Hipertextualidade

July 9, 2017 | Autor: Mariana Ribeiro | Categoria: Intertextuality, Hipertexto, Jornalismo Digital, Jornalismo Online, Hipertextualidad
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Hipertextualidade

Ficha Técnica: Tipo de trabalho Título do trabalho Estudante Curso Unidade Curricular

Entrada de dicionário Hipertextualidade Mariana Martins Ribeiro Licenciatura em Jornalismo Jornalismo Multimédia II

Docente(s)

Doutora Rita Basílio, Doutor Sílvio Santos

Ano letivo

2014/2015

Hipertextualidade Quando abordamos o conceito de Hipertextualidade temos, obrigatoriamente, de começar por definir hipertexto1. Termo relativamente recente, é visto como um instrumento tecnológico que permite armazenar e facilitar a pesquisa de informação, que “ (…) resulta da aplicação da hipertextualidade” (Canavilhas, João (org.), 2014 apud Salaverría, 2005). Problematizar o conceito de hipertexto implica uma reflexão do alargamento de um outro conceito, o de intertextualidade, a partir do momento em que surgiu a web. Segundo Canavilhas (2014), nesta justifica-se a definição de “texto” como “tecido” ou entrelaçamento, que se define não só por um conjunto de palavras e frases com coerência e coesão entre si, mas, sobretudo, “transforma-se numa tessitura informativa formada por um conjunto de blocos informativos ligados através de hiperligações (links), ou seja, num hipertexto” (Canavilhas, João (org.), 2014). Apesar de este ser um termo atual, já nos anos 60 do século XX existiam novas conceções do conceito de texto. Segundo George Landow (1995), na época encontramos teorias das humanidades que conceptualizavam algumas noções potenciadas pelas tecnologias, bem como mutações nas práticas e formas de escrita. Como um prenúncio do atual conceito de hipertexto, já em 1970 Roland Barthes descrevia o que considerava ser o bom funcionamento de um texto: segundo Landow (1995), em primeiro lugar, o “texto ideal” é um texto em “rede”, uma “teia”, um “tecido”. Caracteriza-se, ainda, por ser uma “galáxia de significantes” (Landow, 1995), não uma construção de sentidos, mas uma imensidão de formas. Mais ainda, não é um texto com limites definidos, existindo vários percursos de leitura possíveis e, por conseguinte, vários sentidos a estes associados. Como tal, o hipertexto basea-se numa pluralidade de linguagens, mobilizando vários códigos distintos2, não sendo, apenas, um “texto” verbal. Perante esta descrição, várias são as semelhanças com o atual conceito de hipertexto: este caracteriza-se por ser constituído por “blocos”, camadas de texto3, que podem incluir imagens estáticas e/ou em movimento (fotografias e/ou vídeo), áudio (som), palavras e links (hiperligações4) que agregam os “blocos” e oferecem ao leitor vários percursos de leitura. Esta, por conseguinte, não é sequencial, é mais visual, sendo 1

Remissão: os termos sublinhados indicam conceitos que estão, de alguma forma, relacionados com o conceito em análise; estes encontram-se reunidos na página 4 do presente trabalho (vide). 2 Daqui decorre a expressão “hipermedia” (Landow, 1995). 3 Daqui decorre a relação com a intertextualidade: conjugação de diversos textos, imbricação destes. 4 Elementos que “permitem a ligação entre dois blocos informativos” (Canavilhas, João (org.), 2014 apud Codina, 2003).

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que o texto digital não é “rígido”, fixo e o “velho” leitor torna-se espectador. Assim sendo, os princípios do hipertexto vêm alterar os tradicionais conceitos de textualidade5: segundo Canavilhas (2014 apud Nielsen, 1995) há um abandono da linearidade – a leitura não é linear, sequencial; é um texto aberto, composto por diversos “espaços em branco”, em constante mutação – o que faz com que o texto digital seja uma performance que o leitor ajuda a construir, através da interatividade6; segundo Laura Storch (s/d) o hipertexto oferece múltiplos princípios e fins, aos quais o leitor pode atribuir vários sentidos, além de contribuir para a “construção” do texto, existindo uma autoria “coletiva” e sendo difícil encontrar um "núcleo” de sentido num hipertexto – que se caracteriza, ainda, pelo seu descentramento. Em resumo, falar de hipertexto é, portanto, falar num novo conceito de escrita e de uma nova noção de texto: o autor “coletiviza-se”, a leitura passa a ser mais ativa, mais participativa e implica o domínio de diversos tipos de códigos - multimedialidade7. Assim, revela-se importante continuar a repensar a textualidade visto que o hipertexto alterou os seus princípios: na web há uma ampliação do conceito de textualidade, mas o conceito de texto sobrevive. O “suporte eletrónico” (Storch) é, ainda, um texto, que possibilita novas formas de leitura. Apesar do importante prognóstico de Barthes, o termo hipertexto foi usado “pela primeira vez nos anos 60 por Theodor Nelson, que definiu o conceito como uma escrita não sequencial, um texto com várias opções de leitura que permite ao leitor efetuar uma escolha” (Canavilhas, João (org.), 2014). Inspirando-se na máquina Memex, concebida para o armazenamento de informação nos EUA, descrita por Vannevar Bush, em 1945, num artigo intitulado “As we may think”, a definição apresentada por Nelson foi utilizada e alterada por diversos autores, bem como associada à hipertextualidade e à prática da escrita na web. Recuperando a definição de Salaverría (2005), anteriormente citada neste trabalho, a partir do conceito de hipertexto, o autor define hipertextualidade como a “capacidade de ligar textos digitais entre si” (Canavilhas, João (org.), 2014 apud Salaverría, 2005). Isto é, a hipertextualidade é a capacidade de “agregar” hipertextos, que, por sua vez, englobam e implicam “sempre dois elementos nucleares: nós e links, ou seja, blocos informativos e hiperligações” (Canavilhas, João (org.), 2014). Daqui decorrem consequências para o jornalismo ou, melhor, para o webjornalismo: “A possibilidade de separar a informação em blocos informativos ligados através de 5

Conjunto de características que fazem um texto “ser” texto. O leitor é autor; capacidade de intervenção do leitor, que passa a colaborar, a dar opinião. 7 Conjugação de suportes mediáticos. 6

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hiperligações abre uma diversidade de itinerários de leitura tão vasta quanto o número de arranjos e combinações possíveis” (Canavilhas, João (org.), 2014 apud Engebretsen, 2000). Isto é, se já na imprensa escrita a aplicação (ou não) da pirâmide invertida cria controvérsia e discussão, no caso da escrita para a web a questão agrava-se. A hipertextualidade permite que “já não seja o jornalista quem determina o que é mais importante, porque a interatividade permite ao usuário uma leitura muito pessoal da notícia”8 (Canavilhas, 2007). O leitor pode escolher os conteúdos quer quer consultar, com base nos seus interesses e temas preferidos, seguindo as hiperligações que assim desejar: o leitor reforça o seu papel no processo de comunicação, é participante 9, ativo e determina aquilo que quer ler, ouvir ou ver. As conclusões de um estudo sobre os “percursos de leitura”10 (Canavilhas, 2007 apud Canavilhas 2006) realçam a necessidade dos jornalistas adotarem uma nova técnica de redação aplicada à web, em que já não existe uma pirâmide vertical que contempla a informação por ordem decrescente de importância, estando a última ao critério do jornalista. “A possibilidade de que dispõe o usuário para optar por diferentes percursos de leitura implica mudança e a investigação recomenda uma arquitetura em forma de pirâmide deitada (…)11” (Canavilhas, 2007). Nesta a informação progrediria na horizontal, de forma crescente de importância sobre cada um dos elementos constituintes da notícia12. Deste modo, cada leitor definiria o seu percurso de leitura consoante o seu grau de interesse por cada um destes mesmos elementos. Em conclusão, falar de hipertextualidade é falar de uma renovação da escrita – que tem de ser pensada noutros moldes -, numa alteração da própria noção de texto e de textualidade – a partir do momento em que surgiu a web -, na dinamização de um novo conceito de autor e, ainda, em novas formas de leitura.

Vide: Hipertexto; Intertextualidade; Hipermedia; Hiperligações; Textualidade; Interatividade; Multimedialidade; Webjornalismo; Pirâmide deitada

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Tradução livre do Espanhol para a Língua Portuguesa. Relembre-se o espaço dos comentários nos sites de diversos órgãos de comunicação, bem como reflexões e discussões em redes sociais, por exemplo. 10 “Los recorridos de lectura” (versão original). 11 Tradução livre do Espanhol para a Língua Portuguesa. 12 O quê? Quem? Onde? Quando? Como? Porquê? 9

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Referências bibliográficas Canavilhas, J. (2007). Webnoticia - Propuesta de Modelo Periodístico para la WWW. Covilhã: Livros Labcom. Canavilhas, João (org.). (2014). Webjornalismo: 7 caraterísticas que marcam a diferença. Covilhã, Universidade da Beira Interior: Livros LabCom. Dalmonte, E. F. (2009). Pensar o discurso no webjornalismo:temporalidade, paratexto e comunidades de experiência. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia.

Disponível

em:

http://static.scielo.org/scielobooks/nb/pdf/dalmonte-

9788523205898.pdf. Fachinetto, E. A. (agosto de 2005). O Hipertexto e as Práticas de Leitura. REVISTA LETRA MAGNA - Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura. Fidalgo, A. e Serra, P. (orgs). (2003). Jornalismo Online. Informação e Comunicação Online, Volume 1. Universidade da Beira Interior. Freire, M. (jan-jun de 2010). Narrativa, Hipertexto e as Categorias da Enunciação: aproximações na composição de um conceito de narrativa hipertextual. Animus revista interamericana de comunicação midiática, vol.17. Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/animus/article/view/2369. Landow, G. P. (1995). Hipertexto: la convergencia de la teoría crítica, contemporánea y la tecnología. Barcelona: Paidós, p.13-49. Reis, P. (s.d.). Media digitais: novos terrenos para a expansão da textualidade. Obtido de

Repositório

Institucional

da

Universidade

Fernando

Pessoa:

http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/852/1/cibertxt1_43-52_reis.pdf Storch, L. S. (s.d.). A leitura ativa no Jornalismo Online:o fenômeno da interação hipertextual na organização da participação jornalística. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/storch-laura-leitura-ativa-jornalismo-online.pdf.

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