IDENTIFICAÇÃO DE ILHAS DE CALOR E PROPOSTAS DE MITIGAÇÃO PARA O FENÔMENO NA CIDADE DE TERESINA-PI/BRASIL

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IDENTIFICAÇÃO DE ILHAS DE CALOR E PROPOSTAS DE MITIGAÇÃO PARA O FENÔMENO NA CIDADE DE TERESINA-PI/BRASIL

Felipe Ferreira Monteiro Ana Lucia Ribeiro Camillo da Silveira

RESUMO As mudanças de uso e ocupação do solo nas cidades têm influência direta sobre o clima urbano de forma que, compreender de maneira quantitativa e qualitativa essa influência e os seus impactos é de grande importância para o planejamento urbano, onde as soluções aplicadas buscaram tornar as cidades mais confortáveis e saudáveis para seus usuários. O uso de técnicas de ferramentas de sensoriamento remoto para compreender o tecido urbano e suas transformações são essenciais para desenvolvimento das pesquisa. O objetivo principal desse trabalho é compreender a influência da cobertura do solo sobre a temperatura da superfície e para isso foi realizada uma analise espaço-temporal do uso do solo e do campo térmico, para uma região da cidade de Teresina-PI, utilizando técnicas e dados de sensoriamento remoto. Diante os resultados obtidos foram levantadas propostas de mitigação para o fenômeno, de maneira a prevenir o crescimento do fenômeno.

1 INTRODUÇÃO De acordo com Gomes et al.,(2012), o crescimento urbano não planejado ou mal articulado vem gerando alterações no clima local, devido ao desordenado uso e ocupação do solo. O ar com temperatura elevada é sentido com maior intensidade no centro das cidades, onde sofre maior desequilíbrio e essa condição dificulta a evaporação e consequentemente a disponibilidade de umidade no ar, além de reduzir o poder de dispersão dos poluentes atmosféricos, trazendo desconfortos térmicos e problemas de saúde para a população. Do ponto de vista das ciências atmosféricas, o que ocorre são alterações no balanço da radiação da superfície, provocando mudanças nos processos de absorção, transmissão e reflexão, e nas características da atmosfera local (CARNEIRO, 2007). Um dos principais impactos na área urbana com as mudanças de uso e ocupação do solo, como perda de cobertura vegetal, é o aumento de temperatura e a diminuição da umidade, causadas pela alta densidade construtiva, além da crescente verticalização que causa mudanças nos fluxos de ventilação. O clima urbano possui características próprias, pois é influenciado pelos materiais que constituem as superfícies urbanas, onde muitos deles possuem capacidade térmica mais elevada os materiais das áreas não construídas. Além da própria morfologia da cidade que apresenta maior rugosidade, bem como maior difusão da energia refletida e irradiada pelos materiais. Dessa forma, a substituição dos materiais naturais por grande quantidade de casas e prédios, ruas asfaltadas e uma série de outras construções, produzem um maior

aquecimento local, resultando nas formações de ilhas de calor nos centros urbanos. De acordo com Oke (1978), o ar na camada urbana é usualmente mais quente que em áreas vizinhas vegetadas. Confirmando as observações de Oke (1978), Gartland (2010) afirma que as ilhas de calor são áreas onde o ar e as temperaturas da superfície são mais quentes do que as áreas suburbanas vegetadas circunvizinhas. A vegetação urbana, entendida como conjunto de espécies de porte arbóreo, arbustivo e herbáceo, tem grandes contribuições climáticas para as áreas construídas, tais como: redução da amplitude térmica, redução e condução dos ventos, diminuição de ruídos, estabilidade microclimática (LOPES JUNIOR, 2004). Neste sentido, quando a distribuição espacial da vegetação no ambiente urbano é reduzida devido à ocupação não planejada do solo, os problemas ambientais acarretados por este fato, podem ser percebidos a curto e em longo prazo, provocando alteração no equilíbrio ambiental local e na qualidade de vida dos habitantes. Ainda de acordo com Lombardo (1985), a presença de vegetação implica na mudança do balanço de energia, devido à necessidade das plantas absorverem a radiação solar em função de seus processos vitais. Todavia, a remoção da vegetação para dar lugar às edificações e superfícies pavimentadas prejudica as condições ambientais, diminuindo, por exemplo, o sombreamento, que impede o aquecimento do ar derivado da reemissão da radiação solar pelas superfícies. As consequências para saúde humana surgem devido ao ar quente e seco, que contribui para o aumento da sensação de desconforto e favorece a incidência de problemas respiratórios (GARTLAND, 2010). Figueiredo (2009) aponta que a sociedade é impulsionada pelo desenvolvimento econômico e tecnológico, exercendo uma grande pressão sobre o ambiente. Neste contexto exploração humana direta dos recursos tem ocasionado inúmeras alterações de paisagem, expondo cada vez mais a população ao risco da ação de inúmeros agentes causadores de doenças, que se constituem então em um problema de distribuição dos fenômenos de doença e saúde. Com isso pode ser percebido, conforme Silva et al. (2005), que o acompanhamento da dinâmica do uso do solo nos municípios é de suma importância no intuito de refletir sobre o monitoramento ambiental e suas respectivas mudanças de aspectos socioeconômicos das regiões. Como as modificações no uso e cobertura do solo urbano ocorrem de forma acelerada para atender as necessidades do desenvolvimento das cidades, tem-se um uso cada vez maior de técnicas que possibilitem o acompanhamento desta dinâmica. O Sensoriamento Remoto, por exemplo, possibilita análises espaços-temporais identificando as modificações que ocorrem no solo urbano, de forma confiável e eficiente garantindo a extração de informações necessárias para subsidiar o planejamento urbano e as políticas de preservação ambiental. O emprego de dados orbitais em estudos do meio urbano ganhou destaque nas últimas décadas com o a criação de sensores cada vez mais sofisticados capazes de captar uma grande quantidade de dados sobre os elementos na superfície terrestre e na maior

disponibilidade desses dados para a comunidade científica. Novo (2009) define sensoriamento remoto como a utilização conjunta de sensores, equipamentos para processamento de dados, equipamentos de transmissão de dados colocados a bordo de aeronaves, espaçonaves, ou outras plataformas, com objetivo de estudar eventos, fenômenos e processos que ocorrem na superfície do planeta Terra a partir do registro e da análise das interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias que o compõem em suas mais diversas manifestações. Com o propósito de identificar as alterações no uso do solo e sua influência sobre a formação de ilhas de calor dentro da cidade de Teresina – PI, Essas alterações causam um impacto direto sobre o clima da cidade sendo primordial entender o fenômeno e propor diretrizes a fim de mitigar esta problemática. Para a presente pesquisa foi realizada uma análise espaço - temporal da cobertura do solo e de seu respectivo campo térmico, em uma área especifica da zona leste da cidade de Teresina, comparando os anos de 1985 e 2010. Para tal foram utilizadas técnicas de sensoriamento remoto, como também dados intraurbanos, como delimitação dos bairros e logradouros da região fornecidos pela SEPLAM – Secretária de Planejamento Municipal. 2 Área de estudo O estudo foi desenvolvido no município de Teresina (05°05’20” S, 42°48’07”W), capital do estado do Piauí, que possui área total aproximada de 1756 Km², sendo 284 Km² de área urbana (IBGE, 2010). O município esta localizado na região centro norte do estado, dentro da macro-região denominada meio-norte. A cidade de Teresina, não diferente das grandes cidades do restante do pais, tem apresentando um acelerado processo de expansão e de densificação urbana. Segundo o Censo demográfico 2010 (IBGE, 2010), o município de Teresina possuía 814.230 habitantes e aproximadamente 94% moravam na sua zona urbana. O município teve sua população aumentada em quase 100%, em 25 anos, o que se reflete na expansão do tecido urbano. Para suprir essa necessidade o processo de adensamento da cidade tem crescido bastante a cada ano, causando muitas modificações nos padrões de ocupação na cidade e na paisagem urbana. O clima da região caracteriza-se por ter duas estações bem distintas, segundo Silveira (2007) durante o primeiro semestre o clima é quente e úmido, com a média das temperaturas máximas entre 30 a 32 °C e umidade relativa média entre 75 a 85%. No segundo semestre, praticamente não há precipitações, o clima é quente e seco, com temperaturas médias máximas entre 33 a 36 °C e umidade relativa do ar entre 55 a 65%. A região recebe forte radiação durante todo o ano, devido a proximidade do equador, as condições climáticas da região podem ser definidas segundo análise das normais climatológicas. As temperaturas médias mensais são elevadas com média anual de 27,8 °C. As chuvas dividem o ano em dois períodos: o chuvoso e o seco. As precipitações anuais atingem, em média, 1328 mm, e estão concentradas nos meses de janeiro a maio. Nos meses de julho a outubro, as precipitações praticamente não ocorrem. A umidade relativa média anual é de 70%, chegando a 85%, em média, nos meses mais chuvosos e a uma média de 55% nos meses mais quentes (Silveira, 2007), apresentadas na figura 1

Figura 1 – Normais climatológicas para cidade de Teresina, Pi

A área de estudo escolhida compreende os bairros Fátima, Jóquei e parte dos bairros São Cristovão e Horto Florestal, sendo delimitada pelas ruas e avenidas: ao norte a Avenida universitária e Rua Visconde da Parnaíba, ao sul pela Avenida João XXIII, a leste, a Avenida Presidente Kennedy e a Oeste, Avenida Raul Lopes, delimitando uma área total de 582,50 Ha (Figura 2).

Figura 2 – Delimitação da área de estudo e bairros pertencentes, cidade de Teresina

Essa região foi a área que marca a ocupação inicial da zona leste da capital piauiense, a partir da década 1960, quando da inauguração dos primeiros loteamentos na região. A área foi sendo então gradativamente habitada, com a incorporação de outros bairros, loteamentos e conjuntos habitacionais de médio e alto padrão, modificando o uso do solo e com a substituição das áreas com cobertura verdes pelas superfícies construídas e pavimentadas. A escolha de fazer a delimitação baseada nas avenidas e ruas foi feita pela facilidade de executar o recorte espacial nos dados por permitir um formato mais regular além do fato dessa área compreender a região de ocupação mais antiga nessa região da cidade. A figura 3 mostra a área que será utilizada para a pesquisa.

Figura 3 – Delimitação da área de estudo com quadras e vias limitantes

Segundo Lima (2002), desde o inicio de sua ocupação, os empreendimentos na área usavam como argumento para venda, o fato da região possuir um clima mais ameno, um refugio para o clima quente da cidade. A pesquisa procura verificar se a área ainda apresenta essas características de clima mais ameno como no inicio da sua ocupação. Atualmente os bairros passam um intenso processo de verticalização e de mudança nos usos, deixando de ser uma área predominantemente residencial passando para usos mistos de comércio e habitacional e com isso teve grande supressão de suas áreas verdes, que antes compunham os quintais e jardins dos grandes lotes. 3 METODOLOGIA O trabalho estudou os diferentes padrões de uso do solo e a superfície de temperatura, baseada em mapas gerados a partir de imagens do Satélite Landsat - 5. Para isso foram utilizadas as bandas 2, 3 e 4 do satélite Landsat 5, de resolução espacial de 30 metros e a banda 6, de resolução espacial de 120 metros. As imagens utilizadas foram obtidas junto ao INPE, para as datas de 04/09/1985, imagem mais antiga com menor cobertura de nuvens disponível, e 07/07/2010, imagem em data mais próxima aos dados de 1985, com menor cobertura de nuvens e mais recente. Uma análise das condições climatológicas durante as duas datas mostram a similaridade garantindo a utilização das imagens, como apresentado na tabela 1. Tabela 1 – Dados de temperatura, Umidade e Nebulosidade para cidade de Teresina.

Data

Temperatura (°C)(9hrs)

Precipitação (mm) (9hrs)

Nebulosidade1 (9hrs)

04/09/1985

26,9

0,0

1

07/07/2010

26,0

0,0

2

1 A nebulosidade total é a fração da abóbada celeste oculta pelo conjunto das nuvens visíveis. Com os registros das observações meteorológicas dos tipos de nuvens (CL) nuvens baixas, (CM) nuvens médias e (CH) nuvens altas, por meios do algarismo (0 – 10) foi possível calcular a nebulosidade para o município de Teresina.

Para a análise de mudança da temperatura de superfície, foi utilizada a banda 6 do satélite Landsat 5, que captura dados na faixa do infravermelho termal. Essas imagens foram manipuladas no Software SPRING, software de Geoprocessamento desenvolvido pelo INPE. Para que fosse possível a conversão da banda 6 em valores de temperatura de superfície, utilizou-se a ferramenta LEGAL, que possibilita a geração de uma rotina para funções não existentes que é executada pelo software, onde foi possível aplicar equação de regressão quadrática de Malaret et al.(1985) (Equação 1), a qual permite que os níveis de cinza obtidos durante a captura da imagem, sejam convertidos para temperatura de superfície. T= 209,931 + 0,834 DN – 0,00133 DN²

(1)

Onde: T= Temperatura na escala de Kelvin DN= Número Digital de cada pixel Após a conversão foi feita uma nova subtração, por 273,15, para obtenção dos valores de temperatura em graus Celsius e em seguida aplicada uma escala de cores para melhor identificação das variações de temperatura. Para a análise do uso e ocupação do solo, também através do software SPRING, foram utilizadas as imagens das bandas 2, 3 e 4, com o objetivo de gerar uma composição colorida e assim realizar a classificação supervisionada das imagens do satélite, onde foram identificadas as classes: vegetação, área urbanizada, asfalto, solo exposto, cobertura metálica e água. 4 ANÁLISE DAS IMAGENS Para atingir os objetivos deste trabalho foi feita a análise de uso e ocupação do solo da região, em seguida, a análise das imagens de campo térmico. 4.1. Análise do uso e ocupação do solo A partir da análise visual das imagens já é possível identificar as modificações que ocorreram na paisagem, com destaque para a redução da cobertura vegetal e aumento da ocupação urbana, tanto na área em estudo como no seu entorno (figura 4).

Figura 4 - Composição colorida das imagens Landsat-5 com delimitação da área de estudo, 1985 e 2010

Para realização da classificação das imagens em cada ano foram consideradas as seguintes classes: cobertura asfáltica, regiões identificadas uso de pavimentação asfáltica; solo exposto; cobertura vegetal, área edificada, que abrangeu ruas que possuíam pavimento de calçamento e domicílios com cobertura cerâmica, superfície de água e cobertura metálica. Após a classificação foi possível mensurar a área total ocupada por cada classe e obter com detalhe as mudanças que ocorreram, como apresentado na figura 5. O destaque que surgiu foi o grande área ocupada por cobertura metálica, muito associada ao processo de verticalização que ocorreu na região. Outro ponto foi o crescimento no uso de asfalto, tanto na pavimentação das ruas como em grandes estacionamentos, o que leva também a uma elevação nos valores encontrados.

Figura 5 – Mapa de uso e ocupação do solo da área de estudo, 1985 e 2010

Nos resultados quantificados da classificação verificou-se que a classe área edificada, ocupava em 2010 aproximadamente 43%, uma redução quando comparado ao ano de 1985, em que era 59,13 %. Para classe cobertura asfáltica, ocorreu um claro crescimento, saindo de 13,7 %, para cerca de 29% da área, esse grande crescimento é visível na classificação e acompanha as principais avenidas da região (Figura 6). Um dado preocupante é que entre 1985 e 2010 a classe cobertura vegetal saiu de um total de 22 %, para somente 15 % da área e com uma distribuição ainda mais irregular, uma vez que se concentrava nos parques na beira do rio e pouco presente em meio à área edificada, condição que implica no aumento das temperaturas. Um novo elemento é a classe cobertura metálica, que anteriormente não era identificada, mas para ano 2010 ocupa cerca de 10% da área total, correspondendo, em geral, a cobertura de centros comerciais e edifícios que foram construídos na região. A classe solo exposto sofreu uma redução, passando de 3,08% da área em 1985, para somente 2,75 %, em 2010, distribuída de maneira fragmentada e com uma grande região próxima ao rio Poty. Em sua maioria correspondiam a terrenos vazios ou em preparo para receber construções e muitas dessas áreas eram lagoas que foram aterradas, o que implicou na redução das superfícies de água, saindo de 1,21 %, para menos 0,10 %. A classificação para o ano de 2010 as classes área edificada e cobertura asfáltica foram predominantes no período, o que pode mostrar uma tendência de adensamento urbano na região e maior impermeabilização, por conta do maior asfaltamento de vias e

estacionamentos, o que leva diminuição da capacidade de absorção da água da chuva, um aumento na capacidade de retenção de calor, por conta da presença do asfalto.

Figura 6 – Gráfico do resultado quantitativo da classificação da área de estudo, 1985 (a esquerda) e 2010 (a direita)

4.2 Análise do campo térmico Para extração dos valores de temperatura de superfície foi utilizada a banda 6 do sensor TM presente no satélite Landsat, o qual captura informação na faixa do infravermelho termal. Para obtenção dos valores de temperatura foi utilizada a equação de Malaret et al. (1985), que permite fazer a conversão direta do nível de cinza da imagem para temperatura de superfície observada durante o captura da imagem. O satélite que captou as imagens da região nos horários entre 12:00 e 13:00 GTM, o que equivalente a horários entre 10 e 11 horas da manhã em horário local.As datas das imagens buscam garantir maior semelhança entre as condições climáticas. Na figura 6 é apresentado o mapeamento da temperatura de superfície para os anos estudados, e já se percebe mudanças na dinâmica da temperatura de superfície. Onde no ano 1985, havia uma homogeneidade na temperatura, entre faixa de 24 - 25°C, com uma faixa de menor temperatura na região próxima ao Rio Poty, com valores entre 21 e 24 °C. Para o ano 2010, existe um claro aumento da temperatura em toda a área de estudo, permeada por regiões de maiores temperaturas que do entorno, ou seja, bolsões de alta temperatura. A maior concentração está na região ao sul da área de estudo, que correspondem a Avenida João XXIII, um dos principais centros comerciais da cidade, e da área da presença de um dos shoppings centers da cidade, esses bolsões apresentam médias de temperatura acima de 28°C.

Figura 6 – Mapa de temperatura de superfície da área de estudo, 1985 e 2010

5 MEDIDAS DE MITIGAÇÃO A análise das relações entre os valores de temperatura de superfície e a análise do uso do solo, demonstraram a influência direta que a perda de cobertura vegetal em associação ao uso de materiais que concentram calor, como a cobertura asfáltica, ou que causam o aquecimento do local, como a aplicação da cobertura metálica, levam a alteração do microclima local e a formação de ilhas de calor. Dessa maneira as principais medidas para mitigar o fenômeno devem partir para o controle da perda de vegetação e para melhor escolha dos materiais utilizados na pavimentação e coberturas. Assim as principais medidas levantadas para mitigação são aquelas em que se utiliza a vegetação e os materiais de cobertura e pavimento como ferramentas de mitigação do fenômeno. 5.1 Uso da Vegetação como elemento de mitigação Segundo Gartland (2010), Árvores e vegetação são componentes funcionais vitais para uma cidade saudável, pois seus inúmeros benefícios tornam a comunidade mais saudável com a redução da poluição do ar, redução do consumo de energia e menores impactos das enchentes. Para redução das ilhas de calor, é fundamental a presença de regiões arborizadas, que podem de duas maneiras auxiliarem na mitigação do fenômeno. Os principais pontos são o fato destas produzem sombras, protegendo os edifícios, pavimentos e as pessoas da incidência direta dos raios solares. Outra vantagem é decorrente do processo de fotossíntese, onde o processo de evapotranspiração utiliza a energia solar para evaporar água e assim evitar que essa energia aqueça o ambiente e isso pode ser percebido pelas temperaturas mais baixas nas áreas mais arborizadas e nas suas proximidades. A aplicação da vegetação pode ser realizada em áreas livres como grandes estacionamentos bem como nas vias e pátios internos, como forma de garantir sombreamento e com isso melhorias no microclima. Como proposta de mitigação e atenuação dos extremos do clima urbano, o uso de coberturas verdes é uma solução aplicável em grandes centros e que é cada vez mais popularizada, na substituição de grandes áreas de cobertura metálica em edificações com grandes extensões de cobertura. Principalmente nos edifícios comerciais como centros comerciais e de serviço, onde as grandes áreas de cobertura são potenciais causadores das ilhas de calor. As principais vantagens do uso de coberturas verdes esta no fato de que além de permitir uma melhora na paisagem urbana, leva a um arrefecimento nas temperaturas do ar, uma vez que as coberturas verdes garantem menores temperaturas transferidas para o ar implicando na redução da ilha de calor. Uma conseqüência direta disso, e que é outra vantagem, é a economia de energia, uma vez que as menores temperaturas garantem a menor necessidade de sistemas de resfriamento nessas edificações. Outro benefício direto do uso de coberturas verdes é a melhoria da qualidade do ar, por conta da remoção das partículas poluentes e redução das águas de chuva, auxiliando no controle de enchentes e filtragem de águas.

5.2 Controle dos materiais como elemento de mitigação Os pavimentos são os grandes vilões na contribuição para os efeitos das ilhas de calor, pois cobre grande parte das áreas urbanas e suburbanas e quando aquecido sob o sol e libera a energia térmica armazenada para seus arredores, aquecendo o entorno. Os pavimentos mais quentes tendem a ser de cores escuras e impermeáveis, com valores de refletância solar abaixo de 25% e temperaturas durante o sol de verão de mais de 65ºC. Nessa categoria se enquadra a pavimentação asfáltica, que é a mais utilizada e que predomina dentro da área de estudo (GARTLAND, 2010). Existem duas maneiras de tornar os pavimentos mais frescos e dessa forma, com menor contribuição para formação de ilhas de calor: Pelo aumento de sua reflectância, tornando o pavimento mais claro, o que eleva a energia refletida e reduz a sua temperatura. Ou pelo aumento na capacidade de armazenar e evaporar água, o que corresponde especificamente a um aumento na sua porosidade, e a maior capacidade de evaporação permite o resfriamento, uma vez que é retirado calor do material pela água. O uso de pavimentos frescos tem consequências não somente no aspecto de resfriamento do ar, mas também na questão do controle de enchentes, maior durabilidade dos pavimentos, menor demanda por iluminação noturna, menor ruído. Segundo Gartland (2010) ,os principais benéficos da aplicação de pavimentos frescos são: - O ar em temperaturas mais amenas, uma vez que pavimentos mais frescos aquecem menos o ar sobre eles e com isso reduz a temperatura na região. - Melhor controle de enchentes ou cheias, pois com o bloco poroso, a água que incide é absorvida com mais facilidade auxiliando tanto no controle de temperatura quanto nas enchentes - Melhor iluminação no período da noite, pois o uso de material com maior albedo de reflexão a reflete a luz incidente e com isso causa economia de energia. A associação no uso dessas duas medidas de mitigação pode implicar em melhores resultados na redução das ilhas de calor, pois atingem especificamente as causas de aquecimento anormal do ar e dos materiais de entorno. Além de medidas ao nível da construção é necessário que medidas no âmbito de políticas públicas também sejam aplicadas, exigindo dessa forma participação por parte do poder municipal, a partir da revisão da legislação vigente e maior incentivo e conscientização do problema existente. Sendo assim as principais medidas legais que ficam sugeridas, considerando a área de estudo analisada, são apresentadas abaixo. - Legislação para sombreamento em estacionamentos - Legislação para o plantio de árvores nas calçadas - Mudanças na lei de uso e ocupação do solo de forma a exigir maiores percentuais de área permeável. - Incentivo para o uso de pavimentos permeáveis e coberturas verdes ou matérias de menor impacto térmico - Melhor planejamento e controle na pavimentação das vias com cobertura asfáltica.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise do uso do solo dos bairros mostra que a pouca distribuição das áreas verdes e a associação da alta densidade, com grandes áreas de pavimentação asfáltica, são as regiões que são foco de maiores temperaturas. A analise espaço temporal do campo térmico mostra que o adensamento das construções e a pouca cobertura vegetal causam aumentos na temperatura local e uma homogeneização na temperatura de superfície, com grandes contrastes em relação ao seu entorno. O estudo demonstra a necessidade de ações individuais e por parte do setor público no sentido de evitar a expansão das ilhas de calor, que esta diretamente associada aos padrões de ocupação do solo existente, onde a formação do fenômeno tem relação direta com as áreas de materiais específicos com cobertura metálica e pavimentação asfáltica. É evidente a necessidade de manutenção das áreas verdes ainda existentes e o controle da legislação vigente referente as construções e das áreas pavimentadas e impermeabilizadas, sendo a aplicação de políticas públicas especificas com educação e incentivo da aplicação da lei, pode levar a melhores condições de conforto dessa região da capital Piauiense. 7 REFERÊNCIAS CARNEIRO, D. P., GENARI, H. F., MIYASATO, H. H., & MARTINS, R. J. Ilhas de calor no campus da Unicamp. In: Revista Ciências do Ambiente. V. 3. Págs. 43-48. 2007. FIGUEIREDO, J. M. Análise Espaço-Temporal dos Casos de Dengue no Município de Ribeirão Preto (SP) pela Técnica de Geoprocessamento. Dissertação (Mestrado em Tecnologia Ambiental) - Universidade de Ribeirão Preto, UNAERP, Tecnologia Ambiental. Ribeirão Preto,2009. GARTLAND, L. Ilhas de Calor. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. GOMES, L.C.F.; SANTOS, C.A.C.; SILVA, V.M.A.; TAVARES, A.L.; SILVA, G.J.F.; RIBEIRO, C.A.M. Dinâmica da Temperatura da Superfície Utilizando Técnicas de Sensoriamento Remoto em Brasília – DF. XVII Congresso Brasileiro de Meteorologia, 2012. IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em 15 de abril de 2013. LOPES JÚNIOR, W. M. Análise das áreas verdes da cidade de Bauru – SP, In: 1º Seminário Internacional, Ciência e Tecnologia na América Latina: A universidade como

promotora do desenvolvimento sustentável, 2004, Campinas. Anais. Campinas, 2004. p 5663. Lombardo, M.A. Ilhas de Calor nas Metrópoles: o exemplo de São Paulo. São Paulo: HUCITEC, 1985. 244 p. MALARET, E; BARTOLUCCI, L. A; LOZANO, D. F.; ANUTA, P. E.; MCGILLEM, C D. (1985). Landsat-4 and Landsat-5 Thematic Mapper data quality analysis In: Photogrammetric Engineering and Remote Sensing. Vol. 51, pp. 1407-1416. Sept. 1985. NOVO, E. M. Sensoriamento Remoto - Princípios e Aplicações. São Paulo: Blucher. 2009. OKE, T. R. Boundary Layer Climates. London: Methuem & Ltd. A. Halsted Press Book, John Wiley & Sons, New York, 1978, 372p. SILVA, M. K.A.; BRITO, J.L.S.; ROSA, R. Mapeamento do Uso do Solo no Município de Pedrinópolis – MG. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 2005, INPE, p. 285-291. SILVEIRA, A. L.R. C. Parâmetros Bioclimáticos para Avaliação de Conjuntos Habitacionais Multifamiliares na Região Tropical Subúmida do Brasil. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de Brasília. Brasília, 2007.

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