James Hunt: o Destruidor de Mitos

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James Hunt: o Destruidor de Mitos Carlos Frederico Pereira da Silva Gama

Publicado em Start Racing F1 (03/05/2017) https://startracingf1.wordpress.com/2017/05/03/james-hunt-o-destruidor-de-mitos/

Transformado em mito (ou possivelmente anti-herói) no filme Rush, James Hunt teve que derrubar uma grande quantidade de mitos pessoais ou alheios para chegar ao título mundial de 1976. Diziam que ele foi paydriver, alçado ao circo da F1 pela graça dourada do excêntrico Lord Hesketh. Hunt correu muitos anos nos carros da folclórica equipe nobre até chegar à F1 na idade de 26 anos. Fosse esse um pecado capital, outros campeões e ganhadores de GP não andariam na mesma ponte. Jody Scheckter foi projetado ao estrelato pela virtude de ter sido piloto do milionário Walter Wolff. Filho de banqueiro, Niki Lauda pegou dois polpudos empréstimos para financiar suas andanças num velho March, até que Enzo Ferrari se encantasse com ele num domingo em Montecarlo, 1973.

Niki Lauda, líder da Scuderia Ferrari

Seu conterrâneo Gerhard Berger seguiu o mesmo caminho, numa época em que a entrada no grid não saía por menos de 1 milhão de Trumps. Com o apoio de Helmut Marko, Berger foi adiante. Outros eram aristocratas, caso do Conde Wolfgang Von Trips, umas das vítimas da Parabólica (1961).

Na Fórmula 1, a origem do dinheiro não faz ninguém andar sete décimos mais rápido ou devagar. Outro mito: Hunt era um playboy, que tinha na Fórmula 1 apenas um hobby após e antes o jet set. Podemos passar a palavra ao tricampeão Nélson Piquet (há 30 anos, sobrevivente da Tamburello).

Piquet: mestre na F1 e na dolce vita

O estilo de vida das estrelas do picadeiro não os afasta de colocar suas vidas a prêmio em milésimos. Outro mito: Hunt foi um campeão circunstancial. Ganhou de Teddy Meyer o foguete da McLaren. Com seu modesto Hesketh, Hunt venceu o Grande Prêmio da Holanda de 1975. Superando Emerson Fittipaldi da McLaren e a dupla da Ferrari, Clay Regazzoni e...Niki Lauda. Mesmo assim, quando o dinheiro do Lord acabou, parecia o fim do sonho do título mundial. Mas Hunt caiu nas graças dos deuses da velocidade. Assim como o finlandês voador Keke Rosberg em 1982 e o conterrâneo Jenson Button em 2009. Grandes pilotos que ficaram sem um cockpit e viram o fim precoce de suas carreiras... Até que apareceu uma oportunidade. Rosberg foi convidado na última hora por Frank Williams para substituir Carlos Reutemann. Button manteve seu cockpit com a compra da Honda por Ross Brawn, já com motores Mercedes. Fittipaldi deixou a McLaren para salvar o sonho do irmão Wilsinho, a equipe brasileira Copersucar.

Rato: um patriota. Antes que a moda pegasse.

A McLaren precisava de um piloto de ponta, e o melhor deles disponível na ocasião era Hunt. Outro mito: Hunt só foi campeão graças ao inferno verde de Nurburgring.

Lauda ficou com a vida por um fio daí em diante. Nunca mais largaria da pole position. Em Fuji, protagonizou a mais comovente cena da história da F1. Líder do Mundial mesmo perdendo várias etapas, largou, deixou todos passarem na piscina de concreto aos pés da famosa montanha, e abandonou a corrida, caindo nos braços da esposa. “Paúra”, foi o que ouviram mecânicos da Ferrari naquele dia dos lábios rachados do “Computador”. Lauda superou o fogo, os limites do próprio corpo, e a ânsia por conquistas. Foi além da F1 em 1976.

Niki Lauda, Nurburgring, 1976

Mas conquistou outros dois títulos mundiais, um deles quase uma década após o inferno na floresta. Piquet quase sucumbiu na Tamburello, mas ganhou seu terceiro título mundial no mesmo ano 1987. Conterrâneo de Rosberg, Mika Hakkinen foi e voltou em Adelaide, 1995. Não tinha nenhuma vitória. Anos depois, se tornaria o primeiro finlandês duas vezes campeão mundial. 60 e poucos anos depois, ainda não sabemos os limites envolvidos num acidente na Fórmula 1. Hunt correu como sempre em Fuji, e achou que tinha perdido, com a mesma frequência do passado. Achava que estava em 5º lugar, e na última volta conseguiu achar um pódio em meio à tempestade. E o título mundial veio, na ponta dos dedos, com as águas debaixo do braço.

Niki Lauda (Ferrari), Mario Andretti (Lotus) e James Hunt (McLaren) largam, Fuji 1976

James Hunt fez isso tudo. Anos depois, se tornou o melhor e mais ácido comentarista televisivo de Fórmula 1. Nunca perdoou Riccardo Patrese pelo acidente em Monza que levaria à morte Ronnie Peterson. Mesmo Patrese não tendo culpa, segundo a FISA. Hunt não escondia opiniões e escolhas de vida. Por fim, Niki Lauda disputou milésimos com Fittipaldi e foi companheiro de dois jovens brilhantes. Nélson Piquet e um francês de nome Alain Prost. Os melhores pilotos da Era de Ouro da F1. Mesmo assim, seu grande rival foi o inglês temeroso, que vomitava e chacoalhava seus carros. Que atormentava companheiros de profissão, chefes de equipe e fazia (a) festa de (com) torcedores e (principalmente) torcedoras. Que era o terror das entrevistas e nunca largava seu jeans surrado em troca de uma aparição na TV. A F1 ficou menor e menos interessante quando Hunt largou o cockpit. Reza a lenda, por tédio. Onze anos depois, Hunt voltava aos cockpits, em busca de uma equipe para o Mundial de 1991. A mão que segura o volante é a mesma que levanta o champagne (cerveja) e que esconde o coração.

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