FORMULAÇÃO E PROPRIEDADES DE UMA MISTURA BETUMINOSA TEMPERADA, DO TIPO SMA, COM MATERIAL BETUMINOSO RECICLADO

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FORMULAÇÃO E PROPRIEDADES DE UMA MISTURA BETUMINOSA TEMPERADA, DO TIPO SMA, COM MATERIAL BETUMINOSO RECICLADO Daniela Antunes1, Silvino Capitão2, Fernando Martinho3, Luís de Picado Santos4 1

Instituto Politécnico de Coimbra, Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, Coimbra, Portugal, [email protected] 2 Instituto Politécnico de Coimbra, Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, Coimbra, Portugal & CESUR (IST), Lisboa, [email protected] 3 FM Consult e IST, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal, [email protected] 4 Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

Resumo A crescente necessidade de reabilitação de pavimentos rodoviários tem conduzido ao aumento dos materiais resultantes das intervenções e ao consumo de quantidades significativas de energia e de novos materiais. Com o objetivo de reduzir o consumo de energia decorrente da execução de trabalhos de reabilitação, e a consequentemente emissão de gases poluentes associada, pode recorrer-se à produção de Misturas Betuminosas Temperadas. Estas são produzidas a temperaturas inferiores a 140ºC, o que permite poupar energia em relação às fabricadas a quente a uma temperatura superior a 140ºC. A incorporação de Misturas Betuminosas Recuperadas (MBR) na produção de novas betuminosas é uma prática promissora e tem sido cada vez mais utilizada com o objetivo de diminuir o consumo de novos materiais (agregados e betume), constituindo uma prática económica e ambientalmente sustentável. Neste estudo apresentam-se os resultados de caracterização laboratorial de uma mistura temperada, do tipo Stone Mastic Asphalt (SMA), na qual se incorporou 20% de MBR e fibras celulósicas. Tinha-se como objetivo avaliar a viabilidade de associar a boa resistência à deformação permanente, geralmente proporcionada pelas SMA, com as vantagens económicas e ambientais relacionadas com a redução do consumo de energia e de matérias-primas naturais. Os resultados permitiram concluir que a mistura temperada estudada, do tipo SMA, com MBR não tem diferenças significativas, do ponto de vista das propriedades volumétricas, das SMA fabricadas a quente e sem incorporação de MBR. Concluiu-se também que a sensibilidade à água e os valores do módulo de deformabilidade são satisfatórios. O facto da mistura em estudo ser temperada e incorporar MBR não influenciou negativamente a resistência à deformação permanente, avaliada através de ensaios de compressão uniaxial de cargas repetidas. Palavras – Chave Misturas Betuminosas Temperadas; Misturas Betuminosas Recuperadas; Ambiente; Stone Mastic Asphalt (SMA); Fibras Celulósicas; Propriedades das Misturas Betuminosas.

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1 Introdução As Misturas Betuminosas fabricadas a Quente (MBQ), utilizadas na maioria das obras de construção e reabilitação de pavimentos rodoviários, são responsáveis por uma parcela muito significativa da emissão de gases poluentes para a atmosfera, devido à elevada temperatura necessária à sua produção e aplicação em obra. Deste modo, é importante mitigar estes aspetos negativos através da introdução de melhorias significativas em todo o processo de fabrico de misturas betuminosas. É neste seguimento que surgem as misturas betuminosas temperadas (MBT), caracterizadas principalmente pela diminuição do consumo de energia e da poluição em todo o seu processo de fabrico e aplicação. Os seus inúmeros benefícios do ponto de vista ambiental e económico têm potenciado o seu crescente desenvolvimento. Além disso, a incorporação de Misturas Betuminosas Recuperadas (MBR) provenientes da fresagem de pavimentos existentes na produção de novas betuminosas é uma prática que tem sido cada vez mais incentivada com o objetivo de reduzir o consumo de novos materiais granulares e o aumento de materiais existentes degradados a levar a vazadouro. Associando as tecnologias referidas ao fabrico de misturas do tipo Stone Mastic Asphalt (SMA), aplicadas ao nível da camada de desgaste e caracterizadas pela sua elevada durabilidade e baixo custo de manutenção ao longo do seu ciclo de vida, pode obter-se uma solução inovadora que alia a sustentabilidade à durabilidade. 2 Misturas Betuminosas Temperadas (MBT) As misturas betuminosas temperadas são produzidas a temperaturas inferiores a 140ºC, na sua composição podem ser utilizados agregados naturais, e/ou reciclados, e podem ser espalhadas e compactadas usando as tecnologias tradicionais. Os procedimentos seguidos no fabrico das MBT não apresentam muitas diferenças comparativamente ao que acontece no fabrico das MBQ. A redução da temperatura pode ser conseguida através da simples junção de um aditivo químico ou orgânico, ou através da utilização de um processo de fabrico que possibilite a formação de espuma de betume. É possível uma redução de até 40% da temperatura de produção, aplicação e compactação face às MBQ [1]. 3 Misturas do tipo Stone Mastic Asphalt (SMA) As misturas betuminosas do tipo Stone Mastic Asphalt (SMA) são descritas na norma europeia (EN 13108-5) como uma “misturas betuminosas descontínuas com ligante betuminoso, compostas por um esqueleto de agregado britado grosso “stone” aglutinado por um mástique”. Estas foram desenvolvidas na Alemanha na década 1960. A sua resistência à deformação permanente e durabilidade levaram a que a sua utilização como camada de desgaste sofresse forte expansão por toda a Europa. Na Figura 1 é possível observar os diferentes constituintes de um SMA apresentados de forma esquemática. A estrutura pétrea deste tipo de misturas é fortemente baseada na utilização de uma curva granulométrica descontínua, definida através dos pontos de controlo indicados na norma EN 13108-5 (Figura 2). Tal facto conduz a que estas misturas apresentem um comportamento que depende em grande parte das proporções de agregados grossos e do mástique betuminoso, o qual é constituído por agregados finos, fíler, aditivos e betume [2]. Pelo facto destas misturas apresentarem uma percentagem de betume relativamente elevada, é necessário recorrer-se à utilização de aditivos, tais como fibras, com o objetivo de inibir o fenómeno de escorrimento do betume [3].

2

Figura 1 Constituintes de uma mistura tipo do SMA [4]

Figura 2 Pontos de controlo para definição dos limites granulométricos indicados na norma EN 13108-5 4 Estudo laboratorial de uma MBT, do tipo SMA, com MBR 4.1 Materiais utilizados e processo de fabrico Neste estudo foram utilizados agregados naturais de origem granítica, nomeadamente uma Brita 4/12,5 e Pó 0/4, e um fíler de natureza calcária. A Mistura Betuminosa Recuperada (MBR) incorporada na mistura foi recolhida por fresagem da camada superficial, tendo-se limitado a sua dimensão máxima em laboratório através da utilização do material passado no peneiro de malha de 16 mm. Optou-se por separar a MBR em duas frações, uma grossa (material retido no peneiro de 8 mm) e outra fina (material que passa no peneiro de 8 mm), de modo ser possível obter uma curva descontínua, típica de uma SMA. Aquelas frações foram incorporadas na mistura em quantidades diferentes, com o intuito de obter uma curva granulométrica da mistura mais próxima dos limites inferiores dos pontos de controlo indicados na norma EN 13108-5, o que contribuiria para obter um esqueleto pétreo mais grosseiro. Na Figura 3 apresentam-se as granulometrias dos agregados naturais e do agregado da Mistura Betuminosa Recuperada (MBR) depois de dividida em duas frações, como se descreveu. A percentagem de betume da MBR era de 4,9%. O ligante utilizado foi um betume da classe 35/50, atualmente muito utilizado em Portugal na construção/reabilitação de pavimentos flexíveis. O aditivo utilizado na composição da mistura é constituído por 40% de ceras FischerTropsch (F-T) e 60% de fibras naturais de celulose (Figura 4). A utilização deste aditivo permite garantir a estabilidade da mistura, reduzindo o seu escorrimento e/ou exsudação, possibilitando simultaneamente o seu fabrico e manipulação a temperaturas mais baixas.

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100.0

Material que passa (%)

90.0 80.0 70.0 60.0

Brita 4/12,5

50.0 40.0

Pó 0/4

30.0

Fíler

20.0

MBR 8/16

10.0 0.0 0.01

MBR 0/8 0.1

1

10

100

Diâmetros (mm) / Figura 3 Granulometria dos agregados naturais e dos agregados da MBR utilizados

Figura 4 Aditivo utilizado (fibras celulósicas com ceras Fischer-Tropsch) A curva granulométrica da mistura estudada está representada na Figura 5, e resultou da combinação das frações nas seguintes percentagens, referidas à massa total de agregado: 62% de brita 4/16, 10% de pó 0/4, 8% de fíler, 20% de MBR (12% de MBR 8/16; 8% de MBR 0/8).

Figura 5 Granulometria da mistura em estudo (SMA 12,5) e pontos de controlo indicados na EN 13108-5

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A Figura 5 mostra que a curva granulométrica do SMA 12,5 cumpre os requisitos granulométricos pretendidos. No entanto, o facto dos pontos de controlo serem apenas 4, faz com que o cumprimento dos limites granulométricos indicados possam não ser suficientes para se obter uma mistura SMA com a estrutura necessária [5]. Por isso, na Figura 6 compararam-se a curva de estudo com os limites granulométricos definidos na norma EN 13108-5 e com outros limites estabelecidos por organismos de vários países (EUA [6], Espanha [7], Alemanha [8] e na Suécia [9]).

Figura 6 Comparação entre os limites granulométricos definidos em vários países e na EN 13108-5 com a granulometria da mistura em estudo Da observação dos gráficos da Figura 6 pode concluir-se que a principal diferença entre os diversos fusos granulométricos apresentados e os pontos de controlo indicados na norma EN 13108-5, considerando a existência de uma envolvente delimitada por estes (zona sombreada na

5

Figura 5), está relacionada com o traçado da curva granulométrica entre os peneiros de 8 e 2 mm. De facto, comparando o andamento dos diversos fusos granulométricos apresentados com a “envolvente fictícia” dos limites definidos na norma EN 13108-5, verifica-se que esta tende a considerar uma menor percentagem de partículas grossas na mistura, comparativamente a qualquer dos outros fusos considerados, o que pode conduzir a uma SMA com um esqueleto pétreo inadequado. No que se refere ao traçado da curva granulométrica da mistura em estudo, observa-se que a mesma está dentro dos fusos granulométricos definidos no projeto NCHRP 9-8, na especificação da AASHTO e na especificação sueca, o que não acontece quando se considera a “envolvente” definida pelos pontos de controlo indicados na norma EN 13108-5. Foram estudadas 3 percentagens em betume, de 6 a 7 %, com incrementos de 0,5%. A temperatura de mistura e compactação utilizada foi de 125 e 110ºC, respetivamente, visto tratarse de uma mistura temperada. Para que a MBR fosse introduzida à temperatura ambiente na mistura durante o processo de produção, foi necessário aquecer os agregados novos a 160ºC e o betume 35/50 a 140ºC. 4.2 Caracterização Volumétrica As misturas SMA são em geral formuladas por métodos do tipo receita nos quais a percentagem de betume a utilizar na produção da mistura é determinada pela análise da porosidade em provetes Marshall. Este é o método utilizado na Alemanha e foi o adotado neste trabalho [8]. De acordo com este método os provetes são compactados com 50 pancadas por face. Depois determina-se a sua porosidade para efeitos de formulação. Os provetes foram selados por imersão em parafina fundida de acordo com a norma EN 12697-6 antes da determinação da baridade. Na Figura 7 apresenta-se a variação, com a percentagem em betume, da porosidade, da baridade, do VMA (vazios na mistura de agregados) e do VFB (vazios preenchidos com betume).

Figura 7 Resultados obtidos em provetes Marshall

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A percentagem ótima de betume em misturas do tipo SMA é selecionada de modo a obter porosidades em provetes Marshall entre 3% e 4% [8]. Deste modo, atendendo à evolução da porosidade apresentada na Figura 7, pode observar-se que este intervalo de porosidade fornece valores para a percentagem em betume entre 6 e 6,5 %. Para o valor de referência de formulação de 4% para a porosidade, obtém-se uma percentagem ótima de betume de 6,3%. 4.3 Avaliação do escorrimento pelo Método de Schellenberg A formulação da mistura SMA 12,5 em estudo requer que se realize a análise à drenagem do betume. Este ensaio destina-se a averiguar se a quantidade de fibras celulósicas na mistura é suficiente para evitar o escorrimento do betume. A drenagem do betume ocorre durante o armazenamento e/ou o transporte, podendo levar a que a distribuição do betume no seio do agregado não seja homogénea, o que pode levar ao aparecimento de patologias no pavimento. Para avaliar o escorrimento do betume foi realizado o ensaio de Schellenberg, por vezes designado por método do copo, de acordo com o procedimento indicado na norma EN 1269718. O ensaio foi realizado a uma temperatura de 150ºC (25ºC superior à temperatura utilizada na preparação da mistura), durante um período de 60 minutos ± 1 minuto. O resultado obtido foi de um valor de escorrimento de aproximadamente 0,07%, valor inferior ao máximo admissível de 0,3%. O que significa que a quantidade de fibras utilizada na mistura, de 0,3% da massa total de mistura, é suficiente. 4.4 Avaliação de Características Mecânicas 4.4.1

Ensaios de Compressão de Marshall

Realizaram-se ensaios de compressão de Marshall sobre provetes produzidos em laboratório por ser uma metodologia muito utilizada em Portugal, embora este ensaio não seja particularmente adaptado para a caracterização de misturas do tipo SMA. É frequente a obtenção de valores de estabilidade Marshall baixos, o que leva a considerar, erradamente, que estas misturas apresentam baixa resistência à deformação [8]. Os resultados obtidos nos ensaios de compressão de Marshall são apresentados graficamente na Figura 8.

Figura 8 Resultados obtidos em provetes Marshall 4.4.2

Avaliação da sensibilidade à água

A avaliação da sensibilidade à água foi realizada de acordo com o método A da norma EN 12697-12, o qual assenta na comparação entre os valores médios das resistências à tração em

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compressão diametral (ITS), determinadas de acordo com as normas EN 12697-23 e EN 1269712, de dois grupos de provetes cilíndricos previamente acondicionados em condições distintas. O rácio entre os valores de ITS obtidos para os provetes condicionados em água e para os provetes secos designa-se por ITSR, cujo valor foi de 88%, o que traduz um satisfatório comportamento em termos de sensibilidade à água. 4.4.3 Módulos de Rigidez Medidos em Ensaios de Tração Indireta por Compressão Diametral O ensaio de tração indireta em compressão diametral, com aplicação de cargas repetidas, foi utilizado para a determinação dos módulos de rigidez em séries de quatro provetes cilíndricos, semelhantes aos utilizados no ensaio de Marshall. Este ensaio foi realizado segundo a norma EN 12697-26 – Anexo C. As condições de ensaio adotadas são as apresentadas na Tabela 1. Tabela 1. Condições de ensaio Ensaios de Tração Indireta por Compressão Diametral Tempo de crescimento da carga (µs)

124

Condicionamento (ciclos)

5

Temperatura (ºC)

20

Amplitude da carga (N)

1250

Coeficiente de Poisson (υ)

0,35

Os valores médios de módulo de rigidez e deformação, para cada percentagem de betume, encontram-se representados graficamente na Figura 9.

Figura 9 Variação dos valores de módulo de rigidez medidos, a 20ºC, em função da percentagem de betume Verifica-se que os valores dos módulos, a 20ºC, diminuem com o aumento da percentagem de betume, como seria de esperar, e que os valores obtidos são bastante satisfatórios para uma camada de desgaste. 4.4.4

Resistência à Deformação Permanente em Ensaios de Wheel-Tracking

Os ensaios wheel-tracking (WT) foram realizados de acordo com a norma EN 12697-22 segundo o procedimento B (ao ar). Estes consistem na medição da profundidade da rodeira, RDAIR, formada após sucessivas passagens de uma roda sobre o material betuminoso, permitindo avaliar a sua suscetibilidade para deformar.

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Foram ensaiadas seis lajetas, duas produzidas para cada percentagem de betume (6, 6,5 e 7%). Antes de iniciar o ensaio foi feito o condicionamento térmico das lajetas, em ar, dentro da câmara do equipamento durante um período mínimo de 6 h e um máximo de 24h, à temperatura de ensaio (60±1°C). O procedimento de ensaio consiste na aplicação de 10 000 ciclos de carga sobre as lajetas. O ensaio termina após este número de ciclos, ou quando o provete atinge a profundidade de rodeira de 20 mm. Os resultados obtidos nos ensaios de wheel-tracking são apresentados de seguida na Figura 10.

Figura 10 Curvas de deformação – nº de ciclos obtidas nos ensaios de WT Da observação da Figura 10, RDAIR, verifica-se, por um lado, a existência de uma considerável dispersão da resistência à deformação permanente observada e, por outro lado, os valores de cavado de rodeira obtidos são bastante elevados. Nesta fase do estudo não foi possível complementar a avaliação com um maior número de amostras, de forma a obter uma tendência mais clara. Contudo, dispõe-se também de uma avaliação da resistência à deformação permanente, efetuada através de ensaios de compressão uniaxial de cargas repetidas, de acordo com a norma EN 12697-25. Na Figura 11 apresentam-se os valores médios de extensão axial permanente (deformação axial/altura inicial do provete) medidos para cada percentagem de betume, obtidos em ensaios de compressão uniaxial de cargas repetidas.

Figura 11 Variação da extensão axial permanente acumulada com a percentagem de betume em ensaios de compressão uniaxial de cargas repetidas, a 60ºC

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Pela observação do gráfico da Figura 11, verifica-se que o valor médio de deformação tende a aumentar com o aumento da percentagem de betume, tal como seria de esperar, isto é, maiores percentagens de betume correspondem a menores resistências à deformação permanente [10]. Apesar da tendência observada, continua a observar-se algum dispersão de resultados. 4.5 Análise de Resultados No que respeita às propriedades volumétricas da mistura em estudo, verifica-se, através da Tabela 2, que cumprem a maioria dos requisitos definidos em especificações consideradas de referência, nomeadamente, a ZTV-Asphalt StB 2001 [8], a AASHTO MP8 [6], a DER-ST ETDE-P00/031 [11] e o Proyecto SMA [7]. Tabela 2. Comparação das propriedades volumétricas obtidas com valores definidos em diversas especificações internacionais Especificações

Propriedades Percentagem em betume (%)

Limites para o SMA 0/11S definidos na ZTV-Asphalt StB 2001

Limites definidos na AASHTO MP8

Limites definidos na DER-ST ET-DEP00/031

Limites definidos no Proyecto SMA 11 2014

Valores obtidos para a mistura em estudo

≥ 6,5

≥ 6,0

----

≥ 5,8

6,3

0,3 –"1,5****

Percentagem de aditivo (%)

0,3 –"1,5

≥ 0,3**

Porosidade * (%)

3,0 –"4,0

4,0***

4,0

0,3 – 1,0

0,3

4,0 – 6,0

4,0

VMA (%)

----

≥ 17,0

≥ 17,0

≥ 17,0

17,7

VFB (%)

----

----

----

≤ 83,0

79,0

Escorrimento ---0,3 0,3 máximo (%) * Em provetes Marshall compactados com 50 pancadas/face ** No caso de fibras minerais é recomendado um mínimo de 0,4% *** Em estradas com tráfego leve pode utilizar-se 3% de porosidade **** O aditivo referido é explicitamente fibras celulósicas

0,3

0,07

No que respeita à caracterização mecânica, os resultados médios obtidos para a estabilidade Marshall encontram-se entre 8 e 9 kN. Estes valores correspondentes ao limiar inferior do intervalo geralmente considerado aceitável para misturas tradicionais. Assim, é necessária alguma prudência nas conclusões que podem ser extraídas dos resultados dos ensaios de compressão de Marshall, uma vez que estes podem levar a considerar, erradamente, que as misturas SMA apresentam baixa resistência à deformação [3]. Do ponto de vista da sensibilidade à água, a mistura em estudo apresentou um bom desempenho, com um valor de 88% para o parâmetro ITRS, o que traduz o seu satisfatório comportamento. Para as condições de ensaio utilizadas, os módulos de rigidez obtidos foram bastante satisfatórios, com valores próximos dos que seriam de esperar para uma mistura betuminosa convencional para camada de desgaste, do tipo AC 14 surf 35/50. Não obstante os ensaios de WT não terem sido conclusivos, os resultados obtidos nos ensaios de compressão uniaxial de cargas repetidas traduziram um bom comportamento da mistura face à deformação permanente. De facto, comparando os valores da extensão permanente obtidos, por exemplo para os provetes com uma percentagem de betume de 6%, com outros obtidos noutros trabalhos para misturas tradicionais, comprova-se a boa resistência à deformação permanente da mistura estudada (Figura 12).

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SMA 12,5 (em estudo)

AC 25 [10]

-Tipo de mistura: MBT -Agregados: granito e calcário -Agregados Recicl.: granito (20% MBR) -Tipo de Betume:35/50 -% Betume:6,0% -Aditivos: Fibras de celulose com ceras F-T -Temp. de ensaio: 60ºC -Nível de carga:100kPa -Ciclos: 3600

-Tipo de mistura: MBQ -Agregados: granito e calcário -Agregados Recicl.:----Tipo de Betume:50/70 -% Betume:4,7% -Aditivos:----Temp. de ensaio: 45ºC -Nível de carga:150kPa - Ciclos: 3600

AC 20 [12] -Tipo de mistura: MBQ -Agregados: granito e calcário -Agregados Recicl.: granito (20% MBR) -Tipo de Betume:35/50 -% Betume: 4,2% -Aditivos:----Temp. de ensaio:45ºC -Nível de carga:150kPa -Ciclos:3600

AC 20 [12] -Tipo de mistura: MBQ -Agregados: granito e calcário -Agregados Recicl.:----Tipo de Betume:35/50 -% Betume:4,2% -Aditivos:----Temp. de ensaio:45ºC -Nível de carga:150kPa -Ciclos:3600

Figura 12 Comparação do valor médio da extensão axial permanente medido em ensaios de compressão uniaxial de cargas repetidas com os apresentados por outras misturas [10, 12] A comparação que se faz na Figura 11 permite confirmar o bom desempenho deste tipo de misturas à deformação permanente. Note-se que as misturas consideradas para comparação foram ensaiadas a uma temperatura mais baixa e tinham percentagens de betume também mais baixas que a mistura em estudo. Mesmo assim, verifica-se que a resistência à deformação permanente da mistura estudada neste trabalho foi superior. 5 Considerações Finais Os trabalhos experimentais referidos ao longo deste artigo podem ser divididos em duas etapas distintas: trabalhos de avaliação das propriedades volumétricas, e trabalhos de avaliação das características mecânicas. Da análise dos resultados obtidos nas etapas referidas, pode concluir-se que, de um modo geral, em termos de características volumétricas a mistura em estudo cumpre as especificações existentes para misturas SMA similares, produzidas a quente, e sem incorporação de MBR. Relativamente à caracterização mecânica os resultados obtidos nos ensaios de wheel-tracking foram algo inconclusivos, apresentando bastante dispersão de valores. No que se refere à sensibilidade à água, a mistura estudada apresentou, de modo geral, um bom desempenho. Os ensaios realizados ao longo do presente trabalho não são suficientes para comprovar de forma definitiva a aptidão da mistura temperada, com incorporação de MBR, do tipo SMA, que se estudou. Contudo, julga-se ter contribuído para evidenciar a viabilidade deste tipo de material caso se sigam algumas regras de produção. Pretende-se prosseguir com os estudos deste tipo de material, alargando o número e a gama de ensaios de caracterização mecânica em laboratório. Além disso, uma vez que a fração de MBR dever ser separada em, pelo menos duas frações, uma mais grosseira e outra mais fina,

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pretende-se testar a aplicação da solução em condições de produção para a realização de trechos experimentais que mostrem a possibilidade de controlar o risco de heterogeneidade que pode ocorrer nessas condições. Por fim, é de referir que os resultados preliminares obtidos são encorajadores e representam um incentivo à prossecução do estudo deste tipo de misturas. 6 Agradecimentos Os autores agradecem a colaboração da empresa JRS - Rettenmaier Ibérica S.L. pelo fornecimento das fibras celulósicas aditivadas com cera F-T, sem as quais não teria sido possível produzir a mistura betuminosa estudada. É também devido um agradecimento especial à empresa Construções Júlio Lopes, SA, na pessoa da Engenheira Filipa Gomes pelo fornecimento de MBR proveniente de camada de desgaste de um pavimento. 7 Referências [1] Pereira, R. (2010). “Misturas Betuminosas Temperadas: Estudos da Interação Aditivo – Ligante”. Dissertação para obtenção de Grau de Mestre. Departamento de Engenharia Civil. Universidade de Aveiro. [2] Miranda, H., Batista, F., Antunes, M. L., Neves, J. (2013). “Análise comparativa de métodos de ensaio para avaliação do escorrimento, em misturas betuminosas do tipo Stone Mastic Asphalt, segundo a norma europeia EN 12697-18”. Artigo T5. 7º Congresso Rodoviário Português. [3] Martinho, F., Lanchas, S., Nunez, R., Batista, F., Miranda, H. (2013). “A Experiência Portuguesa em Misturas Betuminosas do Tipo SMA com Fibras Celulósicas”. 7º Congresso Rodoviário Português, Lisboa - Portugal. [4] Júnior, (2008). “ Revestimentos Asfálticos SMA”. 6º Encontro Técnico do Departamento de Estradas de Rodagem – Paraná, Betunel – Tecnologia em Asfaltos. [5] Gardete, D., Picado – Santos, L. e Capitão, S. (2011). “Formulação Volumétrica e Desempenho de Misturas Betuminosas Stone Mastic Asphalt”. XVI CILA – Congresso Ibero – Latinoamericano do Asfalto, 20-25 Novembro, 2011 – Rio de Janeiro - Brasil. [6] Prowell, B., Watson, D., Hurley, G., Brown, E. (2009). “Evaluation of Stone Matrix Asphalt (SMA) for airfield pavements”, AAPTP 04-04, Final Report, Prepared for Airfield Asphalt Pavement Technology Program Auburn University.www.der.pr.gov.br/arquivos/File/EncontrosTecnicos/.../SMADERPR.pdf. (consultado em abril 2014) [7] Proyecto SMA (2014). “Propuesta de Pliego de Prescripciones Técnicas de las Mezclas Bituminosas Tipo SMA”. Mezclas SMA sostenibles medioambientalmente amigables. http://www.proyectosma.eu/ (consultado em setembro de 2014) [8] Drüschner, L., Schäfer, V. (2000). “Stone Mastic Asphalt”. German Asphalt Association, Bonn. [9] EAPA. (1998). “Heavy uty Surfaces – The Arguments for SMA, European Asphalt Pavement Association. [10] Gardete, D. (2006). “Comparação de Ensaios Laboratoriais para a Caracterização de Misturas Betuminosas à Deformação Permanente”. Tese de Mestrado. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Coimbra. [11] DER-ST. (2007). “Concreto Asfáltico Tipo SMA”. ET-DE-P00/031. Departamento de Estradas de Rodagem, São Paulo. [12] Baptista, A. (2006).“Misturas Betuminosas Recicladas a Quente em Central – Contribuição para o seu estudo e aplicação”. Dissertação para obtenção do Grau de Doutor. Departamento de Engenharia Civil – Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade de Coimbra, Coimbra.

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