Fotojornalismo em 7x1: contrastes e similaridades na cobertura do Brasil X Alemanha em oito jornais impressos

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Fotojornalismo em 7x1: contrastes e similaridades na cobertura do Brasil X Alemanha em oito jornais impressos Photojournalism in 7x1: contrasts and similarities in the coverage of Brazil vs Germany from eight newspapers Lauriano Atílio BENAZZI1 Resumo O trabalho analisa alguns dos aspectos do fotojornalismo ligados à sua produção, tipificação e difusão, tendo como objeto a repercussão midiática da derrota da seleção brasileira de futebol para a equipe da Alemanha na Copa do Mundo Fifa 20142. Através da indexação, tabulação e análise das imagens veiculadas pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Agora São Paulo, Lance!, Gazeta do Povo, Folha de Londrina, Jornal de Londrina e Tribuna do Norte, o diagnóstico tem como apontamento-chave a similaridade e o agendamento presente no uso das imagens oriundas da mega-cobertura. Palavras-chave: fotojornalismo; jornalismo impresso; copa 2014. Abstract This paper examines some aspects of photojournalism connected to its production, taxonomic classification and broadcasting, having as object the media impact of the defeat of the Brazilian national soccer team against Germany national team in the 2014 FIFA World Cup. By indexing, tabulation and analysis of the images conveyed by the newspaper Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Agora São Paulo, Lance!, Gazeta do Povo, Folha de Londrina, Jornal de Londrina and Tribuna do Norte, the diagnosis has as key appointment the similarity and the scheduling present in the use of the images coming from the mega-coverage. Keywords: photojournalism; sports journalism; hyper spectacle; journalistic editing.

Introdução A interpretação das nuances do fotojornalismo brasileiro faz parte das pesquisas que visam a identificação e classificação dos gêneros3 e das possibilidades estéticas intrínsecos à sua produção e difusão. O objetivo é o desenvolvimento de um referencial teórico com consequente aplicabilidade acadêmica e prática. Como vetor desta análise, optou-se pelas fotografias publicadas por oito jornais diários impressos em suas edições de 9 de julho de 2014, dia seguinte à vexatória derrota da equipe do Brasil na Copa realizada no país. Entre as razões da escolha estão a repercussão pública: grande parte da mídia mundial se voltou para o evento, midiaticamente só é comparável às Olimpíadas, e também a comoção nacional diante da derrota, com profusão similar à outros momentos da história. Em paralelo há a relação entre fotojornalismo e jornalismo esportivo, seara que merece destaque pois é uma das poucas editorias do jornalismo diário em que o momento decisivo e o spot fotográfico são uma constante. A presente 1

Especialista em Fotografia - Práxis e Discurso Fotográfico (UEL), Mestre em Comunicação - ênfase em Comunicação Visual (UEL) e aluno da disciplina isolada do Programa de Doutorado em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]. 2 Marca registrada da Fédération Internationale de Football Association (FIFA). 3 N.a.: Utiliza-se aqui o conceito de gênero similar ao utilizado na literatura, cinema e mesmo no jornalismo, com o objetivo de classificação taxonômica.

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pesquisa alinha-se aos conceitos que visam uma síntese taxonômica do fotojornalismo, bem como a compreensão das etapas que vão da pauta à edição, em estudos desde o ano de 2000. A abordagem desse trabalho resume-se às similaridades encontradas através do confronto de mais de uma centena de imagens publicadas pelos jornais analisados.

A “Copa das Copas” Tratada pela imprensa nacional como a “Copa das Copas”, o nacionalismo ufanista se disseminou através do poderio de marketing da Fifa, dos veículos de comunicação e do governo brasileiro, todos querendo o sucesso da equipe nacional na competição, seja por interesses de âmbito comercial e publicitário ou mesmo eleitoral. Com este pesado jogo fora de campo, a “febre” tomou conta do país, que há tempos não se vestia de verde e amarelo e não se mobilizava em torno de um ideal comum, catarse que se viu na história recente nos anos 1990 com o “Fora Collor” e, em 2013, com as manifestações que se proliferaram pelo país (figura 1). Figura 1 – Fotografias realizadas em Londrina, em 1992, durante os protestos “Fora Collor”, e nas manifestações de 2013, no chamado “outono brasileiro”.

Autor: Lauriano Benazzi

No entanto, mesmo com a euforia extra campo, a fragilidade do futebol da seleção nacional, formada essencialmente por atletas jovens e sem experiência em copas, era notória. Com responsabilidade maior sobre o jogador Neymar, a expectativa da torcida era grande, com declarações inflamadas do técnico Luiz Felipe Scolari. "Chegou a hora! E vamos todos juntos, é o nosso Mundial", o treinador afirmava, em coletiva à imprensa antes da abertura dos jogos. (O ESTADO DE S.PAULO, 2014a). Para a torcida, o clima era de muita euforia e otimismo, com expectativa do hexacampeonato “em casa”. Um vídeo postado pela Fifa antes do inicio da Copa dava uma alusão do ufanismo verde-e-amarelo que assolava o país. Na reportagem, seguidas entrevistas com torcedores em repetidas frases de otimismo: “a gente tem que ganhar, o Brasil vai ganhar” e “a Seleção tem que ganhar” (FIFA.COM, 2014a). Mas nem tudo foram flores e internamente, devido à tensão ainda decorrente dos protestos de 2013, a Copa não ficou imune às críticas de segmentos da população. Manifestações nas internet e passeatas cuja palavra de ordem era “não vai ter Copa”, se alastravam no campo real com o mesmo furor de hashtags nas redes sociais. Porém, com o espírito da anfitrião da festa e com a inteligência dos órgãos de segurança pública colocada maciçamente em ação, os protestos foram mínimos. Com humor, o “não vai

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ter copa” se convergiu em inúmeras peças humorísticas, disseminando-se através de muitos memes na internet. Em paralelo, no cenário internacional, as críticas da Fifa à organização brasileira, eram grandes, desconfiança que era partilhada pela imprensa internacional que questionava a capacidade do Brasil em organizar um evento de grande monta. No entanto, na prática o resultado foi outro. As manifestações ocorreram de forma isolada e diante da mídia mundial, nos quesitos torcida, organização e recepção aos turistas estrangeiros o país se saiu bem, com dados oficiais e repercussão internacional positivos, atraindo “mais de um milhão de turistas estrangeiros, de 203 nacionalidades diferentes, sendo que 61% deles nunca havia estado no país”. Com este coquetel de elementos positivos e negativos, o mundial foi marcado por extremos e contrastes. “Invertendo as expectativas, o megaevento acabou com um excelente resultado de organização e com uma decepção do ponto de vista do futebol jogado pela seleção brasileira”. (GURGEL, 2014).

Fiasco, “salsichaço” e “mineiraço” Bom nos números e como anfitrião, mas péssimo em campo, o excesso de confiança do escrete e do técnico Luís Felipe Scolari – que havia sido campeão da Copa das Confederações; que era favorito ao título por jogar “em casa”; que estava invicto há 17 jogos oficiais; e que nunca havia perdido um partida com a seleção jogando no Brasil (ITRI; RIZZO; RANGEL, 2014) –, parou diante da forte e organizada seleção da Alemanha. Com todos os holofotes e expectativa de título que havia sobre a equipe brasileira, a disforia resultante do placar elástico de 7x1 obtido pelos alemães era ao mesmo tempo algo humilhante e irreal. A repercussão da derrota foi destaque nos principais jornais e sites de notícias do Brasil e do mundo (GLOBOESPORTE.COM, 2014), sendo o evento mais “tuitado” da história da rede social Twitter (STIVANIN, 2014). O choque e a sensação de perda, de morte, diante da derrota, poderiam causar comoção nacional comparável aos revezes nas Copas de 1950 e de 1982, ou mesmo à morte do piloto Ayrton Senna, incidentes que pararam o país (figura 2). No entanto, a vergonha se converteu em irreverência diante da superioridade alemã, sendo estampada com ironia e sarcasmo e raiva, com requintes estéticos, visuais e semânticos nas capas de mais de 50 jornais brasileiros (figura 3). Dessas manchetes é que nasceu o recorte analítico que é resultado deste artigo, focado em todas as fotografias direta ou indiretamente ligadas ao jogo, publicadas nos pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Agora São Paulo, Lance!, Gazeta do Povo, Folha de Londrina, Jornal de Londrina e Tribuna do Norte (figura 4). O princípio de escolha dos oito veículos foi essencialmente a opção por aqueles que são regularmente distribuídos na cidade de Londrina, ou seja, que pudessem ser adquiridos e manuseados fisicamente. Também houve a preocupação em eleger jornais com especificidades nacionais, estaduais, regionais e locais, além da mescla entre publicações voltadas aos públicos standard4 (classes A, B e C) e segmentado (um jornal popular e um diário esportivo), de abrangência nacional, regional e local5.

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O termo “standard” não se refere aqui ao formato da página, e sim ao perfil de público, que é composto por diversas classes sócioeconômicas, segundo caracterização referenciada por Djalma Benette (2003). Segundo dados da ANJ – Associação Nacional de Jornais , os veículos analisados fecharam o ano de 2013 nas seguintes posições, entre os maiores jornais do Brasil de Circulação paga: 2º - Folha de S. Paulo; 4º - O Estado de S. Paulo; 12º - Agora São Paulo; 14º 5

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Figura 2 – Momentos dramáticos do esporte brasileiro: as derrotas da Seleção Brasileira de Futebol nas copas de 1950, 1982 e 2014, e a morte do piloto Ayrton Senna

Fontes das imagens: (DUARTE, 2014), (MENEGALE, ABREU, 2012) e (R7 ESPORTE, 2014).

A pesquisa se fechou então em 161 fotografias publicadas, montante obtido com algumas regras específicas, excetuando as fotos de arquivo, imagens em infográficos e tabelas, entre outras. Além da manchete de capa e dos cadernos ou seções específicas sobre a Copa do Mundo, a pauta dos veículos se estendeu, em casos pontuais, às editorias de cidades/país, internacional, social e política. Visando o desdobramento em outras análises, as imagens foram rotuladas seguindo-se elementos da técnica fotográfica e critérios de noticiabilidade jornalística. Num espectro amplo, incluiu-se variáveis que vão da situação e localidade, tais como cidade em que foram feitas (Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Londrina etc), do campo de jogo, da torcida na arquibancada do estádio ou de torcedores espalhados pelo país/mundo, se pró-Brasil ou pró-Alemanha, além do sentimento emanado, como euforia, tristeza ou angustia. No campo da técnica e da linguagem foram designados elementos qua vão dos planos de tomada ao tipo de objetiva e ângulo de capura. Já com ênfase nos critérios-notícia e na análise do uso do material de bureaus, foco desta explanação, foi necessário a nomeação por fotógrafo e agências de notícia. Além desses elementos citados, o material selecionado permite análises nos campos da linguística, da semiótica, da análise de discurso e análise de conteúdo (figura 5). Figura 3 – Capas de jornais brasileiros que trataram a derrota de 7x1 da seleção com raiva e sarcasmo.

Fonte: BRAINSTORM9, 2014; CARTA CAPITAL, 2014. - Lance!; 29º - Gazeta do Povo; e 39º - Folha de Londrina. O Jornal de Londrina e a Tribuna do Norte não figuraram neste ranking (ANJ, 2013).

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Figura 4 – Capas de oito jornais analisados.

Montagem: Lauriano Benazzi

Figura 5 – A indexação das 161 fotografias, através de software específico, utilizando-se metadados, possibilita a criação de mecanismos para codificações e tabulações similares.

Autor: Lauriano Benazzi

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Numa primeira etapa, de forma descritiva analisou-se como cada um dos oito veículos, aproveitou o material fotojornalístico relativo ao jogo, se as fotografias publicadas foram por eles produzido ou se foram fornecidas por agências de notícia. Em outra interface analítica, há a aplicação de elementos taxonômicos desenvolvidos pelo autor em Fotojornalismo: taxonomias e categorização de imagens jornalísticas (BENAZZI, 2010b), e em outros trabalhos que a ela se somam e que visam a sistematização das possibilidades existentes na práxis do fotojornalismo (BENAZZI 2000; BENAZZI 2010a; BENAZZI 2011; BENAZZI 2012), tais produções científicas são decorrentes dos expostos por Medina e Leandro (1973) e por Sousa (1997), que objetivam a categorização das fotografias publicadas e bem como suas possibilidades informacionais, técnicas e estéticas. Por fim, numa terceira esfera analítica, estão as coincidências e similaridades do conteúdo fotojornalístico publicado por tais veículos impressos. para compreensão e interpretação das nuances profissionais e consequente aplicabilidade acadêmica.

Campo e torcida: as imagens em númeroe Algumas das perguntas inerentes à produção e à edição fotojornalística, envolvem, portanto, elementos técnicos relativos à cobertura e produção em campo, e mais especificamente utilização deste material pelos veículos impressos. Nesse sentido, algumas das respostas são numéricas e estatísticas são levantadas e vem para estratificam o “como” os jornais aproveitaram as imagens produzidas, sejam elas captadas na arena em que se deu o massacre brasileiro, sejam captadas por todo o país, em notícias co-relacionadas e ligadas ao direta e indiretamente ao Brasil X Alemanha. Entre dezenas de situações, foram recortados oito momentos, cujas fotos se assemelham e atendem aos questionamentos referenciados. Na análise estão, de forma dinâmica, contemplados os tipos de fotos jornalísticas, segundo os gêneros; a dissociação entre fotos de torcedores e de players da partida; a importância das agências de notícia e o contraste entre a produção local e as fotografias publicadas que foram compradas/ terceirizadas. Por fim e como amálgama principal do trabalho, as similaridades e a “mesmice” do processo de edição fotojornalística, o que remete asa discussões acerca do agendamento da notícia. Do total de 161 fotografias analisadas, 130 podem ser categorizadas como spots, o que destoa da cobertura do noticiário dos demais cadernos e seções, e enfatiza a verve factual e a ligação com o instante decisivo presente no fotojornalismo esportivo. Já nas imagens do jogo, o foco dos editores foi por retratar a angustia dos jogadores de camisa amarela, com 47 imagens dos players brasileiros contra 15 dos alemães. A grande concentração também foi no estádio do Mineirão, que contabilizou 65% do total de fotografias publicadas. O destaque das imagens extra-Mineirão é que se tratam da repercussão país afora e também de incidentes paralelos ligados ao jogo. Desse montante, a ênfase dada nas coberturas foram os torcedores. Folha de S. Paulo e Estadão apresentaram as várias faces da torcida por todo o país, com destaque para Brasília e Rio de Janeiro, o que é explicável pois ainda haveriam jogos da Copa do Mundo nessas praças, nas disputas da final e decisão do terceiro lugar, jogo que posteriormente o Brasil também perdeu para a Holanda. No entanto, mesmo com a amplitude nacional, peculiar de veículos líderes, não deixaram de lado as suas coberturas locais, retratando a Vila Madalena e a “Fan Fest”

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paulistana, montada no Vale do Anhangabaú. Por sua vez, os jornais de âmbito local e regional concentraram-se na própria cidade, ou seja, Curitiba, Londrina e Apucarana. Das fotos da torcida, 52 são de flagrantes de momentos de tensão, desespero, choro e tristeza, contra 13 fotos de torcedores felizes antes da partida. Exemplos são os jornais regionais Gazeta do Povo e Tribuna do Norte, que optaram por enfatizar a torcida nas suas localidades, com pouco espaço para as imagens do jogo. Curiosamente, o jornal curitibano não publicou nenhuma foto do jogo em si, optando apenas por duas fotos de detalhes captadas no Mineirão. Já a Folha de Londrina e o Jornal de Londrina publicaram fotos quase idênticas, destacando a torcida da cidade Rolândia cuja colonização é germânica (Figura 6). Figura 6 – Fotografias de torcedores da Alemanha, registradas em Rolândia (PR) e publicadas pelos veículos concorrentes Folha de Londrina e Jornal de Londrina.

Autores: Anderson Coelho Folha de Londrina e Gilberto Abelha/Jornal de Londrina

Agendamento, edição fotojornalística e coincidências Além da quantificação de cenas, outro destaque do trabalho é a cobertura realizada pelas agências de notícia e de fotojornalismo. O destaque é a France Presse (AFP) que teve mais fotos replicadas (26 no total). A francesa se fez presente com imagens nas páginas de quatro jornais, o mesmo ocorrendo com a concorrente britânica Reuters. Já a Associated Press (AP) esteve em três jornais, a EFE em dois e a chinesa Xinua apenas na Folha de S. Paulo. As fotografias da Agência Estado foram exclusivamente utilizadas pelo O Estado de S. Paulo, não sendo publicadas em outros veículos. O paradoxo é que jornais como a Folha de Londrina e Tribuna do Norte utilizaram as reportagens (textos) da Agência Estado, mas recorreram à fotografias das concorrentes. O Lance! Foi outro veículo que não teve fotos publicadas nos demais e a Folha de S. Paulo, distribui materiais apenas para o Agora São Paulo (que é do mesmo grupo), e para a Tribuna do Norte. Este universo, que também contou com várias agências menores, contabilizou 69 fotógrafos. Destes, apenas quatro mulheres, ratificando o saber empírico sobre o fotojornalismo ainda ser um espaço predominantemente masculino. As agências que mais mobilizaram repórteres fotográficos6 foram a Estado e a Folhapress, ambas com 6

As 162 fotografias analisadas foram registradas pelos fotógrafos Christophe Simon, Fabrice Coffrini, François Xavier Marit, Gabriel Bouys, Gustavo Andrade, Odd Andersen, Patrick Stollarz, Pedro Ugarte e Vanderlei Almeida (Agence France-Presse); Alex Silva, Clayton de Souza, Daniel Teixeira, Dida Sampaio, Eduardo Nicolau, Erica Dezonne, Evelson de Freitas, Fábio Motta, Iara Morselli, José Patrocínio, Nilton Fukuda, Paulo Liebert, Tiago Queiroz e Wilton Júnior (Agência Estado); Lucas Amorelli (Agência RBS); Fernando Soutello (Agif); André Penner, Bruno Magalhães, Léo Corrêa, Mathias Schrade e Natasha Pisarenko (Associated Press); Peter Powell e Thomas Eisenhuth (EFE); Anderson Coelho (Folha de Londrina); Adriano Vizoni, Alan Marques, Daniel

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14 profissionais pelo país. A France Presse teve publicadas imagens registradas por nove de seus profissionais, seguida pela Reuters, com oito, Associated Press, com cinco, e Xinhua, com três. Tais nuances, ligadas ao mercado de trabalho e as agências, ilustram e respondem alguns dos questionamentos e críticas que no âmbito da pesquisa acadêmica recaem sobre os veículos e seus profissionais. Indo de encontro aos preceitos da agenda setting expostos por Traquina (2000), França (2001), Sousa (2002), Pena (2005) e Souza (2010), estão as imagens similares, produzidas e publicadas por veículos concorrentes. No conjunto das fotografias analisadas, talvez as que mais se evidenciam foram as veiculadas pelos jornais londrinense (Folha de Londrina e Jornal de Londrina), conforme exposto. No contexto dos detalhes, com cunho mais ilustrativo, destacam-se fotografias captadas no estádio do Mineirão, como o placar, com as luzes do estádio já apagadas, registrando o 7x1 (figura 7). A mesma fotografia de Damir Sagojl, da Reuters, foi publicada na capa da Folha de S. Paulo e na página de opinião do caderno de esportes do curitibano Gazeta do Povo. Independentemente das diferenças de tamanho, da posição ou do recorte das imagens, chama a atenção seu uso pelos veículos , com a curiosidade de utilizarem-se de manchetes similares, ambos com o jargão “a pior derrota”. Figura 7 – Detalhe do placar do Mineirão, com o resultado final do jogo Brasil e Alemanha, publicas pelos jornais Folha de S. Paulo e Gazeta do Povo.

Autor: Damir Sagojl (Reuters)

Outras imagens com “clone” em mais de um jornal são as do então técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, clicado em mais de um ângulo, mostrando o número sete com os dedos, (figura 8). Os jornais Folha de S. Paulo, Agora São Paulo, Lance! e O Estado de S. Paulo publicaram as fotografias Pedro Ugarte (AFP) David Gray (Reuters). O treinador também é replicado nas fotografias realizadas durante a entrevista coletiva, após o jogo, desta vez com as mãos no rosto, em cena que remete a choro ou vergonha (figura 9). Nas duas situações as imagens carregam o sentido do instante decisivo, com o flagrante feito no momento exato, possivelmente oriundas de uma série de fotografias e não de um clic único. Se por um lado as imagens de Felipão Marenco, Danilo Verpa, Davi Ribeiro, Eduardo Knapp, Ernesto Rodrigues, Fábio Braga, Luciana Whitaker, Marco Ambrósio, Markus Schreiber, Rubens Cavallari, Vinícius Pereira e Vítor Guedes (Folhapress); Antônio More e Fábio Malewshik (Gazeta do Povo); Jean Catuffe e Ricardo Guimarães (Getty Images); Marcelo Zambrana (Inovafoto); Gilberto Abelha (Jornal de Londrina); Ari Ferreira e Cleber Mendes (Lance!), Damir Sogojl, David Gray, Eddie Keogh, Kai Pfaffenbach, Leonhar Doeger, Marcos Brindicci, Rubens Sprich e Ueslei Marcelino (Reuters); Ivan Maldonado e Sérgio Rodrigo (Tribuna do Norte); Jefferson Bernardes (Vipcomm); Lin Ga, Liu Bin e Liu Dawei (Xinhua).

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fazendo “sete” trazem a sensibilidade e o olhar apurado dos fotógrafos, por outro, no campo da edição e publicação, recaem no contexto do agendamento como no spot de Ruben Sprich, da Reuters, replicado pelos dois grandes concorrentes paulistanos. Figura 8 – Luis Felipe Scolari, em fotos cena captada apenas por dois fotógrafos que se repetiu nos jornais Lance!, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Agora São Paulo.

Autores: Pedro Ugarte (AFP) e David Gray (Reuters)

Figura 9 – Flagrantes único da “vergonha” de Luis Felipe Scolari, em fotografias publicadas pelos concorrentes O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.

Autor: Ruben Sprich (Reuters)

Os jogadores David Luis e Fred também estiveram no epicentro das críticas fotográficas, a exemplo de Scolari, com fotos similares replicadas em jornais distintos. O “leão” David Luis, por seu carisma junto aos torcedores e demonstração de garra dentro de campo em jogos anteriores à derrota, rapidamente alçado pela imprensa como líder dos jogadores, foi alvo dos fotógrafos, com diversas fotos de seu desespero e choro estampadas nos jornais. Já Fred, na teatral cena de levar a bola à cabeça – um Hamlet cuja caveira se transfigurou na pelota rodriguiana –, ato que pode ser associada às

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nuances dos pseudoacontecimentos (SOUSA, 1997), teve sua ação estampada nas páginas do Jornal de Londrina (em uma das poucas fotos que o veículo publicou), pelo popular Agora São Paulo e pelo O Estado de S. Paulo (figura 10). Neste caso, os três registros tiveram a perspicácia de três fotógrafos, que atentos ao movimento, registraram a mesma cena: Danilo Verpa (Folhapress), Thomas Eisenhut (EFE) e Fernando Soutello (AGP). Figura 10 – Flagrantes do jogador Fred, criticado pela imprensa durante a Copa, em cena quase teatral.

Autores: Danilo Verpa (Folhapress), Thomas Eisenhut (EFE) e Fernando Soutello (AGP).

Já entre as dezenas de fotografias de torcedores, a que mais repercutiu foi de uma torcedora, em Brasília, de cara pintada, que aparece em diversos momentos, registrada por vários fotógrafos, mas com destaque para o spot registrada por Ueslei Marcelino, da Reuters, que capta o momento do choro (e apesar da tristeza da torcedora, plasticamente a foto tem grande beleza e sensibilidade) da brasileira. Capa dos jornais Agora São Paulo e Gazeta do Povo, teve grande destaque nas páginas internas do Estadão (figura 11). A imagem da torcedora também saiu em outras publicações não incluídas nesta análise. Curiosamente, durante a pesquisa a imagem foi encontrada em publicações impressas, com versão digital disponível na internet (house organ), possivelmente publicada sem autorização e com o crédito “Foto da internet”. Figura 11 – Torcedora com a cara pintada, em Brasília, virou um dos ícones da derrota da seleção.

Autores: Ueslei Marcel (Reuters) e Dida Sampaio (Estadão)

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Também coadjuvante do drama nacional estão as imagens do londrinense Danilo Verpa, fotógrafo da Agência Folha (um dos fotógrafos com maior número de imagens publicadas), que captou a tristeza de um torcedor no estádio do Mineirão, com a camisa da seleção escondendo o rosto, em pose de vergonha. As imagens possivelmente captadas em sequência por Verpa, foram utilizadas pelo Grupo Folha em seus dois jornais. Já O Estado de S. Paulo publicou fotografia quase similar, registrada por Rubens Sprich, da Reuters (figura 12), autor das cenas de Felipão escondendo a cara. Figura 12 – Torcedor inconsolado nas arquibancadas do Mineirão, com agências concorrentes registrando o mesmo instante.

Autores: Danilo Verpa (Folhapress) e Rubens Split(Reuters).

Por fim, uma das cenas mais belas, sob o ponto de vista estético, técnico e de percepção dos fotojornalistas, que merece destaque, pela dramaticidade e perspicácia dos profissionais, foi o flagrante do também londrinense Fernandinho, em imagens feitas por detrás do gol brasileiro, com o atleta (que não teve bom desempenho naquela partida), segurando as cordas, em pose de lamento. A imagem foi capa do Jornal de Londrina (foto de Jefferson Bernardes, da agência Vipcomm, distribuída pelo Agência Estado) e capa dupla do caderno especial da Copa, da Folha de S. Paulo (registrada por Natasha Pisarenko, da Associated Press) (figura 13). Figura 13 – A cena do jogador Fernandinho, no fundo das redes após mais um gol da Alemanha, foi capa do Jornal de Londrina e capa dupla do caderno de esportes da Folha de S. Paulo.

Autores: Natasha Pisarenko (Associated Press), Jefferson Bernardes (Vipcomm).

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Considerações finais A análise mesmo, sendo uma pequena mostra material coletado, demonstra algumas importantes nuances do fotojornalismo no Brasil. As imagens publicadas pelos oito jornais impressos, cada um com suas especificidades, trazem à tona características e situações que muitas vezes passam desapercebidas pelo leitor ou mesmo pelo pesquisador que se atém apenas a um produto, veículo, mídia ou edição. As imagens, indexadas sob vértices diversos permite a criação de mecanismos para compreensão e reflexão sobre o fotojornalismo contemporâneo, cujo campo de estudo está sendo aberto. A analise das imagens pelo o viés dos gêneros do fotojornalismo, pelos aspectos que tangem sua produção e difusão via agências de notícias, bem como a similaridade na replicação destas fotografias traz à tona alguns dos vícios da práxis do jornalismo e da subjetividade editorial. Em outra escala está o foco da mídia no mega-evento que há pouco mais de um ano era ferrenhamente criticado pela população. O “poderio bélico” do marketing e da publicidade da Fifa e dos veículos de comunicação reverteu o quadro então negativo e fez com que diferenças fossem esquecidas e que a Copa “desse certo”. A prova desta parcialidade foi em relação às notícias “ruins” para a Copa. Mesmo com a humilhante derrota por 7x1, num quadro com 161 fotografias tabuladas, apenas cinco imagens foram voltadas para os questões de crítica, como manifestações anti-Copa e problemas logísticos e organizacionais, comuns em eventos. Através do fotojornalismo e nessa análise paralela, o diagnóstico é de que a mídia abraçou a causa e se voltou para o sucesso da Copa do Mundo do Brasil.

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