Fundamentos da linguagem visual na composição de infográficos

September 18, 2017 | Autor: Luciano Adorno | Categoria: Graphic Design, Data Visualization, Gestalt Theory, Infographics and data visualization, Infographics
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Fundamentos da linguagem visual na composição de infográficos

Fundamentos da linguagem visual na composição de infográficos Bases of the visual language in the composition of infographics Adorno, Luciano; Mestrando; Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Sousa, Richard Perassi Luiz de; Dr; Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Reginato, Bruna Rovere; Pós-graduanda; Universidade do Vale do Itajaí [email protected]

Resumo O objetivo deste artigo é defender e justificar a relevância dos fundamentos da linguagem visual para a composição de infográficos. Consideram-se como elementos básicos de infográficos: pontos, linhas, planos e manchas, sendo os mesmos elementos que caracterizam a composição e a comunicação visual desde a pré-história. Esses elementos compõem a expressividade dos projetos e produtos de Design. No texto, são apresentadas reflexões sobre Teoria da Forma e Linguagem Visual, com base nas idéias de Lupton e Phillips, Wong, Dondis e Perassi. Além da apresentação de conceitos, dados históricos e discussões sobre Infografia, com base no pensamento de Ribeiro, Rossi e outros autores. Palavras-chave: Composição visual. Comunicação Visual. Infografia Jornalística.

Abstract The objective of this paper is to defend and to justify the relevance of the bases of the visual language to composition of infographics. It is considered as basic elements of infographic: points, lines, planes and spots, and they are the same ones that characterize the composition and visual communication from prehistory. These same elements make up the expressiveness of designs and Design products. In the text, reflections are presented about Form’s Theory and Visual Language, based on Lupton and Phillips, Dondis and Perassi. Besides the presentation of concepts, historical datas and discussions on infographics, based on Ribeiro, Rossi and others authors. Keywords: Visual Composition. Visual Comunication. News Infographic.

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1. Introdução: Infografia Jornalística e Design Gráfico A palavra “infografia” é proveniente do termo inglês infographic, que é muito utilizado no contexto editorial norte-americano. Em língua espanhola e portuguesa são utilizados os termos “infográfico” e “infografia (RIBEIRO, 2008). Essas palavras, “infográfico” e “infografia”, designam sistemas de informações mais elaborados do que as tradicionais ilustrações figurativas, porque são gráficos informativos que comportam e fazem interagir textos lingüísticos, gráficos, tabelas e figuras, entre outros elementos, para compor textos auto-explicativos e de tipologias diferentes, que atendem a diversas finalidades (fig. 1).

Figura 1: Língua (Fonte: KANNO, 2010)

A própria composição das palavras indica as funções dos objetos que essas designam. Em português, o termo “grafia” refere-se aos traçados de diagramas, de gráficos e da própria escrita. O termo “info” remete à informação, sendo ainda comumente associado às tecnologias digitais. A informação gráfica é pertinente aos textos escritos, mas é igualmente relacionado às imagens gráficas que, também, apresentam-se como linguagens atuantes no campo semânticocultural. Assim, o termo infográfico é associado ao campo jornalístico e editorial como um todo, envolvendo ainda a área de Design Gráfico. Seja nos formatos impressos, eletrônicos ou digitais, a atividade de Jornalismo se utiliza constantemente da infografia. Por isso, seus veículos compõem um campo privilegiado para o estudo da infografia, a qual é denominada “infografia jornalística”, cujo foco é a informação noticiosa, que é relacionada aos eventos da atualidade (WURMAN, 1991). As áreas de Jornalismo, Infografia e Design Gráfico desenvolvem características multidisciplinares, relacionando-se entre si e também com outras áreas do conhecimento. Como produtos da área de Infografia, os infográficos são objetos multidisciplinares, apresentando-se, algumas vezes, como campos de interdisciplinaridade e, outras vezes, como campos de transdiciplinaridade. O primeiro trabalho gráfico que, atualmente, é considerado como a primeira infografia jornalística, foi publicado em 1702, no primeiro jornal diário da Europa chamado Daily Courant (SND-E, 2002). Desde o início, portanto, a infografia participou da comunicação

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jornalística. Nos anos 1970 e 1980, as camadas mais abastadas ou “cultas” da população consideraram a infografia como recurso para analfabetos, com a utilização de imagens e esquemas visuais para socializar a informação. Mais tarde, a partir dos anos 1990, a infografia predominou na comunicação noticiosa, especialmente, durante a cobertura jornalística da “Guerra do Golfo”. As informações sobre essa guerra eram escassas e faltavam fotografias sobre os acontecimentos. Assim, foram necessários recursos informativos e ilustrativos alternativos, como a infografia, para informar os leitores (RIBEIRO, 2008:90). A infografia continua cumprindo o papel de explicar uma notícia de modo mais didático e informativo, complementando os textos escritos na comunicação jornalística, em diversos meios, sejam impressos, eletrônicos ou digitais. Há uma dinâmica plural e hipertextual na composição da infografia. Isso aumenta a redundância da mensagem, por meio de recursos diversificados, ilustrando, reforçando e esclarecendo as mensagens escritas, com imagens e esquemas gráficos. Pois, muitas vezes, apenas o texto escrito não possibilita o entendimento eficiente da mensagem. Considerando mais especificamente a mídia impressa, o presidente da Society for News Design da Espanha (SND-E) afirma que a infografia salvará o jornal impresso da extinção (ERREA, 2008), sendo que essa idéia é referendada por outros profissionais. A infografia é um meio que melhora a qualidade comunicativa dos jornais impressos, contribuindo para o aumento das vendas e permitindo sua concorrência com meios eletrônico-digitais, como a televisão e a Internet (KALKO, 2008). Atendendo parte dos objetivos deste texto, fica indicado que a área de Infografia Jornalística produz infográficos para publicações editoriais divulgadas em diversos meios. A infografia participa da área de Jornalismo, representando notícias de acordo com pautas e com linhas editoriais pré-determinadas. Além disso, a infografia jornalística é muito antiga, porque é encontrada já na origem dos jornais diários. Até hoje, a infografia agrega valor à publicação jornalística, apesar de ter sido alvo de críticas em alguns momentos de sua história. Contudo, outra parte dos objetivos deste texto aborda a estrutura expressivo-comunicativa dos infográficos, sendo estruturada a partir da interação compositora dos elementos gráficos mais básicos, que são compostos com base nos fundamentos da linguagem visual.

2. A composição visual na estruturação de infográficos Os recursos gráfico-informativos utilizados em um infográfico são compostos com os mesmos elementos básicos de toda composição visual: ponto, linha, mancha e plano. Pois, até mesmo os textos escritos são visualmente compostos por esses elementos. Na estruturação dos textos lingüísticos e dos textos figurativos ou esquemáticos de uma infografia, esse conjunto de quatro elementos visuais é multiplicado e organizado para resultar em uma comunicação atrativa, significante e didática. Os pontos, as linhas, os planos e as manchas, compõem os alicerces do design. Partindo destes elementos, os designers criam imagens, ícones, texturas, padrões, diagramas, animações e sistemas tipográficos (LUPTON e PHILLIPS, 2008:13). As dificuldades no planejamento e na execução de uma infografia requerem justamente a capacidade do designer de assimilar informações e gerar associações abstratas e figurativas, que possibilitem construir uma composição diferenciada e, portanto, distintiva e atrativa. Entretanto, ao mesmo tempo, essa composição deve ser didática e comunicativa, de acordo com o objetivo informativo do processo editorial-noticioso. O designer que se dedica à infografia noticiosa busca atrair e informar o leitor, porque na atuação geral do infográfico a comunicação predominantemente estética e a comunicação predominantemente semântica são igualmente necessárias para a eficiência atrativa e comunicativa da mensagem.

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De acordo com os objetivos da infografia, o aspecto gráfico-formal, primeiramente, pode ser mais importante que o lingüístico-textual. Há uma pesquisa do Poynter Institute (1991), que foi citada por Rossi (2007: 02), indicando que, em um jornal ou revista, as ilustrações e os infográficos são percebidos por 80% dos leitores. O segundo lugar é ocupado pelas fotografias, que são percebidas por 75% dos leitores. Os títulos são percebidos por 56% dos leitores. Entretanto, os textos escritos ocupam apenas o sétimo lugar na prioridade de percepção dos leitores. A palavra “composição” indica o modo como são organizados os elementos no espaço ou no tempo. Por exemplo, as artes da decoração, da pintura, do desenho, entre outras, distribuem elementos no espaço. As artes musicais distribuem elementos no tempo. As artes teatrais ou cinematográficas distribuem elementos no espaço e no tempo. Dondis (2007:29) afirma que o processo de composição é o passo mais importante da resolução de problemas visuais. Os resultados dessas decisões de composição destacam o significado da declaração visual e têm fortes implicações sobre o que o espectador vivencia e compreende. A infografia é um exercício de composição visual e as soluções desse processo ocorrem de modo intencional e, às vezes, de modo casual. Munari (2001) descreve tipos de comunicação visual proposital e, também, outros tipos de composição ou comunicação não-intencional. Portanto, ambas acabam sendo utilizadas na construção de um infográfico. Depois que foram adotados e incorporados ao processo, a intencionalidade já atuou sobre todos os tipos de soluções propostas. Assim, o que separa as soluções compositoras intencionais das casuais, não é necessariamente a intencionalidade, mas o momento em que a solução foi intencionalmente incorporada ao projeto. As soluções intencionais são incorporadas anteriormente e as casuais posteriormente à sua realização. Por exemplo, um borrão, um rabisco ou um esboço pode ser incorporado intencionalmente à composição, depois de ter acontecido de modo não premeditado ou não intencional. Na visão de Lupton e Philips (2008:233), existem as regras e acasos, podendo-se utilizar processos baseados em regras para gerar resultados visuais inesperados.

3. Descrições e funções dos recursos gráfico-informativos Baseado nas possibilidades expressivo-compositoras dos elementos básicos da linguagem visual, o designer de infografia projeta uma sintaxe visual, compondo formas, figuras e relacionando várias figuras com outros elementos. Essa sintaxe é constituída para expressar um conteúdo semântico, que é proposto pelo texto jornalístico, anteriormente escolhido e encaminhado pelo editor. A sintaxe visual, entretanto, define um conteúdo próprio, uma mensagem que é constituída na mesma estrutura expressiva que foi criada para suportar ou mediar a mensagem jornalística. Sobre isso, McLuhan (1974) assinala que “o meio é a mensagem”, considerando que “as sociedades sempre foram moldadas mais pela natureza dos meios pelos quais os homens se comunicavam do que pelo conteúdo da comunicação”. Ao definir as funções da linguagem, Jakobson (1977) relaciona a “função poética” à forma como é estruturada a mensagem, “o pendor para a mensagem como tal, o enfoque da mensagem por ela própria, eis a função poética da linguagem”. No livro “Estrutura Ausente” (ECO, 2007), que foi traduzido para a língua portuguesa, o mesmo conceito aparece como “função estética”. Portanto, segundo esses autores, função poética ou estética da linguagem é diretamente relacionada à forma de estruturação expressiva da mensagem. A sintaxe visual do infográfico, estrutura o suporte ou o meio expressivo da mensagem jornalística, compondo um conteúdo significativo, que é próprio do meio de expressão. Esse conteúdo interfere decisivamente no processo geral de significação ou na semântica geral do

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infográfico noticioso, reforçando ou contradizendo os sentidos propostos na mensagem jornalística. O modo de apresentação dos elementos gráficos na composição de textos escritos, de imagens ou de outros esquemas gráficos, também, determina o processo de percepção e interpretação da mensagem, definindo seu potencial de comunicação. A expressão dos elementos e a configuração geral da imagem influenciam diretamente no seu valor de atração. Depois que o olhar do leitor foi atraído e agradado, esse se sente estimulado a desenvolver uma percepção mais detalhada. Aproveitando essa disposição, um design eficiente de infográfico deve ser suficientemente auto-explicativo, para que o leitor possa se inteirar rapidamente do sentido geral da notícia. Assim, haverá ainda disposição do leitor para concentrar-se na leitura da parte escrita mais extensa que caracteriza o texto jornalístico. O “ponto” é o elemento considerado como a “menor unidade visual” (PERASSI, 2008) e, nos processos gráficos, é a matriz de todas as expressões e representações. O ponto pode ser percebido como a pressão da ponta de uma caneta sobre um suporte de papel. Mas, de modo geral, nos processos de expressão e representação artesanais, industriais e digitais, são os conjuntos de pontos que determinam imagens, como nas pinturas impressionistas compostas pela técnica denominada de “pontilhismo”. Nas retículas de uma impressão off-set ou no conjunto de pixels, que constitui a substância visual da tela do vídeo de um computador, os pontos praticamente invisíveis são reunidos e organizados ou codificados para representarem linhas, manchas e planos que, por sua vez, representam figuras, objetos, gráficos e escrituras, entre outras possibilidades. Como é conceitualmente definido como unidade mínima, o ponto é representado de diversas maneiras sem ter que apresentar uma configuração definida. Assim, não é necessariamente percebido como um pequeno círculo e pode ser expresso por um pequeno quadrado ou por uma forma irregular. O ponto é conceitualmente considerado um mínimo indivisível e como o menor sinal visível. Portanto, não é considerado prioritariamente por suas dimensões ou por sua configuração, mas por sua função visual (Idem, 2008). A precedência do ponto nos processos gráficos é decorrente da descoberta de que sua organização em conjuntos pode configurar ou representar os outros elementos visuais básicos, como as linhas, as manchas, os planos e, a partir desses, as figuras e todas as outras imagens. Na história das artes gráficas, a mancha é tradicionalmente representada por conjunto de pontos, que compõe retículas (fig. 2) para sugerir os tons de cinza ou meios-tons e compor a mescla física das cores impressas. Na história da pintura, entretanto, a mancha pictórica é tradicionalmente o elemento básico de expressão e representação. Durante muito tempo, o desafio clássico para os procedimentos gráficos foi representar com competência os resultados pictóricos ou fotográficos que, primeiramente, eram obtidos com a pintura e, posteriormente, com a fotografia

Figura 2: retícula gráfica (Fonte: PERASSI, 2008)

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Pontos próximos, alinhados em uma mesma direção, direcionam o olhar do espectador compondo, por exemplo, linhas e setas (fig. 3). Pontos percebidos muito próximos entre si perdem sua individualidade, passando a integrar outro elemento visual, que é preferencialmente percebido (DONDIS, 2007:55).

Figura 3: Direção setas (Fonte: DONDIS, 2007)

Segundo Wong (2008:42), as linhas são elementos conceituais ou abstratos que, no plano, caracterizam-se como formas bidimensionais em que a dimensão de comprimento e a sugestão de movimento predominam sobre outras características. Assim, apesar de se fazer referência a linhas espessas ou finas, considera-se principalmente o cumprimento e o movimento da linha. Pois, uma linha é, basicamente, a conexão entre dois pontos ou o trajeto de um ponto em movimento (LUPTON e PHILLIPS, 2008:16). As linhas são representadas por formas compridas, cujas funções são demarcar e configurar, indicando percursos e direções ou representando figuras (fig. 4). Devido à sua funcionalidade, a linha é considerada um elemento abstrato e um recurso tipicamente gráfico, porque este recurso não é encontrado na natureza e tão pouco na configuração dos objetos tridimensionais. Existem fios, hastes flexíveis e outros elementos físicos cuja aparência se assemelha a linhas, todavia, um fio só pode ser considerado uma linha se for percebido como recurso de demarcação de espaços ou de configuração de formas ou figuras.

Figura 4: Linhas (Fonte: LUPTON e PHILLIPS, 2008)

Como elementos de representação, as linhas expressivas irregulares e desordenadas propiciaram representações mais naturalistas e artístico-emocionais, esse tipo de representação predominou na maior parte da história da arte. As linhas geométricas curvas ou retas, organizadas como horizontais, verticais, diagonais, paralelas, ortogonais, circulares e semicirculares, entre outras, assumiram um caráter mais abstrato e regular, permitindo o desenvolvimento de linguagens técnico-projetivas, cujas representações são mais simbólicas e idealistas (PERASSI, 2008).

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A percepção direta de elementos da natureza e de representações pictóricas ou fotográficas é decorrente do contraste entre as manchas de múltiplas cores e tonalidades. Por isso, as linhas não são percebidas contornando objetos ou elementos da paisagem. Os planos, no âmbito da comunicação visual, são distintos das manchas por critérios de uniformidade (fig. 5).

Figura 5: Plano e mancha (Fonte: LUPTON e PHILLIPS, 2008)

Por definição, as manchas são visualmente menos uniformes, apresentando variações de tonalidade, de cor e de textura, em sua superfície, enquanto os planos se mostram uniformes, expressando uma única tonalidade ou cor, que é regular, sólida ou “chapada”. Tradicionalmente, o plano é reconhecido na expressão do fundo do suporte, que serve de base para as composições gráficas, com pontos e linhas, ou pictóricas com manchas diversificadas.

4. Linguagens e técnicas de expressão dos recursos gráficos. As imagens compostas por contraste entre manchas, sem apresentar contornos lineares, são composições que expressam o modo fotográfico de representação. Por outro lado, as imagens compostas por linhas e pontos explícitos, com figuras que, geralmente, resultam do fechamento de linhas sobre o plano, são composições que expressam o modo gráfico de representação. A história das artes gráficas mostra o desenvolvimento de linguagens e técnicas de expressão visual, que permitiram ao modo gráfico sugerir ou representar o modo fotográfico de representação (Idem, 2008). Atualmente, por meio dos recursos digitais da computação gráfica e devido ao alto grau de desenvolvimento dos processos de impressão, o modo gráfico domina quase que totalmente nos processos de representação. A própria fotografia digital é graficamente estruturada. Todavia, o processo gráfico-digital está plenamente habilitado para sugerir ou representar o modo fotográfico de representação. Na prática, isso superou definitivamente as diferenças visuais entre o modo gráfico e o modo pictórico ou fotográfico que, desta forma, coexistem indistintamente na infografia composta por processos digitais (fig. 6).

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Figura 6: Info ponte (Fonte: NIENOW, 2010)

As imagens gráficas e fotográficas são digitalmente representadas por conjuntos de pixels, que se expressam como pontos na composição de linhas, planos e manchas, possibilitando a geração de formas complexas como as “imagens síntese”, que aparentam ser índices fotográficos, mas que nunca existiram fora da realidade virtual. A manipulação digital de pixels permite uma infinidade de possibilidades capazes de atender aos mais espetaculares objetivos estéticos ou semânticos (fig. 7).

Figura 7: Pixel (Fonte: LUPTON e PHILLIPS, 2008)

Além de habilidades discursivas e técnicas, os designers de infográficos devem conhecer os recursos tecnológicos disponíveis para seu trabalho e entender a linha estético-editorial da publicação e o público para o qual é destinada a informação. Isso propõe um trabalho de gestão de design, que é estruturado em gestão do processo tecnológico de produção, gestão do ambiente ideológico de criação e gestão dos recursos discursivos de significação e comunicação, aplicados na criação, na produção e na comunicação da infografia. Uma vez que foram superadas as dificuldades técnicas da informação, é necessário estabelecer uma visão estratégica, a partir do ambiente cultural e do imaginário dos leitores. Assim, potencializados pela tecnologia digital, os antigos elementos e os modos básicos de

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composição visual, como pontos, linhas, manchas, planos, compostos no modo gráfico ou fotográfico, além de suficientes são agora mais flexíveis. O desenvolvimento da computação gráfico-digital elevou praticamente ao infinito as possibilidades criativas e comunicativas da infografia porque permite, quase que instantaneamente, a composição de formas muito complexas, considerando-se as variações de configuração, os efeitos de textura, as sugestões de volumes, as variações cromáticas e tonais que, tradicionalmente, correspondem aos valores expressivo-visuais das formas. A evolução e a difusão da informação gráfico-digital, também, influenciam diretamente no modo de percepção e de relação dos leitores com o mundo. A produção gráfica, cujo resultado impresso ainda depende dos processos analógicos, é cada vez mais facilitada pelo uso eficiente de softwares, que atuam em máquinas de precisão com alta capacidade de reprodução e fidelidade. Tudo isso impõe a transformação estético-perceptiva dos leitores inseridos na etapa contemporânea da cultura da mídia. A cultura da mídia é muito antiga, remontando a milhares de anos antes da era cristã, porque os processos de composição visual têm suas raízes na pré-história, como as pinturas e gravuras rupestres das cavernas de Lascaux, que datam de 15.000 anos a.C. As representações pré-históricas já apresentam os elementos básicos da comunicação visual, ponto, linha, mancha e plano. Todavia, os processos de reprodução gráfica desenvolveram um longo percurso até a impressão off-set, que é o meio mais comum de impressão na atualidade. Como foi dito, os processos de impressão, ainda hoje, dependem de relações mecânico-analógicas, todavia, a tecnologia digital suprimiu muitas etapas, agilizando e potencializando os processos de criação e de transferência do projeto gráfico, da instância de criação para a instância de impressão.

6. Considerações finais sobre linguagem visual e tecnologia gráfico-digital. Desde a pré-história até os dias atuais, os elementos básicos da composição visual, ponto, linha, mancha e plano, garantiram o desenvolvimento da linguagem visual e da linguagem gráfico-visual. Em integração com o desenvolvimento discursivo, foram evoluindo também as técnicas compositoras das imagens e das escrituras e as tecnologias de representação e reprodução das figuras e de outros textos. É importante dizer que, apesar de antiga no tempo, a infografia jornalística ainda é um dos formatos mais completos e avançados de comunicação, devido as suas potencialidades discursivas, que reúnem imagens, gráficos e textos escritos, entre outros recursos de comunicação. Isso é evidente porque os infográficos organizam os elementos básicos da composição visual, tanto para compor imagens quanto escrituras e, ainda, propõe outros esquemas gráficos. Oferecidos em diferentes linguagens e possibilitando diversos percursos de leitura, esses recursos informativos e comunicativos configuram o caráter de multitextual e hipertextual da infografia. Além de oferecer aos leitores múltiplos textos, a infografia permite aos leitores coordenar livremente sua leitura, porque não há necessariamente uma ordem fixa de interpretação. Por exemplo, pode-se ler primeiramente a escritura e posteriormente observar as imagens ou decodificar os esquemas gráficos. Os roteiros são livres e mesmo que seja prevista uma ordenação, é possível a composição de novos percursos e a produção de leituras diferenciadas, a partir da individualidade dos leitores. A aplicação eficiente dos fundamentos compositores da linguagem visual, a partir de seus recursos e técnicas, é fator determinante para a construção de um infográfico noticioso eficiente, independente dos recursos tecnológicos usados. Isso porque os elementos gráficos, que são articulados na composição de uma imagem, permanecem sendo os pontos, as linhas, 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

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as mancham e os planos, reunidos e organizados para configurar imagens, gráficos e escrituras. Os materiais, as técnicas e as tecnologias, entretanto, são responsáveis pela expressão da linguagem visual. Sendo assim, é necessário o domínio técnico para expressar o domínio discursivo. Por exemplo, com o uso de um software que simula a representação em três dimensões (3D), a composição poderá ser pensada e apresentada, sugerindo diversos ângulos de visão e permitindo até mesmo a projeção de um holograma animado em ambiente digital. Neste artigo, não houve uma diferenciação sistemática da infografia noticiosa nos meios eletrônicos e na mídia impressa, considerou-se suas possibilidades de comunicação gráfica, que é inerente à área de Design Gráfico, seja essa prevista para a mídia impressa, para a mídia eletrônica ou para mídia eletrônico-digital. No caso de mídia impressa, considera-se na gestão de design o processo de impressão, com suas possibilidades e limitações de tecnologia e de informação. Os infográficos impressos são determinantemente planos e estáticos. Por sua vez, os suportes planos eletrônicos, como os vídeos eletrônicos tradicionais ou vídeos eletrônico-digitais, permitem o uso de recursos de animação de imagens e ilusões espaciais muito convincentes. Nesses casos, os elementos básicos de composição e comunicação visual, ponto, linha, plano e mancha, são ordenados para propor configurações, tonalidades, cores, texturas e volumes dinâmicos de figuras que se movimentam, sugerindo deslocamento espacial em diversos sentidos das três direções básicas, largura, altura e profundidade. Os recursos digitais oferecem agilidade e versatilidade à composição visual, permitindo a criação e interação de efeitos expressivos muito diferenciados na informação gráfica jornalística. Isso surpreende cada vez mais o público leitor, confirmando e ampliando as melhores expectativas de designers de infografia, com relação às possibilidades estéticas e discursivas dos infográficos. 7. Referências DONDIS, D. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ECO, U. A Estrutura Ausente. São Paulo: Perspectiva, 2007. ERREA, J. Por qué la infografia salvará el periodismo, in: . 02/08/2008. JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1977. KALKO, A. A infografia vai salvar o jornalismo, in: , 06/07/2008. KANNO, M. Mostra nacional de infografia , 11/09/2010.

2009,

in:

LUPTON, E.; PHILLIPS, J. Novos fundamentos do design. São Paulo: Cosac Naify, 2008. MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1974.

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MUNARI, B. Design e comunicação visual. São Paulo: Martins Fontes, 2001. NIENOW, F. Info ponte, in: , 03/09/2010. PERASSI, R. Fundamentos da Linguagem visual. Florianópolis: UFSC, 2008. RIBEIRO, S. Infografia de imprensa: história e análise ibérica comparada. Coimbra: Minerva Coimbra, 2008. ROSSI, G. Gestão de design: operacional e estratégico na mídia jornalística impressa. 4º Congresso Internacional de Pesquisa em Design. Rio de Janeiro, 2007. SND-E. Infografia: I exposición de gráficos periodísticos. Pamplona: Indexbook, 2002. WONG, W. Princípios de desenho e forma. São Paulo: Martins Fontes, 1998. WURMAN, R. Ansiedade de informação. São Paulo: Cultura, 1991.

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