Jornalismo e criatividade: uma possibilidade de redação criativa nos cadernos de cultura

July 9, 2017 | Autor: Juliano Carvalho | Categoria: Jornalismo Cultural, Jornalismo Impresso
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Revista Communicare

Vol. 9 – nº 1 – 1º semestre 2009 – ISSN 1676-3475

COMMUNICARE Revista de Pesquisa Faculdade Cásper Líbero

COMMUNICARE9 Vol. 9 - nº 1 - 1º semestre 2009 - ISSN 1676-3475

CIP - Centro Interdisciplinar de Pesquisa

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Communicare: revista de pesquisa / Centro Interdisciplinar de Pesquisa, Faculdade Cásper Líbero. – v. 9, nº 1 (2009). – São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2009.

Semestral ISSN 1676-3475 1. Comunicação social periódicos I. Centro Interdisciplinar de Pesquisa da Faculdade Cásper Líbero

CDD 302.2

Faculdade Cásper Líbero

Faculdade Cásper Líbero Fundação Cásper Líbero Presidente da Fundação Cásper Líbero: Paulo Camarda Superintendente Geral: Sérgio Felipe dos Santos Diretora da Faculdade: Tereza Cristina Vitali

Centro Interdisciplinar de Pesquisa Coordenadora Geral do CIP: Maria Goreti Juvêncio Sobrinho Frizzarini Monitoria do CIP: Cauê Fernandez Fagerstron Fabiano, Juliana Regina Machado, Priscilla Coradete de Almeida.

Revista Communicare Faculdade Cásper Líbero Editor: Luís Mauro Sá Martino Conselho Consultivo: Adriano Duarte Rodrigues (Universidade Nova de Lisboa) / Alberto Efendy Maldonado (Unisinos) / Dimas Antonio Künsch (FCL) / Erasmo de Freitas Nuzzi (FCL) / Guilhermo Orozco Gómez (Universidad de Guadalajara) / Heloíza Gomes de Matos (FCL) / Ivone Lourdes de Oliveira (PUC-MG) / Joana Puntel (Sepac) / Juremir Machado da Silva (PUCRS) / Laan Mendes de Barros (FCL) / Liana Gottlieb (FCL) / Luiz Carlos Assis Iasbeck (UPIS-DF e UCB-DF) / Magda Rodrigues da Cunha (PUC-RS) / Malena Segura Contrera (UNIP) / Margarida Maria Krohling Kunsch (USP) / Maria Aparecida Baccega (USP e ESPM) / Maria Tereza Quiroz Velasco (Universidad de Lima) / Mauro de Souza Ventura (UNESP)/ Monica Rebecca Nunes (FAAP) / Nilda Jacks (UFRGS) / Roberto Coelho (USJT) / Teresinha Maria de Carvalho Cruz Pirez (PUC-MG) / Wilson da Costa Bueno (UMESP). Comissão Editorial desta edição: Versão para o inglês: Anna Carolina Negrini Fagundes. Versão para o espanhol: Antón Castro Míguez. Ilustrações: Cauê Fernandez Fagerstron Fabiano, Hamilton Dertonio, Juliana Regina Machado, Luísa Oliveira Cardoso, Priscilla Coradete de Almeida, Ricardo Senise. Revisão: Andréa Florentino Barletta, Cauê Fernandez Fagerstron Fabiano, Daniela Osvald Ramos, Eliany Salvatierra Machado, Ethel Shiraishi Pereira, Elisa Marconi, Gilberto Maringoni, Irineu Guerrini, Juliana Regina Machado, Laís Clemente, Liráucio Girardi Júnior, Luís Mauro Sá Martino, Pedro Zambarda de Araújo, Stefanie Gaspar. Projeto gráfico e arte: Terra Comunicação Editorial. Diagramação: Vivian Dumelle Gonçalves. Tiragem: 1.000 exemplares. Redação Faculdade Cásper Líbero Av. Paulista, 900 - 6º andar - São Paulo - SP - CEP: 01310-940 Telefax: (11) 3170-5878 E-mail: [email protected] / [email protected] Deseja-se permuta / Exchange is desired Exemplares avulsos: www.facasper.com.br/cip

Pesquisadores docentes no 1º semestre de 2009 e pesquisas em desenvolvimento Ana Maria Camargo Figueiredo A teledramaturgia como lócus de intersecção das teorias da Comunicação e das Ciências Sociais.

Irineu Guerrini Júnior Coisa de louco? Um estudo comparativo de programas de rádio realizados por pessoas com transtornos mentais.

Andréia Florentino Barletta Signos da publicidade: uma abordagem histórico-visual.

Liráucio Girardi Júnior A metáfora da conversação e as trocas simbólicas no ciber-espaço.

Claudinei Benitez Luque Nakasone Grupo Corpo – Uma trajetória pela imagem fotográfica dos cartazes.

Newton Duarte Molon Comunidades virtuais, novo lócus político.

Daniela Osvald Ramos Usabilidade e edição de informação no site da Faculdade Cásper Libero.

Pedro Henrique Falco Ortiz Mais do Mesmo? Desafios contemporâneos na construção do sistema de TV Pública no Brasil.

Débora Burini O espaço público mediatizado na TV BRASIL durante a cobertura das eleições 2008. Eliany Salvatierra Machado Práticas e teorias educomunicacionais – um estudo dos trabalhos apresentados na Intercom de 2000 a 2007. Elisa Moura Marconi Bicudo Pereira A faixa Jornalística do FM paulistano: surgimento e consolidação de um novo segmento e um novo público. Erivam Morais de Oliveira O resgate da ética: o fotojornalismo no contexto da banalização das imagens. Ethel Shiraishi Pereira A cobertura jornalística de eventos “Sustentáveis” na Sociedade do Espetáculo. Gilberto Maringoni de Oliveira Comunicações na América Latina: avanço técnico, difusão e concentração de capital (1870-2008). Igor Fuser Destak e Metro: os jornais gratuitos de São Paulo e a pluralidade política nos meios de comunicação.

Regina da Graça Soler Simões Notícias em cambalhotas: Um telejornalismo produzido especialmente para o público infanto-juvenil. Roberta Cesarino Iahn As redes de criação publicitária – Os processos de criação e a formação profissional na contemporaneidade. Rodney de Souza Nascimento Das estratégias globais ao formato local. O discurso publicitário adaptado às necessidades de cada público. Rosangela Petta Enredos: quando o relato jornalístico leva ao exercício estilístico e chega à literatura de não-ficção. Sabina Reggiani Anzuategui História da Telenovela Brasileira – Uma Revisão Crítica. Sérgio José Andreucci Júnior A formação acadêmica e o novo perfil do profissional de Relações Públicas no mercado brasileiro. Sílvio Henrique Vieira Barbosa A telenovela como divulgadora dos ideais de cidadania.

Pesquisadores discentes no 1°semestre de 2009 e pesquisas em desenvolvimento Alexandre Corrêa Facciolla (Orientadora: Profa. Dra. Dulcília Buitoni) A capacidade narrativa da fotografia de fotojornalismo. Alexandre Vieira da Rocha de Aragão (Orientador: Prof. Dr. Cláudio Pinto) As linhas editoriais no eixo Rio - São Paulo de 1950 a 54 tendo a Última Hora como base. André Tito de Aguiar (Orientador: Prof. Ms. Newton Molon) O pensamento comunicacional na América Latina e os Estudos Culturais. Fernanda de Araujo Patrocínio (Orientador: Prof. Dr. José Eugênio de Oliveira Menezes) O newsmaking: um estudo de caso baseado na cobertura jornalística sobre o conflito entre a Geórgia e a Rússia. Gabriel Henrique de Paula Carneiro (Orientador: Prof. Dr. Gilberto Maringoni) O diálogo metalingüístico no cinema de Guilherme de Almeida Prado. Gabriela Silva do Nascimento (Orientador: Prof. Dr.Welington Andrade) Através da cultura pop e o que Alice encontrou lá. Juliana Mara de Freitas Dias (Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Camargo Figueiredo) Literatura de cordel: representando e reinventando o povo nordestino.

Juliana Silva Faddul (Orientador: Prof. Dr. Sérgio Amadeu) A imagem e o invisível do discurso jornalístico - análise de sites de partidos políticos: DEM e PSOL. Karina Gomes da Silva (Orientador: Prof. Dr. Liráucio Girardi Júnior) O repórter e o signo da relação: os desafios do jornalismo para um diálogo possível nas narrativas da contemporaneidade. Laisa Beatris Silva Pereira (Orientador: Prof. Ms. Erivam de Oliveira.) Os novos rumos do fotojornalismo na era digital. Um estudo de influências da mídia digital e do fotojornalismo participativo nos jornais FSP e OESP. Lídia Rogatto e Silva (Orientador: Prof. Dr. Luís Mauro Sá Martino) Jornalismo Investigativo: um propósito renitente. Lidia Zuin de Moura (Orientador: Prof. Dr. Walter Teixeira Lima Júnior) Protocol 7: estudo sobre Serial Experiments Lain e a neoutopia do ciberespaço. Maitê Oliveira Freitas (Orientador: Prof. Dr. Pedro Ortiz) Uma nova ordem pós-racial? A apresentação de Barack Obama nas revistas Veja e Carta Capital. Mariana Guimarães Teixeira (Orientador: Profa. Ms. Andréa Florentino) A publicidade é melomaníaca. Nathalia Garcia D. da Costa (Orientador: Prof. Ms. Igor Fuser) A mídia internacional e o conflito Arabe-Israelense.

Sumário APRESENTAÇÃO A lógica da transformação The logics of transformation Luís Mauro Sá Martino ........................................................................................................ 9

ENTREVISTA Os caminhos da Neurohistória da Arte Entrevista com Dr. John Onians, Universidade East Anglia, Inglaterra Luís Mauro Sá Martino ...................................................................................................... 13

Estudo Aplicado Empathy and movement in Caravaggio’s paintings: a neuroarthistorical approach to spectatorship Empatia e movimento na pintura de Caravaggio: o aporte da Neurohistória da Arte Kajsa Berg ............................................................................................................................ 17

ARTIGOS COMUNICAÇÃO: TECNOLOGIA E POLÍTICA Até hoje ainda não começamos a estudar a comunicação We have not started to study communication yet Ciro Marcondes Filho ......................................................................................................... 33 Do Weblog aos blogs de adolescentes: itinerário de um percurso de pesquisa sobre a prática do blog pelo público jovem From the Weblog to the teen blog: itinerary of a research about the blog practices of the young audience Olivier Tredan ...................................................................................................................... 41 A pauta na capa: a mídia como porta-voz da cultura do medo – Um estudo sobre a Revista Carta Capital Cover agenda: media as representative of a culture of fear – A study about Carta Capital magazine Patricia Bandeira de Melo ................................................................................................... 61

COMUNICAÇÃO: MEIOS E MENSAGENS As transformações do mundo dos jornalistas: a consolidação de novos valores profissionais a partir dos anos 1950 The transformations in the journalists’ world: the consoliadation of new values from the 1950 onwards Fábio Henrique Pereira ........................................................................................................ 75 Reflexões sobre o corpo feminino na literatura e na mídia impressa Reflections on the female body in the literature and the printed press Selma Felerico e Tânia Hoff ................................................................................................ 85

Jornalismo e criatividade: uma possibilidade de redação criativa nos cadernos de cultura Journalism and creativity: a possibility of creative news writing in the culture pages Juliano Maurício de Carvalho e Carolina Fontebasso Schincariol ................................... 95 A moda na mídia: o espetáculo da São Paulo Fashion Week na imprensa Fashion in media: the “São Paulo Fashion Week” show at the press Murilo César Soares e Juliana Sayuri Ogassawara .......................................................... 103 A morte e a favela: entre o real e o simbólico – apelos da imagem publicitária Death and the shanty town: between reality and the symbol – the appeals of the advertising image Thais Montenegro Chinellato ........................................................................................... 115

COMUNICAÇÃO E MERCADO O mercado publicitário mineiro e o conceito de cadeia de valor: perspectivas para o ensino em Publicidade e Propaganda The publicity market in Minas Gerais and the concept of value chain: perspectives for the Advertising & Publicity Education Janaina Maquiaveli, Letícia Lins, Luciana de Oliveira, Marcelo Enrique L. C. Pereira, Vanice Guedes e Waldiane de Ávila Fialho ................................................................................ 125 Elementos do comportamento de consumo através da comunicação da marca Elements of consumption behaviour through brand communication Rodney de Souza Nascimento .......................................................................................... 137

RESENHAS O colégio invisível de Palo Alto WINKIN, Yves. A nova comunicação. Da teoria ao trabalho de campo. Organização e apresentação: Etienne Samain. Rodrigo Fonseca Fernandes .............................................................................................. 151 O fado, dos mares aos media VALENTE, Heloísa (org.). Canção d’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos. Ricardo Santhiago ............................................................................................................. 153 Propaganda no Rádio: planejar e organizar REIS, Clóvis. Propaganda no rádio: os formatos de anúncio. Roseli Trevisan Campos .................................................................................................... 155

CLÁSSICO Infinito universo dos signos Santaella, Lucia. Matrizes da Linguagem e Pensamento – Sonora, Visual, Verbal. Antonio Roberto Chiachiri Filho ....................................................................................... 157

Normas para o envio de originais

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Comunicação: Meios e Mensagens

Jornalismo e criatividade:

uma possibilidade de redação criativa nos cadernos de cultura Journalism and creativity:

a possibility of creative news writing in the culture pages

Juliano Maurício de Carvalho

Doutor em Comunicação Social (Umesp) Coordenador do Programa de Pós-graduação em Televisão Digital e docente do curso de Comunicação Social (Unesp) [email protected]

Carolina Fontebasso Schincariol

Especialista em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Educação e Jornalismo Literário (ABJL) [email protected]

Resumo Este artigo analisa a construção de textos criativos nos cadernos culturais dos jornais brasileiros Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo em seu trabalho diário de informar. A análise do discurso de 32 edições de cada um dos jornais selecionados, amparada pela definição de criatividade e processo criativo de Bizzochi, permitiu identificar construções criativas que, apesar das regras dos manuais de redação, criaram algo novo, romperam ou rearranjaram a técnica da pirâmide invertida e do lide. Palavras-chave: jornalismo impresso, jornalismo cultural, comunicação criativa, escrita criativa, análise do discurso, jornais de prestígio.

Abstract The following article analyses the construction of creative texts in the culture section of the newspapers Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo as they follow their daily duty of informing the readers. Through the discourse analysis of 32 editions from both newspapers, supported by a definition of creativity and creation process by Bizzochi, it was possible to identify creative literary constructions which, despite the rules of writing manuals, created something new – they had breached or rearranged the lead and inverted pyramid techniques. Key words: press journalism, culture journalism, creative communication, creative writing, discourse analysis, prestige papers.

Resumen Este artículo analiza la construcción de textos creativos en los cuadernos culturales de los periódicos brasileños Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo en su trabajo diario de informar. El análisis del discurso de 32 ediciones de cada uno de los periódicos seleccionados, amparada por la definición de creatividad y proceso creativo de Bizzochi, posibilitó la identificación de construcciones creativas que, a pesar de las reglas de los manuales de redacción, crearon algo nuevo, rompieron o reelaboraron la técnica de la pirámide invertida y del lead. Palabras clave: periodismo impreso, periodismo cultural, comunicación creativa, escrita creativa, análisis del discurso, periódicos de prestigio.

Jornalismo e criatividade: uma possibilidade...

1. Introdução

um discurso mesmo que constituído apenas por sons e imagens. “É por isso que, sendo a cultura fundamentalmente discurso, a criatividade assume papel tão importante nesse domínio”, afirma o autor (Bizzochi, 2003:131), uma vez que a cultura é vista por ele como um conjunto de discursos expressos na forma da dança, da fala, da escrita, da pintura, e em todas as outras instâncias de produção cultural que caracterizam particularmente um povo. Para o autor há, ainda, dois elementos que merecem especial atenção quando se trata de criatividade: as idéias de inspiração e genialidade, que aparecem frequentemente ligadas ao conceito. O primeiro dos elementos, a inspiração, é entendido como a forma de efetivação, de prática do poder criativo. Neste sentido, Bizzochi considera as questões que procuram saber se a inspiração existe, se é um atributo humano ou divino e se é involuntária ou induzida, porque acredita que o mais importante é que essa capacidade de criação existe, é exercida e é inerente ao homem:

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tualmente, a criatividade é um conceito repetido em diferentes contextos: componente da personalidade de certos indivíduos, segredo de um profissional de sucesso, sinal de inteligência etc. Contudo, é possível indagar: como ser criativo diante de normas que formulam modelos e técnicas para o desenvolvimento de um trabalho? É essa a realidade em que se encontra o jornalismo, pois o profissional dessa área desenvolve seu trabalho em meio a diversas normas que regulamentam sua produção textual. Os veículos de comunicação, em sua maioria, elaboram manuais os quais compilam as regras que os jornalistas precisam considerar no momento de transpor para o papel as informações. Entre elas, está a técnica da pirâmide invertida e do lide, importada dos Estados Unidos da América para a imprensa brasileira, que recomenda aos profisO que importa, de todo modo, é que se sionais a hierarquização das concorda em atribuir aos religiosos, aos informações de forma decrescientistas, aos artistas e aos atletas o motor cente no texto e reunirem no da inspiração, seja na forma do heureka do sábio, seja na forma do insight do artista, primeiro parágrafo, o lide seja ainda na iluminação divina do crente (do inglês lead), as respostas ou na “jogada de gênio” do esportista. às perguntas consideradas Qualquer que seja a atividade cultural básicas para a informação completa do considerada, é a especial aptidão (em fato ao leitor: o que aconteceu, com quem, geral tida como inata) para manipular os quando, onde, como e por quê. elementos constituintes de sua linguagem específica. (Bizocchi, 2003: 136) Como justificativa deste trabalho, pode-se apontar o fato de existirem poucas Como se pode observar, esta pesquisa pesquisas na área do jornalismo cultural, pode ser relevante para os estudos de como comprova Adami (2005). Além ambas as áreas, jornalismo cultural e disso, a união de criatividade e jornalismo criatividade no jornalismo, pois trata de também é algo pouco abordado, como dois assuntos pouco explorados e, ainda, afirma Falaschi (Falaschi, 2005). une-os no mesmo estudo. Bizzochi vê o processo criativo como Foram analisados os cadernos de culum novo discurso porque, em primeiro tura “Ilustrada” e “Caderno 2”, integrantes lugar, antes de materializar sua ideia, o de dois jornais brasileiros, respectivamenindivíduo cria mentalmente e, sendo que te Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paua matéria do pensamento é a linguagem, lo, ambos com circulação diária em São logo a criação humana será inicialmente Paulo e nas principais cidades do país.

A criatividade é um conceito repetido em diferentes contextos

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A pesquisa escolheu uma definição de criatividade para nortear a análise. Mostrase, também, a relação estabelecida entre a criatividade e o jornalismo, com a qual é possível entender a base segundo a qual foram analisados os cadernos culturais, no intuito de verificar se a criatividade é exercida pelos jornalistas nos textos.

2. Objetivos Considerando o contexto das normas que regulamentam a produção textual dos jornalistas, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar se há espaço para o exercício da criatividade nos textos informativos da editoria de cultura de dois veículos impressos brasileiros: a “Ilustrada”, da Folha de S. Paulo, e o “Caderno 2”, de O Estado de S. Paulo. Para desenvolver seu objetivo, a pesquisa considerou como base teórica (sem, contudo, haver qualquer intenção conclusiva) trabalhos de diversos autores na área de jornalismo cultural, cultura, criatividade e análise do discurso, esta última adotada como metodologia de trabalho. Os manuais de redação dos dois veículos analisados foram importantes para se ter clareza sobre suas recomendações para a produção textual dos jornalistas que lá trabalham. Vale ressaltar que, na hipótese adotada para este trabalho, os jornalistas encontram espaço para produzir textos criativos principalmente na editoria de cultura. Essa suposição está ancorada na ideia de que os temas da área cultural diferem dos abordados nas demais editorias porque, normalmente, são assuntos convidativos que tratam de divertimento e distração.

3. Material e métodos Após compreender os conceitos relacionados ao tema, a pesquisa iniciou a análise das edições dos cadernos de cultura “Ilustrada” e “Caderno 2”, respectivaVo l u m e

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mente da Folha de S. Paulo e de O Estado de S. Paulo, do período de 1° de julho de 2005 a 1° de agosto do mesmo ano. A escolha desse período foi feita de forma não-probabilística, já que se observou que não ocorreu, nesse espaço de tempo, qualquer fato por parte das edições que pudesse ter tornado a seleção tendenciosa. De acordo com Fonseca (2002: 54) uma amostra pode ser considerada não-tendenciosa quando os elementos encontrados no período selecionado têm a mesma chance de figurar nas outras edições não analisadas. Assim, essa característica é importante para este trabalho porque permite generalizar para o todo o que foi encontrado na parte. Observou-se, também, que a quantidade de jornais selecionados, 32 edições de cada veículo, é dotada de representatividade, ou seja, possui características semelhantes ao todo e assim pode mostrar como este é constituído. Essas considerações, a representatividade e ausência de posições tendenciosas estão de acordo com o que orienta a metodologia científica (idem) para a seleção da amostra. Apesar de esta não se tratar de uma pesquisa comparativa, a opção por desenvolver uma análise de dois veículos, e a escolha de cada um deles, baseou-se no fato de que a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo são os dois jornais de maior circulação no Estado de São Paulo. Segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), a Folha de S. Paulo registra circulação média diária de 314.908 jornais e O Estado de S. Paulo, de 242.755 exemplares. Com isso, os dois veículos figuram no universo dos leitores desse estado como as duas principais referências no meio impresso diário. Assim, neste trabalho de identificação da criatividade nos textos da editoria de cultura, a seleção dos cadernos dos dois jornais mostra-se adequada, uma vez que permite compreender como grande parte dos leitores recebe as informações culturais.

Jornalismo e criatividade: uma possibilidade...

4. Discussão

textos informativos (os dados encontrados nessa análise podem ser melhor visualizados na Tabela 1). Entre eles, 125 foram identificados como criativos. A seguir, dois trechos capazes de exemplificar as construções criativas.

Este trabalho analisou os textos dos cadernos de cultura “Ilustrada” e “Caderno 2”, respectivamente da Folha de S. Paulo e de O Estado de S. Paulo, no período de 1° de julho até 1° de agosto de 2005, contabilizando 32 edições de cada Tabela 1. Dados da um dos veículos. “Ilustrada” A análise dos cadernos culturais, desenvolvida para identificar a criatividade N° de textos N° de textos Valor perno texto jornalístico, considerou para noticiosos criativos centual (%) este trabalho a Análise do Discurso (a 298 125 41,94 partir de agora, AD) que, segundo Maingueneau (Maingueneau, 2000: 13) é uma O primeiro exemplo reproduz o início disciplina que, em vez de produzir uma do texto “DVD traz cena musical histórica análise linguística do texto ou uma análise brasileira”, de Sérgio Torres, veiculado sociológica ou psicológica do contexto, pela “Ilustrada” no dia 1° de julho: desenvolve uma articulação Passados 36 anos das filmagens, só agora o entre a enunciação e o lugar público brasileiro terá o privilégio de ver social no qual ela ocorre. cenas que japoneses e europeus já conheAssim, a AD é adequada a cem há tempos. Cenas que impressionam este trabalho, que leva em por reunir os mestres Pixinguinha, João da Baiana e Baden Powell; por reunir os conta o discurso, no caso então jovens Paulinho da Viola e Maria o texto no jornalismo culBethânia; e por reunir Bethânia e craques tural, e as determinações do samba-jazz, como Raul de Souza e Luiz referentes a ele, ou seja, as Carlos Vinhas. (Torres, 2005:E6) recomendações dos manuais O texto de Torres tem como objetivo de redação para o uso do informar ao leitor o lançamento do DVD lide e da pirâmide invertida “Saravah”, no qual o diretor Pierre Barouh na construção textual. apresenta interpretações inéditas de cantoPara fins da pesquisa, o res brasileiros. No primeiro parágrafo, Tortermo “criatividade” foi abordado como res faz um passeio pela História, revela que o novo, a originalidade e o rearranjo de japoneses e europeus já conhecem a obra, estruturas já existentes. Ancorada nessa notável por reunir em encontro inédito definição, tendo em mente a análise do personalidades reconhecidas do cenário discurso, foi desenvolvida a análise dos musical brasileiro como Pixinguinha, Matextos dos cadernos culturais. ria Bethânia, Paulinho da Viola etc. Nesse É necessário ressaltar que foram analide, o autor dá destaque ao que a obra lisados apenas os textos informativos, possui de peculiar e não se limita a dar de noticiosos, excluindo-se os textos opinaimediato a notícia do lançamento. tivos, pois é apenas nos primeiros que as É possível, ainda, observar nesse trecho técnicas textuais da pirâmide invertida o conceito de polifonia trazido pela AD. O e do lide devem ser adotadas, conforme termo foi introduzido pelo linguista russo orientam os manuais da Folha de S. Paulo Bakhtin e é utilizado para caracterizar as e de O Estado de S. Paulo. diversas manifestações discursivas, oficiais No caderno cultural “Ilustrada” da e não-oficiais, presentes em uma produção Folha de S. Paulo foram encontrados 298

O jornalista trabalha em meio a normas que regulamentam sua produção textual

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textual. Isso pode ser observado quando os leitores são levados em consideração por Torres, tornando-se co-enunciadores, na construção do texto, quando se afirma que “só agora o público brasileiro terá o privilégio de ver cenas que japoneses e europeus já conhecem há tempos” (Idem). Outro exemplo desse grupo de textos criativos é mostrado a seguir: As artes cênicas da América Latina navegam em sentido oposto ao do explorador Colombo para apresentar ao público espanhol seu ponto de vista sobre ‘Dom Quixote’, a mais célebre das obras de literatura escritas na língua de um de seus colonizadores. O Brasil participa dessa remessa teatral com a companhia Pia Fraus que, acompanhada pelo grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões, leva pela primeira vez aos palcos do país de Miguel de Cervantes (1547-1616) sua “Farsa Quixotesca”. (Hora, 2005, E2)

Esse texto de Daniel Hora, “Dom Quixote à brasileira encanta platéia na Espanha”, da “Ilustrada” de 4 de julho, tem como foco principal a notícia da apresentação da peça “Farsa Quixotesca”, realizada pela primeira vez por grupos brasileiros na Espanha. Nesse lide, Hora faz uma analogia entre a ida da companhia brasileira Pia Fraus à Europa e a descoberta da América, quando os europeus fizeram o caminho contrário ao que a “Farsa Quixotesca” realiza agora. Com isso, enriquece o lide, que não é feito de forma automática – caso em que apenas reuniria as informações relativas ao “que, quem, quando, onde, como e por quê”. No “Caderno 2” (os dados encontrados nessa análise podem ser melhor visualizados na Tabela 2), de O Estado de S. Paulo, foi possível identificar 264 textos informativos, dos quais 143 foram considerados criativos de acordo com o critério adotado para esta pesquisa. Assim como com na “Ilustrada”, dois exemplos a seguir mostram a criatividade em O Estado de S. Paulo. Vo l u m e

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Tabela 2. Dados do “Caderno 2” N° de textos noticiosos 264

N° de textos criativos 143

Valor percentual (%) 54,16

Esse trecho reproduz o primeiro parágrafo do texto “Momix toma banho de lua”, de Livia Deodato, veiculado na edição de 1° de julho de 2005 do “Caderno 2”: Voar, tornar-se invisível e voltar a aparecer. Criar diversas formas humanas e inumanas com a sincronização dos corpos dos bailarinos, sob um mágico jogo de luzes. O grupo ilusório de dança Momix desembarca no Rio, após ter estreado nos EUA, para comemorar os 25 anos de existência com o novo espetáculo Lunar Sea (em português, Mar Lunar). Chega terça a São Paulo. (Deodato, 2005, D1)

O texto desse primeiro exemplo tem como objetivo informar sobre a apresentação do grupo de dança Momix, que aconteceu em São Paulo no dia 5 de julho. Observa-se que a autora hierarquiza a informação porque, já no primeiro parágrafo, responde ao “que e quando” em “chega terça a São Paulo”embora construa algo diferente, ao detalhar as particularidades do espetáculo e, com isso, rearranje a estrutura. (Deodato, 2005: D1) A seguir, um segundo exemplo retirado do “Caderno 2”: O atentado terrorista que deixou vítimas na quinta-feira em Londres chocou os escritores convidados para a terceira Festa Literária Internacional de Paraty e provocou lembranças terríveis em especialmente dois. O americano Jon Lee Anderson acompanhou todos os momentos que culminaram com a queda de Saddam Hussein na guerra do Iraque. A experiência resultou no livro A Queda de Bagdá (Objetiva). E o português Pedro Rosa Mendes presenciou a violência do conflito belicoso em Angola, confrontando com a morte quase que diariamente, relato que está no livro Baía dos Tigres (Sá Editora). Anderson e Mendes estarão juntos hoje na Flip, a partir do meio-dia, justamente para conversar sobre zonas de conflito. (Idem)

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Neste exemplo, o texto de Ubiratam Braque os assuntos tratados nessa editoria sil, “Narradores de guerras”, tem a missão diferem dos temas das demais: de falar sobre os destaques da Festa Literária a natureza dos assuntos tratados por essa Internacional de Paraty (Flip), que naquele seção, do cinema à moda, da literatura à dia, 9 de julho, receberia os escritores Jon música, é obviamente convidativa. Ela não está falando dos escândalos polítiLee Anderson e Pedro Rosa Mendes com cos, dos índices econômicos e da crimisuas respectivas obras, A queda de Bagdá nalidade assustadora, pelo menos não e Baía dos Tigres, sobre a guerra do Iraque diretamente daqueles que nos afetam no e o conflito em Angola. Observa-se que cotidiano. Está nos indicando, em geral, Brasil cumpre a função do texto de forma coisas boas para fazer, como ver um filme, não-convencional: não cita diretamente a ir a um restaurante, ler um livro – daí a importância das edições de fim de semana presença dos autores na festa, mas integra ao (sexta, sábado e domingo), que também lide um pouco de história recente e, assim, usufruem do maior tempo disponível do contextualiza o acontecimento. público para ler o próprio jornal. Para Esta pesquisa desenvolveu a identificauma publicação, é certamente um espaço ção de textos criativos nos cadernos culturais de sedução do leitor que conta com uma simpatia prévia, até pelo contraste com as (os dados gerais da análise dos dois veículos outras seções (com exceção, naturalmente, podem ser conferidos na dos esportes, embora nem todo mundo Tabela 3) “Ilustrada” e “Cagoste de esportes). (Piza, 2004: 64) derno 2”, dos jornais Folha A pesquisa levantou, ainda, outra posde S. Paulo e O Estado de S. sibilidade para explicar a idéia de que os Paulo, respectivamente. Tal cadernos de cultura admitem maior espaço delimitação ocorreu porque, para a criatividade: os leitores são também segundo a hipótese adotada, responsáveis por isso porque “saboreiam” são os cadernos de cultura, o caderno de cultura aos poucos – não pela natureza de seus temas, bastando, para isso, que os autores reproos que possuem mais liberduzam fórmulas; eles precisam dar “gosto” dade para romper com as esàs suas informações, a fim de atenderem aos truturas textuais do lide e da interesses dos leitores. Talvez isso possa pirâmide invertida, recomenexplicar a maior liberdade para a produção dadas pelos veículos em de de textos criativos nessa editoria e motivar seus manuais de redação. outra pesquisa sobre esse aspecto. Os cadernos de cultura figuram como Tabela 3. Dados gerais uma boa forma de atrair leitores para os da análise jornais, como relata Piza, pois é com essa seção que o público estabelece vínculos N° de N° de Valores prazerosos de leitura. Isso se deve à natureza Caderno textos textos percendos assuntos tratados pelo jornalismo cultunoticiosos criativos tuais ral, os quais fogem dos escândalos políticos, 298 125 41,94% “Ilustrada” dos índices de violência e das mudanças na 264 143 54,16% “Caderno 2” economia: os cadernos culturais indicam “coisas boas para fazer, como ver um filme, ir a um restaurante, ler um livro [...]” (Idem). Na busca por uma explicação para a O autor diz, ainda, que as pesquisas de hipótese, a pesquisa considerou o relato leitura colocam os cadernos culturais como de Piza (2004), ao afirmar que os cadernos a primeira ou segunda seção mais lida dos de cultura não devem seguir rigidamente jornais, depois da primeira página. as recomendações dos manuais, uma vez

A criatividade pode ser posta em prática mesmo diante de regras e manuais

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Outro registro de estudo na área do 5. Conclusão jornalismo cultural é feito por Marquardt Esta pesquisa foi desenvolvida com (2003) que analisou o caderno “Tendêno objetivo de identificar se os cadernos cias e Cultura” do jornal Opinião. O culturais “Ilustrada” e “Caderno 2”, resobjetivo do autor foi observar como se pectivamente da Folha de S. Paulo e de O desenvolviam as críticas e os textos de Estado de S. Paulo, constroem seus textos cultura em um jornal que circulou no de forma criativa. Em razão da natureza período da ditadura militar no Brasil e, dos temas da área cultural, a qual leva aos por isso, conviveu diretamente com a leitores assuntos ligados ao divertimento censura que o regime impôs aos meios e à distração, esta pesquisa adotou como de comunicação. Os textos eram muitas hipótese de trabalho a idéia de que há a vezes barrados pelos critérios usados possibilidade de identificar construções pelos censores. criativas nos textos dessa área. Segundo Maingueneau (Marquardt, A análise do discurso de 32 edições de 2003), os discursos seguem determinadas cada um dos cadernos, veiculadas no períleis para que possam ser considerados odo de 1° de julho a 1° de agosto de 2005, sérios tanto para os enunciadores quando permitiu confirmar a hipótese adotada pela para os receptores. Essas leis são: pertinênpesquisa: foram identificados 125 textos cia, sinceridade, informatividade e exauscriativos na “Ilustrada” e 143 no “Caderno tividade. A primeira diz que um discurso 2”. Todas essas construções foram assim precisa estar adequado ao contexto em que classificadas porque construíram um reacontece, deve interessar ao destinatário e, arranjo ou criaram uma nova maneira de de algum modo, modificar a situação estaescrever que rompeu com as estruturas do belecida. A lei da sinceridade diz respeito lide e da pirâmide invertida, adotadas como ao engajamento do enunciador no ato de regras para a formatação textual no jornalisfala, ou seja, o produtor do discurso deve mo. Em outras palavras, os textos criativos estar em condições de garantir a verdade do não trouxeram de imediato, no primeiro que diz. A lei da informatividade, por sua parágrafo, as respostas às perguntas básicas vez, orienta o autor do discurso a apenas – outros ousaram ainda mais, reconstruindo construir um enunciado quando tiver infortodo o texto de modo a não se hierarquizar mações novas ao destinatário. A última reas informações na ordem decrescente. gra da comunicação, a lei da exaustividade, Os resultados encontrados permitem obriga o enunciador a oferecer a informação concluir que a criatividade encontra máxima, todos os detalhes e nuances comeios de ser posta em prática mesmo nhecidas para que o receptor tenha o maior diante de regras e manuais para as proconhecimento possível do fato. duções textuais. Os jornalistas, por sua Vale dizer que todos os discursos jornavez, usam essa capacidade criadora para lísticos usados como exemplos da análise desenvolver textos que vão além de uma fizeram uso das leis do discurso, desenação automática de responder às pergunvolvidas pela AD, de sinceridade, pois os tas: a criatividade permite enriquecer as jornalistas precisam estar em condições construções textuais com informações de garantir a veracidade do que afirmam e históricas, visões humanizadas, relações a pertinência dos acontecimentos, (já que entre passado e presente. os fatos devem interessar ao destinatário), Em termos percentuais, o “Caderno de informatividade (uma vez que as infor2” de O Estado de S. Paulo constrói um mações precisam ser novas) e, por fim, de número maior de textos criativos do que exaustividade (quando os textos trazem o a “Ilustrada” da Folha de S. Paulo. Uma máximo de detalhes sobre o fato). Vo l u m e

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Jornalismo e criatividade: uma possibilidade...

possível explicação para essa diferença é a afirmação de Martins1 de que o Manual de redação e estilo, de O Estado de S. Paulo, não foi criado com a intenção de tolher a criatividade dos jornalistas, mas, sim, para estabelecer um estilo para o veículo. Com isso, o autor deixa claro que existe espaço no jornal para os jornalistas criarem e renovarem seu trabalho. Como também foi visto neste artigo, os cadernos de cultura figuram como as segundas seções mais lidas depois da primeira página. Nesse contexto, a produção de textos criativos pode tornar esses cadernos uma fonte ainda mais atraente, pois possibilita a produção de textos prazerosos que tornam os assuntos convidativos. Além disso, para leitores que buscam se informar sobre literatura, arte, espetáculos,

cinema e dança, provavelmente não basta saber apenas o “que, quando, como, onde e por quê”. Mais interessante é conhecer os detalhes, os momentos especiais, as peculiaridades dos acontecimentos. Esses outros aspectos citados no texto podem ser temas de outras pesquisas com enfoques específicos. O presente trabalho, em especial, pretende contribuir para ampliar os conhecimentos na área do jornalismo cultural, demonstrando que é possível uma “rebeldia criativa”, como a chama Chaparro2, uma rebeldia que renove estruturas e crie novas formas de escrever.

Eduardo Martins, Manual de redação e estilo. Manual Carlos Chaparro. Por uma rebeldia criativa no jornalismo.

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