Jacques Huber (1867-1914) e a botânica amazônica: notas preliminares para uma biografia intelectual

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5 4° CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA 3 a REUNIÃO DE BOTÂNICOS DA A MAZÔNIA Desafios da Botânica no Novo Milênio: Inventário, Sistem atização e Conservação da Diversidade Vegetal

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Belém-PA, 13 a 18 de julho de 2003 • Universidade da Amazônia - Unama

EDITORES

Mário Augusto G. Jardim

Coordenação de Botânica - Museu Paraense Emilio Goeldi

Maria de Nazaré do Carmo Bastos

Coordenação de Botãnica - Museu Paraense Emílio Goeldi

João Ubiratan Moreira dos Santos

Coord . do Curso de pós-Graduação em Botãnica - Universidade Federal Rura l da Amazônia! Museu Paraense Emilio Goeldi

REALIZAÇÃO Sociedade Botânica do Brasil - Seção Regional Am azônia • Universidade Federal Rural da Amazônia

Museu Paraense Emílio Goeldi • Embrapa Amazônia Oriental

2003

Desafios da Botânica no Novo Milênio: Inventário, Sistematização e Conservação do Diversidade Vegetal

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Jacques Huber (1867-1914) e a botâ nica amazônica: notas preliminares para uma biografia intelectual

Nelson Sanjad Museu Paraense Emílio Goeldi

Escrever sobre Jacques Huber não é fácil. Não porque para MontpelLier, frança, onde estudou com Charles Flafault tenha deixado obra pequena ou desimportante, ou ainda (1852-1935) , que mais tarde se tornaria famoso por seus tra­ desaparecido sem deixar vesugios. E sim porque até hoje, balhos em fitogeografia e pela elaboração de conceitos quase 90 anos depois de sua morte, pouco conhecemos da fundamentais para a nascente ciência da Ecologia (Acot, vida e da obra do botânico que fundou o Herbário do Museu 1990). É nessa tradição de pesquisa - conhecida como Escola Goeldi. Os textos capitais de Zurique-Montpellier ou sobre Huber continuam Escola de Sociologia Vegetal ­ sendo os necrológios de Gus­ que Huber conclui seu dou­ lave Beauverd (1914) e R. torado em Botânica, Chodat (1914). Este havia particularmente com um sido professor de Huber no estudo sobre epífitas, pu bli­ Laboratório de Botânica da cada em 1893 (Huber, Universidade de Genebra, 1893) . No ano seguinte, volta enquanto Beauverd era para a Suíça, fixando-se em secretário da Sociedade de Genebra como assistente de Botânica de Genebra e con­ Chodat. Aí continua a desen­ servador do Herbário volver os estudos iniciados Boissier, para onde Huber na França, sobre epífi tas , en\'iava regularmente as liquens e algas, tendo publi­ duplicatas do Museu Goeldi. cado oito trabalhos sobre o A partir dos textos de assunto (Beauverd, 1914) . Beauverd e Chodat, surgi­ ~ão sabemos ao certo como ram algumas pequenas o nome de Huber chegou até biografias, acrescidas de tes­ o zoólogo suíço Emílio temunhos e observações Goeldi (1859-1917) quando pessoais, publicadas pelo este montava a equipe para o Barão de Studalt (1915), F. Museu Paraense de História C. Hoehne (1941) e Virgílio Natural e Etnografia, no ano Correa Filho (1946) . Mais de 1894 É possível que ambos tenham se conhecido recentemente, Oswaldo Cunha (1988a e 1988 b) Jacques Huber (1864 -1914). Fotógrafo não identificado, s.d. Museu ainda na Suíça, pois, embora escreveu artigos de jornal Paraense Emilio Goeldi / Arquivo / Coleção Fotográfica mais velho, Goeldi também ampliando um pouco o estudou no Ginásio de Scha­ conhecimento que dispo­ ffl1ausen (Studer, 1917; mos sobre Huber. Existem, ainda, algumas referências Laeng, 1973) O que podemos afiançar é que Huber, na esparsas em textos de Adolpho Ducke (1939 e 1953), Paulo época, já era relativamente conhecido nos meios acadêmicos Cavalcante (1982 e 1984) e Luiz Miguel Scaff (I 981). Por­ de línguas alemã e franc sa, e que, mediante consulta de tanto, tudo o que puder ser dito sobre Huber terá o caráter de Goeldi, talvez tivesse sido indicado por Chodat ou outro natu­ nola preliminar. ralist..'l conterrâneo. Huber nasceu em Schleitheim, distrito do cantão de Scha­ Huber chegou em Belém em 1895. Apesar do ambiente ffhausen, Suíça, em 13 de outubro de 1867. Formou-se em físico toralmellle distilllo do que conhecera na Europa, logo Ciências Naturais pela Universidade de Bâle. Com 25 anos foi começou a trabalhar com () material que tinha às mãos. Sua

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mobiUzação pôde ser auferido em 1900, quando a arbitragem Internacional deu ganho de causa ao Brasil. Além do horto, () nosso botânico também se tornaria res­ ponsável pelo lIerbário do museu, criado em )895 de acordo com um projeto bastante ambicioso, () de transformá-lo em entro de referência para a flora amazônica. Hubcr trabalhou arduamente nesse projeto. Ao contrário de seu colega Emilio Goeldi, um zoólogo de gabinete, o chefe da Seção Botánka vi, jotl muito , trazendo pessoalmente dos 4Ulllro cantos da Amazônia (e do ~ordeste também) as amostras que ~iriam enriquecer o nascente herbário. -\mapá, Marajó, BaL\o Ama­ zonas, Zona do Salgado, Tocantins, Guamá, Solimões, PUfUS, UcayaJj, Huallaga e Ceará foram algumas da: regiões e rio. percorridos por Huber. De acordo com O testemunho de Adolpho Ducke (953), o trabalho foi tão intenso que, em 10 anos apenas, o Herbário já contava 8.000 números com famí­ lias e gêneros identilicados, tarefa efetuada por não mais que 2 ou :) pessoas. Os trabalhos sobre taxonomia e sistemática de HlIber sao indissociáveis de suas atriblljções como responsável pelo ller­ bário, pois obra e coleção formaram -se a partir de um mesmo ímpul o illtelectual. Sohre esse aspecto, Ducke Horto botânico do Museu Paraense de História Natural e Etnografia no início do século XX Fotógrafo não identificado, s.d. Museu Paraen se Emílio Goeldi I Arquivo I Coleção Fotográfica.

primeira missão no Museu Paraense foi construir o Parqu e Zoobotânico, atividade que ia da supervisão das obras até a seleção e identificação de espécies introduzidas. I)urante o tempo que permaneceu no museu , dirigia pessoalmente os trabalhos no Parque. A ele devemos não apenas o alto gaba­ rito do horto botânico que deu fama à esta instituição, como também a concepção e construção do Aquário, inaugurado em 19 11 . Aplimeira publicação de Huber sobre a Amazônia é reve­ ladora da sua formação acadêmica e do di recionamento que suas pesquisas iriam ganhar em Belém. Pu blicado em 1896, o trabalho "Contribuição à geografia botânica do Utoral da Gui­ ana entre o \mazonas e o rio Oiapoque" (lI uber, 189(Ía) demonstra claramente a filiação teórica do autor à escola de Montpellier. Demonstra, ainda que as primeiras áreas de campo do Museu Paraense foram o atual Estado do Amapá e o Arquipélago do Marajó, eleitas em virtude da disputa secular que o Brasil mantinha com a França pela posse de um territó­ rio estratégico na boca do Amazonas. Emílio Goeldi , devidamente alinhado com a politica externa brasileira, colo­ cou não apenas Huber, mas toda a instituição e seus funcion ários à serviço do conhecimento científico e do levan­ tamento de dados sobre aquela região. O resultado dessa

AquáriO do iviuseu Goeldi (rviuseu Paraense de HistÓria Natural e Etnografia). Fotógrafo não identificado, ca. 1911-1912. Museu Paraense Emllio Goeldi I Arquivo I Coleção Foto gráfica.

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Batinill

Guajara ou sorva, arvore descrita por Huber como Chrysophy/lum excelsum . Fotógrafo não identificado, s.d. r\~useu Paraense Emilio Goeldi / Arquivo / Coleção Fotográfica

(1953) foi O primeiro a notar um deslocamento do interesse de Huber, que teria comentado sobre o seu projeto inicial de estudar musgos e Uquens na Amazônia. O bOtàJlico até chegou a publicar uma nota sobre a tli\C'rsidade de saprófitas no Pará (Huber, 1896b) , mas lamb ' In vcrificou que muitas das árvo­ res da região ainda nao haviam sido descritas pela ciência ou então eram mal classifkadas. Como exemplo, mencionado também por Oswaldo Cunha U988b ), vale citar o caso do guajará, espécie descrita po r Hubcr a partir da árvore locali­ zada dentro de Parque Zoobotânjco, junto da qual foi construído o viveiro dos felinos . Podemos dizcr, p011anto, que lIuber ab
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