoje o aquecimento global é a vedete dos problemas ambientais. Independentemente da veracidade, maledicência ou confiabilidade de seus estudos e até mesmo quanto ao real poder maléfico do Dióxido de Carbono (CO2) sobre o efeito estufa, o fato é que toda iniciativa ou pesquisa voltada àquele assunto tende a receber créditos, incentivos e promoções. Basta verificar-se o número de Organizações Não Governamentais (ONGs) existentes voltadas à esfera ambiental: Segundo o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA/2013), existem hoje registradas 635 ONGs ambientais incluídas oficialmente no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (CNEA). O cadastro foi criado em 1991, ano anterior à RIO92, com o registro de apenas 170 instituições. Portanto, um aumento de 373% em 22 anos. Um pouco mais distante dos holofotes, a possibilidade de haver um estresse hídrico em 20 anos seria quase unânime. Mas a cultura popular, acostumada a frequentes notícias de temporais, deslizamentos, enchentes e inundações, por falta de conhecimento acaba traçando um paralelo (induzido ou subconscientemente) entre mudanças climáticas e desastres naturais, quando ao menos deveria ter mais informações sobre, por exemplo, impermeabilização do solo ou desmatamento de encostas, origens de várias dessas catástrofes, e ainda informações sobre qual o destino de todas essas águas que muitas vezes invadem ruas e avenidas, arrastando resíduos urbanos de toda sorte e natureza para dentro de rios, córregos, lençóis freáticos, etc. Uma saída para esta falta de publicidade está em divulgar o trabalho daqueles que adotaram grandes mudanças e estão gerando benefícios ambientais. 21

Vindo ao encontro desses pensamentos estão algumas instituições, incentivando e divulgando, há algum tempo, todos os esforços praticados por empresas que investem na racionalização e na conservação ambiental. A Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e a CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, por exemplo, são algumas das quais apresentaremos, de forma dinâmica, alguns de seus trabalhos de divulgação pública. Como pudemos observar anteriormente no capítulo 2.2, os motivadores das mudanças de atitudes dos tipos OBRIGAÇÃO e ECONOMIA são aqueles mais comumente pensados entre a grande maioria do

empresariado.

Premiações

ou

divulgação

gratuita

em

espaços

específicos podem ajudar a incentivar os concorrentes a aderirem naturalmente ao engajamento ambiental, difundindo práticas e processos sustentáveis.

2.4.1 Fiesp

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP, maior entidade de classe da indústria brasileira, desde 2006 vem premiando empresas que desenvolvem projetos baseados na preocupação ambiental: o Prêmio FIESP de Mérito Ambiental, instituído em 1995, e o Prêmio FIESP de Conservação e Reuso de Água, instituído em 2006. De acordo com a entidade (Fiesp, 2012): O Prêmio (Conservação e Reuso de Água) tem como finalidade conhecer, difundir e homenagear, anualmente, empresas que utilizam boas práticas na promoção do uso eficiente de água, com medidas efetivas na redução do consumo e do desperdício de água, gerando benefícios ambientais, econômicos e sociais e aumentando a competitividade do setor. O Prêmio também procura dar ampla publicidade às ações realizadas pela indústria paulista na construção do desenvolvimento sustentável. De 2006 a 2012, recebeu 113 projetos de 88 empresas dos mais variados segmentos. Ao todo,

22

foram premiadas 12 empresas, divididas entre as categorias micro, pequena, média e grande. Contabilizando todas as edições, as empresas participantes do Prêmio investiram mais de R$ 37,3 milhões em conservação e reuso, gerando uma economia equivalente à 20.092.552 metros cúbicos de água por ano.

São duas as categorias às quais concorrem as empresas: Micro e Pequeno Porte ou Médio e Grande Porte. Os vencedores de cada uma recebe, além de um troféu, o direito de utilizar um selo com registro do prêmio e ano de referência. Outras quatro empresas são premiadas com placas de menção honrosa. A participação para concorrer ao Prêmio é gratuita. Apresentaremos aqui as duas últimas empresas vencedoras da categoria Médio e Grande Porte em virtude da magnitude que suas mudanças redundaram. São elas: 

Pirelli Pneus Ltda. – Unidade Campinas Vencedora da 7ª edição – 2012



Aquapolo Ambiental – Empresa SABESP e Foz do Brasil Vencedora da 8ª edição - 2013

2.4.1.1 Pirelli Pneus – Campinas/SP

A)

Situação inicial: A unidade Campinas da Pirelli, em atividade desde 1971, mantém

2.097 postos de trabalho diretos e 430 indiretos (estes aproximados). Certificada ISO14001 desde 1998 possui em operação nesta unidade duas Estações de Tratamento de Efluentes (ETE): uma para a geração nos processos industriais e outra para o efluente doméstico. Há ainda uma Estação de Tratamento de Água (ETA). O consumo de toda água tinha como origem duas fontes, ambas outorgadas pelo DAEE: 1) Captação superficial junto ao Rio Capivari para utilização industrial

23

2) Captação subterrânea em poços artesianos, também para utilização industrial, e ainda para consumo humano após tratamento e distribuição interna.

B)

Objetivo do Projeto: O projeto teve como objetivo diminuir o consumo de água nos

processos

industriais

por

meio

da

reutilização

de

seus efluentes

devidamente tratados, reduzindo assim a captação superficial. Como parte do projeto, buscou-se intensificar os treinamentos e campanhas internas visando a conscientização e o uso racional. Segundo justificativa da própria empresa, a razão principal da implantação do sistema foi a sustentabilidade, uma vez que a água é parte indispensável ao processo industrial dos pneumáticos, sendo importante existir em quantidade, qualidade e em meios economicamente viáveis. O reuso seria então um meio de reduzir a captação sem causar prejuízos à sua produção. O reuso proporcionaria ainda uma grande economia, uma vez que haveria consequentemente a redução: no uso de bombas de captação (energia elétrica); na adição de produtos químicos para tratamento da água e; no consumo de água. Todos estes motivos mostraram que o projeto seria tecnicamente, economicamente e ambientalmente viável.

C)

Dados iniciais: A unidade sempre manteve monitoramento sistemático do consumo

de água em relação ao volume de produção por meio do índice m 3/TPA (Tonelada de Produto Acabado). O gráfico da figura 5 foi levantado tendo por base o volume total de água captada (superficial e subterrânea) e o volume de produção no período de medição.

24

Figura 5 - Gráfico de consumo de água em 2011 Fonte: Pirelli/2012

D)

Projeto – Sistema de Reuso de Água – Dados Técnicos: O ponto principal é a reutilização de 100% do volume de efluentes,

reduzindo em 30% a captação do rio Capivari e consequentemente reduzindo o indicador específico (m3/TPA), os custos com energia elétrica, produtos químicos para tratamento da água do rio, alcançando então a almejada sustentabilidade. Após levantamento prévio dos recursos necessários à adequação do sistema, das análises da qualidade do efluente tratado visando parâmetros físico-químicos, como: Sólidos sedimentáveis, sais e dureza, entre outros, cuja não-conformidade poderia causar danos às máquinas e equipamentos ou até mesmo aos processos, ocorrendo incrustações, corrosões ou contaminação de produtos (massas de borracha). Nesta primeira etapa foram detectadas as seguintes necessidades: - Construção de tanque com capacidade de 300m3para reservação do efluente tratado a ser reutilizado (Tanque de Reuso – figura 6); - Instalação de um filtro de areia e um filtro de carvão ativado (figura 7) para “polimento” final da água após a passagem da mesma pela ETA de 25

forma a proporcionar melhor qualidade da água e assim possibilitar a sua reutilização. - O investimento para construção e implantação dessa etapa foi da ordem de aproximadamente R$ 540.000,00.

Figura 6 – Tanque de Água de Reuso em operação, com capacidade de 300m 3 Fonte: Pirelli/2012

Figura 7 – Filtro de Areia e Carvão já em operação, utilizado no tratamento final da água de reuso Fonte: Pirelli/2012

Na segunda etapa, para controle da qualidade do efluente tratado, optou-se por um método fácil e eficiente de avaliação: A implantação de um controle biológico por meio de um aquário adaptado na saída do tratamento do efluente industrial, por este ser mais crítico. 26

Assim, 50 litros do efluente tratado são enviados ao aquário, através de um by-pass entre o tanque de efluente e o aquário, a cada 150m 3 tratados, acrescidos de 50 litros de água potável. Portanto os peixes habitam ali com 50% de água potável e 50% de água de reuso. Havendo alteração brusca na qualidade do efluente tratado, este indicador a apontará por meio da alteração da atividade na vida aquática. Desta forma é possível uma rápida intervenção no sistema antes que a água de qualidade inferior seja encaminhada para reuso na produção, causando danos e inviabilizando o efluente tratado. Nesta etapa foram necessárias as instalações dos seguintes equipamentos: - Aquário com capacidade para 100 litros (figuras 8 e 9); - Construção de sistema by-pass entre o tanque de saída e o efluente tratado e o aquário; - Construção de plataforma para sustentação do aquário; - Investimento de aproximadamente R$ 6.500,00.

Figura 8 - Aquário utilizado no controle biológico da qualidade da água, os círculos indicam o sistema de By-pass que permitem o envio de água tratada para dentro do aquário. Fonte: Pirelli/2012

27

Figura 9 – Visão Geral da ETE Industrial e Aquário de controle biológico da qualidade da água. Fonte: Pirelli/2012

E)

Resultados do Projeto: Todas

as

implementações

previstas

ocorreram

dentro

das

3

expectativas: Reutilização de 100% do efluente tratado, 130 m de efluente industrial e 170m3 de efluente doméstico, totalizando 300 m 3 de efluentes que deixaram de ser descartados no corpo hídrico.

F)

Programa de Educação Ambiental Interna: O sucesso na implantação do projeto possibilitou avançar na última

etapa rumo ao objetivo principal: Redução do consumo de água. A divulgação e a sistematização de programas de conscientização ambiental junto aos funcionários foram propostas, de forma a compreender e partilhar as ações implantadas na reutilização da água e consequente redução de consumo. Assim, a empresa realizou o programa denominado de Dia do Meio Ambiente.Com o objetivo de sistematizar os diálogos ambientais, o programa propõe temas e metas sob os seguintes princípios: 1) Realizado durante um dia por mês, em todas as áreas e em todos os turnos de trabalho;

28

2) Método: montar grupos de 15 a 25 pessoas no local de trabalho; 3) Realizar diálogos fornecendo informações, curiosidades, etc. sobre temas ambientais, com maior parte do foco no consumo de água; 4) Utilizar-se de recursos audiovisuais (som, cartazes, microfone) O formato do programa facilitou a interação dos colaboradores com as equipes de Meio Ambiente, trazendo maior comprometimento de todos a alcançar as metas (figura 10). O sucesso desse programa atingiu todos os setores (manutenção, produção, administração, etc.). Devido à sua ótima aceitação, vem sendo utilizado pela equipe de Saúde e Segurança, inclusive nas comunicações e instruções de segurança no trabalho. O investimento inicial foi aproximadamente R$ 15.000,00. Para sua realização mensal, são disponibilizadas mão-de-obra interna, com custos apenas de horas extras, se necessário.

Figura 10 - Dia do Meio Ambiente realizado em Setembro/2011 nas Oficinas de Manutenção Fonte: Pirelli/2012

G)

Programa de Educação Sócio Ambiental: O programa de educação ambiental interno se expandiu para as

escolas públicas e outras entidades localizadas próximo à fábrica. Seu objetivo foi transmitir informações e conceitos, estimulando a consciência ambiental de crianças e jovens por meio da educação, com 29

estrutura didática interativa, demonstrando in loco todo o sistema tratamento de efluentes e reuso de água realizados na fábrica da Pirelli em Campinas. Vejamos a estrutura do programa: - Direcionado a escolas públicas de Ensino Fundamental; - Alunos são recebidos na fábrica em turmas de 30 a 60 crianças e jovens, por classe de ano escolar; - Durante o programa os alunos passam o período de aula na Pirelli, realizando atividades adequadas (figura 11) às necessidades das escolas.

Figura 11 – Quadro de atividades do Programa Sócio Ambiental Fonte: Pirelli /2012

A disseminação do projeto entre as escolas da região despertou interesse em participar. Devido a isto, o programa tem se estruturado para receber de uma a duas escolas/mês, o que representa 60 a 120 alunos/mês. Em datas específicas voltadas ao meio ambiente, tais como Dia da Água, Dia da Árvore, Semana do Meio Ambiente, etc., as atividades são mais densas, com peças de teatro ligadas ao tema em questão, brinquedoteca de materiais reciclados, entre outras atividades. Nesses períodos abre-se participação de escolas infantis (figura 12), ensino médio e técnico. A estrutura inicial deste projeto teve um investimento inicial de aproximadamente R$ 12.000,00. Para sua manutenção são disponibilizados cerca de R$ 36.000,00/ano.

30

Figura 12 – Escola EMEF Barraquet na apresentação Viagem ao Mundo da Natureza - Visita á Pirelli - Julho/2011. Fonte: Pirelli/2012

H)

Resultados obtidos:

1) Reuso De acordo com dados coletados no início da operação do projeto, o índice específico de consumo de água (m3/TPA) era de 1,87 m3/TPA, o acompanhamento mensal demonstrou redução média de 11,7% nos três primeiros meses, conforme o gráfico da figura 13:

Figura 13 – Acompanhamento do consumo de água nos três primeiros meses de implantação do reuso de 50% de água tratada. Fonte: Pirelli/2012

31

Durante o segundo semestre de 2010 alguns ajustes foram feitos de forma a aperfeiçoar a qualidade do efluente tratado, visando o reuso de 100% da água. Para o restante do ano de 2010, a redução manteve-se em 11,7% do consumo específico da água, conforme figura 14. Concluiu-se aqui que o reuso é viável, pois não altera a qualidade da água no processo industrial e permite a redução da captação de água. Com uma reutilização de 100%, que representa eliminação de 300 m3 de descarte de efluentes, reduzindo ainda mais a água captada no rio Capivari.

Figura 14 – Gráfico da evolução do consumo específico durante o ano de 2010. Fonte: Pirelli/2012

Nos gráficos das figuras 15 e 16 é possível verificar a evolução positiva do consumo de água específico durante 2011, cuja evolução deveuse à implantação de 100% de reuso e às ações/programas de educação e conscientização da água.

32

Figura 15 – Gráfico de consumo de água específico (M3/TPA) durante o ano de 2011. Fonte: Pirelli/2012

Figura 16 – Gráfico demonstrativo da redução do consumo de água desde o início do projeto em 2010. Fonte: Pirelli/2012

O projeto foi concebido com o objetivo de redução do consumo de água, justificado na sustentabilidade. O aproveitamento de 100% da água de reuso redundou numa redução significativa da captação de água do rio Capivari, cujos dados de monitoramento do volume captado no rio durante o ano de 2011 encontram-se na figura 17.

33

Figura 17 – Volume captado Fonte: Pirelli/2012

Estes dados de monitoramento indicam que houve um redução de 35% no volume de água captada, superando os 30% estabelecidos inicialmente como meta, concluindo-se então que o projeto foi desenvolvido com eficácia.

2) Programa de Educação Ambiental

Realizados em 2010 e sistematizados em 2011, os programas internos atingiram mais de 50% da população de fábrica, conforme mostra a figura 18. Isto se torna mais expressivo se considerarmos que existem, efetivamente, cerca de 1100 funcionários durante o dia de trabalho, estando parte em férias ou em esquema de revezamento por turno. Conclui-se, portanto, que o programa interno de educação ambiental mostrou-se eficiente na busca por conscientização e compromisso dos colaboradores com as metas do sistema de gestão ambiental.

34

3) Programa de Educação Socioambiental

O envolvimento das escolas públicas da região próximas da fábrica aproximou escolas e suas crianças e jovens com sonhos, esperanças e vontade de vencer, da indústria, com toda sua dinâmica, metas e objetivos. Aproximadamente 890 crianças entre 7 e 15 anos, além de um grupo de 180 crianças da educação infantil (entre 3 e 5 anos) foram recebidas nas dependências da fábrica. Sob influencia das crianças, a população do entorno aproximou-se também, disseminando com maior eficácia todo o conhecimento disposto. Todo este sucesso junto à comunidade das imediações teve reflexos entre as escolas da região metropolitana de Campinas, incentivando escolas de cidades vizinhas solicitar a participação nesse programa. 2.4.1.2 Aquapolo Ambiental – São Paulo/SP A)

Estação de Tratamento de Esgotos ABC - ETE ABC: Localizada no município de São Paulo, na divisa entre os municípios

de São Paulo e São Caetano do Sul, a ETE ABC (figura 19) trata 1.800 L/s de esgoto proveniente dos municípios de Santo André, São Bernardo, Diadema, São Caetano, Mauá e alguns bairros da cidade de São Paulo próximos a ela. O efluente chega à estação por meio de um sistema de esgotamento constituído por coletores-tronco, interceptores e emissários, totalizando aproximadamente 161 km de extensão. Ao chegar, o esgoto dessa região é recalcado por uma estação elevatória e passa por tratamento convencional em nível secundário, desenvolvido em três etapas: 1) Tratamento preliminar: remoção de grãos de areia e sólidos grosseiros maiores que 1 cm;

35

2) Tratamento primário: passagem vagarosa do esgoto por um tanque de decantação, onde os sólidos suspensos com densidade maior que a do líquido irão sedimentar-se gradualmente até o fundo;

Figura 18 – ETE ABC Fonte: SABESP/2012

3) Tratamento

secundário:

tanques

de

aeração

onde

micro-

organismos do próprio efluente removerão grande parte da matéria orgânica ainda presente, passando posteriormente por nova decantação, estando então o efluente pronto para o desague no córrego dos Meninos, que segue para o rio Tamanduateí, desaguando no rio Tietê. A eficiência de remoção de carga orgânica, segundo a SABESP (2013) é de 90%. B)

Polo Petroquímico do Grande ABC/SP – Situação: O Polo Petroquímico do Grande ABC é o maior centro econômico

daquela região paulista. São 14 indústrias empregando aproximadamente 25 mil pessoas, direta e indiretamente. Os produtos elaborados nas fábricas –

36

como etileno, propileno, polietileno, entre outros – são matérias-primas para a fabricação de resinas, borrachas, tintas e plásticos em indústrias de todo o país. Em 1954, a Petrobras inaugurou a maior refinaria do Brasil (até então), em Capuava, bairro do município de Mauá (figura 20), dando início assim ao Polo Petroquímico do ABC.

Figura 19 – Refinaria Petrobras – Capuava/ABC Fonte: PETROBRAS/2013

Posteriormente outras empresas vieram juntar-se à Petrobras no Polo, como a Braskem (figura 21), primeira e principal cliente da Aquapolo, como veremos mais à frente. As plantas das dez maiores empresas do Polo consomem juntas 380 L/s de água do rio Tamanduateí e fontes complementares, e 191 L/s de água potável da Sabesp, acumulando portanto uma demanda de 571 L/s.

37

Figura 20 – Braskem ABC Fonte: Aquapolo/2013

O Polo Petroquímico do ABC está Localizado em região pertencente à sub-bacia do Alto-Tietê, a segunda mais precária do mundo em termos de qualidade da água para consumo, e onde a disponibilidade hídrica per capita da região é muito baixa, semelhante à do semiárido brasileiro, decorrente da poluição originada na ocupação irregular nos arredores dos mananciais.

C)

Aquapolo Ambiental:

O quadro de escassez hídrica da região do Grande ABC exigia ações emergenciais. A manutenção daquela situação fatalmente levaria empresas e população à completa falta d‟água. Diante desta previsão surgiu, em 2009, uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) entre SABESP (49%) e Foz do Brasil (51%), esta última pertencente ao grupo Odebrecht, cuja finalidade era suprir a necessidade de consumo de água pelo Polo Petroquímico. Por meio de um contrato firmado entre a Aquapolo e a Braskem, com vigência por 43 anos, sendo 2 anos de obras e 41 anos de operação visando o fornecimento de 85% de toda a produção de Água Industrial da estação, foi possível viabilizar um empréstimo de R$ 327,6 milhões junto à Caixa Econômica Federal para a construção da Estação Produtora de Água

38

Industrial – EPAI e de 17km de adutora. Outros R$ 36,4 milhões foram aportados na empresa pelos sócios (SABESP e Foz) conforme a proporção das ações. Portanto, a Braskem comprometeu-se a consumir até 650 mil L/s de água de reuso em 41 anos. Atualmente, outras empresas do Polo, tais como White Martins, Oxiteno, Cabot e Oxicap já possuem contrato com a Aquapolo e são abastecidos com sua água de reuso. A capacidade total de produção da EPAI é 1000 L/s; isto é mais do que o Polo Petroquímico pode consumir. Portanto há potencial excedente para a venda de água a outras indústrias localizadas ao longo dos 17 km de adutora construída. Dentro das atribuições contratuais dos sócios, a construção da infraestrutura ficou a cargo da Odebrecht Infraestrutura, cujo terreno – uma área não utilizada de 15 mil m2 – localiza-se dentro da ETE ABC, de propriedade da SABESP. A Aquapolo paga os aluguéis e os impostos da área que ocupa.

2.4.1.1.1 Processo Industrial

Constituída por uma planta de tratamento terciário, atualmente a EPAI da Aquapolo trata 650 L/s do esgoto tratado em nível secundário advindo da ETE ABC, mas possui capacidade para 1000 L/s. O sistema de lodo ativado da ETE ABC foi projetado apenas para remoção carbonácea. Na Aquapolo, o tratamento terciário é realizado por membrana submersa em escala pioneira no Hemisfério Sul, de acordo com a própria Aquapolo, removendo, além de matéria orgânica residual, nutrientes como fósforo e nitrogênio e inorgânicos como sílica, cuja remoção não ocorre em tratamentos convencionais. Este processo produz água com qualidade industrial, possibilitando sua aplicação como matéria-prima para produção de vapor e em torres de resfriamento, substituindo a água potável antes utilizada, conforme demonstra a tabela 1.

39

Tabela 1 – Características da água industrial já tratada na EPAI Aquapolo. Fonte: Projeto – Aquapolo/2013

O Sistema Aquapolo é composto por quatro etapas principais e uma de apoio, conforme passamos a descrever: 1)

Preliminar: O esgoto recebido é recalcado por uma estação

elevatória, transportado por uma tubulação verde e filtrado por uma espinha com filtros-disco (figura 22) que impedem a passagem de partículas maiores que 400 mícron. O sólido retido é coletado pela tubulação marrom e enviado à Sabesp para tratamento do lodo. O efluente segue por outra tubulação verde para a segunda etapa. 2)

Terciário: depois de filtrado, o esgoto é encaminhado para o

tanque biológico com câmara anóxica e aeróbia, adicionando soda cáustica para que a ação biológica aconteça, controlando o pH entre 6,5 e 7,5 (figura 23). O esgoto permanece neste tanque por 15 minutos para que ocorra a desnitrificação, transformando nitrito e nitrato em nitrogênio gasoso. Além do nitrogênio, são removidos fósforo e matéria orgânica. O volume deste tanque é de 5.350 m3.

40

Figura 21 – Filtros-disco que impedem a passagem de partículas maiores que 400 mícron Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013

Após o tratamento biológico, o líquido é bombeado para os tanques de ultrafiltração (figuras 24 e 25), constituídos por 63 módulos de membranas de polissulfona, distribuídos em 9 tanques com 256 m 3 cada. A produção é de até 30 L/s de água por tanque. As membranas ficam em suspensão dentro dos tanques, e seus poros impedem a passagem de sólidos e bactérias superiores a 0,05 mícron.

Figura 22 – Tanque de tratamento biológico. Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013

41

Figura 23 – Membranas de polissulfona. Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013

Figura 24 – Sistema de ultrafiltragem com membranas submersas Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013

Caso a água resultante nesta etapa tenha condutividade inferior a 720 μS/cm, é fornecida diretamente para o uso industrial, transportada por tubulação de aço de cor fúcsia (figura 26), padrão internacional para água de reuso. Caso a qualidade da água ultrafiltrada nesta etapa não atender o

42

parâmetro exigido, passará à etapa de Osmose Reversa para remoção de sais e partículas maiores ou iguais a 0,05 mícron.

Figura 25 – Água de reuso produzida na Aquapolo Ambiental Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013

A etapa de Osmose Reversa é composta por dois conjuntos de membranas (figura 27) que, juntos, são capazes de produzir até 150 L/s de permeado. A água aqui filtrada é então encaminhada para outro reservatório com volume de 35 mil m3. Tanto na entrada do reservatório quanto no fornecimento ao cliente é adicionada uma solução de dióxido de cloro, evitando assim uma possível contaminação da água quando da adução.

Figura 26 – Etapa de filtragem por osmose reversa onde são utilizadas membranas em espiral na remoção de sais. Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013

3)

Adução: para o transporte da água de reuso da EPAI até o

Polo Petroquímico foram construídas: 43

a) uma estação elevatória de alta carga com 3 conjuntos de moto-bombas centrífugas horizontais (figura 28), com capacidade máxima para 1.350 m3/h por conjunto; b) adutora em aço carbono com 17 km de extensão e 900 mm de diâmetro, cujo percurso abrange os municípios de São Paulo, São Caetano, Santo André e Mauá. c) tanques de reservação com capacidade para 70 mil m3, evitando assim interrupções no abastecimento, fornecendo o produto ao cliente inclusive em situações contingenciais; d) rede de distribuição interna de água de reuso dentro do Polo Petroquímico, composta por tubulações que variam entre 100 e 900 mm, interligando a torre de equilíbrio às indústrias em uma extensão de 4.250 m.

Figura 27 – Adição de uma solução de dióxido de cloro. Fonte: Revista Infraestrutura Urbana – Ed. Pini/2013

4)

Apoio: construção de um Centro de Controle Operacional, com

implantação de um sistema de supervisão e controle baseado no software supervisório SCADA, além de Controladores Lógicos Programáveis (CLP‟S). 2.4.1.1.2 Monitoramento da qualidade

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Foram instalados analisadores on line na Aquapolo e no próprio cliente, visando o controle de qualidade de quatro parâmetros da água industrial produzida, conforme contrato firmado. Para outros parâmetros onde o monitoramento não é on line, amostras são coletadas diariamente por meio de amostradores automáticos. As análises destes são realizadas em freqüências diárias, semanais, três vezes por semana e/ou mensais, de acordo com o parâmetro em questão. A tabela 2 descreve a freqüência do monitoramento e seus limites contratuais a serem respeitados.

Tabela 2 – Adição Monitoramento de qualidade da água de reuso. Fonte: Projeto Aquapolo – Aquapolo/2013

2.4.1.1.3 Resultados 1) Para os clientes:  Fim da dependência de outorga;  Redução no consumo de água potável;  Redução de aplicação de produtos químicos. Somente na Braskem gerou uma economia de R$ 155.000,00 por mês;

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 Economia por volta de R$ 1,86 milhões por ano devido à redução de manutenção de trocadores de calor em virtude da melhor qualidade da água de reuso. 2) Para a Bacia e População:  Aumento da disponibilidade hídrica na região do ABC Paulista, uma das mais críticas da Grande São Paulo, uma vez que o fornecimento de água de reuso poderá chegar a 1000 L/s, vazão equivalente ao abastecimento da cidade de Santos com 500 mil habitantes;  A ETE ABC deixou de lançar no Córrego dos Meninos e consequentemente no Rio Tietê, água de esgotos com tratamento secundário, retirando mais de 584 kg por ano de amônia e 31.390 kg por ano de fósforo;  Integração da prática do reuso ao Plano de Recursos Hídricos;  Uso racional da água, uma vez que para cada litro de água potável não consumido economiza-se 1,26 litros de água potável produzida na RMSP;  Geração de 800 novos postos de trabalho durante as obras e outros 50 durante a operação. Se considerarmos que o crescimento dos clientes está assegurado (do ponto de vista do fornecimento de recursos hídricos) haverá geração de novos e manutenção dos atuais postos de trabalho;  No município de Santo André a Aquapolo realizou a recuperação da área afetada pela obra. Além disso, em comum acordo com a prefeitura, recapeou 77,3 mil m2 da Avenida do Estado e construiu um Centro de Referência do Idoso – CRAS, totalizando uma área de 1.003,64 m2, em troca da realização das obras do Projeto Aquapolo nas vias públicas;  Aumento da arrecadação de ISS – Imposto Sobre Serviços. Em Santo André, houve um montante arrecadado de R$ 2,5 milhões somente pela obra da Aquapolo.  No município de São Caetano do Sul, a contrapartida pela execução das obras foi a reforma do Centro de Oncologia e Hemoterapia

46

Luiz Rodrigues Neves, inclusive com o refazimento das partes elétricas e hidráulicas do prédio. Medidas principais: instalação de um gerador próprio, revisão do sistema de ar comprimido e de gases, adaptação da infraestrutura ao padrão da Associação Brasileira de Normas Técnicas voltadas aos deficientes físicos, além de pintura, piso, paisagismo, revisão da cobertura e do sistema de drenagem de águas pluviais. 2.4.2 Cetesb A CETESB há algum tempo vem estimulando o meio empresarial através de documentos e publicações, educando e divulgando conceitos de racionalização e de gestão ambiental, entre eles a P+L e a Produção e Consumo Sustentáveis (PCS). Em 1996, a empresa criou um espaço de divulgação de suas propostas e de casos de sucesso (cases) de ações a que várias empresas se auto submeteram. Inicialmente, esta divulgação era realizada por meio de publicações esporádicas impressas. Hoje, o órgão disponibiliza este e outros materiais de forma eletrônica em sua Home Page. Citamos abaixo um desses cases:

2.4.2.1 Case JBS Couros S/A - Grupo Friboi (resumido)

A JBS Couros é uma empresa do Grupo Friboi, cuja atividade principal desta unidade, localizada em Lins/SP, é o curtimento e a produção de couros de peles bovinas. O projeto da empresa JBS S/A desdobra-se em dois objetivos diferentes: 1)

Redução do Consumo de Água Limpa na Preparação de

Insumos: A empresa já possuía uma ETE para o tratamento de seus efluentes (figura 29), onde utilizava 180m³/dia de água limpa para diluição de cal hidratada, visando elevação do pH, o que garantiria a eficiência das

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etapas de coagulação e floculação, fundamentais para a remoção eficaz de poluentes. 2) A redução do consumo de água foi identificada como uma possibilidade de reduzir gastos, contanto que isto não viesse a afetar a qualidade do efluente tratado, mantendo a eficiência dos processos da ETE.

Figura 28 - Estação de Tratamento de Efluentes - Friboi / Lins Fonte: JBS/2010

Como solução, sua equipe ambiental avaliou que havia a possibilidade de reutilizar o próprio efluente tratado após a saída do decantador secundário. Para isso, houve várias experimentações na preparação da cal com esta água de reuso, e os resultados foram positivos. O sistema foi alterado e as diluições da cal passaram a ser feitas com o reuso do efluente da saída da ETE. Os investimentos necessários foram a aquisição de um conjunto de bomba centrífuga de 3 cavalos-vapor (CV), no valor de R$ 3.000,00. Como mencionado acima, utilizava-se 180 m³/dia de água limpa para a diluição da cal. Com a implantação da ação, esta quantidade de água foi economizada, resultando em uma redução de aproximadamente 5.000 m³/mês.

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3)

Redução do Consumo de Água e Redução de Impactos na

ETE: Existem várias etapas, mecânicas e químicas, no curtimento das peles utilizadas no processo de produção do couro, e uma delas é o “caleiro”. Nesta etapa, a epiderme, camada superficial onde ficam os pêlos, é separada da derme, sendo tratadas com sulfeto e hidróxido de cálcio (cal). A eliminação destes resíduos ainda remanescentes na matéria-prima, utilizando-se água como veículo, é chamada de “desencalagem”, ou 1ª lavagem. Este banho da primeira etapa é descartado para a ETE (mencionada no caso anterior), com alto teor de sulfeto (em torno de 350 mg/L); a matéria-prima segue para a 2ª lavagem, onde é introduzido peróxido de hidrogênio como oxidante. O procedimento deste processo foi reavaliado, visando à redução do teor de sulfeto da 1ª lavagem, bem como redução do consumo de água limpa e verificou-se serem possíveis. A ideia das equipes técnica e ambiental da empresa foi não descartar a água utilizada na 1ª lavagem, utilizando-a na etapa seguinte. Na 2ª etapa, o peróxido de hidrogênio, em contato com o sulfeto advindo com a primeira água passa para sulfato, minimizando os maus odores que aquele primeiro causa. Além disso, com o aproveitamento da água do primeiro banho, deixa-se de utilizar 25 m³ de água, que seria utilizada como veículo na 2ª etapa. Para esta alteração no processo de caleiração da matériaprima, não houve investimento e os resultados foram excelentes: 

Resultados Ambientais: redução de 1.500 m³/mês no consumo

de água limpa; diminuição do sulfeto no efluente, de 350 mg/L para 10mg/L, o que possibilitou seu maior controle e performance de remoção; e a redução dos maus odores; 

Resultados Econômicos: redução da adição de produtos

químicos para tratamento do sulfeto, reduzindo custos; eliminação de dosagem de peróxido de hidrogênio em canaletas, uma redução de 500 L/dia, equivalente a R$ 13.440,00/mês.

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3. CONCLUSÃO O presente estudo buscou analisar a complexa situação de estresse hídrico que se vislumbra no futuro próximo e quais alternativas estão à disposição para reverter esta previsão. Concluímos que a possibilidade de uma crise em torno da água é motivo de preocupação por parte dos principais pesquisadores de todo o mundo na área de recursos hídricos. Paralelamente, pesquisadores, organizações e grupos de comunicação de relevância e influência mundiais, como a ONU e a BBC, têm veiculado com grande frequência a morte como resultado de conflitos armados, inanição ou enfermidades, seja pela quantidade, seja pela qualidade da água. Mas estes mesmos grupos veiculam também vários estudos sobre as formas de evitarmos esta situação caótica, como fizeram o Professor Tony Allen e sua Água Virtual e os pesquisadores Hoekstra e Mekonnen com a Pegada Hídrica, mostrando-nos o verdadeiro consumo hídrico e a valorização econômica da água. Ainda que o foco do presente trabalho seja o uso e o reuso da água na indústria, tais estudos nos fizeram concluir que nossos recordes na produção de grãos podem trazer bilhões de dólares em divisas, mas que em contrapartida podem estar exaurindo nossos próprios recursos hídricos ao exportarmos nossas safras àqueles países que já sofrem com o estresse hídrico e que, portanto, não conseguem produzir eficientemente. Pudemos conhecer aqui os motivadores que impulsionam as atitudes, principalmente dos Empresários. Sabemos da existência dessas forças motivadoras, mas para nós, estudantes e professores, como propagadores de seu uso racional e eficiente, quaisquer formas de racionalização do consumo de água serão bem vindas. Focalizando os processos de produção como fator preponderante para equalizarmos o problema da água, conhecemos o conceito de

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Produção Mais Limpa criado pelo PNUMA/ONU, que estabeleceu na década de 1990 procedimentos sustentáveis para a produção industrial. Verificamos que, no âmbito do Brasil, a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, claramente inspirada na Produção Mais Limpa, trouxe uma das mais avançadas normatizações já feitas no planeta. A PNRS envolve todos os atores do contexto “lixo urbano” em um só objetivo: desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista legal, a minimização da produção e a maximização dos recursos ambientais, entre eles os recursos hídricos, serão obrigatórias entre governos e empresas. O ponto crítico é a conscientização da população em fazer sua parte, procedendo a separação de seu lixo e, o ponto considerado utópico: Reduzir o consumismo desenfreado e desnecessário. Aqui acreditamos que o empresariado industrial também terá uma grande parcela de responsabilidade, deixando de incentivar este consumismo. Todos os processos industriais que conhecemos utilizam água como insumo, desde o resfriamento de uma caldeira até a fabricação de alimentos. Como mostrado no presente trabalho, reciclar ou reusar significa reduzir o uso de recursos hídricos naturais nestes processos. É neste momento que o reuso de água industrial torna-se uma das melhores opções de racionalização. Os exemplos de reuso aqui expostos deixam claro que adotar tais iniciativas e investir na preservação e conservação ambiental pode trazer, não apenas a garantia de perpetuar o mais precioso bem da humanidade, a água, mas também obter o retorno do valor investido, multiplicado diversas vezes. A visibilidade de uma marca atrelada à racionalização ambiental, ainda que o real intuito seja o lucro, é um dos melhores e maiores filões de propaganda e marketing explorados atualmente. Há todo um sistema que deve ser profundamente modificado, e todo sistema é composto por partes menores, subsistemas chamados de governo, economia e sociedade. Para evitarmos esta crise devemos esperar que os governantes tenham nobres atitudes, modificando uma política baseada nos investimentos em obras imediatistas que lhes dão maior 51

visibilidade em detrimento às obras com resultados em longo prazo; esperarmos que

os empresários resolvam

reduzir seus lucros;

e

acreditarmos que toda uma sociedade saia de sua zona de conforto e de consumismos efêmeros. Talvez se propagarmos a gravidade da realidade e os exemplos de sucesso, como o fazem tão bem Fiesp e Cetesb, consigamos modificar todo o sistema.

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