\"Identidade e cidadania a partir da história do funk carioca: leituras contemporâneas juvenis em uma escola da rede municipal do Rio de Janeiro.\"

October 3, 2017 | Autor: Alinnie Silvestre | Categoria: History, Education, Funk Music History, Juventude, Baile Funk, Juventudes
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"Identidade e cidadania a partir da história do funk: leituras contemporâneas juvenis em uma escola da rede municipal do Rio de Janeiro."

Alinnie Silvestre Moreira

O projeto "história do funk" começou a ser delineado no início de 2012, em função de uma demanda específica de uma escola que trabalhei, para que elaborássemos disciplinas eletivas para livre escolha dos alunos. Pensando em algo que atraísse adolescentes do Fundamental II, portanto, que estavam entre 12 e 15 anos, a junção entre História e funk me pareceu interessante em um espaço escolar carioca, próximo a comunidades que tinham acabado de passar por uma disputa lançada a dançarinos que postavam vídeos na internet, denominada Batalha do Passinho, ocorrida em 2011.
Este concurso de dança, envolvendo jovens de comunidades próximas à escola onde atuava, contou com a participação de vários dos meus alunos do GEC Epitácio Pessoa, escola de tempo integral da rede municipal do Rio de Janeiro situada no bairro do Andaraí, região da grande Tijuca. O projeto da eletiva foi aceito pela comunidade escolar e, principalmente, pelos alunos que se inscreveram na disciplina oferecida. Grande parte dos professores teve resistência quanto à temática, principalmente pela associação que comumente se faz entre funk e criminalidade e/ou a vulgarização sexual.
A resistência inicial, já esperada, é a mesma que as escolas experimentam com relação à cultura denominada periférica e sua relação com a cultura escolar. Assim como na sociedade em geral, o funk ocupa um lugar de "ritmo maldito" nas palavras da antropóloga e estudiosa do mundo funk carioca, Adriana Facina:
"Grito da favela, voz do morro cantando a liberdade, som da massa, o funk é um dos ritmos mais malditos da cultura popular brasileira. Seus detratores afirmam que o funk não é música, que seus cantores são desafinados, suas letras e melodias são pobres e simples cópias mal feitas de canções pop ou mesmo de cantigas tradicionais populares. Há ainda os que demonizam o batidão, associando-o à criminalidade, à violência urbana ou à dissolução moral. Ao criminalizarem o funk, e o estilo de vida daqueles que se identificam como funkeiros, os que hoje defendem sua proibição são os herdeiros históricos daqueles que perseguiam os batuques nas senzalas, nos fazendo ver, de modo contraditório, as potencialidades rebeldes do ritmo que vem das favelas."

Disposta a lidar com estas questões dentro e fora da turma, contamos com a ajuda da proposta da Batalha. Este evento - que já está no terceiro ano e que agora conta com o patrocínio de grandes empresas, como a Coca Cola e a Rede Globo e já contou com um filme premiado na cidade de Nova York – deu um suporte aos argumentos para que o funk também pudesse fazer parte da cultura escolar. Criadas pelo músico Rafael Nike e pelo escritor, Júlio Ludemir, elas tinham o objetivo de organizar e dar visibilidade às coreografias que mobilizavam milhares de jovens das comunidades populares do Rio de Janeiro:
"Esse concurso de dança deu um status artístico ao lazer de jovens com baixa escolaridade e até então tidos como problemáticos, quase confundidos com os bandidos que controlavam as comunidades em que vivem até ter início o processo de pacificação em curso na cidade.

A Batalha do Passinho tornou-se uma grande ferramenta de inserção de atores sociais com os quais a cidade formal jamais conseguiu dialogar, criando oportunidades de trabalho e perspectiva de futuro para jovens negros e principalmente do sexo masculino.

Esse processo de inclusão, que de imediato despertou o interesse da mídia, da universidade e dos grandes pensadores sociais, revelou uma dança não apenas surpreendente do ponto de vista artístico, mas totalmente desvinculada do estereótipo sexista e violento que até então impedia o reconhecimento do funk como o principal símbolo de um Rio inventivo e principalmente feliz."

A justificativa do concurso, de mostrar uma dança de jovens de comunidade que mesclavam diferentes ritmos, com músicas sem "apologias" ou sexismo, apoiadas pela mídia e inseridas no início do processo de ocupação das comunidades cariocas pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) criou um ambiente propício para que a prática fosse desenvolvida dentro da escola.
Com a conjuntura favorável e a eletiva em curso, tive a possibilidade de organizar a disciplina. Com a divisão da História do funk em décadas (a começar na década de 1960 até 2012), pude explorar diferentes contextos históricos ligados às artes musicais e visuais, assim como política e sociedade. Os alunos debatiam as questões em um tempo de aula e, no outro, a expressão era livre e eles podiam dançar ou apresentar músicas e vídeos para a turma. Nestes momentos, de profunda riqueza, eles refletiam sobre suas realidades, impressões e novos significados criados a partir daquela experiência.
"o funk, assim como qualquer outra dança, é uma das formas utilizadas pelos grupos culturais para expressar ideias e sentimentos. Por meio da dança, as pessoas atribuem significados às próprias experiências e narram seu modo de entender o mundo. O funk nada mais é do que um artefato cultural, um produto das relações existentes na sociedade, um texto passível de leitura e significação. A análise dos seus signos permitirá identificar os valores, procedimentos e características dos seus representantes."
Um acordo inicial de convivência de que naquele espaço não poderia ter vulgaridade nem apologia foi celebrado, embora os temas de sexualidade e violência perpassassem aos debates. Estes valores, entretanto, são muito tênues e subjetivos, mas aos poucos fomos encontrando um espaço confortável para estes significados e gostaria de evitar moralismos que afastam. No seu construção da consciência moral, Yves de La Taille, refletindo sobre a razão, sugere que
"Uma das funções da razão é conhecer. Ora, a moral é um objeto do conhecimento. Ela não se reduz a uma intuição que viria de não se sabe onde. A moral tem conteúdo construído pela cultura e, como qualquer outro conteúdo, as pessoas devem entrar em contato com ele, re-significá-lo, reconstruí-lo, e isto desde a infância. Qual o conteúdo da moral? Ele pode ser dividido em três categorias complementares: regras, princípios e valores."
A construção destes princípios foi estabelecida por todos os envolvidos, traduzindo uma expressão de cidadania ativa, com a participação de todos. Ali, a partir de uma leitura sobre os valores e produções culturais da periferia, eram colocadas questões do que caberia ou não ao espaço escolar. O objetivo inicial era acolher para analisar e debater, sem a produção de um sentido limitador, mas reflexivo. O pesquisador sobre o funk carioca, Micael Hersschmann, já apontava para esta tensão ou o que ele chamou de "uma contradição constitutiva do mundo funk como um fenômeno da cultura de massas". Nas palavras da antropóloga Adriana Facina:
"Se, por um lado, ele [o funk] é assimilado por amplas camadas da população, sobretudo jovens de camadas médias, enquanto produto cultural a ser consumido e usufruído, por outro lado, há a estigmatização do estilo de vida e da origem social dos artistas e consumidores preferenciais dessa música, reunidos sob o rótulo de funkeiros. Uma das expressões claras disso é a proibição da execução pública dos funks que falam das facções que são associadas ao comércio varejista de drogas nas favelas cariocas, os chamados proibidões, que nem sempre são de louvação aos "comandos" ou de apologia ao crime, mas sim descrições do cotidiano violento dessas áreas da cidade.


Atenta a estas preocupações, e também à faixa etária trabalhada nos últimos anos do ensino fundamental, discutíamos estes temas problematizando a mídia, a supervalorização de um estilo de vida hedonista e propondo outros olhares, mais críticos, apresentando alternativas para a construção de espaços de cidadania. A escola é um espaço para a construção destes referenciais. Distanciar-se dos discursos presentes no cotidiano destes jovens não aparenta ser uma boa maneira de diálogo e construção de novos referenciais.
A resposta foi acolhida e o termômetro foi ver alunos de outras eletivas que adoravam nos visitar. Um flash mob ao som do "Bonde do Vinho", uma paródia da música I feel good, de James Brown, foi realizado na escola. A primeira aula situava o soul como um ritmo negro importante para a construção da referência do funk carioca, assim também como a expressão corporal dos ritmos negros, inaugurada nas TVs norte-americanas por James Brown. A aluna Jussara Santos resumidamente nos conta sobre a sua experiência:
"O vovô do passinho [um apelido carinhoso para James Brown] foi quem ensinou o mundo a dançar funk, nos anos 60. Minha "vó" me contou que quando ela era mais nova ela ia pro baile funk e os ricos falavam que o funk era pra pobre, favelado, bandido, malucos, pirados, doidos. Mas eu não acho isso não. Eu acho que se eu tivesse nascido naquela época eu dançaria até o chão..."
Produzimos textos, olhares e impressões e o debate foi riquíssimo. A aluna Núbia Araújo sintetiza a sua experiência:
"O funk fez com que as pessoas se manifestassem, isso é, sentindo a batida e que elas [também] homenageassem as pessoas que já morreram, como o nosso famoso Gambá, que era muito bom mesmo nos passinhos. Então vamos fazer juntos com que o funk mude a percepção das pessoas transformando o funk na nossa voz e fazendo com que a gente (sic) seja livre."
A partir destas vivências, quisemos reproduzi-la em um novo formato, de oficinas, na Escola Municipal Soares Pereira. A proposta, desenhada no primeiro semestre de 2014, contava com a participação de estagiários do subprojeto PIBID de História da UERJ- Maracanã, coordenado pela Profa. Dra. Carina Martins. Integrado especialmente no eixo sobre leituras do contemporâneo, o objetivo era trocar experiências, percepções entre os estudantes de História e os da Escola Municipal Soares Pereira tendo a temática como um meio.
A ideia era desenvolver olhares e a compreensão dos discentes do ensino fundamental sobre a sua consciência histórica, valores e pertencimento no mundo, através da análise da juventude de periferia, principalmente a partir de expressões da cultura funk carioca, historicizando as experiências. Os encontros foram extracurriculares, administrados em tempos vagos da escola, existentes em função de licenças médicas ou falta de professores. Dispúnhamos, então, de 1 tempo de 50 minutos semanais para explorar as temáticas. Após experimentar nos 6º e 9º anos, restringimos as oficinas aos 9º anos da escola, em função da maturidade e capacidade de análise da série.
O projeto também visava envolver os bolsistas PIBID e alunos da educação básica para discutir as temáticas de identidade, memória, história a partir deste recorte da cultura considerada periférica. Desta prática, tivemos aproximações, criações de vínculos e aberturas para a discussão sobre o ritmo e demais manifestações da cultura e percepções da mídia sobre o assunto.
Organizado em módulos por décadas, mas agora sintetizados, os alunos discutiram os gêneros que deram origem ao funk carioca, além das questões conjunturais e culturais entre as décadas de 1960 até os dias atuais. A partir de vídeos e textos selecionados, os bolsistas PIBID e os alunos de ensino básico discutiram os conceitos de memória, história, juventude periférica, violência, gênero, cultura popular e erudita. A apreensão destes se deu através de leituras de situações de seus cotidianos, quebrando possíveis barreiras entre a cultura escolar e a popular, no interior da escola.
A oficina integrou ainda aspectos do Projeto Político Pedagógico da escola que trabalho, em reelaboração pela comunidade escolar neste ano de 2014, e que privilegia identidade e memória na construção de cidadania dos nossos educandos. A coordenação e direção da escola acolheram bem o projeto, que visava uma aproximação dos alunos com a escola, principalmente porque ali temos diversas comunidades tijucanas, tais como: Borel, Formiga, Casa Branca, Salgueiro, entre outras. O relacionamento entre estas comunidades nem sempre é pacífico e as tensões se expressam dentro da escola. A indisciplina, é muito explícita e motivo de afastamento e tensão constante entre alunos e professores. A reflexão sobre a identidade dos nossos alunos, criadas a partir da escola como referência comum a todos, convergia para a nossa proposta de oficina, tendo a cultura como um eixo importante.
As limitações e estranhamentos da comunidade escolar, apesar de ser em outro contexto e local, permaneceram. Elas foram reforçadas uma nova percepção desta cultura produzida nas comunidades cariocas, em um momento muito delicado dos resultados da política de pacificação e guerra às drogas, que se misturam à repressão aos bailes funks. Várias comunidades pacificadas estão proibidas por uma resolução de executarem bailes, para evitar aglomerações. O fato, inclusive, gerou algumas resistências nos próprios alunos, na reprodução destes estereótipos nos primeiros encontros da oficina.
Estas barreiras, entretanto, foram enfrentadas logo no início. A bolsista PIBID Ana Luíza relata o seu primeiro dia de oficina, realizado no dia 02 de setembro de 2014:
"[...] começamos a aplicação da "Oficina do Funk", a turma foi da inércia a explosão. Todos os alunos se envolveram com o tema rapidamente e começaram a participar da aula, houve até uma roda de batalha do passinho dentro da sala. Nessa turma a professora Alinnie quem aplicou a oficina, mas na turma 1901, após já ter observado a professora, eu e a Lívia que aplicamos a oficina. A resposta foi bem diferente da turma de sexto ano, mas foi positiva pois os alunos prestaram bastante atenção e participaram a seu modo, com perguntas e comentários na aula."

As respostas dos bolsistas e alunos, no início da aplicação das oficinas foram muito satisfatórias. As queixas dos bolsistas residiam nas condições dos equipamentos da escola. Para aplicar as oficinas, é necessário notebook, cabos, aparelho projetor e de som. Sem estas ferramentas o trabalho fica muito comprometido, como relata a aluna de História da UERJ em seu portfólio, sobre a aplicação da oficina no dia 08 de setembro:

"Iniciei a aplicação da "Oficina do Funk" na turma 1902. A turma estava bem vazia, houve pequenos problemas na execução do vídeo e do áudio, demorou um pouco para a turma se concentrar mas nos final deu tudo certo e os alunos acabaram cantando as musicas que conheciam, pois áudio não ficou bom. Os alunos não se identificaram muito com o "vovô do passinho" nem com o Bonde do Vinho. As meninas se identificaram mais com os "raps da paz" e perguntaram sobe as mulheres do funk de antigamente. Elas apontaram para o fato de que com os homens que escreviam e cantavam o funk havia muitos que falavam mal das mulheres e as xingavam e que as mulheres dançavam e rebolavam as músicas "contra" elas próprias. Notei que nesta turma vou ter que focar mais na questão de gênero, preconceito e feminismo."

Apesar dos impedimentos, as potencialidades de discussão e acesso à identidade e cultura juvenil a partir desta temática são claras e sentidas pelos bolsistas que as aplicam. A potencialidade deste projeto na construção de cidadania, senso crítico e as aproximações com os alunos ficaram evidentes nos relatos da bolsista. No início, uma grande parte dos alunos da turma 1902 (aparentemente apática), permanecia no pátio da escola, sem interesse para assistir a oficina do funk. Aos poucos, porém, eles foram se aproximando e interferindo inclusive no planejamento da bolsista para as aulas. Suas frustrações, apesar das tentativas, também refletem as limitações reais dos docentes das escolas da rede pública de ensino carioca.

"Dia 29 de setembro de 2014
Aplicação da Oficina do Funk na turma 1902, os problemas com áudio e vídeo continuaram apesar da professora Alinnie ter levado uma caixa de som para o computador. É extremamente dificultoso apresentar a oficina sem tais recursos, pincipalmente devido a quantidade de alunos, que vem aumentando. As vezes eu me sinto um pouco culpada por não conseguir, devido aos problemas de estrutura, passar corretamente as músicas pra eles e seguir o planejamento da oficina que eu fiz. A participação dos meninos, em contra partida às dificuldades, tem aumentado. Os meninos me pediram para levar alguns vídeos antigos de outros ritmos além do Funk, como reaggae e rock. Fiquei pensando em como trabalhar esses novos ritmos e ainda manter certa coerência, tentei buscar clipes com letras para tentar sanar a dificuldade com o áudio. Não tive como fugir dos cantores mais óbvios, para o reaggae levarei Bob Marley, como representante negro e seu viés pacifista, quanto ao Rock eu foquei no rock nacional dos anos 80, com algumas letras mais críticas como "Que país é esse?", "Ideologia" e "Brasil"."

A bolsista Lívia, que aplicou as oficinas na turma 1901 (escolhida por ela mesma), relata sua experiência no primeiro dia de aplicação da oficina, no começo de setembro de 2014. :
Com a turma 1901, eu Ana apresentamos qual era a proposta e eles
gostaram. Conseguimos seguir até mais nos slides do que com a 1603
(eles só queriam dançar), surgiram perguntas e até solicitações para
trazermos algo sobre Charme, Hip Hop e Pagode. Eles realmente se
envolveram. A primeira experiência foi muito boa.

Depois que terminamos, fizemos uma avaliação desta ação, Eu, Alinnie e
Ana, e decidimos organizar um planejamento que nos orientasse, sobre
quais assuntos iríamos abordar e que tipo de atividades faríamos com
eles utilizando a oficina como base. Eu elaborei um cronograma com
atividades até o final da oficina onde a ideia é fazer com que eles
produzam um funk falando sobre as coisas que conversamos (Preconceito, sexualidade, mídias, desigualdades,
oportunidades, violência, dentre outras questões), e que seja feito um
show de talentos com essas músicas produzidas por eles.

Seus planejamentos, muito satisfatórios do ponto de vista teórico e didático, esbarraram em alguns impedimentos, diferentes, entretanto, dos enfrentados pela bolsista Ana Luíza com a estrutura física dos equipamentos da escola, apesar do não funcionamento dos equipamentos terem inviabilizado a aplicação de um dia da oficina. Suas questões partiram da realidade vivenciada por nossos alunos durante as operações de prisão realizadas pelas UPPs da região, durante o mês:
Alguns imprevistos aconteceram durante o planejamento feito, tivemos
alguns dias sem aula, outros em que o equipamento de som fornecido
pela escola não funcionava de jeito nenhum, dias em que os alunos
mesmo já estavam mais agitados (temos que sempre considerar o que
acontece fora dos muros da escola, ainda mais falando de funk, que é
um assunto que acessa a realidade de várias comunidades do Rio de
Janeiro), pois em um momento a violência nas comunidades em que moram
estava em alta, alunos perdendo parentes para o tráfico e sendo até
presos.

É essa realidade que muitas letras de funk tratam, e esses alunos
convivem com ela diariamente, então nosso objetivo é a partir do funk
refletir historicamente e socialmente sobre a sociedade em que nós
vivemos.
[...]
O trabalho ainda está andamento, mas para mim esta sendo muito
válido, pois há dois lados, eu ganhando experiência e aprendendo a
lidar com assuntos e problemáticas vividas por esses alunos,
entendendo assim a realidade deles, o porquê de tanta agressividade e
tanta indisciplina, e assim por outro lado, dando a eles um momento
dentro da escola em que podem se expressar livremente, cantando,
dançando, contando suas vivencias, e assim se tornando mais amigos e
próximos dos professores e da comunidade escolar.
Sabemos que nas
comunidades atuais a repressão e a negação da liberdade só mudou de
mãos, enquanto antes o tráfico dava as leis, agora as UPPs apertam o
toque de recolher. E ai, onde fica o espaço da liberdade, cultura e
lazer dessas crianças?? Foi também nesse intuito que a oficina foi
elaborada, para dar a esses alunos um momento de liberdade que em
muitas comunidades ainda continua sendo negado."

A riqueza de detalhes do relato da bolsista Lívia expressa as possibilidades que encontramos quando trazemos dados da realidade dos educandos para a sala de aula. Paulo Freire, em sua maestria, inspira-nos com a afirmação de que "a leitura do mundo precede a leitura da palavra", no despertamento de sujeitos conscientes de sua história e lugar no mundo. Me parece adequado trazer parte deste mundo para os debates e possibilidades escolares, como construção de uma cidadania participativa, que não prescinde da identidade do sujeito histórico.
Outro grande pensador brasileiro, Rubem Alves, em sua crônica "Não é próprio falar sobre os alunos", pensa sobre o universo que habita o mundo dos que nos cerca, sem nem ao menos tomarmos consciência disso. As exigências de provas externas e índices de qualidade nos afastam dos alunos e, nas universidades, as medidas de excelência igualmente selecionam registros de artigos e desenvolvimentos de pesquisa, dificilmente de vivências. Partilho do pensamento de Rubem Alves "Eu sonho com o dia em que os professores, em suas conversas, falarão menos sobre os programas e as pesquisas e terão mais prazer em falar sobre os seus alunos."

Acréscimos de relatos da experiência da Ana Luiza



Supervisora PIBID-História da UERJ Maracanã e professora das redes municipal e estadual do Rio de Janeiro.
A primeira Batalha do Passinho se deu em setembro de 2011, no SESC Tijuca, instituição próxima da escola onde lecionava GEC Epitácio Pessoa, no Andaraí. "Cerca de 180 jovens, alguns acostumados com a violência nas comunidades onde moram, se reuniram para uma guerra pela música, onde a grande "arma" dos concorrentes foi a criatividade. Sem perder a batida do funk, os meninos criaram passos inspirados em ballet clássico, jazz e frevo, diminuindo a erotização pela qual o funk passou nos últimos anos. As eliminatórias nos morros do Andaraí, Borel e Salgueiro, todos na região da grande Tijuca, classificaram 24 garotos para a decisão do campeonato. Os finalistas se enfrentaram em duelos ao som do passinho do Menor da Favela e, a cada rodada, diminuíam os concorrentes." In: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/batalha-do-passinho-elege-o-primeiro-rei-do-funk-no-rio-20110927.html
FACINA, Adriana. "NÃO ME BATE DOUTOR": FUNK E CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA." V ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura - 27 a 29 de maio de 2009 Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.
A primeira Batalha do Passinho foi divulgada no programa Planeta Xuxa, em 2011. Desde 2012 o evento tomou uma proporção maior, envolvendo várias comunidades cariocas. O evento, que ocorreu junto com a ocupação militar pacificadora implantada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, contou inicialmente com o apoio do governo. Desde 2013, conta com a publicidade da Coca Cola e seus dançarinos tiveram destaque durante a abertura dos jogos da Copa do Mundo, realizada no Rio de Janeiro, de 2013.
In: https://www.facebook.com/batalhadopassinho/info
Para uma breve análise sobre as UPPs e a cultura das comunidades, ler: http://observatoriodefavelas.org.br/noticias-analises/os-desafios-da-upp-e-o-papel-da-upp-social/
NEIRA, Marcos Garcia. "O funk na escola. Uma proposta livre de preconceitos para analisar e vivenciar suas diversas narrativas e modos de dançar." Carta Fundamental. A revista do professor, n. 61. http://www.cartafundamental.com.br/single/show/296/o-funk-na-escola
De La TAILLE, Yves. Construção da Consciência Moral. Psicologia do Desenvolvimento. Univesp. http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/225/1/01d11t03.pdf
Hershmann, Michael. O funk e o hip-hop invadem a cena. Rio de Janeiro, Ed.UFRJ, 2000. Apud: FACINA, Adriana. "NÃO ME BATE DOUTOR": FUNK E CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA." V ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura - 27 a 29 de maio de 2009 Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.
O programa Educação em rede, da Multirio, filmou a primeira aula da eletiva, que tratava da década de 1960 e a herança do soul para o funk carioca. https://www.youtube.com/watch?v=8cmJDLv41Z0&list=UUK5ujbq_h48NEW5cqs7U9wQ

Jussara Santos. Produção textual em aula. 12 de abril de 2012.
O dançarino, Gualter Damasceno Rocha, conhecido como Gambá, foi morto por traficantes na favela de Manguinhos. Ele, que havia feito um show com Preta Gil na mesma noite, foi encontrado morto no dia 30 de dezembro de 2011. Núbia Araújo de Oliveira. Produção textual em aula. 12 de abril de 2012.
Não sei como citar o portfólio....rs
Portfólio da Bolsista PIBID Lívia, setembro de 2014.



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