Intelectuais e a Formação de um Consenso Nacional no Estado Novo (Intelectuals and the Formation of a Nacional Consensus during the _Estado Novo_)

July 9, 2017 | Autor: Luiza Moreira | Categoria: Brazilian Studies, Brazilian History, Brazilian Literature
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FLH 5292: “História e Literatura: Intelectuais e a Formação do Consenso Nacional” Professor Visitante: Luiza Franco Moreira (State University of New York, Binghamton) Terça-feira das 14 às 18 horas, sala 19 do prédio de História. 16/10 a 4/12 Cronograma: I.

Aula 1 – Pressupostos da história da literatura: uma perspectiva interdisciplinar para a abordagem de texto e contexto O problema de apreender a relação entre texto e contexto corresponde a uma preocupação central da história da literatura. Para discuti-lo, será produtivo buscar uma abordagem que combine as perpectivas dos Estudos Literários e da História. Encontramos uma reflexão sistemática sobre a questão na obra crítica de Antonio Candido. Em particular, os ensaios sobre o romance naturalista reunidos em O Discurso e a Cidade (1993) ilustram estratégias de interpretação que mostram como os textos literários refratam ideologias políticas, e até lhes expõem as contradições. Por outro lado, os ensaios reunidos em History, Rhetoric, and Proof, nos quais o historiador Carlo Ginzburg se dirige à teoria literária contemporânea, elaboram algumas categorias, como prova e inferência, que permitem reconstruir contextos históricos amplos a partir de uma documentação fragmentária.

II.

Aula 2 – O jornal A Manhã: contextos e projetos. O jornal diário carioca A Manhã se identificou com correntes políticas diversas ao longo dos anos, desde a década de 20 até a de 50. Entre 1941 e 1944, como uma das Empresas Incorporadas do Patrimônia da União, o jornal foi parte integrante do aparato de propaganda do Estado Novo. Nesse periodo, o poeta Cassiano Ricardo (1898-1974) ocupava a sua direção. Cassiano conseguiu atrair para o jornal escritores que hoje reconhecemos como figuras fundamentais da literatura brasileira no século XX, como Manuel Bandeira e Cecília Meireles, e que entretanto nunca assumiram diretamente posições varguistas.

III.

Aula 3 – Pressupostos para o estudo dos intelectuais de A Manhã: Consenso e dissidência no Estado Novo. Para compreender as várias maneiras como tais escritores participaram de um jornal de propaganda varguista, é útil lançar mão do conceito gramsciano de hegemonia. Para Gramsci, o poder do estado tem um aspecto duplo, combinando a força de persuação que institui o consenso social com a força bruta da coerção física. Este teórico sustenta que os intelectuais desempenham um papel decisivo na esfera cultural, contribuindo para o

estabelecimento da hegemonia. Esta concepção dinâmica e flexível abre caminho para apreender as maneiras diversas e historicamente variáveis como os escritores que participavam de A Manhã se relacionaram com o Estado Novo, auxiliando na formação do consenso social, mas também resistindo às pressões do governo em momentos de conflito surdo. IV.

V.

Aula 4 – A Seção Panamericanista “Pensamento da América” (19411944) e seus contextos Entre 1941 e 1943, o escritor Ribeiro Couto dirigiu “Pensamento da América,” uma seção cultural de A Manhã que buscava divulgar a literatura das Américas em traduções bem cuidadas. Notam-se dois momentos distintos na atividade de Ribeiro Couto como editor. Entre agosto de 1941 e 8 de janeiro de 1942, “Pensamento da América” publicou principalmente textos literários hispano-americanos e, ainda, de preferência o trabalho de escritores anti-fascistas, que haviam apoiado a a República durante a Guerra Civil espanhola. (Data deste primeiro periodo a publicação de um texto de Borges pela primeira vez no Brasil: o poema “Pátio”, traduzido por Manuel Bandeira.) Entretanto, a partir de 22 de janeiro de 1942, “Pensamento da América” passa a publicar textos jornalísticos sobre história e geografia das Américas, e a dar mais espaço aos Estados Unidos que à América Latina. Esta mudança de linha editorial coincide com o momento em que o Brasil rompe relações com os países do Eixo, no início de 1941, e se alinha aos Estados Unidos. Assim se definem ao menos dois contextos históricos pertinentes para a leitura desta seção cultural: os ecos da luta anti-fascista na Espanha no Brasil e na América espanhola, e a política externa brasileira no início da Segunda Guerra. Aula 5 - Leitura da poesia de temas políticos de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade no contexto dos anos 40 Manuel Bandeira preferia se apresentar como um poeta “menor” que não explorava temas da vida pública. Mesmo assim, dedicou à “emoção social” o poema “O Martelo”, publicado em um livro de 1940, Lira dos Cinquent’Anos. No contexto das posições anti-fascistas subjacentas à coluna “Pensamento da América”, para a qual Bandeira contribuía assiduamente, a imagem central deste poema pode ser lida como uma alusão ao comunismo. Este é tratado com simpatia pelo poema, mas bem de longe. O caso de Carlos Drummond de Andrade é diferente. É de reconhecida importância a poesia em que este explora temas políticos. Os poemas de A Rosa do Povo (1945), entre eles “Carta a Stalingrado”, tematizam a Segunda Guerra e deixam transparecer forte simpatia pela União Soviética; vários deles circularam em cópias datilografadas e mimeografadas durante o Estado Novo. Esses poemas pró-soviéticos não poderiam ter encontrado espaço no órgão oficial do governo. Apesar de ocupar o cargo de Chefe de Gabinete do Ministro Capanema na primeira metade dos anos 40, Drummond não foi contribuidor de A Manhã; publicou apenas alguns poemas no suplemento que este jornal dedicava à literatura brasileira, “Autores e Livros”.

VI.

Aula 6 – A Coluna “Professores e Estudantes”: Cecília Meireles como cronista da Educação no Estado Novo Cecília Meireles era responsável pela coluna sobre educação de A Manhã, para a qual escrevia também crônicas semanais. O tom que emprega neste jornalismo dos anos 40 é bem diferente da polêmica sarcástica que distingue o seu trabalho para a imprensa anos 30, na época em que defendia o movimento da Escola Nova. (Valéria Lamego discute o jornalismo de Cecília na época da Revolução de 30 em A Farpa na Lira.) Apesar do tom mais comedido que assume nos anos 40, esta escritora endereça críticas discretas mas bem claras às políticas educacionais do Estado Novo.

VII.

Aula 7 - Leitura da poesia de Cassiano Ricardo em Um dia depois do outro à luz de sua experiência como diretor de A Manhã. Manuel Bandeira reconheceu em Um dia depois do outro (1947) um ponto alto na poesia de Cassiano Ricardo, e uma mudança de direção também. O tom triste e pessoal destes poemas, compostos nos dois anos que seguiram a queda do Estado Novo, pode ser interpretado no quadro da decepção do poeta com os rumos da política brasileira e, ainda, como resultado de sua perda de um cargo de prestígio, como diretor de A Manhã.

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