Historiografia e Pesquisa na Noruega

October 15, 2017 | Autor: Rodrigo Marttie | Categoria: Historia, Historiografía, Noruega, História da Noruega, Academia Norueguesa
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Historiografia e pesquisa na Noruega Contemporânea



Introdução

A que a palavra "Noruega" nos remete? Em geral, pensa-se numa terra
de clima frio, ao norte da Europa, produtora de petróleo e, acima de tudo,
de bacalhau. A Noruega não é um país particularmente famoso fora do
microcosmo dos países escandinavos, pela sua produção na área de Ciências
Humanas e Sociais. Na primeira parte deste texto, buscamos apresentar
alguns autores clássicos da produção historiográfica norueguesa a partir da
fundação da primeira universidade do país, a Universidade de Oslo, em 1811.
Vale ainda destacar que muitos dos autores considerados clássicos para a
historiografia da Noruega não se dedicaram exclusivamente ao período
medieval, especialmente no que tange aos nomes do século XIX e primeiras
décadas do século XX. É, portanto difícil selecionar entre as obras de tais
períodos, geralmente bastante abrangentes sobre a história nacional
norueguesa, alguma que se dedique unicamente ao período medieval;
inclusive, aliás, falar de medievalistas stricto sensu seria uma
incongruência de nossa parte, tendo em vista que os autores do período
mencionado acima, em geral, não se dedicaram ao medievo exclusivamente
quando se propuseram a construir a história da Noruega, alguns deles, desde
o período pré-histórico. No entanto, a Idade Média é representada
fortemente, mas não unicamente, na produção historiográfica desse tempo,
pois foi justamente nela que os historiadores de então viram a oportunidade
perfeita para construir e consolidar ideais referentes a formação dos
conceitos do quê é "ser norueguês".
Continuaremos seguindo os autores da chamada "primeira geração" até
princípios do século XX, quando, então, uma segunda geração de
historiadores ajudou a consolidar a auto-imagem histórica que o povo
norueguês possui de si mesmo, em boa medida até os dias de hoje. Na segunda
parte, trataremos da Historiografia a partir do período pós-guerra até a
atualidade, dos centros universitários, das linhas de pesquisa e dos nomes
mais proeminentes, vinculados à produção historiográfica.
A geografia e o clima da Noruega são extremamente pertinentes para a
história deste país e, portanto, também para sua historiografia. As
condições climáticas são um insumo importante para muitas atividades
humanas. O clima afeta a natureza e os ecossistemas, bem como as condições
agrícolas e os estilos de vida, moradia e construção, com necessidades de
aquecimento e/ou refrigeração, bem como o modo em que comunidades são
organizadas no espaço geográfico; além disso, o clima influencia o modo
como as vestimentas são elaboradas e suas respectivas produções, além de
marcar as necessidades nutricionais e os limites das atividades de trabalho
e de recreação. As culturas agrícola e pesqueira, que, até hoje, são
fundamentais para a economia norueguesa, resultaram de uma série de
esforços humanos ao longo do tempo, para conseguir gerar produtividade em
uma região com poucas planícies, pouca incidência solar e temperaturas
especialmente baixas nas regiões interiores e setentrionais.
A Noruega é uma região da Península Escandinava apinhada de cadeias
montanhosas e caracterizada por uma longa e entrecortada costa, no extremo
norte da Europa. Muitos séculos atrás, uma gigantesca camada de gelo cobria
a Noruega e a maior parte do hemisfério Norte do nosso planeta. A massiva
geleira nascia ao sul dos Alpes da Europa central, cobria todo o continente
até alcançar o polo Norte e encobriu as terras escandinavas por um milênio
inteiro; esta foi a última de uma série de eras glaciais que aconteceram na
Terra – pelo menos, até agora. Em torno do décimo terceiro milênio antes de
Cristo, a Europa central se viu livre das geleiras, e, em torno de 8000
a.C., a Península Escandinava emergiu da imensidão congelada, recebendo
seus primeiros habitantes entre 7000 e 5000 a.C.

A prosperidade e proeminência atual da Noruega podem ser vistas como
consequências de uma história repleta de eventos e processos complexos e,
em certa medida, socialmente dolorosos. Por muitos séculos, o país foi,
quando comparado a seus vizinhos escandinavos e às demais nações da Europa
ocidental, uma região de extrema pobreza e relevância limitada no jogo
político internacional. Os noruegueses eram mais conhecidos pela sua
história de violência do que, como se conhece hoje, por sediarem em Oslo o
Prêmio Nobel da Paz. As violentas expedições de conquista e pilhagem dos
vikings, ao longo do período das invasões, nos séculos VII, IX e X, e a
formação do que alguns historiadores chamam de "dominação norueguesa no
Atlântico Norte" – período em que a monarquia medieval da Noruega estendeu
seu domínio além do território continental, abrangendo as Ilhas Faroé,
Shetland, Órcades, partes da Irlanda, da Escócia, Ilha de Man, Islândia e
Groelândia – foram, durante muito tempo, os grandes eventos que fizeram a
história norueguesa conhecida. O período tradicionalmente descrito como o
mais heróico da história norueguesa foi o que se seguiu à Era Viking,
quando o reino finalmente se unificou e foi cristianizado sob os auspícios
dos chamados "reis missionários", sendo Santo Olavo (995-1030) o mais
celebrado de todos. O reino gradualmente cresceu e atingiu o seu apogeu no
século XIII, quando, então, o monarca norueguês governava a maior parte do
Atlântico Norte[1].
Depois disso, se seguiu um período de declínio do poderio e
consequente perda de independência, entre outras razões, pela erupção da
epidemia de peste no século XIV, que dizimou dois terços da população da
região[2]. Em 1380, a coroa norueguesa foi unificada com a dinamarquesa,
numa crise sucessória, e, em 1397, juntou-se à União de Kalmar, com a
Suécia e territórios do que hoje representa a Finlândia; a união de Kalmar
agregou as três coroas escandinavas sob o domínio dinamarquês até 1523,
quando a Suécia declarou sua independência. A Noruega, contudo, permaneceu
vinculada a Copenhagen até 1814. A aliança política do governo dinamarquês
com Napoleão, durante a expansão comandada pelo mesmo nos territórios da
Europa Central, levou a Dinamarca a ter que ceder a Noruega, em 14 de
janeiro de 1814, ao rei da Suécia, por meio do Tratado de Kiel[3], mas as
antigas províncias norueguesas da Islândia, Groenlândia e das Ilhas Faroé
permaneceram com a coroa dinamarquesa. Contudo, como a transferência não
foi imediata, os noruegueses aproveitaram-se do breve momento de
independência, e uma assembleia nacional reuniu-se para declarar a
independência e adotar uma constituição baseada nos modelos americano e
francês. A Assembleia também elegeu o príncipe herdeiro da Dinamarca e
Noruega, Christian Frederick (1786-1848), como rei em maio de 1814. Este é
o famoso Syttende Mai (17 de Maio), feriado comemorado pelos noruegueses
como a data nacional da Noruega, o chamado Dia da Constituição, um grande
dia de festa em que o país cobre-se de vermelho, azul e branco.
O ano de 1814 marca historicamente o fim da submissão de Oslo a
Copenhagen e o início da união entre Suécia e Noruega, ainda baseada nos
ideais do tratado de Kiel, mas de uma forma diferente da união anterior. A
nova união foi feita sob princípios, teóricos, de equidade política e
jurídica, ao contrário do que ocorria antes com a Dinamarca.
Após a eleição do rei, em julho de 1814, os suecos invadiram a
Noruega, Christian Frederick abdicou do trono, e os noruegueses
reconheceram como monarca o rei sueco. Embora o governo sueco controlasse o
comércio internacional e a política externa da Noruega, foi permitida uma
considerável parcela de autonomia política interna, inclusive com respeito
à manutenção da recém-votada constituição norueguesa.
O Banco da Noruega foi fundado em 1816, e a nobreza norueguesa foi
abolida oficialmente em 1821. A situação econômica do país melhorou em
termos de comércio e industrialização a partir da década de 1840,
especialmente com a expansão das indústrias ligadas ao setor madeireiro. A
frota mercante norueguesa cresceu rapidamente até o final do século XIX,
chegando a ser a terceira maior do mundo, depois da americana e da
britânica. A população da Noruega também cresceu rapidamente. No início do
século, eram apenas 883.000 pessoas, mas, em 1900, tinha-se atingido
2.240.000 – e isso a despeito do fato de que muitos noruegueses emigraram
em massa para os Estados Unidos da América no final do século XIX.
A Noruega passa a existir no panorama político internacional do
século XX especialmente após a invasão alemã entre 1940 e 1945. Após o
término da II Guerra, o país aparece sempre como protagonista de
negociações e ações humanitárias, um defensor da diplomacia pacífica, não
intervencionista. De semelhante maneira, surge também como uma nação que
garante um estado elevado de bem-estar social à sua população nativa e
imigrante, extremamente aberta com relação aos direitos das minorias; e
como a terra de cientistas de fama mundial, escritores, músicos e com um
desenvolvimento tecnológico de ponta.

Parte I – As Primeiras gerações de historiadores.

A formação do Estado ocupou um lugar particularmente importante na
Historiografia norueguesa. A razão para isso não é especialmente complexa.
A Noruega, como Estado independente, tem uma história relativamente curta
quando comparada a outras regiões da Europa: os períodos considerados como
de independência política vão da formação do reino, no século IX, até 1319
e, posteriormente, após a independência em 1905 até os dias atuais.
Ademais, toda a história da Noruega foi marcada pela união ou subordinação
a reinos vizinhos, seja à Dinamarca, seja à Suécia. Oficialmente, as uniões
entre 1319 e 1537 com a Dinamarca e, depois, entre 1814 e 1905 com a Suécia
eram baseadas em princípios de igualitarismo político, ou quase isso, mas
que foram interpretadas pela Historiografia dos seus tempos, e até mesmo em
parte pela Historiografia contemporânea, como tempos de submissão e
sujeição da Noruega. O estudo da história, especialmente do período
medieval na Noruega, tem sido fortemente influenciado pela visão ainda
oriunda do século XIX e apresenta, ainda hoje, algumas influências com
relação à periodização da história local. É tradicionalmente aceita uma
divisão cronológica, estabelecida por arqueólogos e historiadores
noruegueses no período posterior à Segunda Guerra Mundial, que segue o
seguinte padrão[4]:

"Divisão cronológica proposta por arqueólogos e "Datas "
"historiadores noruegueses. " "
"Idade do Ferro Anterior "500 a.C, – 0 "
"Idade do Ferro Romana "0 – 400 d.C. "
"Período das Migrações "400 – 600 d.C. "
"Período Merovíngio "600 – 793 d.C. "
"Era Viking "793 – 1066 d.C. "
"Alta Idade Média "1066 – 1350 d,C, "
"Baixa Idade Média "1350 – 1536 d.C. "
"Período Dinamarquês e da Reforma "1536 – 1660 d.C. "
"Período do Absolutismo "1660 – 1814 d.C. "
"Período da União com a Suécia "1814 – 1905 d.C. "
"Período Contemporâneo "1905 – até o "
" "presente. "

Os momentos que abarcam a dominação dinamarquesa até o período da
união com a Suécia foram considerados pela Historiografia do século XIX e
do início do século XX como fases negativas da história nacional. O
escritor Henrik Wergeland (1808-1845) chegou a classificar esse período
dinamarquês como uma "noite de 400 anos", indigno da história norueguesa,
como se o tempo das conquistas vikings e da monarquia medieval tivesse sido
interrompido durante os séculos de união das coroas, e o passado heróico
dos nórdicos precisasse ser restaurado.[5]
Os historiadores do início do século XIX, fortes críticos do governo
de Copenhagen e ansiosos por construírem uma história nacional digna do
passado narrado nas sagas vikings medievais, deram início a uma tradição
historiográfica que, ainda hoje, tem seus efeitos colaterais sentidos na
produção acadêmica dos medievalistas noruegueses. Primeiramente, foram
criados dois tipos ideais de noruegueses: o herói (ou bandido) viking e o
fazendeiro norueguês. A palavra viking acabou por ser aplicada, no senso
comum aos escandinavos de maneira geral, contudo, no período da chamada Era
Viking, tradicionalmente marcada entre 793 e 1066[6], a expressão víkingr
só era aplicada àqueles que iam "í viking", ou seja, aos que participavam
efetivamente nas expedições de conquista e pilhagem. Nesse sentido, as
populações escandinavas da Era Viking, na verdade, não eram compostas de
vikings, mas de fazendeiros, pescadores, alguns poucos comerciantes e
trabalhadores artesanais, em regiões relativamente isoladas ou minúsculos
núcleos comunitários, que viriam dar origem a cidades e vilas
posteriormente. A partir desses dois "tipos" ideais do norueguês histórico,
surgiram os padrões para a Historiografia norueguesa construir a imagem
daqueles que viriam a ser os símbolos do medievo para a mentalidade
norueguesa: o viking e o fazendeiro[7].
O viking, sempre viril, forte, destemido, conquistador de terras e
escravos, bravo guerreiro, loiro, alto e forte, formou o estereótipo do
herói romântico para as terras escandinavas e acabou se tornando lugar-
comum na cultura popular do mundo ocidental, caracterizado como o típico
norueguês medieval. As primeiras publicações modernas a lidar com a cultura
nórdica medieval surgiram já no século XVI, como, por exemplo, a Historia
de Gentibus septentrionalibus, de Olaus Magnus ( 1555). Essa foi a
primeira edição do texto do século XII Gesta Danorum, de Saxo Grammaticus
(1150-1220), em 1514. O ritmo de publicação aumentou durante o século XVII,
com o aparecimento de traduções latinas da Edda Poética e da Edda em Prosa,
uma série de sagas do século XIII, em forma de versos, escrita em norueguês
antigo, podendo-se mencionar em especial a Edda Islandorum, de Peder Resen
(1625-1688), publicada em 1665.
Tudo aquilo que se conhece sobre os vikings deriva de dois tipos
específicos de fontes, a arqueológica e a textual. O interesse pelos
estudos arqueológicos vinculados aos vikings, na Noruega, ganhou grande
impulso durante o século XIX, depois da descoberta, em 1867, do primeiro
navio viking a ser desenterrado. A embarcação Tune foi escavada em Østfold,
na costa sudeste, próximo à região de Oslo, e trouxe à tona uma série de
novos conhecimentos sobre os vikings, sua cultura e suas técnicas de
navegação. Rapidamente, a procura de sítios arqueológicos vinculados aos
vikings se tornou o mote dos estudos históricos medievais. A escavação de
outros navios e artefatos levou a uma maior consciência sobre o passado
viking na Noruega. Por exemplo, o único capacete de guerra viking
encontrado completo foi escavado na região central da Noruega e, hoje,
figura entre um dos grandes troféus do Museu Histórico Cultural da
Universidade de Oslo. Em termos de achados e descobertas de sítios
arqueológicos, nenhum país escandinavo pode rivalizar com a Noruega, dado o
enorme número de artefatos em bom estado de conservação constantemente
encontrados, o que vincula boa parte da produção acerca do medievo
norueguês aos estudos arqueológicos.
Ainda dentro da perspectiva do passado norueguês ligado fortemente aos
vikings, o estudo dos textos em norueguês antigo foi e ainda é uma das
especialidades mais valorizadas pelos medievalistas. O campo da Filologia
vernacular é um importante fator na composição dos estudos históricos
naquele país; a grande presença de literatura medieval (Sagas) tem servido
como vasto e fértil campo para pesquisas tanto na área da Lingüística
Histórica, quanto da História Medieval. Apesar de boa parte do material
escrito das Sagas ser de composição posterior à Era Viking, elas fornecem
boas indicações de hábitos, costumes e do modo de vida das populações da
Noruega e das ilhas do Atlântico Norte com relação ao período[8]. Acima,
mencionamos as publicações de textos medievais, tais como a Gesta Danorum
ou a Historia de Gentibus septentrionalibus, ambos escritos em latim.
Todavia, foi o estudo e a publicação de textos em língua vernácula medieval
que ocupou papel preponderante na formação da tradição historiográfica
medieval da Noruega, especialmente com relação à formação do passado
vinculado à imagem da sociedade viking. Dois dos mais importantes
acadêmicos noruegueses das Ciências Humanas abordaram fortemente os estudos
linguísticos e medievais em suas pesquisas: Peter Andreas Munch (1810-1863)
e Sophus Bugge (1833-1907).
As áreas de interesse de P.A. Munch, como é mais conhecido, incluíam
Arqueologia, Geografia, Etnografia e Direito, mas foi no campo da História
Medieval e na tradução dos textos nórdicos, bem como em sua normatização
gramatical, que ele se tornou mais popular e reconhecido como "pai da
Historiografia norueguesa". É uma estátua sua que decora a entrada do
principal e histórico edifício da Universidade de Oslo, a Domus Media, e
seu nome é dado a inúmeros prédios e bibliotecas acadêmicas em todo o país.
Sua obra mais importante, a "História do Povo Norueguês" (Det Norske Folks
Historie, 8 vols. 1851–63), abrange o período da monarquia medieval,
terminando com a União de Kalmar em 1397, e, ainda hoje, continua a ser o
ponto de partida para a formação dos historiadores na Noruega. A grande
importância de Munch para o mundo acadêmico está em sua influência na
formação de um ideal de "renascimento", ocorrido no século XIX, da cultura
norueguesa medieval e do período Viking. Até meados do século XX, Munch foi
considerado o mais influente intelectual do país e é, constantemente,
lembrado como um dos forjadores do espírito nacional na Noruega. É dito que
em uma das suas aulas mais inflamadas, teria bradado à Dinamarca: "devolvam-
nos nossos 400 anos"[9], referindo-se ao período em que a Noruega esteve
sob dominação deste país.
Entre as muitas citações, teorias e pesquisas pelas quais Munch é
lembrado, pode-se mencionar sem dúvida, como a que mais influência teve na
formação historiográfica na Noruega, a chamada "teoria da migração". Desde
o início do século XIX, historiadores noruegueses[10] esforçavam-se para
dar ao seu país um lugar de proeminência entre as nações européias,
afirmando que o povo norueguês "era um dos mais grandiosos e antigos povos
da Europa" (Gregers Fougner Lundh, 1786-1836)[11]; entretanto, foi somente
a partir da teoria da migração que se conseguiu estabelecer
"cientificamente" bases para essa marcada diferenciação entre o norueguês e
os demais europeus. É sabido que teorias semelhantes foram elaboradas a
partir da última metade do século XVIII; contudo, foi em 1828 que tais
idéias foram publicadas pela primeira vez, pelo professor Rudolf
Keyser (1803-1864), célebre historiador, arqueólogo e educador norueguês.
Foi, porém, a partir dos estudos de P.A. Munch, ex-aluno de Keyser, que a
teoria da migração tornou-se realmente conhecida.
A teoria de Keyser e Munch afirma que a Noruega e as regiões
setentrionais da Suécia teriam sido povoadas, inicialmente, por populações
germânicas de origem indo-europeia, que teriam migrado para as latitudes
nortes no período anterior às invasões germânicas do período do baixo
Império Romano; e que a Dinamarca e as regiões meridionais da Suécia,
especialmente a partir de Gotemburgo, teriam sido povoadas a por povos
vindos do continente europeu, oriundos das migrações germânicas tardias. Em
outras palavras, a Noruega fora, portanto, povoada e influenciada
culturalmente desde os seus primeiros habitantes pela cultura nórdica e a
Dinamarca, pela cultura dos godos (ou góticos). Munch reconhece que ambos
os grupos seriam de origem germânica, tendo migrado das regiões dos montes
Urais e do Rio Volga em tempos diversos, mas que possuíam diferentes
comportamentos com referência à organização social, cultura e hierarquia
grupal. Ainda segundo tal teoria, os nórdicos teriam migrado para o sul da
península, onde teriam se miscigenado com os góticos e formado a matriz
populacional dos três países escandinavos, Dinamarca, Suécia e Noruega.
Baseado nesse entendimento acerca da formação demográfica da Noruega, Munch
afirma que a chamada literatura nórdica medieval deveria ser considerada
literatura norueguesa medieval, tendo em vista que foi a partir de uma
língua nórdica antiga (desconhecida e hipotética) que se formaram as
línguas que deram origem ao vernáculo no qual foram compostas as sagas,
tanto da Islândia, quanto da Dinamarca, da Suécia e, obviamente, da
Noruega. A teoria da migração dividiu as opiniões dos historiadores desde a
sua divulgação, ainda no século XIX. Entre os historiadores de linha
nacionalista, tais como Ernst Sars (1835-1917) e Bjørnstjerne Bjørnson
(1832-1910), ela foi recebida com grande entusiasmo, e denunciada como
fraude pelo dinamarquês Christian Molbech (1793-1857) e pelo norueguês
Ludvig Kristensen Daa (1809-1877).

Ao nos movermos para o segundo estereótipo ou tipo ideal apresentado
pela Historiografia norueguesa no século XIX, encontramos a figura do
fazendeiro. Dos historiadores que ajudaram a construir e a defender essa
imagem de forma brilhante, podemos destacar especialmente Johan Ernst
Welhaven Sars, mencionado acima, mais conhecido apenas como Ernst Sars. Ele
foi professor da Universidade de Oslo e teve uma influente produção
acadêmica. Apesar de ter publicado menos livros do que P.A. Munch, foi uma
figura extremamente atuante e importante para a formação da mentalidade
norueguesa acerca da sua própria história. Sua obra mais conhecida e que
acabou se tornando emblemática chama-se "Visão da História Norueguesa"
(Udsigt over den norske Historie), publicada em quatro volumes de 1873 a
1891, dos quais praticamente 3 são dedicados a Idade Média.
Etnicamente, a população norueguesa hoje não pode ser considerada
homogênea. As ondas de imigração a partir dos anos 1970 geraram uma
sociedade de muitas cores, línguas e credos, contudo, no século XIX,
conflitos étnicos eram desconhecidos para aquela sociedade caucasiana e
protestante. Essa visão demográfica homogênea acabou por levar à construção
de um discurso historiográfico focado na perspectiva de dois grandes
grupos, que embora pertencentes ao mesmo grupo étnico, viam-se mutuamente
de forma diferenciada. A população da Noruega tradicionalmente sempre foi
constituída de uma maioria agrária, e isso foi fundamental na formação da
identidade nacional. Halvdan Koht (1875-1965), que foi um historiador,
prolífico escritor e político bastante influente na Noruega, apoiado na
obra de Sars, elevou o grupo dos fazendeiros tradicionais a uma categoria
quase heróica na sua tese de 1910, Bonde mot borgar i nynorsk historie
("Fazendeiro contra cidadão na nova história norueguesa"). Como a Noruega
não possuiu aristocracia durante o longo período em que esteve unida à
Dinamarca, o grupo que tradicionalmente passou à história como antagonista
do norueguês tradicional, ou seja, o homem do campo, foi o dos embets, que
numa tradução literal, poderíamos chamar de os "oficiais", ou os empregados
da burocracia estatal; esse grupo era constituído essencialmente por
funcionários públicos, incluindo-se aí o clero luterano. O grupo de
"oficiais", geralmente, era visto como urbano, ligado não aos valores
tradicionais de moderação e frugalidade da família norueguesa vinculada ao
trabalho agrícola, mas sim às "modernidades importadas" da Europa; e, acima
de tudo, visto como sendo fortemente ligado à administração de Copenhagen
durante o período da união das duas coroas. Os funcionários da burocracia
estatal e o clero, entre 1536 e 1814, recebiam sua educação e treinamento
na Dinamarca e, portanto, foram sempre descritos pela Historiografia de
fins do século XIX e começo do XX como sendo os mais autênticos
representantes do conservadorismo e da dominação dinamarquesa sobre a
cultura e tradição norueguesa, em oposição ao verdadeiro norueguês.
Durante o século XIX, em especial a partir da segunda metade, a
divisão entre esses dois grupos tornou-se ainda mais acentuada na vida
política da Noruega, e boa parte do jogo parlamentar deu-se pelas disputas
entre ele eles. As duas facções norueguesas acabaram dividindo-se num ponto
crucial do desenvolvimento acadêmico e, portanto, historiográfico do país,
que acabou, inclusive, se tornando emblemático na construção da
historiografia e na visão histórica que, por fim, prevaleceu para a
posteridade: a questão do idioma(s) pátrio(s).
Alguns dos representantes dos fazendeiros no parlamento não aceitavam
falar em outra língua que não fosse seu dialeto norueguês local, inclusive
nos seus pronunciamentos parlamentares. Isso acabou distinguindo-os do
grupo dos oficiais, que utilizavam, para a comunicação falada, uma versão
norueguesa da língua dinamarquesa, e, para a comunicação escrita, o
dinamarquês puro e simples. Sars, que era filho de uma família de raízes
agrárias, nascido em uma pequena comunidade nos arredores da cidade de
Bergen, simpatizava bastante com as tendências regionalistas de se adotar o
mål (nome dado aos vários dialetos locais) como língua falada, em
detrimento do dinamarquês, que era chamado riksmål (língua do reino) ou
bokmål (língua dos livros). A controvérsia entre o chamado nynorsk (novo
norueguês), como dialeto dos fazendeiros e, portando, associado à ideia de
algo nativo e realmente nacional, e o bokmål, como passou a ser conhecido o
dinamarquês escrito, dividiu profundamente o país e, ainda hoje, se faz
sentir na sociedade norueguesa, tendo em vista que, na Noruega, as duas
possuem a mesma consideração legal e docente. A primeira, todavia, é a
língua predominante no leste do país e a segunda, no oeste. Cada cidade
escolhe qual forma escrita será empregada e ensinada na escola, sendo que o
ensino da outra se torna obrigatório no ensino secundário.
Contudo, até que se adotasse publicamente esse entendimento
confusamente democrático sobre as línguas oficiais da Noruega, o debate,
ainda no século XIX, foi intenso. Sars foi um grande defensor da ideia de
que os fazendeiros e, portanto, os dialetos por eles falados, eram os
verdadeiros representantes do espírito norueguês e da nacionalidade do
país. Segundo o autor, eles eram "mais noruegueses" do que os noruegueses
urbanos, pois mantiveram, ao longo dos séculos de dominação dinamarquesa, o
verdadeiro espírito das antigas Sagas medievais. Essa interpretação de Sars
sobre o que é o verdadeiro norueguês é que acabou se tornando a visão
nacional sobre o passado e sobre a identidade da Noruega. Vikings medievais
e fazendeiros tradicionais se tornaram os ícones do típico norueguês do
passado e do presente.
Além disso, em termos educacionais, vale a pena mencionar duas obras
em especial. O mais famoso manual didático para o ensino da história nas
escolas norueguesa, Nordahl Rolfsens Lesebok, trazia exatamente essas
visões do passado nacional das quais falamos acima. No prefácio do livro,
lemos: "Sem ufanismo patriótico, sem negligenciar a verdade de qualquer
forma, um manual para as escolas do povo norueguês deve educar os cidadãos
noruegueses". Publicado em 1892, foi utilizado largamente até meados da
década de 1960. Nas várias edições e revisões que o livro sofreu ao longo
do tempo, as histórias do passado e do folclore norueguês mantiveram-se
praticamente as mesmas. Na capa da primeira edição, havia um desenho de um
troll, um ser mágico extraído dos contos de fadas e das sagas medievais. O
troll acabou também se tornando um dos grandes símbolos nacionais, vendido,
nos dias de hoje, em diversos tamanhos e formatos em lojas de souvenirs em
todo o país.
A publicação das Sagas dos reis medievais é outro evento que deve ser
considerado com relação à formação da mentalidade histórica e que, por
consequência, teve grande influência na Historiografia. A publicação, em
1900, de uma nova edição, ricamente ilustrada, dos textos de Snorri
Sturluson – autor do século XIII – das Sagas dos reis da Noruega foi um
evento em termos acadêmicos e políticos. Outras traduções já eram
conhecidas, inclusive uma sob a supervisão de P.A. Munch, contudo, a
iniciativa para a publicação de uma nova tradução ganhou grande notoriedade
no departamento de Linguística da Universidade de Oslo, e a leitura das
antigas Sagas medievais tornou-se extremamente popular, afinal elas
remetiam a um dos poucos períodos de total independência do reino da
Noruega. Embora o Heimskringla, nome do conjunto de Sagas, tenha sido
escrito por um islandês, tornou-se um importante símbolo nacional para a
Noruega durante o período em que esta buscava sua independência plena. Em
1900, o parlamento norueguês subsidiou a publicação da nova versão nas duas
línguas nacionais, "a fim de que a obra possa alcançar ampla distribuição
por um preço acessível".[12]
Nasce assim o grande interesse dos historiadores medievais pelos
estudos do vernáculo e suas produções literárias, e o pouco interesse pelas
produções latinas, em geral, vistas como "estrangeiras". Exceções, no
entanto devem ser marcadas com relação ao estudo de algumas obras em latim
que eram, e ainda são consideradas fundamentais para os estudos medievais.
A literatura norueguesa medieval latina consiste de um pequeno grupo de
obras, sendo as principais e mais importantes compostas em torno de 1200.
As principais são Passio Olavi[13], de Theodoricus monachus[14] a Historia
de Antiquitate Regum Norwagiensium, Historia Norwegie[15] e ainda o anônimo
Historia de Profectione Danorum em Hierosolymam.[16] Em 1880, o historiador
e filólogo de nórdico antigo Gustav Storm editou estes três textos junto
com outros textos menores e fragmentários extraídos da Monumenta Historica
Norwegiæ Scripta Latine, um livro de cerca de 300 páginas, que contém uma
grande parte do patrimônio literário latino da Noruega Medieval. As edições
de Storm e Gertz tem servido para a formação dos historiadores desde suas
publicações.

Parte II – Século XX

A abordagem historiográfica de um determinado período de tempo,
geralmente, é motivada por múltiplos fatores que se conectam aos interesses
ou curiosidades do mundo do historiador. Essa empatia entre os
historiadores de uma determinada geração e temas específicos de pesquisa em
geral relaciona-se diretamente com o contexto histórico nos quais estão
inseridos e nas necessidades apresentadas direta ou indiretamente por
determinado grupo social. Foi exatamente assim que se desenvolveu a
Historiografia norueguesa no século XIX, conforme apresentamos acima. A
narrativa dos fatos, as formações dos estereótipos, a criação de uma
mentalidade comunal geral foram construídas a partir do trabalho de
historiadores que buscavam remédios para o grande trauma da sociedade
norueguesa de então: a ausência de autonomia política.
Contudo, o trauma das dominações dinamarquesa e sueca foi suplantado
por um ainda maior e bem mais recente em termos cronológicos, que se pode
dizer que marcou profundamente a historiografia norueguesa: a ocupação
alemã durante a Segunda Guerra Mundial, de 1940 a 1945. Mais uma vez, a
Noruega se viu ocupada e governada indiretamente por forças estrangeiras, o
que acabou por gerar mais um movimento na pesquisa e no discurso
historiográfico, voltado para os temas nacionais profundamente noruegueses.
Uma investigação adequada da percepção historiográfica depois da
ocupação alemã na Noruega durante a Guerra precisa levar em conta o
sentimento geral de que o Estado norueguês não possuía um passado
"glorioso" em termos de vitórias militares, pelo menos nos últimos 800
anos. A ausência também de uma concepção histórica de independência
nacional impactou as formulações e as concepções de uma identidade
norueguesa, ainda em discussão e formação. Como vimos anteriormente, o
sentimento de "norueguesidade" foi constantemente definido pelos
historiadores do século XIX e início do XX como algo vinculado à tradição
agrária e rural, de um povo etnicamente homogêneo, liberal e democrático.
Considerando-se que a independência da Noruega aconteceu de fato somente em
1905 e que esta independência fora rompida por cinco anos durante a década
de 1940, o período do pós-guerra representa um momento importante na
reconstrução e na reelaboração dos conceitos de identidade nacional, que
vão beber nas fontes da Historiografia clássica e nos estudos medievais
neste país. No pós-guerra, a Historiografia norueguesa tornou-se
nacionalmente confinada, tanto nos seus temas, quanto na formação de seus
profissionais.
Uma obra marcante que ilustra bem o que dissemos acima é o livro de
Ottar Dahl (1924-2011), "Pesquisa Histórica Norueguesa no século XIX e
XX"[17], de 1959, que foi reeditado e revisto várias vezes e ainda continua
a ser a obra de referência sobre a Historiografia da Noruega. O livro pode
ser lido como uma tentativa de uma nova geração do pós-guerra para chegar a
um acordo com a tradição nacionalista acadêmica, que ela mesma critica.
Dahl construiu seu livro sobre a premissa de que a pesquisa norueguesa
poderia ser mais bem retratada e descrita se a devida atenção dada à
narrativa histórica e o discurso nacional enraizados no século XIX e início
do XX fossem de alguma forma filtrados e se o pesquisador pudesse extrair
daqueles autores clássicos as fontes e citações, deixando de lado o
ufanismo e as inclinações políticas de cada autor.
Assim, ao criticar o nacionalismo como uma ideologia explicitada na
pesquisa das gerações anteriores, a geração do pós-guerra, em grande parte,
continuou a operar dentro de uma "matriz" de problemas gerados pelo
discurso nacionalista. Este pode ser considerado o "cavalo de Tróia" da
Historiografia norueguesa. Essa crítica ao discurso nacionalista dos
autores clássicos da Academia acabou por ocupar boa parte das pesquisas
históricas, que sempre se propuseram a fazer várias releituras da história
nacional, criando-se assim um círculo vicioso de pesquisas que sempre se
debruçam sobre os mesmos objetos tipicamente noruegueses.
Dois famosos historiadores do período são especialmente icônicos para
demonstrar essa tendência de voltar-se novamente para si mesmo no que diz
respeito à formação das pesquisas historiográficas: Sverre Steen (1898-
1983) e Jens Arup Seip (1905-1992). Steen foi um escritor muito publicado,
que atuou como pesquisador, professor e comunicador de rádio de grande
popularidade. Foi professor da Universidade de Oslo e apresentou no rádio,
em 1967, uma série de programas sobre a história norueguesa a partir de
1814. No entanto, além de alguns poucos textos traduzidos e resenhas de
livros estrangeiros, há muito raros exemplos de suas obras que poderiam ser
consideradas de interesse internacional, tendo em vista que boa parte de
sua vasta coleção de escritos sobre a história da Noruega nunca chegou a
ser traduzida para nenhum idioma, ou seja, ele produziu, pesquisou e
publicou quase que exclusivamente para e pela a Noruega.
O caso de Seip é similar. Ele foi professor da Universidade de Oslo,
de 1952 a 1975, tendo anteriormente trabalhado no Arquivo Nacional desde
1941, além de ter sido consultor do Instituto Nobel Norueguês, de 1946 a
1958. Seip escreveu obras relacionadas à Idade Média e também ao período
moderno, e suas publicações foram bastante populares na Noruega, mas nunca
conseguiram atingir leitores de outras línguas e, ainda hoje, são uma
leitura difícil, por não relacionarem-se com o contexto histórico europeu e
mundial.
A concentração de temas noruegueses na Historiografia foi também, em
parte, consequência de um conjunto de posturas acadêmicas que foram
defendidas e policiadas com grande força no início do período pós-guerra e
levadas a cabo por historiadores como Seip e Steen. Tais critérios e
posturas podem ser detectados de forma quase explícita, por exemplo, nas
avaliações dos projetos de pesquisa para doutoramento, bem como nas
aplicações para preenchimento de cargos e cátedras de ensino na
Universidade de Oslo. Na sua correspondência acadêmica[18], bem como nos
discursos, Seip faz inúmeras referências ao grande valor da pesquisa da
histórica local; muitas vezes, de uma forma extremamente pessoal e
enfática, ele coloca que o historiador deve buscar aprofundar os temas da
sua própria sociedade e contexto cultural, enquanto desencoraja pesquisas e
elucubrações sobre terras e temas estrangeiros.
Essa disciplina aplicada aos historiadores foi também fruto de um
processo que ocorreu no campo das Ciências Humanas e Sociais como um todo,
especialmente a partir do final dos anos 50, quando os departamentos das
universidades da Noruega buscavam maior autonomia institucional com relação
às decisões políticas de suas respectivas reitorias. A apresentação daquilo
que se considerava como temas relevantes fazia parte de uma estratégia de
busca de respeito, renome e, especialmente, de recursos públicos para a
manutenção de programas que fossem, portanto, proeminentes para o povo
norueguês.

Mudanças começaram a acontecer a partir de meados da década de 1960,
quando da expansão do sistema de educação superior. Esse crescimento
contribuiu para a criação de especialistas e especializações fora do campo
exclusivamente norueguês. Além disso, a ampliação do contato da Noruega com
o nascente Mercado Comum Europeu e a criação de inúmeros projetos de
cooperação acadêmica internacional tornaram o panorama acadêmico norueguês
no que diz respeito aos estudos históricos, especialmente medievais, mais
diversificado. Podemos mencionar também a política de imigração da Noruega,
que acabou por romper a suposta homogeneidade étnica prevalecente no país.
As minorias étnicas imigrantes levaram para a Noruega diversas identidades
nacionais expatriadas e, portanto, em busca de uma nova identificação na
terra que lhas acolheu. A construção de uma historiografia menos centrada
na história nacional nasce, portanto, a partir das necessidades de uma
sociedade em franco e rápido processo de transformação a partir dos anos
60. O primeiro trabalhador imigrante paquistanês veio para a Noruega em
1967, e as ondas de imigração tornaram-se cada vez maiores ao longo dos
anos 1960 e 1970, ampliando o interesse dos historiadores para além das
fronteiras nacionais somente.
Esse interesse começa também despontar nas pesquisas relacionadas à
pesquisa paleográfica das fontes primárias medievais não relacionadas
diretamente ao estudo dos manuscritos vernaculares, como por exemplo, dos
pergaminhos latinos. Lilli Gjerløw (1910-1998) foi uma premiada acadêmica e
arquivista, que se tornou a grande referência na Noruega dos estudos de
paleografia latina, relacionada a textos e manuscritos até então
praticamente intocados pela historiografia tradicional. Formada na
Universidade de Oslo, ela também estudou na École Nationale des Chartes em
Paris, onde obteve o grau de paleógrafa e arquivista. Doutorou-se em 1962
com a tese Adoratio Crucis. The Regularis Concordia and the Decreta
Lanfranci about the Regularis Concórdia[19], acerca dos rituais e
celebrações religiosas na Noruega e de que forma os mesmos foram
documentados. A sua grande especialidade foi a pesquisa dos manuscritos
litúrgicos e religiosos, e publicou largamente nesse campo que ela
praticamente inaugurou na Noruega, relacionando o material dos arquivos do
país com quase todos os arquivos e bibliotecas relevantes da Europa. Foi
uma pesquisadora realmente internacional, freqüentando instituições como a
Biblioteca Vaticana, Trinity College Library, os Arquivos Reais da
Dinamarca e Suécia, Biblioteca Angélica em Roma, Bibliothèque Nationale de
France, British Library, etc.


Estas tendências, por um lado, como Jan Eivind Myhre[20] (1947-) e
outros argumentaram, abriram novos caminhos para uma historiografia de
leituras mais internacionais e cooperação acadêmica além das fronteiras
europeias apenas. Gradualmente, professores universitários e um grande
número de estudantes têm se especializado na história dos outros países e
regiões, com o surgimento de departamentos devotados à produção e pesquisa
em regiões como o Oriente Médio e o norte da África (Universidade de
Bergen), a África Subsaariana (Universidade de Trondheim) e o sudeste da
Ásia (Universidade de Oslo). Grande parte dessa pesquisa foi estimulada por
programas de subsídios externos do Conselho de Pesquisa da Noruega. Além
disso, a partir dos anos 1980, os historiadores começaram a se debruçar
sobre a questão da suposta homogeneidade histórica da população norueguesa
e a desenvolver pesquisas interessantes com relação ao tema, tanto na
modernidade e contemporaneidade quanto no período medieval. Com essa visão,
o historiador Knut Kjedstadli, em colaboração com outros historiadores e
cientistas sociais, mostrou que é errado acreditar que a Noruega foi uma
sociedade homogênea antes da chegada dos paquistaneses e somalis – os
principais grupos de imigrantes na segunda metade do século XX. Nos três
volumes de Norsk innvandringshistorie ("A História da Imigração na
Noruega"), ele pesquisa a complexidade cultural, além dos tradicionais
valores noruegueses, sagas, mitos e heróis. De certa maneira, esta obra
recolhe pequenas biografias, ângulos da vida privada, histórias de
imigrantes para a Noruega e seu encontro com a sociedade norueguesa da
Idade Média até os anos 1990.


Atualmente, a pesquisa histórica na Noruega é diversificada em seus
campos de interesse. Três das quatro grandes universidades do país,
Stavanger, Bergen e Trondheim, possuem centros de pesquisa e referência em
História Medieval. A Universidade de Oslo, tradicionalmente mais
conservadora, possuía um centro de pesquisa em Filologia do nórdico antigo
e História viking e nórdica, que atualmente passa por um processo de
reformulação a fim de se tornar um novo centro de estudos medievais na
capital, contudo, ainda focado na filologia e na história escandinava. As
pesquisas no campo medieval têm se tornado, nos últimos vinte anos,
francamente mais internacionalizadas quando se trata de temas gerais, como
História política, econômica ou até mesmo cultural, relacionando a Noruega
com os demais países nórdicos, além da publicação de manuais acadêmicos da
história norueguesa e escandinava, destacando-se em especial Norway: A
History from the Vikings to Our Own Times, de iniciativa de vários autores,
publicado pela primeira vez em 1995. Podemos mencionar, ainda, Medieval
Scandinavia – From Conversion to Reformation circa 800-1500 (publicado em
1993), do casal de historiadores americanos Birgit e Peter Sawyer, como
parte de uma série de estudos publicados em vários volumes intitulada The
Nordic Series, numa parceria entre as principais universidades escandinavas
e a Universidade de Minnesota nos Estados Unidos da América. Além disso, a
publicação do primeiro volume dedicado largamente ao período medieval, da
gigantesca obra The Cambridge History of Sacandinavia, editada pelo
professor Knutt Helle (1930-), da Universidade de Bergen, em 2008,
contribuiu ainda mais para a internacionalização da pesquisa e da produção
historiográfica da Noruega. Entre os vinte e oito autores do primeiro
volume, que abrange a pré-história escandinava até 1520, dez são de
universidades norueguesas, que desenvolvem pesquisas tanto dentro, quanto
fora do país, em parceria com universidades nos vários países e comunidades
que constituem a atual Escandinávia: Dinamarca, Suécia, Finlândia,
Islândia, além do Reino Unido, EUA e Alemanha.
O grande interesse dos leitores de língua inglesa pelo mundo e pelo
tempo dos vikings, bem como pelos reinos escandinavos medievais, acabou por
levar para as universidades da Noruega uma onda de estudantes de diversas
partes do mundo, tornando-se assim imperiosa a necessidade de bibliografia
disponível em línguas mais acessíveis do que as línguas norueguesas. Além
disso, boa parte da produção acadêmica destes estudantes é feita em inglês
ou, em alguns casos, em alemão ou francês, tornando mais difundida nos
meios acadêmicos europeus a história da Noruega. Essa internacionalização
dos estudos superiores relacionados ao medievo teve sua consequência na
própria temática das pesquisas feitas a partir dos anos 1990. Medievalistas
noruegueses renomados como Sverre Bagge (1942-), professor da Universidade
de Bergen, e Arnved Nedkvitne (1947-), ex-professor de Oslo, são bons
exemplos de como a internacionalização do ensino superior de História foi
importante para a ampliação da perspectiva dos estudos históricos que
relacionam a Noruega às demais regiões da Europa. Bagge tem mais de 170
publicações entre artigos, livros e conferências, numa longa carreira
acadêmica, que se iniciou em 1973; contudo, é a partir dos anos 80 que o
autor começa a publicar trabalhos em outro idioma que não o norueguês,
sendo o primeiro deles o artigo "Estudantes Nórdicos em Universidades
Estrangeiras" (Nordic Students at Foreign Universities, em, Scandinavian
Journal of History), um dos primeiros artigos publicados na segunda metade
do século XX em inglês, que relaciona a história da Noruega ao contexto
europeu, mostrando como a elite da Noruega medieval estava integrada aos
ambiente acadêmico das universidades européias.
Nedkvitne, ex-professor da Universidade de Oslo, o único professor da
história da Noruega a ser demitido do seu posto por razões não penais –
envolvido num polêmico caso com a administração da Universidade sobre a
liberdade e autonomia dos acadêmicos –, publicou três obras, todas também
em língua não norueguesa, relacionando a história local ao contexto
europeu: em alemão, "Noruega e da Liga Hanseática: Aspectos Econômicos e
Culturais da Europa em comparação" (Norwegen und die Hanse: wirtschaftliche
und kulturelle Aspekte im europäischen Vergleich, de 1994); "Encontro com
a Morte na Idade Média Nórdica", publicado em sueco em 2004 (Mötet med
Döden i Norrön Medeltid); além das duas pesquisas mais populares, "A
Conseqüência Social da Alfabetização na Escandinávia Medieval", (The social
consequences of literacy in medieval Scandinavia, de 2004) e "A Fé dos
Leigos na Sociedade Nórdica 1000-1350" (Lay belief in Norse society 1000-
1350, de 2009). Pesquisas e publicações desse porte são muito bem
recebidas, mas, de certa forma, vistas com certo cuidado por alguns
historiadores de chefes de departamento, que as vezes as classificam como
demasiadamente comerciais.
Destarte, enquanto parte da Historiografia se tornou
internacionalizada, um processo curioso pode ser observado. Muitas
pesquisas tornaram-se mais especializadas e menos "cosmopolitas", tendo sua
grande orientação voltada para a história local. Nos últimos trinta anos,
ganhou grande força a produção das micro-histórias regionais, tanto nos
projetos de Mestrado, quanto de Doutorado. Por exemplo, na Universidade de
Trondheim, em 1961, foi criada a cátedra de História voltada para a
pesquisa regional, relacionada à formação de professores (a partir de 1969,
incorporada ao curso de formação de professores da faculdade de Educação da
mesma universidade). A partir de 1978, a província de Trøndelag passou a
financiar, em parceria com a prefeitura da cidade de Trondheim, uma linha
de pesquisa específica da universidade para a História regional, tendo a
mesma província, no ano de 1979, criado o Museu do Povo de Trøndelag. Além
disso, entre os anos de 1974 e 2000 o departamento de História da
universidade administrou um centro de pesquisa para recolhimento e
catalogação de história oral e memória.
Na mesma linha, em 1978 a Universidade de Tromsø contratou Rolf Fladby
(1918-1996) como professor titular, com o intuito de fomentar a pesquisa no
campo da história local. Fladby, que, à época, era diretor do Instituto
Norueguês de História Regional – cargo que ocupou de 1956 a 1986 –, em
conjunto com outros professores da universidade, desenvolveu uma linha de
pesquisa em história regional do norte da Noruega.
Desde de 1981, a Universidade de Tromsø criou o programa Informação
Histórica da Noruega (RHD), que forma profissionais ligados à conservação
patrimonial, pesquisa em genealogia, demografia histórica e tradições
orais. As demais universidades não possuem um departamento ou linha de
pesquisa específicos para a história regional, mas vale a pena mencionar,
ainda, o programa mantido pela prefeitura da cidade da capital, História da
Cidade de Oslo, que em parte financia pesquisas nessa área, e o
Departamento de História do Arquivo Nacional, em Bergen, que, em convênio
com a universidade local, financia em parte doutoramentos na área da
História regional medieval e moderna.
As consequências dessa provincianização nacional não devem ser
subestimadas. História local pode ser definida de inúmeras maneiras.
Geralmente, se pode dizer que é a história das comunidades e instituições
locais, ou, talvez mais precisamente, que a história local ocupa o estrato,
em estudos históricos, abaixo do nível nacional, mas acima do nível da
família e da história biográfica. Do ponto de vista da produção da
historiografia local da Noruega, no entanto, a história local tem outro
aspecto importante: é um movimento popular. Este duplo aspecto da história
local, o seu caráter de ser tanto um ramo de pesquisa, como um movimento
com apoio popular considerável, dá à história regional uma posição
extremamente forte na Noruega.
O grande número de associações dedicadas ao estudo da história local
oferece um bom exemplo do elevado interesse pelo tema, tanto de acadêmicos,
quanto da sociedade em geral. No presente momento, existem cerca de 450
associações para pesquisa e fomento da história regional. Isso quer dizer
que praticamente todas as municipalidades do país possuem pelo menos um
centro de pesquisa histórica. Juntas, estas associações têm vários milhares
de membros, além de desempenharem uma atividade de pesquisa e publicação
impressionantes: eles organizam círculos de estudo e cursos, projetos de
restauração de edifícios antigos e escavação de sítios arqueológicos, além
de elaborarem planos para a coleta e preservação de tradições orais e
dialetos regionais; e possuem um sem número de publicações, que somavam
mais de 270 anuários em 2002.

Conclusão

Grande parte do pensamento atual sobre a internacionalização da
produção acadêmica de História e do seu ensino nas universidades da Noruega
parece ser oriundo de um modelo de pensamento típico das Ciências
tecnológicas. A principal suposição é, essencialmente, de que, como a
internacionalização é promovida pela pesquisa profissionalizada e
especializada – pois, afinal, as comunidades acadêmicas especializadas
formam uma rede mundial que desconhece fronteiras, dado o avanço acelerado
das tecnológicas de comunicação –, os departamentos de História devem
seguir o mesmo padrão de extensão e ampliação de redes e intercâmbios de
pesquisa. Contudo, no âmbito das Ciências Humanas e Sociais, a situação é
mais complexa. Internacionalismo poderia significar um espectro de coisas
diferentes e tem, de fato, significado coisas diferentes. Assim, a
definição específica da abertura das universidades da Noruega para
estudantes e pesquisadores internacionais, que está implícita nas políticas
atuais de fomento da internacionalização da pesquisa histórica, não deve
ser tomada como necessariamente um incentivo para cooperação no
desenvolvimento de pesquisas multidisciplinares per se, pois muitos
departamentos ainda se recusam a orientar projetos de pesquisa ou publicar
temas que não sejam "noruegueses o suficiente". Além disso, o grande
interesse pela história local acaba por se refletir nas pesquisas e
publicações com apelos mais populares e, portanto, economicamente mais
interessantes.
Em 2006, o Conselho de Pesquisa da Noruega criou uma comissão para
avaliar a qualidade da pesquisa histórica realizada por quatro das
principais universidades do país (Bergen, Stavanger, Trondheim e Oslo). A
comissão, composta por cinco historiadores escandinavos, apresentou seu
relatório em 2008, intitulado em livre tradução: "Além da Nação no Tempo e
no Espaço: O Poder do Passado e Perspectivas de Futuro na Pesquisa
Histórica Norueguesa".[21]
As principais conclusões foram que a pesquisa histórica é extremamente
importante para a formulação de ideias nos debates políticos, sociais e
econômicos do país e muito popular entre a sociedade civil; e que há uma
grande demanda para a pesquisa acadêmica. Todavia, a maior parte da
pesquisa histórica norueguesa está, ainda, centrada, nos termos do próprio
relatório, em um "nacionalismo metodológico". Isso acaba por definir uma
tendência entre os historiadores noruegueses de conceber, realizar e também
disseminar seus projetos de pesquisa e os respectivos resultados dentro dos
limites de uma perspectiva nacional, mesmo que tais pesquisas resultem em
publicações em língua não nacional. A maioria dos projetos baseia-se na
história nacional, tanto no seu quadro de referências teóricas, quanto em
relação à coleta de fontes e seus métodos de análise. O relatório aponta
que há, também, a disseminação limitada de resultados para o público
internacional, mesmo com a publicação em inglês ou outras línguas de maior
circulação. Conquanto o relatório não critique o foco na história da
Noruega, como tal, o mesmo incentiva uma abordagem mais comparativa e que
considere temas da história da Noruega dentro de um contexto internacional
mais amplo.
O relatório argumenta, ainda, que há necessidade urgente de uma
pesquisa histórica mais realista, com uma reflexão não tão marcadamente
teleológica e teórica sobre o tempo e o espaço. A Historiografia poderia
dar uma contribuição ainda mais importante à sociedade, por meio de uma
problematização centrada nas reflexões sobre as conexões entre
continuidades e descontinuidades e sobre as complexas redes de trocas
culturais entre as comunidades locais, regionais, nacionais, internacionais
e globais. Nós concordamos com o relatório apresentado, pois consideramos
que o historiador norueguês pode contribuir para o desenvolvimento de uma
pesquisa mais crítica, menos centrada nas questões "oficiais"; no entanto,
uma contribuição desse porte exigiria uma análise explícita das
estratégias, prioridades e conexões teóricas e metodológicas dos objetos de
pesquisa, sem se levar em consideração projetos ou tendências políticas,
que normalmente assumem um grande peso no mundo acadêmico da Noruega, tendo
em vista que todo o sistema de Educação Superior é público e, portanto,
gerido e mantido pelo Estado. Um ajuste mais forte na agenda histórica, com
a problematização das principais teorias políticas, sociais e econômicas em
voga, poderia levar à explosão do potencial subaproveitado da pesquisa
profissional histórica na Noruega do século XXI.

















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[1] Cf. Imsen, Steinar (ed.). The Norwegian Domination and the Norse World
c. 1100-c.1400. Trondheim: Tapir, 2010.
[2] Oeding, P. The black death in Norway, in: Tidsskrift for den Norske
lægeforening. Bergen: Alb. Cammermeyers, 1990.
[3] O Tratado de Kiel, ou Paz de Kiel, foi celebrado entre o Reino Unido e
o reino da Suécia, de um lado, e os reinos da Dinamarca e da Noruega, do
outro, em 14 de janeiro de 1814, em Kiel, cidade ao norte da Alemanha. Este
acordo deu fim às hostilidades ocorridas no decurso das Guerras
Napoleônicas entre as partes envolvidas. O Reino Unido e a Suécia fizeram
parte do front anti-francês (Sexta Coalizão), enquanto a Dinamarca-Noruega
foi aliada de Napoleão Bonaparte e, portanto, penalizada após o conflito.
[4] Danielsen, Rolf, et alli. Norway: A History from the Vikings to our Own
Times. Scandinavian University Press: Oslo, 2002. p. 15-16.
[5] Munch. P. A. National Forskeren. Kristiania: J. W. Cappelen, 1910. p.
25.
[6] A Era Viking é marcada pelo período da expansão escandinava, ou, como
alguns autores em português preferem chamar, a expansão normanda por meio
do comércio, colonização e ataques de pilhagem e pirataria. O primeiro
ataque conhecido foi dirigido contra o mosteiro de Lindisfarne, na
Inglaterra, em 793, que tradicionalmente marca o início da Era Viking ou da
expansão normanda. O final da mesma é marcado pela morte do rei Haroldo III
Sigurdsson, em 1066, numa mal sucedida expedição de conquista à Inglaterra.
[7] Smith, Leslie. Modern Norwegian Historiography. Trondheim: Norwegian
University Press, 1962. pp.12-13.
[8] Os textos das diversas Sagas compostas em norueguês antigo, geralmente,
são periodizados entre os séculos XIII e XIV, e, atualmente, é grande a
discussão acerca da confiabilidade das informações neles contidas acerca da
Era Viking e dos primeiros séculos da monarquia na Noruega. Para uma
discussão aprofundada sobre o tema, cf. Rory McTurk em A Companion to Old
Norse-Icelandic Literature and Culture.
[9] Smith, Leslie. Modern Norwegian Historiography. Trondheim: Norwegian
University Press, 1962. p. 18.
[10] Dahl, Ottar. Norsk historieforskning i 19. og 20 århundre. Oslo:
Universitetsforlaget, 1959. p. 37.
[11] Seip, Anne-Lise. Nasjonen bygges, in: Helle, Knut. Aschehougs Norges
Historie, bind 8. Oslo: Aschehoug & Co, 1997. p. 41.
[12] Sturlason, Snorre. Kongesagaer. Kristiania: Nationaludgave, 1900. p.
xv
[13] Passio Olavi, ou Passio et miracula beati Olavi é uma coleção de
lendas sobre o santo nacional norueguês, o rei Olavo II, mencionado
anteriormente. O texto foi provavelmente composto enquanto Santo Øystein
Erlendsson (1120-1188) era arcebispo metropolitano de Nidaros (1159-1188),
e acredita-se que possivelmente foi escrito pelo próprio Øystein. O texto
existe em duas versões: o longo, conhecidos em uma versão escrita em
nórdico antigo, no Antigo Livro de Homílias, num sermão para o dia de Santo
Olavo, e uma versão mais curta em latim que conheceu uma circulação mais
ampla, e pode ser encontrado em vários manuscritos pela Europa, tais como
Inglaterra, França, Viena, e Finlândia. Existe ainda uma outra versão longa
da obra, escrita em caligrafia insular, oriunda da Abadia de Fountains, em
York. Cf. Skar, Eiliv. Passio Olavi; lidingssoga og undergjerningane åt den
heilage Olav. Oslo: Samlaget, 1930. Salvesen, Astrid. Gammelnorsk
Homiliebok. Oslo: Universitetsforlaget, 1971.
[14] Theodoricus monachus (ou Tjodrek monk), foi um monge norueguês, que em
torno de 1170 escreveu a obra Historia de antiquitate regum Norwagiensium.
O livro conta a história dos reis noruegueses a partir de Haroldo I (ca.
850-953) até Sigurd I (1090-1130). cf. monachus, Theodoricus. The Ancient
History of the Norwegian Kings. Tradução de David e Ian McDougall. London:
Viking Society for Northern Research, 1988.
[15] Historia Norwegiæ é o fragmento de obra mais ampla que hoje nos é
desconhecida, escrita por um monge anônimo, certamente posterior a 1211. O
único manuscrito restante encontra-se na Escócia, numa coleção privada
escrito no início do século XVI. O texto em si, muito mais antigo, pois faz
referência de forma contemporânea a erupção vulcânica na Islândia, seguida
de terremoto, que aconteceu em 1211. O texto contém uma descrição
geográfica da Noruega e seus domínios, uma breve história do reino, a
genealogia dos Condes das ilhas Órcades e um catálogo dos reis noruegueses.
Cf. Ekrem, I,. Nytt lys over Historia Norwegie. Mot en løsning i debatten
om dens alder? Copenhagen: Museum Tusculanum Press, 1998. Holman,
Katherine. Historical Dictionary of the Vikings. Ann Arbor: University of
Michigan Press, 2003.
[16] No final da década de 1190, um clérigo norueguês de nome desconhecido,
compôs a dramática reconstrução literária da expedição dano-norueguesa, que
como parte da terceira cruzada, partiu em direção à Jerusalém alguns anos
antes. Contudo, como tal expedição chegara um tanto atrasada para a batalha
de reconquista, pois um acordo havia sido selado entre cristãos e
muçulmanos, o autor se dedica a uma serie de temas teológicos e literários
relacionados à mentalidade cruzadística. Cf. Gertz, M. LG., Scriptores
Minores Historiæ Danicæ II. Copenhagen: I Kommission hos G. E. C. Gad,
1920. pp. 443-492
[17] Dahl, Ottar. Norsk historieforskning i det 19. og 20 århundre. Oslo:
Universitetsforlaget, 1970.
[18] A lista completa das correspondências acadêmicas de Seip encontra-se
no site: http://www.arkivportalen.no/arkiv-
web/ArkivportalArkivEksportRapportGenServlet?id=no-a1450-
01000000006267&xslt=arkivlisteArkivportal.xslt&mimeType=application%2Fpdf
[19] Para uma lista completa das obras de Lilli Gjerløw, verificar a
bibliografia, ao fim do texto.
[20] Cf. Hubbard, William; Myhre, Jan Eivind; Nordby, Trond; Sogner, Sølvi.
Making a Historical Culture: Historiography in Norway. Oslo: Aschehoug AS,
1995.
[21] O relatório encontra-se disponível em:
http://www.forskningsradet.no/no/Artikkel/Evaluering+av+historieforskningen+
i+Norge/1187748085474
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