FILOSOFIA E POESIA - ONTEM, HOJE E AMANHÃ

June 1, 2017 | Autor: Rafael Silva | Categoria: Filosofía, Ciencia, Poesia
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO–UNIRIO FACULDADE DE FILOSOFIA

Professora: Nilton Santos

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Aluno: Rafael Silva

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FILOSOFIA E POESIA

Data: 30/6/2106

FILOSOFIA E POESIA, ONTEM, HOJE E AMANHÃ.

“No princípio era o Verbo”, diz a notória abertura do primeiro capítulo do Evangelho de João, que em seus versículos iniciais retoma a criação do universo, assunto do qual não trataremos aqui. O universo sobre o qual nos debruçaremos doravante é o da poesia e o da filosofia, e é em relação a ele que queremos aplicar a frase que inicia o presente texto. Este universo da poesia e da filosofia tem um extenso e longínquo “ontem”, em relação ao qual nada é preciso inventar, apenas percorrê-lo com olhos históricos apaixonados e marejados da boa e nem tão velha intempestividade nietzschiana. Também tem um justo “hoje”, sobre o qual mais vale lançar a intuição do que o olhar de que falávamos acima. E inclusive um “amanhã”, todavia aberto e absolutamente indeterminado, em respeito ao qual vale mais o vaticínio do que qualquer ferramenta de análise. Pensar a poesia e a filosofia, a relação de cada uma delas com a vida e com o tempo, e sobretudo delas duas entre si, eis o que este ensaio se propõe a fazer.

Sabemos que a poesia nasceu antes da filosofia. E se, conforme a frase de abertura do texto, “no princípio era o verbo”, no nosso universo de análise, esse verbo primordial foi poético. Muito antes de homens filosofarem naquelas antigas terras gregas, Hesíodo, um camponês que vivia nas proximidades de Téspias, na Beócia, em suas próprias palavras, uma aldeia amaldiçoada, cruel no inverno, penosa no verão, jamais agradável, já poetizava sobre a vida simplesmente ao dizê-la. Outro homem –ainda que sua comprovação histórica seja imprecisa-, Homero, autor da Ilíada e da Odisseia, foi outro antigo grego que falou poeticamente do real ao seu mundo. Podemos dizer que antes de haver a filosofia, entre o homem e a realidade havia somente a poesia. E ela bastava. Mais do que isso, fazia sobrar interfaces para o homem adentrar o real e o real adentrar no homem. Tanto que os primeiros homens que, posteriormente, foram chamados de “os primeiros filósofos”, quais sejam, os pré-socráticos, muitos deles se valiam do assaz naturalizado estilo poético para tentar compreender o real por uma via outra que não a poesia. Entretanto, poetas, não eram mais. Essa transição fica clara ao lermos o famoso poema de Parmênides, Sobre a natureza, no qual o filósofo inicia valendo-se da tradição poética de seu tempo, fazendo com que seres míticos e movimentos esteticamente oníricos iniciassem a conversa com o leitor e apresentassem a questão da qual trataria sem causar estranheza. Não esqueçamos que estamos falando de uma sociedade absolutamente tradicional, onde a mudança era vista com maus olhos, tanto que a chamavam de corrupção. Entretanto, imediatamente o preâmbulo poético, Parmênides, sem dó nem piedade revoluciona o mundo discursivo, e porque não dizer a história da humanidade, ao escrever argumentativamente, num ato de invenção da prosa lógica que dispensou não só os elementos míticos como o estilo poético de forma geral. A passagem desse segundo movimento do poema parmenídico que melhor representa essa revolução é: “o que é, é, e não é para não ser ... o que não é, não é, e tem de não ser”. Antes de dizer que essa invenção do pré-socrático de Eleia foi uma apunhalada no coração da poesia, o importante aqui é ressaltar que ela perdia seu posto exclusivo na mediação entre homem e realidade. Doravante o homem nunca mais se restringiria apenas ao modo poético para dizer o que se passava. Parmênides, ciente ou não da revolução que causou, foi um revolucionário deveras respeitoso, pois mesmo tendo demarcado uma rígida fronteira entre os dois

modos de dizer o real, a poesia e a prosa argumentativa, ou como foi chamada, filosofia, na terceira e última parte de seu “poema” –aqui as aspas não podem deixar de constar, pois já sabemos que não é puramente poesia o escrito do eleata- o grego faz uma cosmologia que mistura os dois estilos anteriores, como que para tentar juntar novamente o que acabara de cindir tão evidentemente. Porém, não adiantou. Depois dele, a prosa argumentativa, ou seja, a filosofia como a conhecemos, não se privou de trilhar um caminho cada vez mais apartado da poesia e mais íntimo da lógica. Entretanto, antes de separarmos de vez a poesia da filosofia, cabe lembrar dos sofistas, homens que circulavam pela Grécia antiga, entre poetas e filósofos, cuja produção intelectual, qual seja, a sofística, era algo entre poesia e filosofia. Híbrida, a sofística dizia o que se passava com homem, com uma liberdade aparentada à poesia, porém, visando uma objetividade estratégica, que Nietzsche, séculos mais tarde, chamaria de pragmatismo, onde o real não poderia deixar de ser contemplado sem as suspensões simbólicas, qual a mítica nas obras poéticas. Com efeito, os sofistas criavam discursos com forte verve poética, contudo, pretensamente objetivados conforme o novo modo filosófico. Contra os poetas e os sofistas a um só tempo se levantou Platão, até hoje chamado de o pai da filosofia. O filósofo-mor negava pertinência às produções poéticas e sofísticas alegando que elas não tratavam do que realmente importava, ou seja, aquilo que é necessária e universalmente válido, isto é, o ser. Para o daddycool da filosofia, as ideias, o real mais real do que qualquer outra coisa, que não habitava a terra, mas o céu ideal, não podem ser conhecidas e fruídas de outro modo senão através da filosofia. Poesia e sofística, para Platão, tentam falar das coisas, mas quando muito dizem apenas de suas corrupções terrenas, uma vez que não as atingem em suas origens, isto é, nas alturas celestes onde o que há de mais real em relação a elas jaz eterna e incorruptivelmente em suas existências primordiais, quais sejam, em ideias. Como sabemos, o idealismo platônico nega a sensibilidade e o mundo que ela revela aos homens, pois tudo o que é sensível diz apenas daquilo que desaparecerá, que será corrompido pelo devir. Expressar-se a partir do que percebemos sensivelmente, para Platão, é trazer ao mundo a sentença de morte dessa expressão e dos seus objetos. A realidade imediata, material, sensível, no entanto, era a matéria

prima dos poetas e dos sofistas, muito embora os produtos expressivos deles se aventurassem para longe dessa materialidade imediata. Para Platão, todavia, o voo que alçavam não se aproximava do que mais importava, das ideias das coisas a respeito das quais falavam. Tanto que em vários de seus famosos diálogos ele se empenhou em mostrar a limitação dos poetas e dos sofistas. Em Hípas Maior, o pai da filosofia evidenciou a impertinência do fazer sofístico de modo contundente. E na sua maio obra, a República, o filósofo não se privou de banir a poesia de sua sociedade ideal. Justiça seja feita, Platão poupou apenas a poesia homérica que relatava os grandes feitos dos heróis. Em uma palavra, a narração propriamente dita, pois não era a beleza, muito menos a popularidade da poesia homérica que ele queria salvar, mas apenas a historiografia que havia na produção do ilustre poeta grego. Dizia ele que a poesia que causava sensações mais afastava o homem do que o aproximava da verdade e da virtude, objetos excelentes da República. Com Platão, portanto, temos a ereção de um muro intransponível onde Parmênides havia apenas riscado uma fronteira. Diferente do pré-socrático, o pai da filosofia não aproximou filosofia e poesia em cosmologia alguma, uma vez que avizinhá-las apenas corromperia a sua filha preciosa, a filosofia. A poesia, marginalizada, só mesmo travestida de tragédia para manter lugar cativo na sociedade grega; para poder seguir tocando sensivelmente os cidadãos helenos. Porém, em se tratando de verdade, a poesia nada mais podia. Aluno de Platão, Aristóteles comprou a filosofia absolutamente. Aqui vale ressaltar que o pupilo foi mais filosófico que o mestre, uma vez que a movimentada forma dialógica de Platão ainda carregava um verniz poético que de forma alguma reluziu em Aristóteles. O estagiarita, embora admirado até os dias de hoje por sua consistente e imensa produção filosófica, pelo fato de ter sido profundamente mais prosaico que seu tutor, não escapou de ser chamado por muitos de tedioso. Talvez a sensação de tédio que o racionalismo aristotélico cause até hoje em muita gente marque a precisa distância que sua expressão intelectual tomou da poesia. É de espantar a diferença entre ele e seu mestre no tratamento da poesia. Platão, na República, como vimos, condena a poesia, todavia, na forma de diálogo essa condenação ainda é de certa forma poética, porque dinâmica, encarnada na voz assaz vivaz de Sócrates e no movimento da vida. Já Aristóteles, na sua Poética, mesmo na intenção de apologizar a poesia, o faz metódica e tecnicamente, tratando

dela como se de política ou de biologia fosse. De qualquer forma, seja o idealismo platônico, seja o racionalismo aristotélico, ambos preferiram a filosofia a despeito da poesia. Saltando da antiguidade ao medievo, veremos que, na chamada Idade das Trevas, a poesia não reconquistou seu lugar excelente previamente ao surgimento da filosofia. Ainda acusada de envolver a sensibilidade, o mundo medieval-cristão, absolutamente ascético, não podia lidar com a poesia sem correr o risco de ser solapado. Ademais, nenhuma poesia poderia nem deveria estar no lugar da palavra de Deus. Prazeres estéticos, como os que a poesia causa, eram o caminho para se desencaminhar do paraíso prometido no fim de uma vida de privações. A poesia e a sensibilia que ela envolve, portanto, deveriam permanecer marginalizadas do mundo medieval. Até mesmo a filosofia, por ser um método humano de se alcançar a verdade, desafiava os preceitos cristãos, uma vez que o caminho, a verdade e a luz eram Deus, e só através da palavra dele poderia ser alcançados. Para sobreviver na Idade Média, a filosofia como os gregos a faziam teve se ser mutilada. As obras de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino levaram Platão onde o pai da filosofia sequer poderia imaginar que o levassem. Muitos dizem que o platonismo levado adiante pelos religiosos do medievo foi o estupro de seu criador. Tampouco Aristóteles escapou dessa perversão na instituição da escolástica. Todavia, a modernidade irrompeu com muitos cristãos filosofando sem que a fé ou a palavra de Deus mais intimidassem o pensamento filosófico. Mais ainda, provar a existência, a perfeição e a infinidade de Deus, filosófica e sistematicamente, foi o estopim da modernidade. A prova ontológica de Deus cartesiana é o ícone do casamento perfeito entre Deus e o pensar humano -ainda que Spinoza tenha mostrado claramente que Descartes errou... Mas aqui não cabe analisar o conhecido erro do francês, que foi o de provar Deus a posteriori, e não a priori, como esse objeto exige spinozanamente, mas apontar como a filosofia foi capaz de se harmonizar com Deus,

cuja

palavra

resiste

em

aceitar

concorrência.

Pensando

Deus,

consequentemente, a filosofia teve de pensar o infinito, e esse desafio solicitou um pensamento que o abarcasse de alguma maneira. A poesia não podia dar conta dessa empresa. Na modernidade, de um modo geral, a poesia servia apenas ao entretenimento burguês, e de forma alguma à tradução ou à expressão intelectual do real infinito. Tampouco a filosofia se mostrou capaz de dar conta da infinidade.

Então entrou em cena a ciência moderna, que longe de se pautar pela sensibilidade poética, e ciente da impotência dos argumentos metafísicos, se valeu da matemática euclidiana e da física newtoniana para explicar o real. Se havia alguma dúvida de que a filosofia era incapaz de tocar a verdade, Immanuel Kant, na sua Crítica da Razão Pura, deixou isso irreversivelmente claro. O filósofo evidenciou os limites da razão metafísica e estabeleceu que somente a ciência e a matemática podiam tratar das verdades, não obstante ao modo de produzi-las. Apesar de ter apunhalado definitivamente a metafísica, o filósofo alemão deixou os campos da ética e da política ao encargo dela, uma vez que a ciência não tem como dar conta de eventos sociais e humanos, contingentes por natureza. Doravante, a filosofia estaria condenada às antinomias da razão humana e não poderia versar sobre o que válido necessária e universalmente, apenas sobre a dinâmica das relações sociais e dos valores morais. E na sua Crítica da Faculdade do Juízo, a última de sua trilogia, que entre outras coisas trata de estética, Kant, tratando da arte e do belo, outro lugar não reservou à poesia além de uma contingência de pretensão universal, que menos do que a filosofia pode dar conta do real. Contra essa herança inglória legada à filosofia por Kant, Friedrich Hegel empreende seu contundente sistema de pensamento cuja pretensão era não deixar nada do que já tenha sido produzido pelo homem de fora. Muitos dizem que Hegel tentou salvar a filosofia. Todavia, sua espiral histórica, que cooptava todo movimento da razão, não foi suficiente para tirar da ciência moderna seus cetro e coroa no reino da verdade. Co efeito, foi a história, e não a filosofia, muito menos a poesia, que foi sobrelevada pelo pensamento de Hegel. Sua obra prima metafísica: a dialética histórica. Aluno seu, Karl Marx, seguiu o caminho hegeliano, todavia modificando-o. Marxianamente, o idealismo alemão deu lugar ao materialismo histórico. Marx revolucionou o pensamento ocidental ao propor que a filosofia não devia mais apenas pensar sobre o real, mas mudá-lo. Foi mais profético do que poético todavia. E, fazendo a crítica da economia política de seu tempo, mais economista que filósofo aliás, muito embora seja considerado um dos filósofos mais influentes da história da humanidade. Foi só com Friedrich Nietzsche que a ciência encontrou resistência à sua já arraigada exclusividade em relação à verdade. Filosofia e poesia receberam o vigoroso sopro nietzschiano e foram reapresentadas ao mundo como expressões

capazes de tocar e produzir o real de modos que ciência e matemática não poderiam. Para tanto, o filósofo, que na verdade era filólogo, teve de retornar às origens míticas e metafísicas dos antigos gregos para, de lá, filosofar à sua modernidade demasiado historicista e cientificista, e então dizer, ao som do seu transpoético martelo niilista, que a ciência era só um modo de interpretar o real –indicação spinozana que, entretanto, foi tão excomungada do ideário moderno quanto o próprio Spinoza. Com efeito, a destruição niilista nietzschiana dos fundamentos que deu cabo da modernidade não poupou a onipresente e onipotente ciência moderna. Até mesmo ela e suas verdades necessárias e universais tiveram de ser relativizadas em prol da vida, da vontade, da potência, da poesia e da filosofia. E o método de Nietzsche para relativizar tanto a ciência quanto a história, chamadas por ele como as prisões da modernidade, valeu-se do impertinente conceito de extemporaneidade que sustentava que devemos sair do nosso tempo, sem no entanto deixá-lo totalmente, para, de outros tempos e com outras perspectivas, tratarmos dos assuntos que nos tocam, trazendo-os ao presente com uma roupagem que a contemporaneidade ela mesma não conseguiria dar. E mediante a extemporaneidade, a poesia e a filosofia poderiam reingressar na formas de pensamento e expressão humanas para dizer ao próprio homem do real que o cerca presentemente. Na contemporaneidade, terreno aberto e fortemente matizado pelo pensamento de Nietzsche, a ciência segue . Já a poesia e a filosofia angariaram para si espaços bem mais generosos do que na modernidade. Claro, há quem diga que o que realmente estrutura as vidas dos contemporâneos é a ciência mesmo, que não há um espaço ou atividades humanos sequer que não sejam atravessados completamente pela ciência. Não obstante, esquecem-se de que filosofia e poesia outrossim atravessam e constituem todos os espaços e atividades humanas. Para ver somente ciência, ou a primazia dela na vida dos homens, há mesmo que se fazer um forte exercício de abstração para desconsiderar as esferas metafísicas e poéticas que envolvem, qual o cosmos ptolomaico fechado de Aristóteles, o mundo humano. Um belo exemplo disso é explicitado pelos próprios cientistas, mais especificamente os físicos quânticos que, superando em muito as fronteiras físicas últimas do átomo, depararam-se com a dualidade partícula-onda na qual ora uma existência é partícula, ora onda. Nunca as duas coisas, todavia sem deixar de sê-las

simultaneamente. Cada um dos dois modos existenciais, para esta ciência, se dá de acordo com o modo como o olho –na verdade a razão- observa a realidade. Para enfim poderem dizer desse limite da ciência das partículas, muitos cientistas afirmaram que a física quântica fez desaparecer a diferença entre ciência e poesia. Slavoj Zizek, filósofo esloveno, através de sua filosofia segue mantendo aberto espaço para a poesia na compreensão da realidade. Em sua obra A Visão em Paralaxe, o filósofo relembra a invenção renascentista da perspectiva, sobejamente democratizada pela arte, e que pela primeira vez cartografou com precisão matemática o existencialismo do sujeito que tomaria conta da modernidade. A característica central da perspectiva medievalista era o estabelecimento rígido do ponto-de-vista (o sujeito), e do ponto de fuga (o infinito ao qual todas as paralelas convergem). Apresentando isso, Zizek prepara o terreno para as imagens contemporâneas evidenciarem algo muito diferente: não mais o estabelecimento de um ponto-de-vista e de um ponto-de-fuga únicos e relacionados geométrica e inexpugnavelmente, mas uma miríade de pontos-de-fuga e pontos-de-vista, misturados e alheios uns aos outros, ao mesmo tempo, todos na superfície imagética do real. A poesia que Zizek quer evidenciar está justamente no fato de que a liberdade do observador em relação ao que vê –resultado virtuoso da crise dos fundamentos fruto do niilismo-, uma vez que não está preso a um ponto-de-vista e condicionado a um ponto-de-fuga determinados, mas diante de infinitos pontos, que tanto podem ser tomados de fuga quanto de vista, esse sujeito pode, com efeito, montar tantas relações imagéticas perspectivadas quantas forem as suas tomadas de pontos de vista e de fuga. E não há ciência a impor limites alguns nessa tomada do real. Com efeito, tal liberdade de construir o real a partir do lance do próprio olhar, conforme a metáfora zizekiana nos leva a entender, e que usa o material sensível através do qual esse real chega até nós, é uma poesia que ciência alguma pode tirar do observador. Mais ainda, é o real ele mesmo, sendo verificado, isto é, tomado em sua verdade. Uma vez que a contemporaneidade niilizada dispensa qualquer hipóstase, qualquer substancialização, qualquer absoluto prévio de onde adviria alguma verdade eterna a ser capturada somente pela ciência, é nessa deliberada verificação do que se apresenta à nossa sensibilidade que surge o que podemos chamar de verdade, se assim quisermos. Ou, dependendo da verve com o qual nos

lançamos sensivelmente nesse real, podemos dizer que é poesia, até mesmo filosofia, pois se nada há que sempre seja, o que é, é o que fazemos ser na medida que as coisas são para nós. Considerando as promenade históricas da poesia e da filosofia, em suma: o surgimento da poesia; seu ultrapassamento pela filosofia; a superação delas duas pela ciência; e suas recuperações pós-modernas; podemos até pensar que esse devires continua atendendo o movimento espiral hegeliano. Se é assim, a poesia reinará absoluta novamente, até que a filosofia lhe ultrapasse mais uma vez, e, decerto, a ciência supere ambas de novo. Hegel, então, repousaria eternamente em paz no seu túmulo. Entretanto, hipostasiar o movimento proposto pelo filósofo alemão seria fazer do passado, melhor dizendo, de um pensamento passado, o logos obrigatório

para

contemporaneidade,

o

futuro. de

Impertinência

forma

alguma

que, seria

se



reprovada

chancelada

pela

pela pós-

contemporaneidade. O futuro, se é que não será a repetição do passado, não mais hierarquizará poesia e filosofia, mas, provavelmente, aumentará a pertinência de cada uma das duas expressões humanas ao mesmo tempo em que aumentará a tensão entre elas, a ponto de, cada vez mais elas mesmas, proporem dois ou mais reais, simultânea e virtuosamente.

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