Fernando Mouta, 1934: fotografia e etnografia de Angola numa edição pioneira

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Fernando Mouta, 1934: fotografia e etnografia de Angola numa edição pioneira

Fernando Mouta, "Etnografia Angolana (subsídios) - África Ocidental Portuguesa (Malange e Lunda) - 1ª Exposição Colonial Portuguesa, 1934"  Edição da Exposição Colonial de 1934, Porto. Impresso na Litografia Nacional, Porto.   É um álbum de grande formato - 34,5 x 25 cm - que inclui 32 fotografias impressas em folhas soltas de bom papel contidas numa pasta-envelope, acompanhadas por um mapa também da autoria de Fernando Mouta (o nome é seguido pela menção Eng. IST - engenheiro formado pelo Instituto Superior Técnico, Lisboa) e uma brevíssima "Introdução" do autor datada de Lisboa 1933 num caderno de 10 págs onde se faz referências às raças Jingas, Bondos, Bângalas, Songos, Quiôcos, Xinges, Mussucos, Hôlos, Lundas e Bapendes (?), sic (texto trilingue: Port., Fr., Ing.).

  "Por curiosidade e gosto das cousas de África, fizemos as fotografias de alguns dos seus principais tipos" (seus, dos distritos do Norte de Angola); "fornecendo com a localização geográfica exacta um subsídio seguro para o estudo ainda por fazer das raças de Angola" - sem "a pretensão de estudo etnográfico".

  Carlos Estermann refere-se-lhe em 1959 (data do Prefácio a "Album de Penteados do Sudoeste de Angola", 1960, Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa) como a 1ª obra que conhece no género ("editada em Lisboa em 1933", seguindo a data da introdução de FM, indicado como seu amigo).   Não é indicada a autoria dos desenhos e capitulares, nem da cuidada criação gráfica.

(Foto nº 32)

  Não é certamente mencionado o autor e a edição no recente volume "O Império da Visão», Filipa L. Vicente, org. (ed. 70, 2014) mas, para além de ser a 1ª abordagem etno-fotográfica publicada, o álbum antecede as campanhas de Elmano Cunha e Costa - e Carlos Estermann - (a partir de 1935?), acompanha as iniciativas da Exposição de 1934 e sucede à 2ª Missão Suíça (1932-33, com edição em livro também de 1934)  É referido brevemente por Beatriz Heintze, 1990 (p. 143):

   São sempre imagens frontais de cabeças vistas à altura dos olhos (tb vistas de perfil e de costas), reenquadradas e ampliadas em diferentes formatos, estando o fundo (parede, vegetação ou espaço aberto) sistematicamente fora de foco, excepto na última imagem, Est. 32, com duas mulheres com crianças ao colo, de corpo inteiro, diante de duas casas/palhotas (ou celeiros). As cabeças ocupam  as imagens a (quase) toda a altura da fotografia. Sem a fluência fotográfica de Elmano Cunha e Costa, que joga com as diferenças de altura da câmara e com a colocação da figura no espaço, a regularidade formal de toda a série de Fernando Mouta valoriza-se com a simplicidade dos retratos e a proximidade dos corpos -

variando os olhares que se baixam ou que enfrentam a câmara. Coincidem certamente o gosto pela fotografia e o interesse etnográfico.   Bibliografia citada por Fernando Mouta, a propósito das diferentes tribos: Ferreira Diniz, "Populações Indígenas de Angola", 1918; Henrique de Carvalho, "Expedição Portuguesa ao Muatiânvua 1884-1888", Lisboa 1890; e Torday e Joyce, "Notes  Ethnographiques sur de populations habitant les bassins du Kasai et du Kwuando Oriental", Annales du Musée du Congo, 1922  

O eng. Fernando Mouta participou no 1º Congresso Nacional de Antropologia Colonial com duas pequenas comunicações na qualidade de antropólogo amador: "Notícia sobre um curioso tambor dos Mussucos (Lurêmo), Angola", pp. 210-2, com 2 fotos, e "Contribuição para o estudo da Etnografia angolana (distritos de Malange e Lunda)", pp. 213-6. In volume II dos "Trabalhos do 1º Congresso Nacional de Antropologia Colonial", Edições da 1ª Exposição Colonial Portuguesa Porto 1934.

 O tambor aparece exposto num pavilhão da Exposição-Feira de 1938

 Em "Contribuição para o estudo da Etnografia angolana" refere que a edição se deve ao interesse do capitão Henrique Galvão, director da Exposição, e que a sua "contribuição para o estudo das populações indígenas de Angola" teve origem durante os trabalhos de reconhecimento geológico que realizou no âmbito da brigada de estudos do prolongamento do Caminho de Ferro de Luanda além Malange.

  Fernando Mouta foi «engenheiro chefe e director da «  Missão Geológica de Angola », segundo o site "Contrées lointenes", ver abaixo.   Foi depois presidente interino da Câmara de Luanda, em 1938, sendo a esse título vogal da Comissão executiva da Exposição-Feira Angola 1938, e na sua estrutura organizativa foi também membro da Subcomissão da representação indígena. Carlos Estermann faz parte da Delegação Provincial de Huíla.   Ver Bibliografia activa de Fernando Mouta em http://memoria-africa.ua.pt    NOTA: O álbum está todo reproduzido* em   rare-livre-culte-1934, site comercial Contrees lointaines, acedido em 25/03/2014 (tb em 02/01/2015) através de http://bcea.iscte.pt/en/2013 Central Library of African Studies (Biblioteca Central de Estudos Africanos)  (* trata-se de um exemplar que foi encadernado diferente da edição original que reúne as folhas soltas numa pasta envelope.

( ver tb: « MISSÃO BOTÂNICA-ANGOLA (1927-1937) », Helena Freitas – Paulo Amaral – Alexandre Ramires – Fátima Sales, Imprensa Universidade Coimbra, 2005, Catalogue d’exposition ( Accompagné du Duc de Bragancia, Luiz Wittnich Carrisso, botaniste de renom, effectue de 1927 à 1937 de nombreuses expéditions botaniques en Angola.illustrations en N/B 156 pages, 24 x 16 cm )

  Os penteados ocupam um importante lugar nas publicações dos etnógrafosfotógrafos de Angola, divergindo da habitual fotografia-retrato de corpo inteiro. A seguir, encontram-se Elmano Cunha e Costa, com a sua exposição no SNI em 1951, acompanhada por catálogo - Catálogo da exposição de Penteados e Adornos Femininos das Indígenas de Angola, promovida pela Agência Geral das Colónias sob o patrocínio se S. Exª o Ministro das Colónias. Documentário fotográfico, Carta Etnográfica e legendas da autoria do dr. Elmano Cunha e Costa, 1951 (salão do SNI), 200 números, 8 estampas, e Carlos Estermann ("Album de Penteados do Sudoeste de Angola", 1960).   Mais tarde (1965, já a cores) deve apontar-se o fotógrafo e aventureiro italiano Dante Vacchi, com o volume "Penteados de Angola" (ed. autor, na Litografia de Portugal, Lisboa)  

 

   E ainda: « Etnografia e turismo na regiao do cunene inferior », Carlos Estermann, 1973, ed. Agência Geral do Ultramar, illustrations en couleurs et N/B, 138 pages, 22 x 20 cm, livre relié (français, anglais, allemand), couverture cartonnée

  http://alexandrepomar.typepad.com/alexandre_pomar/2015/01/fernando-mouta-1934fotografia-e-etnografia.html

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