GESTÃO DO DESPORTO DE NATUREZA EM ÁREAS PROTEGIDAS: ESTUDO DE CASO NO PNSAC

June 3, 2017 | Autor: Maria Almeida | Categoria: Sport Tourism, Adventure Tourism, Nature-based tourism, Tourism
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Revista Intercontinental de Gestão Desportiva 2013, Volume 3, Número 1, ISSN 2237-3373

GESTÃO DO DESPORTO DE NATUREZA EM ÁREAS PROTEGIDAS: ESTUDO DE CASO NO PNSAC Paulo Filipe Rosa Escola Superior de Desporto de Rio Maior do Instituto Politécnico de Santarém, Portugal Unidade de Investigação do Instituto Politécnico de Santarém (UIIPS), Portugal [email protected] Maria do Céu de Sousa Teixeira de Almeida Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Estoril (ESHTE), Portugal [email protected] Luís Alberto Dias Carvalhinho Escola Superior de Desporto de Rio Maior do Instituto Politécnico de Santarém, Portugal Centro de Investigação em Saúde, Desporto e Desenvolvimento Humano (CIDESD), Portugal Unidade de Investigação do Instituto Politécnico de Santarém (UIIPS), Portugal [email protected]

Resumo A procura de atividades de desporto de natureza tem vindo a crescer globalmente sendo as áreas protegidas de grande interesse para a prática. A adequada gestão dos usos nestas áreas é essencial para que os objetivos de conservação da natureza e a qualidade da experiência dos praticantes sejam devidamente asseguradas. O presente artigo incide na gestão da prática de desporto de natureza (DN) em áreas protegidas (AP) e resulta de um trabalho desenvolvido no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, em Portugal. Este estudo teve como objetivo contribuir para a gestão da prática desportiva nestes territórios bem como aferir o potencial da AP em questão para a prática desportiva e dos praticantes de DN. Os resultados obtidos permitiram aferir o potencial da AP para a prática desportiva, caraterizar os praticantes e as suas práticas e identificar alguns problemas sociais e ambientais inerentes às práticas atuais e aferir a perceção dos praticantes sobre a adequabilidade de diferentes métodos e técnicas de gestão dos locais de prática. Palavras chave: Desporto de natureza. Gestão do desporto. Áreas protegidas. Gestión de las actividades deportivas en la naturaleza en áreas protegidas:

estudio de caso en PNSAC Resumen La demanda de actividades deportivas en la naturaleza ha ido creciendo a nivel mundial y las áreas protegidas (AP) de gran interés para la práctica. La gestión adecuada del uso de estas áreas es esencial de modo que los objetivos de conservación de la naturaleza y la calidad de la experiencia de los practicantes están debidamente asegurados. Este artículo se centra en la gestión de las actividades deportivas en la naturaleza (DN) en áreas protegidas y es el resultado de un trabajo en el Parque Natural de la Serra de Aire y Candeeiros en Portugal. Este estudio tuvo como objetivo contribuir a la gestión del deporte en estos territorios, así como evaluar el potencial de la AP en cuestión para la práctica de DN. Los resultados permitieron evaluar el potencial de AP para el deporte, caracterizar los practicantes y sus prácticas e identificar algunos de los problemas inherentes a las prácticas sociales y ambientales y evaluar la percepción actual de los practicantes sobre la idoneidad de los diferentes métodos y técnicas de gestión de los locales de práctica. Palabras clave: Actividades deportivas en la naturaleza. Gestión del deporte. Áreas protegidas.

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The management of nature-based sports in protected areas: case study in PNSAC Abstract The demand for sports activities in nature has been growing globally specially in protected areas of great interest for practice. The proper management of uses in these areas is essential to ensure the goals of nature conservation and the quality of experience of visitors and sport practitioners. This article focuses on the management of nature-based sports (NBS) in protected areas (PA) and results from a work in the Natural Park of Serra de Aire e Candeeiros, Portugal. It is aimed to contribute to the management of sport in these areas and assess the potential of the PA in question for sports practitioners and NBS. The results allowed to assess the potential of the PA for NBS, characterize the practitioners and their practices and to identify some social and environmental problems inherent to the current practices as well as assess the perception of practitioners on the appropriateness of different management methods and techniques in the sport practice spots. Key Words: Nature-Based Sport. Sport management. Protected areas.

Introdução As áreas protegidas (AP) são polos de atração reconhecidos para a prática de diferentes atividades, nomeadamente de desporto de natureza (DN). Este interesse crescente leva a que os visitantes destas áreas despendam cada vez mais tempo e dinheiro com o objetivo de desfrutarem de experiências em contato com a natureza (Hornback & Eagles, 1999). Na perspetiva de Eagles (2002), as diferentes atividades baseadas na fruição da natureza, em especial aquelas que ocorrem em AP, são uma indústria crescente e global, particularmente dependente dos atributos do meio natural em cada região. Valorizando a visitação sob a forma da procura de atividades desportivas, Pimentel e Saito (2010) defendem que o crescimento da oferta desportiva e turística de atividades de aventura, aliado ao interesse que este tema desperta nos media e, mais tardiamente, na ciência, pode fornecer uma interpretação de que estas práticas sejam amplamente conhecidas e procuradas pelo público em geral. Este crescendo foi já identificado por Cole (1996) num estudo sobre as tendências nas práticas de recreação e de lazer, onde refere o aumento da procura de espaços protegidos para actividades como o campismo, pedestrianismo, a escalada ou a bicicleta de todo o terreno (btt). É mediante este crescimento que o estudo da visitação e da utilização do espaço em AP se revela um dos pontos-chave para a gestão do turismo e recreação nestas áreas. A qualidade da experiência aquando da visita é determinante para o sucesso da AP enquanto local de lazer, turismo e prática desportiva, sendo vários os fatores que a determinam: as condições dos recursos naturais por si só (interesse paisagístico e desportivo da AP), o apoio logístico existente na área, as atitudes do pessoal da AP e até o comportamento de outros visitantes (Hornback & Eagles, 1999). Assim, a gestão da visitação deve incorporar três aspetos essenciais: (1) os visitantes são os principais utilizadores dos recursos e potencialidades das AP em termos recreativos, turísticos e desportivos (IUCN, 2002); (2) os visitantes têm opiniões e expetativas relativamente aos vários fatores influenciadores da sua experiência (Hornback & Eagles,1999) e (3) os visitantes são potencialmente dos principais causadores de impactos ambientais, sociais e económicos nas AP, sejam eles positivos ou negativos (Manning, 2007), particularmente quando não existem outras atividades socioeconómicas na AP. Hornback e Eagles (1999) tentaram normalizar conceitos e metodologias que permitam definir e estudar a visitação em AP, com o objetivo de contribuir para a uniformização das estatísticas da visitação a nível mundial. Estes autores apresentam uma breve síntese dos estudos cujo objeto incide sobre a visitação, sendo os estudos mais comummente realizados sobre: 1) caracterização do visitante e da viagem ou visita; 2) caracterização da atividade económica; 3) avaliação da

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satisfação relativamente à AP, seus recursos e serviços; 4) avaliação de conflitos; 5) atitudes e comportamentos ambientais, crenças, expetativas e perceções; 6) avaliação dos valores públicos e necessidades dos visitantes; 7) utilização de recursos e 8) segmentação da visitação. Destes estudos destacam-se três, nomeadamente, sobre impactos ambientais da visitação, conflitos entre visitantes e perspetivas dos visitantes sobre a regulamentação das AP. Em primeiro lugar, o estudo dos impactos ambientais causados essencialmente pelas atividades desportivas em contacto com a natureza (que se traduzem, por exemplo, na perda de vegetação, no abandono de lixo em locais de prática ou na erosão dos solos), porque são, acima de tudo, consequências diretas da visitação e dependem essencialmente do comportamento dos visitantes nas áreas protegidas. Segundo Paixão, Costa e Gabriel (2009), é notória a relação estreita entre o desporto de aventura e a natureza, uma vez que o meio ambiente se apresenta como cenário para a realização das atividades deste segmento, decorrendo uma constante interação entre o praticante e a natureza. É com base nesta interação que os estudos acerca da perceção do impacto se têm tornado cada vez mais importantes na agenda da investigação social em AP (Dorwart, Moore & Leung, 2010; Benton, 2011), embora ainda com menor relevância que os estudos sobre os impactos ecológicos da visitação. Em segundo lugar, os conflitos entre visitantes de áreas protegidas, sobretudo associados a práticas desportivas, que resultam em interferências negativas e na consequente degradação da experiência recreativa, desportiva e turística (Prey & Kiefaber, 2006; Mann & Absher, 2008; Marcouiller, Scott & Prey, 2008; Vaske & Shelby, 2008). Por último, a importância das opiniões e perspetivas dos visitantes acerca das regulamentações existentes nas áreas protegidas e que, de forma mais direta ou indireta, afetam os objetivos das suas visitas (IUCN, 2002; Manning, 2007;Needham & Rollins, 2009). As ciências sociais têm assim contribuído com teorias e métodos para uma melhor compreensão dos comportamentos, perceções e opiniões dos visitantes das áreas protegidas (Dearden & Rollins, 2009). Em Portugal, o desenvolvimento de estudos sobre a prática desportiva nas áreas protegidas é ainda escasso, sendo de destacar o trabalho de Marques, Reis e Menezes (2010) acerca da caracterização do perfil do visitante das áreas protegidas portuguesas. Neste enquadramento e por constatação desta lacuna, foi desenvolvido um estudo que incide sobre a prática desportiva no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) como estudo de caso. O objetivo geral do estudo foi contribuir para a gestão da prática desportiva, através da recolha de informação de base, essencial para a tomada de decisões futuras relativamente à gestão da visitação, tendo por base as perceções dos praticantes. Do objetivo geral, emergem quatro objetivos específicos: 1) Caraterizar o potencial para a prática desportiva na área protegida selecionada; 2) Caraterizar o praticante de desporto de natureza e a sua prática na área protegida; 3) Identificar problemas sociais e ambientais inerentes à prática percecionada pelos praticantes; 4) Aferir opiniões acerca da adequabilidade de métodos e técnicas de gestão dos locais de prática.

Metodologia Caracterização do estudo O estudo foi realizado no PNSAC, sendo este, um dos 13 de Portugal Continental. A escolha recaiu sobre esta área protegida por ter sido a primeira a publicar em Diário da República a Carta de Desporto de Natureza (CDN), um importante instrumento de gestão da prática desportiva na natureza e de elaboração obrigatória para todas as AP portuguesas, de acordo com o Decreto Regulamentar n.º 18/99, de 27 de Agosto. Até ao momento, e apesar da obrigação legal da sua constituição, apenas duas áreas protegidas publicaram a sua CDN. O PNSAC foi criado em 4 de Maio de 1979, pelo Decreto-Lei nº 188/79, de 22 de Junho, e abarca uma área de 38.900 ha. Esta

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área protegida está classificada com as categorias IV e V pelos critérios da International Union for Conservation of Nature (IUCN). Para o cumprimento dos objetivos adotaram-se complementarmente duas dimensões de análise, uma dimensão qualitativa essencialmente materializada em análise documental e uma dimensão quantitativa de análise estatística. Dada a grande abrangência do PNSAC em termos concelhios e à dinâmica desportiva do concelho de Rio Maior, a dimensão quantitativa do estudo foi aplicada apenas a praticantes residentes neste concelho. Amostra A análise documental incidiu principalmente na CDN e respetivo regulamento, essenciais para o cumprimento do primeiro objetivo específico deste estudo e para a definição das variáveis em estudo, posteriormente incluídas nos questionários. Para a dimensão quantitativa, a amostra foi constituída por 82 praticantes de atividades de Desporto de Natureza residentes no concelho de Rio Maior. Esta amostra não tem uma base probabilística por inexistência de estudos anteriores e de registos fiáveis sobre os praticantes. A dificuldade de encontrar grupos em contexto real de prática determinou o processo de amostragem que foi a distribuição de questionários tanto em contexto real de prática como em ginásios, escolas e clubes. Instrumento de recolha de dados O questionário foi construído especificamente para o estudo com base na revisão da literatura e na análise documental realizada, sendo posteriormente sujeito a um processo de validação com as seguintes fases: 1) reunião inicial com especialistas; 2) aplicação piloto mediante método de testereteste (teste não paramétrico de Wilcoxon), aferindo-se a constância dos resultados; 3) segunda reunião com especialistas; 4) elaboração do guião final. O questionário foi composto por 18 perguntas organizadas em 6 dimensões, nomeadamente: 1) caracterização pessoal; 2) caracterização da prática desportiva; 3) caracterização de situações de conflito; 4) perceção do desgaste ambiental dos locais de prática; 5) perceção do praticante quanto às quantidades de uso decorrentes no PNSAC; 6) opiniões quanto à adequação de medidas de gestão dos locais de prática. Análise e tratamento dos dados Na análise qualitativa, foram utilizadas técnicas de análise documental, traduzidos sob a forma de uma matriz com quatro categorias de análise. A análise originou conjuntos de dados que representaram inferências sobre a realidade percebida através do documento analisado. Para a análise quantitativa, e dada a natureza das variáveis, utilizaram-se técnicas estatísticas não paramétricas descritivas, através do uso de parâmetros estatísticos (média, desvio-padrão e intervalos de variação) e de tabelas de contingência e técnicas de estatística inferencial através da correlação (Qui-Quadrado) e comparação (U-Mann Whitney). O tratamento dos dados foi realizado com recurso ao Software PAWS Statistics (Versão 18).

Resultados Seguidamente apresentam-se e discutem-se os resultados para cada um dos objetivos específicos previamente definidos.

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Objetivo 1: Caracterizar o potencial para a prática desportiva na área protegida selecionada O PNSAC tem uma grande abrangência em termos de distritos e concelhos (2 distritos e 7 concelhos). Esta abrangência pode constituir-se como uma mais-valia se for considerada a possibilidade de uma gestão participativa, sustentada pelos vários intervenientes no território. Existe também um número considerável de entidades (e.g. empresas, clubes, associações, escolas, municípios) registadas no PNSAC o que pode potenciar a dinamização do território. Esta realidade aponta para a valia da aplicação dos denominados “processos de gestão participativos”. Estes processos têm-se centrado sobretudo na eficácia dos canais de comunicação entre stakeholders e a gestão central das AP, no envolvimento das populações locais e nos benefícios financeiros e económicos gerados pelo turismo e pela recreação nas AP nas comunidades locais (Aas, Ladkin & Fletcher, 2005; Miller, Rathouse, Scarles, Holmes & Tribe, 2010; Reid, Mair & George, 2004) Relativamente às oportunidades desportivas existentes, no quadro 1 sintetizam-se os resultados obtidos da análise documental realizada. Quadro 1- Oportunidades desportivas no PNSAC Meio físico

Atividade

Água

Canoagem

2

Terra

Atividades equestres

-

BTT

-

Escalada

9

Espeleologia

4

Orientação

-

Pedestrianismo Ar

Total

Nº de locais de prática

15

Balonismo

-

Parapente

6

9 atividades

36

Identificaram-se nove atividades desportivas diferenciadas no PNSAC, nomeadamente: atividades equestres, balonismo, btt, canoagem, escalada, espeleologia, orientação, parapente, pedestrianismo e voo livre. Estas atividades distribuem-se de forma não uniforme pelos três meios físicos, sendo que predominam locais predefinidos para as atividades terrestres, com destaque para a escalada e para o pedestrianismo. No quadro 1 identificam-se atividades para as quais não estão designados locais específicos para a sua prática embora seja reconhecida a sua prática na AP. Esta realidade pode ser reveladora de limitações na gestão das atividades de DN e propiciadora de conflitos ou de violações das regras estabelecidas com o fim da conservação de valores naturais. Na AP destaca-se a prática de atividades como o btt com utilização de espaços destinados ao pedestrianismo ou outros não autorizados. Tendencialmente, estas lacunas de espaços ou locais dedicados e os usos inadequados do espaço podem levar quer a problemas ambientais (Leung & Marion, 2000), quer a problemas sociais fortemente associados a situações de conflito (Tumes, 2007).

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Objetivo 2: Caraterizar o praticante de desporto de natureza e a sua prática na área protegida Embora os resultados obtidos para o grupo de praticantes da amostra não possam ser generalizados a toda a área protegida, este estudo pode ser entendido como indicador de tendências gerais. Os resultados relativos à dimensão de caracterização dos praticantes são resumidos no quadro 2. Quadro 2- Resultados gerais da caracterização do praticante de DN no PNSAC Variável

%

n

Média

Desvio padrão

Masculino

78

64

-

-

Feminino

22

18

-

-

15-19

2,4

2

31,2

±8,2

20-24

24,4

20

25-34

40,2

33

35-44

25,6

21

45-54

7,3

6

BTT

68,3

56

-

-

Pedestrianismo

51,2

42

-

-

Escalada

24,4

20

-

-

Rapel

8,5

7

-

-

Espeleologia

7,3

6

-

-

Orientação

4,9

4

-

-

Desportos motorizados

1,2

1

-

-

BTT

50,0

41

-

-

Pedestrianismo

34,1

28

-

-

Escalada

11,0

9

-

-

Espeleologia

2,4

2

-

-

Orientação

1,2

1

-

-

Desportos motorizados

1,2

1

-

-

Género

Idade

Atividades praticadas

Atividade dominante

A amostra inquirida é predominantemente do género masculino (78%). A média de idades foi de 31 anos (± 8,2) com a classe modal a corresponder à faixa etária “25-34” anos. As faixas etárias extremas são as que apresentaram menores valores em termos de número de praticantes. O btt (68,3%) e o pedestrianismo (51,2%) foram as atividades mais desenvolvidas pelos praticantes da amostra, observando-se que muitos praticantes não desenvolvem exclusivamente uma atividade. A atividade dominante ou principal foi o btt para 50,0% dos inquiridos, seguindo-se o pedestrianismo (34,1%) e a escalada (11,0%).

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Os resultados são naturalmente influenciados pelo contexto local, quer pelas caraterísticas da AP quer pela cultura da prática desportiva na região. De fato, embora se observem pontos comuns com resultados obtidos noutras regiões (Pimentel & Saito, 2010; Tahara, Filho & Schwartz, 2006) existem variações importantes como se constata, entre outros, nos estudos de Betrán e Betrán (1998; 1999). A boa oferta de locais de prática de pedestrianismo no PNSAC, em termos de número de percursos identificados, poderá explicar parcialmente os resultados obtidos. Esta constatação corresponde ao defendido pela IUCN (2002) e por Manning (2007) em termos da relação entre a procura e a oferta quando se equacionam as oportunidades para atividades nas AP. Esta relação é de fato observada no presente estudo para o caso do pedestrianismo se forem cruzados os resultados dos quadros 1 e 2. No entanto, no caso do btt embora não existam condições locais que explicam as preferências dos praticantes, identifica-se com estes resultados, um potencial problema porque, apesar de autorizado dentro dos limites da AP, não existem locais determinados para a prática. Sendo a atividade com maior adesão, é essencial que sejam avaliados os impactos e a qualidade da experiência dos praticantes. Importa assim efetuar o levantamento dos percursos utilizados pelos praticantes de btt, identificar violações ambientais e potenciais conflitos com outras atividades relevantes, nomeadamente com o pedestrianismo como constatado por Tumes (2007) e Carothers, Vaske e Donnelly (2001), entre outros. A par deste trabalho deverá ser equacionado o estabelecimento de uma rede mínima de percursos sinalizados orientados para esta modalidade, preferencialmente em estreita colaboração com os utilizadores e suas associações para facilitar a posterior implementação e utilização. A experiência dos praticantes pode ser inferida do número mínimo de anos de prática na atividade e da perceção do nível técnico dos indivíduos enquanto praticantes na atividade dominante (quadro 3). Quadro 3- Nº de anos de prática e nível técnico dos praticantes Variável

%

n

Média (M)

Desvio padrão

Mín

Máx

Moda

Mediana

-

82

6,2

±4,8

1

25

3

4

Fraco/Razoável

59,8

49

3,33

±0.7

1

5

3

3

Bom/Muito Bom

40,2

33

N.º de anos de prática

Nível técnico

Na análise da variável “Nº de anos de prática da atividade dominante”, verificou-se uma grande discrepância nos resultados, podendo-se verificar através do valor do intervalo de variação (ω=24) e DP (±4.8). O valor 3 é aquele que apresenta maior frequência. O valor da mediana (4) revela que grande parte dos indivíduos têm até 4 anos de prática. No que concerne ao nível técnico, foi apresentada uma escala de apreciação Lickert com 5 níveis, em que 1=Muito fraco e 5=Muito Bom. Dada a inexistência de frequências referentes ao 1º nível da escala de Lickert, dicotomizamos a variável. A consonância entre os parâmetros de tendência central (M=3,33, Mediana=3 e Moda=3) e reduzida dispersão de resultados (±0.7) levam a crer que existe uma perceção clara dos níveis técnicos. Estes resultados são importantes como orientação para o estabelecimento de locais de prática que possam ser acessíveis a diferentes grupos como recomendado por Hornback e Eagles (1999). Estes autores apontam o conhecimento das caraterísticas dos indivíduos como fator essencial para a definição das oportunidades recreativas nas áreas protegidas. Também a IUCN (2002) assume que a definição de espaços de prática desportiva deve ter em conta as expetativas e preferências dos turistas que visitam as áreas protegidas. Neste caso em que muitas das

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atividades realizadas correspondem a um primeiro contato com a região, a sinalização adequada dos percursos permite também melhorar a correspondência entre o nível técnico dos praticantes, turistas ou locais, melhorando a qualidade da experiência em si. Assim, os gestores das AP devem ter em conta a criação de estruturas e espaços adequados a ambos os públicos-alvo. Para a dimensão de caracterização da prática desportiva foram consideradas seis pontos de vista, com recurso a diversas variáveis para a sua definição. No quadro 4 apresenta-se um resumo dos principais resultados para cinco destes pontos de vista. Quadro 4- Caracterização da prática desportiva Variável

%

n

Diária

6,1

5

Semanal

53,7

44

Quinzenal

23,2

19

Mensal, semestral ou anual

17,1

14

Todas as estações do ano

53,7

44

Apenas primavera e verão

19,5

16

Apenas outono e inverno

2,4

2

Todas as estações exceto inverno

11,0

9

Apenas numa estação do ano

13,4

11

3h a 5h

58,5

48

1h a 2h

31,7

26

+5h

9,8

8

Lazer

54,9

45

Manutenção

15,9

13

Saúde

13,4

11

Treino/Competição

9,8

8

Trabalho

3,7

3

Aulas

2,4

2

Acompanhado

95,1

78

Sozinho

4,9

4

Periodicidade

Sazonalidade

(total das respostas para as 4 estações) Tempo médio despendido na prática

Principal motivação

Companhia na prática

Os dados relativos à periodicidade e sazonalidade são fundamentais para a determinação de medidas de gestão de locais de prática, sobretudo com cariz de proteção ambiental (Leung & Marion, 2000). A prática de atividades como o btt tem maior impacto sobre os recursos naturais

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durante a época das chuvas (Quinn & Chernoff, 2010). Neste estudo de caso, a periodicidade de prática mais comum é a semanal (53,7%). Mais de metade dos respondentes mantem a prática durante todo o ano (53,7%), independentemente da estação. Cruzando os resultados sobre o tipo de atividade com o período semanal em que são realizadas infere-se a influência da «complexidade logística» associada à prática da atividade no dia da semana em que são realizadas. Em casos como a espeleologia ou a escalada, que implicam uma logística superior e não são normalmente feitas individualmente, concentram-se aos fins de semana. Nas atividades logisticamente menos complexas, como o pedestrianismo e o btt, já é mais frequente serem realizadas durante os dias úteis. Para a maioria dos praticantes inquiridos a duração da prática em cada visita é significativa sendo que cerca de 68% refere fazer uma média superior a 2 horas. Neste caso, a necessidade de uma deslocação relevante até à área protegida pode ser fator explicativo das menores durações médias serem menos relevantes. As principais motivações para a prática são o lazer (54,9%), a manutenção (15,0%) e a saúde (13,4%). Tahara et al. (2006), num trabalho de natureza qualitativa, observaram que 31,8% das respostas valorizavam o envolvimento em atividades de aventura como forma de conseguir vivenciar momentos propícios à concreta revisão de valores e atitudes, princípios estes fortemente associados ao lazer. Os praticantes inquiridos desenvolvem as suas atividades sobretudo acompanhados (95,1%), sendo quatro o número médio de acompanhantes, embora varie entre de 0 e 25. Os locais preferidos no PNSAC para a realização da prática desportiva constam do quadro 5. Quadro 5- Locais preferenciais para prática de atividades no PNSAC Variável

%

n

Chãos/Alcobertas

82.9

68

Marinhas do Sal

53.7

44

Olhos d’Água do Alviela

41.5

34

Minde/Mira de Aire

26.8

22

Porto de Mós

19.5

16

Alvados

18.3

15

Cortiçal/Barreirinhas

13.4

11

Outro

0

0

Locais de prática preferenciais

Verificou-se que os locais mais utilizados pelos praticantes são os mais próximos da zona de residência, nomeadamente Chãos/Alcobertas (82.9%) e Marinhas do Sal (53.7%). Depois de aferida a significância da relação entre a proximidade e a escolha do local de prática foi efetuada a correlação entre as variáveis; no entanto, o valor de correlação obtido (sig=0.059, para p≤0.05) não permite confirmar esta relação em termos estatísticos. Para que esta correlação fosse despistada seria conveniente dispor de dados para praticantes residentes nos outros municípios sendo limitada esta análise apenas com dados do concelho de Rio Maior. Os locais apresentados no questionário resultaram da análise realizada à CDN e ao respetivo regulamento. Infere-se assim que, embora algumas atividades não tenham percursos definidos, os locais procurados estão identificados facilitando assim o desenvolvimento complementar nestas áreas. A IUCN (2002), defende a existência de oferta variada, como uma das melhores forma de

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garantir as melhores condições ambientais nos locais de prática e coexistência entre praticantes. Estes resultados revelam também uma tendência em termos das quantidades de uso dos locais identificados. Adicionalmente, permite cruzar com as necessidades de manutenção das condições físicas e ambientais, quer nas infraestruturas de apoio, quer dos espaços naturais, nos locais sujeitos a maior pressão. Para este efeito são também importantes os resultados obtidos para a variável «prática semanal», para cada local e atividades mais desenvolvidas. Objetivo 3: Identificar problemas sociais e ambientais inerentes à prática percecionada pelos praticantes Neste estudo considera-se a identificação de problemas sociais especificamente traduzidos sob o conceito de “conflito”. A análise foi realizada em duas vertentes, nomeadamente, “tipo de interação”, utilizando a perspetiva apresentada por Needham e Rollins (2009), e “causas para a ocorrência do conflito” utilizando algumas das causas apresentadas no trabalho de revisão bibliográfica efetuado em Marcouiller et al. (2008). Em termos gerais não foram identificados casos críticos de conflito no estudo de caso. No entanto, destacam-se as referências aos conflitos com “atividades não desportivas” (29,3%), por razões associadas à “poluição sonora ou visual originada por outras atividades não desportivas” (identificada por 54,2% dos indivíduos que especificaram o tipo de interação anterior). Os pedestrianistas foram aqueles que reportaram maior número de conflitos (21,4% dos pedestrianistas), indo de encontro aos resultados de Tumes (2007) e de Carothers et al. (2001) que identificam este grupo como o mais susceptível de vivenciar situações de conflito. Em conjunto com os praticantes de btt (14,6%) constituem 36% das situações de conflito reportadas. Outras das causas mais apontadas para a ocorrência de conflitos foram a “deposição de resíduos originados por outras actividades não desportivas” (29,3%) e a “falta de Civismo/ética na prática desportiva” (19,5%) apontando para alguma falta de sensibilização e ética desportiva dos praticantes. Neste caso, os conflitos entre praticantes são essencialmente entre pedestrianistas e praticantes de btt embora com menor relevância. Não foram encontrados estudos sobre conflitos entre os praticantes e outros usos ou atividades económicas, possivelmente devido às características desta AP. O PNSAC é uma AP humanizada e socialmente ativa, onde decorrem atividades económicas com grande expressão como é o caso da indústria de extração de pedra e das suiniculturas. Dadas estas especificidades, a gestão dos usos deve incorporar ações junto dos industriais, sensibilizando para a necessidade de coexistência com outras atividades, neste caso o desporto de natureza, sob a forma recreativa ou turística. No âmbito ambiental, os praticantes foram questionados quanto à sua perceção acerca do desgaste físico dos locais onde realizam a sua prática desportiva dominante. Foi utilizada uma escala de apreciação Lickert com 5 níveis: “1) Apresenta degradação significativa” a “5) Tem melhorado significativamente. Os resultados são apresentados no quadro 6. Quadro 6- Perceção ambiental acerca do local onde desenvolve a atividade dominante Variável

%

n

Apresenta degradação significativa

0,0

0

Apresenta alguns sinais de degradação

43,9

36

Não observa alterações

41,5

34

Tem melhorado ligeiramente

12,2

10

Tem melhorado significativamente

2,4

2

Perceção ambiental (local onde desenvolve a atividade dominante)

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A média das opiniões obtida (M=2,7 ±0,8) revela-se ligeiramente negativa (inferior a 3, valor associado à categoria «Não observa alterações»). No entanto, não foram reportadas respostas na categoria «Apresenta degradação significativa» o que é positivo. Os resultados obtidos para as modalidades mais desenvolvidas, btt e pedestrianismo, têm associadas respostas mais negativas. Na mesma questão aplicada à «Perceção ambiental de outros locais que não os da prática dominante», os locais identificados em pior estado foram os «trilhos Pedestres» com 68,3% das respostas e os «acessos a locais de prática» com 73,1%. Estes problemas poderão decorrer do elevado fluxo de visitantes e praticantes total nestes locais, com boas acessibilidades por estrada, que de facto foram identificadas nos questionários como as mais procuradas, sobretudo Chãos/Alcobertas e Marinhas do Sal. A fim de aferir a influência do nível de especialização técnica como fator influenciador da perceção ambiental dos praticantes foi aplicado o teste de comparação de Mann-Whitney U (p≤0,05), com base no ponto de vista de Deng, Qiang, Walker e Zhang (2003) acerca dos elementos sociais como influenciadores da perceção dos indivíduos. O resultado obtido (p=0,135) não nos permitiu diferenciar o grupo neste aspeto. Objetivo 4: Aferir opiniões acerca da adequabilidade de métodos e técnicas de gestão dos locais de prática Perante a existência de métodos e técnicas de gestão dos locais de prática desportiva, questionaram-se os praticantes acerca das medidas que na sua opinião poderiam ser mais adequadas. Foram apresentadas técnicas de gestão, com diferente caráter e objetivos primários. Foi utilizada uma escala de apreciação Lickert com 5 níveis desde “1) Nada adequado” a “5) Completamente adequado”. No quadro 7 apresenta-se a listagem das técnicas referidas no questionário. Quadro 7- Técnicas de gestão, caráter e objetivo primordial Técnica de gestão

Caráter

Objetivo primário

1. Ações de sensibilização e educação dos participantes.

Indireto

Conservação da natureza

2. Limitação do tamanho dos grupos nos locais onde praticam as atividades

Direto

Conservação da natureza Redução de conflitos

3. Criação de espaços especificamente direcionados para a prática de certas atividades

Indireto

Redução de conflitos Conservação da natureza

4. Promover a dispersão dos praticantes através de informação sobre locais de prática

Indireto

Redução de conflitos

5. Proibição temporal da prática em locais muito desgastados

Direto

Conservação da natureza

6. Proibição do uso em épocas do ano com maiores impactos

Direto

Conservação da natureza

7. Limitar a duração da prática diária

Direto

Conservação da natureza Redução de conflitos

8. Fiscalização ativa por parte do ICNB

Direto

Controlo da prática

9. Limitação do número de utilizadores diários na AP

Direto

Conservação da natureza Redução de conflitos

10. Pagamento de taxas

Direto

Controlo da prática

11. Construção e melhoramento de infraestruturas de apoio à prática

Indireto

Redução de conflitos Melhoria da prática

12. Proibição temporal da prática (devido a fauna e flora)

Direto

Conservação da natureza

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As técnicas selecionadas tiveram como base os trabalhos de Manning (2007), Needham e Rollins (2009) e IUCN (2002) e a sua adequabilidade à realidade dos locais de prática e da regulamentação da CDN. Segundo os autores, as técnicas diretas têm um caráter mais restritivo e punitivo, sendo normalmente menos aceites entre o público que visita áreas protegidas e traduzidas sobretudo, sob a forma de proibições. As técnicas indiretas por sua vez, estão associadas à promoção e sensibilização dos visitantes ou outras medidas que muitas das vezes não são percecionadas pelos mesmos, havendo por isso maior recetividade. Os resultados da apreciação dos inquiridos constam do quadro 8. Quadro 8- Opinião dos praticantes sobre potenciais medidas de gestão dos locais de prática Medidas

Médias

Medidas indiretas

M

M Total

1. Ações de sensibilização

4,27

4,07

3. Criação de espaços específicos para a prática

4,01

4. Promover dispersão através de informação

3,95

11. Construção e melhoramento de infraestruturas

4,06

Medidas diretas

M

M Total

2. Limitação tamanho dos grupos nos locais de prática

3,72

2,88

5. Proibição temporal da prática em lugares desgastados

3,52

6. Proibição do uso em épocas de maior impacto

3,44

7. Limitar duração de prática diária

2,10

8. Fiscalização ativa por parte do ICNB

2,66

9. Limitação do número de utilizadores diários na AP

2,22

10. Pagamento de taxas

1,50

12. Proibição temporal prática (Fauna e Flora)

3,84

Medidas diretas com objetivos de conservação da natureza

M

M Total

5. Proibição temporal da prática em lugares desgastados

3,52

3,6

6. Proibição do uso em épocas de maior impacto

3,44

12. Proibição temporal prática (Fauna e Flora)

3,84

Medidas diretas com obj. de conserv. natureza e redução de conflitos

M

M Total

2. Limitação Tamanho dos grupos nos locais de prática

3,72

2,68

7. Limitar duração de prática diária

2,10

9. Limitação do número de utilizadores diários na AP

2,22

Medidas diretas com objetivos de controlo estrito da prática

M

M Total

8. Fiscalização ativa por parte do ICNB

2,66

2,08

10. Pagamento de taxas

1,50

Os resultados obtidos vão de encontro às propostas de Manning (2007), Needham e Rollins (2009) e IUCN (2002), que defendem as medidas indiretas, como as mais aceites por visitantes e até pelos responsáveis pelas AP. Neste caso as medidas com caráter indireto (Média=4,07) e medidas diretas com objetivos específicos de conservação da natureza (Média=3,6) foram as mais aceites

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entre os grupos. Um aspeto interessante é a constatação de as medidas diretas com objetivos de conservação da natureza, apesar de restritivas e normalmente menos aceites pelos visitantes em áreas protegidas, obtiveram uma média de 3,6, situada entre os níveis «adequado» e «bastante adequado», demonstrando a consciência ecológica dos inquiridos. Também de acordo com as posições defendidas pelos autores referidos, as medidas diretas, com caráter restritivo e punitivo, obtiveram os valores de adequabilidade mais baixos (M=2.88; M=2.68; M=2.08). Utilizando a variável “nível técnico” como fator de comparação entre as opiniões, através de teste Mann-Whitney U, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos para nenhuma das medidas, sendo que o resultado mais significativo foi para a medida “Pagamento de taxas” (sig=0.082, para p≤0.05).

Considerações finais A informação sobre a visitação pode ser de grande valia para a gestão de AP. A informação sobre os visitantes e as suas atividades, sobre os espaços utilizados para a prática das atividades, sobre os serviços prestados e as suas necessidades, permitem que os gestores das áreas protegidas sejam capazes de lidar com o desafio de volumes crescentes de turismo e práticas desportivas em áreas protegidas (Hornback & Eagles, 1999). Tendo por base o estudo do PNSAC, e adotando uma metodologia com duas vertentes, documental e caracterização da visitação, através de questionários, foi possível recolher informação que se considera revelante para a gestão da área protegida e que incorpora os pontos de vista dos visitantes embora reconhecendo os objetivos primordiais de conservação da natureza na AP. Os resultados permitem avaliar aspetos importantes sobre os praticantes, os locais e as atividades bem como a identificação de problemas percecionados pelos praticantes, que importa considerar na gestão da AP de modo a que a tomada de decisão no futuro seja mais abrangente e mais sustentável. Os resultados que se consideram ser mais importantes e a ter em conta na gestão do PNSAC, no âmbito do desenvolvimento e organização do território, são a consideração de implementação de locais e percursos específicos para a prática de btt, com diferentes níveis de dificuldade, cuja gestão e manutenção possa ser partilhada com os clubes e empresas que mais desenvolvem esta prática, aplicando assim uma gestão participativa, com vantagens na redução de custos para a entidade gestora. Tendo em conta a grande abrangência em termos de concelhos e distritos desta AP, esta gestão participativa é claramente potenciada. Adicionalmente, afigura-se interessante explorar a possível dinâmica que deriva do elevado número de entidades registadas no PNSAC e que pode ser um motor do desenvolvimento de DN no PNSAC. No âmbito da prática atual importa considerar como um investimento a promoção do PNSAC, em estreita parceria com outras entidades, de modo a promover a conservação da natureza em paralelo com a manutenção de locais de prática. A sensibilização e envolvimento de escalões etários mais jovens e seniores, que estão atualmente sub-representados, podem trazer benefícios adicionais. Se a vertente formativa é de grande interesse para os mais jovens, o envolvimento de seniores que procuram manter-se ativos pode ser de grande valia. O estímulo da prática de atividades “menos comuns” nesta AP, pode dinamizar esta AP, trazendo pontos de vista complementares à gestão deste território, sendo exemplos a espeleologia, a escalada, a orientação ou atividades de voo livre. A avaliação ambiental, económica e social de alguns locais específicos, em especial «Chãos/Alcobertas e Marinhas do Sal» que, pelos resultados obtidos se demonstraram locais de muita procura, é claramente recomendável.

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No âmbito da gestão, importa considerar, numa fase de revisão dos métodos de gestão da prática, os maiores níveis de aceitação face a medidas indiretas e diretas com caráter estrito de conservação da natureza. Especial atenção, às melhorias das infraestruturas, à promoção da dispersão das atividades através de informação e aos processos de sensibilização de praticantes. No âmbito dos problemas identificados, há que ter em conta os conflitos reportados em particular com outras atividades económicas, constatação menos comum noutros locais, e entre praticantes de modalidades diferentes no mesmo local de prática, em particular entre pedestrianistas e praticantes de btt. Revela-se essencial aplicar ações adequadas para a sensibilização em aspetos como a adequada gestão dos resíduos sólidos e dos industriais presentes no PNSAC no sentido de valorizar as atividades de DN.

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Recebido em: 01 de janeiro de 2013 Aceito em: 19 de março de 2013 Endereço para correspondência: Paulo Filipe Rosa Escola Superior de Desporto de Rio Maior Av. Dr. Mário Soares, Pavilhão Multiusos 2040-413 Rio Maior Portugal E-mail: [email protected] | (+351) 967187876

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