Género e liderança: uma revisão da literatura

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Género e liderança: uma revisão da literatura Gender and leadership: a literature review Resumo Num contexto global, muitos fenómenos têm assumido um especial interesse por parte dos investigadores e dos agentes locais. Um aspeto que tem ganho um crescente interesse na literatura prende-se na influência do género no acesso aos cargos de liderança. Verifica-se que a maioria das empresas é de pequena dimensão, possuindo um conjunto restrito de recursos humanos e focalizando os seus recursos num contexto local. Mesmo assim, constata-se que não há propriamente a existência de um clima justo para ambos os géneros. As mulheres tendem a exercer os cargos menos relevantes num seio empresarial e os homens ocupam os cargos de chefia. Este artigo baseia-se numa aprofundada revisão de literatura acerca dos conceitos de liderança e género, procurando realçar as principais variáveis que são abordadas, bem como os resultados que têm sido destacados nas principais publicações. Pretendem-se destacar, igualmente, estudos futuros e recomendações que tenham como base as principais conclusões deste artigo. Keyworks: Género, Liderança, Empresas, Cargos, Agentes Locais Introdução A globalização, verificável numa generalidade de contextos, tem fomentado a investigação em diversas áreas e aspetos que outrora eram desprezados. Desta forma, a quantidade de estudos que se focalizam na resolução de problemas no curto e no longo prazo tem registado um incremento substancial e não deve ser negligenciada. Uma das áreas de estudo que, mais recentemente, tem sido o centro de análise por parte dos investigadores prende-se nas diferenças de género associadas à liderança organizacional. Zapalska e Brozik (2007) verificam que um grande conjunto de empresas tem um cariz familiar, sendo geridas por um conjunto de elementos que detêm uma visão semelhante e que focalizam os seus recursos num local restrito. Getz e Carlsen (2005) aprofundam esta conceção constatando que o aspeto central destas empresas nem sempre é a maximização de lucro, podendo apenas proporcionar recursos ou experiências distintas das demais. Contudo, as taxas de natalidade e de mortalidade das Pequenas e Médias Empresas (PME) são consideravelmente elevadas e tenderão a aumentar ao longo do tempo (Honjo, 2000; Parsa, Self, Sydnor-Busso, & Yoon, 2011; Parsa, Self, Njite, & King, 2005). No entanto, compreende-se que existe uma distribuição desigual de acordo com o género, onde os homens ocupam a grande maioria dos cargos de chefia do seio empresarial. Por outras palavras, de acordo com Costa, Carvalho e Breda (2011) as mulheres ocupam a maioria dos cargos de subordinação, ou seja, empregos temporários, sazonais e com poucas perspetivas de progressão na carreira. No entanto, Simão (2013) completa que esses empregos situam-se na base da pirâmide laboral, sendo que os cargos de maior relevância para uma organização são ocupados por elementos do género masculino.

O objetivo deste artigo prende-se na elaboração de uma aprofundada revisão bibliográfica tendo em conta a evolução conjunta dos conceitos de género e de liderança. Procuram-se demonstrar os principais aspetos que foram e que têm sido abordados na temática da liderança, como forma de, futuramente se constituir um clima de igualdade de oportunidades para elementos de género diferentes. Com base na literatura constatada, será possível realçar possíveis recomendações para eventuais estudos futuros, bem como cobrir gaps existentes na literatura. Revisão de literatura O primeiro passo para se compreender e delimitar a importância dos conceitos previamente estipulados, consiste na apresentação de definições existentes na literatura, respeitantes a género e liderança. Neste artigo não se pretende aprofundar a definição dos conceitos de uma forma detalhada, tendo-se optado em apresentar apenas as conceções mais frequentemente utilizadas. Assim, os termos de género e de liderança serão debatidos apenas de uma forma superficial, como forma de se delimitarem os estudos que se centralizem na problemática que é de verdadeiro interesse para este artigo. Género Para se compreender o conceito de género, serão apresentados os principais pareceres existentes na literatura. No entanto, existe uma certa falta de consenso na literatura no que concerne os conceitos de género e de sexo. Este último aglomera as diferenças que determinam os papéis sociais das mulheres e dos homens, centralizando-se nas características físicas identificáveis e fixas (Garrett, 1987; Reeves & Baden, 2000). Embora exista existam muitas confusões entre ambos os conceitos e, muitas vezes, sexo seja utilizado para definir o conceito de género (Henderson, 1994), nesta análise não serão abordados estudos baseados nessas especificidades. Mesmo sendo um conceito de difícil definição e que não gere consenso ao nível da literatura, compreende-se, em primeira análise, que o género relaciona o sexo biológico de cada indivíduo com o seu comportamento (Udry, 1994). Segundo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, 2006), o género descreve os papéis socialmente construídos para as mulheres e para os homens. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2012) aprofunda essa perceção e acrescenta a importância que uma sociedade assume na consideração dos atributos, comportamentos e atividades apropriadas aos homens e às mulheres. Possivelmente, a definição mais completa e devidamente estruturada é a de Swain (1995, pp. 258-259), ao destacar: “Género é um sistema de identidades culturalmente construídas, expressas em ideologias de masculinidade e feminidade, interagindo com relações socialmente estruturadas em divisões de trabalho e lazer, sexualidade e poder entre mulheres e homens.” Para todos os efeitos, o conceito de género é mais amplo que o de sexo, pois incide nos aspetos comportamentais e nas atitudes dos indivíduos. Daí, para efeitos deste estudo ( e também num contexto literário) se optar pela utilização deste conceito em vez de sexo. Liderança

O conceito de liderança é notoriamente multidisciplinar, pois pode ser aplicado numa grande diversidade de situações, lugares ou contextos. É de notar que embora a literatura esteja sobrelotada com definições de liderança, nem sempre os autores ou os gestores percecionamna da melhor forma (Grint, 1997; Stogdill, 1974). Como é um conceito mais debatido do que o género, pode-se estabelecer uma ordem cronológica e comparativa acerca das suas principais definições. Para os efeitos deste estudo não é relevante apresentar-se um universo de definições, mas sim compreender os principais aspetos acerca do conceito, bem como as principais alterações que tem sofrido numa perspetiva temporal. Uma das definições mais antigas, elaborada por Hempfill e Coons (1957), considera que se prende no comportamento de um indivíduo na direção das atividades de um grupo para se atingir um objetivo comum. Mais recentemente, Heifetz (1994) destaca que a liderança se incide num processo normativo na qual um elemento comanda uma brigada específica. Porventura, a definição mais coerente e sólida deste conceito foi construída por House et al.(1999, p. 13), constatado: “A capacidade de um indivíduo para influenciar, motivar e permitir que outros contribuam para a eficácia e sucesso das organizações de que são membros.” Num contexto mais recente, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2001) e Northouse (2012) apenas se focalizam no facto de se tratar de um processo de influência social com o foco de se atingirem os objetivos pretendidos. Portanto, verifica-se que a literatura relativa à liderança enfatiza, num contexto mais recente, a componente motivacional dos indivíduos, tendo em conta a execução das suas tarefas de uma forma mais eficaz. Assim, a definição de House et al.(1999) será a base para a delimitação do conceito de liderança aplicado neste estudo. Como explica Manso (2013), um líder pretende motivar um grupo de forma a atuar em prol dos seus benefícios individuais e tendo em conta o sucesso organizacional. Já um chefe focaliza as suas energias no curto prazo e apenas se interessa por resultados, não atendendo às necessidades e implicações dos recursos humanos. Metodologia A metodologia adotada para a elaboração deste trabalho incorpora, como fora referido anteriormente, uma detalhada revisão bibliográfica relativamente aos conceitos de género e de liderança.

Figura 1- Metodologia de pesquisa dos dados Fonte: elaboração própria

A Figura 1 pretende exemplificar os principais passos adotados para a recolha de dados. Em primeira instância, pesquisaram-se os conceitos de “ gender” e de “leadership” na plataforma Scopus, onde se encontram indexadas as principais revistas e artigos que incidem sobre estas áreas. Ao todo foram encontrados 256 artigos, compreendidos entre 1984 e 2014. Contudo, procedeu-se a um filtro dessa informação de acordo com o tipo de documento , com a área de estudo e com a língua em que foram escritos. No primeiro caso, delimitaram-se os tipos de documentos a artigos, revisões, capítulos de livros e artigos de conferência. Posteriormente, fez-se uma segmentação de acordo com as seguintes áreas de estudo: ciências sociais, psicologia, artes e humanidades, gestão empresas e contabilidade, economia econometria e finanças e multidisciplinaridade. Em última instância, limitou-se o estudo somente para artigos escritos em inglês, já que é a língua universal utilizada pelas revistas com maior relevância De acordo com estas três limitações, o número de artigos a considerar diminui para 223. Como é uma área de estudo relativamente recente e ainda com carência de estudos devidamente fundamentados, não se executou uma filtragem de acordo com os anos de publicação nem de acordo com os autores. Para os efeitos deste artigo, foram considerados e analisados 68 artigos, como forma de se evidenciarem as principais conclusões relativas à associação entre o conceito de género com a temática da liderança. Perspetiva histórica Foi compreendido, em parágrafos anteriores, que o estudo da liderança tem assumido um papel central numa diversidade de disciplinas, pois é crucial na definição do rumo a seguir e na motivação dos recursos humanos como forma de atingirem objetivos pessoais e organizacionais (Pounder & Coleman, 2002). Embora Dobbins e Platz (1986) tenham proporcionado um excelente contributo nesta área de estudo, apenas num contexto mais recente se verificou que o género pode estar associado com os aspetos mais notórios da liderança.

Porventura o primeiro estudo que procurou averiguar se existiam diferenças entre os líderes foi elaborado por Day e Stogdill (1972), tendo em conta as perspetivas dos subordinados. No entanto, como área de estudo, só em 1984 se deve enquadrar a influência do género na liderança, através de um estudo efetuado por Linimon, Barron e Falbo (1984) que procurou averiguar se existiam tipos de liderança distintos de acordo com o género. Por outras palavras, pretenderam estudar os comportamentos dos líderes e compreender se diferiam entre os papéis sociais dos homens e das mulheres. Este estudo tornou-se fundamental para o desenvolvimento de investigações que relacionavam a liderança com o género. O Quadro 1 pretende explanar a quantidade de estudos que foram produzidos neste contexto e o período temporal em que foram publicados.

Quadro 1 Distribuição dos anos de publicação sobre género e liderança

Período temporal Década de 80 Década de 90 2000-2004 2005-2009 2009-presente

Frequência 3 6 6 17 36

Total

68 Fonte: Elaboração própria

Das 68 investigações selecionadas para este estudo, poucas foram publicadas ainda no século XX, devendo-se ao desconhecimento deste objeto de estudo. Portanto, agruparam-se esses estudos em duas categorias decenais, respeitantes às décadas de 80 e de 90, como forma de demonstrar a ausência de fundamentos teóricos existentes. No entanto, a partir do século XXI registou-se um elevado crescimento no número de publicações relacionadas com esta problemática. Num contexto mais recente, desde 2009 até à atualidade, o estudo do género aplicado à liderança registou 36 publicações, assumindo-se como um objeto de estudo cada vez mais estudado e debatido por uma série de investigadores.

Principais estudos e contributos Notoriamente, com a temática a ganhar uma crescente importância num contexto organizacional e social, torna-se difícil realçar todos os investigadores que tenham realizado estudos nesta área. Contudo, pode-se destacar 2002 como o ano chave para a construção de um rumo neste objeto de estudo, com Eagly e Karau (2002) a introduzirem a teoria da congruência de papéis (“ Role congruity theory”) que, sumariamente, consiste na avaliação de

grupos tendo em conta os seus papéis sociais. Por outras palavras, como os homens estão estereotipicamente associados a cargos de liderança, as mulheres tendem a ser discriminadas nesses cargos. No entanto, já Carli e Eagly (2001) tinham destacado que embora existam ainda barreiras à igualdade de oportunidades, as mulheres poderão estar muito mais representadas em posições mais centrais num contexto empresarial, no longo prazo. Num contexto mais recente, deve-se proporcionar uma especial atenção aos estudos conduzidos por Emmerik, Euwema e Wendt (2008) e de Sczesny, Bosak, Neff e Schyns (2004) pois têm em consideração a componente cultural nos comportamentos de liderança, comprovando que também influencia negativamente as mulheres que ambicionam os cargos de maior relevo. Tendo em conta a totalidade de artigos abordados, construiu-se o Quadro 2, que pretende demonstrar os tipos de publicações estudadas, bem como as revistas das quais foram extraídos e onde a influência do género na liderança é abordada.

Quadro 2 Tipo de documento e revistas que abordam o género e a liderança

Tipo de documento Artigo de Revista Científica

Frequência 64

The Leadership Quarterly Sex Roles International Journal of Leadership in Education: Theory and Practice

7 6 2

Organizational Behavior and Human Decision Processes

2 2 2

Revisão Capítulo de livro

3 1

Journal of Organizational Change Leadership & Organizational Development Journal

Total

68 Fonte:Elaboração própria

Compreende-se que 94% (64) das publicações acerca desta problemática estão englobadas em revistas científicas, registando-se uma predominância nas revistas “ The Leadership Quarterly” e na “ Sex Roles”. Esta tendência não é muito surpreendente pois são duas revistas que incidem precisamente no estudo desses dois conceitos. Contudo, também existem revistas focalizadas no estudo organizacional e nos recursos humanos que enfatizam a relação entre o género e a liderança. Tipos de recolha e de análise de dados utilizados

Os investigadores que estudam a relação entre o género e a liderança optam por formas distintas de proporcionar o seu contributo na literatura. Existem muitos aspetos que ainda podem ser explorados e, por vezes, a metodologia adotada ajuda a retirar conclusões específicas, mas pode limitar a definição de objetivos. O Quadro 3 pretende exibir os principais métodos de recolha e de análise de dados adotados nas publicações estudadas. Quadro 3 Método de Recolha de dados

Tipo de Recolha de Dados Questionário Revisão Literatura Observação não participante Outros

Frequência 29 26 7 6

Total

68 Fonte: Elaboração própria

As metodologias mais adotadas pelos investigadores prendem-se na aplicação de questionários (29) ou somente em apresentarem uma detalhada revisão de literatura (26) que compreenda as principais conclusões existentes, procurando também apresentar um contributo teórico no sentido de combater as diferenças de oportunidades proporcionadas ao género feminino. Figura 2- Método de avaliação de dados evidenciados nos estudos

Fonte: Elaboração própria

Por outro lado, os dados recolhidos pelos investigadores foram analisados de formas distintas, tendo como objetivo proporcionar contributos em diversas vertentes. A metodologia mais utilizada é de cariz quantitativo, procedendo-se maioritariamente a análises bivariadas (22), como a ANOVA ou teste do Qui-quadrado, como forma de se averiguar se existiam diferenças estatisticamente significativas entre duas variáveis e qual a relação existente. Já a metodologia

qualitativa também é adotada por alguns investigadores, evidenciando-se na estruturação de casos de estudo (19), ou na construção de modelos teóricos (9) que possibilitassem a relação entre ambos os conceitos. Tamanho amostral Em parágrafos anteriores compreendeu-se que os estudos que incidem nesta problemática podem assumir um cariz quantitativo ou qualitativo. Nos 36 estudos quantitativos efetuados foram definidas amostras específicas como forma de se testarem diversas variáveis. Já os restantes estudos não apresentaram quaisquer detalhes sobre a amostra, procedendo-se a uma análise dos 36 estudos quantitativos e das amostras definidas pelos investigadores como forma de medir o impacto do género na liderança. A Figura 3 pretende exibir os resultados respeitantes a esses estudos.

Figura 3 Dimensão amostral constatada nos estudos

mais de 1001

5

401 até 1000

6

201 até 400

10

101 até 200

Frequência

7

0 até 100

8 0

2

4

6

8

10

12

Fonte: Elaboração própria

É crucial mencionar-se a abismal variância existente entre os tamanhos amostrais utilizados pelos investigadores. Relativamente ao tamanho amostral, considerou-se o número total de casos válidos utilizados pelos investigadores nas suas respetivas publicações. Veja-se o estudo efetuado por Macarie, Hintea e Mora (2011) com 12 questionários concebidos e, numa perspetiva completamente distinta, Emmerik et al. (2008) com 64038 respostas válidas. Estes valores influenciam completamente o valor médio, de 3583 casos por questionário. Portanto, é difícil estruturarem-se categoriais com amplitudes amostrais semelhantes e que englobem a totalidade dos estudos abordados. Mesmo assim, a Figura 3 pretende exibir as categorias que melhor englobavam as amostras destacadas nas publicações. Assim, verifica-se que a maioria das investigações possui amostras que compreendam 201 a 400 casos válidos (10).

Quadro 4 Principais variáveis destacadas nos estudos

Variáveis sociodemográficas

Variáveis Publicações

Etnia

Grau académico

País de Origem

Partido Político

• • •

Addi-Raccah e Ayalon (2002) Agezo e Hope (2011) Barbuto, Fritz e Matkin (2007)

Variáveis da liderança

Estado civil e filhos

Brandt e Laiho (2013) Burke e Attridge (2011)





Carless(1998)

• •

Chow (2005) Coleman(2003) Connerley, Mecham e Strauss(2008)



• • •

Emmerik, et al. (2009)

• • • • • • • •

• •

Grisioni e Beeby (2007)

• •

• •



Valores



Perceção Experiência





• •







• •



• •

• • •

• •



Kulich, Ryan e Haslam(2007)



• •

Linimon et al.(1984) Lumby e Azaola (2014)



• •

• •





• • •

• • • •

• • •

• • •

Krüger (2008)

Macarie et al.(2011)

Recetividade

• • •

Hoover e O’Neil(2014)

Law(2012)

Aceitação





Gerber(1988)

Herrera et al.(2012)

Poder



Cuadrado et. al(2012) Emmerik et al.(2008)

Negociação Execução





Bartram (2009)

Projeto GLOBE

• • • •



• •

• •

• • •

• • •

Variáveis sociodemográficas

Variáveis Publicações O’Neill e Stewart (2009) Padgett, Caldwell e Embry(2008)

Etnia

Grau académico

País de Origem



Variáveis da liderança

Partido Político

Estado civil e filhos





Projeto GLOBE

Negociação Execução





Poder

Aceitação

Recetividade

Valores



• •

Page(2011) Parker e Welch (2013) Pratch e Jacobwitz (1996)



Ryan, Haslam e Postmes(2007) Sczesny et al. (2004)



• • • •

Shea e Harris (2006)

• • • •

Winther e Green (1987)



• •



• •



• • •

• • • Fonte: elaboração própria

• • •



Virick e Greer (2012)

Wang et al.(2013)







Singh, Nadim e Ezzedeen(2012)

Walumbwa, Wu e Ojode (2004)

Perceção Experiência



• •



• •



• • •

Principais variáveis utilizadas O Quadro 4 pretende exibir as principais variáveis que são utilizadas nas publicações. Para este efeito, apenas se consideraram as 36 publicações de cariz quantitativo, já que procedem a uma análise detalhada de dados primários. Em primeira instância é necessário compreender-se que se procedeu a uma divisão das variáveis, nomeadamente nas que são de cariz sociodemográfico e nas que pretendem medir a liderança. É de notar que nestes estudos quantitativos, a conjugação de ambos os tipos permite explanar a influência do género na liderança. Assim, remetendo-se para as variáveis sociodemográficas, é crucial fundamentar que, embora não constatem no Quadro 4, a idade e o género foram utilizadas em todas as investigações. Por outro lado, destacam-se também publicações que enfatizam a componente cultural, frisando a influência da etnia e do país de origem como elementos que limitem o acesso aos cargos de liderança, bem como as qualificações académicas dos indivíduos. Na variável país de origem, são compreendidas publicações que analisam casos de estudos referentes a uma quantidade de países (“cross country”) e também investigações que relacionem dados relativos a estados ou províncias de um único país. Também se enquadrou o partido político no quadro pois foi evidenciado em alguns estudos. O estado civil e a existência de filhos, explorados conjuntamente, completam o conjunto de variáveis sociodemográficas, denotando-se que influenciam a possibilidade de os indivíduos progredirem na carreira. Numa análise posterior destacam-se as variáveis associadas à liderança em si, ou seja, características que pretendem atribuir um significado às realidades constatadas perante uma amostra. É difícil apresentar um espetro completo, já que tendem a diferir de acordo com os objetivos de cada investigação, bem como as perceções e intenções dos próprios investigadores. Apresenta-se o Projeto GLOBE como sendo uma das variáveis mais evidentes nas publicações que associem o género à liderança. Compreende-se que é um projeto estruturado por House et al1.(1999), que visa examinar as relações entre as organizações e o tipo de liderança adotada. Este questionário visa refinar tanto o Multifactor College Leadership Questionnaire (MCLQ), elaborado por Roueche, Baker e Rose (1989) como o Multifactor Leadership Questionnaire (MLQ), cuidadamente estruturado e concebido por Bass e Avolio (1989). Por outro lado, também existem estudos que acrescentam a capacidade de negociação e de execução dos elementos na liderança. Outras publicações pretendem incidir-se na aceitação e recetividade associadas às diferenças de oportunidades existentes no acesso a cargos de liderança. Destaca-se a variável poder, que é frequentemente utilizada para distinguir os superiores dos subordinados, bem como as diferenças entre as funções exercidas. Constata-se, também, a presença de variáveis que pretendem explanar os valores dos líderes num determinado contexto, ou seja, as capacidades que devem possuir para assegurar a existência de um clima de justiça. Por último, destacam-se publicações que incidem na

1

O Projeto GLOBE estrutura, de uma forma sistemática, as seguintes características de liderança que são posteriormente analisadas: “Administrativamente competente, autocrático, autónomo, visionário, capacidade de autossacrifício, indutivo, decisivo, diplomático, evita conflitos, orientação humanitária, integridade, malevolente, modesto, não participativo, orientado para a performance, processual, autoprotetor e consciente do estado”

experiência prévia como fator de distinção, de seleção e de continuidade dos elementos de liderança em contextos organizacionais.

Quadro 5 – Destaques, contributos e principais conclusões das publicações

Principais destaques e contributos das publicações

Resultados

Publicações Addi-Raccah e Ayalon (2002) Agezo e Hope(2011)

Perceção sobre liderança



• •







Burke e Attridge(2011) Carless(1998)



Coleman (2003) Connerley et al. (2008)



Eagly (2005)

• •

• • • • • •

• • •

• • •



• •



• •





• • • • • • • •



• •

• • • • •

• • • •

• • •

• •



• •

• • •







• • • •





• •

• • •







Diferenças de género na liderança



• •

• •

Aparecimento da mulher na liderança

• •

• •

Ferreira e Gyourko(2014) Gerber (1988)

• •

Governança Local



• •

Eagly e Carli(2001)

Emmerik et al.(2009)



• • • •

Braun et al.(2012)

Emmerik et al.(2008)

Liderança académica



Brunello e Paola (2013)

Ely et al.(2011)

Experiência na liderança





Brandt e Laiho (2013)

Cuadrado et al.(2012)

Promover valores



• •

Blessing (2011)

Chow (2005)

Influência cultural



Berg et al. (2012) Blackmore (2014)

Performance

Estereótipo da sociedade



Bartram (2009) Berdahl(1996)

Tipos de liderança



Ayman e Korabik (2010) Barbuto et. al(2007)

Comportamen to dos líderes

Conclusão



• •

Principais destaques e contributos das publicações

Resultados

Publicações

Perceção sobre liderança

Grisoni e Beeby (2007) Herrera et al.(2012)



Hogue e Lord (2007) Hoover e O’Neil (2014) Kelley (1997) Kulich et al.(2007) Law(2012) Linimon et al.(1984) Longman e Anderson(2011) Lovell (2013)

Tipos de liderança

• • •

Performance

Estereótipo da sociedade

• • • • • • • •

Matsa e Miller (2011)

• • •



• • •





Pratch e Jacobwitz(1996) Rippin (2007)

• • •



• •

• •



• •







• •

• •



• • •

• •

• •

• •

• •





• • •

• •

• • •





• • •





• •

Rowley et al. (2010) Rudnev(2013)

• •



Parker e Welch (2013) Powell(2011)

• •





Patterson et al. (2012b)

• • •





Diferenças de género na liderança

• • • •

• •

Aparecimento da mulher na liderança



• •

Governança Local







Page (2011) Parker (1996)

Liderança académica

• • • •

O’Neill e Stewart (2009) Padgett et al. (2008)

Experiência na liderança



• •

Moran (1992)

Promover valores



Lumby e Azaola(2014) Macarie et al(2011)

Influência cultural



Kark et al.(2012) Krüger (2008)

Comportamen to dos líderes

Conclusão



• •



• • •

Principais destaques e contributos das publicações

Resultados

Publicações Ryan et al.(2007) Scott e Brown (2006)

Perceção sobre liderança

• •

Sczesny et al.(2004)

Comportamen to dos líderes

Tipos de liderança

Performance

Singh et al.(2012) Sung (2013b) Sung(2013a) Trinidad e Normore(2005) Vecchio (2002) Virick e Greer(2012) Walumbwa et al. (2004)



• •

• •

Wiggleswort (2013) Yiamouyiannis e Osborne (2012)

Promover valores

Experiência na liderança





Liderança académica

Governança Local

Aparecimento da mulher na liderança

• • •

• •

• • •

• •

• • •

• • • •







• •



• • •



• • •



• Fonte: elaboração própria

Diferenças de género na liderança

• •





Wang e Kelan (2013) Wang et al.(2013)

Influência cultural

• •

• •

Shea e Harris(2006)

• • • • •

Estereótipo da sociedade

Conclusão

• • • • • •

Foco central e conclusões das publicações Da análise dos 68 artigos previamente selecionados resultou um conjunto de aspetos que se devem explanar de uma forma mais detalhada, como consta no Quadro 5. Tornou-se imprescindível compreender os motivos pelos quais os artigos proporcionaram um contributo ao nível da investigação que associa a componente do género na liderança. Desta forma, destacam-se três aspetos que são referidos na maioria dos artigos, nomeadamente as perceções sobre liderança, os comportamentos dos líderes e os tipos de liderança. O primeiro caracteriza-se pela compreensão das perspetivas (tanto dos líderes como dos subordinados) face aos elementos que exerçam os cargos mais relevantes num contexto organizacional. Seguidamente, no comportamento dos líderes verifica-se uma tendência em apresentar conclusões relevantes acerca da posição dos mesmos face a uma determinada situação, através de traços e atitudes específicos. Por outro lado, também se destacam as publicações que procuram estudar a relação entre os diversos tipos de liderança mencionados na literatura e as características intrínsecas de cada género, verificando-se se existem diferenças consideráveis. Assim, de acordo com Patterson, Mavin e Turner (2012a) a componente do género tem consciencializado cada vez mais os investigadores e os empreendedores com uma visão específica no longo prazo. No entanto, também existem outras publicações que se centralizam na componente do género, associando-a a outros assuntos inerentes à liderança. Prova disso são as investigações que avaliam o desempenho (performance) e a quantidade de anos que um elemento despendeu em cargos superiores numa organização (experiência).Hoyt (2012) frisa a necessidade de as mulheres passarem a assumir cargos mais relevantes na sociedade contemporânea pois possuem novas visões e metodologias para solucionar os problemas que se presenciam na atualidade. Neste contexto, também se constatam investigações que incidem nos valores que os líderes devem possuir de forma a maximizar a eficiência do seu grupo de trabalho. Numa outra vertente, presenciam-se estudos que incidem nas diferenças culturais, bem como no estereótipo criado pela sociedade, que impede a construção de um clima de igualdade de oportunidades para ambos os géneros. Como refere Buckmaster (2004, p. 1), “a ideia de as mulheres exercerem cargos de liderança ainda não é aceite por muitos”, sendo que estas são sujeitas a enormes pressões sociais e psicológicas. Estas publicações têm um foco especial em apresentar assuntos específicos onde existe esta discriminação, procurando evidenciar soluções ambiciosas no combate às disparidades existentes. As últimas duas componentes, porventura com um conjunto de estudos mais restrito, equacionam a liderança e o género num contexto académico ou associam-nos às características de governança local adotadas pelos superiores (neste caso as publicações têm um cariz mais político). Com base na globalidade de resultados obtidos, torna-se imprescindível a pronunciação relativa às conclusões mais evidentes nas publicações. A principal conclusão que advém deste estudo, como Hanashiro et al. (2005, p. 5) referem, remete para: “ quanto mais alto é o nível hierárquico, menor é a representatividade da mulher”.

Num contexto mais específico, duas componentes emergiram do aprofundado estudo das publicações evidenciadas, nomeadamente o aparecimento da mulher em cargos de liderança e a existência de significativas diferenças de género ao nível da liderança. Embora todos os estudos evidenciem a existência de desigualdades, uns fazem questão de frisar o aparecimento da mulher nos cargos de maior relevância num contexto organizacional. Neste grupo, as disparidades existentes não são tão significativas, verificando-se a possibilidade de as mulheres aumentarem a sua representatividade nos cargos de maior relevo tanto num contexto organizacional como na sociedade em si. O outro conjunto de estudos destaca a grande disparidade existente entre homens e mulheres, referindo que estas diferenças são ainda demasiado representativas, não se verificando um clima de igualdade nem de justiça num contexto organizacional. Oakley (2000) explica que existe uma certa desvalorização do poder exercido pelas mulheres, bem como políticas de promoção que tendem a beneficiar os homens. Assim, torna-se muito complicado as mulheres poderem assumir cargos de maior relevo já que são constantemente privadas do acesso a estes empregos. De uma forma sumária, verifica-se que os tipos de liderança e os comportamentos explicam maioritariamente as dificuldades que as mulheres têm em aceder aos cargos de liderança. Estudos futuros e recomendações Embora se tenha constatado que muito tenha sido estudado no âmbito da liderança e da sua relação com o género dos indivíduos, existem aspetos que requerem um maior enfoque por parte dos investigadores. Um aspeto que requer um maior enfoque remete para a associação das desigualdades de género nos cargos de liderança, especialmente associado ao sector do turismo. É de notar que o turismo representa 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB) Português, e a nível europeu emprega diretamente cerca de 14 milhões de indivíduos (Eurostat, 2009; Publituris, 2014). Verifica-se que é um sector com grande relevo para as economias nacionais e tem fomentado um crescente número de estudos como forma de responder às necessidades atuais. Alguns autores já apresentaram alguns estudos que visam apresentar as principais disparidades que relacionam o género e a liderança (Costa, Carvalho, & Breda, 2010; Costa et al., 2011; Costa, Carvalho, Caçador, & Breda, 2012a, 2012b; Simão, 2013). No entanto, compreende-se que o conjunto de autores que iniciaram estas abordagens ainda é consideravelmente restrito. Mais ainda, sendo o turismo constituído por um conjunto de subsectores diretamente associados (como a hotelaria, as agências de viagens, entre outros) devem-se formalizar estudos que cimentem a abordagem do género na liderança nesse grupo de subsectores. Numa outra perspetiva, tendo como base a perspetiva política e da governança local, seria importante averiguar se existem medidas aplicadas pelos governos que fomentem a igualdade de género nos cargos de chefia. Mais ainda, nos casos em que existam estas medidas, deve-se estudar a sua eficácia e a aplicabilidade, como forma de se compreender se estas entidades superiores têm exercido um papel crucial na impulsão da mulher nestes cargos. Estudos futuros que pretendam realizar uma semelhante análise da literatura sobre estes conceitos podem incluir os países de origem das publicações, como forma de se destacarem os

principais locais onde têm aparecido publicações sobre esta problemática. Um outro aspeto que poderia ser introduzido prende-se na distinção das diversas áreas de estudo (como por exemplo a gestão, economia, sociologia, entre outras) onde o género e a liderança já foram abordados e que publicações procuram explorar a relação entre esses conceitos dentro dessas disciplinas. Quanto às recomendações, o principal aspeto que se deve mencionar prende-se na utilização do termo género em vez de sexo. Como já foi referido anteriormente, o termo género incide nas identidades e nos papéis culturalmente construídos, focalizando-se na relação entre o sexo biológico e o comportamento. Portanto, num contexto mais recente, este deve ser preferencialmente o conceito a ser utilizado nos estudos que se focalizem na desigualdade de oportunidades existentes na liderança.

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