GARRAFFONI, R. S. ; FUNARI, P. P. A. ; FUNARI, P. P. A. ; Pinto, R. . O estudo da antiguidade no Brasil: as contribuições teóricas recentes. In: Pedro Paulo Abreu Funari; Richard Hingley; Renata Senna Garraffoni; Renato Pinto. (Org.). O imperialismo romano.

September 15, 2017 | Autor: P. Funari | Categoria: Historia Antiga, Historia da Ciência, Arqueologia Clássica e História da Arte, Arqueologia
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GARRAFFONI, R. S. ; FUNARI, P. P. A. ; FUNARI, P. P. A. ; Pinto, R. . O estudo da antiguidade no Brasil: as contribuições teóricas recentes. In: Pedro Paulo Abreu Funari; Richard Hingley; Renata Senna Garraffoni; Renato Pinto. (Org.). O imperialismo romano. 1ed.São Paulo: Annablume, 2010, v. 1, p. 9-25.

O estudo da Antigüidade no Brasil: as contribuições das discussões teóricas recentes

Dra. Renata Senna Garraffoni UFPR Dr. Pedro Paulo Funari UNICAMP Ms. Renato Pinto Doutorando em História/Unicamp

“Não há nada de misterioso ou de natural na autoridade. Ela é formada, irradiada, disseminada; é instrumental, é persuasiva; tem posição, estabelece padrões de gosto e valor; é virtualmente indistinguível de certas idéias que dignifica como verdadeiras, e das tradições, percepções e juízos que forma, transmite, reproduz. Acima de tudo, a autoridade pode e realmente deve ser analisada. Edward Said, Orientalismo, p. 31.

Os estudos sobre o mundo antigo têm passado por um momento de renovação e esse aspecto não ficou despercebido da academia brasileira. Talvez essa renovação seja um dos grandes legados de Edward Said: quando na década de 1970 escreveu seu livro Orientalismo (2001), não poderia imaginar os desdobramentos de suas críticas e os profundos impactos que causaria entre os estudiosos do mundo antigo. Ao afirmar que o Orientalismo foi uma construção européia de base acadêmica, profundamente marcada por uma política imperialista e que ajudou a construir uma noção de inferioridade dos povos do Oriente, Said abriu a possibilidade de se pensar criticamente os discursos produzidos no meio acadêmico, seus conceitos e intenções. Profundamente influenciado pelo pensamento de Michel Foucault (Rago & Funari 2008), Said questionou a maneira como a academia Ocidental, em especial a européia, constituiu interpretações do outro marcadas por uma política de autoridade e abriu caminhos para que os estudiosos questionassem generalizações e se posicionassem criticamente diante dos métodos

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interpretativos criados no seio da academia, eivados de concepções racistas e atravessados por políticas de dominação. Ao centrar suas críticas no Eurocentrismo, Said provocou polêmica, mas também sensibilizou estudiosos de diferentes áreas a pensar como conceitos e modelos interpretativos são construídos e não naturais, despertando a atenção para um repensar das ferramentas conceituais empregadas pelos estudiosos. Muito embora seu foco fosse nas relações estabelecidas entre Oriente e Ocidente, ao afirmar que a relevância Oriente foi constantemente diminuída pelo Ocidente a partir do século XIX, Said inspirou novas possibilidades de se pensar essas relações e abriu caminho para Martin Bernal, nos anos de 1980 afirmar que o mundo antigo não se distanciava da política moderna (Bernal, 1987; 2005). Ao propor que as interpretações do mundo grego foram fundamentais para a construção de discursos de poder da Europa sobre outras partes do mundo - na virada do século XIX para o XX - Martin Bernal contribuiu para questionar a idéia de neutralidade dos estudos do mundo antigo, noção muitas vezes reforçada pela distância temporal entre Modernidade e Antigüidade. Ao retirar os estudos clássicos da “torre de marfim” ou “torre de observação” e de seu suposto isolamento, Bernal apontou, em vários de seus trabalhos, como esse pretenso afastamento é uma atitude política, pois os estudos clássicos nunca foram isentos dos momentos históricos nos quais foram produzidos, constituindo, portanto, parte de discursos de dominação. Essa crítica de Bernal trouxe desconcertos e incômodos para os estudiosos do mundo antigo, pois explicitou em suas obras como na virada do século XIX para o XX muitos especialistas do mundo antigo constantemente apagaram as origens orientais da Grécia, construindo interpretações fundamentadas em uma visão anti-semita que ajudou a legitimar discursos racistas e de poder. Desconstruindo os modelos aplicados para o estudo do mundo grego, Bernal enfatizou em seus trabalhos a necessidade de rever modelos interpretativos cristalizados, categorias de estudos culturais estagnadas e normativas, bem como o papel da academia na constituição de políticas autoritárias e visões de mundo preconceituosas. Cada um em seu contexto, Said e Bernal iniciaram um movimento que atualmente é crescente e mesmo predominante, dentro dos estudos acerca do mundo antigo: um repensar de como se escreveu a História Antiga e como os conceitos empregados para interpretá-la estão atravessados por noções colonialistas e imperialistas da virada do século XIX para o XX. Essa consciência crítica tem trazido 2

novos ares para a disciplina. Como afirmou, há pouco, Glaydson José da Silva (2007), os estudos sobre o mundo antigo, em especial a Antigüidade clássica, visto constantemente como tradicional, conservador e hierárquico, têm experimentado uma grande renovação, na qual busca questionar esses ranços históricos a partir de uma revisão teórica profunda. Revisão essa, gostaríamos de ressaltar, que tem não só proposto novas problemáticas de estudo, mas também desenvolvido um repensar de como são constituídas as relações passado/presente e suas implicações políticas (Silva e Martins 2008). Assim, o novo panorama teórico aberto pelos desdobramentos das correntes de pensamento pós-colonialistas permitiu uma profunda problematização do estudo da História Antiga, desafio instigante e que tem atingido estudiosos de diferentes instituições, estrangeiras e brasileiras, possibilitado um maior diálogo entre especialistas. É a partir dessa situação histórica, das renovações experimentadas pelo estudo da Antigüidade nas últimas duas décadas, que gostaríamos de focar nossas reflexões acerca da importância de se pensar sobre Roma antiga nos dias de hoje no Brasil e a vinda do Richard Hingley ao nosso país, como professor visitante da Escola de Altos Estudos da CAPES, assim como a publicação deste volume. A interação antigüidade e modernidade tem permitido tratar de temas variados, como as relações de gênero (Feitosa & Rago 2008;

Silva 2008), cidadania (Rago & Funari 2008),

sexualidade (Cavicchioli 2008), amizade (Ionta & Campos 2008), identidades (Garraffoni 2008), com apoio institucional da CAPES, CNPq, FAPESP, de modo a constituir uma reflexão crítica e atualizada.

A CAPES, preocupada com a inserção da ciência brasileira nas mais pertinentes discussões epistemológicas da atualidade, instituiu um programa notável, a Escola de Altos Estudos1. Esta iniciativa visa a congregar, em torno de um especialista estrangeiro de máximo renome internacional, um conjunto significativo de programas de pósgraduação e de estudiosos brasileiros. Richard Hingley, no campo da erudição sobre a Antigüidade, correspondia, de forma aguda, à excelência e destaque no campo dos estudos sobre o mundo antigo, como detalhamos a seguir 2. Os programas de pósgraduação em História de excelência da Unicamp e UFPR 3 reuniram, para a 1

Cf. http://www.capes.gov.br/bolsas/programas-especiais/escola-de-altos-estudos. Cf. também http://www.dur.ac.uk/richard.hingley/. 3 Na avaliação atual da CAPES, o curso da Unicamp obteve a nota máxima 7 e a UFPR também marca muito boa, 5; cf. http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesquisarIes&codigo 2

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concretização do projeto, uma série de outros programas destacados no cenário nacional: UNESP Franca, UNESP Franca, UFRJ, Unirio, UEL, UFRGS, UFPel, UnB, entre outros. O curso foi sediado na Unicamp e tele-transmitido para todos os programas de pós-graduação participantes, que receberam, ademais, cinco DVDs, com a íntegra das aulas.

História Antiga no Brasil: breve histórico

Estudar História Antiga no Brasil pode parecer algo bem exótico. Essa sensação atinge, de uma maneira ou outra, todos aqueles que optaram por esse caminho. Se estudar História em um contexto de revolução tecnológica já causa estranhamento em grande parte das pessoas com os quais convivemos cotidianamente, o que dizer então da História Antiga? Mas o estranhamento não está presente somente entre nossos compatriotas. Muitos europeus também acham curioso o fato de que na América Latina existam pessoas que se interessam por temas como os antigos egípcios, mesopotâmicos persas, gregos ou romanos, só para citar alguns exemplos. Nesse sentido, pensar a relação do Brasil com aquilo que denominamos História Antiga é uma questão importante que, mais cedo ou mais tarde, atravessa o dia a dia dos que se dedicaram a se especializar nessa área. É por isso que acreditamos que uma reflexão sobre a produção de estudos sobre o mundo antigo no Brasil não pode estar desvinculada da maneira como se desenvolveu nas academias brasileiras e sua relação com as escolas. Funari (2006) ao refletir sobre o ensino e História antiga no Brasil afirma que desde o início da década de 1960 se discute os temas de História Antiga sobre os quais os professores deveriam conhecer. Muito embora estivessem presentes nos livros didáticos e nas grades curriculares das escolas, havia pouquíssimos especialistas na área das Universidades e, geralmente, o conhecimento era muito superficial. Essa situação foi acirrada pelos anos de ditadura atravessados pelo Brasil, nos quais as políticas institucionais nem sempre privilegiaram as Humanidades, fazendo com que por algumas décadas, os estudos sobre a História Antiga fossem pouco valorizados. Somente com a abertura política e com o restabelecimento dos direitos civis que o ensino de História em geral, e a História antiga em particular, experimentaram novas possibilidades de desenvolvimento. Area=70500002&descricaoArea=CI%CANCIAS+HUMANAS+&descricaoAreaConhecimento=HIST% D3RIA&descricaoAreaAvaliacao=HIST%D3RIA.

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A ANPUH (Associação Nacional de Professores Universitários de História, hoje Associação Nacional de História) se constituiu um lugar muito importante para se discutir os temas a serem privilegiados dentro da História Antiga. Desde a década de 1980 mesas de discussões foram compostas para discutir a situação desse campo de conhecimento no Brasil, seus problemas, as dificuldades e os avanços. Em meados dos anos de 1990, por exemplo, o Boletim do CPA publicou alguns dos debates acerca da produção de História antiga no Brasil, com destaque para as reflexões de Claudiomar Gonçalves (1997) e Pedro Paulo Funari (1997). Enquanto o primeiro fez um balanço da situação das academias brasileiras, os problemas, avanços e conquistas no período após a abertura política, Funari destacava as dificuldades da pesquisa sobre o mundo antigo no Brasil, como a falta de cursos de línguas especializadas ou o acesso a bibliografia mais atual, mas também enfatizou que as barreiras vinham sendo transpostas graças a esforços individuais e a organização e fortalecimento de sociedades de estudo, como a SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos). O desenvolvimento e a organização de grupos de pesquisas fora do eixo Rio/São Paulo e os desdobramentos das iniciativas estariam sendo percebidos na melhora do ensino e na formação profissional, preparando melhor os pesquisadores e, conseqüentemente, trazendo mais apoio para professores do ensino médio, com publicações nacionais sobre o mundo antigo, algo raro até então. Em 2001 o tema voltou a aparecer nas discussões da ANPUH. Com a formação dos GTs (grupos de trabalho), o de História Antiga passou a ser de grande importância para congregar os estudiosos dos períodos mais afastados no tempo e espaço. Essa reunião para formação do grupo contou com a presença de pesquisadores de diferentes instituições federais e estaduais, entre elas UFMG, UFOP, UFES, UFRJ, Unicamp, USP, UNESP. Professores e pós-graduandos, em um esforço coletivo, produziram um balanço dos avanços dos estudos sobre o mundo antigo no Brasil nas últimas décadas: a produção de teses, mestrados, livros, artigos científicos, as alterações nos livros didáticos, a criação de núcleos de estudos em diferentes regiões do Brasil, enfim, um panorama bem detalhado da produção brasileira até então, que pode ser conferida em um dossiê especial publicado pela Revista Eletrônica Helade 4.

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Cf: http://www.heladeweb.net/Portugues/indexportugues.htm. Número especial: Anais do Grupo de Trabalho (GT) de História Antiga - Realizado no XXI Simpósio Nacional da ANPUH de 23 a 25 de julho de 2001 e Coord. por Gilvan Ventura da Silva (UFES)

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O fortalecimento dos espaços de discussão, seja na ANPUH como na SBEC ou nos centros de estudos sobre o mundo antigo como o LHIA (UFRJ), o CEIA (UFF), o NEA (UERJ), entre tantos outros, tem propiciado, nas últimas décadas, a formação de profissionais capacitados e a produção de interpretações do mundo antigo inserida em um contexto internacional. Seguramente, o quadro de hoje é muito distinto do que tínhamos nos anos de 1960 e os esforços de estudiosos têm cada vez mais aberto campos para o estudo aprofundado seja dos egípcios, mesopotâmicos, celtas, como da Antigüidade Greco-Romana. A expansão do campo tem proporcionado um maior diálogo com o ensino médio e, conseqüentemente, arejado o ensino nas escolhas e tornado a essa experiência mais satisfatória e prazerosa para todos. Embora a História Antiga abarque muitos povos da Antigüidade e grupos de estudos especializados tem se fortalecido em diferentes instituições brasileiras, gostaríamos de comentar mais a fundo as particularidades das pesquisas sobre a Antigüidade Clássica, os diálogos entre Arqueologia e História, campo que temos atuado nos últimos anos.

Algumas considerações acerca dos estudos clássicos no Brasil

Como nas últimas duas décadas foi constituída uma estrutura mais sólida para o desenvolvimento dos estudos clássicos no Brasil, as Universidades públicas têm buscado contratar especialistas oriundos de programas de pós-graduação e investido em possibilidades de organizar as grades curriculares de maneira menos rígida, viabilizando o estudo das línguas clássicas. Nesse sentido, em várias Universidades os alunos dos cursos de História tem tido um pouco mais de oportunidade para participar dos cursos de latim e grego, de literatura Greco-romana e, também, dos cursos de Filosofia clássica, auxiliando o conhecimento mais aprofundado dos textos greco-romanos, facilitando, portanto, o acesso à leitura e interpretação das obras. Se por um lado essa estratégia permitiu uma maior aproximação dos textos clássicos e a possibilidade de novas abordagens, por outro cabe destacar que se tornou a perspectiva predominante e pouca atenção foi destinada à Arqueologia, relegando a cultura material a um segundo plano. Em um primeiro momento, é possível pensar que a maior dificuldade seria o acesso à cultura material e aos sítios arqueológicos que, por definição, encontram-se na Europa, África do norte e Oriente Próximo. Mas uma análise mais cuidadosa indica uma série de outros problemas mais complexos precisam ser analisados, pois é importante destacar que alguns museus brasileiros, como o MAE/USP 6

ou o Museu Nacional do Rio de Janeiro, possuem coleções de peças do mundo clássico, como cerâmicas e moedas, por exemplo, ainda pouco estudadas por pesquisadores brasileiros5. Neste contexto, acreditamos ser importante destacar que, para além das dificuldades de acesso a cultura material greco-romana, que poderiam ser suplantadas por meio de trabalhos integrados com grupos de pesquisas no exterior ou mesmo pelo estudo dos artefatos das coleções de Museus brasileiros, há um outro aspecto que precisa ser destacado: o tenso diálogo entre História e Arqueologia. Como nas últimas décadas as Universidades públicas brasileiras tem se esforçado em contratar especialistas oriundos de programas de pós-graduação, houve um investimento no estudo das línguas clássicas, para a leitura dos textos, mas poucos se dedicaram ao diálogo com a Arqueologia, relegando a cultura material a um segundo plano. A dificuldade de estabelecer um diálogo entre Arqueologia e História, embora tenha suas particularidades no território nacional, não é uma exclusividade dos estudos clássicos no Brasil. Ray Laurence (2005), em um recente estudo, afirma que na GrãBretanha as pesquisas nestes dois campos correm quase em paralelo e nem sempre os profissionais concordam com o diálogo, procurando reafirmar a separação entre ambas as disciplinas. Neste contexto, é possível afirmar que a separação entre as disciplinas é mais uma postura teórico-metodológica que uma dificuldade de acesso às fontes, pois implica em discutir a percepção de História e Arqueologia na qual o classicista é formado e, também, na sua postura diante da possibilidade ou não de concretizar este diálogo. A partir destas considerações, acreditamos ser importante buscar meios de preencher essa lacuna no território brasileiro. Se admitirmos que Arqueologia tem uma grande contribuição para ajudar a pluralizar nossas percepções acerca do mundo romano é imprescindível provocarmos uma reflexão teórico-metodológica para buscar por novos conceitos para interpretar o passado clássico. Nesse contexto, optamos por reunir, nessa obra, artigos de Richard Hingley, estudioso britânico de nomeada mundial, que tem sistematicamente contribuído para um repensar das maneiras como entendemos a noção de Império romano. Considerando a Arqueologia pelo prisma das críticas póscoloniais, as reflexões de Hingley têm indicado caminhos alternativos para se entender o passado romano e, além disso, suas pesquisas têm enfatizado que a cultura material, 5

Com relação às moedas, Carlan chama a atenção para essa questão em vários estudos. Cf, por exemplo: Carlan, 2006a; 2006b; 2007 e 2008.

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quando contraposta aos textos, proporciona novas abordagens sobre as relações estabelecidas entre os nativos e romanos durante o principado. Assim, acreditamos que a iniciativa de publicar textos de diferentes momentos da carreira do estudioso, inéditos em português, permitirá ao publico brasileiro um maior contato com sua trajetória intelectual, bem como possibilitará uma reflexão mais aprofundada acerca das múltiplas maneiras que nos relacionamos com o passado romano em nosso tempo presente.

Sobre o estudioso

Richard Hingley é professor do Departamento de Arqueologia da Universidade de Durham, na Inglaterra. Nos últimos anos, tem se dedicado a diferentes áreas de atuação nas quais incluem estudos arqueológicos sobre as populações romanas das províncias do norte e oeste da Grã-Bretanha e sobre os povos pré-romanos da Idade do Ferro, bem como tem refletido sobre a importância de revisões teórico-metodológicas para possibilitar novas abordagens acerca do passado clássico. Em 2008 Hingley aceitou nosso convite para ministrar um curso concentrado na Unicamp6 e, com o apoio da Escola de Altos Estudos da Capes, pudemos concretizar esse projeto. A vasta produção do autor não é tão conhecida no Brasil, como o é no mundo, inspiradora por diferentes razões. Para além de nos apresentar o Império romano a partir de uma visão imbricada em reflexões teórico-metodológicas, Hingley aponta a necessidade de refletirmos com mais profundidade sobre os motivos que levam os modernos a se interessarem pelo mundo romano. Assim, embora o estudioso tenha produzido uma vasta publicação em periódicos e livros, é importante salientar a presença de um eixo comum que perpassa sua obra, pois há cerca de duas décadas tem contribuído com o debate sobre como as populações nativas foram incorporadas ao Império Romano, além das mudanças culturais e sociais ocorridas durante este processo. Pensando as relações entre romanos e povos nativos, Hingley colaborou com a construção de um campo de reflexão bastante complexo, questionando interpretações canônicas acerca do mundo romano, como a idéia de Romanização, a partir de um estudo aprofundado do contexto histórico em que a maioria das concepções acerca do Império romano foi criada. 6

Cf. http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/2008/07/26/escola-de-altos-estudos-da-capes-eunicamp-trazem-professor-britanico.

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Neste sentido, as publicações de Hingley devem ser entendidas dentro de uma perspectiva de desconstrução de discursos imperialistas do início do século XX que fundamentaram conceitos e leituras sobre o passado romano, tanto na História como na Arqueologia, posteriormente aceitos como verdades e pouco questionados pelos estudiosos. A base de sua crítica se constitui, portanto, a partir da ruptura com modelos interpretativos Eurocêntricos, na tentativa de construir interpretações mais flexíveis acerca do Império romano, oferecendo ao leitor a possibilidade de buscar caminhos alternativos para pensar a relação entre culturas, tornando-se uma referência importante para aqueles que se interessam pelo mundo antigo em geral e o romano em particular.

A estrutura desse livro

Este volume reúne quatro artigos de Richard Hingley, inéditos em língua portuguesa, publicados em primeira versão entre 1991 e 2008. Os textos foram escolhidos pelo autor em conjunto com os organizadores da obra. Estão todos interligados pela preocupação em analisar, com agudo senso crítico, os discursos que geraram e ainda promovem os estudos sobre o processo de ‘Romanização’, como é tradicionalmente denominada a expansão territorial e cultural romana que se deu, principalmente, entre o fim da República e o primeiro século do período imperial. Ainda que abranjam quase duas décadas de pesquisas, os artigos escolhidos nada mais são do que uma amostra da produção acadêmica de Richard Hingley. Desta forma, não se busca esgotar os temas aqui tratados. Todavia, devem levar o leitor a uma visão ampla o suficiente para a necessária reflexão sobre o processo de ‘Romanização’ na ótica pós-colonial do eminente estudioso.

The 'legacy' of Rome: the rise, decline, and fall of the theory of Romanization

Ao abordar de forma pouco ortodoxa, como afirma o próprio autor, as teorias da ‘Romanização’, Richard Hingley tratará de três tópicos inter-relacionados. Primeiro, analisará como políticos e acadêmicos britânicos se reapropriaram da história da expansão territorial romana para justificar suas ambições imperiais modernas e, neste intento, traçaram inúmeros paralelos entre o Império Romano e o Britânico. Os discursos imperialistas britânicos e os paralelos com o Império Romano são explorados 9

por Hingley a partir de depoimentos de políticos e intelectuais, em especial, do período vitoriano e eduardiano, momento de maior produção científica da Arqueologia Romana e de grandes preocupações com a eficiência do Império Britânico. O principal acadêmico do período eduardiano estudado por Hingley é o arqueólogo e historiador Francis Haverfield, pioneiro na Arqueologia sobre o período romano-bretão. Para Hingley, os trabalhos de Haverfield apontam para uma grande preocupação em tirar lições morais do Império Romano e aplicá-las ao cenário de sua época, ressaltando o sentido positivo da adoção da cultura clássica quando levada às províncias por meio da Romanização. Em seu segundo tópico, Hingley enfocará como a ‘Romanização’ tem sido estudada nos últimos setenta anos por acadêmicos que escreveram já no período de declínio ou posterior ao fim do Império Britânico. Nesse momento, a teoria da Romanização passa por um auge, acompanhado de uma mudança conceitual: agora a Romanização é um processo de adoção cultural, não imposição. O desejo de competir em moldes romanos com seus pares teria feito as elites nativas das províncias adotarem a cultura romana com entusiasmo. O trabalho do arqueólogo Martin Millett é a principal fonte de Hingley nesse tópico. No terceiro e último tópico, Hingley apontará para os problemas gerados pelo conceito de imperialismo positivo, propondo, em seu lugar, uma crítica dos discursos anteriores movida por teorias pós-coloniais. A partir do questionamento da noção de uma cultura colonial pura, o autor salientará a importância de olharmos para a diversidade identitária do Império Romano, para além da elite, desmistificando a idéia de passividade da população nativa diante das mudanças trazidas pela presença romana. Nesse contexto, Hingley problematizará a cultura material encontrada na província da Bretanha Romana, tratando da questão da resistência e da adoção da cultura material romana e da construção de sentimentos étnicos nas províncias. Apontará, também, para a necessidade de reavaliarmos conceitos estanques como ‘romano’ e ‘nativo’.

The Romano-British Countryside: the Significance of Rural Settlement Forms Originalmente publicado em 1991, esse artigo é o mais centrado nos modelos interpretativos arqueológicos. Aqui, Richard Hingley volta-se para aos estudos dos assentamentos rurais romano-bretões. O artigo escrutina a organização sócio-econômica das comunidades da província da Bretanha Romana ao levar em conta a forma e a

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distribuição dos assentamentos. No que se refere à categorização de sítios arqueológicos, indícios de riqueza têm sido importantes para determinar o que seriam villas, pequenas cidades ou assentamentos rurais modestos (não-villas). Também, o propósito econômico de cada assentamento, quer seja comércio, indústria ou agricultura, pode ser determinando pela cultura material encontrada. Hingley trata de cada tipo de assentamento individualmente, oferecendo suas definições e principais características materiais antes de explorar em detalhe a organização dos assentamentos e da paisagem que os cercam. Trata-se de um importante estudo técnico das formas e funções presentes nos assentamentos do período romano-bretão, dando ao leitor a capacidade de visualizar como modelos interpretativos arqueológicos podem mostrar uma situação socioeconômica muito mais complexa daquela sociedade quando comparada com visões mais tradicionais. CULTURAL DIVERSITY AND UNITY: EMPIRE AND ROME

Nesse artigo inédito, Richard Hingley explora a forma como os Estudos Clássicos ganham papel político e social ao emergirem com renovado interesse em diferentes momentos nos centros acadêmicos, em especial, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Hingley tratará da prática comum de aproximação entre o mundo romano e o presente, levada a cabo por acadêmicos e políticos ao estudar como conceitos de diversidade, pluralidade e heterogeneidade têm se desenvolvido nos Estudos Clássicos. O autor sugere que seja desenvolvido um passado do mundo romano mais complexo e fluído no que se refere às questões identitárias a fim de desafiar os discursos imperialistas modernos que se apóiam no passado para justificar e normatizar ações políticas do presente. Ao estudar como as teorias da ‘Romanização’ foram epistemologicamente construídas, em especial entre os séculos XIX e XX, Hingley tratará de explicitar como arqueólogos e historiadores britânicos têm promovido, por vezes, o uso enviesado do conceito de ‘civilização’ e ‘progresso’. Partindo de conceitos existentes no passado, como humanitas, Hingley cotejará relevantes dados sobre como se desenvolveram noções de civilidade e barbarismo desde o Mundo Antigo até a contemporaneidade, quando nações imperialistas fizeram crer que haviam herdado a missão civilizadora da qual os romanos sentiram-se imbuídos. Conceitos modernos de periferia e centro serão debatidos e postos em contraste com a apropriação do passado romano pelas potencias ocidentais a partir do séc. XIX. O autor explorará como a

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adoção de costumes romanos ou de sua cultura material não representa necessariamente a adoção de uma identidade romana. Hingley apresenta estudos que apontam para um cenário cultural e identitário muito complexo e diversificado quando a elite deixa de ser o único foco de atenção, apoiando-se em trabalhos de outros estudiosos de questões culturais do mundo romano como Nicola Terrenato, Greg Woolf e Carol van DrielMurray. Questões como o conhecimento do latim, urbanização, militarização e marginalização no Império Romano são tratadas para apresentar um cenário de grande heterogeneidade no Mundo Romano.

Hadrian’s Wall in theory: a new agenda Originally published as R. Hingley 2008 ‘Hadrian’s Wall in theory: a new agenda’, in P. Bidwell (ed.) Understanding Hadrian’s Wall. The Arbeia Society. Titus Wilson, Kendal. Aqui Hingley parte de uma preocupante constatação: há um crescente desinteresse em estudar aquele que pode ser considerado um dos maiores monumentos arqueológicos da Grã-Bretanha, a Muralha de Adriano, assim conhecida por ter sido construída por volta de 120 d.C. a mando do imperador romano de mesmo nome. A situação se apresenta mais crítica nas academias britânicas, onde os estudos a cerca do muro estão em franco declínio. Hingley aponta a subestimação da complexidade do monumento como um dos fatores para o baixo número de trabalhos de doutorado sobre a Muralha de Adriano. Para Hingley, esse menosprezo ignora como a fronteira construída pelos romanos influenciou a geração de sentimentos de identidade inglesa e escocesa e suscitou a atenção de muitos intelectuais britânicos ao longo de séculos. Curiosos, por exemplo, foram os paralelos traçados entre a Muralha de Adriano e as inquietações coloniais do Império Britânico com a fronteira nordeste da Índia. Em seguida, o autor clama por mais estudos comparativos entre a Muralha de Adriano e a simbologia que cerca sua longevidade, ou seja, sua ‘monumentalidade’, e os estudos dos limes romanos referentes a outras partes da Europa e da África do Norte, com ênfase na pesquisa sobre a relação entre invasores e populações indígenas. E, ademais, procura mostrar formas como a Muralha de Adriano pode novamente ganhar apelo acadêmico com a articulação de questões identitárias com ideologias imperiais, tanto do passado quanto do presente.

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A contribuição para o avanço de uma abordagem crítica do mundo antigo

Em primeiro lugar é importante destacar a potencialidade dos estudos póscoloniais e sua contribuição na construção de novas abordagens sobre o mundo antigo, em especial o romano. O questionamento de tradições modernas de pensamento, como a noção de Romanização, abre espaço para romper dicotomias como o binômio bárbaro/civilizado, expondo a complexidade das sociedades antigas, antes reduzidas a blocos culturais estanques. Em segundo lugar, acreditamos ser fundamental destacar que os trabalhos de Hingley, assim como de outros estudiosos pós-coloniais, apresentam a possibilidade da construção de uma postura crítica, baseada na interdisciplinaridade e na exposição dos avanços e limites das abordagens constituídas. Essa metodologia permite aos estudiosos uma reflexão crítica sobre a relação entre seu presente e o passado a ser interpretado, refresca as possibilidades de entendimento do mundo romano, tão marcado pela homogeneidade e interpretações normativas, e deixa aberto alguns caminhos para novas pesquisas sobre os marginalizados e os conflitos, praticamente esquecidos pelas perspectivas mais tradicionais de conhecimento.

Assim, acreditamos que a organização desse livro se constitui em uma contribuição profícua para um conhecimento mais aprofundado da expansão romana, em particular, mas também dos mecanismos de apropriação do mundo antigo para usos contemporâneos. Destacamos que compartilhamos com Hingley a preocupação em propor revisões teórico-metodológicas a partir dos desdobramentos das críticas póscoloniais na busca por outras maneiras para estudar do mundo romano, enfocando seus múltiplos aspectos. Sendo assim, a partir de um diálogo mais estreito com a obra do estudioso inglês, bem como com outros pesquisadores europeus que buscam uma interpretação menos estática do mundo romano, ressaltamos nossa preocupação em construir meios de diálogo com Arqueologia clássica, tornando-a uma importante ferramenta de reflexão. Como já afirmou Peter Ucko (1995), a Arqueologia permite a captura de aspectos particulares do passado e a construção de modelos teóricos menos

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excludentes. Assim, um diálogo profícuo com a História é fundamental não só para rever conceitos e desafiar as meta-narrativas, mas também para pensar outras formas de sensibilidades e de visões de mundo. Nesta perspectiva, entendemos que o presente livro contribui para o diálogo entre estas duas disciplinas e ajuda a construir novos contornos nos meios acadêmicos brasileiros abrindo outras possibilidades de produção de conhecimento e de reflexão social. Se considerarmos que enfatizando a diversidade e as múltiplas abordagens ajudamos a construir políticas práticas interpretativas fundadas no reconhecimento das diferenças (étnicas, sociais ou sexuais), contribuiríamos, portanto, para produzir visões críticas tanto do passado antigo como do presente em que estamos inseridos. Nesse sentido, a produção de interpretações acerca do passado romano a partir de uma reflexão teórica sólida e não somente focada nos ideais da elite é uma atitude que propicia a crítica e o desenvolvimento de novas sensibilidades. Ao formar novos lugares de reflexão é possível despertar empatia pelo tema estudado em jovens com diferentes formações e estimular meios de diálogo entre passado e presente não como mera herança ou continuidade, mas como diferença, como ruptura, como outras formas de viver e sentir. Boa leitura a todos!

Agradecimentos

Agradecemos ao Prof. Richard Hingley, por sua disposição de estar entre nós e por sua imensa simpatia. Também muito devemos a Christina Unwin, grande co-autora e parceira do Prof. Hingley. Somos gratos, ainda, a todos os professores que participaram do projeto, em particular: Cláudia Beltrão, Claudio Carlan, Margarida Maria de Carvalho, Fábio Vergara Cerqueira, André Leonardo Chevitarese, Gabriele Cornelli, Andrea Dorini, Norma Musco Mendes, Monica Selvatici, Glaydson José da Silva. Lembramos, ainda, a participação dos estudantes Andrés Alarcon, Natalia Ferreira Campos, Marina Regis Cavicchioli, Nathalia Monseff Junqueira, Karla Fredel, Adilton Martins, Gabriella Rodrigues, Bruno Sanches, Luciano Pinto, Roberta Alexandrina da Silva. Este livro não seria possível sem o apoio institucional da CAPES, Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE/Unicamp), Programas de Pós-Graduação em História da Unicamp e UFPR. A responsabilidade pelas idéias restringe-se aos autores.

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