II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: A REGIONALIZAÇÃO DA FÉ EM UBERLÂNDIA-MG Rosilene Tomaz Silva 1 E-mail:
[email protected] Franciele Silva de Oliveira Martins1 Suellen Soares Duarte1 E-mail:
[email protected] Flávia Perpétua Barbosa2 E-mail:
[email protected] Hélio Carlos Miranda de Oliveira3 E-mail:
[email protected] Paula Cristina Almeida de Oliveira1 E-mail:
[email protected] Instituto de Geografia Universidade Federal de Uberlândia INTRODUÇÃO É esse um momento comovente, de autentica expressão de fé em que as pessoas do fundo de sua carência, de sua impotência e de seu desespero, apelam para o poder transcendente, sua ultima esperança. Margarida Oliva
O Brasil é um país de grande religiosidade, cuja maioria da população se declara católica. Todavia, as pesquisas e os censos vêm demonstrando a proliferação dos cultos religiosos ligados ao protestantismo, principalmente daqueles vinculados ao neopentecostalismo. Como destaque deste crescimento pode-se citar a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), uma das maiores igrejas neopentecostais, senão, a maior do Brasil. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo principal estudar a regionalização da fé na cidade a partir da Igreja Universal do Reino de Deus e entender como a doutrina desta Igreja influencia na organização do espaço. Além disso, o trabalho também tem por objetivos mapear a disposição espacial das IURDs na cidade de Uberlândia; entender a dinâmica de instalação das IURDs, analisando os aspectos sócio-econômicos dos bairros em que elas estão inseridas; e, por fim descrever e analisar o culto da IURD, relevando os símbolos utilizados, o discurso da prosperidade econômica, os rituais de exorcismo e cura, visando sempre entender como este cultos tem contribuído para a regionalização do espaço da cidade de Uberlândia.
1
Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Graduanda e Bolsista de IC/FAPEMIG do Curso de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. 3 Graduando e Bolsista PET do Curso de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. 2
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Para conseguir alcançar tais objetivos foi necessário utilizar a seguinte metodologia: pesquisa bibliográfica sobre o tema; levantamento de dados sócioeconômico dos bairros, através do Centro de Documentação e Pesquisas Sócioeconômicas (CEPES-UFU); pesquisa de campo realizada nos cultos da Igreja, objetivando vivenciar o ambiente de estudo; e, entrevistas com freqüentadores da Igreja. NEOPENTECOSTALISMO: UM POUCO DE SUA ORIGEM Para analisarmos o neopentecostalismo e sua origem é necessário nos ater às várias manifestações religiosas que ocorreram no início da modernidade. Na realidade, devemos voltar nossas atenções para a Reforma Protestante, que surge na Europa, século XVI. Com a essa reforma há o surgimento de novas religiões, provocando, assim, a quebra da unidade cristã, que era mantida pela Igreja Católica. A partir de então, várias correntes religiosas se espalharam pelo mundo. Nesse contexto, o protestantismo norte-americano se destaca, pois é intensamente marcado por um avivamento religioso. “O avivalismo de forma geral apregoava que ‘todos poderiam estar sob a graça de Deus’, enquanto o calvinismo tradicional considerava a graça acessível apenas para os ‘escolhidos’, com reflexos na vida secular”. (CAMPOS JÚNIOR, 1995, p. 19). Assim, o surgimento do pentecostalismo está relacionado com a influência do protestantismo avivalista e do movimento pietista4, que surgiu no Estados Unidos da América (EUA). Portanto, o grande “sucesso” desse movimento, está relacionado com as características herdadas do movimento pietista, sendo responsável pela sedução das camadas populares, encontrando, assim, terreno fértil à sua expansão, explicando a grande difusão do pentecostalismo no mundo. Não restrito aos EUA, o movimento Pentecostal se disseminou por todo o mundo, chegando ao Brasil em 1910 por meio de um ciclo missionário norte-americano. Segundo MARIANO (1996), ocorreram três grandes ondas pentecostais: o pentecostalismo clássico, o pentecostalismo neoclássico e o neopentecostalismo. A primeira onda surge, aproximadamente, em 1910 com o surgimento da Congregação Cristã no Brasil e da Assembléia de Deus. Essas igrejas possuem como características marcantes: a glossolalia, o anticatolicismo e a “rejeição ao mundo”. O pentecostalismo neoclássico – segunda onda – iniciou em 1950 com a chegada de missionários norte-americanos ao Brasil incumbidos de pregar a palavra e a cura divina. Essa evangelização cresceu, no Brasil, principalmente no sentido norte-sul, se expandindo com as igrejas do Evangelho Quadrangular, Brasil para Cristo, Deus é Amor. A terceira onda, o neopentecostalismo, começou na década de 70 e atua com bastante intensidade até os dias atuais, com a Igreja Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça, Sara Nossa Terra e Renascer em Cristo. Essas igrejas foram fundadas por “pregadores” brasileiros que adaptaram as doutrinas pentecostais, relacionando-as com situações do cotidiano das pessoas. É importante ressaltar que estas igrejas nascem em um período de pressão militar, crise econômica no país, em função da crise do petróleo, aumentando a desigualdade social. Tal crise fez com que
4
Movimento que enfatiza a santificação da vida do cristão, está relacionado a salvação, a conversão individual e a conduta da vida.
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
essas igrejas se espalhassem, principalmente, nos bairros de maior índice de pobreza, conquistando facilmente esses espaços.
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: O CRIADOR E A CRIATURA Neste mesmo contexto histórico social o qual originou o Neopentecostalismo, surge a Igreja Universal do Reino de Deus. Ela surge em 1977, tendo como fundador o Bispo Edir Macedo (Edir Macedo Bezerra), de origem católica e ex-umbandista, o qual contou com a colaboração do Pastor Jose Cabral de Vasconcelos, além da ajuda de assessores com conhecimentos em teologia e comunicação. Em 1980, foi montada a Universal Produções, uma editora gráfica responsável pela publicação dos livros, jornais e revistas da Igreja. Foram criadas também diversas pequenas empresas para estar a serviço da Igreja, tais como, fábrica de móveis, gráfica e editora, construtora e quatorze emissoras de rádio. Em 1990, compram por 45 milhões de dólares, a TV Record e as rádios associadas a ela. Após a aquisição destes bens, o Bispo Edir Macedo passou a ser alvo de várias acusações, como podemos observar na citação abaixo: Acusado também de charlatanismo, curandeirismo e estelionato, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, Edir Macedo esteve preso, em São Paulo, de 24 de Maio a Junho de 1992. Nesta mesma época a Igreja Universal comprava um jornal, uma emissora de rádio e um canal de televisão, em Minas Gerais. [...] Em novembro do mesmo ano Edir Macedo foi novamente preso, fato que levou mais de cem mil pessoas a fazer uma vigília de oração na praia de Copacabana. (OLIVA, 1997, p. 160).
No entanto, o Bispo defende as acusações atribuídas a ele como sendo inveja e alega que quanto mais acusações ele sofrer mais a sua Igreja cresce. Diante disso, é notado que todas estas acusações não tem influenciado no crescimento da IURD. Isso se torna mais claro quando conhecemos a história de surgimento da Igreja, que no princípio tinha como sede a sala de uma ex-funerária. Segundo dados da Folha Universal5 está vem se espalhando pelo mundo inteiro, chegando no ano de 2000, a de mais de 70 países. No Brasil, existem mais de 3000 templos espalhados por toda parte. Em São Paulo são mais de 400 templos. A IURD tem sua sede principal localizada na cidade do Rio de Janeiro e é conhecida como Catedral Mundial da fé. Neste aspecto, Uberlândia não fica pra traz, uma vez que a Igreja se espalhou por toda a cidade, ocupam, hoje, mais de 13 bairros e com um total de 14 templos, sendo a sede principal da cidade conhecida também como Catedral da Fé. Em geral, os templos da IURD permanecem abertos 18 horas por dia, tendo durante todo período pelo menos dois pastores. Neste período são realizadas cinco ou seis sessões diárias. Na estrutura hierárquica da Igreja existem os “obreiros”, que são uma espécie de ajudantes dos pastores. Durante os cultos eles circulam pelo templo, na expectativa de auxiliar as pessoas com sintomas de possessão ou quando há crianças chorando. Eles são voluntários – o contrário dos pastores, que recebem pelos “serviços prestados” – mas primeiro devem ser batizados na Igreja. Além dessas atividades, eles 5
Folha Universal é um jornal produzido pela Igreja Universal do Reino de Deus.
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
também são responsáveis pela concentração das pessoas durante o culto, não deixando com que elas dispersem sua atenção com os acontecimentos do seu arredor. Os pastores da Igreja vestem com camisa de manga comprida e gravata, lembrando o traje de empresários. Este simbolismo é de grande importância para a Igreja, uma vez que se passa a idéia de elevação da condição econômica, que é bastante pregada pela Igreja. Quanto à doutrina, a IURD prega o estimulo à capacidade de superar as dificuldades principalmente financeiras. Para os iurdianos6, prosperar é ter boa comida, boa casa, carro na garagem, etc. É importante também não desanimar diante de Deus, manter sempre a força. O fiel deve saber pedir, ele deve exigir de Deus, pois Ele é obrigado a lhe dar tudo que você deseja, como diz MARIANO (1996): “O cristão está destinado a ser próspero, materialmente saudável, feliz e vitorioso em todos os seus empreendimentos terrenos”. A Igreja também se fundamenta na Teologia da Prosperidade, no qual toda pessoa tem direito de usufruir dos benefícios existentes, sejam eles materiais ou emocionais. Assim, este direito deve ser cobrado de Deus, deve ser exigido o direito de prosperar, principalmente a partir do momento que o fiel passa a pagar o dízimo. Comece hoje, agora mesmo, a cobrar d’Ele tudo aquilo que Ele tem prometido (...) O ditado popular de que ‘promessa é dívida’ se aplica também para Deus. Tudo aquilo que Ele promete na sua palavra é uma dívida que tem para com você (...) dar dízimo é candidatar-se a receber bênçãos sem medida, de acordo com o que a Bíblia (...) Quando pagamos o dízimo a Deus, Ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua Palavra, repreendendo os espíritos devoradores (...) Quem é que tem o direito de provar de Deus, de cobrar d’Ele aquilo que prometeu? O dizimista! (...) Conhecemos muitos homens famosos que provaram a Deus no respeito ao dízimo e se transformaram em grandes milionários como o sr. Colgate, o sr. Ford e o sr. Caterpilar. (MACEDO apud SOUZA & MAGALHÃES, 2002, p. 96-97).
O que podemos perceber na fala do Bispo Macedo é que, apesar de pregar o enriquecimento a partir do pagamento do dízimo e citando homens milionários como acontecimento dessa ação, o dizimista apenas tem o direito de candidatar-se a receber bênçãos, não assegurando nenhum tipo de ação recíproca entre Deus e o homem. Essa doutrina também se aplica às mulheres, haja vista que, segundo a IURD, as mulheres devem estar bem vestidas, maquiadas, pois elas têm devem se sentir bem enquanto pessoas e estar sempre preparada para sua inserção no mercado de trabalho, pois também têm o direito de prosperar. Além de todos estes aspectos informados acima, também é válido destacar o culto da IURD, grande responsável pelo seu “sucesso”. O CULTO IURDIANO O culto da iurdiano é conduzido por pastores que utilizam do discurso improvisado, autoconfiante, com advertências e promessas, que aliados as músicas causam grande euforia nos fieis, transformando o culto em um show, no qual os fiéis são o público, podendo se expressarem durante o espetáculo, expondo seus problemas aos gritos, renovando a fé e a esperança. Os pastores também utilizam um discurso 6
Termo utilizado para denominar os fiéis da IURD.
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
bastante coloquial que tem por objetivo atingir todo público presente no culto, seja ele rico ou pobre. Além de servir para a renovação da fé e da esperança dos fiéis, o culto iurdiano, também serve como espaço para se pregar a prosperidade econômica, a luta contra o mal (diabo, encostos, demônio), o exorcismo e a cura espiritual. Assim, torna-se importante destacar a estrutura dos cultos da IURD relacionados com os dias da semana. Tabela 1: CULTOS DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS Dias da semana
Tipos de culto
Domingo
Indefinido
Segunda-feira
Reunião dos Empresários (Prosperidade)
Terça-feira
Sessão do Descarrego
Quarta-feira
Reunião do Filho de Deus
Quinta-feira
Reunião da Família
Sexta-feira
Reunião da Libertação
Sábado
Terapia do Amor
Fonte: http://www.igrejauniversal.org.br. Sobre as principais temáticas que permeiam os cultos dessa Igreja (prosperidade, cura e exorcismo) é importante destacar que estas encontram sempre presentes e interligadas nos discurso dos pastores. Assim, tornam-se importante fazer uma análise destas temáticas para entendermos o culto iurdiano. A prosperidade sempre está relacionada como o pagamento do dízimo, pois como já visto anteriormente, aquele que paga o dízimo é um candidato a receber as bênçãos de Deus. O culto dos empresários é o que retrata este ideal, visto que é feito para aqueles que querem abençoar seus negocio ou tornar-se o próprio patrão. Quanto a cura, é necessário dizer que é ferramenta importante para o “sucesso”, haja vista que todos os problemas de saúde, sentimentais e econômicos são atribuídos ao diabo. É importante ressaltar aqui a atribuição dos problemas da sociedade ao diabo, não considerando em nenhum momento a condição sócio-econômica do país. Assim, quando um problema não é resolvido, a “culpa” é do indivíduo, pois não possuía fé em Deus suficiente para que Ele o curasse. Uma ferramenta importante para a cura dos fiéis o exorcismo, também bastante utilizado pela IURD. Nos rituais de exorcismo os pastores são os principais “atores”. Durante o culto os pastores provocam os demônios, fazendo com que eles se manifestem nas pessoas. Após a manifestação, os pastores “amaram” o demônio e obriga-os a se identificar e reconhecer que o poder de Deus é maior que o seu poder. Por fim o demônio é expulso da vida da pessoa e libertada do mal. Estes demônios (encostos, diabo) sempre estão relacionados, segundo a doutrina da IURD, com os santos católicos e com as entidades das religiões afro-brasileiras. Os cultos da IURD também contam com os símbolos materiais, como por exemplo: cajados, fitas coloridas, alianças, véu, sal, palmilhas. Cada um destes símbolos
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
possui um significado, mas sempre relacionados com a prosperidade econômica – atração de dinheiro - ou com o afastamento dos encostos de suas vidas. Esses símbolos são passageiros e faz com que o fiel retorne a Igreja na busca de um novo símbolo que alimente sua fé. Assim, podemos perceber que a Igreja Universal do Reino de Deus utiliza-se de várias “técnicas” para conseguir fiéis e territórios, fazendo com seu poder aumente. IURD E A REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO DE UBERLÂNDIA “O sagrado pode ser tanto terrível quanto fascinante, as pessoas o temem e se sentem irresistivelmente atraídos por ele”. (ROSENDAHL, 2002, p. 29). Para entender como a Igreja Universal do Reino de Deus influencia na organização do espaço, é necessário reconhecer que a fé desloca pessoas de um lugar para outro, gerando um processo de diferenciação de áreas, ou seja, uma especialização no espaço, criando regiões. Assim, a Igreja como uma instituição, apropria-se dos espaços e sobre eles desenvolvem práticas, objetivando o seu controle. Um exemplo de tentativa de controle do espaço pela IURD foi observado nas ruas do Bairro Liberdade, no qual passava um carro de som com propagandas da Igreja, convocando os moradores do bairro a participarem dos cultos desenvolvidos na Igreja, e sempre dando destaque à “Sessão do Descarrego”7. Além dessa estratégia de controle do espaço, a IURD também conta com meios de comunicação em massa, com emissora de televisão, de rádio, além de contar com um portal na Internet, disponibilizando a Igreja para todo o mundo. A história do pentecostalismo no Brasil acompanha de perto a evolução de nossas telecomunicações. As igrejas pentecostais que aqui chegaram no início do século [...] usaram principalmente o rádio para transmitir suas mensagens. Depois as igrejas acompanharam a dinâmica das concessões de rádio e TV – sobretudo as feitas durante a ditadura – que desenharam a estrutura atual dos meios de comunicação no Brasil. As denominações fundadas no final dos anos de 1970, desde o início, fizeram uso intensivo dos meios de comunicação em massa. (NOVAES, 2001, p. 59).
Com a utilização destas estratégias de controle do espaço, a Igreja consegue atrair fiéis, ampliando seu poder, e conseqüentemente, criando um território. “É nesta poderosa estratégia geográfica de controle de pessoas e coisas, ampliando muitas vezes o controle sobre espaços, que a religião se estrutura enquanto instituição, criando territórios seus”. (ROSENDAHL, 2002, p. 59). A partir destes princípios de controle de território, tentaremos entender da dinâmica de instalação dos templos da IURD na cidade de Uberlândia, analisando os aspectos sócio-econômicos dos bairros em que estas Igrejas estão inseridas.
7
Este culto é o que mais atraí pessoas para a IURD. O grande número de pessoas na “Sessão do Descarrego” é em função da doutrina pregada pela Igreja, que atribui todos os problemas do indivíduo aos “encostos”, ou seja, os problemas de ordem financeira, sentimental e de saúde são resultados de um maldição, sempre atribuída aos demônios (encostos).
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Para conseguirmos fazer a análise da dinâmica de instalação das IURDs na cidade, foi necessário fazer um mapeamento dos templos e núcleos8 desta Igreja, conforme as tabelas (1e 2) e mapa (1) abaixo: TABELA 2: RELAÇÃO DOS ENDEREÇOS DOS TEMPLOS DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS EM UBERLÂNDIA – MG. Templos
Endereços
Bairros
Sede
Av. João Naves de Ávila, 261
Centro
Buritis
Rua Seme Simão, 1359
Buritis
Santa Mônica
Av. Salomão Abraão, 657
Santa Mônica
Roosevelt
Av. João Bernardes de Souza, 419
Roosevelt
Luizote
Rua Roberto Margonari, 561
Luizote
Planalto
Rua da Secretária esquina com Av. Indaiá
Planalto
Tocantins
Rua Dr. Sérgio Oliveira Marques, 490
Tocantins
Marta Helena
Av. Comendador Alexandrino Garcia, 890
Marta Helena
Morumbi
Av. Antonio Jorge Isacc, 356
Morumbi
Maravilha Rua Simão Pedro, 165 Fonte: Igreja Universal do Reino de Deus - Uberlândia-MG.
Maravilha
TABELA 3: RELAÇÃO DOS ENDEREÇOS DOS NÚCLEOS DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS EM UBERLÂNDIA – MG. Núcleos
Endereços
Bairros
Canaã
Av. Jerusalém, 580
Canaã
Daniel Fonseca
Rua Brigadeiro Sampaio, 440
Daniel Fonseca
Ipanema
Av. Sideral, 931
Ipanema
Santo Inácio Rua do Professor, 489 Fonte: Igreja Universal do Reino de Deus - Uberlândia-MG. 8
Santo Inácio
Núcleos são denominações dada pela Igreja para aqueles locais onde há os seus cultos mas não como nos templos, ou seja, nos núcleos somente alguns dias da há culto, não são abertos todos os dias e não possuem pastores.
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Mapa 1: Espacialização dos templos e núcleos da Igreja Universal do Reino de Deus em Uberlândia-MG.
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
O mapa 1 nos possibilita a visualização da distribuição espacial das IURDs no meio urbano de Uberlândia, demonstrando que há maior concentração dessa Igreja nas áreas mais periféricas da cidade. Essa dinâmica de ocupação de periferias é uma estratégia da IURD, que sempre estão relacionadas com os bolões de pobreza de uma cidade. “Há muitas oportunidades para aqueles que vivem nos bolsões de pobreza? É onde se encontram muitas igrejas da Universal”. (SOUZA & MAGALHÃES, 2002, p. 100). Um exemplo claro da ocupação da periferia na cidade de Uberlândia é a presença de templos e núcleos os bairros mais pobres, como: Canaã, Morumbi, Ipanema; e não estando presente em bairros de classes mais favorecidas, como os bairros: Cidade Jardim, Karaíba, Oswaldo Rezende, Lídice, Fundinho. É válido destacar que a Igreja sede se localiza no centro da cidade, próximo ao terminal rodoviário do transporte coletivo, com pontos de ônibus estrategicamente situados, facilitando o acesso a Igreja, além de estar em uma das vias rápidas da cidade, facilitando o acesso ao local daquele que possuem transporte particular. Assim, podemos dizer que a IURD regionaliza o espaço de Uberlândia a partir de suas estratégias de controle de territórios, principalmente na periferia da cidade. O mapa 1 demonstra como esta instituição tenta “dominar” a cidade, distribuindo templos e núcleos por toda a cidade. A apropriação das periferias das cidades pela IURD está relacionada com a busca de poder que os fies podem oferecer seja político, seja econômico. Além disso, essa apropriação também está relacionada com a doutrina pregada pela Igreja, a Teologia da Prosperidade. Por fim, concluímos que a Igreja Universal do Reino de Deus busca dominar territórios na cidade de Uberlândia, utilizando-se de estratégia de controle do espaço, visando o poder. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Igreja Universal do Reino de Deus com instituição é um importante instrumento de regionalização do espaço, uma vez que ela visa o controle de territórios dentro do espaço urbano de Uberlândia. Esses territórios são formados a partir da inserção de templos destas igrejas nos bairros da cidade. Então, partindo de princípio de formação de região e de controle de territórios, constatamos que a IURD instala-se em bairro com índices de pobreza mais elevados. Essa dinâmica de instalação em bairro mais pobres da cidade não é uma particularidade de Uberlândia, uma vez que isso é uma estratégia utilizada pela Igreja. Constatamos também que a Igreja também utiliza seus cultos para conseguirem fiéis. Assim, acreditamos que a IURD está sendo responsável por alterações no modo devida de seus fiéis, e que como conseqüência disso, está alterando a organização do espaço urbano de Uberlândia. Referências Bibliográficas BONFATTI, Paulo. Sobre as categorias universais: relevantes aspectos observados na Igreja Universal do Reino de Deus. Disponível em:. Acesso em 25/07/2003.
II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI” Universidade Federal de Uberlândia – Instituto de Geografia 26 a 29 de Novembro de 2003 ________________________________________________________________________________________________________________________________________________
CAMPOS JÚNIOR, Luis de Castro. Pentecostalismo: sentidos da palavra divina. São Paulo: Ática, 1995. CEPES - Instituto de Economia - UFU. Condições socioeconômicas de 36 bairros de Uberlândia. 1996. CORREA, Roberto Lobato, O Espaço Urbano. 3º ed. São Paulo: Ática, 1995, 94p. CÔRTES, Mariana Magalhães P. As Terapias e Curas Mágico-Religiosas em Uberlândia-MG. Monografia. Uberlândia, 2002. GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, 315p. MACHADO, Maria das Dores Campo. Olhando as mulheres pentecostais através do espelho. In: VALA, Victor Vicent. Religião e cultura popular. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 75-90. MAFRA, Clara. Integração e antagonismo com o conhecimento local – uma análise do sistema ritual da IURD em dois contextos nacionais. Disponível em: . Acesso em 25/07/2003. MARIANO, Ricardo. Os Neopentecostais e a Teologia da Prosperidade. Novos Estudos Cebrap, nº 44, março de 1996. pág. 24-44. NOVAES, Regina Reyes. Pentecostalismo: política, mídia e favela. In: VALA, Victor Vicent. Religião e cultura popular. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 41-74. OLIVA, Margarida. O Diabo no “Reino de Deus”: Por que proliferam as seitas? São Paulo: Musa, 1997. PINEZI, Ana Keila. A dimensão de presente e futuro em contextos religiosos diferenciados: uma análise comparativa entre dois grupos evangélicos. Disponível em:. Acesso em 25/07/2003. ROSENDAHL, Zeny. Espaço e Religião: Uma abordagem geográfica. 2º ed. Rio de Janeiro: UERJ, NEPEC, 2002. 92p. ____________. Hierópolis: o sagrado e o urbano. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999. 110p. SOUZA, Beatriz Muniz de; GOUVEIA, Eliane Hojaij; JARDILINO; José Rubens Lima (orgs.). Sociologia da Religião no Brasil. São Paulo: PUC/SP, SRES, UMESP, 1998, 166p. SOUZA, Etiane Caloy Bovkalovski de. & MAGALHÃES, Marionilde Dias Brepohl.Os pentecostais: entre a fé e a política. Revista Brasileira de História. v. 22, nº 43, 2002, p. 85-105.
