JAPARATUBA EM REDE: A EXPERIÊNCIA DE UMA METODOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS AGENTES CULTURAIS

May 22, 2017 | Autor: Marcelo Rangel Lima | Categoria: Creativity, Young People, Gestión Cultural, Culture and Development
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JAPARATUBA EM REDE: A EXPERIÊNCIA DE UMA METODOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS AGENTES CULTURAIS

Marcelo Rangel
Bruna Távora
RESUMO: O presente trabalho relata a experiência que vem sendo desenvolvida no projeto Japaratuba em Rede: Juventude, Cultura e Cadeias Produtivas que atua na integração de jovens agentes culturais da cidade de Japaratuba, Sergipe, através do fortalecimento de suas potencialidades e habilidades. Isto, por meio da educação profissional em gestão cultural, comunicação & cultura digital e criatividade. Com foco no fortalecimento das identidades culturais dos participantes e na manutenção do patrimônio cultural de Japaratuba, a iniciativa busca qualificar profissionalmente, dentro da cadeia produtiva do setor cultural, jovens atuantes de movimentos culturais.
PALAVRAS-CHAVE: gestão cultural, educação, cadeias produtivas

Introdução
Marcada por uma forte concentração nos pólos de produção e distribuição, os bens culturais da sociedade têm sido produzidos sob orientações fortemente mercadológicas. A fruição de bens culturais de comunidades de todo o Brasil é uma mescla entre produções ancoradas nas práticas culturais locais e aqueles produtos advindos dos grandes centros e escoados pelas mídias massivas, como o rádio e a TV. Às expressões culturais locais se juntam bens simbólicos vindos desde os centros e carregados de significados que, muitas vezes, estão distantes do cotidiano e do dia-a-dia de comunidades quilombolas, ribeirinhas, rurais de todo o Brasil.
Embora seja uma tendência geral dos processos sociais, a produção cultural fortemente industrializada se estabelece como problemática pela natureza destes bens. MARTIN-BARBERO (1997) explica que os bens culturais são bens simbólicos que funcionam como elementos de mediação da vida das pessoas e pautam as relações sociais do homem com suas comunidades, com suas culturas e entre si.
Embora disputem com outras referências culturais próprias das comunidades, estes bens produzidos industrialmente têm pautado, de maneira ampla, as referências culturais da sociedade e, tem contribuído para o enfraquecimento de polos locais de produção e distribuição cultural e para o enfraquecimento do sentimento de pertencimento cultural de grupos com suas comunidades (HALL, 2005). Esse conteúdo massivo, por se estruturar de maneira organizada e em escala global, muitas vezes, representa a maioria das referências as quais as comunidades têm acesso, enfraquecendo as práticas locais e consolidando elementos simbólicos que tem baixa referência com os pontos regionais/locais.
Frente a essa realidade, grupos e movimentos sociais ao redor do globo tem se apropriado de estratégias e ferramentas de produção para viabilizarem a produção cultural de suas comunidades. Estas práticas ora funcionam incorporando a lógica predatória do mercado cultural, ora se configuram como ferramentas de apropriação social (NEUMAN, 2010) e são produzidas em contextos de atuação cultural com foco no desenvolvimento local e na emancipação humana dos grupos e seu entorno. Embora se configurem de maneira dispersa na paisagem cultural consolidada pela indústria da cultura, esta produção cultural advinda das práticas das comunidades tem sido responsável por manter vivas expressões tradicionais e seculares de territórios.
No entanto, fazer frente aos processos massivos e industriais dos bens simbólicos se configura como desafiador já que essas comunidades apresentam uma população vulnerável socialmente, com baixa renda econômica, baixa escolaridade, reduzida educação e qualificação profissional e uma cadeia produtiva da cultura dispersa e organizada de modo aleatório.
A partir da compreensão desta realidade, o projeto Japaratuba em Rede: Juventude, Cultura e Cadeias Produtivas pretendeu fazer frente a estes desafios e integrar uma rede local de produção cultural. Tem o objetivo de contribuir para a formação e educação profissional da juventude participante do movimento cultural local e contribuir para o fortalecimento de suas práticas culturais, para assim possibilitar a articulação de um pólo produtor de cultura capaz de remunerar os seus agentes, movimentar a economia e sustentar econômica e culturalmente as expressões já existentes na região.
A matriz cultural em Japaratuba
O município de Japaratuba, localizado a 56km de Aracaju, capital de Sergipe, no nordeste do Brasil, tem área de 364,899 km2, população de 16.874 habitantes (IBGE, 2010), sendo que 53% vivem nas áreas rurais, segundo dados do Sistema de Informação de Atenção Básica de 2010. A densidade demográfica é de 39,13 habitantes por Km², com renda per capita média de R$ 74,65. A população pratica uma agricultura de subsistência e ocupa-se de serviços temporários, sendo a administração pública responsável pela maior parte de empregos ofertados à população economicamente ativa.
Quanto aos jovens, dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil 2013, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), informam que apenas 30% dessa população finalizou a matriz educacional do ensino médio e, assim como a tendência geral, também na juventude a taxa de empregabilidade se concentranos serviços informais e na administração pública.
A cidade de Japaratuba guarda em sua história e tradição muito das culturas indígena, portuguesa e, sobretudo, negra. Trata-se de um dos mais ricos celeiros de manifestações tradicionais da cultura popular de Sergipe. Apresenta manifestações culturais que reverberam o passado e garantem, no presente, uma permanente interação entre as gerações, mantendo a memória cultural das comunidades viva e garantindo a reprodução simbólica de suas culturas. Japaratuba é uma usina de tradições e alegorias. A riqueza cultural de Japaratuba tem raízes importantes que contam a história de um povo através das suas danças, cantos, gestos e ritmos, aliados a uma forte religiosidade que presta homenagens aos seus santos e crenças (BARRETO, 2013)
O Censo artístico-cultural (2013) do município, realizado pela Prefeitura Municipal de Japaratuba, 2013 confirma essa realidade:
Modalidade
Quantidade
1
GRUPOS FOLCLÓRICOS & PARAFOLCLÓRICOS
26
2
TEATROS
10
3
POETAS
31
4
GRUPOS DE DANÇAS & AFINS
31
5
BANDAS FILARMÔNICAS & MARCIAIS
10
6
BANDAS, MUSICAIS & AFINS.
36
7
GINÁSTICA & ARTES MARCIAIS
03
8
QUADRILHAS JUNINAS
11
TOTAL
154

Somado aos grupos catalogados e expostos acima, a cidade ainda apresenta festas tradicionais seculares, como por exemplo, a Festa das Cabacinhas, a Coroação da Rainha do Cacumbi, a Festa de Santos Reis e São Benedito, dentre outras. Acrescenta-se a isso, a recente apropriação das referências artísticas de Artur Bispo do Rosário pelos artistas e moradores da região, que a partir da transferência de seus restos mortais para a cidade, se configurou como referencial simbólico para os cidadãos. Isto impulsionou, nos últimos anos, a criação de festivais de arte, além de uma produção cultural que vem se nutrindo de sua memória artística e cultural.
Além disso, entidades organizadas também são identificadas no município como o Ponto de Cultura Caatingart, no povoado São José, a Associação de Catadoras de Mangaba do Povoado Porteiras, a Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares do Assentamento Caraíbas - Doce Lar (Coomafac), a Associação Quilombola da comunidade Patioba, na comunidade tradicional de quilombolas Patioba, que recebeu a Certidão de auto reconhecimento sob o número de 06/2006, emitida pela Fundação Cultural Palmares e publicada em Diário Oficial da União em 12 de maio de 2005.
Nesse sentido, a realidade em que o projeto atua apresenta fortes registros de expressão e organização culturais. No entanto, por não deterem ferramentas de educação profissional que possibilitem a sustentabilidade dos processos culturais, muitos grupos apresentam déficit de apoio e tem suas práticas e expressões culturais ameaçadas pela concepção industrial de produção cultural da nossa sociedade.
Na perspectiva do local de atuação deste projeto, o que pode ser visto é o desenho de uma realidade onde, embora a vitalidade cultural da região seja facilmente identificada, a organização das cadeias produtivas da cultura apresenta-se desestruturada e sem promover um retorno sociocultural equivalente a sua capacidade para o município e seus habitantes.
Qualificação para a produção cultural
Assim, o projeto Japaratuba em Rede: Juventude, Cultura e Cadeias Produtivas foi contemplado para patrocínio por meio da seleção pública Integração Comunidades Petrobras 2013 Nordeste, na linha programática Educação para Qualificação Profissional. Com tempo de 2 anos para execução, configura-se como uma proposta de formação, educação profissional e integração de jovens agentes culturais de baixa renda de Japaratuba atuantes na cadeia produtiva da cultura.
Realizado pelo Instituto Banese, associação sem fins lucrativos criada e mantida com recursos oriundos do Banco do Estado de Sergipe e suas empresas relacionadas, voltada para o desenvolvimento de ações de responsabilidade socioambiental através de apoio e/ou realização de projetos em sintonia com políticas públicas, com destaque para a promoção da cultura.
Entre suas ações, a mais destacada é a gestão do Museu da Gente Sergipana, voltado para a promoção do patrimônio cultural de Sergipe através de instalações em multimídia interativa e exposições de curta duração. Inaugurado em novembro de 2011, já recebeu mais de 300.000 visitantes, de diferentes idades e origens, cerca de 100 mil estudantes de todo o estado de Sergipe e uma média de 2.000 viajantes por mês.
Através da integração de jovens de comunidades da cidade de Japaratuba procura-se destacar as potencialidades, as vitalidades culturais e a ênfase no fortalecimento das identidades culturais (HALL, 2005) dos participantes. Assim, estão sendo formados para a educação profissional no campo cultural jovens atuantes em movimentos culturais, na perspectiva de qualificar profissionalmente - dentro da cadeia produtiva do setor cultural - o grupo do qual os jovens originalmente participam. Sua área de abrangência corresponde à cidade de Japaratuba incluindo suas comunidades e povoados. A proposta inicial previu a participação direta de 50 jovens, e indiretamente, de suas famílias, suas comunidades e dos grupos artísticos da região que tem na manutenção de suas práticas culturais suas formas de reprodução simbólica do mundo da vida e são os responsáveis por manterem vivas as expressões culturais locais e regionais de Japaratuba.
São jovens que atuam em movimentos culturais e, em paralelo, desenvolvem outras atividades para sustento econômico. Com dificuldades para sustentar economicamente o pulsante movimento que se desenvolve no local, muitos grupos se extinguem ou se mantém dependentes de financiamentos aleatórios ou tem acesso limitado às políticas públicas que possam garantir a manutenção de suas práticas e expressões culturais.
Em contraponto a essa situação, o projeto tem buscado contribuir para o fortalecimento e sustentabilidade destas práticas por meio da aprendizagem e implementação de metodologias participativas de produção cultural e de auto-organização dos grupos. Isto para proporcionar espaços e educação profissional ancorados na cooperação, responsabilidade e respeito ao patrimônio cultural da cidade.
Em linhas gerais, pretende se estabelecer como um espaço de aprendizagem de práticas de comercialização, financiamento, criação artística e gestão cultural, tendo como objetivo final a criação de uma linha de produtos de comercialização de moda, decoração & ambientação e utilitários inspirados nas referências culturais da cidade.
Ao final da execução do projeto, espera-se obter como resultados uma profissionalização da cadeia produtiva da cultura na região, através do lançamento de um selo de comercialização que possa, no futuro, viabilizar uma melhora econômica dos participantes, da realização de rodada de negócio e visitas técnicas de intercâmbio de experiências e da educação profissional destes jovens para uma gestão cultural não predatória, cooperada e sustentável. Além destes benefícios, o projeto visa fortalecer a apropriação social (NEUMAN, 2010) de ferramentas, práticas e técnicas pelos participantes de modo que eles possam participar ativamente das mudanças e dos rumos da produção cultural de suas comunidades.
Metodologia
De forma participativa e interdisciplinar, prioriza-se o trabalho coletivo e solidário, a cooperação e a auto-gestão dos processos culturais, sendo flexível e adaptável à realidade e às demandas das(os) participantes.
O trabalho foi iniciado em outubro de 2014, em processo de mobilização social por meio de reuniões abertas de apresentação do projeto, em articulação com órgãos de gestão de políticas para a cultura e juventude do município, associações e grupos culturais da cidade que resultou no cadastramento de 146 jovens.
Ao longo de sua realização, alguns jovens afastaram-se do projeto por questões pessoais (dificuldade de integração, desmotivação, trabalho, problemas familiares, etc). Outros, mesmo com redução da frequência por questões pessoais (trabalho, estudos, dificuldades pessoais, etc), procuram não se desligar do projeto, participando de algumas atividades para assim manter seus laços com o projeto e o grupo. Do total de selecionados, o projeto envolve no momento 43 participantes, oriundos da sede e dos povoados.

Mapa de povoados participantes do projeto. Elaboração própria.

Após a etapa inicial, os jovens participaram de uma oficina de mapeamento de identidades culturais, conduzida pela Prof. Dra. Maria Augusta Mundim Vargas, professora voluntária do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Foi realizado um diagnóstico participativo, um levantamento das festas, saberes e tradições, com ênfase na memória de símbolos e referenciais culturais, bem como estímulo ao sentimento de pertencimento e à coesão social, através da valorização das expressões culturais da cidade. O resultado deste trabalho inspirou a produção da cartografia cultural de Japaratuba, disponível em: www.japaratubaemrede.wix.com/japaratuba-em-rede.
A partir deste mapeamento aberto, fruto do enredamento de agentes e experiências, foram desenvolvidas aulas práticas com foco em duas linhas de atuação: a) oficinas de criatividade; e b) oficinas de gestão cultural associativa e participativa.
As oficinas de gestão cultural associativa e participativa foram iniciadas em um módulo sobre produção colaborativa de eventos visando o planejamento e realização de uma feira cultural na cidade, denominada pelos participantes como I Mostra Cultura em Rede. Neste módulo, foram apresentados temas como prospecção de apoio e patrocínio, técnicas de comunicação, promoção, divulgação e avaliação de eventos, além da produção de infraestrutura para realização da mostra.
A I Mostra Cultura em Rede foi organizada sob a supervisão da equipe técnica, e apresentou um cortejo cultural pelas ruas da sede do município, mostra de produtos de diferentes comunidades e apresentações culturais em diferentes linguagens. A perspectiva de apresentar o trabalho coletivo, com diferentes comunidades em integração, como possibilidade de ação, movimentou a sede do município e foi prestigiada por autoridades locais e por moradores de diferentes regiões da cidade.
Após a mostra, a qualificação dos jovens agentes culturais foi aprofundada em um trabalho de introdução à gestão cultural, envolvendo noções de cultura e gestão, empreendedorismo e trabalho colaborativo. Foram introduzidos conhecimentos sobre a interface entre cultura e mercado, como pensar a equipe e o projeto, informações sobre espaços e equipamentos culturais e as habilidades e saberes do trabalho em cada frente da gestão cultural. Promovemos ainda debates e exibições de filmes para propor reflexões sobre hábitos, gostos e consumo cultural, que geraram uma pesquisa de hábitos e gostos culturais de Japaratuba, em que os participantes entrevistaram os comerciantes e frequentadores da Feira de Japaratuba, realizada tradicionalmente aos sábados.
As oficinas de criatividade foram idealizadas como espaço de aprendizagem coletiva para a produção de itens que comporão um selo de comercialização inspirado nas referências culturais da cidade de Japaratuba, como a arte de Arthur Bispo do Rosário, as danças populares como o Guerreiro, o Cacumbi, o Maracatu, as quadrilhas juninas, o artesanato em palha e cipó, os bordados dentre outros. Conduzidas pela Profa. Dra. Germana Araújo, do curso de design da Universidade Federal de Sergipe (UFS), foram apresentadas dimensões simbólica, estética e prática de objetos e produtos de design e foi discutido o que cada comunidade pode produzir para potencializar a relação de mercado da outra comunidade, buscando ícones locais que pudessem se desdobrar em sinais gráficos para a configuração de objetos/serviços culturais e comercializáveis.
Em seguida, a artista plástica Claudia Oliveira (Claudia Nên), graduada em Educação Artística (Artes Visuais) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pós-graduada em Cultura e Criação pelo SENAC-SE, orientou a produção de versões do Manto de Artur Bispo do Rosário com as referências culturais da cidade e suas comunidades/povoados, bem como orientação do olhar para a produção de pinturas de fachadas de casas históricas de Japaratuba. Ainda neste eixo, foram ofertados cursos profissionalizantes em Xilogravura e Serigrafia pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Sergipe (SENAC-SE). Estas ações desembocaram na produção de objetos de: a) moda, b) decoração e ambientação e c) utilitários.
Diálogos, intercâmbios e políticas públicas
Durante todo este processo, foram realizadas ações de interação com outros jovens, como os realizadores do Festival Culturarte, na cidade vizinha, Pirambu, com o objetivo de trocar experiências na elaboração de eventos culturais protagonizados por jovens de locais próximos. Também participaram de rodas de diálogo com jovens que tem exemplos para apresentar, como a conversa com Julio Andrade, líder da banda The Baggios, morador da cidade de São Cristóvão (SE). A atividade teve o objetivo de apresentar a trajetória e as estratégias de ação de uma banda sergipana com alcance nacional e internacional.
Devido ao intenso diálogo com a Secretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer, que nos dá o suporte necessário para consolidar o apoio da gestão pública local para a realização do projeto, e na perspectiva de fortalecer a ideia de interagir e atuar nas políticas públicas locais como possibilidade de ação na ação cultural, fomos convidados para atuar na Conferência Municipal de Políticas para Juventude. Do grupo de jovens participantes, 3 foram escolhidos como delegados para a Conferência Estadual.
Ainda em relação às trocas de experiências, a Visita Técnica "de Jovem a Jovem" à Fundação Casa Grande/Memorial do Homem Cariri, na cidade de Nova Olinda- CE, proporcionou ao grupo sua experiência mais marcante, pela imersão de 3 dias em um contexto caracterizado pela gestão cultural participativa e sustentável, conduzida por jovens. Nesta viagem, conhecemos todas as frentes de atuação da Fundação (TV Casa Grande, rádio comunitária, agência de turismo de base comunitária, editora, biblioteca, gibiteca) e participamos da Mostra Cine Cariri, produzida pelos jovens integrantes da fundação. Além disso, visitamos equipamentos culturais da região e conversamos com o célebre artesão Mestre Espedito Seleiro sobre sua história, motivações e inspirações para a produção de suas peças, hoje consagradas até internacionalmente.
Espaços de aprendizagem
Após a introdução geral aos dois focos centrais do projeto, aprofundamos a ação através da divisão do grupo em 3 frentes de ação: criatividade/produção criativa, gestão cultural e comunicação & cultura digital. Os participantes se dividiram de acordo com suas habilidades e identificações pessoais, e propusemos a cada um dos grupos um trabalho dirigido para uma segunda ação coletiva, a II Mostra Cultura em Rede, a ser realizada dentro do Festival de Artes Arthur Bispo do Rosário, que acontece tradicionalmente em janeiro, na Festa de Santos Reis e São Benedito do município.
A equipe de Gestão Cultural fez reflexões sobre o fazer cultural e buscou ampliar as referências em ação cultural local, aprofundando a análise sobre a realidade cultural de Japaratuba por meio do aprimoramento da pesquisa de hábitos e gostos culturais, além do desenho de atividades para a referida mostra. Estas atividades foram conduzidas pelo Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Ivan Masafret, que atua na elaboração, gestão e execução de projetos sociais e culturais e é consultor e facilitador em gestão e elaboração de projetos culturais e sociais.
O grupo de Criatividade trabalhou na confecção dos artigos da linha de produtos inspirados nas referências culturais da cidade e no aprimoramento de técnicas de pintura, impressão e bordados. Apropriando-se do resultado dos cursos de xilogravura e serigrafia, foram produzidas bolsas e camisas e gerados os primeiros protótipos de objetos de decoração & ambientação, moda e utilitários. As ações foram coordenadas e executadas por Claudia Nên, com apoio de Ilma Santos, artista plástica e produtora cultural, graduada em Artes Visuais pela UFS.
A oficina de Comunicação & Cultura Digital, conduzida por Aline Braga, jornalista graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais com atuação em mídias digitais, foi desenvolvida no sentido de habilitar os jovens na utilização de ferramentas de comunicação digital. Além de instrumentalizar os jovens no uso das mídias digitais para a divulgação dos produtos e ações gerados através do projeto e do patrimônio cultural de Japaratuba, esta oficina contempla uma análise crítica da cultura e propõe saídas coletivas para problemáticas existentes.
Como forma de exercício prático, antes da II Mostra Cultura em Rede o grupo participou de uma Feira Cultural promovida pela Associação de Catadoras de Mangaba do Povoado Porteiras (Japaratuba-SE), da qual fazem parte alguns dos jovens. Nela, os alunos de gestão cultural promoveram uma mostra de curtas infantis, os participantes do grupo de comunicação & cultura digital exercitaram técnicas de cobertura de eventos, e os integrantes do grupo de criatividade apresentaram alguns produtos em fase de finalização.
Concomitantemente a este trabalho segmentado, periodicamente os grupos foram reunidos para avaliação de atividades, integração e planejamento da II Mostra Cultura em Rede, realizada entre os dias 04 e 07 de janeiro de 2016, que envolveu exposições de artes visuais e de produtos de moda, decoração & ambientação e utilitários produzidos no escopo do projeto, apresentação de trabalhos em eventos acadêmicos, mostras de cinema, biblioteca volante (ofertada graças a parceria com o Sesc-SE) e mini-curso, conforme a programação abaixo exposta.
04 de janeiro (Segunda-feira)
9h às 18h – BiblioSesc
Local: Praça da Igreja Matriz
 
17h – Abertura da exposição 'Cultura em Rede', com obras de artistas sergipanos e produtos gerados nas oficinas do Projeto Japaratuba em Rede
Local: Centro Social Dona Janoca
 
05 de janeiro (Terça-feira)
9h às 18h – BiblioSesc
Local: Praça da Igreja Matriz
 
14h – Apresentação da pesquisa 'Hábitos e Gostos Culturais de Japaratuba' na Jornada Acadêmica Artur Bispo do Rosário
Local: Pólo Universidade Aberta do Brasil (UAB)/UFS
 
16h às 19h – Exposição 'Cultura em Rede', com artes visuais e produtos gerados nas oficinas do Projeto Japaratuba em Rede
Local: Centro Social Dona Janoca
 
06 de janeiro (Quarta-feira) 
8h – Mesa Redonda: Vivências e Experiências, na Jornada Acadêmica Arthur Bispo do Rosário
Participantes: Marcelo Rangel e Bruna Távora, coordenadores do Projeto Japaratuba em Rede
Local: Igreja Matriz
 
9h às 18h – BiblioSesc
Local: Praça da Igreja Matriz
 
15h – Cine Cultura em Rede: curtas da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis
Local: Câmara de Vereadores de Japaratuba
 
16h às 19h – Exposição 'Cultura em Rede', com artes visuais e produtos gerados nas oficinas do Projeto Japaratuba em Rede
Local: Centro Social Dona Janoca
 
07 de janeiro (Quinta-feira)
9h – Mini-curso História das Artes Visuais em Sergipe, com Prof. Marcelo Uchoa (CODAP/UFS)
Aberto ao Público
Local: Centro Social Dona Janoca
 
9h às 18h – BiblioSesc
Local: Praça da Igreja Matriz
 
16h às 19h – Exposição 'Cultura em Rede', com artes visuais e produtos gerados nas oficinas do Projeto Japaratuba em Rede
Local: Centro Social Dona Janoca
 
17h – Cine Cultura em Rede: 'Vou Rifar Meu Coração', de Ana Rieper
Roda de conversa com Raphael Borges, integrante da equipe do filme
Local: Câmara de Vereadores

A diversidade de atividades foi planejada para enriquecer a programação do Festival de Artes Arthur Bispo do Rosário. Deste modo, procuramos mostrar na prática como a diversidade da oferta de bens e serviços culturais pode produzir resultados significativos para o empoderamento do grupo e para a vitalidade cultural local. Os jovens atuaram em todo o processo de produção, mobilização popular e divulgação das ações, sob a coordenação dos instrutores e da equipe técnica do projeto e de ação educativa do Museu da Gente Sergipana.
Durante a mostra, também foi realizada uma visita de familiarização (FAMTOUR), com jornalistas e produtores culturais de Aracaju, para proporcionar visibilidade às ações do projeto e à cidade e sua diversidade cultural, que geraram inserções em mídia espontânea com destaque para os jovens agentes culturais. Estes se envolveram em ações de divulgação, acompanharam debates acadêmicos, aulas abertas e rodas de conversa, ampliando seu repertório cultural e o relacionamento com a comunidade e os gestores locais.
Considerações finais
As atividades desenvolvidas neste projeto possuem como característica fundamental a inclusão social e integração comunitária da região, a partir de ações formativas e de espaços de aprendizagem que são desenvolvidas visando colaborar para a educação profissional dos jovens. De um modo geral, já percebemos maior coesão do grupo participante, um reconhecimento da comunidade local sobre a relevância das ações do projeto, observada a partir da participação de moradores da cidade em nossas atividades e convites para participação em outras ações locais.
Nas atividades coletivas, fomentamos a integração dos jovens, a participação da população local e os laços culturais e sociais com as comunidades de Japaratuba, através da participação em eventos da cidade e do diálogo com agentes externos, parceiros e coletivos culturais, escolas e comunidades. Em conjunto, tais atividades têm materializado e fortalecido a proposta de criação do "espaço de aprendizagem" previsto no escopo do projeto.
Além do aprendizado de novas possibilidades de geração de renda, os cursos profissionalizantes do SENAC têm possibilitado que alguns alunos exercitem o que aprenderam fora do espaço do projeto. Isto pode ser observado na confecção de faixas pintadas à mão (técnica aprendida na oficina de serigrafia) para divulgação do comércio familiar por um jovem do povoado Sibalde e na divulgação da feira cultural das catadoras de mangaba em faixa pintada por aluno da comunidade de Porteiras.
O resultado do curso de xilogravura do Senac é notável do ponto de vista estético, nos trabalhos produzidos com esmero de traços e sensibilidade artística, inspirados nas referências culturais do município, fato salientado até mesmo pelo instrutor do curso, Elias Santos, e pela coordenadora pedagógica do Senac, Maria José, em reuniões com a coordenação do projeto.
Por observarmos a necessidade de maior compreensão coletiva e individual sobre o processo de aprendizagem e do trabalho em equipe, passamos a utilizar métodos de avaliação aberta e coletiva, em que foram apontados pelo grupo, destacadamente, necessidades de melhoria de relações interpessoais e de maior envolvimento dos participantes. Deste modo, procuramos demonstrar a importância do exercício da reflexão e da avaliação no mundo do trabalho cultural, na perspectiva de construção de um trabalho coletivo, solidário, responsável, baseado na cooperação e na gestão participativa.
Para o próximo ciclo, marcado pela finalização do projeto com o lançamento da linha de produtos inspirados nas referências culturais da cidade no Museu da Gente Sergipana, pretende-se aprofundar o conteúdo programático dos 3 grupos de trabalho, de modo a habilitar os jovens ativistas culturais nas etapas da cadeia produtiva de produção cultural, da pré-produção até a distribuição. Um mapeamento dos elos da cadeia produtiva local da cultura será desenvolvido para provocar uma rede de articulação e contatos que possibilite o fortalecimento das cadeias produtivas da cultura durante e após o trabalho do projeto, de modo a promover a percepção crítica sobre cultura e formas predatórias de trabalho cultural. Através de aulas teóricas e práticas, alternando-se entre aulas específicas para os grupos e outras envolvendo todos os participantes e até mesmo a comunidade em geral, visamos o desenvolvimento local através da cultura, incentivando o comércio justo, as parcerias e a sustentabilidade.
Tendo em vista a análise sobre as possíveis contribuições da cultura para o desenvolvimento, Martinell (2011) avalia que a formação de capacidades dos atores da vida cultural pode ser vista como um primeiro nível do processo de desenvolvimento. Portanto, orientamos nossa ação pela qualificação de competências e capacidades que o mesmo autor (2011b) aponta como habilidades, atitudes e sensibilidades necessárias para o exercício profissional do gestor cultural. Para que assim, estes jovens agentes culturais possam contribuir para o desenvolvimento de seu município através das artes e das culturas que praticam.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, Luiz Antônio. Japaratuba: da Origem ao século XIX. Comentários sobre livro. Disponível em http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=61645&titulo=Luis_Antonio_Barreto acesso em 19 de setembro de 2013 às 8h56min.
CABRAL, Eduardo Carvalho. Japaratuba: Da origem ao século XIX. Aracaju: Gráfica Triunfo, 2007 
Catálogo: Sergipe, Cultura e Diversidade. Conhecer, Reconhecer e Valorizar. Governo de Sergipe, Aracaju. 2010
Censo Artístico-Cultural do Município de Japaratuba. Secretaria de Cultura, Turismo, Juventude e Desporto. 2013
HALL, Stuart. Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios as mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.
MARTINEL, Alphons. La Gestión Cultural: Singularidad professional y Perspectivas de Futuro. Espanha, Universidad de Girona, 2011.
MARTINEL, Alphons. Aportaciones de la cultura al desarrollo y a la lucha contra la pobreza. Documento para uso de la Maestría en Desarrollo y Cultura. UTB, Espanha, 2011.
MENDONÇA, César. Política pública cultural e desenvolvimento local: análise do ponto de cultura Estrela de Ouro de Aliança. In: Orgs: BARBOSA, Frederico; CALABRE, Lia. Pontos de Cultura – Olhares sobre o programa Cultura Viva. Brasília, IPEA, 2011
NEUMAN, Maria Isabel. Apropriación, tecnologia y movimientos sociales em America Latina. In BOLAÑO, JESUS, SANTOS (orgs). Comunicación, Educación e Movimientos Sociales em America Latina. 1ª Ed, Brasília: Casa das Musas, 2010.
OLIVEIRA, Lúcia. Ação e Experimentação: o caso da Fundação Casa Grande. In: Políticas Culturais em Revista, 2(2), p.60-71, 2009
PEREIRA, Daniel; NETO, Gaudêncio; TELES, Glauberter. Patioba: memórias e identidades. Monografia apresentada no curso de História da Universidade Tiradentes, 2009


Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Especialista em Gestão e Políticas Culturais pela Universidade de Girona/Itaú Cultural. Diretor de Programas e Projetos do Instituto Banese/Museu da Gente Sergipana. Email: [email protected]
Mestre em Comunicação e Sociedade pela UFS, especialista em Mídias Digitais pela FANESE. Professora substituta do curso de Comunicação Social da UFS, membro do grupo de pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (CEPOS). E-mail: [email protected]

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