Introdução à coletânea Miss Dollar: stories by Machado de Assis

June 2, 2017 | Autor: Greicy Bellin | Categoria: Translation Studies, Brazilian Literature
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Introdução

In: BELLIN, Greicy Pinto; SCHMIDT, Ana Lessa. Miss Dollar and other early stories by Machado de Assis. Editado por Glenn Cheney. Hanover: New London Librarium, 2016. (p. 18-39).

A inserção de Machado de Assis no contexto da literatura mundial se dá por meio da tradução, o que oferece ao leitor estrangeiro a possibilidade de conhecer e explorar a obra do bruxo do Cosme Velho. Apesar de seus romances e contos mais célebres já terem sido traduzidos, ainda se observa uma lacuna em relação à produção do início da carreira do escritor, que tende a ser deixada em segundo plano pela fortuna crítica machadiana. É esta lacuna que a presente coletânea procura preencher, considerando a importância destas narrativas para a maturidade literária de Machado. Tal maturidade certamente não foi conquistada de um dia para o outro, e sim por meio de um consciente e constante trabalho com a linguagem e com as mais variadas formas de representação, formas estas que já podem ser encontradas nas narrativas do escritor que Augusto Meyer apelidou de “Machadinho”. A experiência moderna é um dos temas mais presentes e relevantes nas narrativas traduzidas nesta coletânea. Tal experiência foi, aliás, tema principal de minha tese de doutorado, defendida no ano de 2015 na Universidade Federal do Paraná. Em minha pesquisa, procurei demonstrar de que forma Machado construiu e lapidou a temática moderna em sua obra a partir de um diálogo com outros dois escritores, Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire. Com base em tal análise, pode-se perceber que Machado estava realmente preocupado em representar a modernidade brasileira, que começa a se delinear de forma consistente no século XIX com o surgimento das grandes cidades, das inovações tecnológicas e de um novo modo de vida que coloca o sujeito em permanente tensão consigo mesmo. Poe e Baudelaire foram, talvez, os escritores que mais auxiliaram Machado a construir suas representações da modernidade, considerando que o bruxo era, além de escritor, um leitor ávido das obras de ambos. É óbvio que não se trata da mesma modernidade presente na França ou na Inglaterra, mas de uma modernidade singular, surgida a partir de uma tentativa de imitação dos modelos europeus. É justamente este aspecto que o jovem Machado de Assis irá retratar em suas narrativas, mostrando uma total sintonia com a vida cultural e social do Rio de Janeiro entre as décadas de 1860 e 1880.

Cinco das narrativas traduzidas pertencem ao volume intitulado Contos Fluminenses, de 1870, sendo que todas elas, com exceção de “Miss Dollar”, haviam sido publicadas no periódico Jornal das Famílias, editado por Baptiste Louis Garnier, um francês que fixara residência no Brasil e que se tornou um dos maiores responsáveis pela difusão da moderna cultura francesa no Segundo Império. “Frei Simão”, “Confissões de uma viúva moça”, “Miss Dollar”, “A mulher de preto” e “O segredo de Augusta” apresentam, à primeira vista, enredos cheios de elementos românticos e folhetinescos, certamente usados por Machado a fim de satisfazer o gosto das leitoras do Jornal das Famílias. A grande maioria delas pertencia à alta burguesia carioca e estava acostumada a ler romances românticos do século XIX, entre eles A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844. Em meio a estes elementos, revela-se uma modernidade muitas vezes não sentida e nem percebida pelo leitor. Tal modernidade está presente nos questionamentos da vontade patriarcal, como em “Frei Simão” e “O segredo de Augusta”, no retrato da elegância e da frivolidade da corte fluminense, como em “Confissões de uma viúva moça”, e nas tramas arquitetadas por Magdalena e Margarida em “A mulher de preto” e “Miss Dollar”, respectivamente. Aliás, os perfis de mulher estão presentes em todos os contos traduzidos, evidenciando, talvez, uma maior atenção dada à figura feminina como representativa da modernidade que Machado se propunha a retratar. A associação entre mulher e modernidade está presente na obra de Charles Baudelaire, e certamente não passou despercebida a Machadinho, daí a proliferação de perfis femininos em suas narrativas de início de carreira. Em se tratando de modernidade na obra machadiana, cabe ressaltar a ironia subjacente ao uso do termo “corte” nos contos traduzidos nesta coletânea, ironia esta que remete a aspectos relevantes da história brasileira na época de Machado. O termo “corte” se referiria mais especificamente à família real portuguesa, que desembarcara no Brasil em 1808, estimulando, com isso, o desenvolvimento da modernidade brasileira. As narrativas traduzidas, no entanto, se passam nas décadas de 1860, 1870 e 1880, período em que se observa o apogeu do Segundo Reinado e o início da República, de forma que o uso do termo seria anacrônico e equivocado. Esta impressão se desfaz quando nos damos conta de que “corte” também pode ser definido como “círculo de aduladores”, e é a este círculo que Machado se refere quando utiliza o termo, deixando clara sua postura crítica em relação aos mecanismos sociais que perpetuavam a dominação de classes no Brasil imperial. Tal aspecto é largamente explorado por

estudiosos como John Gledson e Roberto Schwarz, que, em Um mestre na periferia do capitalismo (1992), analisa a dinâmica do favor como componente da estrutura formal da obra machadiana. Em suma, o uso da palavra “corte” sinaliza uma situação política característica da sociedade brasileira, que determinava a existência de relações de dependência social e econômica entre as classes dominantes e os aduladores ou “agregados”, bem como outras pessoas que dependiam do favoritismo daqueles que detinham riqueza ou poder, relações estas às quais Machadinho estava bastante atento. É importante ressaltar que tais relações se desenrolavam em um contexto marcado pela existência da escravidão, que só seria abolida em 1889 e que teve influência significativa na história social e econômica brasileira. “Frei Simão”, a narrativa que abre a coletânea, foi escrita em 1864. A modernidade se faz presente no conto por meio da construção da narrativa. Esta é marcada pela indeterminação, que transparece no trecho a seguir: “Eram, pela maior parte, fragmentos incompletos, apontamentos truncados e notas insuficientes; mas de tudo junto pode-se colher que realmente Frei Simão estivera louco durante certo tempo.” Tal indeterminação leva o leitor a se perguntar quem é o autor das memórias de Frei Simão, tendo em vista que o personagem enlouquecera e não teria, por conta disso, condições de fazer um relato confiável de sua própria vida. Além disso, o manuscrito deixado pelo frei não é propriamente um diário, mas um conjunto de apontamentos obscuros e incompletos, o que reforça ainda mais a sensação de indeterminação transmitida pela narrativa. Junta-se a isso a crítica à vontade patriarcal, representada pelo pai de Simão, que arquiteta um plano para afastá-lo de Helena, bem como a loucura do personagem, advinda da descoberta de que a moça estava casada e viva. A loucura é expressa na frase proferida pelo frei em seu leito de morte: “Morro odiando a humanidade!” Simão odeia, na realidade, o sistema social que levou seu pai a agir da forma como agiu, marcando o forte componente crítico e moderno da narrativa. Há, portanto, uma percepção que oscila entre a loucura de Simão, tida como fato quase inegável, e seu “ódio pela humanidade”, mostrando que nada é o que parece, uma vez que o personagem não estaria louco e sim, cheio de ódio por aqueles que lhe enganaram. “Confissões de uma viúva moça”, de 1865, apresenta, aparentemente, um enredo mais leve do que o de “Frei Simão”. Tal impressão se desfaz quando adentramos o universo fútil e superficial de Eugênia, uma jovem casada que se apaixona por Emílio, um rapaz sedutor que havia acabado de chegar da Europa. A história é narrada pela

própria Eugênia, em cartas enviadas à sua amiga Carlota após o período de reclusão que se seguira à sua viuvez. Nas cartas, Eugênia relata à amiga toda a decepção sofrida com seu romance secreto, que se teve um fim a partir do momento em que ela se tornou viúva. Emílio, em suas próprias palavras “homem de hábitos opostos ao casamento”, consegue ludibriar a aparentemente sagaz Eugênia, em um jogo textual que, em última instância, revela a crítica de Machado ao modelo de modernidade importado da Europa, personificado no elegante e sedutor Emílio. Os elementos folhetinescos da narrativa adquirem um significado político, no sentido de que revelam, não necessariamente de forma moralista e/ou moralizante, as consequências de se confiar cegamente no modelo europeu. O resultado, como não poderia deixar de ser, é o malogro sentimental de Eugênia, que aprende a não confiar em sedutores vulgares e espera que sua história sirva de alerta para outras moças em situação semelhante. Este aspecto é de fundamental relevância para a compreensão da narrativa, publicada em um periódico destinado a mulheres, em que a postura crítica de Machadinho é exercida de forma sutil e dissimulada pelos elementos do folhetim romântico. Algo muito semelhante se observa em “A mulher de preto”, narrativa em que a disputa entre românticos e anti-românticos é encenada pela “memorável luta” entre lagruístas e chartonistas no Teatro Lírico Fluminense e pela amizade entre o jovem médico Estêvão e o deputado Menezes. Os lagruístas eram os fãs da soprano italiana Emilia La Grua, que fizera uma turnê pelo Brasil em 1853 e se apresentara no Teatro Lírico, ao passo que os chartonistas eram os fãs da soprano francesa Anne ChartonDemeur, que havia se apresentado em várias cidades da América do Sul também no ano de 1853. Machado lança mão desta batalha para ilustrar o conflito sub-reptício entre dois homens muito diferentes entre si que amam a mesma mulher, Magdalena. Esta, por sua vez, seduz Estêvão a fim de obter o que tanto deseja: voltar para o marido e recuperar sua família. A conduta romântica é mais uma vez criticada a partir da caracterização de Estêvão, que idealiza a figura feminina a ponto de não perceber as reais intenções de Magdalena. Há ainda uma homossexualidade latente entre Estêvão e Menezes, no sentido de que o deputado também seduz o rapaz a fim de testar sua masculinidade. É na crítica ao sujeito romântico que Machadinho expõe a faceta moderna de sua narrativa, usando o Teatro Lírico como espaço de uma disputa que é, a princípio, amorosa, mas que se revela, no final das contas, uma disputa artística, presenciada pelos escritores no contexto literário daquela época.

Os perfis de mulher são também marcantes em “O segredo de Augusta”, de 1868, e “Miss Dollar” de 1870, narrativas que tematizam o comércio matrimonial na época de Machado. Usando uma linguagem simples, “O segredo de Augusta”, assim como “Confissões de uma viúva moça”, traz uma crítica à futilidade e à superficialidade da corte fluminense. Tais características aparecem sintetizadas tanto em Augusta, personagem que dá título ao conto, quanto em seu marido Vasconcellos e também em Gomes, o pretendente de Adelaide, filha do casal. Aparece, mais uma vez, a modernidade importada da França, principalmente nas noitadas no Alcazar lírico, palco dos encontros da elite carioca, e na elegância de Augusta, que recusa o casamento da filha pelo simples fato de ter apenas trinta anos e não desejar ser avó. A futilidade está também presente em “Miss Dollar” na figura de Jorge, o primo boêmio de Margarida, viúva por quem Mendonça, médico rico e renomado, se apaixona. O modelo romântico é novamente criticado a partir da constatação de que Miss Dollar não é uma jovem romântica inglesa e sim, uma cadelinha galga, e também com base na ideia, muito pouco idílica, de um casamento arranjado entre Mendonça e Margarida. Esta crítica também se observa em “O carro n.13”, publicada em 1868, narrativa muito pouco conhecida pelo público e crítica machadianos. A modernidade francesa invade a vida pacata de Amaro Faria, fazendeiro do interior que recebe a visita de Luís Marcondes, amigo boêmio dos tempos da faculdade de Direito que havia estudado na França. Ele convence Amaro a conhecer Paris, algo que ele acaba fazendo a contragosto. Depois disso, Amaro fixa residência no Rio de Janeiro, onde conhece a jovem Antonina, de quem se torna noivo. A moça, aparentemente dócil e submissa, arquiteta um plano para provar o amor de Amaro, enviando-lhe cartas como se fosse outra mulher. Incentivado por Marcondes, o ingênuo fazendeiro responde a todas as cartas, motivando, com isso, o rompimento do noivado, pois Antonina julga que ele não é digno de confiança: “Aqui estão as suas cartas; lucrei muito. Como depois de casada não será tempo de arrepender-se, foi bom que o conhecesse agora mesmo. Adeus.” A modernidade francesa aparece, portanto, como enganadora, pois é acreditando nela que Amaro responde as cartas e causa sua própria frustração amorosa, o que o leva a voltar para a fazenda. O interior do Brasil está presente em “A parasita azul”, publicada em 1872 no Jornal das Famílias e depois na coletânea Histórias da meia-noite. O conto trata do retorno de Camilo Seabra ao Brasil depois de longos anos estudando medicina na França. Observa-se, ao longo da narrativa, um verdadeiro panorama de Paris em meados

do século XIX, com todo o esplendor de uma modernidade que fascina Camilo e motiva sua recusa em voltar para a fazenda de seu pai em Goiás. É com uma grande “saudade do coração” que Camilo desembarca no Brasil, sendo acometido da “nostalgia do exílio”, causada pela falta que sente da vida boêmia e pela ausência de Leontina Caveau, uma princesa russa por quem havia se apaixonado. O rapaz, no entanto, vem a descobrir que paixão e aventuras podem ser também encontradas no interior de Goiás, o que neutraliza sua crença na modernidade parisiense e faz com que descubra um novo amor que é, aliás, um amor de infância há muito esquecido por ele. A possível superação do modelo francês está presente no final da narrativa, em que Isabel, ao flagrar Camilo lendo o jornal Le Figaro, pergunta se sente saudades de Paris e recebe como resposta: “Sinto saudades de você”. Esta fala nos dá pistas da postura crítica de Machado em relação à modernidade francesa, neutralizada a partir da experiência individual de Camilo. Conflitos matrimoniais e suspeitas de adultério sempre tiverem seu lugar na obra de Machado de Assis, e não poderiam ser deixados de lado nesta coletânea. Em “O relógio de ouro”, publicado em 1870, o narrador machadiano descreve a briga entre Clarinha e Luiz Negreiros, motivada pela aparição inexplicável de um relógio de ouro. A impecável descrição dos estados psicológicos de marido e mulher em muito se assemelha a Dom Casmurro, ainda mais se considerarmos a suspeita de adultério que, no final, se confirma de maneira surpreendente. Ao reeditar esta narrativa, tivemos a preocupação de resgatar o original presente no Jornal das Famílias, que apresenta divergências em relação à edição que circula nos dias de hoje. Tais divergências afetam a interpretação do texto, uma vez que o nome da amante de Luiz Negreiros aparece apenas no original e não nas edições em livro. É possível, a partir desta constatação, explorar um novo viés de leitura da narrativa, cuja modernidade recai em um conflito de aparências em que, no final das contas, nada é o que parece. Os dois últimos contos da coletânea pertencem ao que se convencionou chamar de “segunda fase” ou “fase madura” da obra de Machado de Assis. Esta fase seria marcada por uma maior habilidade literária e por uma maior lucidez na representação dos temas já presentes na primeira fase, entre eles o da modernidade. Haveria, portanto, não propriamente uma ruptura em relação às narrativas da primeira fase, e sim um amadurecimento, observado nas representações da cidade do Rio de Janeiro. Esta se encontrava em profunda transformação, o que traz modificações no modo de vida do homem moderno. Tais modificações aparecem retratadas em “Só”, publicado em 1886

no jornal Gazeta de Notícias. Cansado da vida social, Bonifácio resolve se isolar em uma chácara em Andaraí, seguindo o conselho do excêntrico filósofo Tobias. Esta atitude, no entanto, acaba não surtindo o efeito desejado, uma vez que o protagonista acaba retornando para a cidade depois de apenas dois dias. De maneira leve e bemhumorada, a narrativa retrata os dilemas do sujeito moderno, cuja dependência em relação à vida cosmopolita é tão forte que compromete sua capacidade de reflexão no isolamento. Esta leitura pode ser confirmada a partir da seguinte fala de Tobias, que, ao ser questionado por Bonifácio a respeito dos benefícios da solidão, responde o seguinte: “Você esqueceu de levar o principal da matalotagem, que são justamente as ideias.” “Três consequências”, publicado em 1884 no periódico A Estação, também retrata o fascínio em relação à cidade moderna, personificado na figura de Mariana, que resolve se casar novamente após experimentar o burburinho da Rua do Ouvidor, considerada um verdadeiro símbolo da modernidade carioca. Apesar de escritas em tom leve, quase de conversa, estes contos trazem implícitos uma crítica à futilidade e à superficialidade do espaço urbano, sintetizadas nas dificuldades de Bonifácio e na facilidade com a qual Mariana Vaz muda de ideia em relação a casar-se novamente. Conforme mencionado anteriormente, nos preocupamos em resgatar as versões originais das narrativas tais quais foram publicadas nos periódicos da época. Tal resgate é forte tendência nos estudos machadianos atualmente, tendo sido realizado por estudiosos como John Gledson e Ana Cláudia Suriani da Silva, que republicaram a versão original do romance Quincas Borba em formato eletrônico no ano de 2008, em comemoração em centenário da morte do escritor.1 Em nota explicativa a esta edição, os estudiosos afirmam que a versão em folhetim nos ajuda a ter uma ideia mais clara acerca do processo criativo de Machado, bem como de sua visão da sociedade brasileira do século XIX. O resgate das narrativas em folhetim ainda nos permite visualizar as estratégias utilizadas pelo escritor no sentido de atrair leitores para os jornais nos quais publicava. Tais estratégias não aparecem nas edições em livro, como uso o de ganchos narrativos e elementos criadores de suspense usados com a finalidade de estimular a curiosidade do leitor e consequentemente, a compra da próxima edição. A tendência a resgatar os originais também aparece em um artigo publicado em 2015, de autoria do professor Saulo Neiva, da Universidade Blaise-Pascal, que também se dedica aos

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Para visualizar a edição, acessar http://www.machadodeassis.net/hiperTx_romances/obras/quincasborbaaestacao.htm, consultado em 18 de março de 2016.

estudos machadianos, tendo traduzido para o francês a coletânea Várias Histórias, publicada pela editora Garnier também no ano de 2015.2 O artigo trata dos erros de datação em alguns contos desta mesma coletânea, publicada pela primeira vez em 1896. Em sua pesquisa, Neiva identificou uma série de divergências entre as datas dos originais publicados em periódicos e as datas que constam nas edições em livro. Estas divergências acabaram se perpetuando devido a equívocos dos próprios estudiosos, que passaram a aceitá-las como verdadeiras.3 Tais divergências também se verificam em relação aos conteúdos das narrativas, afetando sua interpretação e colaborando para a disseminação de equívocos interpretativos em relação à obra do Bruxo. São estes equívocos que procuramos, em certa medida, superar com a realização deste projeto, a fim de desnudar caminhos de interpretação pouco explorados na obra machadiana. Em suma, esta coletânea pretende não apenas colaborar para a inserção da obra de Machado de Assis no contexto da literatura mundial, mas fazer um verdadeiro resgate das narrativas no início de sua carreira. Trata-se de uma fase de grande importância para o amadurecimento de Machadinho como escritor, daí nossa preocupação em reeditar e traduzir as histórias a partir dos originais que constam nos arquivos digitais da Fundação Biblioteca Nacional, que muito gentilmente nos cedeu a verba para a realização deste projeto. Nosso objetivo é possibilitar aos leitores brasileiros e estrangeiros o acesso ao texto machadiano tal qual ele realmente foi escrito, a fim de que estes mesmos leitores possam compreender o alcance da modernidade representada por um dos maiores escritores da literatura brasileira.

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Saulo Neiva, Várias Histórias/Histoires Diverses (Paris, Classiques Garnier, 2015). Saulo Neiva, "Não creias tu nisso, leitor amado: sobre a datação dos contos de Várias Histórias", publicado na revista eletrônica Matraga, 22: 37, (Rio de Janeiro: UERJ, 2015), pp. 133-147 (http://dx.doi.org/10.12957/matraga.2015.19935), consultado em 18/03/2016. 3

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