Geologia da Plataforma Continental entre Espinho e Caminha: Resultados Preliminares do Cruzeiro Geomar 92

June 27, 2017 | Autor: João Dias | Categoria: Marine Geology, Marine Geophysics, Continental shelf, Sedimentary Dynamics
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GAIA N0 5, DEZEMBRO 1992

Grupo GEOMAR 92 (Dias, João Alveirinho; Rodrigues, Aurora; Abreu, Lúcia; Araújo, Fátima; Cunha, Júlio; Drago, Teresa; Duarte, Duarte Nuno; Fatela, Francisco; Keil, Pedro; Larangeiro, Manuela; Lourenço, Nuno; Mimoso, Pedro; Oliveira, Anabela; Reis, Rui Pena dos; Ribeiro, Luís; Saldanha, Miguel; Santos, Fernando) (1992) - Geologia da Plataforma Continental entre Espinho e Caminha: Resultados Preliminares do Cruzeiro Geomar 92. Gaia (ISSN: 0870-7375), 5:35-39, Lisboa, Portugal.

Geologia da plataforma continental entre Espinho e 1 Caminha: resultados preliminares do cruzeiro Geomar 92 sam pIes of consolidated rock were collected. The study ofthese sam pIes is essential for an accurate calibration of the seismic reflection profiles.

Grupo GEOMAR 92 (*): João A1veirinho DIAS, Aurora RODRIGUES, Lúcia ABREU, Fátima ARAÚJO, Júlio CUNHA, Teresa DRAGO, Duarte Nuno DUARTE, Francisco FATELA, Pedro KEIL, Manuela LARANGEIRO, Nuno LOURENÇO, Pedro MIMOSO, Anabela OLIVEIRA, Rui Pena dos REIS, Luís RIBEIRO, Miguel SALDANHA e Fernando SANTOS.

1. INTRODUÇÃO

o cruzeiro GEOMAR 92 (za parte), promovido pelo IH a bordo do N.O. "Almeida Carvalho", decorreu entre os dias Z e 13 de Novembro de 1992, tendo sido efectuado no âmbito de vários projectos de investigação subsidiados pela JNICT. Entre os vários objectivos deste cruzeiro científico ressaltam a aquisição de novos dados de reflexão sísmica ligeira e a colheita de amostras de rocha consolidada na plataforma continental portuguesa entre Peniche e a fronteira norte com Espanha, por forma a conseguir-se pormenorizar a geologia desta região.

RESUMO: O cruzeiro GEOMAR 92 foi realizado a bordo do N.O."A1meida Carvalho", entre os dias 2 e 13 de Novembro de 1992. Teve como objectivo principal a aquisição de novos dados (geofísicos e sedimentológi· cos) na plataforma continental norte·portuguesa. Ao todo foram obtidos cerca de 1031 km de perfis de batimetria e de reflexão sísmica e foram colhidas 26 amostras de rocha consolidada, cujo estudo é da maior importância para a calibração dos perfis de reflexão sísmica.

A utilização de equipamento de reflexão sísmica ligeira contínua, teve como objectivo principal a obtenção de dados sobre a tectónica da região. Utilizaram-se duas fontes tipo "Sparker", trabalhando com potências de 40 J ou 1 000 J e 72 J, pretendendo-se com as potências menos elevadas discriminar as formações mais superficiais (presumivelmente pós-máximo glaciário) e com a potência de 1000 Joules obter informação sobre as formações mais profundas (até cerca da centena de metros abaixo do fundo). Frequentemente foram usados em simultaneidade os dois equipamentos referidos.

ABSTRACT: The scientific cruise GEOMAR 92 was carried out aboard the vessel N.O. "Almeida Carvalho", between the 2nd and the 13th ofNovember 1992. The main objective was the acquisition of new geophysical and sedimentological data in the north Portuguese continental shelf. 1031 km of bathymetric and seismic reflection profiles were obtained and also 26

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Este trabalho tem como objectivo a apresentação de alguns resultados preliminares referentes à região da

Contribuição A32 do Grupo Disepla. Museu Nacional de História Natural (Mineralogia e Geologia). R. da Esc. Politéc., 58,1294 LISBOA CODEX PORTUGAL

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plataforma compreendida entre 41 0 00' N (aproximadamente a latitude de Espinho) e 41 0 52' N (aproximadamente a latitude da fronteira com Espanha). 2. TRABALHOS ANTERIORES

o reconhecimento geológico da plataforma setentrional iniciou-se com a realização do cruzeiro científico "LUSITANlE 71" promovido pela Universidade de Rennes, a bordo do N.O. "JOB-HA-ZELIAN" (Chefe de Missão: G. Boillot). Os perfis de reflexão sísmica ligeira (Sparker SIG 6000 J) então obtidos, em conjugação com a amostragem de rochas consolidadas efectuadas também nesse cruzeiro (com coLhedor CNEXOVILLE), conduziram ao estabelecimento da primeira cartografia geológica desta região da plataforma portuguesa. Foram essencialmente esses dados que estiveram na base, entre outros, dos trabalhos de MUSELLEC (1974) e de BOILLOT et ai. (1972a; 1972b; 1973; 1975). A realização, em 1975, do cruzeiro "VIABOA", promovido pela Direcção-Geral de Geologia e Minas a bordo do N.O ."Almeida Carvalho" (Chefe de Missão: H. Monteiro), permitiu a obtenção de novos perfis de reflexão sísmica (EG&G 8000 J), os quais foram aproveitados, em conjugação com os aludidos anteriormente, na produção da "Carta Geológica da Plataforma Continental de Portugal, na escala 1/1 000000" (BOILLOT et ai., 1975), bem como mais recentemente, na elaboração da folha 1 da "Carta Geológica de Portugal na escala 1/200000" (PEREIRA et ai., 1989).

Apesar dos vários perfis de reflexão sísmica ligeira obtidos desde 1971, a caracterização geológica das unidades sísmicas tem sido efectuada, predominantemente, com base na amostragem colhida no decurso do cruzeiro "LUSITANIE 71". Assim, a amostragem agora recolhida (com colhedor CNEXOVILLE), utilizando sistema de posicionamento (GPS - Global Position System) de maior precisão do que o utilizado em 1971, viabilizará uma melhor caracterização das unidades sísmicas presentes nesta plataforma. 3. GEOLOGIA No decurso do cruzeiro GEOMAR 92 obtiveramse, cerca de 1031 Km de perfis de reflexão sísmica, tipo Sparker (Equipamento SIG), com 1 000 J de Potência, 640 Km com 72 J e 107 com 40 J (Fig. 1). Nos perfis de reflexão sísmica ligeira obtidos na região considerada é possível distinguir 5 unidades sísmicas principais, presumivelmente correspondentes a outras tantas formações geológicas que, basicamente, correspondem às unidades definidas por MOUGENOT (1976). A formação mais antiga aflora junto à costa até profundidades da ordem dos 70 m na parte norte e central e de 30 m na parte sul, e corresponde a uma unidade difractante que funciona como soco acústico na sísmica utilizada. E constituida por soco hercínico, muito deformado. A amostragem reco1l1ida no decurso deste cruzeiro em locais onde esta unidade aflora revela litologia variada classificada macroscopicamente como granitos, rochas quartzíticas e xistos muito consolidados. O contacto entre esta formação e as mais recentes é, geralmente, efectuado por falha. Este limite tem traçado grosseiramente subparalelo à linha de costa e surge como prolongamento da zona de fractura PortoTomar. Indícios vários permitem pôr a hipótese das falhas anteriormente referidas se integrarem numa zona de fractura cuja movimentação é inversa com componente do tipo desligamento esquerdo.

A realização, em 1988 e 1989, dos cruzeiros científicos "GEOMAR 88" e "GEOMAR 89", promovidos pelo Instituto Hidrográfico em colaboração com os projectos SMCOI (Sismotectónica da Margem Continental Oeste-Ibérica, em execução no Departamento de Geologia da Universidade de Lisboa) e DISEPLA (Dinâmica Sedimentar da Plataforma Continental a Norte de Peniche, em execução do Museu Nacional de História Natural), a bordo do N.O . "Almeida Carvalho" (Chefe de Missão: A. Dias), possibilitaram a obtenção de nova malha de perfis de reflexão sísmica (EGG 8000 J, SIG 1000 J e SIG 72 J). Estes novos dados se, por um lado, suplementaram os adquiridos anteriormente (caso da sísmica 8000 J), vieram, por outro lado, complementar a informação existente (caso da sísmica 1000 J e 72 J), pois que viabilizaram uma discriminação das formações superficiais impossível de conseguir com os perfis até então existentes. Foi, assim, possível efectuar com mais rigor a detecção de falhas com expressão superficial, isto é, que estão marcadas na plataforma por desnível do fundo (e que são presumivelmente activas). Entre os artigos publicados na sequência destes trabalhos referem-se os de RODRIGUES et ai. (1989, 1990 e 1992) e MAGALHÃES & DIAS (1992).

A unidade sísmica que, segundo MUSELLEC (1974), corresponde ao Mesozóico, é igualmente de carácter difractante no tipo de sísmica utilizado, embora seja possível evidenciar algumas diferenças, se bem que pequenas, da unidade correspondente ao soco paleozóico. Esta unidade aflora principalmente na plataforma externa, constituindo, nomeadamente, um relêvo conhecido pela designação de Beiral de Viana. Amostras colhidas nesta ocorrência são constituidas essencialmente por litologias carbonatadas. O contacto desta

Os dados adquiridos nos cruzeiros GEOMAR 88 e 89 foram também utilizados na selecção de sítios para

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mergulho com o ROV (Remote Operated Vehicle), tendo-se efectuado, na região em estudo um mergulho, em 1991, que permitiu confirmar não só que a falha do Beiral de Viana (detectada nos perfis de reflexão sísmica) é responsável por aquele relêvo, como também que é provavelmente activa e de movimentação inversa (RIBEIRO et ai., 1991, 1992).

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sísmica é constituida por série de reflectores contínuos e paralelos, inclinados para oeste e, por vezes, afectados por descontinuidades sub-verticais, interpretáveis como falhas, e limitado superiormente por uma superfície de erosão. Amostras colhidas sobre esta formação são constitui das por litologias carbonatadas mais ou menos margosas.

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Sobre esta superfície de erosão define-se uma unidade atribuível ao Eocénico, que se apresenta muito bem estratificada, com reflectores contínuos, paralelos e muito bem definidos. Aflora na plataforma média e externa, junto ao Beiral de Yiana, onde se verifica o contacto por falha, com o Mesozóico e PaI eocénico atrás referido. As amostras desta formação são de natureza carbonatada mais ou menos detríticas. Em posição superior às unidades aludidas e, por via de regra, com contacto discordante, existe uma unidade sísmica constituida por reflectores em geral bem definidos, paralelos, normalmente horizontais e sem grandes indícios de deformação. Corresponde à cobertura sedimentar depositada sobre uma superfície de erosão do Quaternário superior, muito provavelmente no decurso do último deglaciário e Holocénico (RODRIGUES & DIAS, 1989; RODRIGUES et aI., 1990). A estrutura típica desta plataforma está bem definida no perfil de reflexão sísmica obtido no dia 5/6 de Novembro com a potência de 1 000.1, reproduzido na Fig. 2. Este perfil, bem como vários outros obtidos no decurso do cruzeiro, permitem confirmar e pormenorizar o esquema proposto por RODRIGUES et ai. (1992).

40°00'

Basicamente, esta região da plataforma continental portuguesa é constituida por um "graben", limitado por falhas inversas. As duas linhas que definem a estrutura são o prolongamento na plataforma da zona de fractura Porto-Tomar e a zona de fractura da parte oriental do Beiral de Yiana. 4. CONCLUSÕES Fig.l- Cruzeiro GEOMAR 92

A interpretação preliminar, efectuada a bordo, relativa aos 1137,5 km de perfis de reflexão sísmica contínua obtidos no decurso do cruzeiro GEOMAR 92 (2ª parte), permitem, como se referiu, confirmar e pormenorizar resultados obtidos em cruzeiros anteriores, parcialmente expressos em RODRIGUES et aI. (1989, 1990, e 1992) e em RIBEIRO et ai. (1991, 1992).

unidade com as outras é efectuado por falha. Na realidade, é possível identificar na zona do contacto série de falhas, por vezes com uma expressão morfológica em escadaria, cujo carácter parece ser inverso. Com efeito, numa prospecção efectuada com o ROY, foi possível observar "in situ" esta sucessão de acidentes, bem como indícios de movimentação inversa (RIBEIRO et aI., 1991; 1992).

A interpretação cuidada desses perfis permitirá, seguramente, efectuar uma delimitação mais precisa das diferentes formações aflorantes nesta região da plataforma, definir mais rigorosamente a sua estrutura, estabelecer com mais pormenor a evolução pós- glaciária da zona, bem como seleccionar sítios importantes para observação com ROY. Na globalidade, os dados agora adquiridos viabilizarão um avanço bastante signi-

A unidade atribuida ao PaI eocénico e Eocénico inferior por MUSELLEC (1974) e BOILLOT et aI. (1975) aflora próximo do bordo da plataforma e vertente continental superior, a oeste do Beiral de Yiana, e na plataforma média a oeste da zona de afloramentos atribuidos ao soco hercínico. Nos perfis de reflexão

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