GESTOS, COGNIÇÃO E SURDEZ: a importância dos gestos espontâneos para os usuários de Libras

June 19, 2017 | Autor: Claudio Assis | Categoria: Deaf studies, Mathematics Education, Gesture, Cognition
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GESTOS, COGNIÇÃO E SURDEZ: a importância dos gestos espontâneos para os usuários de Libras Cláudio de Assis 1

GD13 – Educação Matemática e Inclusão Este artigo tem como objetivo descrever o projeto de Tese de Doutorado em Educação Matemática, na linha de pesquisa de Educação Inclusiva, com foco no sujeito Surdo usuário de Libras. Partindo das premissas de que: os Surdos usuários de Libras, assim como os Ouvintes, também se utilizam de gestos em sua comunicação, interior ou exterior e que os gestos são distintos e identificáveis dos sinais classificados usados na Libras. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com um universo de doze Surdos, adultos e da Região de Grande São Paulo, que tem como referencial teórico os conceitos de Kendon (1992), McNeil (1992), GoldinMeadow (2003), Alibali, Kita e Young (2000) e Quadros e Karnopp (2004). Destes teóricos temos que os gestos, junto com a fala compõem o discurso. Esta dualidade entre gestos e fala contribui para a comunicação, a cognição do emissor e o entendimento do observador. Observamos que os gestos, diferentemente dos Sinais não possuem características gramaticais definidas. Por fim o objetivo central da pesquisa, consiste em compreender a importância dos gestos nos discursos de cunho matemático. Palavras-chave: Gestos, Cognição, Surdez, Libras, Educação Matemática Introdução

O objetivo da pesquisa que estamos desenvolvendo é colaborar para o entendimento e a influência das características específicas da comunicação dos sujeitos Surdos usuários de Libras para a cognição matemática. Sendo nosso interesse as formas de comunicação e a própria cognição matemática, nós temos que reconhecer que os educadores se utilizam de diversas formas de comunicação em sala de aula. Azzarello et al (2009, p.100), considera que para uma compreensão da linguagem usada em sala de aula, precisamos estudar os “[...] registros de representação semiótica [...]” tais como, os gestos, os olhares, os desenhos, em suma um olhar holístico sobre os modos linguísticos ou não de comunicação. Segundo Azzarello et al (2009), parar compreender todos os fenômenos que ocorrem em uma sala de aula, dentro de uma perspectiva semiótica, é necessário ampliar nosso campo de visão, sobre quais são os fatos e as ações que inferem nos processos de ensino e de aprendizagem. O professor não pode ser visto somente como um fornecedor de

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UNIAN- Universidade Anhanguera de São Paulo e-mail [email protected], Orientadora Dra. Solange Hassan Ahmad Ali Fernandes

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conhecimento pronto e acabado, mas sim, como um agente que motiva o aluno a relacionarse com novos saberes e com os que já possui. Esta atuação do professor envolve aspectos motivacionais, interacionais, contextuais e humanos. Entre as várias formas de comunicação que podemos utilizar na educação e especial na Educação Matemática, nos destacamos neste artigo os gestos espontâneos. Estes gestos são produzidos pelo locutor durante o discurso, podendo possuir características que concordam com a fala ou não. McNeil (1992), Goldin-Meadow (2003), Alibali, Kita e Young (2000) entre outros, se preocuparam em identificar e classificar tais gestos, bem como estudar a sua importância para a comunicação e para a cognição humana. Cabe destacar que para estes autores, a fala e os gestos não possuem somente finalidade comunicativa, mas também são artificies para a própria formação do conceito. Nesta direção, pretendemos estudar a função e a importância dos gestos espontâneos no discurso do sujeito Surdo que se comunica preferencialmente em Libras. Adotamos a perspectiva de McNeil (1992), que atribui às palavras enunciação, fala e gestos: enunciação, como uma ideia ou informação que o emissor tenta fazer para o receptor (observador); fala, forma principal de comunicação que obedece a um conjunto de regras gramaticais formais; por fim gestos espontâneos que acompanham o discurso. Ainda do autor temos as definições de enunciação, fala e gestos que nortearão o presente trabalho e as quais acrescentamos as de emissor, a pessoa que elabora o discurso, fala e gesticula e como observador a pessoa que ouve, vê e decodifica a ideia ou informação transmitida. Além das definições acima, nós completamos algumas conceituações próprias, as quais usaremos neste trabalho, como o termo fala, quando nos referimos à enunciação por meio de uma língua formal, seja ela oral ou sinalizada. O termo gestos ou mesmo de gestos espontâneos serão as marcações manuais, movimentos corporais e expressões faciais produzidas durante a enunciação, de forma uma espontânea, e que não possuem uma estrutura linguística definida. Por fim, chamaremos de discurso o conjunto fala e gestos, usados na comunicação, exterior ou interior de um pensamento. Este artigo limita-se a uma revisão bibliográfica de trabalhos: artigos, livros dissertações e teses localizados que abordam o tema do uso de gestos no discurso. Os filtros que usamos nestas leituras foram especificamente os reflexos desses gestos na comunicação e na cognição dos envolvidos – emissor e observador.

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Conceituação

Segundo, Jaques e Maybarry (1992), os gestos e o discurso oral apresentam fortes interligações, não diferindo de outras pesquisas feitas com pessoas sem disfunção da fala. Lembramos que estes autores fizeram suas pesquisas com sujeitos gagos [...]os resultados dos nossos estudos sugerem fortemente que o gesto e a produção da fala são regidos por um princípio profundo de co-expressão na expressão extemporânea. [...] A integração e o sincronismo que a mente produz são tão altamente coordenados que todas essas ações vocais e gestuais aparecem uma imagem perfeita no momento que são expressas. ” (JAQUES E MAYBARRY, 1992 p.212).

Falando sobre os gestos que acompanham o discurso Butcher e Goldin-Meadow (2002 p. 236) afirmam que “quando as pessoas falam, elas produzem uma variedade de tipos de gestos, e cada tipo tem uma de característica concordante com o discurso em que ele ocorre” e citando McNeill (1992) dizem que estes gestos podem ser: icônicos, metafóricos, marcações, coesivos ou dêiticos. Sendo, que para Butcher e Goldin-Meadow (2002) os gestos icônicos podem ser facilmente identificados tanto pela forma quanto pelo uso, os gestos metafóricos são representações abstratas baseadas em aspectos culturais ou linguísticos. Além destes dois grupos de gestos temos: as marcações indicam principalmente posicionamentos (locações), e os gestos dêiticos, são usados para indicar pessoas, objetos ou mesmo locais. Completam as autoras, que os gestos dêiticos ou coesivos também servem para conectar partes do discurso. Chen, Gottesman e Krauss (2002 p. 272) afirmam que os “[...] gestos podem conter informações que não fazem parte da intenção comunicativa expressa no discurso [...]” deste modo, vemos que a gesticulação não apenas acompanha a fala, não sendo apenas um elemento redundante no discurso, mas pelo contrário, pode ser sim um complemento e revelar características e especificidades não comunicadas pela fala. Podemos mesmo pensar que os gestos então podem exercer influência sobre a própria fala. Goldin-Meadow (2003 p.102) afirma que os gestos raramente expressam, integralmente, o mesmo conteúdo que a fala, ou melhor, dificilmente serão totalmente concordantes.

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Os gestos nunca transmitem precisamente a mesma informação que a fala, eles se baseiam numa modalidade diferente, tendo diferentes recursos representacionais. Talvez seja a maneira pela qual os gestos complementem o discurso, o ponto crucial para determinar se os ouvintes o utilizam para ajudar na compreensão da mensagem falada. GOLDIN-MEADOW (2003 p.78)

Mas como poderemos separar os gestos das outras formas de comunicação, como por exemplo, no caso específico das línguas de sinais, nas quais as mesmas marcações manuais, corporais, faciais e movimentações formam os verbetes sinalizados, que nominamos sinais, usados numa língua gestual-visual. Para isso, optamos por especificar ou melhor tipificar o que nossos autores referenciais entendem sobre o que é gesto. Sobre a qualificação de gestos, usaremos a definição dada por McNeill (1992). Para este autor (Ibidem, p. 6), mesmo nas línguas de sinais, os gestos claramente podem ser separados dos sinais que pertencem ao léxico destas línguas. Os sinais possuem características linguísticas tais como: morfologia, sintaxes, entre outras e têm de seguir as normas gramaticais, o que não acontece com os gestos. Já os gestos são de elaboração mais livre, não estando presos as regras gramaticais, e para McNeill (1992, p.41) exatamente por essa liberdade podem: marcar ou realçar os pontos que o orador deseja dar ênfase. Os gestos poderiam mesmo revelar ao espectador uma ideia ou outro aspecto, que ainda não esteja plenamente formada na consciência do próprio emissor. Segundo McNeill (1992 p.40), os “[…] gestos espontâneos podem ser precisos para revelar estágio primitivo do discurso, […]”, quando este ainda está sendo mentalmente organizados”. Os gestos, para McNeill (1992 p.41-42), apresentam de um modo geral, as seguintes caraterísticas: são sintéticos, apresentam a ideia toda; não combinam entre si, ou melhor, não formam algo como sentenças gestuais; não possuem significado determinado, estável, assim um gesto pode representar ideias distintas dentro de um mesmo discurso, ou ainda diferentes gestos podem representar o mesmo significado. Em suma, sobre qualquer ponto de vista que se possa analisar, os gestos não são padronizados (Ibidem p.42). McNeill (1992 p. 83) nos diz que uma unidade gestual é a gesticulação entre duas unidades de descanso, tal como: uma das mãos sai do repouso, faz um movimento no ar e volta à posição original. Poderíamos, segundo o autor, ter a ocorrências de frases gestuais, definidas como uma sequência das fases de: preparação, ação e retração, iniciando e 4

terminando numa posição de descanso. Mas os elementos destas sequencias gestuais, não foram entre si relações gramaticais. Para Kendon (1992 p. 49), a fala e os gestos que foram considerados durante muito tempo como itens separados, são na realidade partes complementares de um só corpo comunicativo. Sendo os gestos então a ”[...] forma não falada de ação que pode ser integrada com as formas verbais”. (Kendon, 1992 p. 49). Os gestos podem assumir o papel principal na comunicação, segundo (Ibidem, 1992 p. 50), emergindo em situações especiais tais como entre trabalhadores de locais barulhentos, sinais entre jogadores de truco ou de futebol, e com uma estrutura linguística, mesmo que elementar estruturada. Sobre o uso dos gestos Alibali, Kita e Young (2000 p. 594) dizem que, na composição do discurso nos quais temos ambos, fala e gestos, teremos uma atuação que beneficia ambos: o emissor no seu processo cognitivo e o observador. Assim ao montar, cognitivamente o seu discurso, o emissor usa espaços mentais diferentes para as fases gestual e fala. Estes espaços mentais são independentes, mas complementares, o que facilita nesta elaboração mental do discurso, ou melhor usamos simultaneamente os dois hemisférios cerebrais. Para Alibali, Kita, e Young, os gestos realmente possuem certa influência sobre a fala, bem como, na comunicação social como um todo, mas reafirmam a sua ação interna cognitiva. Esta ação interna dos gestos na mente do emissor atua sobre a própria cognição em si. Com base em suas experiências, Alibali, Kita e Young (2000 p. 597) afirmam que quanto mais complexas as situações ou temas de um discurso, o emissor tende a usar mais gestos espontâneos juntamente com a fala. Para os autores, que fizeram experiências nas quais os participantes tinham de descrever e também explicar suas atividades, [...] a tarefa explicação deve provocar mais gestos, do que, as que representam as propriedades físicas dos objetos da tarefa, a sua descrição [...] (p. 597). Nestas tarefas de explicação, os participantes nas atividades de Alibali, Kita e Young (2000 p. 597) usaram mais gestos discordantes, que por serem não redundantes, transmitem informações, complementares a fala e não presentes nesta. Segundo Goldin-Meadow (2003), gestos discordantes não mostram uma identificação clara com a fala, tanto pela maneira que são feitos como pela falta de sincronismo. McNeill (1992 p.267) considera que, na interação entre os gestos e a cognição, o componente gestual possui uma grande importância na elaboração mental do discurso, para o autor, o gesto faz “[...] parte da criatividade [...]“(Ibidem p.272). Não que McNeill (1992 5

p.268) considere a fala como elemento menor, pelo contrário, o autor só nos diz que estando presa a um grande conjunto de regras sociais e formais, esta pode ser menos representativa do processo cognitivo interior. Alibali, Kita, e Young ao contrário de McNeil (1992) não acreditam que a simples separação e classificação dos gestos, poderá não ser suficiente para o completo entendimento da participação destes no discurso. Sendo necessário entender a efetiva participação dos gestos tanto na elaboração como na comunicação, da ideia, pelo discurso. Neste contexto, temos ainda, o que McNeill (1992 p. 219), denomina ponto de inflexão, que trata do ponto do discurso no qual desejamos fazer uma marcação forte, algo como dar ênfase. Esta marcação pode se dar por: uma alteração do tom de voz ou por gestos, e nestes incluímos as expressões corporais e faciais. Assim quando fazemos um discurso, executamos movimentações, com as mãos e braços, concordantes com a fala e com isso damos um aspecto mais denso e forte a estas expressões. A par destas definições de gestos, e de sua utilização, temos que considerar o uso do espaço como elemento possuidor de significado, o que McNeill (1992 p.155) chama de “utilização metafórica do espaço”. O espaço é usado tanto na gesticulação, quanto nas línguas de sinais, nas quais é um elemento gramatical. Segundo Quadros e Karnopp (2004), este de uso do espaço como elemento significativo é um recurso comum nas línguas de sinais que contribui para o fluxo do discurso, dando sentido e conexão entre os elementos da fala sinalizada. Para Pizzio et al. (2009), o uso do espaço uma das características mais marcantes das línguas de sinais, influindo nos aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos do discurso sinalizado. Para Quadros (1997, p.50), a importância do espaço em Libras está no fato que, “[…] a língua se processa espacialmente, em especial o estabelecimento nominal, o sistema pronominal e a concordância verbal”, com isso locação espacial não pode ser considerada elemento secundário do discurso em uma língua de sinais. As línguas de sinais segundo Sacks (1998p, 75) são uma forma natural e rica de comunicação, podendo expressar toda a gama de fatos reais ou abstratos, formais ou sentimentais, pois é “[...] continuamente modulada por dispositivos gramaticais e sintáticos de todos os tipos[...]” (p.75). Para Sacks (1998 p.75) esta riqueza de dispositivos modulantes

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bem como o uso dos espaços, fazem desta forma de comunicação algo extremamente complexo e criativo, algo que não encontramos nas línguas orais Segundo Sacks (1998) os recursos espaciais e gramaticais das línguas de sinais, atribuem a estas “[...] uma qualidade divertida [...] seus usuários tendem a improvisar, brincar com os sinais [...] (Ibidem p.103), permitem variações ou mesmo flexões aos radicais do sinal [...]”. Para Quadros e Karnopp (2004) e Felipe (2007) estas flexões morfológicas são ditas classificadores, marcadores de localização e de intensidade. Devemos ter consciência de que estas declinações gramaticais dos sinais, não podem ser confundidas com o que consideramos gestos, nos termos definidos por Goldin-Meadow (2003). Esta distinção entre sinais classificados e gestos, que realmente não é algo fácil de ser compreendida, aplica-se tanto na tipificação da estrutura morfológica, quanto nas finalidades comunicativas de ambos. Segundo Quadros e Karnopp (2004), em Libras como em qualquer outra língua, existem regras gramaticais implícitas ou explicitas definem as derivações dos vocábulos, tais como as que permitem o substantivo “AVIÃO” transformar-se, quando acrescido de um movimento ou morfema, em ‘IR-DE-AVIÃO” ou mesmo “VIR-DE-AVIÃO”. Mas estas mesmas normas gramaticais impedem certas generalizações, por exemplo, não se pode fazer a transfiguração de “ÔNIBUS” para “VIR-DE-ÔNIBUS”. Sendo que Goldin-Meadow (2003) e Quadros (1997) afirmam que as regras de formação morfológica, variam entre as mais diversas línguas e que o aprendiz de primeira língua faz essa aquisição de maneira natural, por tentativas de generalizações, com erros e acertos. Este processo de aquisição natural ocorre em convivência com usuários hábeis desta língua. Esta incorporação regras isoladas podem ir além dos limites dos morfemas, e estendese para a formação de sentenças, com o posicionamento dos elementos estruturantes ou conexões de informações. Para Bull (2008), existem aspectos do processamento cognitivo dos surdos, especialmente os usuários de uma língua de sinais, mostram vantagens sobre as demais populações. Para os autores da cognição visual temos que “[...], por exemplo, da velocidade de deslocamento da atenção visual e de rastreio visual, e na geração e manipulação de imagens mentais”. (Ibidem p.179) é mais ampla e detalhada. Mas Bull (2008) declara não ter encontrado evidencias sobre sensíveis diferenças entre Surdos e Ouvintes no reconhecimento dos números e seus valores, nas várias formas de representação gráficas. 7

Em uma pesquisa com Surdos devemos estar atentos a estas características visuais. Para AVALO (2012 p.96) a apresentação de objetos ou representações semióticas destes terá implicações na compreensão do tema, assim o fato de se trabalhar o tópico geométrico “quadrado”, nas formas: escrita, sinalizada ou gráfica, pode destacar propriedades matemáticas diferentes para o aprendiz. Pesquisa do “estado da arte”. Em nossa pesquisa, fizemos a revisão de literatura basicamente apoiada em autores estrangeiros de renome nesta área, já citados neste artigo. Completamos essa verificação do ineditismo, com uma busca em bancos de teses nacionais que se mostrou infrutífera. Acreditamos que, como nosso foco de interesse está em Libras, uma língua nacional, gestos e cognição, nossa busca de trabalhos nacionais e revisão literária internacional, pode garantir o ineditismo da futura tese. Nossa busca passou por uma pesquisa no Banco de Teses do Capes, Banco de Trabalhos Acadêmicos da USP, Banco de Teses da Unesp do Campus Rio Claro, Banco de Teses da Unicamp, Banco de Teses da Universidade Anhanguera de São Paulo, Banco de Teses da Universidade Estadual de Maringá – Paraná e Banco de Teses da UFSC. Onde as buscas foram feitas com as palavras chaves: SURDO (s); LIBRAS; GESTO (s); SURDEZ; SURDA (s); EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, em buscas conjuntas ou isoladas. Nesta etapa foram localizados aproximadamente 1400 trabalhos. A etapa seguinte constituiu na leitura dos resumos simplificados de cada um destes 1400 trabalhos, e deste conjunto separamos apenas sete com alguma relação com nossa proposta. As leituras dos trabalhos eleitos, apesar de alguma relação com nossa proposta, mostraram sensíveis diferenças de foco de atenção e de uso de metodologia. Metodologia e pesquisa adotada Dentro dos métodos de pesquisa optamos, dado o caráter visual da língua de sinais e dos gestos, por uma que envolvesse a captação por vídeo. Nossa escolha recaiu no“VideoStimulated Recall Interview” (SRI), que numa tradução livre pode ser dito como: Lembranças Estimuladas por Vídeo-Gravação. Sendo este, um método de pesquisa que pode produzir dados interessantes, e muito úteis para possamos vislumbrar o modo com que os sujeitos de pesquisa experimentam um dado evento de interação.

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Do nosso ponto de vista, a técnica de SRI permite aos participantes a oportunidade de ver a si mesmos em ação. Sendo assim é uma ferramenta que pode ajudar os sujeitos a recordar sua atuação, e deste modo possibilita-os relatar e comentar suas motivações e intenções, o mais próximo o possível do real, tal qual ocorreram durante a gravação. Embora existam muitos métodos de coleta de dados que usam a estimulação de lembranças, a gravação de vídeo durante as interações e em seguida, a auto-observação do comportamento, poderá trazer novos pontos de aspectos das intenções de comunicação do que um simples questionamento. Para NGUYEN (2013), uma das vantagens do SRI é que nossas lembranças nem sempre podem corresponder com realismo os fatos. Estas lembranças, “distorcidas”, ocorrem porque que estamos baseando em um só ponto de vista, o nosso próprio. Assim, tais “verdades” baseiam-se em nossas autoavaliações, nossas noções de juízos e nossas inferências, o que faz com que os entrevistados digam o que tinham a intenção de fazer e não o que fizeram. Nossa pesquisa, tem como sujeitos Surdos, adultos, usuários de Libras, moradores da região da Grande São Paulo convidados por meio de redes sociais e por cartazes em associação de surdos. Estando restrito a um universo de 10 ou 12 participantes, em que buscamos compreender os “porquês” de cada ação de cada um, podemos dizer que se trata de uma pesquisa qualitativa. Esta pesquisa será desdobrada em duas etapas, a primeira de detalhamento de hipóteses e uma outra de validação. Na primeira etapa, teremos quatro fases: gravação da interação, análise, entrevista, e por último a formulação das hipóteses. Na segunda fase, teremos uma replicação com as hipóteses formuladas. Obtidos dados iniciais e de validação podemos completar nossa análise e por fim as conclusões finais. O que buscamos Esta pesquisa parte de alguns princípios básico, bem como de algumas questões que procuramos responder. Assim temos que: Como premissas: 

Que os Surdos usuários de Libras, assim como os Ouvintes, também se utilizam de gestos em sua comunicação, que segundo Vygotsky pode ser interior ou exterior. 9



Estes gestos são distintos e identificáveis dos sinais classificados usados nesta língua.

Como questão de pesquisa: 

Pode o uso dos gestos contribuir para o entendimento das propriedades componentes dos temas matemáticos?



As representações semióticas, gerariam gestos e consequentemente concepções matemáticas diferentes?

Com os dados coletados, na fase de validação esperamos realmente responder as questões levantadas, permitindo contribuir para o entendimento das características dos Surdos usuários de Libras. Este entendimento pretendemos nos oferecerá parâmetros para a conclusão deste projeto e material para diversas publicações incluindo essa tese, artigos e apresentações necessários para obtenção do título de Doutorado.

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PIZZIO A.L. et al. Língua Brasileira de Sinais III, Apostila UFSC. Licenciatura em LetrasLibras na Modalidade a Distância, Santa Catarina, 2009. _____ (2009). Língua Brasileira de Sinais IV, Apostila UFSC. Licenciatura em LetrasLibras na Modalidade a Distância, Santa Catarina. QUADROS, R.M. Educação De Surdos: A Aquisição Da Linguagem. Ed. Artmed. Porto Alegre, 1997. QUADROS, R.M.; KARNOPP, L.B. Língua De Sinais Brasileira: Estudos Linguísticos. 1ª ed. Artmed. Porto Alegre, 2004. SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Tradução: Laura Teixeira Motta: Companhia das Letras, São Paulo 2010. VYGOTSKY, L. Obras Escogidas V – Fundamentos da Defectología. Traducción: Julio Guillermo Blank. Ed. Visor. (Coletânea de artigos publicados originalmente em russo entre os anos de 1924 a 1934). Madrid,1997.

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