Formação de professores de ciências: o estágio supervisionado como momento de reflexão sobre a prática docente

October 14, 2017 | Autor: Maria Luiza Gastal | Categoria: Teacher Education, Autobiographical Narrative Interview
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Revista Tecné, Episteme y Didaxis: TED. Año 2014, Número Extraordinario. ISSN Impreso: 0121-3814, ISSN web: 2323-0126 Memorias, Sexto Congreso Internacional sobre Formación de Profesores de Ciencias. 08 al 10 de octubre de 2014, Bogotá

Formação de professores de ciências: o estágio supervisionado como momento de reflexão sobre a prática docente Silva, Carla Mercês1; Ribeiro, Alice Melo2; Gastal, Maria Luiza de Araújo3 Categoria 2. Trabalho de investigação. Resumo O estágio é um momento enriquecedor na formação docente, período em que o estudante tem maior aproximação com sua futura profissão e que possibilita aprendizado, troca de experiências e discussão. Momento oportuno também para a reflexão sobre a prática docente, pois integra teoria, prática e visão de mundo de cada professor. Neste trabalho, apoiamo-nos em António Nóvoa, Marie-Christine Josso e Selma Garrido como referencial teórico; utilizamos as narrativas de vida com ênfase na formação e nas aprendizagens como processo de formação e metodologia da pesquisa. Acompanhamos um grupo de licenciandos durante os estágios supervisionados no ensino de ciências e de biologia. As narrativas dos estágios possibilitaram a alguns licenciandos desenvolver uma postura reflexiva sobre sua prática docente. Palavras chave Formação de professores, Estágio Supervisionado, Reflexão sobre a prática docente. Objetivos O presente estudo tem como objetivo investigar a contribuição do estágio supervisionado para que os estudantes do Curso de Licenciatura em Biologia a distância (CLBaD) da UnB desenvolvam uma postura reflexiva sobre a prática docente. Marco teórico A formação de professores continua ligada a modelos tradicionais que dão pouca importância à prática e a sua reflexão, e a superação destes modelos é Universidade de Brasília (UnB)/Brasil. E-mail: [email protected] Universidade de Brasília (UnB)/Brasil. E-mail: [email protected] 3 Universidade de Brasília (UnB)/Brasil. E-mail: [email protected] 1 2

Temática 6. Docencia Universitaria y Educación Superior

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um enorme desafio para a profissão (Nóvoa, 2007). Para enfrentar esta dificuldade, a formação de professores deve articular os conhecimentos produzidos pelas universidades com as experiências vivenciadas pelos docentes, de modo a contribuir de forma mais significativa para a reflexão sobre a ação docente. Nóvoa (2007) afirma que: “a formação do professor é, por vezes, excessivamente teórica, outras vezes excessivamente metodológica, mas há um déficit de práticas, de refletir sobre as práticas, de trabalhar sobre as práticas, de saber como fazer” (pág. 14). Assim, a formação do professor deve contribuir para o desenvolvimento da capacidade de reflexão sobre a própria prática docente, e este momento de reflexão, de análise sobre a própria atuação, pode levar o professor a mudar sua atuação docente. Acreditamos que o estágio seja um momento oportuno para que os licenciados enriqueçam uma postura reflexiva, momento este da formação profissional que integra teoria, prática e visão de mundo de cada professor. Segundo Pimenta e Lima (2011), o estágio possibilita ao professor em formação aproximação com sua futura profissão, sendo espaço de discussão, troca de experiências, aprendizado e reflexão – o que consideramos momentos privilegiados na formação de professores. O estágio, para estudantes que não possuem experiência profissional como professores, torna-se o espaço de iniciação à profissão e de reflexão sobre a prática docente. Permite a imersão no campo de trabalho, possibilitando a aquisição e aprimoramento de conhecimentos e de habilidades fundamentais ao exercício profissional, como assinalam Pimenta e Lima (2011). Segundo essas mesmas autoras, para os estudantes que já atuam como professores, o estágio é uma possibilidade de reflexão sobre a prática docente, pois a partir de experiências que já trazem é possível projetar novos conhecimentos que ressignifiquem sua atuação. A formação do professor por meio da prática reflexiva permite melhor compreensão da realidade educacional, bem como a construção de significados a partir das experiências vivenciadas (Pimenta e Lima, 2011; Pimenta e Ghedin, 2012). Ainda que, a reflexão deva ocorrer durante todo o curso de formação de professores, temos os estágios supervisionados como um espaço privilegiado para o desenvolvimento desta capacidade com maior intensidade.

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Acreditamos que o estágio supervisionado na formação de professores é uma oportunidade de reflexão sobre a prática docente, pois os estudantes têm contato direto com a sua futura profissão, conhecendo relações de trabalho a qual serão submetidos, bem como dificuldades e possibilidades para realizar o seu trabalho, além de terem a oportunidade de dialogar com os seus pares e conhecer a cultura docente. No CLBaD da UnB, os Estágios no Ensino de Ciências e de Biologia foram ofertados, respectivamente, no 7° e 8º semestres do ano letivo de 2012; atuando como professoras e tutora nos estágios percebemos as dificuldades dos licenciandos em refletir sobre a prática docente. Nesse estudo, apoiamo-nos em Selma Garrido, que estuda questões ligadas ao estágio supervisionado e à formação do professor reflexivo no Brasil, em Antonio Nóvoa, referência na formação de professores. Apoiando-nos também em MarieChristine Josso, utilizamos as narrativas de vida com ênfase na formação e nas aprendizagens como processo de formação e metodologia da pesquisa. Este estudo consiste em parte de uma pesquisa qualitativa que se encontra em desenvolvimento no curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da Universidade de Brasília. Metodologia Esta pesquisa situa-se no contexto da pesquisa qualitativa e acompanhou um grupo de licenciandos durante os estágios supervisionados no ensino de ciências e de biologia, quando os estudantes produziram narrativas, quatro em cada um dos estágios. Resultados No decorrer dos estágios, solicitamos aos licenciandos que escrevessem narrativas que consistissem em reflexões sobre os momentos vivenciados durante os estágios. A escolha das narrativas deve-se ao fato de que valorizam e exploram as dimensões pessoais dos sujeitos, possibilitando a reflexão e a tomada de consciência sobre a existência e o momento em questão. Trabalhando com as narrativas nos estágios identificamos dificuldades dos estudantes em desenvolver reflexão sobre a atuação docente, o que fez com que alguns trechos das narrativas valorizassem mais a descrição de fatos ocorridos nos estágios do que reflexões dos professores em formação.

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Nas narrativas de alguns estudantes foi possível identificar pontos em comum, no que se referem a acontecimentos, desafios, obstáculos, assim como pontos divergentes, ligados principalmente a questões políticas, econômicas e pedagógicas. Durante análise das narrativas percebemos que, ao realizarem os estágios, alguns fazem menções e comparações com momentos vivenciados como estudantes no ensino fundamental e médio, conforme observamos no depoimento abaixo. Buscando fazer um paralelo sobre como era o nosso professor durante os ensinos fundamental e médio, podemos ter lembranças daqueles que marcaram com suas aulas descontraídas e interessantes e também aqueles com a sua aula tradicional, onde falava, escrevia e mandava copiar. Com esses parâmetros podemos então pensar em que tipo de professor eu quero ser, que tipo de aula eu quero dar e que metodologias quero aplicar. (Estudante 1) A partir desse trecho percebemos que alguns licenciados referem influências de seu passado como estudantes para a sua atuação como docente. No decorrer das narrativas produzidas ao longo dos estágios supervisionados, passamos a identificar elementos que revelam a cultura docente – hábitos, qualidades, vícios, influências recebidas e reações às mudanças educacionais que vêm ocorrendo nas últimas décadas. Elementos que indicam reflexão sobre a prática docente são encontrados ancoradas nas relações de trabalho, dificuldades e possibilidades para desenvolver um bom trabalho, conforme observamos no comentário abaixo. Eu estou achando bem proveitoso esse momento que estou tendo de estágio, no entanto, cada dia que passa eu fico mais preocupada com o modelo de educação que está sendo disponibilizado por nossas escolas, preocupada com a educação que nossos alunos não estão aprendendo em casa, infelizmente, desculpe o desabafo, vejo a escola hoje como um local onde vão alunos que cumprem seu horário lá dentro sem nenhum objetivo, e por esse motivo, desestimulam o trabalho de professores, que por sua vez estão se tornando cada vez mais escassos. É claro que há alunos bons e professores bons, mas a maioria está vencendo e não é a melhor parte. Agora eu entendo o desinteresse hoje em dia das

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pessoas em tornarem-se professores, ninguém quer chegar numa sala desinteressada, onde pessoas gritam, fazem brincadeiras sem graça, ninguém quer ficar tendo que ficar gritando com aluno. Eu acredito que para a educação assumir seu papel de maneira eficiente muita coisa deveria ser mudada. Esta semana estou me preparando para a regência, acredito que desta vez será bem mais complicado do que semestre passado, e confesso, estou bem preocupada de como vai ser, mas estamos agora por pouco. (Estudante 2) Identificamos também que a reflexão, nos estágios, deu-se através do diálogo com seus pares, com alunos e professores, no trabalho que realizam e no troca de experiências proporcionada pela profissão. Os estudantes representaram e refletiram sobre situações da sua prática docente que marcaram seu desenvolvimento pessoal e profissional e proporcionaram novos aprendizados. Nas primeiras atividades desenvolvidas os estudantes relembraram pessoas importantes em suas vidas. As principais pessoas mencionadas foram familiares. Uma estudante afirmou que não havia como definir, especificamente, quem tivesse contribuído para sua formação, já que todos os que passaram por sua vida teriam contribuído direta ou indiretamente para a construção da pessoa que é: Foram muitas pessoas e muitas marcas, marcas boas e ruins. marcas boas, que quando relembradas trazem saudade e felicidade, marcas ruins que trazem aprendizagem e conhecimento. Ainda não estou completa, mas já consigo manter um certo equilíbrio na minha personalidade, e essas conquistas não podem ser atribuídas a uma única pessoa ou a poucas pessoas. Acredito que aprendemos e crescemos com cada pessoa que passa por nosso caminho, atribuímos os maiores créditos as que deixaram ou deixam marcas mais profundas e visíveis. (Estudante 3) Durante os estágios alguns estudantes mencionaram que o desejo de ser professor iniciou desde a infância e que se sentem realizados com a escolha profissional. Outros relatam que a escolha pela carreira docente deu-se através a influência de familiares e amigos e das oportunidades ou possibilidades encontradas.

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No meu caso acho que começou já na infância! Sempre quis ir à escola, onde eu morava no interior do MS não tinha, depois por volta dos sete anos apareceu uma professora que ensinava para uma turma multi-seriada de primeira a quarta-séries, todas juntas, mas com poucos meses a professora foi embora e a escola fechou. Com dez anos mais ou menos peguei a trocha fui para a cidade trabalhar e tentar estudar e jurei a mim mesmo que ajudaria quem quisesse estudar e tivesse as dificuldades que tive. É o que procuro fazer da melhor forma possível até hoje! (Estudante 4) Os licenciandos também produziram biografias educativas, nas quais refletiram sobre as vivências dos estágios de Ciências e de Biologia. Alguns sugerem que, a partir do estágio, foi possível refletir sobre a própria prática: Tornei-me mais perspicaz, passei a elogiar em momentos oportunos e criticar com cuidado, a ser enérgica sem ser rude. Convivi com o medo do fracasso, com minhas próprias falhas (algumas ideias não davam tão certo), mas superando o medo de errar, fui experimentando e acho que será assim sempre: observando, conhecendo, criando, experimentado, compartilhando... A vontade de fazer a diferença sempre superando o desânimo, a força para passar pelos obstáculos da falta de recursos, da má vontade, do desinteresse, sempre se renovando. O estágio mostra que a prática ensina muito, ajuda a criar confiança e coragem para enfim iniciar o próprio caminho como professor. (Estudante 5) Nas narrativas observamos, na produção de alguns estudantes, elementos de reflexão sobre a prática docente ancorada em relações de trabalho, dificuldades enfrentadas e possibilidades de mudança. Percebemos também que alguns estudantes refletiram a partir do diálogo entre os pares e com a cultura docente. Conclusões Relacionar as dimensões pessoal e profissional da formação é um importante passo para uma postura reflexiva na formação de professores. Uma vez que refletir não é um exercício simples e nem um processo mecânico, percebemos que os estágios foram momentos importantes para o desenvolvimento desta capacidade nos estudantes. Visando superar as dificuldades de licenciandos em

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refletir sobre sua prática docente e formação, consideramos fundamental que uma postura reflexiva seja estimulada desde o início da graduação e não apenas no decorrer dos estágios supervisionados, que geralmente são ofertados nos últimos semestres. Referências bibliográficas Nóvoa, A. (2007). Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo. Palestra de António Nóvoa. Sindicato dos Professores de São Paulo. São Paulo. Retirado http://www.sinprosp.org.br/arquivos/novoa/livreto_ novoa.pdf Pimenta, S. G., e Lima, M. S. L. (2011). Estágio e docência. 6. ed. São Paulo: Cortez. Pimenta, S. G., e Ghedin, E. (Orgs.). (2012). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 7. ed. São Paulo: Cortez.

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