Interpretando o lugar da Afurada na encruzilhada entre o passado, o presente e o futuro

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Interpretando o lugar da Afurada na encruzilhada entre o passado, o presente e o futuro1 José Portugal Pedro Quintela Quaternaire Portugal – Consultoria para o Desenvolvimento S.A. (Portugal)

Ao longo das últimas duas décadas tem-se assistido a um conjunto de intervenções de regeneração urbana em diversas cidades europeias e, muito em particular, à promoção de intervenções de requalificação e transformação das frentes marítimas urbanas. Portugal não tem sido alheio a estes processos, verificando-se, também entre nós, a realização de diversas intervenções de regeneração urbana que transportam profundas alterações de usos, hábitos, populações, actividades económicas e de lazer. Nesta comunicação, propomo-nos a reflectir sobre a intervenção de regeneração que tem vindo a ocorrer no lugar da Afurada e no projecto de criação de um Centro Interpretativo dedicado à memória (cultural, social, económica e ambiental) deste lugar. No processo de reflexão e programação de um novo espaço de memória importa pois equacionar o modo de conjugar e compatibilizar o património, as raízes históricas e identitárias do lugar da Afurada, das suas gentes e dos seus modos de vida tradicionais, com o conjunto de profundas transformações em curso (urbanísticas, culturais, económicas e sociais) neste território urbano ribeirinho em processo de regeneração. Serão assim apresentadas as principais linhas de força que caracterizam o projecto (em curso) de criação de um Centro Interpretativo do Património Cultural do Lugar da Afurada, discutindo-se a propósito o papel da chamada “nova museologia” na sua estruturação e os principais desafios que se colocam a um processo de construção deste projecto, num processo tanto quanto possível participado e apropriado pela população local. Palavras-chave: Regeneração Urbana; Nova Museologia; Património e Identidade.

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Nota prévia: O trabalho que se apresenta de seguida parte da elaboração de um Programa-Base de fundamentação da criação do Centro Interpretativo do Lugar da Afurada e sua posterior instalação, por encomenda, respectivamente, da APDL – Administração dos Portos do Douro e Leixões e do Parque Biológico de Gaia, EM.

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1. INTRODUÇÃO: BREVE PÉRIPLO TEÓRICO POR ALGUNS DOS PRINCIPAIS DEBATES CONTEMPORÂNEOS EM TORNO DOS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO E TRANSFORMAÇÃO DAS CIDADES, DA CULTURA, DO PATRIMÓNIO E DAS IDENTIDADES 1.1 CIDADES E CULTURA: GRANDES TENDÊNCIAS DE POLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO A viragem do último quartel do século XX para esta primeira década do século XXI confirmou definitivamente o papel absolutamente central que as cidades desempenham nas sociedades contemporâneas. De facto, é hoje já amplamente sabido que, sobretudo a partir de meados do século passado, se tem vindo a robustecer uma tendência para a crescente urbanização, marcada “sobretudo pela cadência acentuada a que crescem e se multiplicam as cidades nos países, sobretudo africanos e asiáticos, mais pobres ou em vias de desenvolvimento” (Fortuna, 2001: 3). No actual contexto de globalização económica, cultural e política e de desenvolvimento dos meios de comunicação e de transporte, onde se processam intensos fluxos (de capitais, informação e indivíduos), a cidade é o espaço onde, por excelência, se cruzam tais fluxos, colocando efectivamente novos desafios à sua afirmação num cenário de rápida e permanente mudança – e assumindo uma crescente importância na agenda política (central e local) de cada país. Vivemos um período histórico algo contraditório, profundamente marcado por discursos que, simultaneamente, advogam a crise e a capacidade de regeneração (social, económica, etc.) das cidades, levando-as a assumir “um protagonismo crescente enquanto actores políticos, económicos e culturais” (Peixoto, 2000: 1). E é justamente no plano simbólico que, como nota Paulo Peixoto, se joga uma parte relevante do esforço de busca de protagonismo e de afirmação dos espaços urbanos na captação destes fluxos, assumindo crescente importância o modo como as cidades “se representam e são representadas”, difundindo “imagens de expansão, de estagnação e de declínio” (idem: 3). Efectivamente, as últimas três décadas têm sido bastante profícuas na diversificação de estratégias mobilizadas pelas diferentes cidades para se posicionarem face a esta nova lógica global, que se caracteriza por uma forte concorrência inter-urbana, obrigando políticos, AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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planeadores e gestores urbanos a serem cada vez mais criativos, procurando encontrar novas vias, mais ou menos sustentáveis, que permitam às suas cidades diferenciar-se e destacar-se face às restantes e, deste modo, procurar encontrar e, se possível, multiplicar as ocasiões que lhes permitam aparecer na cena mediática, realçando as suas “vantagens competitivas” e procurando atrair e fidelizar diferentes segmentos de “públicos” consumidores destes espaços urbanos (residentes, actuais e potenciais; turistas e visitantes, investidores; etc.). Embora com um certo atraso, Portugal não tem estado alheio a estas tendências contemporâneas, podendose encontrar inúmeros exemplos nas estratégias da intervenção pública das nossas cidades. Não havendo espaço para procedermos neste breve enquadramento inicial a uma revisão exaustiva das diversas estratégias e medidas tomadas em Portugal pelo poder central e, sobretudo, pelos governos locais, valerá a pena centrar-nos no papel de destaque que tem sido atribuído ao sector cultural no quadro desta nova geração de políticas para as cidades. Não constitui propriamente uma novidade que as cidades constituam espaços privilegiados para o desenvolvimento da arte e da cultura – esta é, na verdade uma das mais vincadas características das cidades modernas (Evans, 2001). Mas pode-se, contudo, afirmar que hoje estamos efectivamente perante uma nova geração de políticas urbanas que se caracteriza por uma peculiar combinação de elementos culturais (desde logo, o património histórico, material e imaterial, mas também formas de expressão artística contemporâneas, mais ou menos consagradas e reconhecidas), com outros sectores como o turismo, a economia e o planeamento e ordenamento urbanístico, reconfigurando profundamente os espaços e as vivências económicas e sociais nas cidades. Desta nova combinação resulta, em suma, o que Sharon Zukin apelida de “economia simbólica do património” a que se assiste em muitas das cidades ocidentais contemporâneas, intimamente associada à geração de fluxos turísticos e actividades de lazer e cultura – “culture is more and more the business of cities – the basis of their tourist attraction and their unique, competitive edge. The growth of cultural consumption (of art, food, fashion, music, tourism) and the industries that cater to it fuels the city’s symbolic economy, its visible ability to produce both symbols and space” (Zukin, 1995: 2).

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1.2 NOVAS CONCEPÇÕES DE CULTURA, PATRIMÓNIO E DO PAPEL DOS AGENTES

E

INSTITUIÇÕES

CULTURAIS

NOS

PROCESSOS

DE

DESENVOLVIMENTO DOS INDIVÍDUOS E DAS COMUNIDADES A nova relevância e centralidade das questões de cultura em contexto urbano, encontrase evidentemente associada a um outro conjunto de importantes processos de mudança social que, como é evidente, de forma alguma se podem delimitar e esgotam na sua progressiva afirmação no quadro das actuais políticas de desenvolvimento urbano, conforme vimos antes. De facto, existem outros níveis (agentes, territórios, contextos) em que, de diferentes formas, também se tem vindo a manifestar uma dinâmica de crescente centralidade política, social e económica do sector da cultura. Importa assim, ainda que de uma forma breve, recordar que, desde a década de 1970, se assiste a um sucessivo alargamento dos conceitos de cultura e de património, acentuado por profundas críticas a visões dicotómicas de cultura – transmitidas através de noções como “alta” e “baixa” cultura, ou cultura “erudita”, cultura “popular” e cultura de “massas” –, afirmando-se a percepção de que os consumos culturais dos indivíduos são crescentemente complexos, decorrentes da multiplicidade e hibridismo que, hoje em dia, caracterizam os nossos estilos de vida. Paralelamente, esta discussão foi acompanhada pela revisão das concepções mais restritivas do conceito do património cultural, avançando-se com novas noções – como, por exemplo, as de património “imaterial”, “intangível” ou “natural”, entre outros – que são acompanhadas, no plano legislativo, pela criação de uma série de normas internacionais de protecção e conservação dos diversos tipos de património. Dá-se ainda lugar a um intenso debate em torno do papel a assumir pelos diferentes agentes, instituições e equipamentos culturais, num contexto global que se caracteriza por uma crescente complexidade e pela permanente e acelerada mudança. Sem procurarmos entrar noutros domínios de uma discussão que é ampla, diversificada e complexa, gostaríamos apenas de aqui salientar as novas exigências que hoje se colocam às instituições, agentes e instituições culturais, resultado de um crescente AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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reconhecimento – pelo menos no plano retórico – da grande importância da cultura enquanto “instrumento” ao serviço da integração e coesão social e do fomento de visões mais “abertas” para os múltiplos traços que caracterizam a vida social contemporânea, podendo dar um contributo especialmente importante em alguns espaços urbanos contemporâneos que se caracterizam por uma diversidade (ao nível socio-económico certamente, mas também em termos culturais, étnicos, religiosos, por exemplo) cuja gestão e negociação entre os actores se evidencia muitas vezes complexa e difícil.

1.3 AS TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO DOS MUSEUS: UMA “NOVA MUSEOLOGIA” PARA NOVAS EXIGÊNCIAS E DESAFIOS É neste contexto que se assiste a um amplo debate em torno do papel social a assumir pelos museus na contemporaneidade que, atendendo ao âmbito específico do presente artigo, interessa, ainda que brevemente, analisar. Se tradicionalmente a preservação e conservação de espólios patrimoniais era encarada como o papel fundamental e a desempenhar pelo museu, a verdade é que ao longo das últimas décadas tem-se assistido a uma alteração desta concepção, obrigando a um reposicionamento dos museus perante as suas comunidades. De facto, tem-se vindo a assistir a um progressivo alargamento da missão e objectivos programáticos dos museus, resultado de novos desafios decorrentes da crescente importância da integração nos seus programas de acções direccionadas para questões educativas, sociais e cívicas (Hooper-Greenhill, 1994). No quadro desta busca de novas abordagens às temáticas específicas de cada museu, tem-se verificado em muitas estruturas um aprofundamento de metodologias de educação não-formal, através do recurso a novas ferramentas pedagógicas (com óbvio destaque para a multiplicidade de possibilidades que as tecnologias de informação e comunicação hoje disponibilizam aos serviços educativos dos museus) e ainda para práticas recorrentes e cada vez mais generalizadas de convite ao envolvimento e à participação, a diversos níveis, no trabalho do museu, de diversos agentes e instituições (nomeadamente escolas, famílias, mas também artistas, investigadores e centros de estudos universitários, e ainda outras entidades, de âmbitos e natureza muito diversos). AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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É também neste contexto alargado de preocupações que podemos inserir uma série de novas abordagens ao projecto museológico, genericamente apelidadas de “nova museologia” (Vergo, 1989), e que vêm justamente alertar para a importância do trabalho conjunto do museu com a comunidade em que se encontra inserido. É o caso da proposta do “ecomuseu”, introduzida em inícios de 1970 por autores como Huges de Varine que, partindo das experiências dos museus ao ar-livre, desenvolvidas em alguns países nórdicos europeus, durante as décadas de 50-60, vem chamar a atenção para a importância do museu desenvolver ferramentas capazes de abordar de um modo mais profundo o território, o património e a população em que se encontra inserido. Por um lado, propõe-se que a afirmação identitária e territorial de uma dada comunidade (local ou regional) se torne no objecto central do projecto museológico, assumindo o Museu um “papel motor” de diferentes componentes da realidade local e regional presente, partindo da diversidade de recursos e de actividades que possa integrar – recursos naturais, recursos culturais, património edificado e habitat, saberesfazer tradicionais, capacidades de inovação, actividades a promover e serviços a prestar. Afirma-se, por outro lado, a necessidade do envolvimento activo da população local no projecto museológico – não só no momento do desenho da proposta, mas também na sua dinamização quotidiana. Subjacente a esta nova abordagem da museologia está o intenso desejo que o museu assuma um papel pedagógico activo, intimamente associado a uma forte participação cívica. Autores como Varine propõem ainda uma desafiante concepção da população local enquanto, simultaneamente, o principal dinamizador do museu e o principal público do “seu” museu, cabendo ao museu o decisivo papel de estimulo a tais dinâmicas, numa permanente aproximação, diálogo e reajustamento do projecto museológico às necessidades e expectativas da comunidade em que se encontra inserido. Este trabalho do museu com a comunidade poderá constituir, assim, um poderoso contributo para o seu desenvolvimento político e social, ao mesmo tempo que abre caminhos para a sua afirmação identitária e territorial.

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Finalmente, a abordagem da “ecomuseologia” propõe ainda uma concepção do museu enquanto um caminho de abertura da comunidade e um factor de promoção da cultura local e/ou regional, numa lógica de desenvolvimento integrado e de reforço da coesão social da comunidade, de que se procura, simultaneamente, garantir a sustentabilidade territorial futura. Paralelamente, estas novas agendas para os museus são ainda acompanhadas por crescentes preocupações em torno da sustentabilidade económica das próprias instituições, exigindo novos modelos de gestão (Moore, 1994). A verdadeira proliferação de museus, cada vez mais especializados, a que se tem assistido nos últimos anos, coincide com uma estabilização e com a, cada vez mais frequente, redução dos apoios públicos concedidos a estas tipo de estruturas, criando a necessidade de encontrar novas modalidades de financiamento das suas actividades. Neste quadro, também as instituições museológicas se têm sido obrigadas a “competirem” entre si, procurando assim obter uma maior visibilidade para as suas actividades, capazes de atrair e fidelizar públicos e de obter financiamentos mais significativos (possibilitandolhes maiores recursos humanos e físicos, bem como uma programação mais consistente e apelativa). Este conjunto de alterações profundas levam a que assumam uma crescente importância novas ferramentas de gestão cultural, num esforço de dar resposta às novas questões e desafios que se colocam perante os programadores dos museus. Em resultado deste conjunto de complexos factores de mudança de paradigma museológico, que apenas sucintamente enumeramos, verifica-se que os museus se têm vindo a tornar, cada vez mais, num campo de trabalho multidisciplinar, exigindo contributos provenientes das diversas áreas do saber (das ciências naturais e exactas às ciências sociais e à gestão, marketing e comunicação, passando ainda pelas disciplinas artísticas), dando um claro sinal da crescente complexidade dos desafios e obrigações que se colocam actualmente perante os museus. Mais do que nunca, o dinamismo deste tipo de equipamentos culturais encontra-se intimamente relacionado com o dinamismo e inovação das suas equipas técnicas, exigindo abordagens cada vez mais criativas e multidisciplinares, capazes de potenciar o museu e o seu papel social.

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É importante termos em linha de conta este (breve e certamente incompleto) enquadramento teórico, pois ajuda-nos a melhor compreender o caso concreto sobre o qual pretendemos reflectir neste artigo: a criação de um novo equipamento cultural numa pequena e histórica freguesia de Vila Nova de Gaia – São Pedro da Afurada – que se localiza justamente numa frente marítima urbana que tem vindo a sofrer uma importante intervenção de regeneração urbana (que inclui a criação de novos espaços públicos, novas áreas comerciais e residenciais e ainda novos ou renovados espaços e equipamentos dedicados à fruição ambiental, cultural e de lazer) que potencialmente poderá vir a gerar alterações, mais ou menos, profundas nos usos, hábitos desta comunidade, alteração de populações residentes, incremento de actividades económicas, lúdicas e culturais. A reflexão que nos propomos a desenvolver, ao longo das páginas seguintes, prende-se justamente com a análise e discussão do projecto de criação de um novo equipamento cultural, concebido de raiz para o efeito, que se dedicará à preservação dos patrimónios e da memória (cultural, social, económica e ambiental) do Lugar da Afurada e da sua comunidade. Como veremos, o objectivo deste novo equipamento cultural – que se poderá provisoriamente designar por Casa da Memória do Lugar da Afurada – será procurar, a partir da construção de um olhar específico (que, se deseja, crítico e polifacetado, porque composto de múltiplos e diversificados pontos de vista) sobre esse mesmo passado(s) e também sobre o presente, delinear questões, identificar ambições e expectativas e projectar novos desafios para o futuro da Afurada e da sua comunidade. No processo de reflexão e programação de um espaço de memória importa pois equacionar o modo de conjugar e compatibilizar o património, as raízes históricas e identitárias do lugar da Afurada, das suas gentes e dos seus modos de vida tradicionais, com o conjunto de profundas transformações em curso (urbanística, cultural, económica e social) neste território urbano ribeirinho em processo de regeneração. Serão assim apresentadas, de seguida, as principais linhas de força que caracterizam o projecto (em curso) de criação de um Centro Interpretativo do Património Cultural do Lugar da Afurada, discutindo-se o papel da chamada “nova museologia” na estruturação deste projecto e procurando identificar os principais desafios e obstáculos AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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que se colocam a um processo de construção deste projecto que, tanto quanto possível, deverá ser participado e apropriado pela população local.

2. SÃO PEDRO DA AFURADA: BREVES REFERÊNCIAS ACERCA DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA, SOCIAL E URBANÍSTICA DE UM LUGAR HABITADO 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E URBANÍSTICA DA OCUPAÇÃO DO LUGAR Situada na margem esquerda do Rio Douro, próximo da Foz, São Pedro da Afurada é a mais recente e mais típica freguesia do Concelho de Vila Nova de Gaia. Ocupa uma área de 168,7 km2 e tinha, em 2001, cerca de 3500 habitantes (INE, Censos 2001). Embora a freguesia, bem como a paróquia, de São Pedro da Afurada tenham sido criadas apenas em 1952, é possível encontrar uma primeira identificação documentada acerca da Afurada, enquanto localidade, na carta de foral de Gaia, concedida pelo rei D. Afonso III, datada de Setembro de 1255, e na qual constam algumas referências relativas às “abargas” da Afurada como lugar de pescarias: “Idem mando que os pescadores da minha vila de Gaia pesquem nas minhas abargas da Afurada e do Areínho [in méis varguis de Furad et de Arino]” (Afonso, Guimarães e Prata, 1993: 20-21). O sítio era então designado por Furada. A designação “Furada” aparece nos forais de 1255, 1288 e 1518, sempre com alusões feitas a actividades piscatórias praticadas nesse lugar. Nas Memórias Paroquiais de 1758 continua a ter esta designação que se mantém até meados do século XIX quando o nome passa a ser Afurada. O foral de 1255 identificava a Afurada, conjuntamente com o Areínho, como lugares de pescarias, que estariam ao serviço do abastecimento de peixe das urbes de Vila Nova de Gaia e Porto. Efectivamente, parece ter sido apenas no século XIX e, principalmente, a partir da segunda metade de 1800, que o lugar da Afurada passou a ser reconhecido como uma comunidade piscatória. Até então as referências históricas que certifiquem a existência de uma comunidade nesse lugar são muito dispersas, e embora existam testemunhos de fixação de habitação nesse lugar, deveria tratar-se de um núcleo de habitantes bastante pequeno. Neste sentido, Marta Oliveira afirma que “a Furada de Baixo surge como um AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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lugar de convergência de um conjunto de actividades de pescaria e agro-marítimas, desenvolvidas pelas populações ribeirinhas das duas margens do Douro. Até meados do século XIX, os habitantes locais que se dedicavam à pesca seriam talvez uma minoria pobre e assalariada, que desempenharia tarefas locais subalternas, na dependência dos pescadores de outras zonas que aqui vinham exercer a sua actividade.” (Oliveira, 2002: 7). Também Fernando Jorge Teixeira dos Santos, por seu turno, salienta as especificidades que tornam a Afurada um lugar distinto de outros espaços e comunidades existentes no concelho de Gaia. “Desde tempos recuados, por motivos geográficos e sociais, [a Afurada] constituiu um povoado isolado e marginal do concelho de Gaia. Se, relativamente aos primeiros, grande parte da responsabilidade caberá à própria topografia, nomeadamente ao pendor da vertente do Douro em que se instala, voltada de costas para a sede e restante território municipal, sendo a via fluvial o principal elo de ligação com o espaço exterior, no que toca aos aspectos sociais e, logo culturais, a principal actividade económica em que a sua população se ocupa será a principal responsável (…) Com efeito a pesca e a comercialização do pescado (…) nada tinham em comum com a vida dos munícipes gaienses, predominantemente agrícola os das áreas exteriores à sede municipal e, industrial e de comércio e serviços, todos quantos labutavam nesta e nas suas imediações.” (Santos, 1997: 95-97). O processo de transformação da Afurada encontra-se estreitamente associado a um conjunto de operações urbanísticas que, no final do século XVIII, visaram introduzir vários melhoramentos para a zona da barra do Douro. Os projectos incluíam a construção de molhes na barra “definindo canais de navegação e fazendo a regularização das margens, com a construção de aterros e de enrocamentos (…) A pedra extraída das fragas da Arrábida (…) é destinada à construção de enrocamentos nas margens do rio” (Oliveira, 2002: 21-22). Logo nos primeiros anos do século XIX, formou-se no lugar da Afurada de Baixo uma plataforma de aterro construída sobre terreno arenoso. Existiria para esse local um projecto de exploração agrícola, uma faixa de terras de lavradio. Contudo, esses terrenos acabaram por ser utilizados para criar uma urbanização que viria a acolher um conjunto de famílias provenientes do litoral: Espinho, Ovar e Murtosa. Este processo de AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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progressiva conquista de terreno ao rio, através da deposição de entulhos, continuou durante todo século XIX. A construção da Ponte de D. Luís, e os entulhos procedentes da obra, por volta de 1880, permitiram a abertura de novas ruas (Oliveira, 2002: 32). A fixação de uma comunidade piscatória em permanência, e em número significativo, origina então a criação de alguns equipamentos públicos, designadamente, a creche para acolher órfãos do naufrágio de Fevereiro de 1892 (inaugurada em 1893), a capela votada a São Pedro (1894) e ainda o chafariz para abastecimento da água (188?). É portanto nesta altura que se poderá afirmar que a estrutura da povoação fica concluída. No extremo Norte foi edificada a Capela (onde actualmente é a Praça de São Pedro), lugar onde acostariam os barcos depois da pesca e onde estava um posto alfandegário, tornando-se esta a zona central da comunidade piscatória. A partir daí, na direcção Sul, formavam-se as ruas com casas de duas frentes, dispostas “costas com costas”. A Sul, foram construídos os barracões de aprestos de pesca, nos terrenos livres de praia estendiam-se as redes e faziam-se reparações de barcos. Em 1945, a Afurada é descrita no Jornal O Comércio do Porto (de 14 de Junho) como “uma comunidade à beira-rio, onde vive uma das mais típicas e numerosas colónias piscatórias do Norte”. Dividia-se então em Afurada de Cima e Afurada de Baixo. A Afurada de Baixo reduz-se a 4 filas de casas paralelas ao rio Douro, separadas por três ruas que se iniciam na praceta de São Pedro e terminam num largo, a poente, onde se situa a escola, o mercado e o lavadouro público conhecido por tanque de Santarém. Nas ruas principais da Afurada de Baixo as casas eram geralmente cobertas de mosaico, com rés-do-chão e 1º andar, e denotavam um bom estado de conservação (muitas delas foram reconstruídas e melhoradas). Predomina a função de habitação, embora existissem diversos estabelecimentos comerciais. Já na Afurada de Cima as casas não se distribuem com este equilíbrio e apresentam sinais de maior degradação (Costa, 2003). O Bairro dos Pescadores é construído em 1947 no lugar das Chãs, próximo da Casa dos Pescadores. A decisão para a sua construção surge para fazer face ao problema de sobrelotação da habitação na Afurada de Baixo. Há relatos de alguma resistência da população que não queria que o bairro fosse construído tão longe do rio e dos apetrechos de pesca. Muitas das casas acabaram por ser ocupadas por famílias que não AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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se dedicavam à pesca. O conjunto foi inaugurado pelo Chefe de Estado a 28 de Maio de 1952, tomando o bairro o nome de General Craveiro Lopes. Anos mais tarde, com a construção da Ponte da Arrábida, entre 1957-1963, desencadear-se-ão uma série de transformações viárias que também produziram uma profunda alteração do espaço da Afurada. Para além disso, importa ainda referir que, ao longo dos anos seguintes foram sendo aqui edificados outros equipamentos públicos, de maior ou menor dimensão, que foram fundamentais para a consolidação urbana do lugar da Afurada. De seguida, identificamse alguns dos mais relevantes:  O Mercado de peixe (1935), construído no lado Sul do povoado. Localiza-se na proximidade do chafariz (que fornecia água encanada à população), do largo da feira e dos sanitários públicos. Veio substituir o local de venda de peixe, anteriormente situado nas proximidades da capela, no extremo oposto do povoado, permitindo uma ligação mais favorável com as comunidades mais interiores de Gaia.  A Casa dos Pescadores da Afurada (1946/7), um projecto de Camilo Paiva Soares, resulta de uma política do Estado Novo que promovia a fundação de delegações locais da Junta dos Pescadores nos locais piscatórios. Mais tarde, depois de ter sido determinado que na Capitania do Porto devia existir apenas uma casa de Pescadores, a da Afurada passou a ser a Casa de Pescadores da região do Porto.  A Lota (1952), que será construído no lado Sul, nas imediações do mercado.  A nova igreja (1955). Do projecto fez parte o aproveitamento de parte das paredes da antiga fábrica de guano, propriedade da Junta Central da Casa dos Pescadores. Para as obras contribuíram os barcos de pesca à sardinha matriculados na capitania do Porto do Douro, com 10 centavos por cada cabaz de sardinha. O projecto de arquitectura foi oferecido pelo Arquitecto Carlos Ramos, então Director da Escola Superior de Belas Artes do Porto. O arquitecto lançou o concurso do projecto entre os arquitectos finalistas. Foram encomendadas 9 imagens, o crucifixo e a Via-sacra a Altino Maia. As obras foram concluídas no espaço de um ano, tendo sido a igreja inaugurada a 10 de Julho de 1955.

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 O novo Mercado (1976), um projecto de Manuel Fernandes de Sá, foi uma obra de arquitectura marcante que acompanhou uma reordenação do espaço público nessa área. Nessa área viria a ser construída a Junta de Freguesia. Por esta altura, o pólo central da Afurada deslocava-se da parte Norte, onde existira a primária capela e embarcadouro, para a parte Sul. Mais recentemente, importa destacar um outro conjunto de transformações urbanas que o lugar da Afurada tem vindo a sofrer, resultado da intervenção do Programa Polis2 em Vila Nova de Gaia, iniciada em 2001 e com conclusão prevista para 2010. O Programa Polis Gaia constitui uma vasta operação de requalificação urbana e ambiental que abrangeu toda a zona ribeirinha do concelho, encontrando-se a área de intervenção delimitada entre a Ponte de S. João e o Cabedelo e na orla marítima até à rua do Thom. No âmbito desta intervenção, importa começar por destacar que um dos principais eixos do Polis Gaia é justamente a “Reestruturação Urbana da Afurada” Tendo em vista a revitalização do núcleo da freguesia, esta intervenção incluía a ampliação e requalificação do porto de pesca, a construção de novos armazéns de apoio à actividade piscatória, a beneficiação dos espaços públicos e seu enquadramento turístico, preservando as suas características tradicionais e ainda a construção de um Centro Cívico da Afurada (um espaço de encontro, lazer e convívio dirigido aos séniores, um equipamento bastante importante, atendendo às características da população residente nesta freguesia, cada vez mais envelhecida). Para além da intervenção na Afurada, o Polis Gaia contempla ainda outras importante intervenções, tais como a “requalificação da frente ribeirinha” (que inclui a construção de uma ciclovia junto ao rio Douro, tendo em vista favorecer o contacto e o usufruto público do rio, bem como o desenvolvimento de novos hábitos e actividades de lazer), a “qualificação e criação de extensas áreas verdes”, e o “desenvolvimento de operações de ordenamento de áreas edificadas, ou ainda por edificar, com o objectivo de promover 2

Promovido pelo Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, em parceria com as Autarquias Locais, o Programa Polis visa “melhorar a qualidade de vida nas cidades através de intervenções nas vertentes urbanística e ambiental, aumentando a atractividade e competitividade de pólos urbanos que têm um papel relevante na estruturação do sistema urbano nacional”. O objectivo do Polis é desenvolver um conjunto de intervenções urbanas que possam ser consideradas exemplares. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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a sua integração urbana e paisagística na frente ribeirinha” (sendo importante destacar que um dos epicentros destas acções se localiza na Afurada, sendo que o outro pontochave é a encosta no centro histórico de Gaia, junto às ruínas da indústria conserveira).

2.2

A

IMPORTÂNCIA

HISTÓRICA

E

SIMBÓLICA

DA

ACTIVIDADE

PISCATÓRIA NO LUGAR DA AFURADA Desde a Idade Média que comer peixe se tornou um hábito em Portugal, resultado, em grande medida, das imposições religiosas que marcavam o ano cristão, criando uma série de momentos de abstinência obrigatória, que impunham o peixe como alimento permitido em substituição da carne. Por outro lado, e atendendo ao enquadramento territorial de Gaia e Portugal, junto à faixa costeira do Norte Litoral, esta zona foi, desde esse período, um dos locais privilegiados para a prática de pesca. Neste sentido, Teresa Soeiro e Francisco Calo Lourido afirmam que “é durante o séc. XIII que vamos assistir ao desenvolvimento de muitas povoações marítimas do Norte, partindo quase sempre de homens de terra que, de início apenas esporadicamente se dedicavam a fainas agrícolas. (…) O tramo final do Douro, polinucleado mas encabeçado pela cidade do Porto (…) o burgo e as terras limítrofes dedicavam-se intensamente ao comércio, de cabotagem e internacional, mas também à pesca de grande variedade de espécies, tanto nas águas próximas quanto em jornadas mais longas, como as que levavam, diz-se no foral de 1255, os pescadores de Gaia à Galiza” (Soeiro e Lourido, 1999). A actividade piscatória da vila medieval de Gaia concentra-se nesta altura nas “abargas” Afurada e de Areínho, com recurso à técnica das redes de tresmalho (Prata, 1983: 41-50). Recorrendo aos forais de Gaia (1255 e 1258) ficamos a saber que, durante o período medieval, os pescadores da vila de Gaia apanhavam essencialmente sardos, toninha e golfinhos, utilizando para tal diversas técnicas ou “artes” – abargas (ou vargas) e tresmalhos, para os sáveis (a grande pesca do Douro, nas palavras de Raúl Solla Prata) e lampreias; redes varredouras, lenções, gualritos dobrados, tarrafas e também covãos, nassas e tesões, para peixotas, congros, sardinha, ruivos, pargos, bordalos (robalos) e lardos (toninhas) –, bem como embarcações de diferente tamanhos – as pinaças, as AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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barcas, os barcos e os baixeis (Fangueiro, 1987: 117-130). A pesca de longo curso realizava-se na costa da Galiza, durante longos meses, utilizando as “arribadas” para salgarem o peixe (predominantemente a pescada) (Prata, 1983: 41-50). Graças ainda às boas condições naturais do litoral Norte, desde a Idade Média que aqui se praticava a recolha de algas e de pilado utilizados como fertilizante nas terras. Também terá sido fruto destas práticas que muitas populações se acabaram por fixar nesta área do litoral (Soeiro e Lourido, 1999), sendo o lugar da Afurada um dos escolhidos para o efeito, conforme foi já anteriormente referido. Embora não existam referências documentais que confirmem esta prática antes do século XIX, existem contudo imagens do século XVIII que parecem ilustrá-la3, pelo que se estima que esta fosse já uma prática vinda de tempos medievais. Entre os séculos XV e XIX, foram-se verificando períodos de profunda crise no sector das pescas. Alguns historiadores culpam o governo dos Filipes e a consequente perda de soberania pela diminuição da produção pesqueira. Durante o século XV há incentivos régios para a retoma da prática da pesca e em 1518, no foral concedido a Gaia, D. Manuel determina alguns desses privilégios. Há referências concretas às pescas realizadas na Afurada onde é referida a pesca à lampreia (única espécie pela qual teriam que pagar direitos). Os documentos da época revelam a existência no rio de toninhas, golfinhos, enguias, solha, sável; e no mar de congros, pescada, ruivos e pargos. Durante o século XIX verificou-se a retoma da pesca e, em finais desse século, a Afurada dispunha já da maior frota pesqueira (cerca de 57% das da zona) em relação aos outros portos de pesca marítima e fluvial do Rio Douro: Foz, Porto e Valbom. Principalmente verificado ao nível da pesca costeira e fluvial (e não do mar alto). A Afurada tinha o maior número de embarcações e o maior rendimento, enquanto o maior número de tripulantes era o de Valbom. Um menor número de mão-de-obra nesta altura significa a introdução de barcos a vapor com redes de arrasto, que permitia um maior número de capturas e uma menor utilização de mão-de-obra. Em 1891 viveriam cerca de 800 pessoas na Afurada. Numa notícia de 4 de Janeiro de 1891, o Grillo de Gaya informava “Imagine-se que é uma população de 800 almas, só 3

Concretamente a Planta geográfica da Barra da Cidade do Porto, de T.S. Maldonado, de 1789.

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com um chafariz…e sem água”. Nesta época a grande maioria da população activa da Afurada dedicava-se à pesca. Foram registados 90 pescadores e dedicados à pesca e outras actividades de mar e rio, cerca de 20 indivíduos como calafates, barqueiros e talabartes. Em muito menor número aparecem pessoas dedicadas à agricultura, cerca de 6 (seareiros, moleiros, proprietários) e outras actividades como o artesanato e serviços4. Nos finais do século XIX a actividade piscatória era principalmente artesanal, com barcos a remo, vela ou à vara. Segundo o Relatório da capitania do Porto (1889), os peixes do rio Douro e do mar eram: enguia, lampreia, ruivaco, solha, sável, savelha, tainha, camarão-bruxo e camarão branco. Para além destes, conhece-se ainda a importância da prática da pesca do mexoalho na Foz do Douro. As três primeiras décadas do séc. XX marcam o período áureo da pesca do bacalhau. Aumenta o número de barcos e de pescadores, mas o número de pescado não acompanha este crescimento. No entanto, a partir de 1931, verifica-se uma acentuada quebra das frotas, os pescadores encontram novas ocupações na marinha mercante e emigração (Soeiro e Lourido, 1999). Existiram vários factores políticos que, sobretudo até à década de 40, influenciaram decisivamente a actividade piscatória – a implantação da República, a 2ª Guerra Mundial e o estabelecimento do Estado Novo. Durante a II Guerra Mundial, Portugal exportou um considerável número de conservas. Num terreno de Canidelo (Tintos), próximo da Afurada, foi implantada uma fábrica de conservas de sardinha (projecto do Arquitecto António Brito e Cunha) que iniciou actividade em 1942 e chegou a empregar cerca de 300 pessoas, a maioria eram mulheres. A sardinha era descarregada na Afurada. Como complementares da actividade da fábrica foram edificadas estruturas de apoio como o posto de tratamento de redes de pesca e o posto de energia eléctrica. O nome original era fábrica de Conservas de Manuel Pereira Júnior, mas era vulgarmente chamada de fábrica de Conservas da Afurada. Em 1957 trabalhavam apenas já cerca de 150 pessoas. Mudou de proprietários e em 1988 foi aberta falência.

4

Fonte: caderno eleitoral das eleições de deputados das Cortes em 8/04/1894, estando por isso excluídas as mulheres. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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Houve ainda no lugar da Afurada outras indústrias ligadas à actividade piscatória, como é o caso da Fábrica de guano, que se dedicava à transformação de restos de peixe em fertilizante agrícola. Esta era uma actividade muito importante, conforme vimos já anteriormente, tendo contribuído para a fixação de populações neste território. Outra actividade comercial industrial relevante estava ligada à construção e reparação naval. Existem referência à existência no cais do Cavaco de três estaleiros, na Afurada de dois estaleiros e em São Paio (Canidelo) de um estaleiro (Pereira Júnior), que se encontrava localizado próximo de uma conserveira; tendo sido aí construídos os barcos desta fábrica de conservas. Existiriam certamente estaleiros mais pequenos para reparação dos barcos pequenos dos pescadores, sendo que alguns eram reparados pelos próprios pescadores. Com o Estado Novo, durante o período de 1934 a 1939, houve uma tentativa de implantar na Afurada um modelo organizativo inspirado no corporativismo. Na década de 50 do século XX, Celeste Malapique refere que a pesca era actividade quase exclusiva, ocupava cerca de 1000 homens distribuídos por quatro tipos de pesca: bacalhau, traineira, bugiganga e sável. Para além dos pescadores artesanais (camaradas e arrais) que mantiveram a sua actividade, muitos emigraram nesta época como tripulantes em navios estrangeiros de companhias alemãs e holandesas. Como foi dito antes, em 1952 foi criada a freguesia da Afurada, a 9 de Fevereiro pelo Decreto-Lei nº 38 637. Devendo a sua origem à actividade piscatória e tendo-a visto crescer até meados do século XX, este aglomerado confrontou-se, a partir daquela altura, com o seu declínio e consequente alteração progressiva do tecido sócioprodutivo. Neste contexto, Matosinhos assumiu-se como centro polarizador da actividade, tendo-se assistido, desde os anos cinquenta, a uma migração progressiva de alguns segmentos da actividade para este importante porto de pesca que, possuía melhores infra-estruturas e oferecia maiores garantias de continuidade aos armadores. Por outro lado, o movimento de emigração torna-se notório a partir da década de 60, motivado pelo fraco rendimento da pesca artesanal e pela quebra da pesca do bacalhau. Alguns dos bacalhoeiros tornaram-se emigrantes, passando a usufruir dos maiores rendimentos (Costa, 2003). AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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Em 1998 existiam cerca de 300 pescadores na Afurada, repartidos por três actividades de pesca: traineira, bugiganga e sável/lampreia. Um último aspecto que importa ainda abordar diz respeito às Festas de São Pedro da Afurada. Trata-se de um momento de celebração religiosa e popular que tem associada uma dimensão simbólica importante, evidenciando a grande devoção desta comunidade de pescadores ao seu santo padroeiro. A primeira festa aconteceu em 1908 aquando da construção da capela e é, desde então, a Comissão Administrativa da Capela responsável por realizar anualmente as Festas de S. Pedro da Afurada. Realizam-se entre 29 de Junho e o 1º Domingo de Julho, sendo habitualmente colocadas na Praça de São Pedro diversas imagens religiosas associadas às práticas da pesca: Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora do Carmo (Padroeira dos Homens do Mar), São Miguel o Arcanjo e, claro está, São Pedro (Padroeiro dos Pescadores). A Festa atinge o seu auge, aquando da saída da procissão, cujos andores transportam imagens de Santos e Santas de tamanho natural seguidos pelos seus fiéis, devidamente trajados com vestes tradicionais de pescadores, e ainda por muitos cumpridores de promessas, a maior parte das vezes descalços. Ao passarem em frente ao rio Douro, procede-se à cerimónia de bênção dos barcos. Para além das cerimónias religiosas, as Festas de São Pedro da Afurada são pródigas em manifestações festivas: bailaricos, fogo de artificio de nomeada e a tradicional ementa de sardinha assada acompanhada com broa de Avintes. Embora com uma dimensão simbólica e identitária fortemente enraizada localmente, as Festas de São Pedro da Afurada são hoje frequentadas por pessoas de toda a Área Metropolitana do Porto, constituindo um espaço de festa e de encontro de natureza bastante alargada.

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3. UMA CASA DA MEMÓRIA DO LUGAR DA AFURADA: BREVE APRESENTAÇÃO DAS PRINCIPAIS LINHAS DE FORÇA DE UM PROJECTO EM CURSO 3.1 PONTO PRÉVIO: RECONSTITUIÇÃO DE ALGUNS DOS MOMENTOSCHAVE DO PROCESSO Neste capítulo pretende-se analisar em maior detalhe o projecto de criação da Casa da Memória do Lugar da Afurada (formalmente designada como “Centro Interpretativo do Património da Afurada”). Importa, antes de mais, salientar que se trata de um projecto que ainda se encontra em curso, existindo, por conseguinte, uma margem ainda relativamente ampla de algumas incertezas e indefinições relativamente ao seu desenvolvimento futuro, sobre as quais valerá a pena reflectir adiante. Antes de nos debruçarmos, de forma mais aprofundada, sobre os contornos do projecto em si, importará fazer uma breve apresentação sobre os principais momentos deste processo, considerando-se que tal poderá contribuir não só para uma melhor compreensão do momento presente, mas também para uma reflexão mais aprofundada em torno das implicações futuras em matéria de modelo de gestão do equipamento. A decisão de criação de um novo equipamento cultural na freguesia de da Afurada, dedicado à interpretação e valorização do seu património e memória surge em meados dos anos 2000 pela mão da Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL) que pretendia instalar o novo centro interpretativo em edifícios que serviram de armazém de aprestos de pesca que seriam recuperados e adaptados a essa nova utilização. O objectivo seria ainda associar este projecto à operação de reabilitação e requalificação urbanística em curso no âmbito do Programa Polis Gaia. Neste sentido, foi oportunamente contratualizado com o Atelier 15 o projecto de arquitectura, tendo ficado a Quaternaire Portugal (QP) responsável pelo trabalho de concepção, programação e análise económico-financeira para o novo equipamento. Concluída uma primeira versão do estudo, em finais de 2007, iniciou-se um esforço de divulgação e sensibilização de alguns parceiros estratégicos para o projecto. Em 2009 é celebrada uma parceria estratégia entre a APDL e o Parque Biológico de Gaia (actualmente Águas de Gaia e Parque Biológico de Gaia) que contemplou a AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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criação deste novo espaço cultural dedicado à memória do lugar da Afurada e das suas gentes entre o conjunto de projectos comuns a ambas as instituições (que inclui ainda, entre outros, a Reserva Natural Local do Estuário do Douro). Formalmente designado por “Centro Interpretativo do Património da Afurada”, o projecto acabou por se candidatar a apoios comunitários disponíveis no âmbito do QREN – Quadro de Referência Estratégica Regional 2007-2013, através do ON.2 – Programa Operacional Regional do Norte. Em 2010 a candidatura foi finalmente aprovada, tendo sido conjuntamente “lançada a primeira pedra” pelos Presidentes da Câmara Municipal de Gaia e da APDL em 27 de Fevereiro de 2011. Prevê-se a abertura do novo equipamento cultural no final de 2012.

3.2

MISSÃO,

OBJECTIVOS

E

PRINCÍPIOS

PROGRAMÁTICOS

DO

EQUIPAMENTO Desde a sua génese que o objectivo do projecto era que o futuro equipamento cultural a criar na Afurada pudesse contribuir, simultaneamente, para avivar a memória e reforçar os valores identitários da comunidade residente mas também permitir aos visitantes conhecer os traços culturais que caracterizam o seu quotidiano nas suas ocupações laborais, nas actividades de associação e convívio, nas manifestações festivas mas também nas de luto que a marcaram ao longo da sua história. À medida que foi sendo desenvolvido o programa museológico, tornou-se evidente para a Equipa da QP que a criação de um espaço com estas característica exigia que o mesmo fosse a um tempo participado pela comunidade e estimulante para os visitantes, direccionado para a valorização da herança de uma certa forma de vida expressa no reconhecimento de objectos e do espaço de habitar e para a importância do estuário do Douro e do seu património natural, com que esta comunidade sempre se relacionou ora como recurso precioso ora como adversário temível quando provocou, por exemplo, o grande naufrágio de 27 de Fevereiro de 1842 ou quando a barca América abalroou a capela de S. Pedro na cheia de 1909.

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Como se demonstrou ao longo do capítulo anterior, a Afurada possui efectivamente uma história de uma enorme riqueza, apesar de ter uma ocupação permanente relativamente recente, documentada apenas a partir da segunda metade do séc. XIX. Importa ainda, por outro lado, tomar em consideração, conforme nota justamente Marta Oliveira (2002) que o processo de progressiva decadência da actividade piscatória neste local “implica uma redução dos factores que consolidaram a existência da povoação e formaram a sua imagem. Neste contexto, os espaços e as actividades desenvolvidas na margem ribeirinha, surgindo embora como os lugares de referência e de identidade da Afurada, que fizeram a diferença e estabeleceram o carácter único do sítio, tendem a perder definição. A manutenção destes espaços e a conservação da relação de continuidade existente com o espaço habitado da Baixa, que é essencialmente uma relação de bairro, marcam a visibilidade e a margem de resistência do lugar piscatório”. Num momento em que, como vimos, se verifica a decadência da importância económica e social de uma actividade que configurava a comunidade piscatória e a própria povoação e no dealbar de uma nova Afurada resultante de uma intervenção de requalificação urbana de grande magnitude desenvolvida pelo Programa Polis na faixa marítima e ribeirinha de Vila Nova de Gaia, que irá provocar alteração profunda de usos e de referências simbólicas, este é, sem dúvida, um momento muito oportuno para o lançamento de um projecto de natureza museológica que se proponha uma abordagem centrada na acção pedagógica e na tomada de consciência do património por parte da comunidade residente tornado um argumento crucial no processo de comunicação com os visitantes. Neste sentido, entende-se que a Casa da Memória do Lugar da Afurada deverá vir a assumir-se como um agente de intermediação privilegiado, inspirando-se nas novas correntes museológicas que perspectivam o centro interpretativo como uma entidade que, para além de conservar património, tem como principal objectivo a promoção e o desenvolvimento da população e do território em que se radica. A Casa da Memória do Lugar da Afurada será, assim, um espaço de preservação da memória local, em sentido antropológico, que se alicerce nas características patrimoniais e territoriais associadas à história específica desta comunidade e do local. Estas características estão ligadas à história das actividades socio-económicas da AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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população, à sua interligação com o meio ambiente, bem como ao ordenamento urbanístico do aglomerado. A museologia usa, deste modo, o património como processo para activar meios de vida e capacidades de fixação na perspectiva da qualificação dos territórios e elevação da auto-estima das populações. Simultaneamente, esta Casa da Memória deverá cumprir um conjunto de objectivos complementares e interdependentes que o tornem um equipamento “imprescindível” para os seus habitantes, para os visitantes da Afurada, para os investigadores, para a sensibilização ambiental para a riqueza e fragilidade do estuário do Douro. Em síntese, entende-se que a Casa da Memória do Lugar da Afurada deverá assumir, simultaneamente, três papéis diferentes: 

Centro de Interpretação do Lugar: fazendo uma sinopse criativa das características do lugar e das suas gentes, mas não se deixando aprisionar pelas paredes do edifício, apelando sempre para o exterior, para o sítio e para a sua diversidade ecológica, para os sinais das intervenções urbanas que se sucederam (e que hoje acontecem a um ritmo e a uma escala difíceis de assimilar); para os lugares de encontro e de convívio; para as formas de sociabilidade e entreajuda; para o uso e vivência dos espaços públicos e para a interpenetração do espaço doméstico com o público; para os ritmos de trabalho da faina da pesca (da partida e chegada dos barcos) e dos trabalhos em terra (a lota, o mercado, os trabalhos de reparação das redes, etc.); para as manifestações do sagrado; para tudo o que desperta os sentidos: sons, cheiros, sabores, etc.



Espaço da Comunidade: espaço de encontro, de memória, de reflexão e interpretação das identidades em construção



Espaço de Descobertas: onde se realizam experiências de contacto com as ciências da natureza, de experimentação/aprendizagem de um ofício tradicional (construção de miniaturas de barcos, por exemplo), de contacto com as expressões e criação artística

(expressão

corporal,

dramática,

plástica,

musical)

a

partir

de

sugestões/releituras do quotidiano da Afurada. Tendo em conta este conjunto de pressupostos e entendendo o conceito da missão enquanto síntese da razão da instituição na sua formulação mais geral, permanecendo AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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enquanto elemento de continuidade e de orientação no decurso de toda a sua actividade futura, propõe-se que a Missão da Casa da Memória do Lugar da Afurada possa ser formulada do seguinte modo: “Reflectir a totalidade do meio ambiente e da actividade humana no território da freguesia da Afurada e sua envolvente e assegurar a valorização da memória colectiva da comunidade residente.” De acordo com esta formulação da Missão e com o conjunto de grandes objectivos que foram já anteriormente enunciados, delinearam-se algumas orientações programáticas para o desenvolvimento da actividade da Casa da Memória que, de seguida, procuramos sintetizar: 1. O estabelecimento de relações e articulações, em várias frentes, será um desafio permanente para a Casa da Memória do Lugar da Afurada Sublinhe-se, nomeadamente, a importância deste novo equipamento cultural se constituir enquanto um nó de informação sobre os temas que aborda, tornando-se vital que busque sinergias em colaborações e parcerias com instituições similares, com centros de investigação, com a comunidade educativa, com organizações e equipas de trabalho social, com equipamentos culturais concelhios, etc. Destaca-se, nomeadamente, pela sua relevância, o estabelecimento de parcerias e projectos de colaboração com instituições ligadas à temática do mar e da pesca (equipamentos museológicos, universidades e centros de ensino e investigação, etc.). Mas também com museus e outras instituições culturais da zona ribeirinha do Porto e Gaia e com estabelecimentos de ensino locais e regionais, entre outros. 2. Assumir como um objectivo da Casa da Memória do Lugar da Afurada a articulação e potenciação de relações entre uma função cultural com uma intenção social.

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Importa recordar a importância desta orientação programática, atendendo ao quadro social complexo da freguesia da Afurada: i) em que a actividade piscatória sempre foi dominante no lugar e que se encontra em diminuição progressiva, com uma quebra de população na década de 1970 que penalizou fundamentalmente a população activa5; ii) com indicadores sociais que traduzem uma realidade sócio-educativa complexa6, que a tornam particularmente frágil num quadro de mudanças profundas com impactos sociais ainda mal medidos, mas que exigiriam seguramente uma população com maior capital social para agarrar as oportunidades que irão surgir e não ficar assim à margem do desenvolvimento; Assim, o papel de um equipamento cultural com as características desta Casa da Memória não poderá nunca ignorar as carências sócio-educativas da população da Afurada, devendo dirigir prioritariamente as suas realizações para esse público-alvo. 3. Um equipamento museológico sem colecção Atendendo à missão e objectivos da Casa da Memória do Lugar da Afurada, a constituição da colecção poderá não desempenhar o papel principal na motivação da sua criação e no seu projecto de intervenção, uma vez que o património a salvaguardar transpõe os “muros” da instituição. Como afirma Huges de Varine: “A colecção do Museu é composta por tudo o que faz parte deste território e de tudo o que pertence aos seus habitantes, imóvel e móvel, material e imaterial. É um património vivo, em mudança e em criação constante, pertencendo essencialmente aos indivíduos, às

5

A evolução da população da Afurada ao longo do século XX (aglomerado da Afurada que posteriormente se transformou em freguesia de S. Pedro da Afurada) é de crescimento contínuo até 1970, sendo que até 1960 o crescimento é sempre superior ao verificado no concelho. Na década de 70 a situação inverte-se totalmente, verificando a Afurada um decréscimo de 15%, enquanto o concelho regista um crescimento demográfico da ordem dos 25%. Nos três últimos censos a população residente na freguesia apresenta alguma estabilidade – em 2001 é a mesma que em 1981. 6 A taxa de analfabetismo para o concelho de Vila Nova de Gaia era em 1991 de 6,4% (5,4% em 2001) e a que se verificava na freguesia da Afurada era de 12,5% (9,2% em 2001), praticamente o dobro da concelhia. É particularmente grave na população feminina, com valores que representam o triplo relativamente à taxa de analfabetismo dos homens: 17,6% (M) e 7,2% (H) em 1991 e 13,4% (M) e 4,2% (H) em 2001. É uma situação preocupante de elevado insucesso escolar muitas vezes seguido de abandono escolar. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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famílias, às pequenas colectividades, que uma equipa de animação e de investigação poderá utilizar à medida das necessidades, para todo o tipo de acções”. Neste sentido, entende-se que a constituição de um acervo físico não se apresenta como determinante na concretização dos objectivos da Casa da Memória. Porém, será certamente uma das suas funções identificar, registar e reunir um acervo de objectos e documentos, mas também de memórias (orais) que testemunhem a história da Afurada. Será assim importante promover: (i) o levantamento e registo de elementos na posse de particulares; a sua divulgação e eventual apresentação; (ii) o registo sistemático de testemunhos e memórias orais de pessoas que, actualmente ou no passado, habitaram e/ou trabalharam na Afurada, relativamente a temáticas diversas relacionadas com o quotidiano do lugar e das suas práticas sociais, os processos de transformação urbanística, económica, cultural e outros; (iii) a eventual guarda de peças com condições de serem acolhidas no centro interpretativo; (iv) a mobilização de esforços no sentido de preservação de património em risco, que não tem lugar possível na Casa da Memória do Lugar da Afurada. O novo equipamento cultural da Afurada poderá, deste modo, contribuir para promover e difundir um território concreto a partir de um discurso interpretativo específico que o singulariza, com base nos elementos autóctones que conformam o património social, cultural e natural do território abrangido, sem ter necessidade de constituir uma colecção permanente para esse efeito. Note-se ainda que esta orientação programática se reflecte no fomento de estreitas ligações entre algumas áreas funcionais, já que os materiais do centro de documentação são potenciais materiais a utilizar na área expositiva e no discurso interpretativo da Casa da Memória do Lugar da Afurada. 4. Uma política de programação de exposições, permanente e temporárias, que se constituam enquanto meio de comunicação emblemático da memória do lugar Considerando os vários objectivos de comunicação que a Casa da Memória do Lugar da Afurada se propõe atingir e que deverão contribuir para avivar a memória e reforçar os valores identitários da comunidade residente mas também permitir aos visitantes conhecer os traços culturais que a caracterizam o seu quotidiano, parece fazer sentido, a AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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existência de uma exposição permanente que apresente uma caracterização diacrónica do lugar que permita aos forasteiros ficar a conhecer um pouco melhor o lugar e a sua evolução histórica e as gentes que lá vivem. Reconhece-se, contudo, que é grande a riqueza e variedade dos temas que poderão ser desenvolvidos em contexto expositivo. No entanto, o escasso espaço disponível para expor um qualquer discurso expositivo desaconselha a que se faça uma abordagem sumária e densa da realidade da Afurada que poderia resultar numa comunicação pouco atractiva para o visitante. Propõe-se, assim, que seja desenvolvida uma outra linha de trabalho da área expositiva da Casa da Memória do Lugar da Afurada que configure um programa de pequenas exposições temporárias de características temáticas e que percorram um conjunto de aspectos que possam caracterizar de uma forma mais profunda e distendida as múltiplas facetas do sítio, da sua riqueza patrimonial natural e construída, Esta linha de trabalho, a desenvolver de forma contínua ao longo da actividade deste equipamento cultural, deverá ser intimamente articulada e sugerir ou decorrer de linhas de trabalho e de investigação do próprio centro interpretativo e de entidades parceiras (nomeadamente, resultado de trabalhos desenvolvidos quer por outros equipamentos museológicos, quer em contexto universitário/científico). 5. A política de animação e desenvolvimento educativo como um eixo de programação fundamental para a dinamização e apropriação do equipamento A política de animação educativa da Casa da Memória do Lugar da Afurada deverá responder a um triplo objectivo: o da animação cultural, do desenvolvimento sócioeducativo e da integração social. Terá por base o estabelecimento de ligações entre distintas disciplinas de expressão artística, e áreas do conhecimento científico para cumprir desde objectivos lúdicos até aos de alguma formação. Esta área de actividade assumirá a responsabilidade de alimentar uma animação permanente da Casa da Memória do Lugar da Afurada fazendo circular públicos, com incidência nos praticantes e frequentadores de oficinas, em cursos e workshops. Funcionará de acordo com um plano de actividades, e com um programa que responda às diversas sugestões e condicionalismos do calendário. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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O facto de o público da Casa da Memória do Lugar da Afurada ser, em primeiro lugar, a própria população da Afurada, e dos membros da população serem, como afirma Hugues de Varine, simultânea e sucessivamente “actores, conservadores, consumidores, utilizadores” cria-lhe responsabilidades sociais acrescidas, e determina a sua configuração, enquanto lugar de encontro e convívio e justifica a existência de um espaço polivalente que possa ter diferentes utilizações em horas diferentes do dia. Por outro lado, importa notar que nem tudo nesta função de animação da Casa da Memória do Lugar da Afurada é programado ou da responsabilidade da sua equipa, podendo a sua função ser apenas a criação das facilidades para que as iniciativas e realizações ocorram. É também por esta via que o centro interpretativo se poderá cruzar com a vida da comunidade, é esse o seu desafio.

3.3 DO PROGRAMA MUSEOLÓGICO AO PROJECTO DE ARQUITECTURA: ORIENTAÇÕES GERAIS O projecto de arquitectura deste novo equipamento cultural dedicado à memória da Afurada pretende responder às orientações para a distribuição espacial das necessidades da estrutura funcional do Centro. Houve, designadamente a preocupação de garantir que edifício responderá eficazmente às características multifacetadas das actividades a desenvolver por este equipamento cultural, que se prendem com as suas componentes expositiva, de prestação de informação, de animação comunitária e de expressão artística, bem como as condicionantes que se prendem com a contenção do projecto arquitectónico da centro interpretativo ditada pelo edifício onde se vai instalar – na realidade um conjunto de edifícios que tem uma expressão e uma métrica que se pretende respeitar – implicam uma contenção construtiva e pressupõem uma grande versatilidade na atribuição funcional dos espaços. Daqui decorre que a configuração da área do centro interpretativo poderá ser de geometria variável para uma utilização polivalente e com necessidades de espaço variáveis. A título meramente indicativo, elencam-se, de seguida, as grandes áreas que poderão constituir uma das configurações possíveis da Casa da Memória do Lugar da AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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Afurada, tomada como referência para o desenvolvimento das propostas apresentadas no estudo prévio do projecto de arquitectura desenvolvido pelo Atelier 15, arquitectura, Lda. (arquitectos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez):  Área de acolhimento  Bar/Cafetaria  Área expositiva  Auditório/Área oficinal  Centro de Documentação  Reserva/Armazém  Área de trabalho da equipa do Museu

1. NOTAS FINAIS: PRINCIPAIS DESAFIOS E OPORTUNIDADES Neste artigo propôs-se uma reflexão em torno do projecto de criação de um Centro Interpretativo dedicado à memória (cultural, social, económica e ambiental) do Lugar da Afurada. Para um melhor enquadramento do projecto propôs-se, em primeiro lugar, um breve enquadramento teórico das grandes linhas de transformação que, ao longo das últimas décadas, se têm vido a operar nas relações entre cidade e cultura e, em particular, da relevância que aspectos relacionados com a valorização dos patrimónios e das identidades locais têm vindo a obter neste contexto. Simultaneamente, considerouse importante traçar uma breve panorâmica acerca da Afurada, começando por apresentar a história da evolução económica, social e urbanística deste território, mas também, por outro lado, sublinhando que esta área tem vindo a inserir-se num conjunto mais alargado de intervenções de regeneração urbana e de valorização do património que, ao longo da última década, têm ocorrido na frente ribeirinha de Vila Nova de Gaia. Atendendo ao facto do projecto de criação da Casa da Memória do Lugar da Afurada ainda se encontrar em curso, conforme foi já anteriormente referido, o que naturalmente origina uma relativa incerteza e indefinição relativamente ao futuro desenvolvimento deste equipamento cultural, não existem manifestamente conclusões para que se possa encerrar este artigo com um conjunto de conclusões, mais ou menos definitivas. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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Julgamos ser, contudo, importante tecer algumas notas finais a propósito dos principais desafios e oportunidades que, em nosso entender, se colocam ao processo de construção de um projecto com as características e especificidades desta Casa da Memória do Lugar da Afurada. Assim, um primeiro desafio que, em traços gerais, se poderá identificar diz respeito ao modo como este novo equipamento cultural pode vir a conseguir conjugar e compatibilizar, de forma harmoniosa, o património, as raízes históricas e identitárias do Lugar de São Pedro da Afurada, das suas gentes e seus modos de vida tradicionais, com o conjunto de processos e dinâmicas (urbanísticas, culturais, económicas, sociais, ambientais) em curso – não só na Afurada mas ao longo de toda a frente marítima de VN de Gaia – que resultam numa profunda transformação de toda esta área e das suas comunidades. Trata-se de uma ampla e complexa interrogação para a qual não existe uma única resposta. Ensaiando, contudo, uma resposta para este desafio, poderíamos começar por afirmar que, em nosso entender, a capacidade da futura Casa da Memória conseguir efectivamente envolver a comunidade local ao longo das várias etapas que constituem todo o processo de criação e dinamização de um equipamento com estas características se revela absolutamente essencial. Mas existem, simultaneamente, outros desafios para os quais a equipa gestora da futura Casa da Memória do Lugar da Afurada deverá está particularmente atenta. De seguida identificam-se, de forma bastante sintética e recuperando algumas ideias que fomos já identificando em momentos anteriores do texto, os quatro desafios que se colocam entre os mais relevantes para o futuro desta equipamento cultural: (i)

o desafio do trabalho em rede, operando em contextos e geometrias muito

variáveis: por um lado, em redes sectoriais, nomeadamente, ligadas às temáticas do mar e da pesca – equipamentos culturais/museus; universidades e centros de investigação; e, por outro, ao nível da inserção em redes locais de natureza muito diversas (ligação a outros equipamentos e iniciativas do Parque Biológico de Gaia, mas também fomentando as articulações com outros equipamentos culturais de Vila Nova de Gaia e Porto, com a comunidade escolar do Grande Porto, etc.); AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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(ii)

o desafio de uma exploração das dinâmicas de relacionamento do Lugar da

Afurada com o espaço natural envolvente, valorizando a preservação de um ecossistema que também ele atravessa um conjunto de profundas transformações (designadamente, explorando relacionamento com os novos projecto em curso no lugar da Afurada – por exemplo, a nova marina de receio criada no âmbito do Polis Gaia e, um pouco mais afastado, o futuro Reserva Natural Local do estuário do Douro –, bem como as afinidades e complementaridades existente entre o centro interpretativo e a sua própria tutela, o Parque Biológico de Gaia); (iii)

o desafio desta Casa da Memória do Lugar da Afurada contribuir para a

construção de novas vias para um desenvolvimento turístico sustentável que façam a diferença entre um lugar com apetência turística (capaz de atender, simultaneamente, aos desejos dos turistas e às necessidades da comunidade local, preservando os espaços e conservando os seus recursos ambientais, vivos e inertes, valorizando e promovendo o património cultural, construído e vivo, procurando multiplicando oportunidades) e um lugar turístico, lugar de representação burlesca de uma comunidade travestida de si mesma; (iv)

finalmente, o desafio da sustentabilidade futura do equipamento que, em certa

medida, reflecte e sintetiza muitas das questões anteriormente enunciadas, pois diz respeito à capacidade de resposta do centro interpretativo e da sua equipa técnica ao amplo conjunto de exigentes objectivos e desafios que se lhe colocam, nomeadamente em matéria de gestão, de transversalização do saberes e de capacidade de comunicação com diversos públicos e parceiros, de forma a que a Casa da Memória do Lugar da Afurada tenha efectiva capacidade de propor abordagens criativas e multidisciplinares, que potenciem o seu papel social face ao lugar e à comunidade em que se insere.

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(consultado

pela

última vez a 19 de Abril de 2007). MARQUES, Francisco (1996) – Faina maior: a pesca do bacalhau nos mares da Terra Nova. Lisboa: Quetzal MOORE, Kevin (ed.) (1994), Museum Management, London/New York: Routledge OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim (1975) – Actividades agromarítimas em Portugal. Lisboa: Centro de Estudos de Etnologia e Centro de Estudos de Antropologia Cultural OLIVEIRA, Marta (2002) – Elementos de formação urbana da Afurada. S.l: s.n, Não publicado.

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3. SÍTIOS DA INTERNET CONSULTADOS Parque Expo – http://www.parqueexpo.pt (última consulta: 1 de Julho de 2010) Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia – http://www.cm-gaia.pt/ (última consulta: 1 de Julho de 2010) Junta de Freguesia São Pedro da Afurada – http://www.afurada.pt/

AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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