Jornalismo local na era do hipertextual básico: os websites como extensão do impresso

June 19, 2017 | Autor: Rafael Kondlatsch | Categoria: Communication, Online Journalism, Webjournalism, Local Journalism
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Jornalismo local na era do hipertextual básico: os websites como extensão do impresso

Rafael Kondlatsch 1 Karol Natasha Lourenço Castanheira 2

Resumo:

Os jornais impressos deparam-se atualmente com novas e interativas tecnologias de informação, produção, transmissão e consumo de notícias. Este novo paradigma levou o jornalismo impresso a dialogar com novas mídias e contribuiu para a formação e “evolução” do que hoje se denomina webjornalismo. No entanto, este artigo busca demonstrar por meio do estudo de caso do jornal Gazeta de Riomafra e do portal Click Riomafra, que estas potencialidades tecnológicas propaladas por muitos, ainda está longe de ser efetiva nos veículos do interior. Diversos webjornais ainda encontram-se na fase do hipertextual básico e subutilizam ou não utilizam recursos digitais, como a multimidialidade e a interatividade. Palavras-chave: jornalismo local; webjornalismo; jornalismo impresso; hipertextual básico; estudo de caso

1. Introdução Apesar das certezas proclamadas em torno da revolução digital do jornalismo, com a Internet alterando o ritmo das redações, extinguindo o “furo” dos jornais do dia seguinte e apontando um novo norte aos rumos da profissão e suas especificidades, o processo de implantação por completo de um novo modelo ainda não se concretizou a ponto de darmos como iminente a morte do jornalismo em papel. Em pequenos centros e cidades com poucas dezenas de milhares de habitantes é comum observar os sites de notícias como parte de uma estrutura deficiente de comunicação, que ainda está distante da maravilha tecnológica à disposição da informação em rede, tida como rápida e democratizada. Nesses locais, por motivos distintos que vão desde a falta de profissionalização nas redações e condições de trabalho deficitárias com pouco investimento em tecnologia e salários abaixo do mercado (a diferença entre

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Doutorando em Comunicação pela Unesp –Bauru. E-mail [email protected]. Doutoranda em Comunicação pela Unesp –Bauru. Docente do Curso de Comunicação e coordenadora do Departamento de Extensão da UEMG- Frutal. E-mail: [email protected]. 2

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jornalistas formados da capital e do interior pode chegar a 50% segundo tabela oficial da Fenaj3, e ser ainda maior dependendo o tamanho do veículo, da região e da inexistência de formação), o jornalismo impresso ainda prevalece sobre o digital, que de forma insipiente, serve mais como reprodutor que produtor de conteúdo noticioso. O objetivo deste artigo é demonstrar de forma direta através de um exemplo específico, mas que pode se repetir em diferentes cidades e regiões, como esse modelo de negócio online - no qual os sites são extensões dos jornais impressos servindo apenas como divulgadores do material e se utilizando das redações para meramente preencherem suas webpages, prova que o avanço tecnológico das TIC’s ainda não atingiu a sua totalidade de alcance. Por conta disso, o jornalismo impresso ainda é uma força no interior do país, onde as redações mantêm um ranço de século XX e seguem trôpegas, mas ativas, no propósito de manter a hegemonia sobre a informação e o status quo da credibilidade informativa. Neste breve artigo será discutida e demonstrada essa relação partindo do estudo do caso do jornal Gazeta de Riomafra e do portal Click Riomafra, site de noticias e entretenimento e jornal bi-semanal, respectivamente. Ambos são veículos de comunicação independentes, mas parceiros, estabelecidos na cidade de Mafra-SC - município polo da região do Planalto Norte Catarinense.

2. A “evolução” do jornalismo online Pensando o jornalismo do futuro, diversos autores fizeram previsões e se debruçaram a analisar o jornalismo contemporâneo na Internet, separando distintas fases e organizando seus modelos conforme padrões de produção e possibilidades disponibilizadas ao receptor em termos de acesso de conteúdo, compartilhamento e formatos. Ribas (2004) propôs três fases para o jornalismo de Internet, iniciando pela era Linear, que seria um primeiro estágio desse novo jornalismo, diferente apenas na plataforma de difusão, mas agindo como uma cópia do jornalismo impresso por manter uma estrutura de informação com começo, meio e fim bem determinados, sem integração entre os textos, e com interface gráfica estática tal qual o resultado obtido nas prensas.

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Disponível em http://www.fenaj.org.br/pisosalarial.php acesso em abril de 2015.

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Em uma classificação anterior Gonzalez (2000) preferiu chamar a essa fase como Fac-simile, por entender que ela retrata o ponto em que o jornalismo somente passou a fazer uma reprodução exata na Internet das suas páginas impressas. Franciscato (2004) alerta ainda que nessa primeira fase seriam mantidos aspectos como critérios de apuração, estruturas de texto e enquadramentos desenvolvidos no jornal impresso. Isso também poderia ocorrer quanto à temporalidade: a periodicidade diária do jornal impresso seria aplicada no online, pois este seria atualizado uma vez ao dia, logo após o fechamento do impresso. Embora pareça uma subutilização da potencialidade da Internet, esta seria uma fase em que ainda se situam muitos sites jornalísticos. Exemplo desse modelo foi o adotado pelo Jornal da Cidade, de Bauru-SP, que em seu portal (www.jcnet.com.br) publicava as páginas do diário em PDF para leitura seguindo o mesmo padrão do jornal em papel. Outros jornais chegaram a adotar outros formatos como o .JPG e demais extensões em imagem como o mesmo propósito: apenas disponibilizar as matérias na Internet. Nesse período, tanto Gonzalez (2000) quanto Ribas (2004) consideravam que não havia equipes preparadas para atuar na rede e nem a preocupação de diversificar a produção e os métodos de trabalho nas redações. No Brasil os jornais começaram a disponibilizar sites nos moldes dessa fase Linear já a partir de maio de 1995 com o Jornal do Brasil 4. Esse lançamento aconteceu quase um ano depois do jornal americano The NandO Times debutar como pioneiro na web (CHRISTOFOLETTI & SILVA, 2010, p.67). Seguindo na linha cronológica, a Folha de S. Paulo, com site lançado em abril de 1996, seria o primeiro jornal em tempo real publicado em língua portuguesa na rede 5. Contudo o primeiro jornal exclusivamente para Internet viria apenas com o portal IG, em 2000. O segundo momento desse jornalismo online foi classificado por Ribas (2004) como o do Hipertextual Básico. Nele o padrão seguiria o primeiro estágio, todavia agora com a adoção de links permitindo uma “navegação” entre os textos, o que foi identificado e definido por Gonzalez (2000) como Modelo Adaptado. Apesar de um leve avanço obtido até então pelos jornais, a interação do leitor com a plataforma nessa etapa seria ainda pouco explorada e a referência continuaria sendo o que havia de mais tradicional no jornalismo. Para Nogueira (2004), na segunda etapa a presença da metáfora da página do jornal impresso foi o fator mais destacado. De acordo com a autora, ao invés 4

Disponível em www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/historianobrasil/arquivos-em-pdf/Cronologia acesso em 10.04.2015. 5 Disponível em www1.folha.uol.com.br/institucional/ acesso em 10.04.2015.

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de atualizar a edição apenas uma vez por dia, como acontecia na primeira fase, os veículos na rede passaram a criar seções como “Últimas Notícias” que foram responsáveis por uma atualização mais constante. Entretanto, uma mudança interessante para o sistema de notícias na web só viria realmente com o que Ribas (2004) classificaria como sendo a sua terceira fase, definida como Hipertextual Avançada, na qual o novo jornalismo online passaria a ganhar uma outra linguagem, conteúdos e recursos próprios para a sua forma de comunicar (imagens e vídeos). Foi a partir desse momento que, segundo Christofoletti & Silva (2010) passou a acontecer uma espécie de simbiose entre as diferentes mídias e uma interação entre produtores e consumidores de notícias. Schiwingel (2005, p. 2) relata que essa terceira geração do jornalismo online pode ser analisada pela aplicabilidade das características em produtos que são “(...) desenvolvidos no ciberespaço ou pela incorporação de rotinas diferenciadas nos processos de produção de empresas”. Para Primo & Träsel (2006, p. 7) esse é um momento de real mudança dentro do jornalismo na web porque é incorporada a hipermídia aos textos, possibilitando uma hipertextualidade através da convergência de diferentes mídias e plataformas com celulares, por exemplo. Adotando o conceito de Mielniczuk (2003) nesse momento o jornalismo assumiria integralmente a vocação de webjornalismo, suplantando o termo jornalismo online. É interessante notar que dentro da terceira fase o Brasil passou a acompanhar o desenvolvimento de veículos que nasceram na plataforma web. Por sua origem, estes já iniciaram as atividades com vistas a utilizar e aprimorar suas estruturas para aproveitar ao máximo os mecanismos criados para difusão de informações no meio, cumprindo com as projeções de dinamismo na construção e transmissão de notícias, com liberdade para compartilhamento e desenvolvimento de conversa no estilo muitos para muitos (BRIGGS, 2011, p. 28). Alguns desses portais, como são conhecidos os grandes sites de notícias, fazem um jornalismo voltado à Internet, disputando por vezes a atenção do público com reportagens de melhor qualidade em termos de pesquisa, investigação e pluralidade de fontes. Para Schwingel (2005), já está claro em meio acadêmico o surgimento de uma quarta fase do webjornalismo. Segundo a autora, há também nessa fase os termos hipertextualidade, multimidialidade, atualização contínua, memória, personalização ou customização de conteúdos, interatividade tal qual nas fases anteriores, mas soma-se a isso 4

as profundas modificações tecnológicas verificadas com o avanço tanto da popularização de aparelhos móveis com capacidade de acesso à Internet, quanto da própria expansão e melhoramento dos serviços de acesso à web via mobile (smartphones e tablets).

3. O jornalismo online como mera extensão do impresso Na teoria, considerando o que foi dito, a esta altura do século XXI o jornalismo online no Brasil já deveria estar em sua fase mais avançada, com a multimodalidade implantada em sua totalidade, dados em mídias móveis e informações praticamente simultâneas chegando a todos os pontos nos quais a Internet estenda seus domínios. Essa era a previsão de autores que na primeira década dos anos 2000 imaginavam um cenário aberto de difusão de informação, com plataformas colaborativas ativas e cidadãos prossumidores6 atuando de forma quase militante na rede para garantir seus direitos à informação transparente e correta7. Em parte, como já dito, essa previsão se concretizou em grandes centros e capitais nos quais o webjornalismo aparentemente deu certo. Entretanto, é possível refutar a ideia de homogeneidade desse processo, negando qualquer pressuposto de que ele ocorra de forma simultânea e equivalente em todo e qualquer lugar do país. Em grande parte do interior a realidade pode e é bem diferente, com os sites se mantendo em um interstício entre a primeira e a segunda fase do jornalismo na Internet, servindo apenas para dar uma falsa impressão de presença das mídias tradicionais na rede. Uma das hipóteses prováveis para essa ocorrência deriva dos interesses dos proprietários desses veículos, que em alguns casos - se não na maioria, não se mostram muito preocupados com a captação da audiência online. Um público que cresce principalmente entre os jovens, que têm demonstrado cada vez mais tendência ao consumo das mídias digitais em detrimento do impresso8 mesmo tendo acesso a este em suas casas, escola ou trabalho. Partindo do pressuposto de que não há interesse na expansão enquanto mídia independente da principal, para os jornais locais os portais de notícias servem mais como 6

Aportuguesamento do termo “prosumers”, que seriam os cidadãos produtores e consumidores de informação. 7 Primo e Träsel trazem uma ideia interessante a respeito do webjornalismo participativo e produção aberta de notícias em artigo publicado em 2006, disponível nos anais do Congresso Latino-Americano de Pesquisadores da Comunicação, realizado em São Leopoldo-RS. 8 Vide estudo publicado na Revista Eletrônica de Administração e Turismo (ReAT) Vol. 5, Nº 3 de julho a dezembro de 2014 disponível em http://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/AT/article/viewFile/4237/3548. Acesso em julho de 2015.

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uma plataforma para divulgação das suas edições impressas, além de uma forma complementar de oferecer uma vantagem aos seus anunciantes. Assim, acaba que não há por parte desses periódicos investimento acima do mínimo necessário para criar um site e registrar um domínio, bem como por vezes inexiste a ideia de uma equipe de trabalho dedicada e com formação diferenciada para atuar no webjornalismo. Investimento esse que parece ainda mais difícil de ocorrer, principalmente porque as próprias redações são por diversas vezes ocupadas por profissionais sem formação em jornalismo e em número reduzido até para desenvolver de forma adequada o trabalho de pesquisa e composição dos textos jornalísticos. Essa realidade de escassez de mão-de-obra qualificada acaba ainda por criar um ambiente dependente das assessorias de comunicação de órgãos oficiais como câmaras e prefeituras, que por vezes fazem o trabalho dos repórteres ao mandar material pronto para a publicação. Essa dependência, aliás, gera um segundo problema para o desenvolvimento do webjornalismo no interior. Isso porque o material produzido pelas assessorias normalmente vem em forma linear, como press release, inadequado para o estilo ideal de estrutura informativa na Internet que, segundo Martinez (2010), responde melhor com a disposição dos textos em forma de “árvore informativa”, ou seja, um tronco principal da notícia que vai sendo ramificada com novas informações montadas à medida que o profissional desenvolve o texto. Canavilhas (2007) aponta essa maneira de escrever como uma resposta ao lead e à pirâmide invertida, padrões do jornalismo impresso, considerando a hipertextualidade como um marco do webjornalismo pela praticidade e maior possibilidade informativa ao leitor. Ao mudar a forma como o texto é colocado, altera-se o ritmo e o sentido da leitura, mudando também a relação do leitor com a notícia. Assim não se tem mais nem o mesmo jornalista nem o mesmo leitor quando se fala em jornalismo na rede. Posto isso, partindo do ponto que os periódicos do interior pouco investem em websites como veículos independentes de notícias, é possível observar parcerias entre portais locais e jornais, como é o caso do exemplo deste artigo. Através da cooperação, jornais se valem dos sites já estabelecidos para divulgarem seu material e sua marca enquanto os portais se aproveitam do conteúdo já existente para oferecem “produto jornalístico” aos internautas que acessarem a sua página. É uma forma de “protocooperação comunicativa” na qual ambos saem ganhando desde que respeitados alguns limites, como a data da publicação do material, por exemplo. 6

Considerando que há uma tendência à diminuição no número de assinantes de jornais impressos no país (em 2013, segundo o IVC, houve uma queda em 3,7% no índice de circulação paga9), existe o receio de pequenos veículos na queda de arrecadação pela diminuição de assinantes, leitores de banca e, principalmente, de anunciantes – afinal empresas apenas investem se tiverem retorno de visibilidade garantida. Por conta desse medo, muitos donos de periódicos evitam a Internet temendo que seja uma estratégia inconveniente disponibilizar o seu conteúdo de graça na rede, arriscando perder seus leitores da edição física. Como forma de driblar essa possibilidade, jornais pequenos adotam a tática de publicar na Internet apenas depois de circulada a edição impressa, já com delay de um ou mais dias. Assim é possível manter o ineditismo da edição em papel e não perder a possibilidade de oferecer publicidade digital aos seus clientes como alternativa de visibilidade. Ocorre que, a partir dessa estratégia, o webjornalismo não ocorre por não haver um dos princípios primordiais da sua existência: o tempo real. Para exemplificar o que foi descrito até este momento escolheu-se a análise da parceria entre o jornal Gazeta de Riomafra e o portal Click Riomafra. Os nomes Riomafra se devem à circulação que ocorre em duas cidades gêmeas, ligadas pelos centros comerciais, mas divididas pelo Rio Negro, que também é o marco da divisa interestadual entre Paraná, ao norte, e Santa Catarina, ao Sul. Juntos os dois municípios de MafraSC e Rio Negro-PR possuem uma população estimada em 88 mil habitantes, o que os coloca num patamar de cidades médias 10. O Jornal Gazeta de Riomafra pertence a uma família tradicional no ramo gráfico do município de Mafra e circula há mais de 30 anos sendo que há pelo menos duas décadas as edições são bi-semanais (quartas e sábados) em formato tablóide com capa colorida e interior PB. O portal Click Riomafra existe desde 2007 e desde o seu início sempre veiculou material jornalístico produzido pela Gazeta, incluindo colunas de opinião e entretenimento do jornal impresso. Através da parceria o site disponibiliza duas vezes na semana o material produzido pela Gazeta para as suas edições físicas, cumprindo com o objetivo de não “furar”

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Disponível em http://www.anj.org.br/cenario-2/ acesso em 12 de julho de 2015. Geralmente os estudos funcionais ou que priorizam o sistema hierárquico das cidades usam terminologias similares às de cidades pequenas, médias e grandes. Para tanto, tomam como base os dados referentes a seus contingentes populacionais. Assim, na classe de cidades pequenas inserem-se aquelas que possuem até 20 mil habitantes; acima deste montante são classificadas como cidades médias e aquelas com mais de 500 mil habitantes são consideradas cidades grandes. Este critério, com algumas variantes, tem sido adotado pelas instituições de estudos estatísticos. 10

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a edição impressa sendo que o site publica as matérias com um dia de atraso em relação à edição de quarta-feira e dois dias em relação à edição de sábado. Interessante notar que o site abre mão do direito de sair na frente com a informação e praticar um dos atributos básicos do jornalismo online, que é o tempo real, mesmo em caso de matérias de relevância como a cassação dos direitos políticos do prefeito municipal pela Câmara de Vereadores (figuras 1 e 2).

Figura 1. Cabeçalho da matéria publicada originalmente no jornal com data da quarta-feira, 22.

Figura 2. Cabeçalho da matéria publicada no site com data do dia 23 de julho, três dias de atraso em relação ao fato e um dia após a edição impressa do jornal

Observando as duas figuras percebe-se que os títulos e gravata são idênticos assim como texto interno que não aparece na figura. No site quem surge como autor da publicação é o próprio jornal Gazeta de Riomafra, o que daria a entender que o periódico é o responsável pela publicação das matérias, mesmo sendo duas empresas diferentes. Dessa forma, a data com atraso de um dia em relação à publicação impressa comprova a suposição de proteção ao conteúdo físico do jornal. 8

A escolha dessa matéria em questão não foi ao acaso, mas definida pelo fato da sua relevância política para a cidade, que é a cassação do prefeito municipal pela Câmara de Vereadores. Tal fato aconteceu na tarde do dia 20 de julho, podendo ter estampado os noticiários impressos já na manhã da terça e online naquela mesma tarde, o que caberia em um interesse maior da mídia para noticiar “em primeira mão” e angariar novos leitores, principalmente se observado que o site possui ferramentas de compartilhamento via redes e mídias sociais um pouco abaixo do título da matéria, suficientes para chamar a atenção para o seu texto. A resignação do portal em publicar a informação com três dias de atraso em relação ao fato e um dia após a edição física do jornal (cabe anotar que essa mesma matéria já havia sido capa de outros dois jornais locais), demonstra claramente que o site não tem interesse em praticar o próprio jornalismo, mas servir como mera extensão e plataforma de divulgação do material já produzido pela Gazeta. Alguns recursos interativos como campo de comentários e compartilhamento em redes sociais, especificamente Twitter, Facebook e G+1 estão presentes no website. Apesar de ser supostamente um espaço de interação entre usuários-usuários e usuárioswebjornal, a quantidade de comentários por matérias levou a confirmação de que o espaço é subutilizado, tanto por parte do veículo como dos leitores. Observou-se também a ausência de uma postura dialógica do veículo com os usuários e isto se caracteriza nos conceitos de Primo (2005) como uma interatividade reativa, ou seja, como um sistema fechado, unilateral e linear. Outro fator preponderante sobre estes dispositivos interativos é que eles permitem a participação do usuário, mas não a sua colaboração. A participação é entendida aqui como as possibilidades de interagir com a plataforma sem alterar a dinâmica dos processos produtivos ou interferir de alguma maneira no conteúdo. Já o termo colaboração implica em uma alteração seja nos processos ou nos conteúdos. Para ajudar definir melhor em que fase do webjornalismo o Click Riomafra se encontra foram verificados os recursos multimídias utilizados. As notícias observadas recorrem apenas ao uso de fotografia, não há vídeos, infográficos, podcasts ou qualquer outro tipo de mídia. Por meio da estrutura do website e das características apontadas anteriormente se pode concluir que o Click Riomafra está orbitando de forma preponderante na fase um (Linear ou Fac-simile ) e dois do webjornalismo (Hipertextual Básico).

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4. Conclusão A partir dessa breve análise - que não tem objetivo de dar uma visão sobre todo o interior do país, até porque não seria possível algo nem próximo disso, é perceptível que o webjornalismo ainda está distante de ser uma tônica em todos os espaços urbanos. O objetivo era demonstrar na prática que o jornalismo na Internet não assumiu todas as suas funções e nem avançou até o ponto de podermos prever a morte do jornalismo impresso. E não são apenas os rincões e agrestes, com sua deficiência técnica e de infraestrutura que estão privados desse jornalismo online. Mesmo cidades de porte considerado médio, em regiões bem desenvolvidas e servidas de redes lógicas de acesso à banda larga de alto desempenho e tráfego, acabam sendo despojadas desse avanço. Contudo, nesses locais o atraso se deve por decisões dos próprios proprietários de veículos de imprensa, provando que o anacronismo não é somente tecnológico, mas uma questão de opção de modelo de negócio, que preza pela manutenção de um status gozado há muito pelo jornalismo impresso. A solução para esse tipo de mentalidade talvez passe pela academia, com aumento no volume de jornalistas com interesse pelo webjornalismo no interior, desalojando do poder central sobre os veículos de imprensa a casta mais protecionista do mercado tradicional. Passa também por um consumidor mais exigente, que não se disponha a consumir informação vencida e que leve a sério a máxima da notícia como algo perecível.

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