Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto / Géoarchéologie du Parc Naturel IEF du Rio Preto (Minas Gerais, Brasil)

May 24, 2017 | Autor: Joel Rodet | Categoria: N/A
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Descrição do Produto

ISBN 978-2-9506258-2-3

Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto Minas Gerais - Brasil

Géoarchéologie du Parc Naturel IEF du Rio Preto Minas Gerais - Brésil

édition bilingue

par Maria Jacqueline Rodet (CNEK-UFMG, Belo Horizonte) Joël Rodet (EuReKarst-CNEK-CNRS/Université de Rouen) Luc Willems (EuReKarst-Université de Liège, Belgium) André Pouclet (EuReKarst-ISTO, Orléans) Sueli do Nascimento (Januária, MG)

2009

Editions du CNEK Centre Normand d'Etude du Karst et des Cavités du Sous-sol Mairie - 76450 Saint-Martin-aux-Buneaux, France www.cnek.org.

Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto (Minas Gerais, Brasil) Géoarchéologie du Parc Naturel IEF du Rio Preto (Minas Gerais, Brésil) auteurs - autores : Maria Jacqueline Rodet : arqueóloga-archéologue, Joël Rodet, geomorfólogo do carste-géomorphologue du karst, Luc Willems, geomorfólogo do carste-géomorphologue du karst, André Pouclet, geólogo geoquímico-géologue géochimiste, Sueli do Nascimento, arqueóloga-archéologue,

edição bilingue franco-portuguesa - édition bilingue franco-portuguaise couverture : entrada principal do/entrée principale du Labirinto de Zeus (Parque Estadual do Rio Preto/Parc Naturel IEF du Rio Preto)

Directeur des Editions du CNEK : Joël Rodet Conseil Editorial : Jean-Luc Audam, Jacques Poudras, Maria Jacqueline Rodet, Jean-Pierre Viard Prix de vente : 15 € plus frais de port. Une version PDF est téléchargeable gratuitement sur le site internet "www.cnek.org." *** Tirage 250 exemplaires / Dépôt Légal : 4ème trimestre 2009 / © CNEK, décembre 2009 ISBN 978-2-9506258-2-3

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Geoarqueologia doParque Estadual do Rio Preto

Introdução realização destas pinturas, assim como definir o estilo e contextualizá-lo em estudos macro-regionais : trata-se do estilo denominado "Tradição Planalto".

Este relatório refere-se aos trabalhos geoarqueológicos realizados nos anos de 2003 e 2004 ; estes vêm completar as pesquisas que começaram em 2002, dentro do Parque Estadual do Rio Preto. Na fase atual, foram iniciados os estudos geomorfológicos, ambientais, socioeconômicos, assim como as primeiras análises dos grafismos rupestres. Foram realizadas três visitas ao Parque (agosto e setembro de 2003 e julho de 2004) no intuito de iniciar os estudos geodinámicos do relevo, realizar as primeiras análises arqueológicas, assim como dar continuidade ao trabalho de prospecção e análise dos sítios. As observações do setor estudado por especialistas franco-belgabrasileiros de diversas áreas, e os dados apresentados em congressos estão resumidos neste relatório e no "poster" que foi doado ao Parque, disponível em formato JPEG.

As prospecções iniciadas em 2002, continuaram dentro e fora do parque (no entorno próximo). Os resultados são produtivos e alentadores : foram encontrados machados polidos pré-históricos. Também pudemos observar diques de rochas básicas à jusante do rio Preto. Este tipo de rocha é normalmente utilizado para realização de objetos polidos. Alguns pontos com quartzito de excelente qualidade para lascamento foram observados em locais estrategéticos (próximo à àgua, em altitude). Estes resultados serão descritos em detalhes ao longo deste relatório, que é dividido em duas partes principais : na primeira parte apresentaremos o quadro natural do setor, em segunda os resultados arqueológicos obtidos; seguidas de reflexões sobre as questões ambientalistas. Em conclusão, apresentarmos uma síntese dos trabalhos realizados.

Um dos dados mais importantes deste período de trabalho é a constatação da riqueza carstológica presente nas formações rochosas do setor. Geralmente o quartzito não é conhecido pela abundância de grutas, de condutos, de lapiés ou de recortes realizados pela água. Estas formas são mais comuns em maciços calcáreos. No entanto, no relevo do Parque Rio Preto, as formas cársticas são abundantes, o que permite uma nova abordagem para este tipo de rocha. Foram estas observações que apresentamos no "I Encontro Brasileiro de Estudos do Carste", realizado em Belo Horizonte em julho de 2004 [Willems et al., 2004]. Outro resultado interessante desta pesquisa refere-se às primeiras análises sobre as pinturas rupestres encontradas dentro do Parque. Apesar do estado avançado de degradação dos suportes pintados, foi possível identificar algumas técnicas de

Enfim, chamamos a atenção ao fato de que nossa equipe é interdisciplinar e se compõe de geólogos, geomorfólogos, arqueólogos, ambientalistas, o que permite uma análise de várias esferas do setor de estudo. A arqueologia pode ser vista como uma ciência ou como uma técnica de análise, mas ela só tem valor quando é sustentada pour outras disciplinas das quais depende intrinsecamente para validar e contextualizar suas descobertas no passado e no presente. Deste modo, nos sentimos realizados por poder contar com uma equipe de pesquisadores de disciplinas tão diferentes, tão importantes e complementares.

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Géoarchéologie du Parc Naturel IEF du Rio Preto

Introduction des supports peints, il a été possible d'identifier quelques techniques de réalisation de ces peintures, mais aussi d'en définir le style et de le contextualiser dans les études macro-régionales ; il s'agit du style appelé "Tradition Planalto".

Cet ouvrage présente les travaux géoarchéologiques réalisés durant les années 2003 et 2004. Ils viennent compléter les recherches entreprises en 2002, dans le Parc Naturel IEF du Rio Preto. Le "Instituto Estadual Florestal" (IEF) est en charge de la gestion des parcs naturels - dits "estaduais" - de l'état de Minas Gerais. A ce jour, ont été entreprises les études géomorphologiques, environnementales et socio-économiques, ainsi que les premières analyses des éléments archéologiques. Nous avons mené trois missions dans le parc (août et septembre 2003, et juillet 2004) dans le but d'engager l'étude géodynamique du relief, de réaliser les premières approches archéologiques, et aussi de continuer le travail de prospection et d'analyse des sites. Les observations du secteur d'étude, par des spécialistes français, belges et brésiliens de disciplines complémentaires, et les données présentées dans des congrès sont résumées dans ce rapport et dans un poster remis au Parc Naturel, disponible en format JPEG.

Les prospections commencées en 2002, se sont poursuivient dans le Parc et à sa périphérie. Les résultats sont positifs et encourageants : il a été retrouvé des haches polies préhistoriques. De même nous avons pu observer des dykes de roches basiques dans l'aval du Rio Preto. Ce type de roche est classiquement utilisé pour réaliser des objets polis. Quelques sites avec du quartzite d'excellente qualité pour la taille, ont été observés dans des lieux stratégiques à proximité de points d'eau, en altitude. Ces résultats sont présentés dans ce document divisé en deux parties principales. La première partie présente le cadre naturel du secteur d'étude alors que la seconde partie développe les résultats archéologiques obtenus, suivies d'une réflexion sur les questions environnementales. En conclusion, nous présenterons une synthèse des travaux réalisés.

Un des acquis les plus importants de cette phase de recherche est la mise en évidence de la richesse karstologique des formations rocheuses du secteur. Classiquement le quartzite n'est pas connu pour son abondance de grottes, de conduits, de lapiés ou de recoupements liés à l'eau. Ces formes sont plus fréquentes dans les massifs calcaires. Cependant, dans le relief du Parc du Rio Preto, les formes karstiques sont nombreuses, ce qui permet une nouvelle approche de ce type de roches. Ces observations ont été présentées au "I Encontro Brasileiro de Estudos do Carste", tenu à Belo Horizonte en juillet 2004 [Willems et al., 2004]. Un autre résultat important de cette recherche concerne les premières analyses des peintures rupestres observées dans le Parc. Malgré l'état avancé de dégradation

Enfin, nous appelons l'attention sur la dimension interdisciplinaire de notre équipe, composée de géologues, de géomorphologues, d'archéologues et d'environnementalistes, ce qui permet une analyse de plusieurs sphères du secteur d'étude. L'archéologie peut être vue comme une science ou comme une technique d'analyse, mais elle ne peut avoir de valeur que lorsqu'elle est soutenue par d'autres disciplines dont elle dépend intrinsèquement pour valider et contextualiser ses découvertes dans le passé et à l'actuel. Ainsi, nous sommes heureux de pouvoir compter sur une équipe de recherche aussi ouverte, compétente et complémentaire.

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Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

Ia - Contexto geomorfológico 1.1 - Geologia da bacia A formação Sopa-Brumadinho é dividia em tres partes (fig. 1) :

O Parque Estadual do Rio Preto situa-se dentro do maciço do Espinhaço, constituido essencialmente por metaarenitos quartzíticos com intercalação de metapelitos e metabásicos. Estas rochas epimetamórficas pertencem ao supergrupo Espinhaço, constituído de acumulações detríticas dentro de uma fossa tectônica do Mesoproterozóico, na borda oriental do craton do São Francisco. As rochas ergueram-se em discordância angular, por empilhamentos detríticos do Grupo Macaúbas e debordaram sobre o craton em direção oeste. Mais tarde, estas formações foram sobrepostas, em discordância de ravinamento, sobre a parte mais à oeste do craton, por depósitos do Grupo Bambui. Após as fases tectônicas do fim do Mesoproterozóico e do fim do Neoproterozóico (Brasiliano), as formações do Espinhaço foram moderadamente plissadas, metamorfisadas e deversés em direção à oeste em encavalamento sobre à margem do craton do São Francisco.

a) a parte inferior é constituída de metaarenitos quartzíticos de grãos finos à médios, interestratificados de metaargilitos. b) a parte média é mais clástica, com metaarenitos grosseiros, às vezes ferruginososs e micáceos e de lentes de meta-conglomerados (diamantíferos na região de Diamantina). c) a parte superior é mista, com metaargilitos, meta-siltitos e brechas.

Toda esta região é coberta por uma cartografia geológica 1/1000 000 realizada em 1996, por um projeto comun entre a COMIG (Companhia Mineira do Estado de Minas Gerais) e a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em razão dos recursos diamantíferos do setor.

1.2 - Estratigrafia Nosso estudo inicia-se pela análise do relevo cárstico ao longo do rio Preto, setor situado dentro do Parque Estadual. As cavidades cársticas estudadas situam-se essencialmente dentro dos meta-arenitos quartzíticos da formação SopaBrumadinho (folha Rio Vermelho).

Figura 1 – Sequência estratigrafia do setor : a formação Sopa-Brumadinho é dividida em metaarenitos quartzíticos, meta-arenitos grosseiros e lentes de meta-conglomerados [Silva, 1999].

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Contexto geomorfológico

Esta falha não parece ter grande influência sobre a carstificação. Ela é responsável somente pela formação do escarpamento a partir da erosão diferencial de duas formações distintas: dentro do escarpamento, em dois ou tres níveis, aparecem intercalações decamétricas de argilitos e de pelitos epimetamorfisados em sericitoxistos mais ou menos cloritosos. Sendo mais facilmente erodidos, estes níveis formam degraus topográficos. O conjunto dos estratos é levemente inclinado em direção norte-oeste ou sulleste. Os mergulhos são mais importantes próximo às grandes falhas inversas que, como à Diamantina, correspondem ao encavalamento em direção oeste de vastos panéis sub-horizontais de faciés essencialmente arenítico. Nestes setores, todas as formações são literalmente recortadas em faixas por diaclases verticais N-S. Esta diaclasagem é que controla, uma vez mais, a formação de diversas cavidades cársticas do setor.

Todas estas formações são sedimentares e detríticas com frequentes variações laterais de faciès e de figuras de sedimentação caracterizando um meio ativo (estratificação entre-cruzada, rugas diversas). No entanto, dentro dos níveis inferiores e médios, são observadas algumas intercalações de metafilitos hematíticos, provavelmente ligados às antigas rochas vulcânicas ou volcanosedimentares.

1.3 - Dados litológicos e estruturais : contrôle da formação das cavidades

O desenvolvimento das cavidades realizase a partir das diaclases e, seguindo as juntas de estratificação entre os bancos sub-horizontais, por conexão entre as drenagens de diaclases. A presença de níveis à granulométria mais fina ou à composição filitosa facilita esta conexão.

1.4 - Dados geoquímicos

petrográficos

e

A principal rocha que serve de substrato aos processos de carstificação é o metaarenito quartzítico à grãos finos e relativamente puro. A estratificação é pouco aparente no seio dos bancos maciços ; elas aparecem dentro dos níveis um pouco mais micáceos e dentro dos arenitos ferruginosos às vezes estratificados. O outro faciès petrográfico corresponde às camadas filitosas de sericitoxistos e de cloritoxistos. Nota-se que estas rochas preservam às vezes pequenos níveis inter-estratificados ou de lentes ferruginosoas à oligisto.

Figura 2 – Corte geológico dos setores de grutas no quartzito : encima, gruta do Salitre (Diamantina), embaixo, grutas do Rio Preto.

As cavidades cársticas ao longo do rio Preto aparecem à diferentes níveis dentro do escarpamento da borda sul do alto vale do rio (fig. 2). A direção do vale ENEWSW é controlada estruturalmente por falha inversa, colocando em contacto os meta-arenitos quartzíticos em bancos maciços da formação Sopa-Brumadinho e dos meta-arenitos quartzíticos estratificados da formação Quartzito-filito. 6

Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

neogena. No entanto, nota-se algumas lentes de couraça ferruginosa. A descoberta de resíduos ferruginosos de fundições artesanais dentro do Parque do Rio Preto, demonstra a exploração local de pequenas jazidas de ferro, tipicamente ligadas à concentrações ferralíticas muito provavelmente derivadas de níveis de filitos ou de arenitos ferruginosos. A presença de forjas, na região durante os anos 1800, é confirmada por uma pesquisa [Paiva Mouro e Alonso 1983].

Em média, os arenitos são constituídos de grãos de quartzo arredondados de 0,7 à 0,2 mm, levemente recristalizados com textura granoclástica mostrando juntas poliédricas. Entre estes grãos, nota-se alguns quartzos poligonais de 0,10 à 0,05 mm, raramente sob forma de cimento microquartzo, mas sob a forma de palhetas de sericita disseminadas (1 à 5 %). Os grãos de feldspato são raros. Os minerais acessórios são também raros, limitando-se à pequenos grãos de zircon, de rutile, de turmalina e de magnetita hematizada. As poucas variações petrográficas observadas dentro das grutas correspondem à níveis mais ricos em sericita e em óxido e hidróxido de ferro. BZ-13

BZ-74

BZ-75

BZ-78

BZ-76

1.5- Geomorfologia cárstica do quartzito Muitas feições cársticas que foram cadastradas, desenvolvem-se no metaarenito quartzítico da Serra do Espinhaço (Supergrupo Espinhaço, Proterozóico). O meta-arenito quartzítico é um arenito cimentado por pequenos cristais de quartzo neoformados. Ele forma uma rocha compacta, homogêneo que se quebra segundo os limites dos grãos. Ele pode ser sedimentar ou metamórfico (metaquartzito). O arenito quartzítico é uma rocha intermediária entre o arenito quartzoso e o quartzo. Podemos examinar as feições cársticas e os conjuntos subterrâneos:

BZ-83

Diamantina

Salitre Salitre Salitre Salitre Rio Preto grès enduit sur grès grès grès grès imprégné de quartzitique quartzitique quartzitique quartzitique fragment de Mn grès SiO2

97,97

98,65

96,81

86,72

96,73

96,54

TiO2

0,04

0,02

0,02

0,05

0,04

0,08

Al2O3

0,33

0,32

0,33

1,29

0,49

0,71

Fe2O3

0,07

0,67

0,21

0,31

0,04

0,31

0,00

0,01

0,00

0,38

1,58

0,00

0,05

0,05

0,13

0,18

0,12

0,08

MnO MgO CaO

0,09

0,04

0,39

0,64

0,17

0,09

Na2O

0,04

0,00

0,02

0,31

0,12

0,27

K2O

0,00

0,01

0,10

0,17

0,21

0,10

P2O5 PF Total

0,00

0,05

0,05

2,02

0,17

0,00

0,38

0,39

0,79

8,23

0,89

1,02

98,97

100,21

98,85

100,30

100,56

99,20

Figura 3 – Composição química do arenito do setor.

Quimicamente (fig. 3) a composição traduz a natureza essencialmente quartzosa dos arenitos do Parque do Rio Preto. Os teores em silícia variam de 96,5 à 98,7 %. A presença do alumínio 0,3 à 0,7 % e do ferro 0,1 à 0,7 % é mínima. O titaneo, o magnésio e os alcalinos são praticamente ausentes. O teor em cálcio é anedótico. Figura 4 - alvéolos ou ninho de abelhas

Enfim, os horizontes pedológicos não foram estudados ; na verdade eles são pouco preservados. O desmantelamento atual do maciço do Espinhaço, ligado à um movimento geral de elevação, dissecou fortemente a superfície de peneplanação

a) o “ninho de abelha” é um conjunto de alvéolos e perfurações coalescentes, resultante do efeito de dissolução cárstica na rocha (fig. 4). Esta feição pode ser analisada como um dos elementos 7

Contexto geomorfológico

profundidade, como no sítio vizinho do Salitre (Diamantina, fig. 6).

básicos da constituição da drenagem subterrânea. b) a “kamenitza” é uma pequena bacia fechada, com fundo horizontal, resultante da dissolução superficial da rocha (fig. 5). Ela é o elemento espacial fundamental do exocarste, e compõe o “lapié”, completando a forma linear do lapiaz. A kamenitza resulta da erosão periférica da rocha sob a ação de un lençol de água superficial, dando uma superficie horizontal, mesmo quando a estratigrafia apresenta um mergulho. No Parque do Rio Preto, a kamenitza pode atingir alguns metros de diâmetro.

Figura 6 - mega-lapiaz

d) a “paleo-galeria” é uma forma totalmente desconectada do contexto geomorfogenético atual. Visível na paisagem, ela demonstra a carstificação da rocha e a importancia da erosão superficial (fig. 7).

Figura 7 - paleo-galeria recortada

O conjunto destas formas contribui à realização da paisagem tanto superficial (o “lapié”) quanto subterrânea (a gruta). Neste último caso, observa-se uma rede cárstica. Ela é constituida de galerias horizontais ou/e verticais e de salas (encontro de duas ou mais galerias). Certas galerias resultam da abertura de uma diaclase, e mostram um corte mais alto que largo; outras resultam da abertura de um contato litológico ou estratigráfico, e mostram um corte mais largo que alto. Nas paredes, observam-se formas específicas, indicadoras das condições da gênese ou da evoluição do sistema subterrâneo. Assim

Figura 5 - kamenitza

c) o “lapiaz” é a segunda feição básica do exocarste, formando com a kamenitza, o “lapié” ou campo de rocha. Ele é uma forma linear, profunda e estreita, uma ravina escavada pela dissolução na rocha. Ela resulta do trânsito das águas de chuva sobre a rocha, às vezes ligando uma kamenitza a uma outra, e permite a alimentação dos sumidouros e do endocarste. Linear ou curvo, o entalhe pode atingir vários metros de

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Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

Zeus”, acima da cachoeira da SempreViva, é o mais importante. Ele oferece um conjunto de galerias baixas interligadas, com eixos abertos do tipo “canion”, organizado em vários níveis. Atualmente, as águas seguem um caminho complexo dentro do Labirinto, passando de uma galeria a um canion, depois mais uma galeria antes de cortar um outro canion, ...

um canal de teto testemunha de uma nova drenagem da galeria, depois de uma fase fóssil (fig. 8).

Estas diferentes observações sugerem que as formas resultam de dois sistemas de alteração (intemperismo e lençol freático) que, inicialmente independentes, se conectaram (fig. 10): Figura 8 - galeria baixa com canal de teto ao lado direito

a) no principio, os metaquartzitos foram percorridos por uma rede de fraturações (diaclases, fraturas, falhas). Um plano horizontal maior (plano de cisalhamento, acavalamento ?) acolheu um aquífero relativamente profundo.

As maiores grutas abrem-se na vertente abrupta do alto vale do Rio Preto, onde o arenito quartzítico fino da Formação Sopa Brumadinho tem contacto tectônico com o arenito quartzítico estratificado e micáceo da Formação Quartzito-Filito subjacente. Esta última formação está também envolvida nos processos cársticos. Dois grandes conjuntos estão ligados a uma planicie cercada pelos afloramentos cárstificados (fig. 9). O solo da planicie testemunha de um nível aquífero com alimentação pelos afloramentos superiores, e uma estocagem temporaria da água (zona úmida).

b) os processos de dissolução criam pouco a pouco uma rede de galerias alagadas, ligadas à estrutura. Paralelamente, em superfície, uma alteração ferrífera desenvolve-se ao longo de diaclases subverticais, gerando lapiás e alvéolos de parede (ninhos de abelha). c) o leito do rio Preto acomoda-se ao longo de um acidente maior, favorizando a erosão vertical. Este entalhe suspende o aquífero e provoca seu ressecamento. Paralelamente, as raizes da frente de alteração presentes no setor mais fraturado, trepanam (canion) as cavidades desenvolvidas (galerias) no seio do aquífero. A jusante, as drenagens cársticas evoluem mais rapidamente pela erosão regressiva, formando canions subterrâneos. d) o relevo de superficie é exposto à erosão e será pouco a pouco reduzido à dimensão de pequenos blocos (mogotes, torres, verrugas, ...), com abrigos de tamanho médio.

Figura 9 - paleo-planicie cercada pelos afloramentos cárstificados

O primeiro conjunto, próximo à Varzea da Estrela, é desconectado da drenagem moderna. O segundo, o “Labirinto de 9

Contexto geomorfológico

produz com um desenvolvimento subhorizontal das cavidades, talvez guiado pela presença de níveis de granulometria fina e de intercalação com bancos filitosos. A abundância de lapiés e de cúpulas de dissolução dentro dos escarpamentos da Serra do Espinhaço aponta para a possibilidade de um grande número de cavidades ; resta agora descobrí-las (fig. 12).

O conjunto de formas repertoriadas na região do Parque Estatual do Rio Preto ilustra a importância dos processos dissolutivos dentro do quartzito, resultando sistemas evolutivos complexos.

Figura 11 - galeria recortada por um canion

Em relação ao estado de conservação das pinturas rupestres que encontram-se nas paredes das rochas ao longo do rio Preto, é importante sublinhar que a natureza do suporte, arenítico, muito friável pôde conter muito mais desenhos e pinturas, que foram destruídos naturalmente ao longo dos anos.

Figura 10 – Evolução geomorfológica do setor do "Labirinto de Zeus".

1.6 - Síntese A formação das cavernas cársticas é controlada por numerosas diaclases verticais N-S nas quais instalaram-se as frentes de alteração e os canions (fig. 11). Dentro da paisagem deste setor, estas diaclases permitiram a formação de uma série de lapiés. As cavidades desenvolvem-se geralmente seguindo uma junta de estratificação colocada em extensão pelo bombamento de uma estrutura anticlinal. Estas foram realizadas por dissolução da silícia contida na rocha, essencialmente quartzosa. Ao longo do rio Preto, este fenômeno se

Figura 12 - galeria cárstica

Por outro lado, nota-se que os recursos em pigmentos minerais são bastante limitados. Os óxidos e hidróxidos de ferro podem ser encontrados dentro de pequenas jazidas

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Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

Próximo à área de estudo, na parte inferior da bacia do rio Preto, ao sul do município de São Gonçalo do Rio Preto, foram observadas estas rochas verdes, massivas a grãos finos, tipicamente utilizadas para confecção de lâminas polidas de machado, o que demonstra uma matéria prima disponível localmente.

e/ou filões de oligistos, de camadas de clorito-sericitoxistos, e dentro de algumas lentes de couraça ferralítica que cobrem estes mesmos xistos. Tratando-se dos recursos líticos, nota-se poucos níveis silicificados exploráveis. No entanto, existem numerosos dykes de doleritas que atravessam as formações ao longo da Serra do Espinhaço. De fato, a parte inferior du Supergrupo Espinhaço é conhecida por conter corpos mais ou menos estratificados de metabasitos.

Enfim, sublinhamos que os próximos trabalhos de campo deverão examinar a questão das jazidas de quartzo hialino, suporte da indústria lítica do setor.

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Contexte géomorphologique

Ib - Contexte géomorphologique 1.1 - Géologie du bassin

Vermelho).

Le Parque Estadual do Rio Preto (parc naturel de l'état de Minas Gerais) se développe dans le massif de l'Espinhaço, constitué essentiellement de métagrès quartzitiques avec des intercalations de métapellites et métabasiques. Ces roches épimétamorphiques appartiennent au supergroupe Espinhaço, constitué d'accumulations détritiques dans une fosse tectonique du Mésoprotérozoïque, à la bordure orientale du craton du São Francisco. Les roches émergent en discordance angulaire, par empilements détritiques du Groupe Macaúbas et ont débordé sur le craton en direction de l'ouest. Plus tard, ces formations ont été recouvertes, par discordance de ravinement dans la partie occidentale du craton, par des dépôts du Groupe Bambuí. Après les phases tectoniques de la fin du Néoprotérozoïque (phase Brasiliano), les formations de l'Espinhaço ont été modérément plissées, métamorphisées et déversées en direction de l'ouest par chevauchement sur la marge du craton du São Francisco.

La formation de Sopa-Bromadinho est divisée en trois parties (fig.1) : a) La partie inférieure est constituée de métagrès quartzitiques à grains fins à moyens intersratifiés de méta-argilites. b) La partie moyenne est plus clastique, avec des métagrès grossiers, parfois ferrugineux et micacés et des lentilles de métaconglomérats (diamantifères dans la région de Diamantina).

Toute cette région a été couverte par une cartographie géologique au 1/100 000ème en 1996 par un projet de la COMIG (Compagnie minière de l’Etat de Minas Gerais) et de l’UFMG (Université fédérale de Minas Gerais), en raison des ressources diamantifères.

1.2 - Stratigraphie Figure 1 – Série stratigraphique du secteur : la formation Sopa-Brumadinho est divisée en métagrès quartzítiques, méta-grès grossiers et lentilles de méta-conglomérats [Silva, 1999].

Notre étude a commençé par l'analyse du relief karstique le long du Rio Preto, secteur situé dans le Parc Naturel. Les cavités karstiques étudiées se situent essentiellement dans des métaquartzites de la formation Sopa-Brumadinho (feuille Rio

c) La partie supérieure est mixte, avec les méta-argilites, des métasiltites et quelques métabrèches. 12

Géoarchéologie du Parc Naturel IEF du Rio Preto

formation Quarzito-Filito. Cette faille ne semble pas avoir une grande influence sur la karstification. Elle est responsable seulement de la formation de l'escarpement à partir de l'érosion différentielle des deux formations distinctes : dans l'escarpement, sur deux ou trois niveaux, apparaissent des intercalations décamétriques d'argilites et de pélites épimétamorphisées en séricitoschistes plus ou moins chloriteux. Etant plus facilement érodés, ces niveaux forment des paliers topographiques. L'ensemble des strates est légèrement incliné vers le nord-ouest ou le sud-est. Les pendages deviennent plus importants à l’approche des grandes failles inverses qui, comme à Diamantina, correspondent au chevauchement vers l’ouest de vastes panneaux sub-horizontaux des formations essentiellement gréseuses. Là encore, toutes les formations sont littéralement découpées en tranches par des diaclases verticales N-S. C’est encore ce diaclasage qui contrôle la formation des diverses cavités karstiques du secteur.

Toutes ces formations sont sédimentaires et détritiques avec de fréquentes variations latérales de faciès et des figures de sédimentation caractérisant un milieu actif (stratifications entrecroisées, rides diverses). Il y a cependant, dans les niveaux inférieurs et moyens, quelques intercalations de métaphyllites hématitiques qui seraient d’anciennes roches volcaniques ou volcanosédimentaires.

1.3 - Données lithologiques et structurales : contrôle de la formation des cavités

Le développement des cavités s’opère à partir des diaclases et suivant les joints de stratification entre les bancs subhorizontaux, par connexion entre les drains des diaclases. La présence de niveaux à granulométrie plus fine ou à composition phylliteuse facilite cette connexion.

1.4 - Données pétrographiques et géochimiques Figure 2 – Coupe géologique des secteurs à grottes dans le quartzite : en haut, grotte de Salitre (Diamantina), en bas, grottes du Rio Preto.

La principale roche impliquée dans les processus de karstification est un métagrès quartzitique à grains fins et relativement pur. La stratification est peu apparente au sein des bancs massifs. Elle apparaît dans les niveaux un peu plus micacés et dans les grès ferrugineux parfois lités. L’autre faciès pétrographique correspond aux couches phylliteuses de séricitoschistes et de chloritoschistes. Notons que ces roches renferment parfois des petits niveaux interstratifiés ou des lentilles ferrugineux à oligiste.

Les cavités karstiques le long du rio Preto sont distribuées sur plusieurs niveaux dans l'escarpement du bord sud de la haute vallée de la rivière (fig. 2). La direction ENE-WSW de la vallée est contrôlée structuralement par une faille inverse, mettant en contact les métagrès quartzitiques à bancs massifs de la formation Sopa-Brumadinho avec les métagrès quartzitiques stratifiés de la 13

Contexte géomorphologique

la surface de pénéplanation néogène. Il reste cependant des lambeaux de cuirasse ferralitique. La découverte de résidus ferreux de fonderies artisanales dans le parc naturel du Rio Preto atteste l’exploitation locale de petits gisements de fer, typiquement liés à des concentrations ferralitiques supergènes très probablement dérivées des niveaux de pyllites ou des grès ferrugineux. La présence de forges dans la région, durant les années 1800 est confirmée par une recherche [Paiva Mouro et Alonso 1983].

En moyenne, les grès sont constitués de grains de quartz sub-arrondis de 0,7 à 0,2 mm, faiblement recristallisés en texture granoblastique montrant des joints en pavés. Entre ces grains, ont cristallisés quelques quartz polygonaux de 0,10 à 0,05 mm. Il y a très peu de ciment microquartzeux, mais des paillettes de séricite disséminées (1 à 5%). Les grains de feldspaths sont très rares. Les minéraux accessoires, aussi très rares, se limitent à des petits grains de zircon, de rutile, de tourmaline et de magnétite hématitisée. Les quelques variations pétrographiques observées dans les grottes correspondent à des niveaux un peu plus riches en séricite et en oxydes et hydroxydes de fer. BZ-13

BZ-74

BZ-75

BZ-78

BZ-76

1.5- Géomorphologie karstique du quartzite De nombreux phénomènes karstiques ont été recensés. Ils se développent dans les métagrès quartzitiques de la Serra do Espinhaço (Supergroupe Espinhaço, Protérozoïque). Le métagrès quartzitique est un grès cimenté par de petits cristaux de quartz néoformés. Il forme une roche compacte, homogène qui se casse selon les limites des grains. Elle peut être sédimentaire ou metamorphique. Le grès quartzitique est une roche intermédiaire entre le grès quartzeux et le quartz.

BZ-83

Diamantina

Salitre Salitre Salitre Salitre Rio Preto grès enduit sur grès grès grès grès imprégné de quartzitique quartzitique quartzitique quartzitique fragment de Mn grès SiO2

97,97

98,65

96,81

86,72

96,73

96,54

TiO2

0,04

0,02

0,02

0,05

0,04

0,08

Al2O3

0,33

0,32

0,33

1,29

0,49

0,71

Fe2O3

0,07

0,67

0,21

0,31

0,04

0,31

0,00

0,01

0,00

0,38

1,58

0,00

0,05

0,05

0,13

0,18

0,12

0,08

0,09

0,04

0,39

0,64

0,17

0,09

Na2O

0,04

0,00

0,02

0,31

0,12

0,27

K2O

0,00

0,01

0,10

0,17

0,21

0,10

P2O5

0,00

0,05

0,05

2,02

0,17

0,00

MnO MgO CaO

PF Total

0,38

0,39

0,79

8,23

0,89

1,02

98,97

100,21

98,85

100,30

100,56

99,20

Nous pouvons examiner les phénomènes karstiques et les ensembles souterrains :

Figure 3 – Composition chimique du grès du secteur.

Chimiquement (fig. 3), la composition traduit la nature essentiellement quartzeuse des grès du parc naturel de Rio Preto. Les teneurs en silice vont de 96,5 à 98,7 %. Il y a très peu d’alumine, 0,3 à 0,7%, très peu de fer, 0,1 à 0,7%, et pratiquement pas de titane, de magnesium et d’alcalins. La teneur en calcium est négligeable. Figure 4 - alvéoles ou nid d'abeilles

Enfin, les horizons pédologiques n’ont pas été étudiés. Ils sont en réalité très peu préservés. Le démantèlement actuel du massif de l’Espinhaço, lié à un mouvement général de surrection, a fortement disséqué

a) le "nid d'abeille" est un ensemble d'alvéoles et de perforations coalescentes, résultant de l'effet de dissolution karstique dans la roche (fig. 14

Géoarchéologie du Parc Naturel IEF du Rio Preto

l'endokarst. Droite ou courbe, l'entaille peut atteindre plusieurs mètres de profondeur, comme dans le site voisin de Salitre (Diamantina, fig. 6).

4). Ce phénomène peut être analysé comme un des éléments de base de la constitution du drainage souterrain. b) la "kamenitza" est un petit bassin fermé, au fond horizontal, résultant de la dissolution superficielle de la roche (fig. 5). Elle est l'élément spatial fondamental de l'exokarst, et elle compose le "lapié", en complétant l'incision linéaire du lapiaz. La kamenitza résulte de l'érosion périphérique de la roche sous l'influence d'une nappe d'eau superficielle, développant une surface horizontale et plane, même quand la stratigraphie présente un pendage. Dans le parc naturel du Rio Preto, la kamenitza peut atteindre quelques mètres de diamètre.

Figure 6 - méga-lapiaz

d) la "paléo-galerie" est une forme totalement déconnectée du contexte géomogénétique actuel. Visible dans le paysage, elle démontre la karstification de la roche et l'importance de l'érosion superficielle (fig. 7).

Figure 7 - paléo-galerie recoupée

L'ensemble de ces formes contribue au développement du paysage tant de surface (le "lapié") que souterrain (la grotte". Dans ce dernier cas, on observe un réseau karstique. Il est constitué de galeries horizontales ou/et verticales et de salles (rencontre de deux ou plusieurs galeries). Certaines galeries résultent de l'ouverture d'une diaclase, et montrent une coupe plus haute que large. D'autres résultent de l'ouverture d'un contact lithologique ou stratigraphique, et montrent une coupe plus

Figure 5 - kamenitza

c) le "lapiaz" est la seconde forme basique de l'exokarst, formant avec la kamenitza, le "lapié" ou champ de roche. C'est une forme linéaire, profonde et étroite, une entaille creusée par la dissolution de la roche. Elle résulte du transit des eaux de pluie sur la roche, reliant parfois une kamenitza à une autre, et elle permet l'alimentation des pertes et de

15

Contexte géomorphologique

large que haute. Sur les parois, on observe des formes spécifiques, indicatrices des conditions de genèse ou de l'évolution du système souterrain. Ainsi un chenal de voûte témoigne d'un nouveau drainage de la galerie, après une phase fossile (fig. 8).

Figure 9 - paléo-plaine entourée par les affleurements karstifiés

Ces différentes observations suggèrent que les formes résultent de deux systèmes d'érosion (altération et nappe phréatique) qui, initialement indépendants, se sont connectés (fig. 10) :

Figure 8 - galerie basse avec un chenal de voûte sur le côté droit

a) au début, les métaquartzites sont parcourus par un réseau de fissures (diaclases, fractures, failles). Un plan horizontal majeur (plan de cisaillement, chevauchement ?) accueille un aquifère relativement profond.

Les principales grottes s'ouvrent dans le versant abrupt de la haute vallée du Rio Preto, où le grès quartzitique fin de la formation Sopa-Brumadinho a un contact tectonique avec le grès quartzitique stratifié et micacé de la formation Quarzito-Filito sur-jacente. Cette dernière formation est aussi impliquée dans les processus karstiques. Deux grands ensembles sont associés à une plaine entourée d'affleurements karstifiés (fig. 9). Le sol de la plaine témoigne d'un niveau aquifère avec alimentation par les affleurements supérieurs, et d'un stockage temporaire de l'eau (zone humide).

b) les processus de dissolution créent peu à peu un réseau de galeries noyées, liées à la structure. Parallèlement, en surface, une altération ferrifère se développe le long des diaclases subverticales, générant des lapiaz et des alvéoles de paroi (nids d'abeille). c) le lit du rio Preto s'installe le long d'un accident majeur, favorisant l'érosion verticale. Cette entaille suspend l'aquifère et provoque son asséchement. Parallèlement les racines du front d'altération présentes dans le secteur le plus fracturé, trépanent (canyon) les cavités développées (galeries) au sein de l'aquifère. En aval, les drainages karstiques évoluent plus rapidement par érosion régressive, formand des canyons souterrains.

Le premier ensemble, proche de Varzea da Estrela, est déconnecté du drainage moderne. Le second, le "Labirinto de Zeus", au-dessus de la cascade de SempreViva, est le plus important. Il offre un ensemble de galeries basses interconnectées, avec des axes ouverts de type "canyon", organisé sur plusieurs niveaux. Actuellement, les eaux suivent un chemin complexe dans le Labirinto, passand d'une galerie à un canyon, puis dans une autre galerie anvant de recoupé un autre canyon...

d) le relief de surface est exposé à l'érosion et est peu à peu réduit à la dimension de

16

Géoarchéologie du Parc Naturel IEF du Rio Preto

quartzeuse. Le long du rio Preto, ce phénomène se traduit par le développement sub-horizontal des cavités, peut-être guidé par la présence de niveaux de granulométrie fine et d'intercalations de bancs phylliteux.

petits blocs (mogotes, tours, verrues, ...), avec des abris de dimension moyenne.

Figure 11 - galerie recoupée par un canyon

L'abondance des lapiés et des alvéoles de dissolution dans les escarpements de la Serra do Espinhaço semblent souligner un grand potentiel de cavités : il reste aujourd"hui à les découvrir (fig. 12). Figure 10 – Evolution géomorphologique du secteur du "Labirinto de Zeus".

Par rapport à l'état de conservation des peintures rupestres qu'on observe sur les parois rocheuses le long du rio Preto, il est important de souligner que le support, en raison de sa nature gréseuse et très friable, peut avoir reçu beaucoup plus de dessins et de peintures, détruits naturellement au cours du temps.

L'ensemble des formes répertoriées dans la région du Rio Preto illustre l'importance des processus de dissolution dans les quartzites, donnant des systèmes évolutifs complexes.

1.6 - Synthèse La formation des cavernes karstiques est contrôlée par de nombreuses diaclases verticales N-S sur lesquelles se sont installés les fronts d'altération et les canyons (fig. 11). Ces diaclases ont permis la formation d'une série de lapiés inscrits dans le paysage du secteur. Les cavités se développent généralement aux dépends d'un joint de stratification mis en extension par le bombement d'une structure anticlinale. Ces cavités ont été réalisées par dissolution de la silice contenue dans la roche, essentiellement

Figure 12 - galerie karstique

Par ailleurs, on note que les ressources en pigments minéraux sont plutôt limités. Les 17

Contexte géomorphologique

inférieure du Supergroupe Espinhaço est connue pour contenir des corps plus ou moins stratifiés de métabasiques. A proximité de l'aire d'aire d'étude, na partie inférieure du bassin du Rio Preto, au sud du municipe de São Gonçalo do rio Preto, ont été observées ces roches vertes, massives à grin fin, typiquement utilisées pour la confection de lames polies de hache, ce qui prouve localement la disponibilité d'une matière première.

oxydes et les hydroxydes de fer peuvent être retrouvés dans de petits gisements et/ou des filons d'oligistes, dans des couches de chlorito-séricitoschistes, et dans certaines lentilles de cuirasse ferralithiques qui recouvrent ces mêmes schistes. S'agissant des ressources lithiques, on notera le faible nombre de niveaux silicifiés utilisables. Cependant, il existe de nombreux dykes de dolérites qui traversent les formations dans l'ensemble de la Serra do Espinhaço. De fait, la partie inférieure du Supergroupe espinhaço est connue pour contenir des corps plus ou moins stratifiés de métabasiques. En fait, la partie

Enfin, soulignons que les prochains travaux de terrain devront examiner la question des gîtes de quartz hialin, support de l'industrie lithique du secteur.

18

Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

IIa – Contexto arqueológico Iniciaremos este capítulo com algumas precisões terminológicas. Assim apresentaremos num primeiro momento uma tipologia de sítios arqueológicos, para em seguida descrevermos cada um dos sítios visitados, concluindo com um primeiro estudo dos vestígios cerâmicos.

...). No entanto como a matéria orgânica tem um pH com tendência básica, esta será bem conservada num ambiente básico, tal como o calcário, do que em ambiente ácido, como os solos tropicias ao ar livre, ou os solos dos abrigos areníticos; estes últimos de natureza muito ácida.

2.1 - Sítios arqueológicos: Tipologia

- Sítio a céu aberto: sensu stricto, são locais ao ar livre, sem relação com abrigos ou grutas, onde encontram-se conjuntos de vestígios que testemunham uma ocupação.

De maneira geral chamamos sítios arqueológicos os locais onde os grupos pré-históricos deixaram algum tipo de vestígio (pinturas, instrumentos de pedra, osso, cerâmica, sepultamento, ...), e que podem testemunhar da vida desses povos. Para facilitar a compreensão do espaço estudado nós caracterizamos os locais destas ocupações em três tipos [Rodet e Rodet, 2004]:

Se por um lado, os sítios a céu aberto servem para complementar e dar uma outra dimensão aos sítios de abrigo, por outro lado a estratigrafia presente, bem como a conservação dos vestígios não são sempre da mesma qualidade que as encontradas nos abrigos. Os materias orgânicos são raramente conservados num ambiente aberto, mais expostos aos agentes erosivos, ácidos provenientes da atmosfera (pCO2 do ar e da chuva) e da camada vegetal (ácido húmico, lixiviação do solo), e onde há uma maior variação de temperatura ao longo do ano.

- Sítios de abrigo: sensu stricto, são lugares abrigados e onde a variação de temperatura é branda durante todo o ano (para os grandes abrigos). Estes locais podem encontrar-se aos pés das falésias, ou nas entradas de grutas.

Enfim, parte importante dos terrenos abertos foram utilizados para pastagem ou agricultura, resultando um solo revolvido com presença de vestígios geralmente quebrados.

Dentro de um substrato do tipo arenito quartzficado como é o caso do setor em estudo, os blocos areníticos isolados de tamanho decamétricos, trabalhados pela água, podem formar setores abrigados de tamanhos pequenos à médio (exemplo: Lapa do Tatu, Sítio da Santa) até grandes abrigos ao pé de falésias (Lapa do Urubu). Nestes setores a morfologia cria formas protegidas do sol e da chuva, entre outros, ideais para serem pintadas.

- Sítios mistos ou de associação: são sítios a céu aberto com extensão em abrigo, ou sítio de abrigo com extensão a céu aberto. Estes dois tipos são na verdade sítios mistos, onde os dois setores do sítio podem ter sido usados para atividades diferentes. Enfim, ressaltamos que dentro do Parque os vestígios arqueológicos observados até agora encontram-se principalmente em setores abrigados (pinturas, cerâmicas,

No mais, os abrigos são geralmente locais secos, ideais para a preservação de vestígios frágeis (madeira, ossos, vegetais,

19

Contexto arqueológico

peças líticas, fogueiras). No entanto, algumas “ocorrências isoladas de pinturas" foram observadas sobre rochas completamente expostas (Várzea da Estrela). No mais, na área do entorno do Parque, há ocorrência de vestígios a céu aberto: blocos de quartzo hialino trabalhados (núcleo). No entanto, as pesquisas estão ainda muito recentes e não podemos afirmar com certeza tratar-se de vestígio pré-histórico : o local foi muito utilizado por garimpeiros que trabalhavam o quartzo. O resultado dos restos brutos de debitagem destes trabalhos é muito próximo ao dos vestígios pré-históricos.

O sítio encontra-se ao pé de uma falésia de aproximadamente 30 m de altura. A parte abrigada é de aproximadamente 60 m de comprimento. Figura 13 - Lapa do Urubu: localização aproximativa dos painéis de pintura.

2.2 – Sítios arqueológicos: Inventário

O solo constitui-se principalmente de sedimento arenoso proveniente da dissolução do substrato rochoso (metaarenito quartzificado) e é alimentado, entre outros, por um cone de dejeção situado à esquerda. A mata que margeia a falésia protege as paredes do abrigo da luz direta do sol durante uma grande parte do dia, e da poeira proveniente da estrada situada a alguns metros de distância. A vegetação compõe-se de arbustos e árvores de porte médio à grande (nome popular: quaresmeira, tapicuri, murici, candeia, jacarandá, ....)

Neste capítulo faremos uma descrição física geral dos sítios arqueológicos ou dos locais de ocorrência isolada de vestígios rupestres. 2.2.1 – Metodologia do estudo O primeiro passo é a localização do sítio em sistema GPS, no caso do Parque, Córrego Alegre. Quando em abrigo: realiza-se descrição do material de superficie (cerâmica, lítico, fogueiras, etc) em geral, assim como do piso sedimentológico. Fotografa-se e descreve-se os grafismos rupestres, às vezes realiza-se croquis das pinturas. Descreve-se o estado material do suporte do abrigo. Um croqui do abrigo é também recomendável. Enfim, descreve-se a vegetação do entorno assim como a distância da àgua mais próxima.

Os vestígios de pinturas encontram-se expostos em dois grandes painéis na parede do abrigo (fig. 13). Um terceiro painel foi observado sobre um bloco que desprendeu-se do maciço principal e encontra-se na parte direita do setor abrigado [M.J. Rodet et al., 2003]. Um bloco caído (parte abrigada) foi também utilizado como suporte. Algumas pinturas localizam-se na parte baixa do abrigo (em relação ao solo atual), acessíveis à mão. Outras encontram-se mais altas, necessitando de um suporte para alcança-las.

2.2.2 – Sítios arqueológicos Lapa do Urubu Ponto GPS UTM 0675696/7997471 à 922 m (Córrego Alegre).

A temática dos painéis :

20

Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

O estado de conservação do suporte é precário; fatores naturais e antrópicos (evolução do quartzito - muito friável, carstificação, ninhos de cupins, fogo, ...) participam à degradação das pinturas (fig. 16).

Painel I : são animais: veados, peixes, pássaros (?), provavelmente com sobreposição e/ou oxidação da tinta ou limpeza das pinturas. A cor predominante é a vermelha (fig. 14 e 15).

Figura 14 - Peixe: exemplos observados sobre o painel 1.

Painel II : somente restos dos gafismos podem ser observados, extremamente deteriorado. Em relação ao pigmento utilizado, observa-se o vermelho e o amarelo.

Figura 16 - Lapa do Urubu: degradação do suporte. As pinturas foram realizadas na camada que corresponde à alteração da rocha (recristalisação superficial). Esta solta-se facilmente porfenômenos naturais e antrópicos.

Painel III : mal conservado, bastante descamado. Os motivos são animais e uma mão. Há partes da rocha no chão, com pinturas.

Os vestígios arqueológicos observados em superficie se resumem : 3 nucleos de quartzo (hialino e leitoso), lascas de quartzo leitoso, cacos cerâmicos decorados (finos, grossos, de cores claras avermelhadas, com bordas e alças), carvões provenientes de uma fogueira. Um cupinzeiro, quebrado, pode ter sido usado como fogão. As pinturas rupestres, em estado avançado de degradação são observadas em grande parte da superfície da falésia, assim como sobre os blocos caídos. Ressaltamos que o material arqueológico não foi coletado. Nesta primeira fase das pesquisas, preferimos deixar os vestígios in situ pois os sítios são bem resguardados haja visto que os responsáveis pelo parque não permitem a visitação destes locais pelos turistas. Um grande problema de coleta de material é, em seguida, a stocagem do mesmo.

Figura 15 - quadrupedes: croqui de pinturas observadas no painel 1.

Lapa do Veado Ponto GPS UTM 065769/799605, à 811 m (Córrego Alegre).

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Contexto arqueológico

Figura 17 - Visão geral de um dos setores com pinturas: conjunto de sítios próximos a um sítio maior, a Lapa do Urubu. A geomorfologia dos abrigos é bastante próxima, assim como a técnica de reslização das pinturas e o tema principal (veados).

largura), aberto em direção ao rio Preto, situado a alguns metros de distância (fig. 18). Observa-se no mínimo tres figuras de veado (cor laranja/vermelho). Pelo menos um dos vestígios foi realizado após a descamação da rocha.

Logo acima da cachoeira, onde encontra-se a Lapa Poço do Veado, nota-se uma linha de grandes blocos de arenito quartzificado. Neste setor existe um outro sítio com pinturas rupestres denominado Lapa do Veado (fig. 17).

Em relação a outros tipos de vestígio, ressaltamos que foi observado um instrumento lascado sobre seixo e uma lasca de quartzo hialino.

Figura 18 - Lapa do Veado: painel.

O piso do abrigo é composto de sedimentos bastante arenoso proveniente principalmente da desagregação da rocha local, mas também de fibras vegetais e de coquinhos provavelmente trazidos por roedores.

As pinturas são realizadas sobre o suporte de um pequeno abrigo bastante alto (aproximadamente 9 m de altura x 5 de

A vegetação do entorno próximo é de cerrado, circundada em direção ao rio, pela mata ciliar.

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Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

principalmente por problemas de exposição às intempéreis e pela evolução natural da rocha, muito friável.

Enfim, ressaltamos que o painel de pinturas esta bastante degradado: exposição permanente à claridade, descamamento da rocha, presença de cupinzeiro e de raízes sobre as pinturas.

Abrigo dos Tropeiros I Ponto GPS 0676953/7989422, 1283 m (Córrego Alegre).

Lapinha da Pintura Trata-se de um pequeno abrigo (fig. 19) situado na mesma linha de afloramentos da Lapa do Veado (fig. 17), a poucos metros deste (aproximadamente 40 m) e próximo ao rio Preto (100 m). A pintura retrata um grande cervídeo (70 x 30 cm) de cor vermelha-alaranjada.

O abrigo encontra-se a 3 horas à cavalo da sede do Parque. Segundo as informações, o local era parada dos tropeiros que faziam a rota Rio Vermelho/Diamantina. O sítio encontra-se à aproximadamente 100 m do Córrego dos Tropeiros. A vegetação do entorno são os campos de altitude.

Figura 20 - Lapa dos Tropeiros: vista geral do abrigo

Trata-se de um pequeno abrigo (21 passos de extensão), baixo (aproximadamente 4 m) que abre-se em direção ao rio (fig. 20). Os vestígios arqueológicos resumem-se a um grande painel pintado com dezenas de figuras zoomorfas (veados, tamanduás, porco do mato, ...). As pinturas encontramse num estado avançado de destruição (fig. 21).

Figura 19 - Lapinha da Pintura: visião do patamar do abrigo.

Os principais agentes são : a foligem das fogueiras dos tropeiros, a desagregação de blocos das paredes pelo calor do fogo, as pixações modernas.

No piso do abrigo foi observado um seixo de arenito quartzificado (rolado no rio) com estigmatas de percussão (pré-histórico ?). A vegetaçao é a mesma que circunda a lapa do veado : cerrado e mata ciliar (em direção ao rio). O abrigo encontra-se no mesmo estado de conservação dos outros, ou seja, as pinturas estão extremamentes deterioradas,

Na parte central do abrigo, onde não há vestígios de fogueira, nota-se desprendimento natural de placas da parede, pixações (azul e carvões - 1994) sobre pinturas pré-históricas de cor amarela. Nenhum outro tipo de vestígio pôde ser

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Contexto arqueológico

observado em superfície, a não ser uma pequena lasca de quartzo hialino (natural ?).

Situado nas partes mais altas das terras do Parque, o abrigo, uma pequena boca de caverna, abre-se em direção ao sul no topo da falésia acima do rio Preto. A localização do sítio permite uma boa visão de parte do vale. O solo do abrigo compõe-se de matriz arenosa, marrom, com cone de dejeção à esquerda. O suporte rochoso deve ser o mesmo do entorno, o meta-arenito quartzificado. A vegetação do local é do tipo cerrado e compõe-se de arbustos e arvores de pequeno porte, além de variedades de gramíneas. Nomes populares: vinhática, pau terra, candeira, carne de vaca, pau magro, ...

Abrigo dos Tropeiros II Ponto GPS 23L 0676984N/7989389L, 1299 m (Córrego Alegre).

Logo acima do abrigo dos Tropeiros, à aproximadamente 200 m da àgua, encontra-se um segundo abrigo, menor (15 passos de extensão), porém mais alto (aproximadamente 6 m), mais ventilado, portanto mais fresco, aberto em direção oeste. O suporte é o mesmo meta-arenito quartzitico, sendo que dentre os blocos desmantelados que encontram-se uns sobre os outros, é possível observar uma parte em quartzito claro (quase branco). Na parede principal do abrigo, onde encontram-se as pinturas, nota-se feições cársticas em forma de alvéolos. Vestígios de pinturas encontram-se na parte mais baixa da parede e estão em estado avançado de destruição (fig. 21).

Em relação aos vestígios arqueológicos, foram observados: fogueira, fogão, conjunto de debitagem de quartzo hialino contendo várias lascas e alguns núcleos, provavelmente realizados por garimpeiros que utilizavam o lugar para exploração e limpeza de quartzo hialino (jazida de quartzo hialino próxima ao abrigo). O local foi abandonado à aproximadamente 30 anos. A singularidade do Abrigo do Cristal é que 30 anos mais tarde os vestígios deixados pelos garimpeiros apresentarem um estado de conservação excelente (não cobertos por sedimentos), dando a impressão de terem sido feitos ontem. Lembramos que, a passagem dos garimpeiros no setor é um “objeto arqueológico” importante e merece ser estudado dentro de uma proposta de pesquisa para o Parque. Nossa intenção é fazer um trabalho de experimentação junto a um dos garimpeiros que utilizou o local e que mora nas proximidades do Parque.

Figura 21 - Lapa dos Tropeiros: figuras em amarelo (alto) e laranja (baixo).

Foi possível observar um pequeno quadrúpede em vermelho. Foram também observados 2 seixos (1 bem liso, o outro em arenito), semi-enterrados, cercados por algumas lascas de quartzo hyalino e leitoso. Há também restos de fogueiras e armadilhas, provavelmente contemporâneas à passagem dos tropeiros.

Nenhuma pintura pôde ser observada no teto, no entanto a camada de foligem impede uma boa visualização do suporte. Pedra das Figuras

Abrigo do Cristal

Ponto GPS: 23K 0675475 7998845N 335L (Córrego Alegre).

Ponto GPS UTM0673583/7993589, à 981 m (Córrego Alegre).

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Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

base do solo. Os pigmentos utilizados são de cores amarela e vermelha e a técnica é do tipo pintura preenchida.

As pinturas encontram-se sobre pequeno bloco (próximo de 4 m de altura x 2 de largura) de meta-arenito quartzitico, muito próximo da estrada que corta o parque (menos de 1 m), no início da subida, antes da Lapa do Tatu (fig. 22).

Figura 23 – Lapa do Tatu: vista da Lapa do Tatu, mostrando sua proximidade com a estrada e sua exposição ao sol e à poeira.

O suporte do abrigo é um afloramento de meta-arenito quartzificado, próximo a outros afloramentos do mesmo tipo. A àgua mais próxima é a do rio Preto (aproximadamente 50 m).

Figura 22 - Pedra das Figuras: vestígios de pinturas zoomorfas podem ser observados sobre um bloco de arenito quartzítico muito próximo à estrada que leva à sede do Parque.

As pinturas (tamandua, tridáctilo) estão bastante degradadas por causa do supporte muito friável, da exposição constante às intempéreis, da descamação da rocha e à deposição de poeira.

Figura 24 - Lapa do Tatu: a pintura do estilo "Planalto" encontra-se bem conservada na parte inférior (pés, barriga). No entanto na parte superior (cabéça) os traços desapareceram.

O piso do abrigo se compõe principalmente de rocha quartzitica e de sedimentos proveientes do entorno do afloramento. A vegetação local de cerrado compõe-se principalmente de arbustos. Nomes populares : quaresmeira, tapicuri, murici de flor amarela, candeia, pau terra, jacarandá, alecrin do campo, ... Não foram encontrados outros vestígios arqueológicos no solo do abrigo ou em seu

Lapa do Tatu Ponto GPS: UTM 0675476/998508, 899 m (Córrego Alegre).

O sítio é parcialmente circundado pela estrada de acesso (aproximadamente 6 m) que leva à sede do parque (fig. 23). A pintura encontra-se na parede de um pequeno abrigo (5 m de altura, 4 m de largura), dentro de um nicho à 1,80 m da

25

Contexto arqueológico

proveniente da desagregação colúvios do rio Preto.

entorno, a não ser uma única lasca de quartzo leitoso (antrópica ?) e coquinhos, provavelmente trazidos por roedores. Enfim ressaltamos que a pintura (fig. 24) está exposta ao sol e recebe os raios da manhã, não havendo nenhuma proteção pra filtrá-los [M.J. Rodet et al., 2003].

da rocha e dos

Neste contexto, o único vestígio observado é uma pintura (veado) pouco visível, realizada em pigmento vermelho. O suporte encontra-se muito degradado : exposição permanente à luz, exposição ao sol, presença de microorganismos, evolução natural da rocha, .... A falta de proteção do suporte expões os vestígios à contrastes de calores e à instalação de micro-organismos. Enfim, a vegetação é o cerrado (parte mais alta) e a mata ciliar (próximo ao rio).

Lapa do Poço do Veado Ponto GPS UTM 065868/7996793, à 804 m (Córrego Alegre).

A pintura encontra-se num abrigo de metaarenito quartzificado situado às margens do rio Preto, no local onde este forma um grande poço (fig. 17). De acordo com o gerente do Parque, o local é sistematicamente inundado pelas enchentes anuais do rio. Este fenômeno é visível tanto pela quantidade de areia que inunda o local (fig. 25), formando uma grande praia até à parede do abrigo (a areia trazida principalmente pelos colúvios do rio é atualmente o único componente de sedimentação do solo do abrigo, como pela presença a uma certa altura do solo, de galhos secos presos à vegetação ribeirinha.

Varzea da Estrela Ponto GPS 0675693/7997461 (Córrego Alegre).

Este sítio é situado próximo à estrada da serraria. Os grafismos (dois veados e um peixe) foram realizados sobre uma superfície não abrigada (fig. 26). Trata-se de um setor rochosos onde não há vegetação no entorno próximo (setor norte, parte mais alta, acima das cachoeiras) e a morfologia da rocha não apresenta setores protegidos; deste modo as pinturas foram realizada em um local completamente expostao ao sol e à chuva, em consequência as figuras encontram-se bastante deterioradas. Vale ressaltar que o local abriga uma nascente.

Figura 26 - detalhe das pinturas: a localização das pinturas é a céu aberto. Não há nenhuma proteção natural.

Sítio da Santa

Figura 25 - Lapa Poço do Veado: em superfície, o sedimento atual do abrigo é a areia fina

Ponto GPS: 0677502 N/79907521D, 1077 m (Córrego Alegre).

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Geoarqueologia do Parque Estadual do Rio Preto

A imagem de Nossa Senhora Aparecida (fig. 27) esta instalada sobre um bloco de de arenito quartzitico (altar construído com o mesmo material). Acima da imagem, no setor liso da rocha encontram-se vestígios de pinturas: quatro quadrúpedes sobrepostos por pixações modernas. Os vestígios pré-históricos são de cor amarela e alaranjada e são do mesmo estilo. O suporte é sempre o mesmo, arenito quartzificado claro.

É interessante notar que o local tem vários aspectos positivos para uma ocupação, sem que no entanto pudessemos observar qualquer sinal da passagem humana: proteção contra o calor e contra a chuva, ventilação, matéria prima de alta qualidade para lascamento (setor com quartzito muito fino), visão sobre uma grande parte do vale, proteção em função da altura, proximidade com àgua, paredes lisas para pintura.

A água mais próxima do sítio é o córrego Taiobal (proximo 1 km). A vegetação do entorno do sítio é o cerrado e os campos de altitude.

É possível que o local tenha sido pintado, no entanto a maior parte da camada superficial da rocha foi naturalmente retirada e pôde ter levado consigo os vestígios dos grafismos. Um trabalho detalhado deverá ser feito no setor.

Foi realizada uma rápida prospecção no entorno próximo : nenhum outro vestígio pôde ser observado.

Demos um nome provisório ao sítio, Labirinto de Zeus, na espera do nome definitivo que deverá ser indicado pelo “inventor do sítio”, o Deco.

Enfim, vale ressaltar que o suporte está bastante alterada, não só por degradações antrópicas atuais, mas também pela própria estrutura da rocha que descama-se facilmente.

Figura 27 - Sítio da Santa: o local é ainda utilizado para veneração de Nossa Senhora Aparecida.

Para terminar este capítulo é necessário assinalar um local prospectado, que nos foi indicado por Deco, um dos funcionários do Parque. Trata-se de um grande maciço (meta-arenito quartzificado), completamente carstificado (no mínimo três níveis) com condutos, canais, alvéolos, ....(fig. 28). Por questões de segurança e tempo somente os níveis inferiores, próximos ao solo foram

Figura 28 - Labirinto de Zeus: vista de um da carstificação da rocha que criou locais extremamente agradáveis e de rara beleza.

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Contexto arqueológico

bojo, até a metade do pescoço; - Estriado. Localização na peça: porção superior do pescoço até a borda (fig. 29).

2.3 - Vestígios Cerâmicos Para a ocorrência de vestígios cerâmicos, os trabalhos se restringiram a análise de alguns vestígios cerâmicos encontrados em um único abrigo visitado, e a levantamentos de informações orais. Também foram assinalados locais potenciais, para futuras prospecções. 2.3.1 - Ocorrências cerâmicos

dos

Estado de conservação dos vestígios : 2 fragmentos se encontravam bastante erodidos e muito pequenos.

vestígios

Lapa do Urubu Os vestígios cerâmicos observados no abrigo encontram-se depositados sobre o solo de superfície, dispersos em 2 conjuntos distintos perfazendo o total de 12 fragmentos, sendo que um destes fragmentos permanece enterrado, podendo ser a metade de um vasilhame ou mesmo ser um vasilhame inteiro (seria necessário escavar o local para saber se o vestígio está inteiro ou em fragmento).

Figura 29 - fragmento conjunto 1: nota-se foligem na face externa.

A maior parte dos fragmentos se concentra próximo à parede do abrigo, incluindo o “pote” enterrado, os outros fragmentos se encontram dispersos em torno de uma estrutura de combustão, e também próximos a um pequeno canal de pingueira (parte sul do abrigo).

Conjunto 2 – 4 fragmentos Cor: bege. Tamanho dos fragmentos : +/- 4,5 cm. Espessura: 7mm. Manufatura: modelagem. Tratamento Superfície: alisado e decoração plástica. Decoração plástica: estriado, inciso geométrico.

Conjunto 1 – 8 fragmentos Cor: amarela clara. Espessura: entre 5 e 6 mm. Tratamento de superfície: alisado e com decoração plástica. Decoração plástica: estriado, incisa (motivos geométricos). Manufatura : rolete. Pasta: areia, grãos de hematita, grãos de quartzo (
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