Fronteiras, Barreiras e Mobilidades: problematizando o projeto olímpico no Rio de Janeiro

August 7, 2017 | Autor: Christopher Gaffney | Categoria: Geography, Security Studies, Mega Events, Rio de Janeiro
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Capa: Haroldo Paulino Santos

Revìsãor.Bruna Mitrano

\~iag1:~mãção: Haroldo Paulino Santos -Coórdenação Editorial: Gisele Moreira ~CIP ...BRASIL. CATALOGAÇl'()"NA~FONTE SINDICATO NACIONAL .DOS EDITOR.ES DE:;LIVROS, RJ T696 Trainsformaçåes te·rritonais noRio de Janeiro do século X,XI , organlzaçâo Ângela S .. Penelva Santos, JJrfaria.Jost/fina G~Stmt~anJla......1. ed ... Rio de, Janëito .~,Gramma, 20 14~ 295 p. ; 23 cm. Incluí biblicgraña ISBN 9'18-85 ..98555 ..13..1 I. Rio de Jane'iro wGeografi;tL 2. Rio de Janetro .•' História. 3. Geografia urbana .. Rio de Janeiro. 4. Rio de Janeiro - Geografie histórica. I, Santos, Ángela S. Penelva. ... Il Sant' anna, María Josefina G~ 14-17670

COD: 918.153 COU:;913(81,5.3) ! '

Gramma Livraria e Editora Rua da Quitanda, n" 67, sala 301 CEP: 20.011-030 - Rio de Janeiro (RJ) Tel.:lFax: (21) 2224-1469 E-mail: [email protected] Site: www.gramma.com.br

SUMÁRIO Apresentação:

Transformações

Rio de Janeiro

do Século XXI

Territoriais

no

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I. Projetos Urbanos e Transformações Territoriais no Rio de Janeiro 1. Política Urbana no Contexto Federativo Brasileiro: entre a cidade do plano e a cidade real Ange/a Mou/in S. Pena/va Santos 2. Paisagem Urbana e Construções Normativas em Projetas Urbanos Rosange/a Lunarde//i Cava/lazzi 3. Urbanismo VIP: a rnudança da finalidade do espaça público como resultado da técnica do urbanismo hegemônico contemporâneo C/áudio Rezende Ribeiro 4. O Papel da Administração Tributária na Captura das Mais Valias Fundiárias Pedro Humberto Bruno de Carvalho júnior

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II. Grandes Eventos na Cidade do Rio de Janeiro: Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)

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oportunidades,

riscos e limitações

1. Fronteiras, Barreiras e Mobilidades: problematizando o projeta olímpico no Rio de Janeiro Christopher Gaffney 2. Megaeventas Esportivos, Oinâmica Urbana e Conflitas Sociais: intervenções urbanas e nova desenho para a cidade do Rio de Janeiro Maria josefina Gabrie/ Sant'Anna e Leopo/do Gui/herme Pio

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FRONTEIRAS, BARRElRAS E MOBILIDADES: O PROJETO OLíMPICO

PROBLEMATIZANDO

NO RIO DE JANEIRO

Christopher Gaffney

1. Introdução É incontestável que o Rio de Janeiro está no meio de um maremoto de transformações urbanas 'quase sem precedente na sua história. Mesmo tendo em canta as grandes intervenções urbanas na época de Pereira Passos (1904-1908) e Carlos Sampaio (1908-1910), Carlos Lacerda (1961-1963), ou dos planos diretcres dos urbanistas Agache (1930) e Doxaidis (1962), o projeta Rio 2016 está estimulando um conjunto de obras, projetas e transformações que impactarão o tecido urbano como .nunca antes. Observando essa conjuntura, esse trabaIho busca entender as lógicas que estão por trás dela. É claro que urna análise 'das presentes transformações precisa de um olhar tanto histórico-geográfico quanto político-econômlco para traçar as linhas de força e vertentes de poder que deram luz ao Rio 2016. Mas esse tipo de análise já se encontra bastante presente na literatura atual sobre megaeventas esportivos no Rio de Janeiro (FlJNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISA ECONÓMICA, 2009; GUSMÃO DE OLIVEIRA, 2012; MASCARENHAS, BIENENSTEIN e SÁNCHEZ, 2011; RAEDER, 2010; GAFFNEY, 2010; GAFFNEY e MELO, 2010; KASSENS-NOOR e GAFFNEY, 2013). Também uma leitura mais adequada tratará dos processas deplanejamento urbano e o papel dos planos diretores na produção do espaça urbano na cidade do Rio de Janeiro (NOVAIS, 2010; ABREU 1987; CARLOS, SOUZA e SPOSITO, 2011). Não· intenção do autortrabalhar com todas essas referências bibliográficas, mas sim de partir de um ponto de observação construido na base delas. Dentre várias mudanças de orçamento, normas de licitação e contratação de obras, leis e tentativas de mudar o comportamento dos cidadãos, as transformações no tecido urbano sempre fazemparte dos preparativos para os grandes eventos esportivos (HORNE e ·WHANé

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BIENENSTEIN e SÁNCHEZ, 2011). Tais intervenções se encontram parcialmente nos dossiês de candidatura para os vários eventos. Para a Copa do Mundo de 2014 e os logos Olímpicos de 2016, a cidade e o estado do Rio de Janeiro estão fazenda intervenções nos seguintes bairros: Ilha da Gavernadar, Ilha da Fundão, Maré, Complexo da Alemão, Maracanã, Providência, Santo Cristo, Saúde, Gamboa, Centro, Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado, Rocinha, Barra da Tijuca, Recreio, Guaratiba, Santa Cruz, Deodoro, Engenho de Dentro e Maracanã. A rnaioria dessas transformações são obras estruturais: equipamentos esportivos, linhas de transporte ou empreendimentos imobiliários. Todos os projetos estão incluídos na rubrica "legado", utilizada para justificar a intervenção ernergencial no tecido urbano. O presente trabalho pretende examinar o impacto das linhas de BRT no Rio de Janeiro dentro de uma perspectiva crítica do planejamenta urbana, por meio de uma investigação das trajetórias sociais e materiais desses projetas, examinando seus impactos atuais e potenciais. Em princípio, as linhas de análise interrogarão as concepções de fronteiras de expansão habitacional, as barreiras geográficas que essas linhas estão tentando superar e as novas (i)mobilidades que estão senda criadas com as intervenções olímpicas. A seguir, são definidos os conceitos fronteiras, barreiras e mobilidades. Uma vez estabelecidas como categorias de análise, surgem as relações entre os três, colocando-os em joga no contexto do projeta Rio 2016. Ainda que a realização dos Jogas Olímpicos seja fruto de uma série de atuações políticas, econômicas, esportivas e de gestão urbana, busea-se nesse texto isolar o projeta resultante desses contextos para melhor entender seus desejas (ou intenções), raciocínios e efeitos.

2. Fronteiras O conceito de fronteira é tão simples que uma definição parece desnecessária. O sentido comum da fronteira é de um limite geográfico. As fronteiras geográficas definem territórios políticos, delimitam áreas de influência, responsabilidade e poder. As fronteiras estabelecem relações, pertencimentos e exclusões. Afronteira pode ser uma linha a ser defendida ou um desafio, uma zona de expansão. Pelo fato da fronteira ser um lugar geográfico, eia é também um espaço irnaginário, conceitual e, porém, variáveI. Embora limites geográficos figurem em nassa análise, esses limites: serãodìscutldos em termos de perrneabilidade e de acumulaçãoe èxpansão em múltiplas escalas. No contexto global dos Jogos 80

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expansão para o Comitê Olímpico Internacional (COI) e seus parceiros comerciais. No contexto da cidade do Rio de Janeiro, o bairro da Barra da Tijuca será analisado como fronteira de expansão para o assentamento das classes mais favorecidas e para a acumulação de capital. Nesse sentido, o projeta Rio 2016 opera com fronteiras de múltiplas escalas e formas.

3. Barreiras Fronteiras são barreiras, mas barreiras não são necessariamente fronteiras. Barreiras são obstáculos ou bloqueios conceituais (e. g. medo, preconcetto), legais (e. g. zoneamento), sociais (e. g. estrutura de classes) e geográficos (e. g. manguezal, montanhas, distãncia). Em nassa estudo, vamos empregar o termo barreira em todos essessentidos. Em relação aos projetas de transporte do Rio 2016, a palavra barreira será usada no sentido de superação espacial, quer dizer, será investigado o espaça geográfico da cidade como uma barreira à realização dos jogas. Para superar as barreiras geográficas, está senda implementada uma rede de transportes que atenderá as "necessidades" dos Jogas. Mas, ao mesmo tempo em que essa rede olímpica supera barreiras à mobilidade para um determinado evento, por se tratar de 150 km de linhas rodoviárias, pode-se dizer que as linhas também erguem barreiras físicas ao langa de seus percursos, geranda imobilidades e criando novas barreiras espaçais. No sentido político, sempre existem barreiras que dificultam a realização de eventos de grande porte. O evento traz consigo uma série de demandas extrajudiciais em face das quais a legislação local tem que se curvar. Nesse sentido, para a realização dos Jogas é preciso criar um estado de exceção (AGAMBEN, 2005), estabelecendo um suíte de leis especiais e temporárias que derrubam as barreiras pré-existentes. Essesnovas parâmetros também abrem a possibilidade de uma reconfiguração espacialdentro da qual as barreiras geográficas e sociais à acumulação são superadas. Essasuperação abre linhas de força e fluxa e cria pontas fixas de atuação, permitindo um maior movimento de coisas ao mesmo tempo em que elas são direcionadas e controladas (HARVEY, 2005 e 2010; LEFEBVRE,1992).

4. Mobilidade Mobilidade é um conceito rico e bem trabalhado entre os acadêmicos (URRY, 2007). Ernbora normalmente pensemos em mobilidade física ou individual, há muitas formas de mobilidade e muitas coisas que se mobilizam. Um estudo da mobilidade implica aborda81

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garantia decirculações, das modalidades de transporte ede informação, bern coma dos efeitos colaterais dos projetas de mobilidade. Quando pensamos em mobilidade também somos obrigados a pensar no seu avesso, a imobilidade. Se a.perrneação de fronteiras e a superação de barreiras implicam maismobilidade, temos que entender quem ou quais grupos estão se beneficiando, por ande estão se mobilizando, como e a que custo. Na análise a seguir, serão usados os conceitos de mobilidade para interrogar os projetas de transporte associados ao Rio 2016. Tambérn se discutirá as distinções entre mobilidade em linhas e em rede, com base nos pensamentas foucaultianos de circulações. A intenção é entender o projeta olímpico do Rio de Janeiro por meio de uma abordagem analítica, usando como fundarnento a lógica capitalista de eterna expansão. Essa lógica nos indica que o capital está sempre em busca de novas territóriospara realizar as rnelhores possibilidades de reprodução (HARVEY, 2005). A expansão de capital, sirnultaneamente, estabelece e busca superar fronteiras. Na procura frenética e perpétua de se reproduzir, o capital. (de modo grosso) encontra essas fronteiras inventadas e reals. No caminho para sua autorrealização, encontra barreiras e obstáculos. Uma vez liberado, o terreno conquistado está incorporado às redes de acumulação, nas quais a rapidez e a fluidez de mobilidade são as características mais cobiçadas.

5. Rio 2016 e o Rio de Janeiro O Rio de Janeiro é a primeira cidade na América do Sul a receber urna edição dos logos Olímpicos. Durante a disputada candidatura para captar os Jogas, a Rio 2016 (uma empresa com fins lucrativos) declarou que sua candidatura representava uma "apartunidade" para o Comitê Olímpico Internacional (COI) trazer "pela primeira vez a sua inspiração para um continente novo ejovem [. ..] a realização de um sonho para todo o continente sul-americano" (Dossiê Ri02016, vol. 1, p. 8). Ao longo da candidatura, que custou R$ 90 milhões (Rio 2016,2011), o discurso da Rio 2016 constantemente fortaleceu a ideia de que a cidade merecía o evento por que o COI (dovelho continente) nunca olhou para a América do Sul: '~Mais de 500 anos depois de o mundo conhecer o Brasil, o Rio será o ponto de partida de urna nova viagern de descoberta e celebração" (Dossiê Rio 2016, vol. 1, p. 14). Essa "nova viagem" representa uma oportunidade para o mercado, e os Jogas Rio 2016 "abrirão as portas para um continente n6y'~, e jovern com 400 milhões de habitantes" (Ibid, p. 23).1 " :' Ê'lmportante identificar aqui que são várias empresas, órgãos governamentais,

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mento certo para as empresas associadas ao COI. A Rio 2016 começou sua disputa contra Madri, Tóquio e Chicago em 2008, justamente quando houve um crash na economia global. O Brasil navegou bem acrise e o crescirnento econômico continuou. A Rio 2016 apresentou o Brasil como uma terra rica, cheia de possibilidades num mundo econômico desnorteado: "Mesmo frente às dificuldades econômicas mundiais, podemos garantir que os fundos para a candidatura Rio 2016 estão assegurados e que a economia brasileira é estável" (Oossiê Rio 2016, val. 1, p. 14). Vemos a repetição dessa retórica nas falas dos dirigentes esportivos e políticos e em vários trechos do dossiê: "O Brasil, com uma economia forte e estávei apesar da atual crise econômica mundial, terá 'com os Jogas um valioso reconhecimento internacional e herdará um sólido legado esportivo" (Ibid, p. 23). Os territórios do "novo continente" interessarão à mídia e aos patrocinadores que "não perderão a oportunidade de se identificar com esse novo destino e um valor adicional será agregado às marcas Olímpica e Paraolímpica. Uma história inédita e empolgante está pronta para ser escrita" (Ibid, p. 24). É importante lembrar que as mesmas lógicas de expansão, integração e crescimento foram aplicadas à escolha das doze cidades sedes para a Copa do Mundo de 2014. Se o dossiê de candidatura, inicialmente, atraía atenção para o Brasil e para o Rio, os "novas horizontes" (que podemos entender como fronteiras) para o COI e para a acumulação de capital de seus patrocinadores, num segundo momento, a Rio 2016 apresentau a eliminação das barreiras legais à realização dos Jogas: Iá esboçamos todas as novas estruturas legais necessárias para os jogos. De modo a complementar urna abrangente legislação existente para a execução dos jogos, decretos Municipais, Estaduais e Federais irão fornecer as capacidades legais para que o Governo, a APO e o Cornitê Organizador possarn assumir todas as responsabilidades relacionadas aos jogos (lbid.)." O trecho acima indica que os Jogas exigem regimes de exceção que só podem ser alcançados por meio de novas arrarrjos institucionais e do esvaziamento do estado de direito. Nesse caso, a mentais e interesses que se articulam Olímpico Brasileiro.

dentro da Rio 2016. O primeiro

entre eles é o Comitê

APO refere-se à Autoridade Pública Olímpica, urn órgão composto no dossiê para organizar a integração entre os três níveis do governo na execução dos projetas e orçamentos associ ados aos Jogas. Esse 6rgão se desolaria logo depois dos Jogas.

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pica, criando-se duas camadas de instituições que não têm meios de participação democrática. Há paralelos entre o processo de instalar um megaevento esportivo e guerr:as entre nações(GAFFNEY, 2010; HAYES e HORNE, 2011). Nas guerras como nos .logos as tácticas de "choque e pavor" funcionam para abrir os caminhos para a acumulação sob regimes "emergenciais" (KLEIN, 2008). Conforme o dossiê, o processo de eliminar as barreiras legais à realização dos Jogos e o arcabouço extralegal dos Jogos estavam prontos bern antes da escoIha do Rio como cidade-sede. Os decretos estavam engatUhados e o financiamento garantido. Acidade ainda estava em festa quando as novas leis e os novos decretos entraram em vigor. Quando a sociedade carioca acordou, já estava sob um regime de exceção. No contexto de nossa análise, é também importante ressaltar que a candidatura da Rio 2016 não somente apontou para a remoção de barreiras legais, mas também para o cultivode um terreno social liso - quer dizer, sem barreiras. A Rio 2016 procurou mostrar que o projeto olímpico não enfrentará qualquer entrave político ou F€sistência social no caminho de sua realização: "Todos os partidos importantes do Brasil confirmaram seu apoio à organização dos Jogos no Rio na base da sinergia entre as exigências e os impactos dos JogQse os planos de desenvolvimento do Brasil a longo prazo" (Ibid, nota de rodapé 2, p. 61). Apesar dessa representação de hegemonia política consolidada, podemos ver algumas mudanças de posição política ao longo dos últimos quatro anos. Em particular, os contextos sociais e urbanos, que cristalizaram em junho e julho de 2013, revelam que o terreno social está bern mais complexo e desnivelado do que antes. É mareante que em 2008 (data de publicação do dossiê) a Rio 2016 alegou que "o projeto de sediar os logos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 no Rio de Janeiro não enfrenta qualquer oposição pública organizada" (Ibid, p. 60). Não poderiam mais dizer a mesma coisa. Como discutiremos mais à frente, as barreiras sociais têrn emergido como um dos pontos mais preocupantespara o COI em relação à Rio 2016.3 Para completar nossa abordagem inicial, destaca-se a intenção explícita de mobilizar a imagem do Rio de Janeiro e do Brasil para espectadores globais. A mobilidade das imagens se baseia no alcance da televisão, mídia impressa e meios eletrônicos. A circuláção (Ieiase: mobilidade) da Rio 2016 será baseada na "utilização exaustiva dos magníficos cenários do Rio de Janeiro com a criação de imagens espetaculares" (Ibid, p. 49). Conformando a essa ideia, em 2012 o Rio d~ Janeiro realizou urna exitosa candidatura para ter sua paisagem ¡Aqui intencionalmente usa-sé Rio 2016 numa forma diferente. A Rio 2016, para o COI, é uma marca que tem que ser protegida.

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No anúncio do desfecho, a ONU disse que o Rio de Janeiro entrou na lista por sua "paisagem cultural, pelo cenário urbano excepcional da cidade, constituído por elementos naturais que moldam e inspiram seu desenvolvimento" (United Nations Environment Programme, 2012). Esseé um exemplo do que Atkinson e Cosgrove (1998) chamaram de mobilização da paisagem para alcançar metas políticas, simbólicas e urbanas. A- proposta da Rio 2016 associa à marca olímpica as paisagens do Rio de janeiro, fazendo com que as imagens, as culturas e os "valores" olímpicos circulem (ou seja, tenham major mobilidade) de uma maneira mais rápida e difusa que os oferecidos por outras cidades. Dentro desses circuitos e redes de circulação, é claro, existern inúmeras "oportunidades" para os parceiros comerciais e o COI recebe um, poder simbólico de agente de transformação e inovação. Em resposta aos protestos de junho e julho de 2013, que reclarnavam, em parte, dos gastos astronômicos em megaeventos, o presidente da FIFA, joseph Blatter, resmungou: "FIFA não se impôs no país. Brasil se candidatau para a Copa do Mundo, nos convidau para estar aqui". Em outras palavras: "vocês quiseram isso tuda! Por que estão reclamando?". Tanto para a Copa quanto para a Rio 2016, podemos afirmar que os representantes democráticos brasileiros e os dirigentes do esparte brasileiro ofereceram os povos e os territórios brasileiros como aprontados para a conquista, representando-os como terra fértil que, uma vez semeada com dinheiro público, dará safras inimagináveis em meio a urna crise financeira global. No momenta da escolha olímpica, em outubro de 2009, o mundo parecía travado - não houve uma circulação de dinheiro suficiente para manter o crescimento econômico. O Brasil foi revelado como debutante, um lugar para a reprodução garantida não só dos logos Olímpicos, mas também do capital. A peça fundamental para garantir as velhas e novas circulações e para mobilizar a paisagem da cidade em prol das olimpíadas foi a garantia fiscal do governo federal, em torno de US$ 16 bilhões (PAIVA, 2009). Todo esse dinheiro será investido na cidade do Rio de Janeiro (Ibid, vol 1, p. 135-138). Mas nela, o projeta Rio 2016 encontrará inúmeras barreiras à sua realização. O raciocínio acima delineado demonstra algumas das fronteiras e lógicas contidas no projeta Rio 2016. Nos contextos globais e nacionais, é bastante clara que Rio 2016 respondia aos anselos e desejos do momento geopolítico e econômico. Mas o projeta Rio 2016 também aponta fronteiras e barrelras dentro da cidade em si, e é nessa geografia que precisamos mergulhar para entender melhor a realização das promessas feitas no dossiê Rio 2016. 85

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O lema "Todos os esportes numa mesma cidade" é atraente para o COI, para que possam ser concentrados todos os investimentos, turistas e comunicações num território circunscrito. As abundan-

pilar olímpico (os outras dos sendo esparte e cultura). As áreas urbanizadas são homogêneas e apresentam o conturbado, fragmentado e congestionado tecido urbano como um terreno liso sobre o qual fluem linhas de transporte nas quatro zonas que comporão os anéis olímpicos. A limitação da escala faz com que os projetas de transporte tenham a aparência de construir èonectividade·e mobilidade na cidade como um todo. Estudos indicam que o Rio de Janeiro, atualmente, tern o pior tempo de deslocamento de casa-trabalho no Brasil. Os círculos concêntricos irradiando do Parque Olímpico posicionam o Parque como o epicentro da cidade e a Barra da Tijuca como o centro. De acordo com essa representação, o Parque Olímpico será o miolo do mundo carioca (e o próprio mundo durante os logos). Como veremos mais à frente, essa representação da Barra da Tijuca como centro urbano não conforma coma realidade em termos de emprego, administração ou população. Utilizar o Parque Olímpico como marca zero da cidade é um lance intencional para dar a sensação de que a .cidade gira ou girará em torno dele. Outro elemento discursivo que encontramos nessa representação cartográfica é a circularidade das zonas olímpicas. Por exemplo, a zona Maracanã se estende da zona portuária (lado leste) ao bairro de Engenho de Dentro (lado oeste) - urna distância acima de 15 km. A inclusão de todo o território urbano contido nesse círculo no projeto olímpico faz com que a zona pareça ter urna conectividade que na realidade não existe. Se estenderrnos o nosso olhar de norte a sul nessa zona, vemos a inclusão da Floresta de Tijuca e da Ilha do Fundão. No contexto urbano real,esses lugares são desconectados um do outro. Cabe questionar porque a zona Maracanã é tão grande. Aresposta é simples: o círculo inclui o Estádio Olímpico e o Estádio Mario Filho - dando a aparência de proximidade entre os dois estádios. Na realidade, há urna linha de trem e urna rodovia de duas pistas que os conectam - ambos modais são precários (TORRES, 2012). As mesmas tentativas de forjar conexões urbanas podem ser encontradas em e entre todas as zonas. A ideologia de circularidade na projeção cartográfica deve-se muito aos consultores catalães que ajudaram na montagem nas candidaturas olímpicas anteriores (GUSMÃO DE OLIVEIRA, 2012). O "modelo Barcelona" atua como paradigma até o ponto que a maioria das candidaturas olímpicas agora emprega os mesmos códigos para convencer o COI que os projetos têm conectividade e fluidez. Como ilustrado na Figura 2, os círculos também ressonam com os anéis olímpicos, símbolo máximo dos Jogas. Depois da escolha da sede olímpica de 2020, o presidente do COI Thomas Bach declarou que "todas as candidaturas parecem iguais", surgindo urna mudança nas

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A Figura 1 é a representação na cidade do Rio de Janeiro.

cartográfica

dos Jogos Olímpicos

figura 1. Representação cartográfica dos logos Olímpicos 2016. A eldade encontrase cortada com circulações entre as zonas olímpicas bastante destacadas. Acidade olímpica parece já conectada com linhas de transporte, dando a impressão de fluidez.

É a partir de urna análise cartográfica que se pode parcialmente decifrar as lógicas que estão por trásdo projeto da cidade contido no dossiê Rio 2016. Na primeira instância, descreverei os elementos da representação cartográfica (tornando cuidado para não identificá-Ia como mapa), apontando os discursos e as ideologias. Logo depois, usarei outros mapas para explicar melhor o contextoe impactos do Rio 2016. A primeira coisa notávei da representação acima é sua parcialidade. Embora seja difícil representar de maneira adequada, sempre devemos pensar e entender a cidade como urna área metropolitana. A representação, aqui, limita a cidade do Rio de Janeiro às zonas que o projeta Rio 2016 vai abranger, como se o resto da cidade não existisse. O dossiê não apresenta em nenhum momento a totalidade da zona metropolitana nem a cidade em si.

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das futuras cidades olímpicas, pois diminuindo as diferenças entre os projetas de candidatura, amplia-se a importância de fatores como

influência política e suborna

na escolha dos Jogas Olímpicos.

Figura 2. Representação cartográfica dos Jogas Olímpicos de Barcelona, 1992. Essa fai a primeira representaçãa cartográfica de circularidade para os Jogas Olímpicos. Agora, é difícil encontrar um projeta Olímpico que não apresente umacidade dessa maneira.

Iá mostramos, aqui, que o projeta Rio 2016 abrange áreas limitadas da área metropolitana, que terá zonas olímpicas conectadas por várias modalidades de transporte. A questão para os autores do projeta Rio 2016, então, não foi como criar- uma rede de mobilidade para a cidade como um todo, mas sim como moldar conexões entre as zonas olímpicas que o projeta mesmo criou. Essa lógica autorreferencial nega as necessidades, carências e demandas da cidade e atende unicamente às demandas geradas pelo projete. O resultado é um projeto de mobilidade olímpico e não metropolitano, queatua

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cartográfica, Rio 2016 também previa uma extensão do metrô até o bairro da Gávea. Não houve previsão de transporte aquário, nem uma extensão ferroviária, nem novas linhas de metrô, nem transporte público entre os dais aeroportos da cidade. Ou seja, o anel de transporte foi projetado para ocupar a infraestrutura existente com pequenos acréscimos. Como veremos, a não inserção dos projetos atuais no dossiê fez com que o orçamento global dos jogas fosse menor. A noção de que o sistema de transporte Rio 2016 iria entrar em cena para uma "performance" é relevante para nassa análise, uma vez que a cidade olímpica está "se expondo" para o mundo, transformando-se em cenário apto para a acumulação de capital. A "alta performance" do sistema de transporte olímpico faria com que os atletas, árbitros, mídia, VIPs, torcedores, visitantes e famí/ia olímpica pudessem completar seus papéis e performances nos palcos dacidade. A "performance" dos transportes será avaliada pela plateia compostapelafamília olímpica, pelos espectadores e pelos tele-espectadores ao redor do mundo, por meio da sua projeção midiática. Essa performance dará o sinal para as forças de capital investirem ou não na cidade. Bem como um salto ornamental errado, um erro da sistema resultará em nota baixa o Rio não ganhará a meda/ha de investimento.

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7. A Barra da Tijuca e o Rio 2016

2016 programará, nos rodovias existentes, faixas exclusivas para a "famíiia olímpica" e os "clientes". Estava previsto, no projeto inicial, urna linha de BRT (Bus Rapid Transit) que conectaría o terminal de ônibus Alvorada com o bairro suburbano da Penha. Essa linha liga-

O Dossiê Rio 201 6 aponta a Barra da Tijuca como "região de expansão e conectividade", "área de expansão natural da cidade" e adverte que esse bairro suburbano é "o lugar preferido pelas famílias para adquirir seu primeiro imóveI. Por isso, as atividades comerciais na região também estão em pleno crescimento" (Ibid, p. 43). Um projeto de marketing intitulado "Cidade Barra", financiado pelo governo municipal e publicado no jornal O G/obo em 29 de setembro de 2013, trazia os seguintes títulos nos principais artigas: "Um novo ciclo de crescimento", "Todos os caminhoslevam ao bairro", "Londres inspira modelo carioca", "A Barra é uma necessidade da Rio", "Nova rota de desenvolvimento", "Usina de oportunidades" (propagandas desse tipo apareciam junto às propagandas de carros zero km). De fato, Barra da Tijuca é uma zona de crescimento, ande as familias de classe média e média alta pod em encontrar imóveis mais em conta do que na já consolidada Zona Sul. Conforme dados que demonstram as áreas de crescimento urbano, a Barra da Tijuca a zona administrativa da cidade que tem mais construções de imóveis residenciais por metro quadrado. Essa situação, juntamente com os

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em prol dos interesses que articularam o projeta Rio 2016 na primeira instância. Esses interesses são as empresas de ônibus, as grandes empreiteiras de imóveis e as grandes empresas de construção civil que financiam

as campanhas

políticas.

Vê-se na projeção Rio 2016 urna tentativa de conectar todas as zonas corn "um anel de alta performance" (Dossié 2016, vol. 1, p.

23). Esse anel, apresentado ao público pela primeira vez no dossiê, refere-se à construção de "urna rodovia de até seis faixas queconectarão a zona Barra com a zona Deodoro".

Para completar

o anel, Rio

é

mente ofereceram

digna.para

moradia

a população da Barra da Tijuca OBGE, 2011).

a classe média, fez com que

crescesse

470/0 entre 2000 e 2010

que entrar nos condomínios

Como indicou o dossiê Rio 2016, o cresci menta do setor imobiliário na Barra da Tijuca não só beneficia os construtores, mas também o complexo industrial que floresce em torno de sistemas de

moradia móveis,

em condomínios locadoras

ciais acompanham

fechados.

imobiliárias,

Múltiplos

shoppings,

o crescimento

da população.

comer-

Em todos os pontos

de expansão na região, existe urn mercado de trabalho no setor de serviços. Tipicamente, esses trabalhos não são formais nem bern remunerados. Não há dados disponíveis para confirmara hipótese, mas

é bem provávei que as pessoas .que trabalham

como garçons,

segu-

ranças, faxineiros, jardineiros ou motoristas não tenham condições de morar formalmente na região. Porisso, a Barra da Tijuca .precisa de transporte público, para que esses trabalhadores passarn se.direcionar para o bairro. ~ Um resultado

desse processo é que a paisagem

outra paisagem.

"natural",

Se a primeira

a outra paisagem

.

a pé se distingue pela sua modalidade

de locomoção. A escala da Barra da Tijuca não é humana, fazendo com que o carro (paradigma de mobilidade individual) seja a escolha "natural" para problemas de mobilidade.

lojas de

lojas 'de carros e escritórios

mal, de prédios de condomínio,

.

já foi apontado, o modelo de moradia preferido é fechados, acessíveis somente com carro. Quem tem

doviário. Como de condomínios

residencial

for-

8. Iscar, enganar, chibatar Desde que foi anunciado que o Rio de Janeiro seria a sede dos Jogas Olímpicos 2016, mais três linhas de BRT foram incluídas no projeta (Figura 3). A Trans-Oeste ligará a Barra da Tijuca a Santa Cruz, bairro localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e a Trans -Brasil ligará o bairro industrial/portuário do Caju a Santa Cruz. No total, esses projetas significarão omaior investimento na malha viária da história da cidade, mudando para sempre as regiões neles incluídas. Ao menos duas linhas de BRT são projetas que existiam há anos e estão senda desengavetados pela questão olímpica.

acessível pelo carro privado, produz paisagem

é escondida

é visível,

identificada

e, ignorada.

A primeira

como

pai-

sagem pertence às "famílias" de classe média alta que fazem parte do novo mundo de consumo. As pessoas que trabalham na Barra da Tijuca e que não têm condições financeiras para morar lá habitam outra paisagem, não olímpica, e precisam enfrentar rnuitos desafíos para "adquirir seu primeiro irnóvel". A evidência

desse

processo esconderijo

se encontra no dose reforçam o discurso .. tanto na mídia quanta na academia é o da

siê Rio 2016 e nos vídeos que contribuem Um caso bem conhecido

Vila Autódromo, um assentamento de baixa renda na beira da Lagoa de Jacarepaguá. A história da Vila Autódromo e sua Iuta para permanecer frente às tentativas de remoção associadas a megaeventos esportivos merece mais detalhada atenção. No contexto da presente

análise, apenas apontaremos

que a Vila Autódromo

não aparece, na

cartografia Rio 2016. Nos vídeos iniciais da campanhaRio 2016,os sobrevoos da cidade ofuscavam comunidades carentes. Essa tendência se estendeu peJa cidade inteira, uma vez que o prefeito Eduardo Paes pediu ao Google que mudasse sua maneira de mapear¡a cidade, afirn de não destacar as favelas em suposto detrimento à cidade. formal (ANTUNES, 2011). ; Odossiê

Rio 2016

"atividades comerciais"

aponta

como

para a fronteira 90

primordial

urbana

a expansão

das

da Barra da Tijuca.

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Figura 3. Bus Rapid Transit lines e Rio 2016. Essa representação mostra que três das quato linhas de BRT convergirão na zona olímpica da Barra da Tijuca. SÓ uma dessas linhas, a Transolímpica, estabelecerá uma conexão com outra zona olímpica. A Transbrasi I conectará as zonas Maraeanã e Deodoro, mas até outubro de 2013 o projeto ainda não havia sido licitado e dificilmente sairá do papel antes de 2016. A

91

Linhas de Bus Rapid Transit (BRT) são exclusivas para o tráfego de ônibus e com paradas limitadas. O Dossiê Rio 2016 (2008) delimitou a construção de uma linha de BRT (ligando o terminal Alvorada na Barra da Tijuca à Penha) e a extensão da "Iinha um" do metrô da Zona Sul até a Alvorada. Depois de vencer a competição para sediar os Jogos em 2009, no entanto, o governo municipal encurtou a linha de metrô e estendeu o projeto T5 (anteriormente projetado no Plano Doxiadis de 1965 e posteriormente conhecido como Trans-Carioca) até o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), acarretando a ampliação do custo inicial de R$900 milhões para R$l ,5 bilhão. Desde que foi anunciado que o Rio de Janeiro seria a sede dos logos Olímpicos 2016, mais três linhas de BRT foram incluídas no projeto. A Trans -Oeste ligará Santa Cruz ao Jardim Oceânico e à nova "Iinha quatro" do metrô, a Trans-Olímpica ligará a região Olímpica de Deodoro à Barra da Tijuca e a Trans-Brasil ligará Deodoro ao aeroporto Santos Dumont (Mapa 1). O custo previsto para essas linhas é de mais de R$3,2 bilhões. Tais linhas terão um impacto permanente nas formas de deslocamento da cidade, e impactarão profundamente as comunidades por onde passarem. Porém, o governo sequer apresentou dados justificando a implementação dessas linhas, que também não foram previstas no plano diretor da cidade em vigor. Para fazer com que as Olimpíadas fortalecessem a tendência "naturalizada" para a cidade ocupar a fronteira da Barra da Tijuca seria necessário superar barreiras. No contexto da cidade, isso significaria a necessidade de trazer pessoas que não moram na região para trabalhar. Em termos geográficos, seria necessário uma compressão de espaço e tempo para agilizar o deslocamento humano diário. Uma segunda barreira que impediria o crescimento da região seria a falta de oferta de trabalho e moradia para as classes mais abastecidas. Nesse sentido, o projeto olímpico está atuando como um especulador no mercado, financiando dois grandes projetos de moradia de alto padrão, a Vila Olímpica e o Parque Olímpico. Isso está acontecendo ao mesmo tempo em que o governo federal está subsidiando casas de baixa qualidade em zonas da cidade distantes dos lugares do trabalho (Figura 4). Em compensação, novas linhas de transporte estão sendo construídas para facilitar o deslocamento para a Barra da Tijuca. Como é que o projeto Rio 2016 poderia resolver

esse problema?

Figura 4. Mapa de índice de Desenvolvimento prego e População

na Cidade

Humano,

Minha Casa Minha Vida, Em

do Rio de Janeiro. Fonte: ETTERN/IPPUR/UFRj,

2012.

O mapa da Figura 4 mostra a alta concentração de empreendimentas do programa "Minha Casa Minha Vida" na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma zona com baixo nível de lOH, ulna carência de transporte e poucos trabalhos formais. Se considerarmos que o emprego funciona como polo de atração para moradores da cidade, é claro que o APl e o AP2 atraem as pessoas diariamente. Nessas regiões administrativas, são concentrados 59.06% dos trabalhos da cidade e 18.45% da população. Esse embalance significa que é preciso deslocar pessoas das outras regiões administrativas para seus trabalhos. Isto é, os projetas de mobilidade, para atender as demandas existentes, deveriam criar ligações entre as concentrações de população e de trabalho. No mapa das BRTs acima, vemos que o projeta Rio 2016 está articulando a cidade com a Barra da Tijuca (AP4), ande estão concentrados apenas 11 .72% dos trabalhos formais da cidade. Em suma, as linhas de BRT não conformam às carências atuais de mobilidade. Não é por acaso que a mão de obra barata está senda desloca da para zonas da cidade com baixos níveis de desenvolvimento hu mano. Nessas, os terrenos são mais baratos - justamente porque eles não contam com acesso a transporte e trabalho. Em contrapartida, os terrenos nas zonas APl e AP2 estão tendo uma forte valorização,

92 93

como um todo (GAFFNEY, 2014). ironicamente, é o AP4, a Barra da Trjuca, aregiâo mais balançada ern termos de emprego Ei trabalho, [ustamentaa área que está recebendo os maiores investimentos em

transpörte público. O processo de especulação ìmobtltáría se intensifica: na Barra da Tijuca, como ilustra o anúncio publicitário reproduzido na Figura 5.

Figura 5. The City. Essa foto, publicado no jornalOGlobo no dia 5 de outubro, dernonstra o processo de especulação irnohiliária na Barra da Tijuca em pleno vapor. As referências para outras cidades consideradas "globais" são evidentes não só no nível discursivo, "inspirado nos mais importantes do mundo", mas tarnbérn nos nomes dados aos prédios (Manhattan, Berlim, Tókio, Paris, e Lakefront Mali). As significações são todas ern inglês, o que implica associações não locais. Em outras momentos. no mesmo jornal, The City publicou fotos mostrando sua proximidade ao futuro Parque Olímpico, às linhas de BRT e a vários shoppings. Na minha leitura, é bastante revelador que, nessa foto, não apareça nenhum ser humano.

9. O Porto Maravilha e acidade esquizofrênica NaFigura 6, encontra-se urna ilustração do que será a futura região portuária e, na Figura 7, está apresentado o projeto de mobilidade para a região do Porto Maravilha.

94

Figura 6. Essa ilustração, de um setor especial de marketing, foi publicada dois dias depois do setor sobre a Barra da Tijuca no jornalOGlobo (27 e 29 de setembro de 2013). Mais uma vez patrocinadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro, as páginas descrevem os projetos da prefeitura em toda a cidade. A referência para uma nova cidade é discursivamente carregada com significações de "renovação", "revitalização" e "transformação", mas em poucas instâncias menciona os projetos em andamento e em nenhum momento menciona as populações que moram na região do porto. Na foto, há uma amostra do Museu do Amanhã, em construção no Píer Mauá.

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relevado nos meses posteriores à "conquista" dos Jogas.

1 O. Os "Legados" dos Megaeventos esportivos

Figura 7. Essarepresentação demonstra urnnovo projeta de mobilidade para-o Porto Maravifha. Orçado ern R$2 bilhões, trata-se,iqe linhas deVelculosLevss sobre Trilhos (VLT). O VLT Centro não teráarticulações rnultimodais è não é prevista sua extensão para outras regiões da cidade. O orçarhento do projeto é equivalents a todo o investimento feito nos, ramais de trens (Supervia), que articulam o centro da cidade com os subúrbios. ;.

Desde a realização dos Jogas;de Barcelona, as cidades candidatas tinham perseguido osonho olímpico 'com a finandade de transformar a eldade. Os "julgamentas" da plateia posicionam Barcelona 1992 como a referência de um projete bem-sucedido. O consenso comum é que as 'Olimpíadas colocararn Barcelona na vitrine mundial, impulsionanda reformas socioéspacíals que transformaram uma cidade "degradada e pós-lndustrìal" num polo turístico internacional e num urban marketplace pos-moderno. Sem sombrada dúvida, Barcelona sofreu uma rápida transformação no decorrer dos Jogos e depois, mas os efeitos desse processo são bastante ambíguos (BORJA e Muxí, 2003; GUSMÃO DE OLIVEIRA e GAFFNEY, 2010; TREMLETT, 2012). A percepção de um caso bem-sucedido elimina quase toda a evidência negativa e faz com que todas as cidades candidatas tomem Barcelona 1992 como ponto de referência. Uma das "conquistas" mais citadas dos jogas de Barcelona é a renovação da zona portuária. Apesar de não ter urna representação cartográfica do projeta do porto, o desejo de repetir a experiência catalã no Rio de Janeiro é bastante explícita no dossiê Rio 2016: "A transformação da zona portuária em um grande bairro residencial, de entretenimento e turismo, que renovará o elo entre o porto e o coração da cidade" (Ibid, vol. 1, p. 27). Dessa maneira, o dossiê de candidatura revela e esconde os projetas que quer realizar. É claro que haverá uma mudança na área portuária, mas não há indicações visuais no dossiê, nem detalhamento do conceito do projeto. Junta96

Apesar da particularidade do caso de Barcelona e na tentativa de seguir esse modelo em face de denúncias de abusos dos direitos humanos e gastos públicos astronômicos, surgiram várias justificativas para a inversão pesada de dinheiro público para garantir os lucros das grandes empresas multinacionais associadas ao COI. Como já demonstramos, os catalães faziam um grande negócia com consultorias para cidades aspirantes e muitos comentaristas atribuem as ideologias de urbanismo empresarial a eles. Como fruto desse processo de city marketing e o imperativo de criarem constelações discursivas para justificar o subsídio público para lucro privado, a partir dos Jogas de Sidney em 2000, a palavra "legado" surge como elemento discursivo (GUSMÃO DE OLIVEIRA, 2012). A escolha de uma cidade como sede de megaeventas esportivos quase sempre significa o aporte de grande quantidade de recursos dentro de seu espaça urbano, que vão muito além dos montantes habitualmente a ele destinados nos orçamentos municipais, estaduais e federais. Sem dúvida, o setor que gera maior expectativa nos munícipes é a rede de transportes porque, se de fato implementada, influenciará diretamente a mobilidade urbana da população e, portanto, seu cotidiano. O fenômeno global dos megaeventas sempre tern impactos locais, abrindo caminhos para pesquisas sobre as ligações entre economias, políticas públicas e sociedade que definem o contexto atual de global ização. A justificativa para grandes investimentos pode ser resumida com a palavra e 'discurso do "legado". Legado, no sentido empregado pelos boosters dos megaeventos, quer dizer benefício permanente para a cidade e seus cidadãos. Conforme a lógica dos boosters, o alto investimento público trará benefícios permanentes para todos os setares sociais nos campos de saúde, educação, meio ambienté, transporte, economia, trabalho, etc. O legado é a justificação para os investimentos bilionários que são "necessários" para um megaevento esportivo se realizar na cidade. Entendemos a palavra "legado" como urna ferramenta discursiva que esconde as relações de poder e que justifica a implementação autoritária de projetas de grande porte que alterarão de maneira permanente a estrutura espacial da cidade. Atrás da palavra "legado", existe um complexo de interesses privados que está senda beneficiado pelo alto investimento público em infraestrutura voltado para os megaeventos. Sugerimos que a palavra "Iega97

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cristalizam nos espaças que são por si gerados. Quer dizer, o legado estimula rnudanças sócioespaciais que são autorreferentes, geranda um feedback loop contínuo que nega a possibilidade de intervenção social ou democrática. No contexto atual,a construção de empreendirnentos esportivos, novas polos de reestruturação urbana e especulação imobiliária, geração de noves modelos de segurança pública e a criação das linhas BRT na eldade-do Rio de Janeiro são promovidos pelo poder público e seus parceiros do setor privado como os "legados" dos megaevenros esportivos. ¡

Uma das características dos megaeventas esportivos é que o curto prazo de preparação para o evento abre a possibilidade de instalar projetas que não tinham tida: força política ou social para sair do papel, Esses projetas de mobilidade urbana são dirigidos por discursos olímpicos que enfatizam um suposto legado eco-friendliness (LOLAND, 2006). O estímulo à mobilidade urbana e à conectividade de fluxas articuladores das Zonas Olímpicas do Rio, entretanto, impactará seriamente o meio ambiento, a sociedade e, especialmente, o tecido urbano, que sofrerá cortes profundos e permanentes. Essa situação será particularmente grave.·,ao langa das linhas BRT Transcarioca e BRT Transolímpica. Em ambos os casos, as linhas cortarão urn tecido urbano já consolidado. A forma em que as linhas de BRT estão senda implantadas é especialmente preocupante porque representam o major investirnento na malha rodoviária da história da cidade. O conjunto de projetas está valorizado em mais de R$4,2 bilhões e terá mais d,e 150 km de extensão. Ao langa das trajetórias serão deslocados milhares famílias, e linhas de transporte de alta velocidade serão inseridas no meio de comunidades. No primeiro ano de funcionamento do BRT Transoeste, morreram mais que dez pessoas.Vale ressaltar que os projetas estão senda desenhados e desenvoividas para privilegiar uma região da cidade que vai receber altos níveis de investimento público para a realização da Copa do Mundo e dos Jogas Olímpicos (MATTOS, 2009). .:

Conclusão A análise apresentada, como o projeta olímpico, é.bastante incompleta. A proposta de entender o Rio 2016 por meio de fronteiras; barreiras e mobilizações revelou que o projeta tem como base a acumulaçãode capital em todas as suas formas. Embora a teorização necessite ser refinada, a intencionalidade do projeta, tanto na primeiraquantona segunda realização, é claramente revelada. Nessa con-

uma forma mais específica. Os grandes projetas de infraestrutura envoividas na preparação para os jogas Olímpicos do Inverno de Vancouver em 2010 atropelaram processas democráticos de planejamenta urbano, desapropriaram casas e se estenderam para zonas ecológicas até então consideradas muito frágeis (SHAW, 2008). Processes semelhantes aconteceram nas cidades olímpicas de Pequim (CLOSE, ASKEW e XU, 2007), Atenas (SAVRIDES, 2010), Sydney (BINGHAM-HALL, 2006), Atlanta e Barcelona (GUSMÃO DE OLIVEIRA e GAFFNEY, 2010). A natureza de curto prazo para a implementação das mudanças e as demandas específicas dos megaeventas esportivos gerarn oportunidades para que interesses partieulares consigam evitar processas "normais" de licitação, efetivamente driblando instituições democráticas para a realização dosprojetos. A experiência do Rio de Janeiro com megaeventas não é em nada diferente (RAEDER, 2007; MASCARENHAS, BIENENSTEIN e SÁNCHEZ, 2011). No Rio de Janeiro, o processo para sediar os Jogas Pan-americanos de 2007 (PAN) seguiu a mesma trajetória dos megaeventas na época pós-moderna." O PAN foi notávei pela falta de planejamenta, as desapropriações em comunidades carentes, urn orçamento estourado e projetas mal elaborados que não deixaram benefícios proporcionais aos gastos (GAFFNEY e MELO 2010; GUSMÃO DE OLIVEIRA, 2012; GIBSON, 2009). Essa experiência fai considerada exitosa pelo governo e instituições internacionais de esparte (FIFA e COD, abrindo o caminho para que o Brasil e o Rio de Janeiro se candidatassem pelo direito de sediar a Copa. do Mundo de 2014 e os logos Olímpicos de 201 6. A reestruturação urbana decorrente dos Jogas Pan-americanos 2007, entretanto, apenas reforçou a já elevada concentração de renda e poder na cidade do Rio de Janeiro e no país, uma vez que claramente privilegiou as demandas de consumo e de acumulação de capital dos segmentos mais abastados da sociedade. Isso se deu de forma violenta, sobretudo por meio de desapropriações e rernoções forçadas, marcadas pelo desequilíbrio de forças nos conflitas a etas relacionados e pela falta de transparência. Nesse processo, observouse expressiva desvantagem para os grupos de menor poder aquisitivo que residiam no entorno dos n-ovos equipamentos urbanos construídos. Há evidências de que os preparativos para os Jogas Olímpicos de 201 6, especialmente no que diz respeito ao sistema do transporte, estão sendo construídos da mesma maneira (OLIVEIRA, 2009; MACDOWELL, 2011; KASSENS-NOOR e GAFFNEY, 2013). 4

98

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Las Angeles 1984 como o início desse processo de pós-modernização.

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102

MEGAEVENTOS SOCIAlS:

ESPORTIVOS,

DINÂMICA

URBANA E CONFLITOS

INTERVENÇÕES URBANAS E NOVO DESENHO PARA A

CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Maria Josefina Gabriel Sant'Anna Leopoldo Guilherme Pia

1. Introdução A literatura contemporânea no campo da sociologia urbana vem destacando o papel dos fenômenos de segmentação social e da segregação residencial na reprodução das desigualdades sociais e da pobreza. As metrópoles sedes de megaeventas esportivos, como ressaltam alguns de seus estudiosos, podem ter esses seus problemas agravados, em especial aquelas de países em desenvolvimento. Aa final dos grandes eventos esportivos, como estariam as cidades sedes em relação às suas disparidades socioespaciais intra e interurbanas? As intervenções ligadas aos megaeventas acabariam por produzir cidades mais desiguais, mais pobres e mais fragmentadas do que eram antes dos megaeventos? O presente artiga busca refletir sobre essa questão e trazer urna ponderação crítica sobre aspectos da dinâmica socioespacial da cidade do Rio de Janeiro haje face às intervenções que ocorrem no seu espaça, para abrigar os megaeventas esport.ivos (Capa do Mundo e Jogas Olímpicos), com especial atenção para os conflitas sociais daí decorrentes. A lógica desse tipo de intervenção tern na sua origem um ideal de cidade concebido pelo modelo de gestão estratégico, que por meio do marketing urbano torna a cidade um espaça de grande atratividade e competitividade, adaptada à lógica do capitalismo global. Para que este ideal seja concretizado, são necessárias intervenções urbanas sistemáticas e reguladas que, no caso do Rio de Janeiro, materializam-se por meio de um conjunto de ações planejadas, das quais será focalizada, aqui, o Porto Maravilha. 103

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