Jácome de Bruges: o 1º Capitão-Donatário da Terceira

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Jornal da Praia

HISTÓRIA

Jácome de Bruges: O 1º Capitão-Donatário da Terceira

28 Março 2016

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- Francisco Miguel Nogueira*

Há exatos 566 anos, a 2 de março de 1450, o Infante D. Henrique doava a capitania da Terceira (na época Ilha de Jesus Cristo) a Jácome de Bruges (em flamengo Jacob van Brugge), que se tornou no primeiro Capitão-Donatário da Ilha. Era o início do povoamento da Terceira. O Infante D. Henrique, Governador e Mestre da Ordem de Cristo, doou, a partir de Silves, a Jácome de Bruges, seu servidor, a capitania da Ilha de Jesus Cristo. Na Carta de Doação de 2 de março de 1450, o Infante outorgava a capitania a Jácome de Bruges para que “ele a povoe de qualquer gente que lhe aprouver, que seja de fé católica e santa de N. S. Jesus Cristo”. Em janeiro de 1451, 10 meses depois da doação, o Capitão Jácome de Bruges partia para a Terceira com dois navios, transportando vacas, porcos, ovelhas e cabras, que depois lançou nas terras recém-povoadas.

Já anteriormente Gonçalo Velho Cabral tinha começado a lançar animais pela Ilha a mando do Infante D. Henrique, tentando torná-la mais atractiva para seu povoamento. Jácome de Bruges terá desembarcado nas Quatro Ribeiras, explorado o porto e terreno da Praia e a Baía das Mós e finalmente entrado na Ilha pelo Porto Judeu. Jácome de Bruges voltou ao Continente para aí procurar famílias para o povoamento da sua capitania, regressando depois à Terceira. Não sendo uma tarefa fácil, o flamengo conseguiu o seu objetivo. A Ilha de Jesus Cristo, a partir de 1451, assistiu paulatinamente ao seu crescimento e desenvolvimento. De Guimarães, de Aveiro, de Lagos, do concelho de Vieira e do Porto, acompanharam o Capitão Bruges, os nobres senadores: João Coelho, João de Ponte, João Bernardes, João Leonardes, e Gonçalo Anes da Fonseca. Com o Capitão-Donatário fundaram a primeira Câmara da Ilha, que funcionava onde hoje é o Canto da Câmara no Porto Martins. Iniciou a construção da Ermida de Santana, em S. Sebastião, e da Igreja Matriz de Santa Cruz, onde depois se estabeleceu e colocou a sede do seu governo. Nascia o lugar da Praia e iniciava-se, assim, o seu povoamento. Os primeiros tempos foram marcados pela distribuição de terras e na exploração destas, que na região da Praia, eram mais produtivas. O Capitão Bruges tomou para si a planície do paul, assim como dos terrenos junto à Serra, a que chamou de S. Tiago e dividiu alguns com seu loco-tenente, Diogo de Teive (situação que depois levaria a uma “guerra” entre os herdeiros de Jácome e de Teive pela posse das terras).

Diogo de Teive foi nomeado pelo Infante D. Henrique como ouvidor geral da Terceira (juiz) e loco-tenente, acompanhando o Capitão Jácome de Bruges no desempenho do seu ofício. Com ele vieram algumas pessoas do estado eclesiástico, para administrarem os sacramentos da Igreja, e como esta Ilha pertencia ao Mestrado da Ordem de Cristo, a administração eclesiástica estava nas mãos do Grão Prior vigário geral de Tomar, o qual aprovava e dava jurisdição aos párocos para administrarem os divinos sacramentos. Jácome de Bruges desapareceu de forma misteriosa depois de 1470. Várias são as teorias para esse desaparecimento. Há quem defenda que o primeiro Capitão-Donatário da Terceira foi assassinado por Diogo de Teive, provavelmente lançado ao mar durante uma viagem. Outros defendem que o barco do capitão Jácome de Bruges naufragou ao ir ao continente buscar a mulher (Sancha Dias de Toar) e a filha (Antónia Dias). E há ainda quem defenda que naufragou sim mas a caminho da sua terra natal, Flandres, onde pretendia reclamar uma herança. Com a morte de Bruges, a capitania foi entregue a Álvaro Martins Homem, que fundou a Vila de Angra do Heroísmo (1478). Ao tomar posse da Capitania. Álvaro Martins Homem deu início a várias construções e obras, impulsionando o desenvolvimento de Angra. De referir que devido a constantes desavenças internas, a Ilha foi dividida, em 1474, em duas capitanias, a de Angra, entregue a João Vaz Corte Real, e a da Praia, ao anterior Capitão-Donatário da Ilha, Álvaro Martins Homem. Este, perdeu as benfeitorias de Angra (casa, moinhos e terras), mas recebeu, por esse dano, uma indemnização do novo Capitão de Angra João Vaz Corte Real e, com isso, apostar no desenvolvimento do lugar da Praia, que acabou elevado a Vila entre 1478 e 1480. A estirpe terceirense descende de homens como o nosso primeiro Capitão-Donatário, persistentes e lutadores, que procuraram no desconhecido o seu caminho e se aventuraram em novas terras. É este sangue aventureiro e guerreiro que tem faltado actualmente aos nossos cidadãos, quem tem-se imiscuído das suas obrigações e que queixando-se dos problemas, nada fazem para os resolver, parece que falta a força do sangue dos nossos antepassados. É tempo de metermos mãos à obra e de defendermos a nossa terra e de procurarmos soluções para um futuro melhor e mais digno. * Doutorando em História Moderna e Contemporânea, Especialidade em Defesa e Relações Internacionais Historiador/Investigador PUB

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