ÍNDICES DE PRODUTIVIDADE RURAL A REVELAÇÃO DO PROBLEMA PELA FORÇA DE UM ACONTECIMENTO PÚBLICO

September 25, 2017 | Autor: Antônio Braighi | Categoria: Jornal Nacional, Questão Agrária, Discurso, Representações, Acontecimento Jornalístico, Telejornalismo
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ÍNDICES DE PRODUTIVIDADE RURAL A REVELAÇÃO DO PROBLEMA PELA FORÇA DE UM ACONTECIMENTO PÚBLICO Antônio Augusto Braighi Publicado e disponível no site da Revista PJ:BR Vide em http://www2.eca.usp.br/pjbr/arquivos/artigos13a.htm

RESUMO Tomando como objeto a "derrubada dos pés de laranja", episódio noticiado pela mídia no dia 5 de outubro de 2009, este artigo tem como propósito fazer uma discussão acerca do poder de revelação de um acontecimento em relação a um problema público. Nossa proposta é compreender como esse acontecimento se reverbera na sociedade, afeta os sujeitos em seus quadros de experiências e traz à tona o amplo campo problemático da possível mudança no cálculo dos índices de produtividade rural – mudança essa que, dentre outras conseqüências, representa a esperança, para alguns grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no reposicionamento da política de reforma agrária no país. A discussão do artigo gira em torno da hipótese de que uma questão – conformada por uma série de elementos de ordem social, cultural e até moral – pode ganhar importância pública não apenas por uma característica intrínseca a ela, mas na medida em que afeta os sujeitos por meio de algo que, embevecido pela dialética do campo problemático, os transcendem, fazendo emergir e configurar tal questão como um tema político. PALAVRAS-CHAVE: Acontecimento; Telejornalismo; Discursos e Representações; Questão Agrária.

1. Introdução

No dia 5 de outubro de 2009, representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram flagrados derrubando vários pés de laranja, supostamente para plantar outras culturas vegetais, [1] em uma fazenda invadida pelo grupo no interior de São Paulo.

As cenas, [2] que mostram um trator abatendo as árvores, foram exibidas, repetidas vezes, por vários telejornais, além de portais de notícias na Internet. No dia seguinte, foi a vez dos impressos repercutirem a atitude exaustivamente; reverberando argumentos e contraposições dos atores envolvidos, dando voz também à políticos, especialistas de várias áreas e ao cidadão comum.

Ainda que o MST tente explicar a ação, indagamos que as imagens da derrubada dos pés de laranja afetam os sujeitos de modo tal que a apreensão de sentidos não se dá apenas no plano racional, mas também no emocional. Assim, as possíveis justificativas para a atitude não suprimem os porquês dos sujeitos; questionamentos que se conformam e se apresentam sob a égide de outros aspectos, como sociais (a existência de pessoas que lutam por terras), culturais (a constituição de uma causa em meio a estratégias de invasão) e até morais (é certo que o MST tome atitudes como essa?).

Diante disso, percebe-se que, ao se depararem com a notícia supracitada, os atores sociais se engajam num complexo “campo problemático”, constituído pela busca de causas, de influências, de consequências e de efeitos, trazido à tona por um episódio atípico da vida social.

Indagamos com isso que tal campo ganha visibilidade pública na medida em que os sujeitos são afetados, de diferentes formas, por um acontecimento que desvela problemas públicos. Vale ressaltar que o caso ocorre em um momento particular da história das disputas agrárias no país: a da possível mudança no cálculo dos índices de produtividade rural, [3] questão que cerca a derrubada dos pés de laranja, é influenciada e influencia a repercussão do evento e traz significados para a causa.

A discussão acerca destes ‘números de referência’ para o complexo rural, e todas as consequências que uma possível alteração nos mesmos pode trazer, se resumia bastante ao conhecimento dos diretamente afetados. Contudo, a derrubada dos pés de laranja altera a ordem de como a questão se instala e é vista pelos sujeitos na sociedade.

As visões apresentadas na cena pública são as mais distintas possíveis: conformam-se com o direito à propriedade até o direito à vida, passando por uma crítica ao momento em que se pretende instaurar esses novos números (em meio à retomada da crise econômica mundial); levantam as questões da necessidade de geração de riquezas para o país e de uma possível degradação das terras – que vem ocorrendo, além de questionarem o mecanismo de cálculo dos índices, a falta de atenção às especificidades de cada região, entre tantos outros prismas. E todos eles estão justapostos em diversos campos, visto a grande notoriedade dada ao tema nos media.

Contudo, como dito, o que nos parece é que a questão dos índices de produtividade, antes da derrubada dos pés de laranja, havia se tornado relevante, em grande medida, apenas aos diretamente interessados/afetados pelo problema, não ganhando a expressão pública de sujeitos e instituições que não se relacionam diretamente com a causa envolvida.

Nesse sentido, desejamos argumentar que, uma questão pode ganhar relevância pública – sobretudo junto a um público que não está diretamente vinculado a um problema – não apenas por uma característica intrínseca a ela, mas na medida em que um campo problemático, conformado pela força de um acontecimento, capaz de afetar os sujeitos, emerge e configura tal questão como um tema político (no sentido mesmo da visibilidade e da afetação que tal campo promove (QUÉRÉ, 2005). Partiremos da ideia de que a repercussão ação do MST se estabelece como acontecimento, tomando Quéré (1995, 2005) e Deleuze (2007) como referências para nossas discussões.

Nosso percurso, portanto, será o de compreender conceitualmente a noção de acontecimento, para, em seguida, discutir como os campos problemáticos em torno da questão dos índices de produtividade rural apareceram vinculados ao acontecimento da derrubada dos pés de laranja, em três campos diferentes: a esfera dos media, tomando os telejornais “Jornal Nacional” e “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, respectivamente dos dias 5 e 6 de outubro como referência; a ‘carta dos intelectuais’, assinada por uma série de personalidades brasileiras e do exterior, em relação à derrubada dos pés de laranja e aos índices de produtividade rural; e a fala de sujeitos comuns, que se expressam em posicionamentos nas listas de comentários do site YouTube [4], abaixo dos vídeos [5] diretamente relacionados ao caso.

2. Derrubada dos pés de laranja como acontecimento

Como vimos na introdução, pretendemos tomar o episódio da derrubada dos pés de laranja como uma instância que, de fato, pode ter reconfigurado a questão dos índices de produtividade no espaço público. Referimo-nos, desse modo, à construção cognitiva e às expressões de sentido que se dão a partir de uma determinada ocorrência da vida social, que está para além de ser caracterizado apenas como um fato; falamos da noção

de acontecimento, que “é da ordem do ‘assombro exemplar’, do fato ‘sem explicação’, alterando a aparente repetição da vida cotidiana” (Cf. LANA; FRANÇA, 2008:04).

O acontecimento “é um fenômeno de ordem hermenêutica: por um lado, ele pede para ser compreendido, e não apenas explicado, por causas; por outro, ele faz compreender as coisas – tem, portanto, um poder de revelação” (Cf. QUÉRÉ, 2005:60). Assim, o acontecimento faz um movimento duplo, no momento mesmo que afeta os indivíduos e é influenciado por eles de modo cíclico.

É algo singular, de ordem paradoxal, que inaugura – com efeito, uma nova forma de pensar e agir; tem como uma das principais conseqüências a quebra da linha de tempo de rotina das pessoas, promovendo uma cisão nas formas de ver o que está à volta e, sobretudo, frente ao que se relaciona diretamente ao episódio, ainda que este não tenha, ou não se assimile, uma explicação (QUÉRÉ, 2005).

É assim que, tentando nos colocar no lugar dos sujeitos diante da derrubada dos pés de laranja, podemos nos questionar: quais os motivos para a destruição de uma plantação em um país que ainda sofre com os males da fome? Por que o MST fez isso? Outras interrogações, contudo, se apresentam frente às imagens: um trator contra pés de laranja; as máquinas contra a natureza; o homem contra a terra; por quê?

A perspectiva paradoxal da cena – o que potencializa o acontecimento – se dá diante de um representante do MST derrubando árvores; ora, pessoas que vivem da terra derrubando plantas frutíferas? E ainda que seja justificada a possível necessidade de troca de culturas, contra-argumentos dirão que hoje é simples montar um sistema de plantio intercalado – sem a necessidade de destruir o laranjal. Então, por quê?

Quando tentamos entender os porquês, não conseguimos dar conta de uma elucidação, visto que este acontecimento não se explica pela lógica – ele tem força em si mesmo, ainda desconhecida (ou, mesmo perceptível, incompreensível), o que o impede de gerar conclusões. Como define Deleuze (2007:59), “as respostas não suprimem de forma nenhuma a pergunta, nem a satisfazem e ela persiste através de todas as respostas”. Este acontecimento assim se amplifica; fruto da forma como os sujeitos se relacionam com o problema e de tudo que está envolvido na causa.

Neste ínterim, o acontecimento “derrubada dos pés de laranja” se processa em grande medida pela experiência dos sujeitos com o caso. Cabe ressaltar novamente que este acontecimento se dá na expressão de sentidos de uma imagem – a do trator derrubando as árvores, exibida em vários telejornais, e na relação direta que estabelece com as outras experiências e expectativas dos espectadores (sujeitos e instituições).

É válido destacar que, nesse caso, estamos diante de uma forma diferenciada de experimentação: a da experiência mediada. Entendemos experiência a partir das contribuições de Dewey (1980), como um produto advindo da relação e interação dos seres vivos com o contexto (ambiente) em que estão inseridos. No nosso caso, esta relação/interação é estabelecida por meio da televisão – ou, diante da emergência de sites como o YouTube, até através da Internet.

Contudo, “a televisão contribui decisivamente para a incomunicabilidade da experiência”, pois ainda que apresente os acontecimentos, faz isso de modo fragmentado – fruto do cotidiano em que está inserida (GUIMARÃES; LEAL, 2008:07).

Não obstante, ela comunica e oferece aos espectadores uma realidade, ainda que (re)construída, e se posiciona de modo central – uma referência no modo como os sujeitos se relacionam e experimentam o mundo. “(...) A televisão surge como um ator social, capaz de tecnológica e linguisticamente produzir realidades, ofertadas à vida cotidiana numa tensa relação de poder, seja com o telespectador, seja com os demais agentes sociais” (GUIMARÃES; LEAL, 2008:09).

A partir da TV (e de outros dispositivos como a Internet/YouTube), o espectador estabelece então um tipo de experiência com o episódio. As imagens lhe conferem a condição de mudar a forma de se posicionar em relação, não só ao que está intrinsecamente ligado ao acontecimento, mas também, aos problemas relacionados à causa, assim como levar o debate para outras esferas. Contudo, cada um será afetado diretamente (e de diferentes formas) pelo que está vendo, gerando efeitos dos mais diversos, nos mais variados sujeitos, pois devemos levar em conta que cada pessoa parte de um campo de experiências muito particular.

Segundo Quéré (2005:68), “a individualidade do acontecimento não é determinada, apenas, pelas características da sua ocorrência como fato, mas também pelas reações e pelas respostas que suscita, via uma compreensão e uma apropriação, seja qual for o suporte”.

Porém, partimos do pressuposto de que o acontecimento em questão constitui-se como um problema público, produzindo um campo de forças e tensões nos quais outras questões ligadas ao problema principal irão emergir – muitas delas já supracitadas, como o direito à propriedade, à vida, a geração de riquezas para o país, a degradação das terras, os mecanismos de cálculo dos índices, entre outros.

3. As intrigas e o campo problemático revelado

Para Quéré (2005:72), “a nossa existência individual e coletiva é assim, em grande parte, um encastramento de intrigas, que se imbricam ou se sobrepõem, à espera de desenlace (...)”, por isso, nem sempre as questões públicas não são tratadas por supostas faltas de interesse e/ou de compreensão, mas porque não afetam os sujeitos, não os implicam pública e politicamente num campo problemático. Desse modo, “a maioria dos acontecimentos que retêm a nossa atenção, retêm-na em função da sua pertença a tais intrigas. Mas, por outro lado, é à luz desses acontecimentos que se forma a nossa compreensão da evolução das intrigas” (QUÉRÉ, 2005:72).

Pensando na ideia de campo problemático de Quéré (2005), temos aqui uma arena de forças e tensões que é constituída por vários vetores, tais como a influência política da Cutrale – empresa que teve as terras invadidas [6], e os pés de laranja derrubados – instituição que é, segundo um levantamento do MST, grande financiadora de campanhas eleitorais [7] (colocando em xeque o papel e a legitimidade do Estado e dos atuais representantes políticos frente ao lobby praticado por organizações como estas), o processo interpretativo dos media, no intuito de cobrir a questão da maneira mais ampla e imparcial possível e até a própria existência de um movimento que, segundo a lógica, é composto por famílias do campo, que precisam de áreas para plantar e gerar a sua subsistência, mas é questionado acerca dos recursos que recebem do governo, haja vista a perspectiva de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) [8], da logística

estruturada para as invasões e o método utilizado nestas e, contraditoriamente, até o cumprimento dos próprios índices de produtividade por estas famílias nas terras onde foram assentadas, entre muitas outras forças envolvidas.

Um acontecimento faz constituir um jogo entre sujeitos e instituições que interpelam seus discursos, em uma arena contraditória; uma vez que não se trata da razão pura como norte, mas sim desta, a partir da maneira como a questão afetará os sujeitos em seus campos de experiência, imbuída de sentidos (e sentimentos) emanados – “(...) tratase, sobretudo, de qualidades que, em virtude do acontecimento, impregnam as situações que o envolvem, afetam e modificam os seus elementos constitutivos assim como as relações entre eles, penetram e coloram tudo o que está implicado na experiência” (QUÉRÉ, 2005:68).

Nesse imbróglio, ao passo que a derrubada dos pés de laranja traz uma série de questões à visibilidade pública, dando a ver problemas de ordem estrutural, afetando os sujeitos e o que está a volta, se estabelece na ordem dos acontecimentos que “ganham um lugar em campos problemáticos e servem, pelo seu poder de esclarecimento e de discriminação, de pivôs dos inquéritos que procuram e elaboram soluções” (QUÉRÉ, 2005:72).

Neste contexto, também não devemos esquecer-nos da mídia, que aparece como observadora e interpretante do acontecimento, tentando dimensioná-lo e enquadrá-lo a fim de fornecer respostas aos sujeitos. Contudo, se configura apenas como um canal de interlocução frente ao acontecimento – apresentando, por vezes, um relato isolado que, contraditoriamente, não consegue dimensionar a questão. Quéré (2005:73) será um tanto mais contundente ao afirmar que “a modalidade privilegiada de experiência da notícia é, portanto, a do choque instantâneo: a informação espanta-nos ou perturba-nos, mas não se presta a nenhuma prova; desliza sobre nós sem nos atingir”.

Assim, caso seja de fato afetado pela questão, e isso reverbere em seu contexto, o sujeito para se relacionar inteiramente com a questão deve buscar outras formas de apreendê-la – isto é, caso tenha o propósito de conhecer plenamente o problema e se posicionar. De outra forma, após o susto, a tendência natural das pessoas, e da própria

mídia – como propulsora de um método interpretativo peculiar, será o de neutralizar o acontecimento e colocá-lo em um espaço de normalização (QUÉRÉ, 1995).

Nesse sentido, a guisa da compreensão das interpretações sobre o acontecimento, nossa proposta é de compreender como o problema é individualizado em três campos distintos: os media, a carta dos intelectuais, e a fala dos sujeitos nas listas de comentários do site YouTube.

4. Interpretação do acontecimento em três campos

4.1. “Uma imagem escandalosa”

Logo na escalada do “Jornal Nacional” do dia 5 de outubro de 2009, foi realizada a chamada de uma matéria que abordava a derrubada dos pés de laranja. A reportagem de Giuliano Tamura foi a segunda a ser exibida naquela noite, sendo para tanto anunciada da seguinte maneira pela jornalista Fátima Bernardes, âncora do programa: “Invasores do movimento dos sem terra destruíram milhares de pés de laranja de uma fazenda no centro-oeste paulista para forçar a desapropriação da área”. [9]

A primeira observação que podemos inferir é que o “Jornal Nacional” faz logo na chamada da matéria uma interpretação possível do acontecimento. Antes mesmo de apresentar o episódio, o programa tenta atribuir significados, buscando dar conta de algo que é da ordem do inexplicável/injustificável dentro de uma dimensão acontecimental. Podemos supor que o veículo confere à ação uma perspectiva de intencionalidade por parte do MST que tentaria, por meio deste ato, fabricar um fato com vistas à visibilidade de sua causa. Contudo, a dimensão que uma atitude como esta poderia tomar, ao impactar os sujeitos em seus campos de experiência, está para além do mensurável em qualquer estratégia de espetacularização midiática.

Ao assumir um viés acontecimental, ainda que o episódio nem tenha sido de fato fabricado, toma um corpo tal que nenhum dos envolvidos poderia prever. Para Mendonça (2007:129), “o acontecimento, no caso um movimento, não é só resultado da atitude de sujeitos, nem simplesmente causa tais atitudes. Há um jogo recursivo aqui,

evidenciado pela incapacidade do homem de controlar e prever as conseqüências da novidade de cuja produção participa”.

A matéria por sua vez já começa com imagens gravadas de um helicóptero, por intermédio de uma câmera amadora, evidenciando a derrubada dos pés de laranja. São três takes [10] que juntos somam 12 segundos em uma matéria de 40 (sendo que outro plano geral da cena é utilizado após a entrevista com um dos representantes do MST).

Em off, o repórter afirma: “o trator derruba tudo o que encontra pela frente”, seguido pelo terceiro take,que vem acompanhado de um sobe som do ruído da máquina destruindo o pomar. Não é nossa intenção aprofundar em uma análise da experiência dos sujeitos a partir do vídeo, mas vale fazer o registro dos estímulos (como o sobe som) da matéria, pois eles podem intensificar a maneira como os sujeitos são afetados pelo acontecimento,

(...) afinal, a “experiência” da televisão compreende, além daqueles elementos implicados diretamente na produção de significados, os ritmos e a composição das imagens, cores, formas, enquadramentos, sons e outros recursos que mobilizam sensível e emocionalmente o espectador e seu corpo. (LEAL, 2006:05).

O “Bom Dia Brasil” do dia 6 de outubro de 2009 foi mais contundente em suas colocações, instituindo, inclusive, juízo de valor à causa: Renato Machado, âncora da atração, chamou: “O ‘Jornal Nacional’ mostrou ontem uma imagem escandalosa: um trator passando por cima de pés de laranja em uma fazenda, no interior de São Paulo. Mais de cinco mil pés de laranja foram destruídos por integrantes do Movimento dos Sem Terra”. [11]

Entendemos que a expressão ‘escandalosa’ atribui significado à ação. Aqui ela poderia ser apreendida tanto como um adjetivo à imagem em si (uma imagem que salta aos olhos, que grita em razão de sua singularidade), quanto ao ato (indecoroso, vergonhoso, ofensivo).

Do Rio de Janeiro, o apresentador chama a jornalista Mariana Godoy, em outro estúdio em São Paulo, que dá informações atuais sobre o caso através de uma triangulação com

o repórter Giuliano Tamura (ao vivo, em Bauru/SP). A conversa entre os jornalistas deságua em uma discussão sobre o preço da laranja, em uma feira. Evidentemente que esta é uma dinâmica do programa, já conhecida no contrato que estabelece com seus telespectadores, mas podemos compreender que esta proposta do jornal pode ser também um movimento que tenta trazer o acontecimento para a ordem do fazível; para a rotina e cotidiano do meio urbano – que não vivencia a lógica rural, mas é diretamente afetado por ela.

Em um segundo momento, Alexandre Garcia, comentarista da atração, é ainda mais efusivo em relação à atribuição de significados: [12] “A cena deste trator derrubando milhares de laranjeiras é chocante”. O jornalista continua o seu depoimento dando indícios de um percurso interpretativo, muito mais dos sujeitos (muito mais particular) do que o dos media. Contudo, como o mesmo representa uma classe profissional, é um comentarista, e assume uma posição diante de um meio de comunicação de massa, entendemos o discurso como uma interpretação da mídia:

A laranja e seu suco são riquezas do país; pesam na balança comercial; ajudam a estabilidade da moeda; e beneficiam em última análise o bolso do povo. O crime que está se vendo aí não é um crime contra o proprietário, é um crime contra o país. É de se perguntar que quem comete esse crime aí, motorizado, se ele não conta com a omissão, com o crime de responsabilidade, de quem insiste em classificar esses crimes como manifestações sociais, e não age para coibir e punir quem ataca uns dos setores de que o país mais pode se orgulhar: aquele que produz alimentos e gera riqueza pra todos (sic).

Neste comentário podemos ressaltar a atribuição de significados para a ação do MST (considerada como criminosa) e os impactos sociais da mesma, quanto à emergência de uma série de dificuldades públicas, muitas delas presentes no composto do campo problemático dos índices de produtividade rural. A discussão é acentuada ainda mais quando o jornalista Renato Machado levanta uma das mais polêmicas questões envolvidas: os investimentos do MST e a sua capacidade para estruturação logística.

O apresentador questiona o comentarista Alexandre Garcia: “(...) todo esse movimento depende de um fundamento econômico, financeiro, ou seja, o MST tem verbas para se organizar e pra fazer todo o seu movimento. De onde vêm estas verbas?”

A resposta do comentarista vem com a utilização de metáforas: “Ah, isso é caixa preta Renato! Isso ninguém sabe, ninguém viu. É um dinheiro que vem de algum lugar e não é pouco. (...) É uma senhora caixa preta; invejável”. Esta discussão é inclusive um dos fundamentos para a instalação da CPMI, o que outrora fora criticado por várias pessoas, incluindo o grupo de intelectuais que assinaram o manifesto em favor do MST.

4.2. A posição dos intelectuais

Circulou para os grandes veículos de comunicação no Brasil (e por diversos países) uma carta, assinada por intelectuais como Luis Fernando Veríssimo, o português Boaventura Sousa Santos, o uruguaio Eduardo Galeano, entre uma série de brasileiros e estrangeiros. Este documento é uma manifestação de um grupo de pessoas que se sentiram afetadas por este acontecimento, mas mais do que isso, pela dinâmica do campo problemático que emerge com a derrubada dos pés de laranja. [13]

Os autores registraram o descontentamento com o percurso interpretativo da mídia, que, segundo os mesmos, se limitou a mostrar a destruição do pomar, indagando ainda que os media omitiram informações essenciais sobre o fato, por exemplo, das terras invadidas serem de propriedade do governo, e de que um grande porcentual da mesma ser improdutivo. Contudo, a principal queixa se dá em relação à instalação de uma CPMI para investigar os investimentos do MST, o que se configuraria com o desígnio de desarticular o foco do debate:

Há um objetivo preciso nisso tudo: impedir a revisão dos índices de produtividade agrícola – cuja versão em vigor tem como base o censo agropecuário de 1975 – e viabilizar uma CPI sobre o MST. Com tal postura, o foco do debate agrário é deslocado dos responsáveis pela desigualdade e concentração para criminalizar os que lutam pelo direito do povo. (...) pesado operativo midiático-empresarial visa isolar e criminalizar o movimento social e enfraquecer suas bases de apoio (Manifesto em favor do MST) (sic.).

Os intelectuais indicam vários outros pontos que podem compor o campo de forças do problema relacionado aos índices de produtividade rural: a existência de uma possível

disputa de classes (na investida da ‘camada dominante’ a fim de minimizar as ações do MST), a pressão e autoridade de grandes empresas do segmento agrícola junto ao governo, a influência dos grandes donos de terra, os conflitos no campo (apresentando, inclusive, índices de mortos no meio rural), a necessidade de uma “agricultura socialmente justa”, entre outros.

O texto tenta interpretar de outro modo o impacto do acontecimento, contradizendo o discurso apresentado nas matérias – sobretudo no que se refere aos números, informando que “a mídia foi taxativa em classificar a derrubada de alguns pés de laranja como ato de vandalismo”, propondo ainda outro significado à causa, realçando um dos principais problemas públicos ao depor que “na ótica dos setores dominantes, pés de laranja arrancados em protesto representam uma imagem mais chocante do que as famílias que vivem em acampamentos precários desejando produzir alimentos”.

Na perspectiva do manifesto, ainda que o fato tenha sido fabricado para chamar a atenção, e o tenha feita de modo contrário a possível intenção preliminar, os intelectuais corroboram que o problema social relativo à reforma agrária no Brasil é muito maior – muito mais escandaloso, que as imagens do trator derrubando o pomar.

Supomos que quem assina a carta foi afetado pelo acontecimento, mas este se institui diante de um campo de experiências que sente o problema público de modo mais amplo, ainda que em uma ‘determinada direção’ – não imediatista ou fechada em si mesmo, como é próprio ao discurso do jornalismo televisivo diário – mas muito vinculada à necessidade de uma (re)distribuição de terras para quem destas extraem a sua subsistência.

4.3. Vídeos e argumentações no YouTube

Já para analisar o percurso interpretativo dos sujeitos e a conformação do problema público na arena de discussão da Internet, tomamos como referência 3 listas de comentários, dispostas no site YouTube, [14]que se estabeleceram a partir das reportagens analisadas; verdadeiros fóruns de discussão que se estruturam pela vontade dos sujeitos se posicionarem em relação ao acontecimento. Por meio desta ferramenta

verificaremos a recepção pública do acontecimento e o método de construção dos problemas através de um processo coletivo de individualização.

Entendemos que nesse espaço há condições para a instituição de sentidos à causa, em um processo cíclico, de devir continuo, por intermédio das argumentações e contraargumentações (DELEUZE, 2007).

O acontecimento, como vimos, se estabelece em um contexto de descrição que, no caso do YouTube, é apresentado pelas matérias disponíveis no site. Mas, mais do que isso, o episódio se filia a todo um campo problemático ao qual remete. Além disso, há um pano de fundo pragmático (a perspectiva cultural) e um elemento temporal que influenciam as experiências. Os sujeitos então partem destas premissas, e dos seus campos de experiências particulares, para descreverem nestas arenas virtuais as suas interpretações sobre a derrubada dos pés de laranja e o problema público relacionado (QUÉRÉ, 1995).

No primeiro caso, avaliamos dois links que apresentavam a matéria do “Jornal Nacional”. Estas eram as postagens, relativas à reportagem, mais acessadas até o dia 21 de novembro de 2009, quando juntas haviam recibo 8.700 visitas e pouco mais de 90 comentários. [15] Foi estruturado um complexo argumentativo, baseado, sobretudo, nos questionamentos acerca do direito à privacidade e da postura intransigente do governo em relação às investidas do MST – sendo caracterizado como apoiador das causas.

Em muitos casos, o MST é qualificado como um grupo de transgressão e desordem. A contra-argumentação vem, sobremaneira, de internautas que demonstram que o contexto de descrição é mais amplo, endossando as questões levantadas na carta dos intelectuais – como o fato de parte das terras invadidas serem públicas e as limitações do processo interpretativo da mídia, indicando, contudo, que os media teriam determinados propósitos.

Alguns comentários chamam à atenção: O internauta geisonalmeida indica que o MST é “um grupo sem leis, formada por desocupados e criminosos que agem escondidos atrás deste grupo sem que nenhuma autoridade tome providência. E diversas empresas, proprietários e agricultores legalmente estabelecidos tomando prejuízos”, enquanto Kakaquimi interpela: “As terras da região de Iaras estão todas griladas pelas

multinacionais como, por exemplo, a Cutrale e as indústrias da madeira e da cana de açúcar. Terras que são do estado (povo) que foi comprada pelo dinheiro do povo para fazer a reforma agrária (...)”, entre tantos outros comentários (sic.).

Em um segundo momento, analisamos os comentários nos links ligados à abordagem do “Bom Dia Brasil”. Verificamos a princípio duas postagens [16] do vídeo que apresentava a conversa entre os jornalistas Renato Machado, Mariana Godoy e Giuliano Tamura. Até o dia 22 de novembro de 2009 as postagens haviam recebido juntas 1.002 visitas e 13 comentários. A maioria parte do pressuposto que a ação foi criminosa e que com isso o MST deveria sofrer retaliações pelos procedimentos adotados. Porém, parte dos internautas concorda que o movimento não é responsabilizado como deveria por proteção/inoperância do governo e da justiça.

Em menor quantidade, algumas pessoas falaram sobre a forma de abordagem do caso pela mídia, a ausência da informação sobre a propriedade das terras e a necessidade de uma ação da sociedade civil contra o MST. Acerca da construção da mídia, dentre os comentários, o internauta zecalixto indica: “caramba que horror de reportangem tendenciosa! o jornalista não sabe nem que uma duzia são 12 e quer julgar a ação daqueles que lutam contra a maior concentração de terra do mundo!”, enquanto lanrio27 diz que a reportagem “só esqueceu de dizer, no caso do MST que as terras são do Governo Federal, eram para estar legalmente em custódia do INCRA e não sendo aproveitadas para monocultura de uma grande empresa privada”, incitando ainda que “Só sabemos disso graças a ação do MST” (sic.).

O internauta UmbertoMoreno dá inclusive indícios da questão relacionada ao paradoxo do acontecimento ao abordar a justificativa do MST e relacioná-la ao que posteriormente fora argumentado pelo comentarista do “Bom Dia Brasil”: “Na verdade eles tentam justificar o injustificavel, mais como disse o Alexandre Garcia, se a gente, pessoas normais arrancar laranjas numa propriedade qualquer, com certeza seremos presos, mais se vestir uma camisa vermelha escrita MST, nada acontece, infelismente” (sic.).

Deslocamos então para os comentários de Alexandre Garcia, onde foram realizadas 920 exibições para 12 comentários até o dia 22/11. Contudo, vale registrar que dois

internautas fizeram boa parte das inserções; o usuário erikinharod fez 4 comentários, enquanto direitaradical postou outras 03 observações. Os dois não chegaram a travar um debate direto, mas se mantiveram em posições completamente extremas em relação ao caso.

O primeiro internauta questionou o fato de terras, onde a Fazenda Santo Henrique está localizada, serem públicas – e utilizadas de forma irregular, a força de grandes empresas – que não geram riquezas para o país, a importância da agricultura familiar para a produção de alimentos para o consumo interno – num claro indicio de que é necessária a redistribuição das áreas, e uma crítica às pessoas que não conhecem a realidade brasileira – acusando que estas tomam a interpretação da mídia como referência, e aí estaria o problema: “as pessoas que fazem parte do MST são famílias pobres que estão em busca de uma terra para plantar seu sustento (...). Nada sabem que hoje no país os alimentos, principalmente, hortifrutis são produzidos pela agricultura familiar (inclue-se as familias assentadas)” (sic.).

Do outro lado, direitaradical tem um discurso muito voltado para a perspectiva política; indica que o MST é apoiado pelo governo e que a inoperância se dá pelo fato deste ser de esquerda. Para o internauta, o movimento é criminoso, e não pode fazer o que quer. Endossa que os partidos de direita, fortalecidos, colocarão “ordem no país”: “é essa minoria opressora tem que ser destruida da face da terra. não é possível uma minoria fazer tudo que lhe vier na cabeça sem sofrer consequências nenhuma. brasileiros deixem de ser cúmplices desses bandidos e não votem em mais ninguém do PT (...)” (sic.).

Nas três listas de discussão é reentrante a normalização do caso; os sujeitos indicam que as ações do MST são recorrentes e que, em muitos casos, usam de violência e não sofrem as devidas represálias do governo (que aparece, na maioria das vezes, como omisso ou cúmplice das ações). Os internautas tentam sempre trazer as questões para o campo do fazível, demonstrando como se relacionam com a causa, e como são afetados pelo problema. Sem dúvida as imagens da destruição dos pés de laranja, e a ideia de que o ato foi intencional – com vistas a chamar a atenção do público, e que, em muitos casos, o MST não é responsabilizado, provoca nos sujeitos um sentimento de inconformidade, a desconsiderar, em grande medida, qualquer justificativa que possa ser interpelada em contrário.

Fazem também, por vezes, relação com outros episódios e problemas sociais brasileiros; como o acontecimento é sempre algo que está na superfície, sendo resgatado pelas mais diversas pontuações, são feitas comparações com período históricos como a ditadura – e o tipo de posicionamento do governo e dos cidadãos naquela época (“Nos bons tempos, a porca terrorista imunda que dá entrevista ao final neste vídeo, estaria, junto com seus cúmplices, dando "entrevista" no DOPS e no DOI-CODI”), a observação acerca da postura dos representantes do movimento e a comparação com crimes que acontecem nas ruas do país (“os pilantras chegando de moto igual aos ladrões que assaltam no trânsito”), os boatos depreciativos relacionadas ao atual presidente da república e o sentimento nacional acerca da escolha do Rio de Janeiro como cidade sede das olimpíadas (“uma organização criminosa sendo protegida por um bebum fanfarrão... mas ele deve estar ainda comemorando o Hell de Janeiro 2016, pão e circo”), entre outras (sic.) (DELEUZE, 2007).

5. Considerações finais

Esforçamo-nos neste artigo para demonstrar que, por vezes, um problema público (no caso, a reforma agrária, tangenciada pelos índices de produtividade rural) ganha relevância não só por sua profundidade, mas também quando os sujeitos são interpelados por algo que os transcendem (o acontecimento – a derrubada dos pés de laranja), os colocam em uma situação de desconforto – onde têm de lidar com o atípico e buscar repostas para algo incompreensível.

Neste contexto, percebemos que as pessoas e a mídia, em seus processos interpretativos, têm assumido dois tipos de posição: enviesam-se, adotando um determinado ponto de vista (muitas vezes baseado em todo um complexo pano de fundo pragmático e em um campo de experiências particular), assentando a questão em um ambiente de neutralização – considerando todos os outros elementos como não tão relevantes, ou embrenham-se em meio ao esfumaçado jogo de relações, influências, interferências, consequências, do problema em questão, que nunca tem fim, não adotando uma resposta como totalizante.

Neste movimento, a mídia se apropria de algo que, supostamente, está dado no senso comum, se antecipa à interpretação dos sujeitos e considera a ação MST como ‘escandalosa’, sendo imediatista diante ao fato, procurando fechar o seu sentido, o que, outrora, sofreria retaliações de grupos que vêem a questão sobre outro prisma – os intelectuais – ou mesmo de sujeitos que tem um conhecimento mais amplo do campo problemático. Contudo, a apresentação da carta ganha relevância e chega ao conhecimento das pessoas ‘comuns’ através dos próprios media, e pode, de alguma forma, até interferir no processo de interpretação do caso, já que o documento apresenta argumentos que não haviam sido oferecidos nas esferas de discussão.

Percebemos, contudo, que os media negociam com outros discursos, influenciando e sendo influenciados em uma troca nem sempre tão recíproca e harmônica, muito em função das incertezas sob como um acontecimento afetará os sujeitos, uma vez que os campos de experiências individuais são de uma complexidade muito maior do que se pode mensurar.

Por fim, ratifica-se a ressalva de que, apesar do problema público ganhar projeção com o acontecimento, e este ser ampliado pelos media, ver (o que quer que seja) com os olhos da mídia, não significa olhar para a totalidade pois, ainda que esta assuma a responsabilidade em dar conta dos episódios da vida social de forma ampla e imparcial, ela não consegue apresentar a realidade em sua totalidade, já que narra e institui, com uma forma própria, muito particular, o real.

NOTAS [1] O coordenador do MST, Márcio Santos, disse que no lugar das laranjas iriam plantar arroz, feijão e milho. Jornal Zero Hora, S/d. Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a2676447 .xml. Acesso em: 13 nov. 2009. [2] A matéria exibida pelo “Jornal Nacional” também está disponível http://www.youtube.com/watch?v=dIHwfzSqxSw. Youtube, S/d. Acesso em: 2 dez. 2009.

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[3] Valores de referências, definidos pelo governo federal, para qualificar uma determinada propriedade rural como produtiva ou improdutiva. Caso seja aprovada, a modificação do cálculo afetaria diretamente as propriedades rurais particulares com baixa produtividade. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) é o órgão responsável pela fiscalização; caso avalie que existem terras que não estejam cumprindo o que rege nos parâmetros, o Instituto pode indicar ao governo que inicie um procedimento para a desapropriação e assim destiná-las à famílias sem terra. A última atualização deste índice se deu com base em um censo agropecuário da década de 1970, e muitos concordam com a necessidade de uma mudança imediata. A questão já vem sendo discutida há alguns anos, mas se intensificou em dezembro de 2008, quando os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o

do Desenvolvimento Agrário apresentaram a necessidade da mudança. Mas até ao primeiro semestre de 2009, tudo parecia acomodado. Não obstante, no mês de agosto, a polêmica voltou quando o presidente Lula recebeu um grupo de representantes do MST em Brasília e ‘prometeu’ que o governo iria mudar os referidos índices mas, até o mês de dezembro, nada foi alterado. Podemos pensar que os interesses envolvidos são os mais diversos e as razões não se relacionam apenas a uma (re)distribuição de terras, mas a fatores políticos, econômicos, culturais, sociais e até morais. [4] Segundo informações do próprio site, “o YouTube é o líder no setor de vídeos on-line e o principal destino dos internautas para assistir e compartilhar vídeos originais com todo o mundo por meio da web”. Qualquer pessoa que se cadastra no site pode enviar materiais e inclusive escrever comentários abaixo dos vídeos, seja para expressar gostos, seja para problematizar questões expostas pelos filmes. Disponível em: http://www.youtube.com. [5] As matérias jornalísticas que iremos analisar foram postadas no referido site, sendo aberta a possibilidade para os internautas comentá-las. [6] A Fazenda Santo Henrique, em Borebi/SP, seria supostamente de propriedade da empresa Cutrale, o que é questionado pelo MST, que indica que a ocupação se deu em função de contradições sobre a posse da terra. De acordo com informações do site Zero Hora, “uma parte dessas terras foi comprada pela União e outra recebida pelo governo federal como pagamento de dívidas das companhias de Colonização São Paulo e Paraná. Conforme o INCRA, há um processo em tramitação na Justiça, desde 1997, visando à desapropriação da fazenda para fins de reforma agrária”. Jornal Zero Hora, S/d. Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a2676447 .xml. Acesso em: 13 nov. 2009. [7] Segundo a edição nº 298 do “Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”, na matéria “As laranjas e os sem terra”, há uma lista de 55 candidatos que receberam doações da Cutrale nas eleições de 2006, sendo que destes, quatro assinaram um requerimento favorável à criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) contra o MST. [8] Foi protocolado, no mês de setembro, um requerimento para abertura de uma CPMI para apurar as causas, condições e responsabilidades relacionadas a desvios e irregularidades verificados em convênios firmados entre a União e entidades de reforma e desenvolvimento agrário. Quer-se investigar o repasse de recursos públicos e privados para o financiamento das ações do MST. O requerimento foi aprovado em Outubro e recebeu o seguinte comentário do senador Ronaldo Caiado: “Eles conseguiram derrubar o laranjal, mas não conseguiram derrubar a CPMI”. Agência Brasil. S/d. Disponível em: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/10/22/materia.2009-10-22.1671968603/view. Acesso em: 7 jul. 2009. [9] A escalada do “Jornal Nacional” e a matéria sobre a derrubada dos pés de laranja estão no YouTube. S/d. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Wp9Pp8k6rag. Acesso em: 20 nov. 2009. [10] Grosso modo, podemos entender que cada take de uma matéria jornalística seja um enquadramento da câmera, apresentando, inclusive, uma mesma cena, de diferentes ângulos. Começa no momento mesmo em que a imagem tem início e se encerra no corte para outra imagem, ou em outra perspectiva da mesma cena. A composição dos takes em uma estrutura narrativa é realizada na edição das imagens. [11] Youtube. S/d. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=RhDsx2BjfYw&feature=related. Acesso em: 20 nov. 2009. [12] Os comentários de Alexandre Garcia no “Bom Dia Brasil” do dia 6 de outubro de 2009 podem ser vistos no YouTube. S/d. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=hzWS7hiC6L4&feature=related. Acesso em: 20 nov. 2009. [13] O manifesto em defesa do MST pode ser lido na íntegra http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,intelectuais-fazem-manifesto-contra-cpi-domst,455561,0.htm. Estadão, S/d. Acesso em: 21 dez. 2009.

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[14] Não estamos desconsiderando a importância e as particularidades da discussão em outras arenas, mas tomaremos esta como referência enquanto estratégia metodológica para o artigo.

[15] YouTube, S/d. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=yxe0fopHJa0&feature=related e http://www.youtube.com/watch?v=dIHwfzSqxSw. Acesso em: 8 dez. 2009. [16] Link 1: http://www.youtube.com/watch?v=RhDsx2BjfYw&feature=related e Link 2: http://www.youtube.com/watch?v=PZkduOVwpoI&feature=related. Youtube, S/d. Acesso em: 22 nov. 2009.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELEUZE, G. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 2007. pp. 01-156. DEWEY, J. Art as experience. Nova Iorque: Perigee Books, 1980. GUIMARÃES, C.; LEAL, B. S. “Experiência estética e experiência mediada”. In: InTexto, Porto Alegre/RS, Vol. 2, 2008, pp. 01-14. LANA, L.; FRANÇA, R. “Do cotidiano ao acontecimento, do acontecimento ao cotidiano”. In: E-Compós, Brasília/DF, Vol. 11, nº 3, 2008, pp. 01-13. LEAL, B. S. “Reflexões sobre a imagem: um estudo de caso”. In: E-Compós, Brasília/DF, Vol. 5, 2006, 13 p. MENDONÇA, R. F. “Movimentos sociais como acontecimentos: linguagem e espaço público”. In: Lua Nova, São Paulo/SP, nº 72, 2007, pp. 115-142. QUÉRÉ, L. "L’espace public comme forme et comme événement". In: JOSEPH, I. (Org.). Prendre place. Espace public et culture dramatique. Colloque de Cerisy: Association des Amis de Pontigny-Cerisy/Éditions Recherches, 1995. _______. “Entre facto e sentido: a dualidade do acontecimento”. In: Trajectos: Revista da comunicação, cultura e educação, Lisboa, nº 6, 2005, pp. 59-74.

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