Importância do Estudo da Biodiversidade: concepção de estudantes finalistas do ensino médio

June 13, 2017 | Autor: Bruno Casaca | Categoria: Education, Meio Ambiente, Ensino De Ciências
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IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA BIODIVERSIDADE: CONCEPÇÃO DE ESTUDANTES FINALISTAS DO ENSINO MÉDIO Bruno de Matos Casaca1 - UNOCHAPECÓ Grupo de Trabalho – Educação e Meio Ambiente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O termo biodiversidade ganhou maior importância, primeiro em função das crescentes descobertas de uso da biodiversidade a favor dos interesses antrópicos, segundo pelo acentuado aumento de ameaças a seres e ecossistemas em todo o planeta. O território brasileiro está inserido em uma diversidade de biomas, o que permite o país possuir uma das maiores biodiversidades do mundo, no entanto, para a grande maioria da população essa é uma informação irrelevante, pois há um grande “descaso” com essa diversidade. Essa pesquisa tem por objetivo de verificar qual a importância do estudo sobre a biodiversidade nas escolas da rede estadual do município de Chapecó (SC) pelos estudantes finalistas do ensino médio da rede pública de ensino básico. Este trabalho está vinculado ao Trabalho de Conclusão de Curso do autor. Fora aplicado um questionário (sendo que para esse trabalho, utiliza-se apenas uma das questões), no período entre junho e julho de 2012. Os dados foram analisados qualitativamente e discutidos, através de categorização com autores que discutem à biodiversidade. Foram questionados 75 estudantes finalistas (terceiro ano do ensino médio). Destes, a maioria (92%) apontou que o estudo da biodiversidade brasileira é importante, e apenas 8% dos estudantes não responderam a questão “Você acha importante estudar a biodiversidade brasileira? Justifique.”. Conscientização, Interação e Preservação apareceram com 3,5% das justificativas para a importância do estudo da diversidade biológica. A Riqueza da biodiversidade (8,1%) e o Conhecimento também foram usadas como justificativas, sendo este último amplamente reconhecido, com 81,4%. Considera-se que entender as concepções dos estudantes sobre a biodiversidade é essencial, já que é o primeiro passo para repensar o processo de ensino aprendizagem. É necessário que haja um repasse de informações de forma consciente à população, e não há melhor lugar para fazer isso do que na escola. Palavras-chave: Diversidade biológica. Flora e fauna exótica e nativa. Educação básica.

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Graduado em Ciências Biológicas – Licenciatura, pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ). Graduado em Geografia – Licenciatura, pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Chapecó. Professor Admitido Caráter Temporário (ACT) do Estado de Santa Catarina. E-mail: [email protected].

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Introdução

O território brasileiro está inserido em uma diversidade de biomas, o que permite o país possuir uma das maiores biodiversidades do mundo, no entanto, para a grande maioria da população essa é uma informação irrelevante, pois há um grande “descaso” com essa diversidade, ocasionando um desconhecimento da natureza como um todo (BRASIL, 2006). A biodiversidade, um conceito que contempla várias ciências, necessita de maior entendimento e compreensão, uma vez que é um tema que vem sendo debatido há anos em função das influências humanas que interferem na manutenção do planeta Terra. A compreensão da biodiversidade necessita de maior entendimento, uma vez que, além do desconhecimento, é uma temática que vem sendo debatida há anos em função de que as influências humanas interferem na manutenção da biodiversidade existente hoje no planeta Terra. Na segunda metade do século XX, o termo biodiversidade ganhou maior importância, primeiro em função das crescentes descobertas de uso da biodiversidade a favor dos interesses antrópicos, segundo pelo acentuado aumento de ameaças a seres e ecossistemas em todo o planeta. De tal modo que a temática vem sendo discutida, mais fortemente, na mídia, nos meios científicos e na escola, chegando até os estudantes (BIZERRIL, 2002). O termo biodiversidade:

[...] ganhou grande importância ao longo da segunda metade do século XX tendo hoje relevância mundial e sendo considerado em fóruns e encontros científicos internacionais diversos. A sua importância se dá em função das crescentes descobertas das possibilidades de uso da biodiversidade a favor dos interesses dos seres humanos, como também pelo acentuado grau de ameaças que se encontram as espécies e ecossistemas tropicais em todo o mundo, os principais detentores da biodiversidade (BIZERRIL, 2002, p. 2).

Bizerril coloca bem a ordem de interesse quanto ao tema, primeiramente ao interesse como recurso de uso para a humanidade, e depois em função da ameaça de perda. Na atual sociedade, o uso dos recursos naturais providos do meio é comumente considerado normal, mas essa ideia de normalidade deve ser discutida mais profundamente, uma vez que a maior dependência do ser humano está no uso e desuso dos meios/recursos naturais para a manutenção da vida humana.

Outra consideração que deve ser analisada a partir da ideia do autor, supracitado, é o sentido que ocorre a conservação da biodiversidade, em que pode-se elencar duas preposições: a primeira refere-se ao medo humano, propriamente dito, pela perda das espécies e ecossistemas, no sentido de culpa pela ação antrôpica de destruição sobre o meio (FERREIRA, 2004). A segunda reflete uma preocupação também pela perda, mas essa se referindo à possível falta de recurso futuro. Motivo muitas vezes discutido por especialistas quando o assunto refere-se a reflorestamento de uma área, com espécies, que posteriormente podem ser novamente retiradas para o uso humano. Segundo Barbieri (1998, p.14):

O grande valor da biodiversidade justiça investimentos visando à conservação, sobretudo em função do seu potencial para a biotecnologia atual, especialmente na engenharia genética, e para o surgimento de novas culturas alimentícias e industriais. Ela também traz, portanto, benefícios econômicos, o que representa mais um incentivo para conservá-la.

Incentivos apresentados por Barbieri (1998) estão muito voltados a questão genética da diversidade biológica, englobando desta forma um dos três níveis de organização da biodiversidade, mas não deixa de socializar os outros. Por ser tão envolto em diferentes áreas do conhecimento, o tema biodiversidade pode apresentar distintas abordagens, desde naturalista até antropocêntrica, pois depende do objetivo dos métodos seguidos pela escola, ou mesmo, pela didática de ensino de cada professor. No entanto, essas metodologias não justificam o descaso que ocorre frente a tal situação da biodiversidade, da mesma forma o desconhecimento dentre da instituição escola. Desta forma, é essencial “que os alunos percebam que os desequilíbrios ambientais, intensificados pela intervenção humana, têm reduzido essa diversidade, o que está ameaçando a sobrevivência da própria vida do planeta” (BRASIL, 2000, p. 49-50). A educação básica conforme a Lei 9394/98, demanda que os estudantes frequentem a escola durante um período de, no mínimo, doze anos, desses nove anos de ensino fundamental e três anos de ensino médio (BRASIL, 2003). Com base nesses dados, é possível sugerir que o estudante tenha contato com os conhecimentos básicos de todas as áreas do conhecimento. Os estudantes, de modo geral, não conhecem muito da realidade dos seus próprios bairros, do seu país, ou do mundo. A escola tem como função social construir o conhecimento junto com os estudantes, tanto a partir dos seus conhecimentos/experiências do cotidiano, quanto das informações que recebem da mídia (BRASIL, 1998). Além disso, muitas das

fontes de comunicação, que os estudantes frequentemente têm contato, como televisão, jornais e internet, não são relacionadas à educação formal, e parecem não fornecer informações adequadas sobre a biodiversidade, as espécies da flora e da fauna, ao menos no que diz respeito a desenvolver nos estudantes uma percepção sensibilizada sobre as espécies (BIZERRIL et al., 2007). Como parte da pesquisa da monografia, se entende aqui o objetivo de verificar qual a importância do estudo sobre a biodiversidade nas escolas da rede estadual do município de Chapecó (SC) pelos estudantes finalistas do ensino médio.

Metodologia

Este trabalho está vinculado à monografia que buscava conhecer a concepções dos estudantes finalistas do ensino médio sobre biodiversidade, devido a isso, a pesquisa junto com as respostas levantas ao questionário foram adequadas para a escrita. A população amostral é constituinte de estudantes regularmente matriculadas nas escolas públicas estaduais do município de Chapecó (SC), sendo as cinco escolas com maior número de estudantes matriculados selecionadas para fazer parte da pesquisa. A escolha dessas escolas deu-se pelo fato de que grande parcela dos estudantes frequentam tais estabelecimentos, uma vez que é oferecido para sociedade pelo governo, portanto faz-se necessário uma análise qualitativa nesse espaço básico comum. A pesquisa desenvolveu-se em cinco escolas do município de Chapecó (SC), à saber: Escola A; Escola B; Escola C; Escola D; Escola E; tais foram assim apresentadas para preservar suas identidades, além de ser irrelevante sua identificação para a proposta da pesquisa. A escolha das escolas deu-se a partir de uma análise sob os dados do portal do IBGE (2010), referente às escolas situadas nos bairros mais populosos do município de Chapecó, sendo que todos os bairros possuíam uma população superior a dez mil habitantes por bairro. Levando em conta essas informações determinaram-se os cinco bairros mais populosos e consequentemente a escola situada neste bairro. No bairro do centro, devido a sua abrangência possuía duas escolas situadas, fora utilizado como critério, para escolher uma delas, o maior número de estudantes matriculados.

O ensino médio público é de responsabilidade do estado, por isso, todas as escolas escolhidas para fazer parte do estudo são de propriedade estadual. Destas, fora feita uma amostragem de 13 a 29% dos estudantes, variando de escola para escola, entre estudantes de ambos os turnos ofertados, matutino e noturno, totalizando 75 estudantes. Anteriormente a execução da pesquisa, o projeto foi submetido à análise e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Comunitária da Região de Chapecó sob Protocolo nº. 117/12. A fim de garantir a proteção dos sujeitos (estudantes) da pesquisa, bem como todas as suas contribuições a ela. Para cada estudante foi apresentado a proposta da pesquisa, bem como a entrega de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os mesmos assinarem, caso concordem participar da pesquisa. Após o recolhimento dos termos, devidamente assinados pelos responsáveis dos estudantes menores de idade, fora aplicado um questionário com dez questões abertas e fechadas. Para a análise das respostas da questão2 sobre a importância da biodiversidade, foi utilizado o processo de categorização de respostas (DESLANDES; MINAYO, 2002) com discussão baseada no referencial teórico. Cada categoria foi criada levando em conta a aproximidade das respostas apresentadas pelos estudantes, e a partir desta ideia, a formulação de termo que se abrange todas as respostas com relativa proximidade. A discussão dos resultados encontrados se deu com autores que pensam na temática de biodiversidade, com ênfase nas abordagens brasileiras.

Resultado e Discussões

Participaram da pesquisa 75 estudantes, desses a Escola A possuí o maior contingente de estudantes matriculados no terceiro ano do ensino médio, e a Escola B possuí o menor número de estudantes matriculados (Tabela 1). Tabela 1: Quantidade de estudantes matriculados no terceiro ano do ensino médio, em 2012 em cinco escolas do município de Chapecó (SC), número de estudantes selecionados para aplicação do questionário e porcentagem de estudantes questionados por escola. Total de Estudantes Estudantes % de Estudantes Unidade Escolar Matriculados Questionados questionados por escola 219 22 29,3 Escola A 2

Para esse trabalho utiliza-se somente a questão “Você acha importante estudar a biodiversidade brasileira? Justifique.” do questionário aplicado na monografia.

86 10 Escola B 109 11 Escola C 173 19 Escola D 131 13 Escola E 718 75 TOTAL Fonte: Relação de Alunos, adquiridas em cada Unidade Escolar.

13,3 14,6 25,3 17,3 100

Os estudantes questionados possuem idades entre 15 e 19 anos, onde 48% possuem 17 anos. Este dado demonstra que a maioria dos estudantes está na idade considerada apropriada, segundo a legislação brasileira, que se utiliza deste atributo como parâmetro de inserção das crianças e adolescentes no ensino básico (BRASIL, 2003). Dos 75 estudantes, 56% são do sexo feminino, enquanto que 44% são do sexo masculino. Verifica-se que esse dado é igualmente encontrado em uma escala nacional, onde a maioria da população brasileira é representada pelo sexo feminino (IBGE, 2010). Conhecer o estudante é de suma importância, pois são vários os fatores que podem influenciar tanto no desenvolvimento cognitivo, bem como no cotidiano social deste. Esses são aspectos que podem influenciar em suas concepções, uma vez que o estudante está inserido num meio social mutável, interagindo com conteúdos científicos, apresentados na escola (GASPARIN, 2007). Ao longo da análise da questão que tratava sobre a importância do estuda da biodiversidade, foi observado que muitos estudantes reconheceram distintas importâncias para esse estudo. Dos 75 estudantes questionados, a maioria (92%) apontou que o estudo da biodiversidade brasileira é importante, e 8% dos estudantes não responderam. Para melhor compreender as ideias expressadas pelos estudantes, foram elaboradas cinco categorias acerca das justificativas para a importância da biodiversidade (Figura 1). Figura 1: Percentual de justificativas para a importância do estudo da biodiversidade brasileira, dos estudantes de algumas escolas de Chapecó (SC), no período de jun/jul. de 2012.

Fonte: Elaboração do autor, 2012.

Segundo 3,5% dos estudantes, a importância do estudo se dá pela “Conscientização” como na referida citação: “Acredito que como fazemos parte dessa biodiversidade que se encontra em nosso país, temos o direito de saber como viver junto com os outros seres vivos, para não prejudicar eles” (Estudante A); relaciona com entender a importância da biodiversidade, tanto para o planeta, como para a humanidade (SENICIATO; SILVA; CAVASSAN, 2006). Responsável ou não pela garantia da manutenção da biodiversidade, a conservação, a escola, tem como uma das funções proporcionar aos estudantes elementos necessários para que eles se tornem críticos e decidam-se por si próprios qual o encaminhamento será seguido (BRASIL, 1998). O senso crítico desenvolvido na escola, ou ao longo da vida, é um dos precursores para criar seres humanos conscientes e responsáveis, principalmente no qual o palco é o planeta onde vivem (BRASIL, 1998). A ideia de “Interação”, apresentada também por 3,5% dos estudantes, traduz a necessidade de relação entre o homem e a biodiversidade, entre o homem e a natureza, como considera a resposta “Aprender como a natureza se comporta, e como nós estamos se conscientizando sobre essa questão” (Estudante B). A “Preservação” aparece no sentido de importância do estudo da biodiversidade em 3,5% das respostas. Todavia esse dado nos remete a um questionamento, em que sentido esse preservar é desejado pelo estudante, numa intenção de garantir a sobrevivência das espécies futuras para manter o equilíbrio do planeta, como “É importante saber o que constitui o nosso

planeta e consequentemente saber quem e onde o habita, pois dessa maneira podemos estar contribuindo de alguma forma para a preservação dos mesmos no futuro” (Estudante C), ou numa intenção de garantir recursos naturais futuros, assumindo não um sentido de preservação, mas sim de conservação (BIZERRIL, 2002). Na categoria “Rica biodiversidade” foram incluídas respostas conforme a seguinte “A biodiversidade do Brasil é considerada a mais rica, e está enfrentando sérios danos a respeito de suas espécies”(Estudante D), teve a segunda maior incidência (8,1%). Entendemos que a riqueza está relacionada à apropriação do patrimônio que o Brasil possui, em muitos casos, ainda desconhecido (JOHN, 2006). No ensino brasileiro, os dados mostram que os conhecimentos relacionados à biodiversidade apresentam um baixo nível de entendimento, e muitas vezes, conhecimentos errôneos, quando esse tema é abordado (BIZERRIL et al., 2007; MOREIRA et al., 2007). Além da apresentação de conhecimentos equivocados, é comum no Brasil a não valorização no ensino da diversidade biológica local, ou seja, não se aprecia as espécies regionais para tentar explicar a biodiversidade, embora essa esteja mais ao alcance da população em geral (JOHN, 2006). Esse dado pode sugerir que o ensino nas escolas acerca do tema é pouco valorizado pelos professores ou pelos estudantes. Ainda, alguns conceitos errôneos podem ser derivados dos livros didáticos utilizados, alguns não atualizados, outros com problemas de conceituação (GASPARIN, 2007). Nos primeiros anos de alfabetização, na educação infantil, se aprende o alfabeto com exemplos de animais exóticos, como E de elefante, Z de zebra, a própria palavra exótico, segundo John (2006, p. 397) “[...] que tecnicamente designa o que não é nativo, é frequentemente usada em lugar de ‘esquisito’ ou ‘diferente’ como uma aura ‘chique’”. Cada uma das respostas apresentadas pelos estudantes tenta demonstrar e justificar as categorias usadas, e, além disso, apresenta as ideias gerais que os estudantes tiveram ao apresentar a realidade do país, o Brasil. Hoje, para que haja uma discussão sobre biodiversidade, é necessário que, o tema esteja associado: [...] aos problemas atuais da redução da biodiversidade, por conta das intervenções humanas na biosfera, decorrentes da industrialização, do desmatamento, da monocultura intensiva e da urbanização, assim como ser tratado juntamente com as questões atuais da manipulação genética e dos cultivos transgênicos (BRASIL, 2000, p. 32).

Além das categorias exemplificadas acima pelos estudantes, a maioria desses (81,3%) responderam que o estudo da biodiversidade brasileira é importante, em função do “Conhecimento”. Esta categoria foi redividida a partir dos vários aspectos de conhecimentos apresentados pelos estudantes (Figura 2). Figura 2: Diferentes aspectos da categoria “Conhecimento” apresentada pelos estudantes de algumas escolas de Chapecó-SC, no período de jun/jul. de 2012.

Fonte: Elaboração do autor, 2012.

A categoria “Próprio País” é a forma mais citada pelos estudantes (38%), isso deixa claro que esses estudantes exercem, ou pelo menos desejam, a cidadania, ou seja, embora subjetivamente, os estudantes buscam apropriar-se do patrimônio natural brasileiro (JOHN, 2006). Muitos estudantes, junto a esse desejo de conhecer a diversidade de espécies, demonstraram também interesse na compreensão da natureza (considerada dentro da categoria conhecimento), como pode ser observado na escrita de um dos estudantes: “É importante conhecer o lugar onde vivemos, junto com seus seres vivos e toda a sua organização própria, a forma como a natureza se entende com seus indivíduos” (Estudante E). O conhecimento “Geral” apareceu em segundo lugar, sendo citado por 22,9% dos estudantes. Essa categoria foi assim escolhida pela falta de informações junto às respostas, onde alguns estudantes respondiam, somente para “conhecer”, como “Acredito que é importante para conhecermos e sabermos o que temos e o que não temos” (Estudante F).

Com 17,1% aparece o conhecimento para “Uso humano”, ou seja, para o bem da humanidade, o que atribui uma visão antropocêntrica aos estudantes, como “Para conhecermos e explorar-mos os seres presentes em nossas vidas ou em nosso país” (Estudante G). Nesta visão, a biodiversidade é vista como propriedade do homem, e está presente no planeta só para a apropriação dos recursos naturais, para o bem do homem (BIZERRIL, 2002). A resposta do Estudante H “É importante para a fauna e a flora brasileira, não só brasileira, mas de todo mundo” se enquadra na categoria “Fauna e Flora” com 12,9% dos dados de conhecimento. Essa informação nos remete a uma ideia da somente valorização, segundo os estudantes, do reino Animalia e Plantae, consequentemente, ou um desinteresse quanto aos outros reinos (Fungi, Monera e Protista), ou mesmo uma falta de saberes sobre a importância destes organismos para o meio ambiente. Conhecer a biodiversidade para interesse “Pessoal” é apresentada por 7,1% dos estudantes, conforme a citação “Sendo assim ampliamos nossos conhecimentos e maior capacidade intelectual. Todavia é uma forma de conhecimento a qual nos permite o compreendimento da natureza” (Estudante I), demonstra que os estudantes possuem uma relação com o meio, uma interação dado de forma maior, justificando a busca do aumento intelectual (ANDRADE et. al., 2004). Conhecer a biodiversidade brasileira com uma preocupação ao “Vestibular” é expresso por 5,7% dos estudantes. É o caso do Estudante J: “É um tema de conhecimentos gerais que podem cair em vestibulares e concursos”; demonstra uma vontade de que esse conhecimento somente será útil para alcançar mais uma etapa da vida estudantil, no caso, o nível superior, supõe que depois deste estágio, o tema não ser mais importante. Na configuração na qual é apresentada essas ideias de importância pelos estudantes finalistas do ensino médio, e consequentemente do ensino básico, percebe-se uma rápida desvalorização da biodiversidade, principalmente a brasileira. O fato do conhecimento sobre a biodiversidade brasileira não ser valorizado nas escolas: Significa que o Brasil ainda não se apropriou de seu imenso patrimônio natural. Pior: a grande maioria da população brasileira nem possui as necessárias referências culturais para reconhecer como seu patrimônio natural. Que dirá fazer dele uso sustentável. A necessária apropriação cultural do nosso patrimônio natural e, em especial, da nossa diversidade biológica não ocorrerá sem a exposição dos brasileiros aos elementos que compõem tal patrimônio (JOHN, 2006, p. 398-399).

É necessário que haja um repasse dessas informações de forma consciente à população, e não há melhor lugar para fazer isso do que na escola, desta maneira, é possível que os brasileiros reconheçam sua própria nação, e os diversos seres que estão nela. Na escola, como forma de auxílio à realidade brasileira é preciso, mesmo que aos poucos: [...] disseminar as tradições indígenas, caboclas, caiçaras, caipiras, quilombolas, ribeirinhas, relacionadas às espécies nativas. É preciso também desatrelar o conhecimento científico e popular dos modelos importados da Europa e dos Estados Unidos desde o Brasil colônia. Mais: é preciso inserir a biodiversidade nativa no cotidiano de cada brasileiro, das crianças pequenas dos sertões aos pós-graduados das grandes metrópoles. Não como um termo vazio, mas como um tesouro a ser descoberto em todos os sentidos (JOHN, 2006, p. 399).

É sabido que conseguir o sugerido pela autora acima é um desafio, mas não uma utopia, com planejamento e organização de todos é possível, começando pelos próprios professores e estudantes, já que muitos dizem que as crianças de hoje, são o futuro de amanhã.

Considerações Finais

A partir dos resultados discutidos a luz dos autores podem-se concluir vários pontos sobre o entendimento da biodiversidade, principalmente brasileira, tendo o estudante como objeto de estudo. É necessário que haja um repasse de informações de forma consciente à população, e não há melhor lugar para fazer isso do que na escola, desta maneira, é possível que os brasileiros reconheçam sua própria nação, e os diversos seres que estão nela. Tratar a biodiversidade, principalmente a brasileira, meramente como objeto de preservação não sensibilizará a população. A população deve conhecer diferentes aspectos das espécies, principalmente nativas, por exemplo, hábitat, modo de alimentação e reprodução, e esse é um conhecimento que se inicia na escola, no ensino básico. Entender a importância do estudo da biodiversidade, nos garante uma análise das distintas interpretações da realidade, dos conceitos envolvidos neste processo, integradores desta temática, como espécies, diversidade, vida, ecossistemas; além da compreensão da construção cognitiva, aprendizado do estudante, consequentemente do cidadão.

O Brasil está entre os países com maior biodiversidade do mundo, no entanto, para a grande maioria da população essa é uma informação irrelevante, o fato é que os brasileiros não conhecem a própria natureza.

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GASPARIN, João. L.. A construção dos conceitos científicos em sala de aula. In: Nádia Lúcia Nardi (Org.). Educação: visão crítica e perspectivas de mudança. 1 ed.Concórdia: EDUNC , 2007, v. 1, p. 1-25. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico. 2010. Disponível em: http://cod.ibge.gov.br/8UI. Acesso em: 20 de novembro de 2012. JOHN, Liana. Biodiversidade também é uma questão de educação. In: BENSUSAN, Nurit. Biodiversidade: é para comer, vestir ou para passar no cabelo? Para mudar o mundo!. São Paulo: Pierópolis, 2006. 418 p MOREIRA, Ana L. O. R; CORREA, Eliete O.; VERONEZZI, Ana L.; NUNES, Maria J.; XAVIER, Rosangela A. Biodiversidade e o Ensino interdisciplinar: investigando saberes profissionais. In: II Encontro Nacional de Ensino de Biologia, 2007, Uberlândia. Caderno do II Encontro Nacional de Ensino de Biologia, 2007. SENICIATO, Tatiana; SILVA, Patrícia G. P; CAVASSAN, Osmar. Construindo valores estéticos nas aulas de ciências desenvolvidas em ambientes naturais. Ensaio. Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte - MG, v. 8, n. 2, p. 97-109, 2006.

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