Jangada de Pedra (Balsa de Piedra) alegoria da difusão da urbanística europeia na 1ª modernidade

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Walter Rossa Universidade de Coimbra

Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI Património Histórico-Cultural Iberoamericano 18 novembro 2014

Jangada de Pedra (Balsa de Piedra)1 alegoria da difusão da urbanística europeia na 1ª modernidade conferência resumo 0. As cidades são o coração da Civilização Ocidental e, pelo menos para os ocidentais, a civilização continua a ser impensável sem elas e as redes que formam. Inevitavelmente as cidades foram um dos principais instrumentos usados pelos europeus no estabelecimento dos seus sistemas coloniais, começando logo com os primeiros, o português e o espanhol, no início da 1ª modernidade. Nesta conferência pretendo iluminar e valorizar o papel dos processos colonização ibérica como veículos da cultura urbanística europeia. Basicamente há duas grandes famílias de padrões urbanísticos para as cidades fundadas em processos de colonização: a grelha ortogonal conhecida desde a Grécia Antiga, baseada em quarteirões quadrados; e a sequência de parcelas/ lotes estreitos e compridos, sistematicamente usada na Europa desde o advento do segundo milénio. Esta é mais flexível e topograficamente mais adaptável que a primeira. Ambos os padrões foram usados e estão presentes, mas também em todos os lugares do mundo que sofreram processos de colonização europeus. Os portugueses transportaram e desenvolveram consideravelmente o sistema de lotes nos demais continentes, enquanto os espanhóis levaram e codificaram o sistema de quarteirões para o Novo Mundo. Isso acabou estabelecendo uma distinção que há décadas é dissecada. No entanto, quando esses dois processos são vistos segundo uma perspectiva global, afiguram-se mais como dois aspetos complementares da difusão da cultura urbanística europeia, que como dois opostos. A alegoria extraída da famosa novela de José Saramago a Jangada de Pedra, pretende não só darnos uma ideia dessa extraordinária transferência de conhecimento para o Novo Mundo, mas também levar-nos a ponderar novas atitudes e objetivos para a investigação.

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Jangada de Pedra…

1. A Jangada de Pedra é o título de um romance publicado em 1986 pelo Prémio Nobel da Literatura José Saramago. Ao longo destas três décadas o sucesso foi enorme, tendo sido publicado em mais de duas dezenas de línguas pelo mundo fora. O mote central da ficção em torno do qual se desenvolve o seu complexo e inusitado enredo, consiste num fenómeno sem explicação científica que determinou a separação da Península Ibérica da Europa, primeiro em direção aos Açores, depois imobilizando-se por algum tempo a meio do Atlântico Norte, numa hesitação entre os Estados Unidos para onde aproava e a Europa que deixava. Hesitação que adquiriu maior expressão quando a balsa ibérica começou a rodopiar sobre si própria, o que durou um mês e acabou por catalisar uma marcha lenta, mas determinada, rumo ao Atlântico Sul. Constatou-se então que todas as mulheres da península estavam prenhes. Por fim, entre a América do Sul e África, a jangada de pedra imobilizou-se transformando a Ibéria num pequeno continente ou grande ilha no seio do Atlântico Sul. Para trás, escancarado ao Atlântico Norte, ficara o Mediterrâneo.

Entre múltiplos aspectos que a crítica literária tem explorado, importa-nos referir o quanto A Jangada de Pedra é essencialmente uma fantástica alegoria, uma crítica mordaz, por vezes satírica, de múltiplos aspetos do seu tempo, designadamente do fim da Teoria dos Mundos e concomitante processo de redesenho dos blocos hegemónicos no Ocidente. Não é mera coincidência o facto de o livro surgir no ano em que Portugal e Espanha passaram a integrar Comunidade Económica Europeia. O autor foi uma das principais vozes contra o processo da integração europeia de Portugal, declarando-se gradualmente a favor de uma federalização ibérica sem equacionar a possibilidade de conjugação de ambas. Considerava que no processo de unificação da Europa os países ibéricos estavam postos de lado, navegando à deriva sem se identificarem cultural, social ou economicamente com o restante continente. Não são essas vertentes polemizantes do livro e outras propostas de Saramago que aqui venho defender ou sequer discutir, mas tão só utilizar a alegoria da transladação geográfica da Ibéria a partir da Europa com vista à sua instalação no mar entre continentes cujas realidades ajudou a definir, nem sempre por processos louváveis, mas que nem por isso deixaram de ter como consequência muitas das suas realidades de hoje. Do tráfego e exploração esclavagista ao proselitismo católico, do reconhecimento, descrição e/ou desenho dos seus territórios, gentes, faunas, floras, etc., à sua estruturação com a concretização de redes urbanas. Um processo de expansão e recomposição da civilização ocidental tendo como armas principais a língua, o credo e a urbanização, sendo a última a que aqui mais se impõe. É uma história que a Europa tem pouco presente, pelo que começarei por a esboçar. 2. Além de uma longa raia fronteiriça, que em tramo algum tem justificação numa variação geográfica, Espanha e Portugal têm muitíssimo mais em comum que aspetos divergentes. Para o que hoje são, mais importante do que a natural história de conflitos entre vizinhos, é a história das influências e complementaridades recíprocas. Por isso mesmo tanto se comparam, assim se acentuando as diferenças e fazendo esquecer o quanto, vistos em conjunto no contexto global, constituem uma unidade recheada de diversidade que enriquece e fortalece sem antagonizar. Ao longo da história o conjunto cruzou e sintetizou como nenhum outro as influências culturais do Mediterrâneo e do Atlântico, do Norte com o Sul, evoluindo de lugar periférico da Europa para jangada de articulação desta com o Mundo, papel que a todos importa que seja intensificado. Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI | conferência | 18 novembro 2014

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Antes da sua assunção como estados soberanos com territórios de configuração próxima da atual, o processo histórico foi genericamente o mesmo, designadamente no que diz respeito à cadência e relevância das invasões (romana, germânica, islâmica) que foram sintetizando as matrizes culturais que os diferenciam do resto da Europa. A definição dessas soberanias foi induzida pelo impulso comum de uma última invasão, a dos cavaleiros da Europa não mediterrânica, em jeito de cruzada contra a dominação islâmica, que assim se juntavam aos cristãos hispano-romanos refugiados nas Astúrias na sua genérica e sugestivamente designada Reconquista Cristã. No que foi determinante o impulso dado pela peregrinação ao santuário de São Tiago.2.

Entre múltiplas “inovações”, com essa última vaga (ocorrida de forma temporalmente dilatada entre os séculos XI e XII) chegaram e instalaram-se a Reforma Gregoriana e as suas ordens religiosas, cavaleiros referidos no parágrafo anterior produziram uma importante renovação na nobreza terra-tenente e de corte, e um número considerável de mercadores e comerciantes centro-europeus desceu à ibéria para mais próximos ficarem do florescente trato islâmico. Esses grupos, de certa forma elites, trouxeram consigo hábitos e inovações religiosas, guerreiras, comerciais, administrativas e a reintrodução do direito romano, mas também de ordenamento do território rural e urbano. O repovoamento e o povoamento de territórios ermos e conquistados ocorreram em simultâneo, com a troca ou substituição de grupos étnicos e/ou religiosos nas cidades e no campo. A pedra de toque de toda essa vasta operação de reurbanização da Ibéria, consistiu num sistemático processo de obliteração das estruturas urbanístico-parcelárias das cidades islamizadas, estabelecendo sobre elas outras seguindo os paradigmas da urbanística medieval europeia então em consolidação3. Naturalmente não era fácil atingir ali o apuramento geométrico-morfológico logrado nas múltiplas vilas novas que também então se produziram. Na realidade e tal como outras regiões da Europa, a Ibéria foi um excelente terreno de experimentação de processos de ordenamento do território e criação de cidades, podendo dizer-se que a sua rede urbana adquiriu então a estrutura que, na essência e muito desenvolvida, hoje persiste. E com ela todas as categorias e tipos de espaços urbanos das cidades europeias, como a “rua” e a “praça”.

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Persistiram, contudo, misturando-se ou transmutando-se, elementos da cultura espacial mediterrânica (grega, romana, islâmica), ainda hoje constatáveis na terminologia e com maior expressão na arquitetura e construção que no urbanismo. Com efeito, a restruturação urbanística por negação das matrizes mediterrânico-islâmicas, por múltiplas vezes daria lugar ao reconhecimento das qualidades estéticas, de recato e conforto da respetiva arquitetura palatina. Se no geral foi importante garantir que a sociabilidade urbana cristã-europeia de rua e espaços urbanos de leitura contígua e contínua se instalassem, as elites foram-se tornando sensíveis ao requinte da vida doméstica apurado na Antiguidade em torno do Mediterrâneo e também ali desenvolvido pelo Islão. Assim se compreende o florescimento na Península Ibérica da arquitetura do Renascimento a par com a do Mudéjar.5. Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI | conferência | 18 novembro 2014

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Essa intensa convivência de oposições e composições tem um quadro mais vasto, no qual a expansão ibérica para o Norte de África surge como a continuação “natural” da Reconquista Cristã, o que é corroborado por um conjunto de bulas papais que desde cedo a incitaram e procuraram regular. Expansão que demorou a concretizar-se porque até 1492 persistiu no sul da península o vasto e próspero reino islâmico de Granada. Já em 1415 Portugal avançara sobre Ceuta. É muito significativo que tal como a nacionalidade portuguesa apenas se consolidou em meados do século XIII com a soberania sobre todo o território que hoje é Portugal, também a unificação das diversas componentes sob a ideia de um Reino de Espanha só foi possível após a conquista de Granada pelos Reis Católicos. Ou seja, a composição de cada um dos dois estados ibéricos dependeu do sucesso hegemónico da Reconquista Cristã. O facto de em finais de Quatrocentos os reinos ibéricos terem condições para expulsar qualquer dominação muçulmana dos seus territórios e prosseguir além-mar, intui bem o contexto em que também promoveram a exploração por via marítima da possibilidade de encontrar formas e parceiros de trato que ajudassem a ultrapassar a sua condição periférica em relação aos grandes polos e eixos do comércio europeu, que em boa medida se fornecia nas caravanas que de África e Ásia afluíam ao sul do Mediterrâneo. No ano da conquista de Granada a armada de Cristóvão Colombo atingiu as Antilhas. Quatro anos antes a de Bartolomeu Dias encontrara a rota do Cabo. Em 1479 os soberanos ibéricos haviam feito um primeiro acordo sobre a repartição do mundo que estavam a descobrir, mas, depois de com essas viagens terem logrado um esboço mais nítido do que esse mundo seria, em 1494 outorgaram outro com regras diametralmente opostas, o Tratado de Tordesillas, processos sempre acompanhados e sancionados pelo Papa6. Só quatro séculos depois, em Berlim, europeus voltariam a ousar repartir o mundo entre eles.

Essa divisão do mundo disponibilizou a cada país ibéricos territórios muito diversos, que por isso exigiram processos de apropriação diferentes. Convergiu nessa diferenciação o facto de Espanha ter população com potencial emigrante muito superiores aos de Portugal. Enquanto nas primeiras décadas da sua expansão ultramarina Espanha se pautou por uma assumida conquista territorial na América (Cortés o México aos Astecas em 1519-1521, Pizarro o Perú aos Incas em 1532, etc.), nas costas africanas e asiáticas Portugal procurou soluções de compromisso que permitissem o domínio dos mares e, assim, do comércio com bases territoriais pouco expressivas. A ocupação do que veio a ser o Brasil foi não só um processo tão protelado quanto prolongado no tempo, apesar das comunidades ali existentes, pelo número e estado de desenvolvimento, oferecerem pouca resistência. Quase invariavelmente as ações territoriais portuguesas na Índia, em África e no Brasil tiveram como catalisadores reações locais e/ou o aparecimento de terceiros, não planos ou intenções previamente definidas. Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI | conferência | 18 novembro 2014

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Neste muito sintético elencar das principais características relacionáveis com os processos territoriais da expansão ultramarina das duas monarquias ibéricas da Idade Moderna, importa ainda chamar a atenção para o facto de no caso português terem sido engajados indivíduos das mais diversas nacionalidades europeias e de para todos terem também sido admitidos os mais diversos estatutos. Com efeito parte considerável da presença portuguesa na Ásia acabou por ser garantida por pessoas que, uma vez cumprido um tempo mínimo de serviço direto à Coroa, adquiriam o direito de se estabelecerem por conta própria explorando os locais, rotas e negócios que entendessem, pois no fim tudo deveria confluir em Goa e assim ser susceptível de gerar rendimentos fiscais. Estes aventureiros, genericamente designados por lançados, atuaram frequentemente em colaboração com missionários do Padroado Português, também eles de múltiplas nacionalidades e realizando incursões arriscadas nas mais diversas geografias. Numa carta escrita em Malaca a 20 de Junho de 1549, quando preparava a sua ida para o Japão com outros dois jesuítas também de naturalidade espanhola, São Francisco Xavier declarava: “vamos três portugueses.” Eram todos agentes do Império Português7. Os pontos de atrito entre os impérios ibéricos eram as raias, as linhas que delimitavam os territórios que reclamavam como seus na Ibéria, na América e no Pacífico. No Norte de África, o desinteresse precoce evitou o conflito. Desde a Idade Média até às independências americanas uma sucessão de tratados foi fazendo o ponto da situação. Da Bacia do Prata a Macau e Manila, mais que campos de batalha essas faixas foram espaços de intercâmbio cultural e mercantil, quase sempre para fugir a taxas aduaneiras. Esta intimidade, aliás uma espécie de promiscuidade funcional entre impérios, nunca existiu com outrem. Sabemos como nas cortes portuguesa e espanhola nos séculos XV e XVI se falavam ambas as línguas apesar da sua crescente codificação e diferenciação, o mesmo sucedendo com a produção editorial, teatral, etc. Os projetos de união ibérica através de união dinástica foram diversos, chegando um deles a dar origem a um infante, D. Miguel da Paz, jurado como herdeiro de ambas as coroas, o que a sua morte precoce (1500) invalidou. Os navegadores, cartógrafos e muitos outros profissionais dos descobrimentos e expansão, serviam indiferentemente ambos os soberanos apenas segundo o apoio que neles encontravam para as suas propostas de expedições, sendo exemplos marcantes Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães: em 1493 o primeiro, no regresso da sua primeira viagem às Antilhas, aportou em Lisboa para conferenciar com o rei português antes de se dirigir a Sevilla e aos Reis Católicos; o segundo, português e depois de uma carreira ao serviço da respetiva Coroa, propôs a Carlos V uma expedição para demonstrar que as Molucas estavam no seu hemisfério definido pelo Tratado de Tordesillas, e assim se concretizou a primeira viagem de circunavegação do planeta. Antes de entrar nas questões diretamente relacionadas com a urbanização, o quadro que assim aqui gostaria de deixar esboçado para um longo século XVI, é de facto o do planeta a ser globalmente percorrido, lido e conceptualizado em desenho unitário pela primeira vez a partir da jangada de pedra ainda amarrada à Europa pelos Pirenéus, culturalmente nutrida pelo muito e muitos que da Europa chegaram e chegavam. Era uma tarefa em que Espanhóis e Portugueses se comportavam como inimigos íntimos, guerreando-se e espiando-se entre si, mas unindo-se quando terceiros ameaçavam essa hegemonia ibérica sobre os mares, a qual tinha necessariamente um fim à vista. Curiosamente quando este se anunciou, na passagem entre os séculos XVI e XVII, os impérios de Portugal e Espanha estavam reunidos sob a Coroa dos Habsburgo, embora no essencial os seus sistemas funcionais e de poder não tivessem sido integrados, assim instigando e viabilizando a retoma da separação em 1640. 3. As historiografias da urbanização e do urbanismo espanhol e português desenvolveram-se em simultâneo a partir da década de 19508. Contudo a maior complexidade e variedade morfológica dos casos portugueses em relação ao damero , levaram a que fossem ingénua e precocemente Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI | conferência | 18 novembro 2014

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interpretados e rotulados como orgânicos, meramente espontâneos ou até resultantes de um desinteresse pela ordem e organização. Apesar de logo na década seguinte terem surgido trabalhos resultantes de processos de investigação atentos demonstrando o contrário9, só a partir da década de 1980 o seu ritmo e volume alteraram essa percepção nos meios académicos de língua portuguesa. Contudo os equívocos prevalecem, em especial no estrangeiro, pese embora o esforço de alguns autores até na publicação em outras línguas10. Também do lado espanhol a simplificação em torno de um conceito já de si simples não tem ajudado, ainda que neste caso a divulgação tenha sempre sido ampla, o que entre outras coisas se explica pela aparente facilidade de percepção do caso. É, porém, uma divulgação que insiste em não se atualizar, usando bibliografia ultrapassada. De facto nunca nada é tão linear como as grandes sínteses possíveis aos estudos comparados numa história global, em especial quando mal informada.

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A redução da urbanística colonial espanhola ao arquétipo de um damero saído das Leys de Indias de 1573 é um bom exemplo disso mesmo. Como já foi amplamente estabelecido por muitos colegas em múltiplos trabalhos, muitas foram as cidades espanholas fundadas na América que não seguem aquele modelo, sendo cerca de 250 os casos surgidos antes daquela normativa12. Essas duas realidades bastam para se deduzir como o modelo integrava previamente a cultura urbanística espanhola e como tendo sido uma opção genérica inicial não foi universal. Como é comum a norma consagrou o uso, não impôs uma novidade. Na essência o damero não consiste em mais do que o modelo urbanístico que maior fortuna crítica teve e também o mais simples desde a Antiguidade, continuado e veiculado pelas mais diversas formas, designadamente nos acampamentos e presídios militares. Está demonstrado como esse modelo da malha ortogonal esteve presente na cultura ibérica ao longo da Idade Média (inclusive através de singulares e precoces propostas teóricas), e como não foi um exclusivo ou criação espanhola13.

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Espanhola foi a forma como acabou sistematizado nos contextos para que foi escolhido, designadamente na formação de lotes sobre territórios onde uma infinita generosidade de espaço chocava os hábitos adquiridos nas acanhadas cidades europeias. Espanhol também o modo como isso se articulou com uma arquitetura meridional, adaptada a climas mais quentes, buscando na tradição mediterrânica modelos de casas-pátio para lotes generosos e de proporção próxima da unidade, rematada por coberturas em terraço. Ainda Espanhola e pragmática foi como, negando o modelo legislado, as praças acabaram por resultar da simples extração de um quarteirão, e não da extração de quartos de quatro quarteirões vizinhos por forma a que dois eixos viários principais nela se diluíssem a eixo. Poderia continuar esta caraterização que todos os especialistas conhecem, mas por isso mesmo não é necessário fazê-lo, pois o que aqui quero vincar é como o Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI | conferência | 18 novembro 2014

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famoso damero hispano-americano não é mais do que a evolução em grande quantidade e adaptada aos contextos do mais simples e comum modelo para as cidades de fundaçãocolonização desde, pelo menos, a colonização helénica. E ainda como isso induz uma sociabilidade própria, pois organização e vida social são inseparáveis da forma urbana e, muito em especial, do lote.

Cartagena (Colombia) and Havana (Cuba).

Relacionemos agora a adoção deste modelo de matriz castrense com o que acima referi sobre como as diferentes condições de partida e dos territórios englobados por cada uma das duas coroas ibéricas ditaram processos de atuação necessariamente diversos. Entre outros aspetos afigura-se como natural que o caráter bélico, conquistador e demograficamente bem sustentado das condições do caso espanhol explique a opção do modelo urbanístico ortogonal que tem como módulo base o quarteirão quadrado. Qual era e como explicar o português? Existiu um modelo como no caso espanhol, ou uma regra? Com exceção de casos insulares que ainda hoje integram Portugal, Açores e Madeira aos quais me referirei daqui a pouco, foi no Índico que os portugueses tiveram que estruturar as suas primeiras cidades fora da Europa. Resultaram de processos graduais de dois tipos: adaptação de estruturas preexistentes ou partindo da instalação de uma feitoria, cedo convertida numa fortificação, que pela sua atração implícita entretanto daria origem a um polo urbano marcado por edifícios conventuais, etc. Os primeiros casos resultaram quase sempre de processos de conquista, os segundos de acordos com os soberanos locais. Com um número sempre deficitário de colonos, a dimensão, densidade e ritmo do processo foram sempre muito reduzidos15. Conclusão: nunca se reuniram as condições ideais mínimas para uma estruturação-concepção geral-planificada das urbes pelo que a aferição da existência ou não de um arquétipo não é autonomamente possível.

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Porém os casos de estruturação mais tardia, posteriores à adoção de uma estratégia de criação de um Estado com algum suporte territorial (na década de 1530 com o governo de Nuno da Cunha), são exceções, pois em Baçaím e Damão é evidente a intenção de ordenamento prévio. Também em alguns sectores da então explosiva capital, Goa, temos indícios de ordenamento nos novos ensanches. Neste âmbito o bairro da Tranqueira em Malaca, produzido a partir de uma rua preexistente, é um exemplo mais claro, até porque a manutenção da sua estrutura até aos dias de hoje também ajuda. Em todos os demais a obliteração das evidências do parcelário e a sua não representação com um mínimo de rigor nos elementos gráficos da época, impossibilitam a realização de estudos morfológicos algébrico-geométricos como aqueles com que temos vindo a verificar a estruturação das urbes noutras paragens do universo urbanístico português. Outros casos a Oriente, como Macau ou Meliapor, resultaram de processos encetados por mercadores e aventureiros em que a ação efetiva da Coroa se fez sentir muito tarde e de forma ténue. Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI | conferência | 18 novembro 2014

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O grande espaço de exportação da cultura urbanística europeia pelos portugueses foi o Brasil, o que começou a ter alguma expressão na segunda metade do século XVI e só ganhou ritmo um século depois. Como já referi, nas primeiras décadas os objetivos portugueses focavam-se no comércio e controlo do Índico, o que tornava desinteressante a urbanização das costas brasileiras. Foi a ameaça de ocupação por franceses e o surgimento das primeiras dificuldades sérias no Oriente que levou a uma primeira tentativa na década de 1530, a qual consistiu na concessão das obrigações e direitos de colonização a privados, que numa perspectiva global e no que aqui interessa nada fizeram. Motivos de vária ordem levaram a Coroa a reagir, o que determinou a criação de um governo geral para o Brasil e a fundação de uma capital para lhe servir de base, Salvador da Bahia, processo encetado em 1548 e que contou com o envio de um mestre-pedreiro industriado com modelos e desenhos a conformar com a realidade do local a escolher17.

Salvador foi assim a primeira cidade fundada enquanto tal pelos portugueses na América do Sul. Foi pensada como uma muito pequena estrutura fortificada implantada num sítio escolhido também pelas suas caraterísticas defensivas naturais. A forma urbana foi determinada pela pequena plataforma revelada após o desmatamento do local e cedo ocorreu a expansão para a também pequena plataforma imediata, articulada pela construção da catedral. O traçado da malha, apesar das condicionantes, é cuidado, procurando a quadrícula e estruturado segundo duas praças, a primeira para o poder civil, a segunda para o religioso. O parcelário é muito híbrido, o que não permite grandes conclusões, ou talvez aponte para grandes hesitações na forma de divisão da propriedade urbana. O primeiro governador do Brasil foi encarregado de promover o ordenamento dos demais assentamentos humanos feitos ao longo da costa, no que não teve muito para fazer. Foi a instalação de um grupo huguenote na baía da Guanabara em 1555 que espoletou uma ação relevante, primeiro de expulsão e, dez anos depois, de fundação do Rio de Janeiro. Começou num morro sobre a baía, mas cedo se estendeu à várzea ao longo da frente de água18, estruturando-se segundo uma malha que em tudo tem a ver com outros casos anteriores portugueses na Europa e ilhas atlânticas: Bairro Alto (Lisboa), Borba, Olivença, Moura, Castelo de Vide, Angra e Ponta Delgada, entre outros19. Não me posso deter em cada um deles, mas importa evidenciar que todos são casos de extensão a partir de cidades consolidadas durante a Idade Média no Portugal europeu, ou a partir de polos de ocupação preliminar no Portugal insular. Com isso chegamos à questão do arquétipo.

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Em todos os casos referidos, apesar da diversidade morfológica há uma coisa em comum: a estruturação a partir de um módulo que é o lote e não o quarteirão. Lotes estreitos e compridos, com casa à frente e, por regra, logradouro atrás, compondo quarteirões mais ou menos longos que hierarquizam a malha viária. Lotes que com pequenas deformações da base retangular têm uma enorme adaptabilidade às condicionantes morfológicas e assim fazem com que cada caso adquira a sua forma. Regra morfológica que, além da flexibilidade que um modelo não tem, com as devidas adaptações induz uma sociabilidade diferente, até pela forma como impõe à composição interna das casas (necessariamente mais abertas ao exterior que uma casa-pátio) uma organização e expressão arquitectónicas diferentes. Para se ler a relação da forma com a sociedade é imprescindível ir até à célula familiar, ou seja, até à casa e ao lote. Tal como o modelo de composição ortogonal utilizado e desenvolvido pelos espanhóis na América não foi, de forma alguma, uma criação ibérica, também a regra baseada no parcelário modulado com lotes estreitos e compridos tem outros antecedentes. Entrou na península ao longo dos séculos XI e XII com as vagas de cristãos da Europa não mediterrânica que referi inicialmente. Tal como por ali, a esmagadora maioria das vilas fundadas pelos reinos cristãos ibéricos como forma de consolidação das respetivas soberanias (e da Reconquista Cristã) seguiram essa regra. Regra que pela sua simplicidade, adaptabilidade e gradualidade melhor servia um processo com as características já acima descritas para o caso português. Regra que não é de tão fácil percepção quanto o damero e que assim iludiu quem primeiro se debruçou sobre a urbanística portuguesa na América, criando um equívoco que teima em perdurar na historiografia.

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As cidades fundadas no Brasil seguiram essa regra. O ritmo foi baixo até meados do século XVII, ou seja, ao longo dos 60 anos de União Ibérica sob a Casa da Habsburgo (1580-1640). Pelo menos num dos casos, fundado em 1585 e sugestivamente titulado como Filipeia (hoje João Pessoa), foi ensaiado o damero. A quadrícula estruturada depois da posse portuguesa em 1615 do forte de S. Luís fundado três anos antes pelos franceses no Maranhão ilude, pois o parcelário segue a regra do módulo-lote estreito e comprido. Será o primeiro de muitos casos em que os engenheiros militares portugueses procuraram fundir os sistemas. Do lado espanhol também houve ensaios similares, como é o caso de um plano para Portobelo (Panamá) de cerca de 1600. A jangada de pedra, que na novela de Saramago vimos ser uma fértil incubadora, também na América Portuguesa começara a reproduzir e desenvolver o arquétipo medieval europeu. 4. A navegação, exploração e início da colonização ibérica do mundo ao longo do século XVI acabou por acordar a Europa não mediterrânica para o comércio global. A convergência da União Ibérica com as lutas intestinas europeias (em boa medida centradas em torno do império reunido em Carlos V), reuniu condições para que soberanias rivais passassem a disputar abertamente esse comércio e os nós vitais das suas redes. Em 1596 a primeira esquadra holandesa, capitaneada por Cornelis de Houtman, entrou no Índico. Foi, curiosamente, o ano da publicação em Amesterdão do Itinerário (Voyage ofte Schipvaert van […] naar Oost ofte Portugaels Indien) de John Huyghen van Linschoten, relato cuidado de tudo quanto o holandês embarcado em naus portuguesas viu no Oriente21. Seguir-se-lhe-iam múltiplos relatos de viagens às mesmas paragens e à América do Sul e Antilhas feitos por holandeses, ingleses e franceses. Continham mapas com rotas, dados sobre navegação e comércio, plantas e descrições de cidades e sistemas defensivos. Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI | conferência | 18 novembro 2014

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Holanda, Inglaterra e, cerca de meio século mais tarde, França encetaram as suas ações ultramarinas quase exclusivamente com intuitos comerciais. Claro que isso requereu bases fortificadas e a longo prazo deu origem a colónias. De início as Coroas ou Estados não se envolveram diretamente, mas sim empresas, as companhias das índias: as holandesas VOC (Vereenigde Oost-Indische Compagnie) e WIC (West-Indische Compagnie), fundadas em 1602 e 1621, respetivamente; a Company of Merchants of London Trading to the East Indies de 1600, a Compagnie Française des Indes Orientales de 1664. A eficácia bélica dos seus navios cedo impôs o seu domínio em detrimento das armadas ibéricas, o que ficara claro em 1588 na vitória inglesa, com auxílio holandês, sobre a Invencível Armada, composta por 2/3 de navios espanhóis e 1/3 de portugueses. A falta de ambição dessas potências emergentes por um controlo territorial de cariz colonial poupou o essencial dos impérios ibéricos nos quais, aliás, se passou a verificar um crescendo da ação urbanizadora e civilizacional, ou seja, de ocupação territorial. Quando aqueles protagonistas tardios desenvolveram iguais interesses catalisaram a formulação do que em história global é efetivamente considerado colonialismo. Isso tem feito com que o colonialismo ibérico seja encarado como um precedente experimental e arcaico, o que de forma alguma é depreciativo se lhe for reconhecida a relevância que teve, designadamente na abertura de trilhos e na formatação civilizacional de uma parte relevante do mundo de hoje.

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Com efeito a colonização europeia produzida na América nos séculos XVII e XVIII é de forte pendor urbanizador e maciçamente ibérica. Explorou-se o sertão, delimitaram-se fronteiras e fundaram-se centenas de cidades que no conjunto demonstram uma sofisticação gradual do modelo e regra europeus transpostos e desenvolvidos pela jangada de pedra. À data das independências americanas de finais do século XVIII e inícios do seguinte, as colónias ibéricas, designadamente o Brasil, formavam países com territórios reconhecidos e estruturados, redes urbanas e aparelhos de estado compostos. Eram, em síntese, países prontos ao invés dos USA e Canadá, que acabaram sendo construídos depois de uma autonomização produzida com base em comparavelmente magras malhas e estruturas coloniais. Para o bem e para o mal, a jangada de pedra produziu de forma direta e ainda hoje absolutamente expressiva os pilares da urbanidade da América Latina, o que significa 20 países com uma população maioritariamente urbana que é cerca de 8% da população mundial, equivalente a 80% da europeia e 170% da dos USA e Canadá. Em área a América Latina compreende 13% da superfície de todos os continentes, no que se assemelha à área dos USA e Canadá e é quase duas vezes a da Europa. Além de uma das grandes potências emergentes, o Brasil tem 1/3 da população da América Latina e 44% da sua superfície. Se estes números impressionam devemos ainda juntar à América Latina os países não americanos de língua portuguesa, onde, com raras mas relevantes exceções como Luanda e a Ilha de Moçambique, o processo de urbanização é já do século XX e mais uma vez as independências de 1975 foram feitas em territórios urbanisticamente maduros. Ao fazê-lo os rácios da urbanização ibérica sobem 1% em cada indicador, ou seja, para 9% da população mundial e 14% da superfície dos continentes. Nesses países falam-se duas línguas muito semelhantes que são a 2ª e a 5ª mais usadas no Mundo, num total de quase 800.000.000 de falantes.

5. Chegados aqui espero que agora me permitam a formulação de uma proposta que, obviamente, vai de encontro ao esforço de um grupo alargado de investigadores nos quais me incluo, mas acredito que poderá congregar muitos mais. As historiografias urbana e do urbanismo globais, mesmo as publicadas há meses, ignoram Portugal e quase ignoram Espanha22. Numa perspectiva exclusivamente europeia podemos considerá-lo compreensível, embora se possa considerar estranho sem uma referência cuidada ao Plano de 1758 para a reconstrução de Lisboa, um dos primeiros planos integrados da história da urbanística e por isso com um amplo impacto social23, ou a Vila Real de Santo António24, , uma utópica cidade-fábrica projetada e concretizada na mesma cronologia que as Saline Royale d’Arcet-Senans em Chaux, na qual a fusão entre o damero e o lote estreito e comprido é levada ao extremo matemático de um fractal, e o modelo social é um claro prenúncio da sociedade industrial. Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI | conferência | 18 novembro 2014

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O que por fim quero deixar à consideração deste fórum, é se numa perspectiva global e numa estratégia europeia de reafirmação mundial, essas mesmas historiografias devem continuar a ignorar ou abordar de forma factual e metodologicamente errada, desconhecendo a excelente investigação específica desenvolvida nos últimos anos, o todo produzido a partir da jangada de pedra, o qual é um extraordinário e vivo legado europeu a toda a humanidade. Em suma, sugiro à comunidade de investigadores aqui reunida uma renovadora adesão ao metafórico desígnio de Saramago, largando dos Pirenéus com destino ao Atlântico Sul e viajando por terra até às contracostas no Índico e no Pacífico. 6. Caso contrário, e como epílogo, conforme se lê nos excertos seguintes do romance de Saramago, alguém na Europa revoltado com a despedida da Ibéria escreverá num recanto de uma parede “Nous aussi, nous sommes ibérics […] Esta declaração inauguradora alastrou rapidamente, apareceu nas fachadas dos grandes edifícios, nos frontões, no asfalto das ruas, nos corredores do metropolitano, nas pontes e viadutos […]saltou as fronteiras, e depois de as ter saltado verificou-se que afinal já aparecera também nos outros países […nas respetivas línguas…] Mas o cúmulo, o auge, o acine, palavra rara que não voltaremos a usar, foi quando nos muros do Vaticano, pelas veneráveis paredes e colunas da basílica, no soco da Pietà de Miguel Ângelo, na cúpula, em enormes letras azul-celestes no chão da Praça de São Pedro, a mesmíssima frase apareceu em latim, Nos quoque iberi sumus […] Da noite para o dia a Europa apareceu coberta destas inscrições. Aquilo que ao princípio talvez não tivesse passado de um mero e impotente desabafo de sonhador, foi alastrando até tornar-se grito, protesto, manifestação de rua.” Sintamo-nos pois orgulhosos de ser ibero-americanos e lutemos pelo reconhecimento mundial dessa situação!

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Notas

Este texto foi inicialmente redigido em Inglês como conferência de abertura da 12ª Conferência da Associação Europeia de História Urbana, Cities in Europe Cities in the World, que teve lugar em Lisboa entre 3 e 6 de setembro de 2014. Esta versão em Português foi preparada para ser apresentada, também como conferência, à Reunião Internacional de Coimbra da Rede PHI, Património Histórico-Cultural Iberoamericano, que teve lugar no Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra nos dias 18 e 19 de novembro de 2014. As diferenças não são substanciais. As imagens são provas de contacto de quase todos os diapositivos projetados durante a leitura do texto. Os desenhos sem autoria identificada foram recolhidos de trabalhos do autor, mas também de colegas do grupo de investigação que integra no Departamento de Arquitetura e no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Por tal razão são-lhes devidos créditos, mas também agradecimentos por todas as discussões que ao longo dos anos permitiram iluminar os argumentos que aqui se apresentam: Adelino Gonçalves, Antonieta Reis Leite, João Manuel Horta, Luísa Trindade, Sidh Mendiratta e Vera Domingues. 1

2 José MATTOSO (dir.) (1992), História de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores: vol.s 1 e 2; José MATTOSO (19881999), Naquele tempo: ensaios de História Medieval. Lisboa: Temas e Debates/ Círculo de Leitores. 2009; Bernard F. REILLY (1992), The contest of Christian and Muslim Spain 1031-1157. Oxford: Blackwell. 3 Pedro JIMÉNEZ CASTILLO; Julio NAVARRO PALAZÓN (2001), El urbanismo islámico y su trans formación después de la conquista cristiana: el caso de Murcia. La ciudad medieval: de la casa al tejido urbano. Coord. Jean Passini, Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla-la-Mancha; J. TORRÓ ABAD (1993), El urbanismo mudéjar como forma de resistencia. Alquerías y morererías en el reino de Valencia (siglos XIII-XIV). Actas del Simposio Internacional de Mudejarismo. Zaragoza: Centro de Estudios Mudéjares del Instituto de Estudios Turoleses. 1995; Jean PASSINI (coord.) (2001), La ciudad medieval: de la casa al tejido urbano. Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla-la-Mancha; Luísa TRINDADE (2009), Urbanismo na composição de Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. 2013. 4 Os dois esquemas da esquerda e os dois em baixo do lado direito foram retirados de Pedro JIMÉNEZ CASTILLO; Julio NAVARRO PALAZÓN (2001), El urbanismo islámico y su trans formación después de la conquista cristiana: el caso de Murcia. La ciudad medieval: de la casa al tejido urbano. Coord. Jean Passini, Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla-la-Mancha. 2001: 113-114; o desenho do meio é de Jean PASSINI (2004), Casas y casas principales urbanas. El espacio doméstico de Toledo a fines de la Edad Media. Toledo: Universidad Castilla-la-

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Mancha; a isometria da casa islâmica é de Rosa Varela GOMES (1998), O Barlavento Algarvio nos finais da islamização, Portugal islâmico: os últimos sinais do Mediterrâneo, Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia; finalmente, o desenho do canto superior direito é um detalhe de uma vista de Setúbal do acervo da Biblioteca Nacional da Ajuda, cod. Ms 50-v36, fl.344. 5 Pedro DIAS (1994), Arquitectura Mudéjar Portuguesa: tentativa de sistematização. Mare Liberum. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. nº8: 49-89; Rafael López GUZMÁN (2000), Arquitectura Mudéjar. Madrid: Ediciones Cátedra. 2000. 6 Entre muitos outros: Stephen R. BOWN (2011), 1494: How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half. Thomas Dunne Books: New York. 2011. 7 Luís Filipe THOMAZ (1975-1991), De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel. 1994; Sanjay SUBRAHMANYAM (1993), The Portuguese Empire in Asia, 1500-1700, a political and economic history. London and New York; Sanjay SUBRAHMANYAM (2005), From the Tagus to the Ganges, Delhi e Oxford: Oxford University Press. 8 Apenas alguns exemplos: a) do lado português: Aroldo de AZEVEDO (1957), Embriões de cidades brasileiras. Boletim Paulista de Geografia. São Paulo: nº25: 31-69; Luís da SILVEIRA (1956), Ensaio de Iconografia das cidades portuguesas do Ultramar. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar. 4 vol.s; Robert C. SMITH (1956), Colonial Towns of Spanish and Portuguese America. Journal of the Society of Architectural Historians. Chicago: nº4, ano 14: 2-12; b) do lado espanhol: A. GARCIA BELLIDO; L. TORRES BALBÁS; L. CERVERA VERA; F. CHUECA GOITIA; P. BIDAGOR LASARTE (1954), Resumen Historico del Urbanismo en España. Madrid: Instituto de Estudios de Administracion Local. 1987.

José Augusto FRANÇA (1962), Lisboa Pombalina e o iluminismo. Lisboa: Bertrand. 1987; Nestor Goulart REIS (1964), Contribuição ao Estudo da Evolução Urbana do Brasil (1500/1720). São Paulo: Pini. 2001; Paulo F. SANTOS (1968), Formação de cidades no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. 2001.

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Roberta Marx DELSON (1979), New Towns for Colonial Brazil: spacial and social planning of the eighteenth century. Siracuse: Department of Geography of Siracuse University and UMI; Walter ROSSA (1990), Beyond Baixa: signs of urban planning in eighteenth century Lisbon. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico. 1998; Walter ROSSA (1995), Cidades Indo-Portuguesas: contribuição para o estudo do urbanismo português no Hindustão Ocidental/IndoPortuguese Cities: a contribution to the study of Portuguese urbanism in the Western Hindustan. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 1997; Walter ROSSA (2003), Portuguese land ordinance and urbanising strategies for Asia. Congress Rivalry and Conflict, European Traders and Asian Trading Networks. Leiden: CNWS Publications. 2005: 55-70; Walter ROSSA (2010), Le città nuove dell’universo urbanistico portoghese: invariabilità ed evoluzione. Fondazioni urbane. Città nuove europee dal medioevo al Novecento. Roma: ed. A. Casamento, Edizioni Kappa. 2012: 245-264; José MATTOSO (dir.); Walter ROSSA (coord.) (2010), Património de Origem Portuguesa no Mundo: Arquitetura e Urbanismo. Ásia e Oceania. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2011 (também em www.hpip.org); Walter ROSSA (2011), Former Portuguese Urban Settlements in Indian Ocean borders: last developments on its research. Entretiens du Patrimoine de l’Ocean Indien/ Indian Ocean Heritage Conference, Actes du colloque international de SaintDenis, La Réunion. Montpellier: dir. Attila Cheyssial, Editions de l’Espérou. 2013: 341-348; Luísa TRINDADE; Walter ROSSA (2012), 1514 El Jadida 1541: Le vicende della fondazione di una città marocchina. Il cantiere della città: strumenti, maestranze e tecniche dal medioevo al novecento. Roma: ed. A. Casamento, Edizioni Kappa. 2014. 10

Capas de alguns itens fundamentais da bibliografia sobre urbanismo iberoamericano. Aos referidos noutras notas importa acrescentar quatro resultantes do projeto A Cidade como Civilização: universo urbanístico português 1415-1822, desenvolvido pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses entre 1997 e 2002: Renata de ARAUJO; Helder CARITA (org.) (1982-1997), Colectânea de Estudos: Universo Urbanístico Português 14151822. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 1998; Walter ROSSA; Renata de ARAUJO; Helder CARITA (org.) (1999), Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português 1415-1822, atas. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 2001; Walter ROSSA (coord.) (2000), A construção do Brasil urbano. Oceanos. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. vol. 41, 2000 Walter ROSSA; Renata de ARAUJO; Helder CARITA (2002), Universo Urbanístico Português 1415-1822, Fac-similæ da Exposição. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e Câmara Municipal de Lisboa. 2002. 11

12 La ciudad Iberoamericana, Actas del Seminario Buenos Aires 1985. Madrid: MOPU/CEHOPU. 1987; Estudos sobre urbanismo Iberoamericano, siglos XVI al XVIII. Sevilla: Junta de Andalucia, Consejeria de Cultura. 1990; Estudios sobre el territorio iberoamericano. Sevilla: Junta de Andalucia. 1999; GUTIÉRREZ, Ramón (1992), Arquitectura y Urbanismo en Iberoamerica. Madrid: Ediciones Cátedra.

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13 Fernando de TERÁN (coord.) (1989), La Ciudad Hispanoamericana: el sueño de un orden. Madrid: CEHOPU. 1989; Beatriz ARIZAGA BOLUMBURU (1990), Urbanística Medieval (Guipúzcoa), San Sebastián, Editorial Kriselu; Ramón BETRAN ABADIA (1992), La forma de la ciudad. Las ciudades de Aragon en la Edad Media. Zaragoza: Delegación en Zaragoza del Colegio Oficial de Arquitectos de Aragón; Pascual Martínez SOPENA; Mertxe URTEAGA (ed.) (2006), Las villas nuevas medievales del Suroeste europeo. De la fundación medieval al siglo XXI. Análisis histórico y lectura contemporánea, Boletín Arkeolan. Irun: Centro de Estudios e Investigaciones Histórico-Arqueológicas. nº14.

Fernando de TERÁN (coord.) (1989), La Ciudad Hispanoamericana: el sueño de un orden. Madrid: CEHOPU. 1989. The central drawing is a contemporary illustration of the ideal city proposed by Francesc EIXIMENIS (c.13851392), Lo Crestià. Barcelona: Ediciones 62. 1983. See also Soledad VILA, Soledad (1985), El plan regular de Eximenis y las Ordenanzas Reales de 1573. La ciudad Iberoamericana, Actas del Seminario Buenos Aires 1985. Madrid: MOPU/CEHOPU. 1987: 375-383. 14

15 Walter ROSSA (1995), Cidades Indo-Portuguesas: contribuição para o estudo do urbanismo português no Hindustão Ocidental/Indo-Portuguese Cities: a contribution to the study of Portuguese urbanism in the Western Hindustan. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 1997; José MATTOSO (dir.); Walter ROSSA (coord.) (2010), Património de Origem Portuguesa no Mundo: Arquitetura e Urbanismo. Ásia e Oceania. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2011 (também em www.hpip.org).

Diu (Índia), Colombo (Sri Lanka), Cananor (Índia), Gale (Sri Lanka), Cochim (Índia), Chaul (Índia), Baçaím (Índia), Damão (Índia), e Malaca (Malásia). Além de maquetas e desenhos produzidos sob direção do autor para fins diversos, neste conjunto foram integrados itens dos National Archives of the Netherlands; Gaspar CORREIA, Gaspar (1560), Lendas da Índia. Lisboa: Lello & Irmão. 4 vol.s, 1975; João de CASTRO (1538/9), Roteiro de Goa a Diu. Obras Completas de D. João de Castro. Coimbra: ed. Armando Cortesão e Luís de Albuquerque, Academia Internacional da Cultura Portuguesa. vol. II, 1971: 11-169; Philippus BALDEUS, Philippus (1672), Naauwkeurige Beschrjvinge van Malabar en Chromandel, der zelver aangrenzende Ryken, en het machtige Eyland Ceylon.…. Amsterdam: Johannes Jansonius van Waasberge. 16

A fundação de Salvador tem sido longamente discutida e segundo diversas perspectivas. No que diz respeito ao urbanismo os textos mais marcantes são: Thales de AZEVEDO (1949), Povoamento da Cidade do Salvador. Salvador: Prefeitura Municipal do Salvador; Teodoro SAMPAIO (1949), História da fundação da Cidade do Salvador. Salvador; Américo SIMAS FILHO (1979), Evolução física de Salvador. Salvador: Fundação Gregório de Mattos. 1998; Anais do IV Congresso de História da Bahia [Salvador 450 anos]. Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia/Fundação Gregório de Mattos. 2 vol.s, 2001; Paulo Ormindo de AZEVEDO (2010), Salvador: enquadramento histórico e urbanismo. Património de Origem Portuguesa no Mundo: Arquitetura e Urbanismo. América do Sul. Dir. José Mattoso; coord. Renata de Araujo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2011: 171-175 (também em www.hpip.org).

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Mauricio de A. ABREU (2010), Geografia histórica do Rio de Janeiro (1502-1700). Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson; José PESSÔA (2010), Rio de Janeiro: enquadramento histórico e urbanismo. Património de Origem Portuguesa no Mundo: Arquitetura e Urbanismo. Ásia e Oceania. América do Sul. Dir. José Mattoso; coord. Renata de Araujo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2011: 293-297 (também em www.hpip.org). 18

Os casos representados na imagem são Bairro Alto (Lisbon), Borba, Olivença e Castelo de Vide (Portugal Continental), e Angra e Ponta Delgada (nas ilhas dos Açores). Os estudos mais recentes sobre os casos continentais são: Walter ROSSA (2012), História(s) do património urbanístico. Fomos condenados à cidade: uma década de estudos sobre património urbanístico. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. 2014 para o Bairro Alto, e para os outros casos Luísa TRINDADE (2009), Urbanismo na composição de Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. 2013. Para os Açores ver Antonieta Reis (2012), Açores, cidade e território. Coimbra: dissertação de doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. 19

O conjunto de desenhos da direita são de Beatriz ARIZAGA BOLUMBURU (1990), Urbanística Medieval (Guipúzcoa), San Sebastián, Editorial Kriselu; Ramón BETRAN ABADIA (1992), La forma de la ciudad. Las ciudades de Aragon en la Edad Media. Zaragoza: Delegación en Zaragoza del Colegio Oficial de Arquitectos de Aragón. Os desenhos da esquerda são de Luísa TRINDADE (2009), Urbanismo na composição de Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. 2013. 20

Jan Huyghen van LINSCHOTEN (1596), The voyage of… to the East Indies. New Deli: Asian Educational Services. 2 vol.s, 1988.

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Pierre LAVEDAN (1941), Histoire de l'Urbanisme: Renaissance et Temps Modernes. Paris: Henri Laurens. 1959; Leonardo BENEVOLO (1975), Storia della città. Roma: Laterza. 4 vol.s; Paolo SICA (1976), Storia dell'urbanistica: Il Settecento. Bari: Laterza. 1985; A. E. J. MORRIS (1979), History of Urban Form: Before the Industrial Revolutions. London: Godwin; Charles DELFANTE (1997), Grande histoire de la ville: de la Mésopotamie aux États-Unis. Paris: A. Colin; 22

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Peter CLARK (ed.) (2013), The Oxford Handbook of Cities in World History. Oxford: Oxford University Press. 2013. José Augusto FRANÇA (1962), Lisboa Pombalina e o iluminismo. Lisboa: Bertrand. 1987; Walter ROSSA (2008), No 1º Plano. Lisboa 1758: o Plano da Baixa hoje, catálogo da exposição. Lisboa: coord. Ana Tostões e Walter Rossa, Câmara Municipal de Lisboa. 2008: 24-81.

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José Eduardo Horta CORREIA (1984), Vila Real de Santo António: urbanismo e poder na política pombalina. Porto: FAUP. 1998; João Manuel Gomes HORTA (2006), Vila Real de Santo António, forma limite no Urbanismo Histórico Português. Faro: dissertação de doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. 2006; Walter ROSSA (2009), Cidades da Razão: Vila Real de Santo António e arredores. Monumentos. Lisboa: Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana. nº30, 2009: 16-31.

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