Jornalismo popular: uma análise do jornal alemão BILD Hamburg e Diário Gaúcho

September 21, 2017 | Autor: A. Bisso Nunes | Categoria: Jornalismo, Estudos Culturais, Journalismusforschung, Jornalismo Impresso, Jornalismo Popular
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ANA CECÍLIA BISSO NUNES

JORNALISMO POPULAR: UMA ANÁLISE DO JORNAL ALEMÃO BILD HAMBURG E DO DIÁRIO GAÚCHO

Porto Alegre 2010

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ANA CECÍLIA BISSO NUNES

JORNALISMO POPULAR: UMA ANÁLISE DO JORNAL ALEMÃO BILD HAMBURG E DO DIÁRIO GAÚCHO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Carolina D. Escosteguy

Porto Alegre 2010

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ANA CECÍLIA BISSO NUNES

JORNALISMO POPULAR: UMA ANÁLISE DO JORNAL ALEMÃO BILD HAMBURG E DO DIÁRIO GAÚCHO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.

Aprovada em ____ de __________________________________ de ________.

BANCA EXAMINADORA: Profª. Drª. Ana Carolina D. Escosteguy – PUCRS _____________________________________

Prof. Me. Fabian Chelkanoff Thier - PUCRS _____________________________________

Prof. Dr. Francisco Ricardo de M. Rüdiger - PUCRS _____________________________________

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Dedico esta monografia aos meus pais, avós, irmã e namorado que, com a convivência, apoio e amor, fazem eu ser quem sou e me dão suporte e força para minhas conquistas.

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AGRADECIMENTO Para minha família, que sempre apoiou minhas idéias e conquistas. Ao meu pai, que me ensinou a ler as primeiras linhas e a minha mãe que sempre me incentivou o gosto pela leitura e que leu e releu as páginas deste trabalho inúmeras vezes. Aos meus avós e irmã que, assim como eles, entenderam e ouviram meus anseios. A eles, devo tudo. Ao meu namorado, Marcelo, pela compreensão, discussão e suporte emocional e teórico durante todo o desenvolvimento deste trabalho. E aos meus amigos, por compreenderem minhas ausências e ouvirem inúmeras vezes sobre o progresso desta monografia. A todos os professores da FAMECOS, que influíram no meu desenvolvimento acadêmico e científico, em especial a minha orientadora, Ana Carolina Escosteguy e aos professores Andréia Mallmann, André Pase e Eduardo Pellanda, os quais a presença foi muito significativa durante toda minha vida acadêmica. Ao Professor Gerson Roberto Neumann que, com muita dedicação, me ensinou a amar a língua alemã, a compreender suas estruturas, a cultura do povo e a expressar-me com clareza. Obrigada por responder minhas dúvidas e me incentivar na busca do conhecimento. À equipe do Diário Gáucho, que me recebeu na redação e respondeu aos meus questionamentos. Em especial a Alexandre Bach, que possibilitou, num primeiro momento, que eu conhecesse de perto o jornalismo popular. Também a Cláudio Thomas, Claiton Magalhães, Rozanne Adamy, Luiz Domingues e Renato Dornelles pela atenção, disponibilidade e conversas. À equipe do jornal BILD Hamburg, que me recebeu em sua redação, respondeu minhas dúvidas e contribuiu para que eu compreendesse as rotinas do jornal. A todos os profissionais que colaboraram para que esta pesquisa fosse realizada, um muito obrigado. À família Moeller que me recebeu em sua casa em Hamburgo, me deu atenção e apoio à pesquisa e ajudou-me em todo o período em que estive na Alemanha. E, por fim, a Professora Beatriz Puffal, que me ensinou a compreender a língua portuguesa e que acompanha meus passos desde o Ensino Fundamental.

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RESUMO Desde a eclosão dos periódicos populares no Brasil, na década de 90, essas publicações ocupam espaço significativo no mercado comunicacional do país. Do outro lado do oceano, na Europa, o jornal mais vendido do continente é popular e data de 1952. O periódico alemão BILD tem vendagem diária superior a três milhões de exemplares e serviu de inspiração para jornais populares brasileiros como o Diário Gaúcho, lançado em 2000 no Rio Grande do Sul e o oitavo maior do Brasil. As publicações são semelhantes e dirigem-se a um mesmo segmento, porém situam-se em contextos diversos. O presente trabalho estabelece semelhanças e diferenças entre os jornalismos popular brasileiro e alemão, através da análise dos jornais BILD (edição regional de Hamburgo) e do Diário de Gaúcho. Além de revisão bibliográfica e documental, o material é fruto de coleta de informações “in loco”, nas respectivas redações, e entrevistas com profissionais dos jornais. A análise das capas dos periódicos, diagramação e títulos permitiram visualizar as editorias privilegiadas e os aspectos enfatizados em cada um dos jornais. Percebeu-se que os títulos e seu modo de tratamento revelam particularidades que dizem respeito aos jornais, mas também aos contextos em que eles estão inseridos. Palavras-chave: jornalismo popular. Diário Gaúcho. BILD. Hamburgo. Porto Alegre. Alemanha. Brasil.

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ZUSAMMENFASSUNG Seit dem Auftachen der populären Tageszeitungen während der neunziger Jahren in Brasilien nahmen solche Veröffentlichungen eine bedeutende Stellung auf dem Medienmarkt des Landes ein. Weit in Übersee, in Europa nämlich, die meistverkaufte Zeitung ist ebenfalls populär und stammt aus dem Jahr 1952. Die deutsche Boulevardzeitung BILD rechnet mit einem täglichen Verkauf von mehr als drei Millionen Exemplaren und hat als Vorbild für mehrere derartige brasilianische Zeitungen gedient, wie die Tageszeitung Diário Gaúcho, welche im Jahr 2000 auf dem Markt gebracht wurde und unter den acht grössten Zeitungen Brasiliens rangiert. Die Veröffentlichungen ähneln sich und richten sich an vergleichbaren Zielgruppen, allerdings befinden sich in unterschiedlichen Umfelder. Die vorliegende Arbeit bestrebt die Unterschiede und Gemeinsamkeiten zwischen den deutschen und brasilianischen populären

Zeitungswesen

nachzuvollziehen,

mittels

einer

Erforschung

von

den

Tageszeitungen BILD (regionale hamburger Ausgabe) und Diário Gaúcho. Über bibliographische und schriftliche Untersuchungen hinaus entstammt das Forschungsmaterial aus Datensammlungen in den entsprechenden Redaktionsabteilungen und aus Befragungen an den Redakteuren. Die Untersuchung von Titelseiten, grafischen Erstellungen und Titeln ermöglichte es festzustellen, welche seien die bevorzugten Ressorts und die schwerwiegenden Gesichtspunkte bei jeder Zeitung. Es wurde ebenso fesgestellt, wie die Titelerscheinungen die Eigenschaften solcher Tageszeitungen offenbaren, so wie die der Umfelder, auf die sie sich beziehen. Schlüsselwörter: Populäre Journalismus. Diário Gaúcho. BILD. Hamburg. Porto Alegre. Deutschland. Brasilien.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Capa do Hamburger Abendblatt do dia 24 de junho de 1952...................................17 Figura 2 - Capa do BILD do dia 24 de junho de 1952..............................................................17 Figura 3 – Capa do Diário Gaúcho de 17 de abril de 2000.......................................................20 Figura 4 – Capa da Zero Hora de 17 de abril de 2000...............................................................20 Figura 5 - Imagem de apelo sensual..........................................................................................42 Figura 6 - Balões de Fala em reportagem..................................................................................42 Figura 7 – Leser-Reporter.........................................................................................................45 Figura 8 – Site do jornal BILD..................................................................................................46 Figura 9 – Aplicativo do BILD para IPhone.............................................................................46 Figura 10 – Primeiro logotipo do BILD....................................................................................49 Figura 11 – Logotipo atual do BILD Hamburg.........................................................................49 Tabela 1 – Categorização dos títulos do BILD Hamburg ........................................................51 Figura 12 – Selo Acampamento Farroupilha.............................................................................71 Figura 13 – Desempenho dos “Boleiros”..................................................................................71 Figura 14 - Balões de fala no depoimento dos jogadores..........................................................71 Figura 15 – Resumo da Notícia.................................................................................................72 Figura 16 – Retratos da Fama....................................................................................................73 Figura 17– Retratos da Fama.....................................................................................................73 Figura 18– Retratos da Fama.....................................................................................................73 Figura 19 – Site do jornal Diário Gaúcho.................................................................................76 Figura 20 – Logotipo do Diário Gaúcho...................................................................................80 Tabela 2 - Categorização dos títulos do Diário Gaúcho ...........................................................83

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................11

2 O JORNALISMO POPULAR ATRAVÉS DO NASCIMENTO DO BILD E DG........14 2.1. SENSACIONALISTA OU POPULAR? ...........................................................................21 2.2. RECORTE METODOLÓGICO.........................................................................................28 2.2.1 Economia e Política........................................................................................................34 2.2.2 Emprego e Serviços........................................................................................................35 2.2.3 Polícia e Crimes..............................................................................................................35 2.2.4 Local.................................................................................................................................36 2.2.5 Saúde................................................................................................................................37 2.2.6 Esporte.............................................................................................................................37 2.2.7 Variedades.......................................................................................................................38

3 BILD HAMBURG...............................................................................................................41 3.1 AS CAPAS DO BILD HAMBURG...................................................................................48 3.1.1 Aspectos Gráficos...........................................................................................................49 3.1.2 Títulos............................................................................................................................. 51 3.1.2.1 Variedades.................................................................................................................... 52 3.1.2.2 Economia e Política.......................................................................................................56 3.1.2.3 Polícia e Crimes ............................................................................................................60 3.1.2.4 Esporte ..........................................................................................................................62 3.1.2.5 Emprego e Serviços.......................................................................................................65 3.1.2.6 Saúde.............................................................................................................................66 3.1.2.7 Local .............................................................................................................................67

4 DIÁRIO GAÚCHO.............................................................................................................69 4.1 AS CAPAS DO DIÁRIO GAÚCHO..................................................................................80 4.1.1 Aspectos Gráficos...........................................................................................................80 4.1.2 Títulos..............................................................................................................................83 4.1.2.1 Variedades.....................................................................................................................83 4.1.2.2 Local..............................................................................................................................87 4.1.2.3 Polícia e Crimes.............................................................................................................91

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4.1.2.4 Esporte...........................................................................................................................93 4.1.2.5 Emprego e Serviços.......................................................................................................96 4.1.2.6 Economia e Política.......................................................................................................97 4.1.2.7 Saúde.............................................................................................................................98

5 CONCLUSÃO.....................................................................................................................100

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................109 FONTES DOCUMENTAIS..................................................................................................116 APÊNDICE A – Fotografia panorâmica da cidade de Hamburgo.........................................118 APÊNDICE B – Fotografia da reunião de pauta às 10h15- BILD Hamburg.........................120 APÊNDICE C – Fotografia da entrada da redação da editoria de Local- BILD Hamburg...122 APÊNDICE D – Fotografia da redação do BILD Hamburg – editoria de Local...................124 APÊNDICE E – Fotografia da sala de diagramação- BILD Hamburg..................................126 APÊNDICE F – Fotografia do Editor-Chefe do BILD Hamburg – Matthias Onken............128 APÊNDICE G – Fotografia panorâmica da cidade de Porto Alegre.....................................130 APÊNDICE H – Fotografia da reunião de pauta - Diário Gaúcho........................................132 APÊNDICE I – Fotografia da reunião de pauta: Editor de Dia-a-Dia e Editor-Adjunto.......134 APÊNDICE J – Fotografia da Redação do Diário Gaúcho...................................................136 APÊNDICE K – Fotografia da Redação do Diário Gaúcho..................................................138 APÊNDICE L – Fotografia da Editor-Chefe do Diário Gaúcho- Cláudio Thomas...............140 ANEXO A – Primeira Propaganda do BILD Hamburg- 24 de junho de 1952.......................142 ANEXO B – Texto publicado na primeira edição do Diário Gaúcho- 17 de abril de 2000...144 ANEXO C – Documento original concedido na redação do BILD Hamburg- Rotina...........146 ANEXO D – Espelho do dia 9 de Setembro de 2009, concedido pelo BILD Hamburg........148 ANEXO E – Espelho do dia 5 de Maio de 2009, concedido pelo Diário Gaúcho.................150 ANEXO F – Capa do BILD Hamburg do dia 8 de Setembro de 2009...................................152 ANEXO G – Capa do BILD Hamburg do dia 9 de Setembro de 2009..................................154 ANEXO H – Capa do BILD Hamburg do dia 10 de Setembro de 2009................................156 ANEXO I – Capa do BILD Hamburg do dia 11 de Setembro de 2009..................................158 ANEXO J – Capa do BILD Hamburg do dia 12 de Setembro de 2009.................................160

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ANEXO K – Capa do BILD Hamburg do dia 14 de Setembro de 2009................................162 ANEXO L – Capa do Diário Gaúcho do dia 8 de Setembro de 2009....................................164 ANEXO M – Capa do Diário Gaúcho do dia 9 de Setembro de 2009...................................166 ANEXO N – Capa do Diário Gaúcho do dia 10 de Setembro de 2009..................................168 ANEXO O – Capa do Diário Gaúcho do dia 11 de Setembro de 2009..................................170 ANEXO P– Capa do Diário Gaúcho do dia 12 de Setembro de 2009....................................172 ANEXO Q – Capa do Diário Gaúcho do dia 14 de Setembro de 2009..................................174

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1 Introdução A partir da década de 1990, um novo cenário descortinou-se no Brasil. A expansão dos jornais populares gerou mudanças cruciais no mercado impresso que hoje se configura em âmbito nacional: dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) de 2009 (apud ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS, 2010) indicam que entre os dez periódicos com maior circulação no país, cinco pertencem ao segmento popular, disputando posições lado a lado com periódicos de referência. Na lista, encontram-se os populares Super Notícia (MG, 2º lugar), Extra (RJ, 4º lugar), Meia Hora (RJ, 6º lugar), Diário Gaúcho (RS, 8º lugar) e Lance! (RJ, 10º lugar). Com muitas fotos, títulos em fontes gigantes e estímulos visuais por toda a parte, o jornalismo popular hoje representa um segmento impresso significativo no mercado brasileiro. A fórmula não é totalmente nova: muitas características provêm de jornais do passado ou que ainda hoje estão no mercado. O diferencial está no tratamento dos temas e no seu reconhecimento social como um produto para as camadas populares por parte das elites. O segmento popular - intrinsecamente ligado ao sensacionalismo, porém com peculiaridades - agrega novo termo para definir-se, com vias a extinguir um conceito prévio e preconceito de valor agregado ao antigo termo. Apesar de as publicações assemelharem-se às sensacionalistas, o cenário hoje no Brasil é novo, uma vez que elas sofreram transformações. A escolha do tema “jornalismo popular” para esta monografia, mostrou-se, assim, pertinente. Além do cenário nacional, percebeu-se que no Brasil, os jornais populares, apesar de conquistarem audiências e espaço no mercado, ainda detêm pouca atenção por parte da academia, como afirma Amaral (2004, p. 14): “(...) às publicações e aos programas dirigidos às camadas populares destinam-se muitas críticas, pouca análise e, conseqüentemente, quase nenhuma proposição.” Aliado às motivações acadêmicas, a autora possuía contato anterior com publicações do segmento e forte interesse pelo tema. Durante o período de sua formação, entre os lugares que estagiou e trabalhou, a passagem pelo Diário Gaúcho ampliou o interesse pela imprensa popular. A experiência de trabalho no veículo influenciou também a decisão para a realização deste trabalho de conclusão de curso, que tem como objetivo entender as peculiaridades deste segmento. O conhecimento do periódico juntamente com a proximidade geográfica e cultural, além de sua importância em âmbito nacional influíram para que o mesmo fosse escolhido como um dos objetos de análise.

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No entanto, o interesse da autora por publicações populares ia além das fronteiras nacionais. A autora queria entender se este jornalismo popular brasileiro era análogo àquele que há décadas fazia sucesso na Europa. As pesquisas e conversas com profissionais da área verificaram, então, que o Diário Gaúcho tivera influência, quando de sua criação, de periódicos europeus, entre eles o BILD. A autora tinha conhecimento que a publicação alemã constituía-se uma das de maior tiragem do mundo, com forte apelo na Alemanha e significativa posição no mercado Europeu. A importância notória do jornal, aliada ao conhecimento do idioma e viabilidade financeira para viagem e observação do jornal “in loco” possibilitaram a escolha da publicação, também, como objeto de análise deste trabalho. O BILD, contudo, tem circulação nacional, diferentemente do Diário Gaúcho. O periódico alemão possui 23 edições regionais e tem sua atividade e produção de conteúdo compartimentada: a parte nacional é realizada na redação principal, localizada em Berlim, e a parte regional, nas unidades espalhadas pelo país. Para viabilizar uma comparação próxima, decidiu-se, então, selecionar uma de suas edições regionais. Critérios como tamanho da cidade e parecença com a capital gaúcha foram então considerados, chegando-se à decisão pela edição de Hamburgo: cidade portuária como Porto Alegre e, também, com número de habitantes semelhante (1.780.7481 em Hamburgo e 1.436.123 2 na capital gaúcha). Além disso, Hamburgo foi a cidade onde o jornal iniciou suas atividades e, portanto, possui ligação mais intrínseca com ele. Desta forma, apesar da redação principal encontrar-se na cidade de Berlim, optou-se pela edição de Hamburgo. A análise comparativa das publicações evidenciou-se como forma adequada para verificar as semelhanças e diferenças destes impressos, além de suas editorias privilegiadas e os aspectos enfatizados em suas capas. O procedimento metodológico pretendeu também perceber como as publicações refletiam seus contextos sociais nos assuntos que elas publicavam e definir perfis de jornalismo popular nos dois contextos. Este trabalho concebeu-se, assim, com o propósito de ocupar um espaço e agregar análise e reflexão sobre este segmento recente no Brasil, com vistas à melhor entender suas proposições e singularidades. Percebeu-se a necessidade de identificar as características que compõem as publicações e as abordagens que dizem respeito a este segmento, identificando as peculiaridades típicas da publicação brasileira e da alemã em questão. Poderia-se, assim, entender como funcionava o jornalismo popular praticado pelo Diário Gaúcho e o BILD

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Statistische Ämter des Bundes und der Lander, referente a agosto de 2009. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativa a 1º julho 2009.

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Hamburg, percebendo também, de certa forma, como era praticado o jornalismo popular nas duas regiões. Para a plena realização dos objetivos, a autora viajou até a Alemanha, onde procedeu observação das rotinas de produção da redação do jornal BILD da cidade de Hamburgo, além de coletar informações “in loco”, as quais seriam cruciais para a caracterização do jornal. O mesmo foi realizado no Diário Gaúcho, na cidade de Porto Alegre. No entanto, para a realização desta monografia, utilizou-se também pesquisa bibliográfica e documental 3. Para embasar as discussões sobre jornalismo popular, escolheu-se autores como Amaral (2004, 2006), Mott (2000), Angrimani (1994), Pedroso (2001) e Sunkel (2002), além de autores alemães como Leonhard (1999) e Baumgarth (2004). Já para referenciar as discussões relativas à história da comunicação no Brasil e na Alemanha e seus contextos sociais, os autores Briggs e Burke (2006), Baer (2003) e Ortiz (2001) serviram de base. Com relação aos questionamentos sobre valores-notícia e critérios de noticiabilidade, autores como Amaral (2006), Traquina (2008) e Pena (2005) foram consultados. O embasamento da análise gráfica, por sua vez, teve suporte de Collaro (1987), Fernandes (2003), Lupton e Stolarski (2009), Silva (1985) e Rehe (2000). Assim, este trabalho monográfico propõe-se a contribuir para uma discussão muito atual e pertinente sobre o segmento popular, de modo a agregar conhecimentos e reflexões sobre publicações que não possuem ainda numerosas análises acadêmicas no Brasil. Enfim, a análise comparativa do jornal BILD Hamburg e do Diário Gaúcho, destaca as diferenças e semelhanças entre as publicações, além de perceber influências dos contextos históricos e particularidades na hierarquização das notícias, os quais podem contribuir para uma melhor visualização do cenário e das peculiaridades nacionais e internacionais da mídia popular.

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Vide Recorte Metodológico.

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2 O jornalismo popular através do nascimento do BILD e DG Rádionovelas, crescimento do setor livreiro, início do desenvolvimento do cinema nacional e introdução de uma nova mídia de massa: a televisão. O cenário midiático brasileiro no final da década de 40 e início da de 50 era de expansão em diversos setores. O rádio, após um começo muito elitista, consegue atingir um percentual maior da população, atingindo, em 1952, a marca de dois milhões e 500 mil receptores no país (ORTIZ, 2001, p. 47). Os livros, revistas e jornais aumentam suas tiragens e, é neste período também, que nascem as fotonovelas (Revista Grande Hotel, 1951; Capricho, 1952). A década de 50 inicia com a chegada da televisão no país: começando na cidade de São Paulo (1950) e chegando a Porto Alegre em 1959. No entanto, como afirma Ortiz (2001, p. 45), “a ‘indústria cultural’ e a cultura popular de massa emergente se caracterizam mais pela sua incipiência do que pela sua amplitude”. Ou seja, o rádio, apesar do crescimento e significativo aumento no número de aparelhos, ainda excluía grande parte da população e, como os outros meios, encontrava barreiras em razão do subdesenvolvimento da sociedade brasileira. No âmbito político, o Brasil acabava de sair de uma era populista: o Estado Novo, comandado por Getúlio Vargas. De 1939 a 1945, o país vive um período ditatorial e de consolidação da industrialização brasileira. Ao mesmo tempo, a Segunda Guerra Mundial eclode no mundo, começando e terminando nos mesmos anos e o país se posicionando contrário ao nazismo e favorável aos Estados Unidos. Terminada a guerra, em 1945, Dutra inicia novamente um período democrático no país e comanda uma política econômica liberal, em que o estado não interfere na economia. Em 1952, Getulio Vargas volta ao poder, desta vez não mais como ditador. Do outro lado do oceano Atlântico, no velho continente, o cenário era outro. Sob o domínio de Hitler e da filosofia nazista, a comunicação radiofônica se alastrava e ganhava dimensão nacional. O estímulo à produção maciça de aparelhos pequenos e baratos ajudou a incrementar o desenvolvimento e os 4 milhões de ouvintes alemães em 1933, se multiplicaram para 29 milhões em 1934, se transformando em 97 milhões em 1939 quando começou a Segunda Guerra Mundial (IRVING apud DINES em MEDITSCH, 2001, p.12). Neste mesmo ano, no entanto, um novo meio de comunicação era apresentado publicamente ao mundo, na Feira Mundial de Nova York: era a televisão, que viria a ter transmissões na década de 40. Com o país em guerra até 1945 e, após isso, dividido em Ocidental e Oriental, a evolução da televisão na Alemanha se deu de forma diferente, seguindo “linhas que poderiam ter sido antecipadas dada a história pós-guerra da radiodifusão” (BRINGS E BURKE, 2006, p. 241).

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Na Alemanha Ocidental, a televisão e o rádio foram uma herança dos Aliados para os governos locais, e a primeira estação de televisão, a Nordwest Deutscher Rundfunk, começou a funcionar em dezembro de 1952, conforme destaca Brings e Burke (2006). É neste contexto e no mesmo ano que, na cidade portuária de Hamburgo no norte da Alemanha, nasce o jornal BILD, comandado pela editora Axel Springer 4, como destaca André (1966, p.152): Ao terminar a guerra, os estabelecimentos do grupo Springer em Hamburgo haviam sido destruídos. Axel Springer reiniciou suas atividades, como as demais empresas alemãs, prosperou e lançou algumas revistas de larga circulação, como “Kristall”, de 400.000 exemplares, tiragem também atribuída a um jornal denominado “Abendblatt”, que começou a circular em 1948. Dois passos, no entanto, mudaram os rumos da empresa. Em 1952, apareceu o BILD, de estilo completamente diferente do tradicional, ágil, de caráter popular e que desde logo tomou conta da população. O segundo foi a aquisição, em 1953, do tradicional “Die Welt”, que depois da guerra ficara sob controle das forças britânicas de ocupação.

O “BILD Zeitung” nascia, assim, em 24 de junho de 1952, inspirado na imprensa amarela inglesa com temas de “fácil digestão” para a massa. Axel Cäsar Springer (1912-1985) comparava a filosofia do jornal com o “sabor de um pedaço de vanila de manhã cedo”(BILD, 2009, tradução nossa). Ou seja, a idéia era a de um periódico agradável aos leitores, que, por sua vez, enfrentavam a realidade de um país seccionado e em reconstrução pós-guerra. Era o que evidenciava também a propaganda de apresentação do jornal publicado na edição de 23 de junho do mesmo ano, um dia antes do lançamento do BILD. Na página 6 do periódico alemão Hamburger Abendblatt, da mesma editora, encontrava-se um anúncio vertical de quase meia página, que dizia: “Todas as manhãs! Todas as manhãs, o BILD vai cuidar para que nenhuma manhã seja maçante. Amanhã você irá conhecer o BILD. A partir de quarta-feira, então, você terá o BILD por toda a parte. 30.000 DM (Marcos Alemães) em concurso de leitura!” 5 (tradução nossa). Mais uma vez é possível perceber a que o jornal se propunha: uma leitura leve. O preço extremamente acessível também chama a atenção no anúncio, que destaca: “10 Pfg” (10 Pfennig), ou seja, o jornal BILD custava dez centavos de Marco Alemão, unidade monetária existente na Alemanha até a introdução do Euro como moeda corrente, em 2002 (G1). A propaganda evidencia também um certo caráter de

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Estabelecida em 1946, a editora Axel Springer cria, produz e distribui informação e entretenimento através de jornais, revistas e medias digitais. Hoje a companhia é a maior editora de jornais da Alemanha e a terceira maior de revistas do país, possuindo cerca de 170 publicações, entre jornais e revistas e 80 serviços de informação online, funcionando em 36 países com cerca de 10.000 empregados. A empresa apresentou receita de € 2.611,6 milhões de euros e um EBITDA de € 337,0 milhões no ano de 2009. (AXEL SPRINGER, [2010]) 5 A página do jornal em que encontra-se a publicidade está disponível no Anexo A.

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companheirismo com o leitor, no trecho: “... o BILD vai cuidar para que nenhuma manhã seja maçante”. A frase passa a sensação de que o jornal irá se encarregar disso para o leitor. Outro fator a se observar é a repetição da expressão “todas as manhãs”, ao qual parece buscar construir uma relação de confiança, destacando que o jornal estará sempre com seus leitores. Normalmente comercializado nas ruas por vendedores ambulantes, a primeira edição do periódico tinha quatro páginas e foi distribuída gratuitamente. Kohlrusch (apud BAUMGARTH, 2004) destaca que a idéia de Springer ao pensar o BILD era fazer um jornal que tivesse matérias pelas quais 90 por cento dos leitores se interessassem. Além disso, a televisão acabara de nascer e o editor, como grande competidor, prestou atenção nisto. Assim, “o jornal foi pensado como uma resposta impressa à televisão” (BAUMGARTH, 2004, p. 95, tradução nossa). A edição de 24 de junho daquele ano apresentava, desta forma, quase que somente fotos, daí o nome, BILD (figura/foto em alemão) e entre os temas, estavam fofocas, horóscopo, palavras cruzadas e concursos. O BILD surgia com uma proposta diferente dos outros periódicos. A capa da primeira edição evidenciava a singularidade do impresso, muito diverso do outro jornal da companhia, o Hamburger Abendblatt, lançado em 1948. As capas dos dois jornais no dia do lançamento do BILD, 24 de Junho de 1952 (figura 2 e 3, na página seguinte), mostram claramente a diferença. A quantidade de texto é incomparável. O BILD nascia com um projeto mais ilustrativo que textual, ao contrário de seu irmão. A tipografia do logo também fazia alusão ao seu segmento: a letra com serifa do Hamburger Abendblatt evidenciava um estilo tradicional, ao contrário do BILD, dono de um logo mais claro e com uma letra sem detalhes. Outro fato que merece atenção e demonstra o caráter e apelo popular do BILD é a posição em destaque de seu preço, o qual vem expresso junto ao logo, extremamente visível a todos os possíveis compradores. O BILD era vendido nas ruas, o que justifica o destaque do custo, que, por sua vez, é condizente também com o estilo popular/sensacionalista. O mesmo já não acontece na outra publicação do grupo Springer. Mais um detalhe: a manchete principal do BILD termina com ponto de exclamação, o que demonstra mais uma peculiaridade do impresso, que tenta, desta forma, enfatizar ainda mais sua manchete principal, que já tem posição de destaque. A pontuação demonstra coloquialidade e informalidade para com o leitor, tentando transpor uma emoção típica da linguagem falada para a escrita, como destaca Pretti (2003, p.66): Em todas as épocas (em especial no romantismo e na literatura moderna), encontramos exemplos da tentativa de registros expressivos na fala, através de uma pontuação de ordem emotiva, como, por exemplo, o ponto de interrogação, o ponto de exclamação e as reticências freqüentemente associados.

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Figura 1 - Capa do Hamburger Abendblatt do dia 24 de junho de 1952

Figura 2 – Capa do BILD do dia 24 de junho de 1952

O novo jornal começava nesta época a sua história. A peculiar publicação foi se adaptando com o tempo. Os títulos enfáticos acompanhados de textos foram introduzidos pelo segundo editor-chefe do jornal, Rudolf Michael e no final da década de 50, os temas políticos apareceram, ao lado das fofocas, como centrais no periódico. (BILD, 2009) Quarenta e oito anos mais tarde, o cenário mundial não era mais nem mesmo parecido com o período do nascimento do jornal alemão BILD. O planeta acabava de entrar no novo milênio, era o ano 2000: a época da convergência, da internet e da diminuição de distâncias através das tecnologias. Como destacam Briggs e Burke (2006, p. 313), “a década de 1990 foi um período em que se romperam as fronteiras entre os meios antigos e os novos; no interior de cada meio, entre a mídia experimental e a já estabelecida, os limites se embaraçavam, da mesma forma que as linhas divisórias que separavam as estratégias de mídias nacionais dos problemas e oportunidades globais. As decisões nacionais tinham implicações globais e viceversa.” Ou seja, o mundo vivia mais ou menos um mesmo cenário no âmbito comunicacional devido à interligação de informações. No âmbito econômico, o Brasil tentava se livrar da inflação, que por décadas assombrara o país, chegando a atingir taxas mensais próximas de 50% em meados de 1994. O Plano Real, instituído em julho daquele ano, diminuiu rapidamente os índices, que naquele dezembro já reduziram para 0,6% e em julho de 1998 tinha valor anual de 4%. Os assalariados

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de baixa renda, foram os mais beneficiados pela repentina estabilidade de seus ganhos reais e tiveram aumento significativo de compras de bens de consumo duráveis (BAER, 2003). Foi nesta época que o jornalismo popular ascendeu no Brasil, impulsionado por um crescimento econômico. Como destacam Amaral e Prevedello (2007, p. 224): [...]as indústrias da imprensa promovem, a partir de 1990 no Brasil, sucessivos lançamentos de jornais populares, destinados prioritariamente ao público das classes B, C e D. São exemplos o Extra (RJ), Agora São Paulo (SP), Folha de Pernambuco (PE), Primeira Hora (MS), Notícia Agora (ES), Expresso Popular (SP), Meia-Hora (RJ), A Hora de Santa Catarina (SC), Diário Gaúcho (RS).

Em 17 de abril de 2000, nascia, assim, o Diário Gaúcho, na cidade de Porto Alegre no sul do Brasil. O DG chegava às ruas e mobilizava a população já na época de seu lançamento, convidando o público a escolher seu nome. O concurso, que tinha como prêmio um carro, contou com mais de 500 mil votos, número que demonstrava o grande apelo conquistado junto aos porto-alegrenses (AMARAL, 2006). A publicação entrava no mercado da região metropolitana após pesquisas e estudos de viabilidade realizados no ano anterior, buscando agregar um leitor que não consumia jornais regularmente. Voltado às classes C, D e E, o projeto gráfico, criado pelo editor de Arte dos jornais do Grupo RBS 6, Luiz Adolfo Lino de Souza, buscava cores e características que se relacionassem ao universo popular, utilizando, como auxílio para sua construção, referências locais e internacionais. Entre as principais influências do âmbito local, estavam os jornais Hoje e Folha da Tarde. Já no âmbito internacional, Souza 7 destaca o The Sun e o Daily Mirror, da Inglaterra, além do jornal BILD, da Alemanha, o qual o autor já tinha maior intimidade: “Eu já conhecia o BILD, pois o esporte da Zero Hora 8, em alguns momentos de sua história, chegou a ter também um projeto gráfico parecido com o BILD.” Segundo o autor, foram necessários três meses para realizar o projeto gráfico do Diário Gaúcho. Com um visual gráfico inspirado em modelos locais e europeus, o DG nascia caracterizado por fotos grandes, uso de cores e textos simples. A idéia era atingir um público de menor poder aquisitivo, com notícias claras e que fizessem parte da realidade dos leitores. 6

Empresa detentora do Diário Gaúcho e de muitos outros veículos de comunicação no sul do Brasil. Fundada em 1957, o Grupo RBS é uma empresa de comunicação multimídia com cerca de 5,7 mil funcionários. A empresa opera no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo detentora de 18 emissoras de TV aberta (afiliadas à Rede Globo), duas televisões comunitária, uma emissora com enfoque no agronegócio, oito jornais diários, quatro portais de internet, além de gráfica, editora, gravadora etc. O Grupo RBS possui diversas sucursais e escritórios espalhados pelo país como nos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Minas Gerais e Mato Grosso, sendo a maior empresa de comunicação multimídia da Região Sul do país. (GRUPO RBS, [2009?]; ZERO HORA, 2008) 7 Em entrevista presencial a autora em 25 de maio de 2010. 8 Periódico de referência pertencente à mesma empresa.

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O entretenimento tinha lugar, assim como no BILD, e trazia notícias de celebridades. As matérias policiais, secção de esportes e espaços em que o leitor era o foco tinham também destaque no periódico. O DG buscava ser simples e não deixar dúvidas a seus leitores, por isso, os textos utilizavam vocabulários de uso diário. Essa filosofia é evidenciada no texto de apresentação publicado na página 2 da primeira edição do jornal: Para ler o seu Diário Gaúcho O Diário Gaúcho nasce hoje, 17 de abril de 2000, como um jornal popular. Popular porque será barato, completo e digno. Por apenas R$ 0,25 você vai ter bem cedinho, em uma linguagem clara e fácil, as últimas notícias. Principalmente as de interesse da maior parte dos 2,8 milhões de habitantes da Grande Porto Alegre. Vão ser mais de 4,9 mil pontos de venda em 19 de municípios. O dia do nascimento do Diário Gaúcho não é acaso. A astróloga Sônia Jorge fez o mapa astral do Diário Gaúcho e concluiu que o dia de hoje seria o mais favorável para que o jornal nascesse com êxito em sua missão junto aos leitores. Confira como será o seu Diário Gaúcho, e seja bem-vindo! [...] 9

Dando continuidade ao texto de apresentação (acima), seguiam-se itens explicativos de cada editoria do jornal e as páginas onde elas situavam-se, como uma bula de remédio ou um manual de instruções de leitura passo a passo. O texto é um manifesto do que virá a ser a filosofia do jornal. Através dele, é possível perceber características populares e semelhanças com o periódico BILD. O Diário Gaúcho enfatiza, assim como o jornal alemão em sua primeira edição, seu custo. O texto, com intuito de ser simples e fácil é praticamente autoexplicativo: “Popular porque será barato, completo e digno”. O jornal se apresenta e já destaca as qualidades que quer que o leitor observe em suas edições. Ele classifica também o estilo de seus textos: “linguagem clara e fácil” e, assim como o BILD diz em sua primeira propaganda que a partir do dia seguinte estará por toda a parte, o Diário Gaúcho destaca o grande número de pontos de venda e municípios em que o jornal pode ser encontrado, comunicando de forma diferente a mesma idéia transmitida pelo tablóide alemão em sua primeira aparição. Da mesma forma que o BILD, o Diário Gaúcho foi uma inovação frente aos jornais publicados em sua região e às outras publicações do Grupo RBS. Há neste contexto outra semelhança: o DG possui também um irmão tradicional10, é o jornal Zero Hora, fundado em 1964 e, assim como no periódico alemão, ao compararem-se as capas da data de lançamento do DG com a de mesma data do jornal Zero Hora, fica evidente a diversidade. O fato (corroborado pela figura 3 e 4, na página seguinte) constituiu-se uma das premissas adotadas pelo autor do projeto gráfico do jornal ao pensá-lo. A proposta buscava evitar que os jornais citados concorressem entre si no mercado impresso da capital. 9

Texto completo pode ser encontrado no Anexo B. Admite-se aqui tradicional como sinônimo de jornais de referência.

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Eu comecei a fazer o projeto do Diário Gaúcho, com uma idéia básica: ele tinha que ser totalmente diferente da Zero Hora para evitar um canibalismo entre eles. Embora o Grupo RBS soubesse que havia mercado (as pesquisas apontavam que os leitores gostariam de um jornal até com preço mais baixo, que leriam este jornal) a Zero Hora tinha medo de perder leitores. Mas isto realmente não aconteceu. O Diário Gaúcho acabou criando um novo mercado de leitores. (SOUZA, 2010)

Figura 3 – Capa do Diário Gaúcho de 17 de abril de 2000.

Figura 4 – Capa da Zero Hora de 17 de abril de 2000.

Assim, segundo Souza, o projeto tanto gráfico como editorial foi pensado de modo a opor-se ao irmão de referência: a Zero Hora. As cores foram escolhidas de maneira a não serem análogas nem próximas uma da outra. As fotos dos colunistas utilizadas na Zero Hora, no DG foram representadas através de desenhos. O Diário Gaúcho constitui-se um impresso mais visual, com cores mais vibrantes que a ZH, além de fotos e manchetes maiores e o abuso de fios e boxes. A simetria foi também outro fator deixado de lado por Souza ao pensar o projeto gráfico do DG. O tamanho da fonte das manchetes mostra-se também significativamente maior no periódico popular e é possível observar-se a ausência de textos na capa do Diário Gaúcho, o qual possui apenas títulos, cartolas, legendas e imagens. Além disso, a fonte serifada da Zero Hora, diferencia-se à do Diário Gaúcho, a qual não tem serifa. Estas últimas características puderam também ser observadas ao comparar a capa do BILD com o seu irmão Hamburger Abendblatt. O preço ocupa também aqui posição de destaque,

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igualmente como acontece no periódico alemão. 11 Souza lembra ter se inspirado no BILD para definir o tamanho dos títulos do Diário Gaúcho, assim como o sublinhado presente na manchete principal da capa, as fotos recortadas, além da diagramação a partir da foto. Esta seção propôs-se, então, a evidenciar a proposta dos periódicos BILD e Diário Gaúcho e o contexto de seu lançamento, a fim de situá-los historicamente. A comparação com “seus irmãos de referência” e a análise de seus primeiros textos de apresentação evidenciou ainda mais a relação inegável entre os periódicos que, apesar de situarem-se distantes geográfica e temporalmente, apresentam características análogas, e dizem respeito a um segmento voltado para as massas populares. A delimitação histórica realizada viabiliza, então, a discussão de conceitos que permeiam estas publicações.

2.1 Sensacionalista ou Popular? Para entender os conceitos que permeiam o objeto de estudo desta monografia, é preciso reconstruir o processo nos quais os termos “sensacionalista” e “popular” adquiriram forma e significado. Segundo Martín-Barbero (2009, p. 173), o nascimento de uma nova cultura de massa foi resultado de uma ruptura sofrida desde meados do século XIX no “longo processo de enculturação das classes populares no capitalismo”, que alterou as relações da burguesia com ela (de submissão para consenso). Assim, “massa designa, no movimento de mudança, o modo como as classes populares vivem as novas condições de existência (...). E de massa será a chamada cultura popular” (MARTÍN-BARBERO, 2009, p. 169). O autor aponta a conjuntura e surgimento dos folhetins como precursores de uma comunicação popular. O termo folhetim, segundo ele, era antes utilizado para denominar o rodapé das capas de jornais onde “variedades” eram o foco: “o que não era admitido no corpo do jornal podia, sem impedimentos, ser encontrado no folhetim (...).” (Ibidem, p. 171) A definição do conteúdo destes impressos remete a um outro conceito, intrínseco à história dos veículos direcionados às massas populares: o fait divers. A interpretação de Serra (1980, p.13) da expressão empregada por Barthes evidencia a afinidade: fait divers - “que de marginal nos jornais ‘sérios’ torna-se básico nos ‘populares’”. Portanto, a relação do conteúdo dos folhetins em relação ao restante da publicação é análoga à veiculação de fait divers nos jornais destinados às massas e de referência. A herança dos folhetins, situa-se hoje, então, relacionada ao termo francês, como afirma Amaral (2006, p. 76): 11

Os aspectos gráficos de ambos periódicos serão avaliados com maior profundidade nos capítulos que seguem (três e quatro)

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Nos jornais de hoje, é raro encontrar-se o folhetim propriamente dito, mas heranças de seu estilo, sua forma e seus valores perceptíveis na mídia como um todo, traduzindo um gosto que se fez popular historicamente no movimento da imprensa em direção aos modos de narrar populares e pelo acolhimento desses produtos entre os setores populares. Entre as diversas formas que o folhetim deu origem, estão os fait divers, notícias diversas sem maiores repercussões.

A expressão francesa fait divers (sem correspondente exato em português) caracteriza uma notícia em que o conteúdo contém-se em si mesmo, ou seja, a qual dispensa informações externas para o seu entendimento. Na teorização de Barthes (2009, p. 58 e 59), ele assim o define: O assassinato político é pois sempre, por definição, uma informação parcial; o fait divers, pelo contrário, é uma informação total, ou mais exatamente, imanente; ele contém em si todo o seu saber: não é preciso conhecer nada do mundo para consumir um fait divers; ele não remete formalmente a nada além dele próprio. Evidentemente, seu conteúdo não é estranho ao mundo: desastres, assassínios, raptos, agressões, acidentes, roubos, esquisitices, tudo isso remete ao homem, a sua história, a sua alienação, a seus fantasmas, a seus sonhos, a seus medos (...) no nível da leitura, tudo é dado num fait divers; suas circunstâncias, suas causas, seu passado, seu desenlace; sem duração e sem contexto, ele constitui um ser imediato, total (...)É sua imanência que define o fait divers.

Serra (1980, p. 11), conforme já evidenciado, disserta também sobre o conceito de Barthes: O fait-divers - diferentemente da informação política, por exemplo- realça a História em função de um espaço fechado sobre si mesmo, intemporal, mítico, voltado para a essencialidade de um Destino. O crime daquele que, no morro do Borel, permanece ainda hoje atual, através da manchete irônica que nos introduz ao anômalo, o teratológico do fato: o fait-divers.

Os fait divers constituem-se, então, em um conteúdo novo, apresentado de modo autônomo e sem necessidade de referência externa a si mesmo, os quais não são admitidos nos meios de referência. Os folhetins, precursores deste conteúdo, podem ser vistos como o início de uma mudança no modo de comunicação, o qual só foi possível graças à emergência de uma cultura de massa. Foi o início de uma comunicação direcionada ao povo. Inicialmente, conforme já citado, a expressão folhetim designava apenas o rodapé da capa dos jornais. Porém, com a emergência de publicações em forma de romance, aos quais apresentava histórias divididas em capítulos, o termo passou a ser associado a elas. Martín-Barbero (2009, p. 179) sintetiza as implicações do folhetim: O estatuto da comunicação literária sofre com o folhetim um duplo deslocamento: do âmbito do livro para o da imprensa- o que implica a mediação das técnicas da escritura jornalística e da técnica do aparato tecnológico na composição e na diagramação de um formato específico- e do âmbito do escrito-autor, que agora só entra com a ‘matéria-prima’ e que por vezes, mais do que escrever, reescreve, para o do editor-produtor, que é quem muitas vezes ‘tem o projeto’ e dirige sua realização.

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Com a adaptação do folhetim, Martín-Barbero (2009, p. 188) aponta, então, o surgimento do que passou a chamar-se de imprensa sensacionalista ou popular: O folhetim é uma narração que já não é um conto, mas que tampouco chega a ser um romance. É uma escritura que não é literária nem jornalística, e sim a ‘confusão’ das duas: a atualidade com a ficção. Entre a linguagem da notícia e a do folhetim há mais de uma corrente subterrânea que virá à tona ao se configurar aquela outra imprensa que, para ser diferenciada da ‘séria’, chama-se sensacionalista ou popular.

É importante ressaltar que o nascimento de uma comunicação voltada às grandes massas, chamada nesta época de sensacionalista ou popular, não significa a legitimação, por parte das elites, de uma cultura do povo. As manifestações surgem num contexto de indústria cultural, onde as produções adquirem significado meramente mercadológico. Não há uma valorização das produções destinadas às massas por parte das elites ou pesquisadores, tendo, assim, os termos conotação pejorativa e preconceituosa. A este contexto, Genro Filho (1989, p. 100) descreve: A cultura tradicional é entendida como “cultura superior” e tomada como padrão. Sendo contraposta, então, à ‘cultura inferior’, esta produzida através do sistema industrial. A grande arte burguesa (em termos de literatura, teatro, música e pintura) é assumida como único paradigma da “arte elevada”.

A definição de imprensa sensacionalista ou popular designava a cultura a qual a elite não legitimava como “de valor”. Por isso o termo utilizado pelo autor: “cultura inferior”. No entanto, é possível afirma que a negação de valor a essas manifestações culturais destinadas às massas iam mais longe: a elite não as admitia nem como cultura. Definir que só a cultura superior pode ser assim chamada e que todas as outras não representam manifestações culturais é negar as diferenças e a existência de uma massa que não é apática, mas sim, que tem e produz cultura. Ao termo sensacional relaciona-se a emoção, e, ao popular, a classe as quais a publicações destinavam-se. Para as elites, essas manifestações podiam ser denominadas de outras formas, mas não de cultura: Há no elitismo uma certa tendência a identificar o bom com o sério e o literariamente valioso com o emocionalmente frio. De maneira que “o outro”, o que agrada às pessoas comuns, poderá ser em suma algum tipo de entretenimento, mas não literatura. (MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 189).

O século XIX descortinou, portanto, um cenário comunicacional diferente: a emergência de uma sociedade de massa propiciou o aparecimento de uma comunicação para as massas. No entanto, o termo sensacionalista, utilizado por alguns até os dias de hoje para referir-se ás publicações voltadas para as camadas populares, não pode ter seu nascimento vinculado a um período único, apesar da intrínseca relação com os folhetins. É difícil precisar

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o surgimento deste segmento, devido principalmente a conceituação difusa do termo. A atribuição de diferentes períodos históricos e a associação de jornais ou movimentos ao surgimento da imprensa sensacional vincula-se diretamente aos diferentes conceitos relacionados a ele. Para Dines (apud PEDROSO, 2001, p. 49), o sensacionalismo é uma forma de mitificação de tratamento das classes sociais. o povão só gosta (supõe-se que) de informação superficial, grosseira, primária, desvinculada da estrutura social, política e econômica da sociedade.

Segundo o autor, o sensacionalismo estaria atrelado a uma mitificação, algo que não é real, ainda com raízes em um preconceito. Angrimani (1994, p. 16) atrela o conceito ao tratamento dos fatos: “Sensacionalismo é tornar sensacional um fato jornalístico que, em outras circunstâncias editoriais, não mereceria este tratamento.” No entanto, apesar de normalmente apresentar conotação pejorativa, a expressão pode ser compreendida de maneira mais ampla, como o faz Amaral (2006, p. 20): “é possível afirmar que todo o jornal é sensacionalista, pois busca prender o leitor para ser lido e, conseqüentemente, alcançar uma boa tiragem.” Sendo assim, a imprensa dita sensacionalista tem origem incerta, sendo atribuída por alguns ao século passado, a Penny Press e a imprensa amarela norte-americana (Joseph Pulitzer e William Randolf Hearst). No entanto os antecedentes não delimitam uma origem precisa. Sobre isso, Mott (2000, p. 442, tradução nossa) ratifica: “nada que responde a desejos fundamentais e primitivos pode pertencer a um período único (específico)”. Para Angrimani (1994, p. 19), o sensacionalismo está também “enraizado na imprensa desde seus primórdios”. O autor afirma que ao analisar-se a origem da imprensa em dois países diferentes: França e Estados Unidos, verifica-se que o sensacionalismo está ali, “na origem do processo". O autor destaca que no primeiro, o gênero era representado pelos “occassionnels” (brochuras onde, de acordo com Seguin apud Angrimani (Ibidem), predominava o exagero, falsidade, inverossimilhança, imprecisões e inexatidões) e pelos jornais “Nouvelles Ordinaires” e “Gazette de France”, periódicos nascidos entre 1560 e 1631 naquele país. Já nos Estados Unidos, o primeiro jornal com características sensacionalista, surgiu em 1690 e chamava-se Publick Occurrences. Mas, apesar de periódicos do século XV já apresentarem características sensacionais, Amaral (2006, p.17) afirma que foi somente no final do século XIX, que a imprensa sensacionalista desenvolveu-se, “com a popularização dos jornais por intermédio do aperfeiçoamento das técnicas de impressão, expansão do telégrafo e das redes de cabos submarinos, do desenvolvimento do telefone e das redes de anúncios”.

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Foi nesta época que surgiu a “Penny Press” nos Estados Unidos e na Inglaterra, a qual também pode ser relacionada ao sensacionalismo. De acordo com Leonhard at al (1999), ela foi a precursora do jornalismo sensacionalista e tem como representantes o New York Sun, fundado em 1833 – impresso que custava apenas 1 centavo (ou seja, um “penny”) - e o New York Herald, criado em 1835. O autor ainda afirma que é indiscutível que os mais antigos jornais sensacionalistas são o “Kronen Zeitung”, fundado em 1900 em Viena, o “B.Z. am Mittag” vendido nas ruas de Berlim a partir de 1904 e o “Daily Mirror” nascido no mesmo ano em Londres. Tais precursores enfatizaram um conceito de sensacionalismo atrelado a uma imprensa que privilegia o exagero, não só de conteúdo, como também gráfico. Atribui-se, então, ao sensacionalismo um “rótulo” gráfico, mas principalmente de tratamento dos conteúdos, conforme pode ser percebido no texto de Angrimani (1994, p.16) Sensacionalismo é a produção do noticiário que extrapola o real, que superdimensiona o fato. Em casos mais específicos, inexiste a relação com qualquer fato e a “notícia” é elaborada como mero exercício ficcional. (...) Um noticiário sensacionalista tem credibilidade discutível. A inadequação entre manchete e texto (...) é outra característica da publicação sensacionalista, o que pode reforçar a posição de descrédito do leitor perante o veículo.

Pedroso (2001, p.52), apesar de reconhecer que hoje já existem publicações direcionadas às massas que assim não se apresentam, também atrela ao sensacionalismo um estereótipo de valor: O sensacionalismo, então, é exploração deste fascínio pelo extraordinário, pelo desvio, pela aberração, pela aventura que é suposto existir apenas na classe baixa. É no distanciamento entre leitura e realidade que a informação sensacional se instala como cômica ou trágica, chocante ou atraente.

O conceito de sensacionalismo, como foi evidenciado, construiu-se enraizado em um preconceito de valor, ao qual permanece até hoje vinculado a ele, devido a um modo simplista de tratamento das manifestações culturais. Um jornal nunca é mero reflexo de uma realidade. Hall (2009, p. 239) evidencia o assunto, apesar de ainda revelar preconceito ao referir-se aos jornais destinados às massas, definindo- o como detentor de uma brutalidade degradante: A linguagem do jornal Daily Mirror não é nem uma construção pura do linguajar do Fleet Street, nem a linguagem que os leitores trabalhadores realmente falam. É uma espécie altamente complexa de ventriloquismo lingüístico, em que a brutalidade degradante do jornalismo popular é habilmente combinada e entretecida a alguns dos elementos da objetividade e da peculiaridade vívida da linguagem da classe trabalhadora. Ele não conseguiria sobreviver sem preservar um pouco das raízes vernáculas- no “popular”.

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O termo sensacionalista carrega, portanto, julgamento de valor e atrela-se a um momento particular, o qual não mais se assemelha ao que é vivenciado hoje. Essa premissa é a que é tomada por base neste trabalho. A reconstrução do termo evidenciou sua ligação com preconceitos e características hoje não mais aplicados à imprensa destinada às massas. Assim, o adjetivo sensacionalista não pode mais hoje ser associado como sinônimo de popular: A noção de sensacionalismo, que por anos pairou como explicação da estratégia dos produtos populares, agora está ultrapassada. Os novos jornais, ampliadores dos índices de leituras em segmentos populares, são fundados em diversas características que devem ser abordadas de maneira não generalista. O sensacionalismo é um modo de caracterizar essa imprensa, uma maneira de explicar o que ocorria na mídia em um determinado momento, mas não é sinônimo de imprensa, revista ou programa popular. (AMARAL, 2006, p.21).

A ampliação de um mercado destinado às massas a partir de 1990 12 descortinou um novo cenário comunicacional no Brasil e no mundo. As publicações populares transformaram o mercado e encontraram nicho consumidor, focado em leitores das classes B, C e D. Em várias capitais brasileiras, a reestruturação de jornais como O Dia (Rio de Janeiro), Jornal da Tarde (São Paulo), e o lançamento de periódicos como o Diário Gaúcho (Porto Alegre), Notícia Agora (ES), Folha de Pernambuco (Recife), Primeira Hora (Campo Grande), Extra, Q!, Meia-Hora e Expresso da Informação (Rio de Janeiro), Agora São Paulo, Espresso Popular e o Diário de São Paulo (São Paulo), Aqui! e Super Notícia (Belo Horizonte), Aqui (Brasília) e A Hora de Santa Catarina (Florianópilis), confirmam essa tendência. No contexto internacional, segundo pesquisa de Bernardes (2004), somente o grupo Innovation é responsável pela criação e reestruturação de jornais como El Comercio, do Peru, Super Express, da Polônia, Correio da Manhã, de Portugal, Al Dia e Nuestro Diário, da Guatemala, e no Brasil do próprio Extra, da Infoglobo e do Diário Gaúcho, da RBS. (PREVEDELLO, 2008, p. 31 e 32)

A estes novos periódicos, atribui-se a nomenclatura de jornalismo popular. Neles, características presentes no antigo sensacionalismo ainda figuram, mas de maneira diferente. São publicações que destacam assuntos do cotidiano e que privilegiam notícias que possuem relação e conseqüência direta no dia-a-dia dos leitores, como caracteriza Amaral (2009, p. 10): Vendidos somente em bancas, os jornais conhecidos como populares seguem com capas chamativas e a violência permanece como assunto, mas os cadáveres são cada vez mais raros. No lugar da linguagem chula, da escatologia, e das matérias inventadas, os jornais buscam a linguagem simples, o didatismo, a prestação de serviços e, pasmem, a credibilidade. São jornais que atendem às regiões metropolitanas, apostam nas editorias de Cidades e dificilmente se tornarão nacionais.

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Conforme contexto econômico brasileiro abordado anteriormente neste capítulo ao referir-se ao nascimento do jornal Diário Gaúcho.

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As publicações deste segmento distanciam-se dos jornais de referência através de aspectos gráficos, lingüístico e temático (Ibidem), porém não podem ser definidos como sensacionais: Uma proposta que não se enquadra nem no antigo sensacionalismo, calcado em objetos políticos e marcado pela simplificação acompanhada da degradação e/ou ridicularização humana, nem no tradicional jornalismo de referência, caracterizado pela maior proximidade com a noção clássica de interesse público e pela proposta mais convencional de estruturação das notícias. Os novos jornais populares situamse numa faixa intermediária, buscam a sedução do leitor pelo apelo visual e pela velocidade dos textos mais sintéticos, priorizam a temática do cotidiano e da proximidade com o mundo de interesse público, mas mantêm certa distância dos exageros e das fórmulas consagradas. (PREVEDELLO, 2008, p. 31)

Nacionalmente, os jornais populares que eclodem na década de 90 no Brasil diferenciam-se dos jornais destinados às massas que eclodiram em meados do século XX no país não só por seu estilo sensacionalista como também por seu conteúdo. Entre os jornais pertencentes a esta época, estão o Folha da Noite (1921-1960), O Dia (1951 até hoje), Última Hora (1951-1964), Luta Democrática (1954-1979) e Notícias Populares (1963-2001). Segundo Amaral (2004, p. 14 e 15), “cada um, atuou, ao seu modo, como populares para julgar os crimes contra a ‘economia do povo’. As reivindicações e denúncias, bem como conquistas sociais, motivaram muitas reportagens e manchetes.” Assim, o tema político, que é muitas vezes hoje relegado pelos jornais populares (sendo ele inexpressivo ou inexistente), representava a base dos jornais destinados às massas do século passado. (PREVEDELLO, 2008) A discussão e a reconstituição da formação de conceitos relacionados ao segmento aos quais os objetos desta monografia se relacionam, mostram-se essenciais para o desenvolvimento da análise dos periódicos BILD Hamburg e Diário Gaúcho. Esta seção propôs-se, então, a elucidar a utilização dos termos sensacionalista e popular ao referir-se às publicações destinadas as massas. Às publicações aqui analisadas usaremos, portanto, a denominação popular como referência, buscando, desta forma, não agregar julgamento prévio de valor a elas.

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2.2 Recorte Metodológico Para a realização deste trabalho, os jornais Diário Gaúcho e BILD Hamburg 13 foram acompanhados no período de 28 de agosto a 14 de setembro de 2009. As quinze edições 14 de ambos periódicos foram armazenadas para posterior seleção das unidades de análise que são foco desta monografia, que tem o objetivo de analisar e perceber semelhanças e diferenças entre as publicações de contextos sociais diversos, mas que possuem preço em moeda local, diagramação, modo de produção e proposta15 semelhante. O intuito encontra-se em perceber, através das duas publicações, se este jornalismo popular, o qual seu processo de desenvolvimento iniciou há cerca de vinte anos no Brasil, assemelha-se àquele que faz sucesso há mais de 50 anos na Europa. O trabalho aqui exposto é decorrência da percepção de um cenário novo de comunicação no Brasil, o qual se iniciou em 1990, e até hoje, possui pouca atenção por parte da academia. Os dados são resultado de pesquisas documentais, entrevistas e coleta de informações nas próprias redações dos jornais em análise. Em relação ao periódico BILD Hamburg, as informações que servem de apoio para sua caracterização, proposta e rotinas de produção de notícias (apresentados na primeira metade do capítulo dois: “BILD Hamburg”) foram coletadas “in loco” e observadas a partir da análise do jornal. Para tal, a autora viajou até a cidade de Hamburgo, na Alemanha, onde passou aproximadamente um mês (20 de Julho à 31 Julho e 28 agosto à 14 Setembro de 2009), a fim de conhecer melhor a cidade em que o jornal circula e em que o conteúdo local é produzido. Neste período, além de acompanhar as edições do periódico, a autora visitou durante três dias (8 a 10 de Setembro de 2009), a redação do jornal BILD na cidade. Na primeira visita, a autora acompanhou todas as reuniões de pauta ocorridas na redação, conversou com os profissionais e editores, além de observar o trabalho dos repórteres da seção “Local” do periódico, durante o turno da manhã e da tarde até o início da noite. No 13

O BILD Hamburg é uma versão regional do periódico alemão BILD, de amplitude nacional. Possui parte do conteúdo produzido na cidade e outra proveniente da redação principal, situada em Berlim. No entanto, a origem das reportagens não foi considerada quando da análise do periódico, devido ao foco deste trabalho ser no conteúdo apresentado e não na procedência dele. Foram avaliados, assim, o modo de produção da redação regional e as notícias publicadas na edição, porém sem levar em conta quem as produziu. 14 Tanto o Diário Gaúcho como o BILD Hamburg não possuem edição dominical, por isso o período soma 15 jornais e não 17. O Diário Gaúcho possui uma única publicação no final de semana que corresponde a todo o período (sábado e domingo) e que é vendido aos sábados. Já o BILD Hamburg (edição regional do periódico alemão BILD) não possui edição dominical produzida na cidade. Existe somente uma publicação nacional do BILD, denominado “BILD Am Sonntag”, (“BILD no Domingo” em alemão) que é comercializado no referido dia da semana. Porém, como o foco deste trabalho é a publicação regional da cidade de Hamburgo pertencente ao referido jornal (BILD Hamburg), tal publicação dominical não está inserida na amostra. 15 Neste trabalho, entende-se por proposta (ou filosofia) não só a linha editorial e o que os periódicos se propõem a realizar, mas também o que apresentam em suas páginas.

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segundo dia 16, durante a tarde, a autora acompanhou mais uma vez o trabalho dos repórteres responsáveis pela produção de notícias da categoria Local na redação do jornal. No terceiro dia, foi realizada a entrevista com o editor-chefe da redação de Hamburgo, Mathias Onken, a qual foi gravada e, posteriormente transcrita e traduzida para o português. Ao todo, a autora passou dois meses no referido país, sendo um na cidade de Hamburgo e outro na cidade de Bayreuth (no estado da Bavária, sul da Alemanha), onde realizou aulas de alemão e jornalismo e media na universidade da cidade, a fim de entender melhor como funciona o mercado de comunicação naquele país. Procedimento semelhante foi realizado também para a coleta das informações que servem de apoio para a primeira parte do capítulo referente ao jornal Diário Gaúcho (capítulo 3). No entanto, neste, a experiência profissional prévia da autora e a facilidade de acesso ao jornal facilitou a coleta de informações, além de todo procedimento realizar-se em sua línguamãe, fator que não pode ser desconsiderado. Apesar das particularidades e do conhecimento prévio, optou-se por realizar procedimento semelhante ao realizado no BILD Hamburg no jornal Diário Gaúcho. Assim, nos dias 3 e 4 de maio de 2010, a autora efetuou observação das rotinas de produção, além de conversar com editores e repórteres. No dia 5 do mesmo mês, compareceu novamente à redação, onde realizou entrevista com o gerente-executivo do DG, Alexandre Bach. O jornalista era editor-adjunto quando do lançamento do jornal e, de 2004 a 2009, ocupou o cargo de editor-chefe do mesmo periódico, sendo hoje Gerente Executivo de Produto do Segmento da Maioria do Grupo RBS (Farroupilha, Cidade, Rural e Diário Gaúcho). A entrevista teve como objetivo entender a proposta e a evolução do periódico, enfocando as adaptações neste período, a relação leitorjornal, seus pilares-básicos e o início do trabalho na redação, quando do lançamento do Diário Gaúcho. Da mesma maneira, foi realizada também, no dia 24 de maio de 2009, a entrevista com o atual editor-chefe do jornal, Cláudio Thomas, destacando a proposta do periódico e importância de editorias. Com o intuito de melhor entender a proposta gráfica do jornal e sua ligação com o periódico alemão BILD, optou-se também por realizar-se entrevista com o editor de arte dos jornais do Grupo RBS, responsável pela criação do projeto gráfico do Diário Gaúcho, Luiz Adolfo Lino de Souza, em 25 de maio do mesmo ano. Em relação às entrevistas anteriormente citadas, para atender aos propósitos qualitativos da pesquisa, a autora optou por entrevistas semi- abertas com questões semi16

Nesta mesma data, no turno da manhã, a autora dirigiu-se à região de Wandsbek (distrito municipal da cidade de Hamburgo) e acompanhou durante três horas o trabalho da equipe do “BILD kämp für Sie” (“BILD luta por você”), com o objetivo de perceber a natureza dos problemas relatados e como eles eram tratados pela equipe, embora isto não vá ser analisado neste momento.

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estruturadas, a fim de poder explorar o tema sem respostas pré-determinadas, porém obtendo certa ordem de raciocínio através de roteiro prévio e flexível. O plano de perguntas foi utilizado apenas como guia, sendo possível à autora agregar novas questões, quando pertinentes, durante a realização da entrevista. Os entrevistados foram escolhidos de acordo com a propriedade para tratar dos temas e a relação com os periódicos em análise. As entrevistas foram presenciais, realizadas individualmente e tiveram seus áudios gravados. Após sua realização, foram transcritas e, na única realizada em alemão (editor-chefe do BILD Hamburg, Matthias Onken), também traduzida para melhor visualização das respostas. Após sua realização, procedeu-se, também, contato via e-mail para obtenção de informações pontuais e complementares. Quando da realização das visitas às redações, a autora observou e conversou também com os profissionais dos respectivos jornais, porém de maneira informal e sem roteiro prévio determinado, constituindo assim, entrevista aberta com questões não-estruturadas. O objetivo era unicamente o esclarecimento de rotinas e procedimentos e, por isso, não se utilizou de gravação, somente de bloco de notas para registro. Devido ao caráter informal, os nomes dos profissionais não foram citados, visto que suas informações apenas elucidaram rotinas e procedimentos. A única exceção constitui-se em relação à editora de produção do Diário Gaúcho, Rozanne Adamy, que acompanhou a autora durante os dias de visita ao DG e concedeu informações mais pontuais em relação à rotina do jornal, tendo assim, seu nome citado. Além das informações coletadas nas respectivas redações, as quinze edições de cada periódico serviram também como base para a realização da primeira parte dos capítulos sobre os jornais em questão (Capítulo 3- BILD Hamburg e Capítulo 4- Diário Gaúcho). Desta forma, a autora procedeu à leitura dos jornais e observação da diagramação. Identificou também a existência ou não de cadernos, as secções fixas presentes, assim como o número de páginas das edições. Tal procedimento foi realizado com o intuito de descrever as publicações em questão, de modo que fosse possível entender como os jornais se apresentam ao público e que o leitor pudesse conhecer as características das publicações, sem o objetivo, no entanto de realizar análise sobre os conteúdos e diagramação. Posteriormente, em posse das quinze edições dos periódicos e fruto de sua leitura, foi preciso definir um foco delimitado de análise que propiciasse avaliação qualitativa dos periódicos e, assim, atendesse aos objetivos propostos por este trabalho. A análise da totalidade dos impressos (cada um com cerca de 30 páginas) dispersaria o foco e não permitiria análise profunda devido a sua extensão. Uma vez que a capa de um jornal é

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construída através de escolhas editoriais, as quais refletem a filosofia e a identidade de uma publicação, pensou-se que elas seriam adequadas para compor a análise dos periódicos. Segundo Fourie (2006, p. 348, tradução nossa): Palavras ou texto verbal são ferramentas do editor para transmitir um significado. Tudo o resto é uma ferramenta visual. Para transmitir um significado para o leitor, o editor deve escolher as palavras certas e organizar os fatos e idéias de forma sistemática. O layout ajuda o leitor a "ouvir" o tom de voz do editor (por exemplo, quais as notícias são importantes de acordo com o editor), através da aparência do texto (por exemplo, tipografia- tamanho e espessura de impressão) e a posição do texto no jornal. Por exemplo, o texto na primeira página é mais importante que o texto em outras páginas. Um leitor percebe que a notícia principal (a história principal) aparece na primeira página com um título grande e que, muitas vezes, é ilustrada com uma fotografia.

Assim, a primeira página de um jornal é muito mais que um aglomerado de títulos e cartolas, os assuntos ali destacados dizem respeito a uma proposta editorial, que pode ser visualizada em sua apresentação (projeto gráfico), mas também na escolha das palavras e nos próprios títulos que a compõem: a escolha dos assuntos, o aspecto noticioso de cada reportagem que é na capa destacado, assim como a posição e modo que ele é apresentado, hierarquizam os assuntos publicados na edição do dia. As notícias que tem espaço na primeira página são aquelas mais importantes e caracterizam a filosofia da publicação, evidenciando para os leitores essa proposta editorial. Sunkel (2002, p.71, tradução nossa) afirma que “a capa é um espaço privilegiado onde os diários constroem uma identidade pública que lhes permite ser reconhecidos por seus leitores”, relacionando essa identificação a características formais e de conteúdo da primeira página. Observou-se também que a capa tem especial importância para jornais em que a venda é realizada, principalmente ou exclusivamente, de forma avulsa, como no caso dos periódicos em análise, tendo ela ainda maior importância. Sua construção deve ser realizada de maneira ainda mais minuciosa, pois dela depende também a vendagem do jornal, desempenhando, portanto, um espaço de captação de leitores, como afirma Ryan e Conover (2004, p. 561, tradução nossa): “A capa de um jornal é a primeira coisa que um leitor vê no café da manhã. É a página poster olhando para os transeuntes (...) Além disso, estabelece o tom e o estilo para o resto da publicação, e reflete a filosofia editorial e noticiosa da publicação.” A capa possui também função remissiva, perpassando diferentes editorias e assuntos, podendo através dela analisar-se os principais conteúdos dispostos na edição. Como afirma Amaral (2006, p. 117) “Em geral, a capa reflete o conteúdo do jornal e expressa a diversidade de matérias contidas nele, fazendo com que cada grupo de leitores ache nela algo que lhe interessa, seja serviço, esporte ou entretenimento/variedades”. Por fim,

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A primeira página é a vitrine de todos os jornais, é o elemento mais importante do design do jornal. Como os leitores vêm a capa primeiro, ela lhes dá a sua primeira impressão do conteúdo do periódico. Os leitores não podem ignorar a primeira página. (FOURIE, 2006, p. 346, tradução nossa).

Desta forma, devido a sua função e particular importância para os periódicos em questão, foram estabelecidas as capas como objeto de análise da segunda metade dos capítulos referidos a cada publicação (capítulo 3.1 – As Capas do BILD Hamburg e capítulo 4.1 – As Capas do Diário Gaúcho). Os títulos e suas cartolas, por sua função remissiva, atenderiam ao objetivo de perceber a proposta e os assuntos privilegiados pelo impresso. Através deles, seria possível também visualizar os aspectos da reportagem nele destacados, podendo, assim, identificar seu tratamento pelo jornal, escolha de palavras e ênfases. Dentre as seis capas analisadas de cada jornal, foram estipulados também títulos principais (um por edição), definidos de acordo com o espaço ocupado, tamanho da fonte e posição na capa do jornal (hierarquia das notícias), como forma de perceber os assuntos que obtinham maior destaque com significativa freqüência. No entanto, achou-se também necessário realizar descrição e análise do projeto gráfico da primeira página dos impressos e do logotipo, devido à intrinseca relação que se estabelece entre o projeto gráfico, a filosofia e os leitores, como destaca Fernandes (2003, p.211) “qualquer impresso é uma expressão plástica do pensamento de quem o produz. É algo racionalmente articulado com conceitos e idéias que seu produtor deseja comunicar.” O carácter identitário da capa não se resume a escolhas editoriais, mas também gráficas. Como afirma Collaro (1987, p. 15): Desenhar uma página significa muito mais do que apenas dispor textos e fotos no papel, significa construir, estruturar os elementos que irão compor uma mensagem que deve ser trabalhada conscientemente.

As escolhas editoriais dizem respeito aos leitores a quem ela se destina e evidenciam também hierarquização de notícias dentro da própria página, como destaca Fourie (2006, p. 346, tradução nossa): O layout de uma página de jornal faz parte do projeto global dele. O layout dá indicações sobre a importância dos vários conteúdos do jornal e ajuda a estabelecer a identidade do periódico. Por exemplo, o uso constante da mesma tipografia e estilo de apresentação e publicação de itens como notícias, esporte, comentários editoriais e programas de TV na mesma parte do jornal em cada edição torna-o familiar para o leitor. Os leitores se identificam com "seu jornal", e são capazes de encontrar o seu caminho nele com facilidade.

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Assim, decidiu que antes de proceder-se à análise dos títulos, era preciso conhecer a comunicação gráfica dos periódicos para com os leitores. Desta forma, um subcapítulo foi destinado para tratar do assunto, avaliando logotipo, principais cores, colunagem, tipografia e uso de recursos como boxes e fios, a fim de identificar a filosofia do impresso evidenciada em tais escolhas gráficas, uma vez que, de acordo com Rehe (2000, p.98, tradução nossa), o designer tipográfico, num sistema de massa, “situa-se entre a fonte original da mensagem e o canal [na proposta desta discussão, a página impressa] que vai carregar a mensagem para uma audiência”. Assim, após conhecer as mensagens transmitidas através das cores e escolhas gráficas da capa, poder-se-ia analisar com maior propriedade os títulos nela dispostos. Uma vez definidos os focos de análise, viu-se necessário estabelecer-se seleção quanto ao volume do material. Tendo em vista a quantidade de títulos presentes nas capas, aproximadamente sete em cada uma, a análise da totalidade da amostra geraria um número demasiado para a realização da investigação detalhada, cerca de 210. Desta forma, optou-se por reduzir o número de capas da amostragem, com o propósito de realizar análise profunda. Foram, assim, selecionadas apenas seis edições de cada impresso, compondo uma semana, começando a partir da primeira visita da autora a redação do BILD em Hamburgo. Assim, a amostragem para a análise (qualitativa e quantitativa) de conteúdo foi delimitada de 08 de Setembro de 2009 (terça-feira) à 14 de Setembro do mesmo ano (segunda-feira). A análise das capas das edições do BILD Hamburg e Diário Gaúcho 17 dos dias já mencionados somaram 45 e 43 títulos, respectivamente, o que gerou um total de 88 títulos de capa, dentre eles, seis enquadrados como principais, de acordo com os critérios já especificados. Em posse deles, foram definidas, então, sete categorias, com vista à melhor analisá-los, sendo elas: Economia e Política; Emprego e Serviços; Polícia e Crimes; Local; Saúde; Esporte; Variedades. A cada uma delas, critérios de seleção foram especificados, os quais estão definidos abaixo. Além da análise do título, muitas vezes foi preciso recorrer aos textos da reportagem no interior do jornal para melhor enquadrá-los nas categorias e avaliá-los (mesmo que eles não fossem o foco) tendo em vista que texto e títulos não podem ser estudados de forma completamente isolada. O mesmo pode ser aplicado às fotografias de capa e legendas.

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As capas da amostra podem ser visualizadas nos anexos de F a Q.

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2.2.1 Economia e Política Nesta categoria estão agrupadas notícias que dizem respeito a fatores econômicos, tais como juros, índices, impostos, preços, crise, situações de empresas com sede no país, etc. Os acontecimentos políticos enquadram-se também aqui e estão relacionados a eleições e disputas partidárias em geral, refletindo o período pré-eleitoral que se encontrava a Alemanha naquele momento. O motivo do tratamento em conjunto dos assuntos é justificada por dois fatores: ligação entre os temas e modo de tratamento de ambos pelo jornal. Os temas, certas vezes, se interligam, como na notícia sobre a Opel 18, reerguida através de dinheiro público: a decisão política interviu num cenário econômico e, desta forma, precisa-se tratar a história considerando ambos aspectos para compreender as decisões e suas conseqüências. Além disso, economia e política são tratados da mesma maneira pelo periódico: simples e, certas vezes, até lúdica, e enfatizando as conseqüências ou números referentes ao fato. BILD HAMBURG 19 08.09 - (Trabalho mal feito!) 20 - Pensões calculadas incorretamente – Cabe a você agora também uma diferença? 21 09.09 - A maior aposta eleitoral de todos os tempos – Ganhe um milhão de Euros 09.09 - Economia Suíça Número 1 10.09 - A grande aposta eleitoral do BILD – Eu vou buscar o Milhão para mim! 10.09 - (Linhas de Crédito - Juros- Exploração) -Alemães pagam 512 Mio Euro a mais! 11.09 - Opel (um pouco) salva... mas a que preço? 11.09 - 2ª parte! Hoje Novela Eleitoral no BILD.de 22 11.09 – Outra vez novas quedas de preços através de descontos! 14. 09- (Duelo amigável (aconchegante) em vez de luta eleitoral) Sim, nós bocejamos!

DIÁRIO GAÚCHO 11.09 – (25%) Cai o imposto para sacoleiros 11.09- Pedido de impeachment de Yeda 18

Fabricante alemã de automóveis. Os títulos pertencentes ao jornal BILD Hamburg são uma versão, realizada pela própria autora, dos originais publicados nas referidas datas no jornal. As capas analisadas estão inclusas nos anexos. 20 As informações entre parênteses referem-se às cartolas das referidas reportagens. 21 Apesar de o título estar relacionado à prestação serviço, seu assunto principal diz respeito à Economia. 22 Título aqui enquadrado devido à natureza dos vídeos, que tratam especificamente de política. 19

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2.2.2 Emprego e Serviços Situam-se aqui os títulos que dizem respeito aos trabalhadores, tais como leis, índices e ofertas de trabalho. Encontram-se aqui também serviços, tais como ofertas de emprego ou matérias que tem relação direta com o cotidiano do leitor ou visam unicamente, ou prioritariamente, esclarecimento.

BILD HAMBURG 08.09 - Hartz IV 23 - Beneficiários não estão dispostos a se relocar 24 10.09 - O chefe dos transportes Grube apresenta-se aos leitores do BILD 10.09 - Quase um a cada dois vai trabalhar mesmo doente 12.09 – O tempo na Alemanha

DIÁRIO GAÚCHO 08.09 -(Comércio amplia quadros para o Natal) Há 8,6 mil vagas 09.09 - Conheça o novo site do Diário 25 09.09 - Mais de 630 ofertas de empregos 11.09 - Mais de 600 ofertas de empregos 14.09 - Agenda de chances da semana

2.2.3 Polícia e Crimes Relacionam-se a esta categoria notícias ligadas a crimes e à polícia, tais como assassinatos, assaltos e furtos.

BILD HAMBURG 08.09 - Exército Federal mata piratas 09.09 -Processo contra Demjanjuk 26 na prisão? 12.09- Cada vez mais crimes econômicos na Internet. 23

Disposições que regulam o sistema de assistência legal aos desempregados. Assunto relaciona-se com economia, mas como o assunto principal relaciona-se a questão de empregos, ele encontra-se aqui enquadrado. 25 O título enquadra-se nesta categoria devido ao caráter didático-explicativo de aplicação direta. 26 Demjanjuk é acusado de ter sido guarda em um campo de concentração nazista e cúmplice na morte de cerca de 28 mil judeus. (O Globo, 2009). 24

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14.09 - (S-Bahn 27- Drama) Pisoteado até a morte, porque protegeu crianças. 14.09 - Homicida enterrado sem cérebro 14.09 – Pelo menos 30 civis mortos no ataque aéreo da OTAN!

DIÁRIO GAÚCHO 08.09 - (Ronda Policial) O terror dos bondes em Canoas 09.09 - (vítimas de assaltos relatam drama de conviver com o medo e a insegurança) Vida marcada pela violência 10.09 - (Assaltante furta equipamentos de som de paróquias) Ladrão deixa igrejas sem voz 10.09 - Estudante baleado em escola 11.09 - (Faculdade também vira vítima de homem que furta microfones) Ladrão de Igreja ataca outra vez 11.09 - Bando descarrega arma na Brigada 14.09 - (Ronda Policial) Assalto e morte em motel 14. 09 - (Ronda Policial) Protesto no Caso Franciele

2.2.4 Local Estão agrupadas nesta categoria notícias referentes à cidade e a região metropolitana em que os jornais são publicados, tais como transporte, trânsito, manifestações na cidade e eventos climáticos que causaram danos a região (como chuvas e cheias). Exclui-se desta categoria títulos locais relacionados à saúde, visto que ela possui editoria própria.

BILD HAMBURG 11.09 - Novo aborrecimento nos trens! Limite de velocidade para 760 trens regionais 28. 12.09 - Forte tumulto após manifestação do NPD 29 em Hamburgo

DIÁRIO GAÚCHO 08.09 - Alvorada e as suas crateras 09.09 - E ainda chamam isto de rua... 27

Nome dado a metrô de superfície. Notícia tem âmbito nacional, porém seu efeito é local, afetando diretamente a região de circulação do jornal. 29 Nationaldemokratische Partei Deutschland – Partido Nacional Democrata 28

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09.09 - (Chuva) Temporal deixou estragos 10.09 - Paradas sem identificação em Alvorada 10.09 -(Trânsito) Um gesto para garantir a vida 11.09- (Faixas de Segurança) Pedestre aprova idéia, falta só o motorista. 12.09 - (Defesa Cível está mobilizada para atender vítimas da chuva) - Perigo de cheias deixa moradores em alerta 12.09 - A internet comunitária 14.09 - (Chuvarada) Apreensão com a cheia de rios

2.2.5 Saúde Enquadram-se nesta categoria, notícias relacionadas a hospitais e doenças, ou seja, reportagens ligadas à saúde da população.

BILD HAMBURG 08.09 - (Pílula do dia seguinte) – Agora ela faz efeito em até 5 dias 09.09 - Está a caminho a vacina contra o Câncer de Próstata? 12.09 - (Gripe Suína) – Primeira vacina em 4 semanas 14.09 - Em breve pílula contra álcool?

DIÁRIO GAÚCHO 09.09- Dr. Bastista: bem juntinho dos leitores 30 12.09 -(Guaíba) Portas fechadas para os bebês

2.2.6 Esporte Refere-se a noticias sobre modalidades esportivas e campeonatos, tanto locais, como nacionais ou internacionais.

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Título tem função ligada à serviço, porém, devido ao tema da coluna ser saúde, ele encontra-se aqui enquadrado.

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BILD HAMBURG 08.09 - (3 x 1 contra a Noruega) - Siiim! 31 Nossas mulheres na final do Campeonato Europeu. 09.09 - So cool 32 são nossas mulheres do futebol 10.09 – 4 x 0 - Jogi 33 clamou o despertar da Alemanha 11.09 - (Alemanha- Inglaterra) 6 x 2 11.09 - (HSV 34- Choque) Guerrero - 6 meses de Pausa 14.09 - (HSV & Pauli fortes como nunca) Hamburgo em “êxtase-futebolística”

DIÁRIO GAÚCHO 08.09 - Como o Grêmio perdeu Leandro 09.09 - Guerra: Seleção joga para cumprir tabela 10.09 - (Eliminatórias - Copa do Mundo) Nilmar é o nome do jogo 11.09 - Seleção libera Sandro 12.09 - Vencer é o desafio da Dupla (Campeonato Brasileiro 2009) 14.09 - (Grêmio ganha do náutico e fica pertinho do G4) - Ufa! Nasceu a vitória lá fora 14.09 - Colorado falha na hora H (2 Inter x 3 Cruzeiro)

2.2.7 Variedades Enquadram-se nesta categoria títulos referentes a celebridades 35, entretenimento e eventos realizados na cidade, além de notícias que não se enquadram em nenhuma das categorias anteriores, como a série do jornal alemão sobre depoimentos de contemporâneos à queda do muro de Berlim, extraídos de um livro. É recorrente na capa dos periódicos em questão fotos de pessoas famosas ou comuns, seminuas ou em poses sensuais, tendo o jornal BILD uma editoria específica para fotos provenientes de leitores, chamada BILD Girl e BILD Boy, as quais são remuneradas. Os títulos relacionados a este assunto encontram-se também situadas nesta categoria. 31

No título original, a expressão utilizada é Jaaa!, sim em alemão. Na tradução, foi mantida a repetição da vogal, como forma de manter o sentido do texto inicial. 32 Expressão incorporada da língua inglesa. Significa “tão legais”. 33 Joaquim Löw - técnico da Seleção alemã 34 Sigla referente ao Hamburg Sport-Verein, mais conhecido no Brasil como Hamburgo (clube de futebol com sede na cidade em questão). 35 Considera-se aqui celebridades, pessoas de vida pública como atores, músicos, cineastas, etc, assim como pessoas comuns que se tornam famosas devido a fatos incomuns, como a mãe de óctuplos, notícia no mundo inteiro, e que recebeu propostas para realização de reality show com os filhos.

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Devido a esta abrigar a maior quantidade de títulos em ambos periódicos, verificou-se a necessidade de subdivisão do material. Estabeleceu-se, então, três subcategorias: celebridades, BILD Girl e outros. A primeira diz respeito a pessoas públicas, de acordo com a definição de celebridades já anteriormente elucidada. Já o subitem BILD Girl foi criado devido às particularidades da editoria presente no jornal BILD Hamburg, o qual necessitava espaço separado de análise para contemplar tais singularidades 36. A subcategoria outros agrupou, por sua vez, os títulos que não se enquadravam em nenhuma das duas categorias mencionadas anteriormente, como os eventos ocorridos ou a serem realizados na região. Tal divisão foi criada com o intuito de melhor analisar os títulos aqui presentes.

BILD HAMBURG Celebridades: 08.09 - (O Artista completa 75) – Udo Jürgens 37 sobre idade, sexo & amor 08.09 - Janine 38 pode encontrar qualquer homem 10.09 - (Til Schweiger 39) Esta é minha nova paixão (Esta é minha nova amada) 10.09 - Jenny 40 tem um problema de medida 41 11.09 - (Babs Becker 42) Casamento dos Sonhos 12.09 - (Barbara Schöneberger 43) – Casamento secreto - Agora ela é uma aristocrata 14.09- A “oito-vezes-Mãe” 44 e sua montanha repleta de felicidade

BILD-Girl: 09.09- Kristin vende artigos eróticos 11.09 - Patricia, o que te acende/provoca? (BILD Girl) 14.09 - Anika sonha com um Opel 45

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Por esta editoria ser própria do jornal BILD Hamburg, ela não é considerada quando da análise dos títulos do jornal Diário Gaúcho pertencentes a Variedades. 37 Famoso compositor e cantor austríaco. 38 Modelo da edição da época da revista Penthouse. 39 Ator de origem alemã de fama internacional. Sua aparição mais recente no cinema foi no filme Bastardos Inglórios, dirigido por Quentin Tarantino. 40 Modelo da edição da época da Playboy. 41 Maβ, medida em alemão, também é a palavra utilizada para denominar caneca cerveja de um litro. O título faz um jogo de palavras. 42 Atriz, modelo e designer de origem alemã. 43 Atriz, cantora e apresentadora de televisão de origem alemã. 44 Californiana que ficou famosa após ter dado a luz a óctuplos. 45 Marca de carros; fabricante de automóveis com sede na Alemanha

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Outros: 10.09- Alemães comem cada vez mais peixe 11.09 - Sextas-feiras tem peixe 12.09 - Contemporâneos relembram a queda do muro 12.09 - Iguana-Rock!

DIÁRIO GAÚCHO Celebridades 08.09 - Olha só que bela tatuagem! 08.09 - (Estrelas da Periferia) O funk do Algarve! 09.09 - Playboy no ritmo da Gafieira 10.09 – Essa mulher é uma aventura 12.09 - Quase cinco décadas de glórias

Outros 10.09 - (Baita Show!) Daniel tem sede de romance 10.09 - Os leitores aprovaram! 11.09 - Are Baba, não perca o último capítulo 12.09 - (Diversão) Tem show do Daniel e JA especial 14.09 – Viver a Vida vem aí!

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3 BILD Hamburg Mais de 50 anos depois de seu lançamento, o BILD é hoje diferente das quatro páginas com praticamente só fotos que apresentava em sua primeira edição: o jornal cresceu, adaptouse e ganhou espaço no mercado. A equipe, que inicialmente era composta por dez redatores e duas secretárias, hoje é formada por cerca de mil jornalistas (BILD 46, 2009) O periódico que começou em Hamburgo com uma tiragem de 455 mil exemplares, hoje encontra-se entre os de maior circulação do mundo, ficando em sexto lugar, com cerca de 3,8 milhões de cópias, segundo dados da World Association of Newspapers referentes a 2005. Nesta apuração, o BILD também figura como o maior jornal da Europa, estando o jornal britânico The Sun na segunda posição, com cerca de 2,4 milhões. Atualmente comercializado a 60 centavos de euro (não mais a dez centavos de Marco Alemão), o BILD, que antes era vendido somente nas ruas, possui hoje também a opção de assinatura. No entanto, o número não é expressivo se comparado a suas vendas avulsas. Dados referentes ao segundo trimestre de 2009 indicam que elas representam cerca de 28,7 mil do total de 3,23 milhões da média de exemplares do BILD vendidos por dia na Alemanha neste período. Com cerca de 11,67 milhões de leitores diários (7,27 milhões do sexo masculino e 4,34 milhões do sexo feminino), o BILD conta hoje com 23 edições regionais espalhadas por toda a Alemanha, sendo o foco deste trabalho a da cidade-estado de Hamburgo, no norte do país, onde a publicação começou a circular quando do lançamento do jornal. O BILD Hamburg vende cerca de 248 mil exemplares por dia, a maior vendagem regional do periódico. Apesar do BILD ter sido lançado na cidade em questão, hoje, no entanto, a redação principal encontra-se em Berlim. Desta forma, parte do conteúdo vem da capital do país e outra é gerada na sucursal da cidade. No topo da página, a origem do material é identificada: Bundesausgabe (quando é produzido em Berlim) e BILD Hamburg (quando o conteúdo foi elaborado na cidade). Segundo o editor-chefe do periódico, Matthias Onken 47, o BILD Hamburg é o jornal que a maioria lê e o maior da cidade, sendo que possui 55% de leitura na região metropolitana e 45% nos arredores. A edição regional BILD Hamburg possui número de páginas variadas (de 22 à 32). O periódico possui apenas um caderno 48: Alsterliebe & Elbeverkehr (amor do Alster49 e 46

Os dados apresentados neste item foram retirados do site do jornal ou de materiais fornecidos quando da visita da autora à redação. Os número e informações que não seguem esta referência, estão devidamente indicados no próprio texto. 47 Em entrevista a autora em 10 de Setembro de 2009. 48 Entende-se aqui por caderno, seção temática a qual pode ser inteiramente destacada do jornal

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comunicações do Elba 50, em alemão), publicado às terças-feiras. Através dele, pessoas buscam maridos, mulheres e companheiros. A seção possui quatro páginas e pode ser destacada do jornal. No entanto, apesar de possuir apenas um caderno semanal, o jornal apresenta-se diariamente em dois ou três conjuntos de páginas, destacáveis, sem divisão temática e cujo conteúdo é contínuo. Sobre o estilo, a publicação mostra-se informal e pouco conservadora, com mulheres com seios a mostra em várias páginas ou homens sem camisa. A sensualidade encontra-se difundida nas páginas do jornal, não estando presente somente na capa, como também no interior dele e na contracapa: fotos sensuais, notícias que remetem ao tema, textos sobre filmes com fotos que remetem a sexo, etc. O estilo informal do periódico se evidencia

também

na

diagramação 51, que por vezes faz uso de balões de fala ou legendas

Figura 5 - Imagem de

dispostas de maneira incomum e apelo sensual Fonte: BILD

singular (vide figuras 5 e 6). O Hamburg, 14 de grande

uso

de

imagens

e

Setembro 2009.

fotografias também se evidencia uma característica Figura 6 – Balões de Fala em reportagem Fonte: BILD Hamburg, 3 de Setembro 2009

da publicação, que iniciou com esta proposta e faz uso deste recurso até hoje.

Quanto ao texto, o jornal apresenta estilo simples, evitando o uso de palavras complexas, como destaca Onken, editor-chefe da edição de Hamburgo: “Nós buscamos abordar temas difíceis e contextos complexos de maneira bem simples, de modo que cada um o entenda: o professor na universidade, mas também os trabalhadores no canteiro de obras, em qualquer lugar, na rua, etc. Quando o jornal é lido por alguém, casualmente, independente de quem seja, ele também deve ser compreendido.” Outra característica é o jogo de palavras, presente algumas vezes em títulos. Além disso, o uso de ponto de interrogação e exclamação é recorrente, trazendo, como já destacado no primeiro capítulo, oralidade e emoção para a frase. Sobre o conteúdo 52, de maneira geral, o BILD Hamburg é um jornal que não é dividido por editorias, ou seja, na cartola da maioria das páginas não existe nada que indique de que 49

Rio do norte da Alemanha e que entra canalizado na cidade de Hamburgo. Desemboca no Elba. É um rio da Europa Central, que deságua no Mar do Norte, na Alemanha. Em Hamburgo ele se separa em Elba do Norte e Sul, junto ao porto da cidade de Hamburgo. 51 A título de ilustração, o espelho do jornal do dia 09.09.09 encontra-se no Anexo D. 52 Este tema será abordado em profundidade quando da análise da capa, nos subcapítulos 3.1.2 Títulos e 4.1.2 Títulos, referentes ao BILD Hamburg e Diário Gaúcho, respectivamente. 50

43

assunto ela trata. No entanto, há sim algumas seções fixas: como o esporte, BILD Kino e página 4. Além disso, a contracapa do jornal, apesar de não possuir indicação de editoria, apresenta disposição e temática sempre semelhante: notícias de celebridades e fofocas. As matérias de esporte são sempre publicadas nas últimas páginas do jornal, com exceção da contracapa. A página quatro, instituída como editoria em novembro de 2007, apresenta uma cartola com seis assuntos dispostos no topo da página: Geld (dinheiro), Gesundheit (saúde), Technik & Wissenschaft (tecnologia e ciência), Liebe & Leben (amor e vida), Mode & Trends ( moda e tendências) e Mein Recht (meu direito). A cada dia um deles é destacado de acordo com o tema abordado na seção. Já o BILD Kino (Kino, cinema em alemão), publicado às quintas-feiras, também é uma editoria fixa do jornal, porém não diária, mas semanal, em que o periódico apresenta notícias sobre os filmes a serem lançados na semana, bilheteria dos longametragens que estão nos cinemas e outros. Da mesma forma que as citadas acima, as seções BILD-Girl e BILD-Boy, veiculadas na capa, também são características da publicação, apesar de não possuírem periodicidade definida na capa. Ambas representam espaço de conteúdo de tom erótico: fotos de mulheres com seios à mostra e homens sem camisa em poses sensuais, os quais respondem a questionário sobre temas como idade da primeira relação sexual, parte do próprio corpo que mais gosta e local do sexo oposto que mais lhe chama a atenção 53. A seção destinada a fotos masculinas (BILD-Boy) é recente, tendo sido lançada em junho de 2009, e é publicada raramente, normalmente quando possui algum motivo especial (Dia Internacional das Mulheres, por exemplo). Já a feminina (BILD-Girl) é mais antiga e popular. A seção tem maior freqüência, sendo veiculada na capa em torno de três ou mais vezes por semana. Segundo dados do site do jornal, no ano de 2008, cerca de 1300 mulheres inscreveram-se para a seção. Os protagonistas das imagens são os próprios leitores, os quais recebem € 500,00 pela fotografia. No entanto, para as mulheres, o valor ainda pode subir: caso seja escolhida a BILD-Girl do mês, o valor passa para € 1000, podendo chegar até €11000 caso seja a vencedora anual. Para os homens, a seção ainda é incipiente e não apresenta tais possibilidades. A capa é espaço privilegiado do jornal e, além das seções acima citadas e dos títulos e fotos característicos a serem abordados no próximo item, possui também duas seções fixas: Nachrichten (Informativo) e TV-Tipp (Dica de TV), os quais, conforme descrito na metodologia não fazem parte da amostra de títulos para análise, porém merecem ser

53

Perguntas variam de caso para caso, porém apresentam sempre temática sensual.

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explicados. O primeiro constitui-se de um retângulo com pequenas notas em que predominam assuntos referente à política, economia e loterias. Ao lado das notas e internamente ao box, é publicado também diariamente o “Gewinner” (Ganhador) e “Verlierer” (Perdedor) do dia, em que o destaque pode ser tanto um fato, como uma personalidade política ou celebridade. No final do texto referente a eles, o jornal emite opinião através de algum comentário traduzido em poucas palavras, os quais vêm escritos após o texto padrão: “BILD meint:” (BILD pensa:). Abaixo, mais um tópico sempre presente no box “Nachrichten”: o “Kallenderspruch”, que pode ser definido como frase do dia. Através dele, pensamentos são expostos diariamente, com seus mentores devidamente creditados. Já o TV-Tipp (Dica de TV), seção independente do box “Nachrichten” apresenta sugestões de filmes ou programas para ver na televisão naquela data, de maneira sucinta. Os programas provém de emissoras abertas ou privadas (cabo ou satélite) e seu nome vem expresso no final da dica. Além disso, duas características são enfatizadas e classificadas, dependendo do estilo do programa em foco. Assim, humor, informação, entretenimento, entre outros são qualificados de uma a três marcações vermelhas. Da mesma forma, a publicidade está também sempre presente na primeira página do jornal, Apesar de ser uma publicação peculiar e antiga na cidade, o BILD Hamburg possui diversidade de leitores. Em entrevista concedida a autora, Matthias Onken, editor-chefe do periódico, comenta sobre o público do jornal: “Nós temos (pelo fato de sermos tão grandes) leitores que prestaram vestibular (Abitur), chefes de empresas, em repartições públicas ou em casas especializadas, por exemplo. Contudo, nós naturalmente temos também muitas pessoas que vivem de maneira simples, como trabalhadores e simples empregados. Mas nós também temos autônomos como leitores.” Para dialogar e interagir com eles, o BILD Hamburg tem canais de comunicação, como o Leser-Reporter, o Lesertelefon, BILD Kämpf für Sie e Leserbeirat.

Tais iniciativas são importantes para a relação deles com o jornal, como

evidencia Bowman e Willis (2003, p. 53, tradução nossa): Uma audiência que participa do processo jornalístico é mais exigente que consumidores passivos de notícias. Mas eles provavelmente também se sentem capacitados a fazer a diferença. Como conseqüência, eles sentem como se tivessem uma forte participação no resultado final.

Desta maneira, tais canais de comunicação aproximam o leitor do processo produtivo do jornal, dando voz a eles. No BILD, o Leser-Reporter (em português, Leitor-Repórter) é o canal de comunicação onde o cidadão pode enviar fotos e textos para serem publicados no jornal. As fotos produzidas por leitores vêm com um selo de identificação com as palavras

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“1414

Leser-Reporter”,

como

mostra a figura ao lado. As fotos são remuneradas: se ela for publicada na edição regional, o valor pago é de € 100,00; já se a foto tiver circulação nacional, o valor quintuplica: € 500,00. O Figura 7 – Leser-Reporter texto enviado pelo cidadão e que

Fonte: BILD Hamburg, 9 de Setembro 2009

acompanha a foto é retrabalhado e, muitas vezes, reescrito pelos jornalistas antes de ser publicado. O material é enviado pelo leitor através de email. Já o Lesertelefon (Leitor- Telefone, em português) também é uma forma de inclusão do cidadão no processo de realização do jornal, mas de maneira diferente. Neste, o leitor se comunica com o periódico através do telefone, sugerindo pautas ou contando a sua própria história. Um exemplo é a matéria publicada em 28 de agosto de 2009, sexta-feira, no BILD Hamburg sobre a mais jovem soldado da Alemanha, que vai servir aos 16 anos. A reportagem, segundo jornalistas da redação, foi realizada devido a uma ligação para o Lesertelefon. As reportagens sugeridas por este canal não vem identificadas na publicação, como acontece com o Leser-Reporter, impossibilitando a identificação delas pelos leitores em geral. Outro canal de interação com o leitor, porém completamente diferente dos outros dois, é o BILD Kämpf für Sie (BILD Luta por Você). No projeto, criado em 1971, uma equipe do BILD vai às ruas para ajudar a população. Quem tem problemas e precisa de ajuda, pode conversar com a equipe do BILD, que tentará ajudá-lo. Toda vez que um tour começa pela região do jornal, o leitor é avisado através da publicação sobre os lugares e os dias onde a equipe estará, normalmente praças ou locais com grande circulação de pessoas. Os locais por onde a Kombi do BILD Kämpf für Sie vai passar podem ser acompanhados também pela internet. O quarto canal de interação com o público foi criado em 2007: é o Leserbeirat (Conselho de Leitores). Através da iniciativa, os participantes sugerem modificações ao impresso. A cada ano, 32 pessoas são selecionadas para fazer parte do projeto, adotando-se critérios de idade, sexo e religião. O BILD foi o primeiro jornal alemão a ter um Conselho de Leitores, tendo o exemplo seguido por outros jornais e revistas da Alemanha como o Westdeutsche Allgemeine Zeitung. Durante o “mandato”, o conselho se encontra duas vezes com o Chefe da Redação. As sugestões são publicadas e algumas são implementadas no periódico. Até agora, segundo site da empresa, 33 sugestões foram recebidas. Elas podem ser

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vistas no site e são relacionadas a aumento de espaço para o tratamento de certos temas ou sugestões para implementação em secções fixas, como BILD Kämpf für Sie (BILD Luta Por Você). Alguns dos temas que os leitores pediram mais destaque foram educação, ciência e reportagens destinadas a jovens e orientação de carreira. Além da edição impressa, o BILD possui um portal de acesso eletrônico: BILD.de. A interação com o meio online começou em 1996, com apenas quatro pessoas trabalhando no setor, hoje

com

cerca

de

100

funcionários 54.

Atualmente, o portal possui um link no topo da página chamado Regional, em que o usuário pode acessar os conteúdos de doze edições locais, incluindo a de Hamburgo. A página Figura 8 – Site do jornal BILD possibilita a leitura de reportagens, visualização

Fonte: Site do BILD, 25 abril de 2010

de vídeos e conteúdos adicionais criados exclusivamente pelo núcleo online, sem a necessidade de senha ou login. Há também a possibilidade de visualização do conteúdo através do celular, com a utilização de um aplicativo do BILD desenvolvido para Iphones (serviço pago). Outra possibilidade é o BILD Mobil, um chip de celular que possibilita acesso ao conteúdo do jornal. O portal online do BILD é um dos mais populares da Alemanha, tendo em janeiro de 2009, um bilhão de páginas visualizadas. O site possui cerca de 5,59 milhões de usuários únicos (Presseportal, 2009). A remissão da edição impressa para o site Figura 9 - Aplicativo do BILD para IPhone Fonte: Site do BILD, 25 de abril de 2010

acontece com freqüência através de selos nas reportagens e publicidade sobre o portal. Assim, os conteúdos lidos podem ser complementados no meio online, incentivando os leitores a procurar o site.

Voltando a versão impressa do BILD Hamburg, a redação da cidade que até 2008 foi a principal do jornal BILD, hoje conta com cerca de 100 funcionários, sendo 35 repórteres e 7 editores, não incluindo neste número fotógrafos (10) e diagramadores (14). Comparada com as outras unidades, a redação de Hamburgo se define como a “madrugadora”, ou seja, a que começa mais cedo. Segundo dados da própria redação, obtidos quando da visita realizada a

54

Dado referente ao ano de 2007.

47

sede do jornal em Hamburgo, conforme citado na metodologia, os horários principais são os seguintes: “9h – O trabalho começa. Os colegas chegam, lêem o BILD e todos os outros jornais de Hamburgo e preparam as pautas do dia. 9h28min – Prazo final para a entrega das sugestões de pauta. O que não foi entregue por escrito até agora como proposta, não entrará em nosso plano para o dia. O motivo para a entrega antecipada: os editores-chefes precisam selecionar as propostas de todos os colegas e trabalhá-las para a proposta geral para sua repartição. 9h50min – Pré-reunião. Os editores falam em pequeno grupo sobre as pautas do dia. 10h15min – Reunião. Até perto das 10:40 os editores, em grande reunião, apresentam os temas dos colegas. As pautas são discutidas, aprovadas, rejeitadas. 11h15min – Reunião nacional com ligações de Berlim. Avaliação do jornal e sugestões de títulos e manchetes provenientes das redações sucursais do BILD na Alemanha. 11h30min – Pequena reunião (“misturar”/ “embaralhar”). Editor-chefe e editores decidem quais temas serão publicados em qual extensão e em que páginas. Quem já tem certeza que sua pauta estará na edição (vai ser publicada), a desenvolve. 12h30min – Um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde, mas à tarde o plano para o dia está pronto. Aqui fica claro: quem deve entregar o que, em quais páginas e em que tamanho. Mais tardar agora está o trabalho distribuído (dividido). É inteligente esperar para almoçar até o espelho chegar. Almoço 14h – Reunião das sucursais. Todas as sucursais de redações do BILD fazem uma conferência (reunião) por telefone onde estão interconectadas e apresentam suas edições individuais. 55 55

Uma moderadora, localizada em Berlim coordena a reunião e vai passando a palavra para cada uma das sucursais (nota da autora)

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17h – Os temas deveriam, o mais tardar (!), agora estar pesquisados e escritos (prontos).” 56 A rotina se sucede sem a presença de um produtor, que busca as notícias e organiza a redação. Cada repórter pensa diariamente sobre o que escrever e apresenta aos chefes até as 9h28. Uma vez aprovada a pauta, ele pode pesquisar e escrever o seu texto. Depois de pronta, a reportagem é enviada ao superior, que ratifica a matéria. O profissional deve escrever sempre sobre a editoria em que é locado, porém, caso tenha uma ótima idéia para outra seção, pode, eventualmente, escrever a matéria também. Os diagramadores ficam encarregados do layout da página, e repórteres e diagramadores podem abrir o mesmo arquivo simultaneamente em computadores diversos, ou seja, trabalharem ao mesmo tempo. O trabalho na redação acontece em salas separadas, ou seja, dividido por editoria e os diagramadores locando-se, também, em ambiente a parte. Na redação de Hamburgo, há repórteres trabalhando nas editoriais de local, cultura e sociedade, polícia, política e economia e esporte. Este capítulo propôs-se, então, a compreender os processos produtivos do jornal BILD Hamburg, além de descrever o objeto de análise desta seção. O conhecimento do funcionamento da redação é importante uma vez que as rotinas de produção de um jornal influem diretamente no seu resultado. O estudo e descrição do periódico e seu modo de produção viabilizam a análise das capas proposta a seguir.

3.1 As Capas do BILD Hamburg O BILD Hamburg é um jornal de conteúdo variado, entre eles polícia e crimes, economia e política, serviços, variedades, local, saúde e esporte. Dentre estes assuntos, cerca de sete notícias são selecionadas diariamente para ocupar o lugar mais privilegiado do periódico: a capa. Esta seção se destina a analisar a primeira página do jornal BILD Hamburg da semana referente aos dias 08 à 14 de Setembro de 2009 57, com o intuito de identificar decisões editoriais vinculadas às escolhas gráficas e de conteúdo. Os títulos da capa foram delimitados como forma de perceber assuntos privilegiados e valores-notícia a eles

56 57

(tradução nossa) - Documento original disponível no Anexo C. Vide Recorte Metodológico.

49

relacionados, a fim de identificar a filosofia do periódico. As cores e recursos gráficos empregados são aqui avaliados como forma de definir também a identidade do jornal.

3.1.1 Aspectos Gráficos O BILD possui uma identidade forte no que diz respeito ao seu logo. Desde a seu lançamento, em 1952, ele não sofreu grandes modificações (conforme pode ser observado através das figuras 10 e 11). Como afirma Lupton e Stolarski (2009, p. 53), “os logos usam a tipografia e a letragem para grafar o nome de uma organização de um modo memorável. Se algumas marcas são feitas com símbolos abstratos ou ícone pictóricos, um logotipo usa letras para criar uma imagem distinta.” A tipografia lapidária (podendo Figura 10 – Primeiro logotipo do BILD

também ser chamada de bastão) foi a Fonte: BILD, 24 de junho de escolhida para o logo do jornal. Tal 1952 grupo ou família tem origem alemã, assim como o periódico, e “a ausência de serifas e uniformidade quase total dos caracteres o tornam o tipo mais legível de todos para a execução de trabalhos publicitários”. (COLLARO, 1987, p. 24). É importante lembrar que na época de seu lançamento, o BILD não possuía assinaturas Figura 11 – Logotipo atual do BILD Hamburg Fonte: BILD Hamburg, 10 Setembro de 2009.

como o tem hoje e era vendido somente nas ruas, daí a importancia da legibilidade da fonte. Além de caracterizar o jornal, o logotipo teria que chamar a atenção daqueles que passam

pelas ruas em ritmo acelerado. A família das lapidárias atende a este requisito à medida que é “indicada para situações onde a leitura seja difícil ou deva ser feita rapidamente” (FERNANDES, 2003, p. 33). O preço, também expresso em fonte da mesma família e dentro do logotipo (10 pfg) reflete, da mesma forma, a venda avulsa. Hoje o logotipo é um pouco diferente: mantém a identidade e a fonte inicial, mas o preço e a palvra “Zeitung” (jornal, em alemão) foram suprimidos dele. As necessidades mudaram. A partir de 1953, o jornal passsou a ter edições regionais, sendo a primeira delas a de Hamburgo e hoje totalizando 23. A região do jornal vem expressa atualmente no logo na

50

parte inferior, abaixo das palavras unabhängig (independente) e überparteilich (imparcial). No caso, o logo pertence a cidade-estado de Hamburgo, região foco deste trabalho. O periódico possui também, agora, assinaturas e o preço é apresentado, desta maneira, fora do retângulo vermelho que o delimita, juntamente com a data e o código de barras O ponto acima do “i”, antes redondo hoje é quadrado e o site do jornal vem expresso logo abaixo do retângulo vermelho, alinhado à esquerda. Além do logotipo, que identifica e se caracteriza por representar a “assinatura do jornal”, a composição da capa é de suma importância para um periódico. O jornal BILD, de formato Standart (40 cm x 57 cm), possui capa que caracteriza-se pelo abuso de contrastes, cores e fotos dispostas em conjunto com manchetes que misturam letras serifadas e sem detalhes. As imagens, as quais eram o recurso principal do jornal quando do seu lançamento, continuam tendo forte importância, sendo o recorte de fotografias muito frequente. Silva (1985, p. 46) afirma que “há algum tempo atrás, os jornais apresentavam-se confusos e desordenados gráfica e editorialmente”. Quanto a parte gráfica, o BILD é um jornal que ainda hoje apresenta diagramação despadronizada. No que diz respeito a sua capa, o abuso de estímulos e contrastes, deixa o leitor sem saber para onde olhar. A manchete principal ocupa cerca de um quarto da página (variando um pouco para mais ou menos) e situa-se sempre na parte superior do jornal, ao lado do logo. O retângulo vermelho com o nome BILD pode, por sua vez, deslocar-se verticalmente do canto superior esquerdo para mais próximo do centro da página (vide capas em anexo), dependendo da diagramação do dia. Tal movimentação do logo não parece obedecer a um critério específico. A manchete principal vem sempre acompanhada de contraste: fundo preto, letra branca com detalhes ou sublinhado em vermelho ou em amarelo; ou fundo bege com letras pretas e vermelhas, por exemplo. O título principal fica, assim, situado em um box colorido e na maioria das vezes vem acompanhado de uma cartola e alguma vezes de subtítulos, os quais apresentam tipografias diferentes: manchetes com serifa e cartola e subtítulos sem, ou vice-versa. No entanto, o título principal tem sempre tipografia sem serifa, semelhante a do logotipo. A partir das amostras, foi possível perceber também as cores mais utilizadas na capa do periódico alemão BILD, são elas: vermelho, preto, azul, branco e bege. O vermelho, situado no logotipo, é utilizado para destacar manchetes (sublinhado ou cartola com fundo colorido). A cor vibrante denota, segundo Fernandes (2003, p. 217) vida, força, calor, sensualidade, paixão, ímpeto, dinamismo, intensidade entre outros. O branco é trabalhado

51

como forma de contraste nas tipografias e espaços vazios. O preto é a cor das manchetes secundárias e o azul vem expresso em boxes ou como fundo de cartolas, assim como o bege. A colunagem é variável e flexível: a maioria das notícias de capa se adapta a uma divisão de oito colunas por página, mas se for preciso, uma chamada situada em duas colunas pode ser expressa em três, ou mesmo uma coluna pode ser divida em duas. Não há um padrão. Os textos nela contidos são justificados e hifenizados, com excecção do quadro Nachrichten (Informativo) e de notícias em boxes, geralmente pequenas e dispostas em uma coluna (nestas, os textos nem sempre são justificados, somente hifenizados). Os textos impressos lado a lado a fotos recortadas, atendem a padrão próprio, adaptando-se a imagem, para não invadi-la, podendo ser hifenizados ou não, alinhados à esquerda ou direita etc, conforme a situação requerer. Quanto aos títulos, a maioria é disposto em toda a área disponível em caixas alta e baixa, porém espaços em branco aparecem, por vezes, em notícias menores. O uso de fotografias e imagens recortadas com textos circundando-as é um recurso amplamente utilizado. O título principal ocupa cerca de um quarto da página e encontra-se sempre disposto ao lado do logo ou cincundando-o na parte superior da página ao centro ou centro-esquerda. A escolha justifica-se, pois como afirma Collaro (1987, p. 69), “biologicamente, a vista humana tende sempre a caminhar em um veículo impresso, de cima para baixo, e da esquerda para a direita; (...) ” Assim, tanto o logo quanto a manchete principal localizam-se em ponto privilegiado de visão.

3.1.2 Títulos Através da análise e categorização

59

dos títulos

das edições do BILD Hamburg foi possível identificar escolhas editoriais. Dentre os quarenta e cinco pertencentes as capas de 08 a 14 de Setembro de 2009 do jornal, a maioria está relacionada a categoria Variedades, sendo seguido por Economia e Política

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Variedades

14

31,1%

Economia e Política

9

20%

Polícia e Crimes

6

13,3%

Esporte

6

13,3%

Emprego e Serviços

4

8,9%

Saúde

4

8,9%

Local

2

4,4%

Tabela 1 58 – Categorização dos títulos do BILD Hamburg Fonte: O autor (2010)

Os números foram arredondados, considerando-se, para isso, a segunda casa decimal: quando este algarismo era maior ou igual a cinco, somou-se um a primeira casa decimal. Quando era inferior, ele foi apenas desconsiderado 59 Conforme Recorte Metodológico.

52

(vide tabela 1 60). As duas, juntamente, representam mais de 50% dos títulos da semana avaliada. A terceira e a quarta posição é ocupada “Polícia e Crimes” e “Esporte”. As quatro categorias representam, portanto, as mais privilegiadas pelo impresso naquela semana, tendo “Emprego e Serviços”, “Saúde” e “Local”, menor importância na amostra. Os títulos, divididos em tais categorias, são agora analisados com o propósito de identificar o enfoque dado a eles pelo jornal e os principais critérios relacionados à publicação das notícias.

3.1.2.1 Variedades A editoria Variedades, detentora de 31,1% dos títulos da amostra e presente em todas as capas dos jornais analisados, tem espaço garantido e evidente destaque no periódico. Segundo o editor-chefe da edição de Hamburgo, Matthias Onken, os temas policiais (criminalidade) e histórias triviais (fofocas) são os mais lidos segundo pesquisas e levantamentos realizados, seguido das histórias surpreendentes, independente de em que campo. Os números coletados evidenciam que tais temas não são apenas os preferidos dos leitores, mas também estão entre os mais destacados pelo periódico na semana avaliada (vide tabela). Dos quatorze títulos pertencentes à categoria Variedades, sete são relacionados a celebridades e pessoas públicas, quatro, a outros assuntos, e três, referentes a secção BILDGirl (já explicada anteriormente), da seguinte forma:

Celebridades: 08.09 - (O Artista completa 75) – Udo Jürgens sobre idade, sexo & amor 08.09 - Janine pode encontrar qualquer homem 10.09 - (Til Schweiger) Esta é minha nova paixão (Esta é minha nova amada) 10.09 - Jenny tem um problema de medida 11.09 - (Babs Becker) Casamento dos Sonhos 12.09 - (Barbara Schöneberger) – Casamento secreto - Agora ela é uma aristocrata 14.09- A mãe de óctuplos e sua montanha repleta de felicidade

60

Os números foram arredondados, considerando-se, para isso, a segunda casa decimal: quando este algarismo era maior ou igual a cinco, somou-se um a primeira casa decimal. Quando era inferior, ele foi apenas desconsiderado.

53

BILD-Girl 09.09- Kristin vende artigos eróticos 11.09 - Patricia, o que te acende/provoca? (BILD Girl) 14.09 - Anika sonha com um Opel

Outros 10.09- Alemães comem cada vez mais peixe 11.09 - Sextas-feiras tem peixe 12.09 - Contemporâneos relembram a queda do muro 12.09 - Iguana-Rock! Considerando-se que a categoria Variedades tem sete títulos relacionados a celebridades, fica claro que a preferência dos leitores por histórias triviais (fofocas), é corroborada pelo jornal, que destina grande espaço a este tipo de notícias. Além disso, é possível perceber que a maior parte dos títulos da categoria enfatiza aspectos relacionados a amor 61, sexo e sensualidade: dos quatorze, nove apresentam enfoque relacionado a tais temas, sendo seis pertencentes à subdivisão Celebridades e três, à BILD-Girl. Em Celebridades, os títulos “Janine pode encontrar qualquer homem” e “Jenny tem um problema de medida” tem seus títulos acompanhados de foto de nudez, com seios das mulheres em foco, à mostra. Além disso, ambas as frases remetem a sensualidade: na primeira, transmitindo a idéia de encontro “romântico” e, na segunda, utilizando um jogo de palavras para se referir aos atributos físicos da modelo, pois a palavra “Maβ” em alemão pode se referir também a caneca de um litro de cerveja, a qual a menina está segurando. No texto, as primeiras linhas comprovam o trocadilho: “Hmmm, qual o tamanho de uma caneca de cerveja (Maβ) na Oktoberfest? ‘1,5 litros!’, aposta a playmate Jenny Martin (19) (...).” É sabido na Alemanha que um Maβ tem 1 litro, daí a escolha da expressão no título “problema de medida”, usado de forma ambígua. Já no título “(O artista completa 75) – Udo Jürgens sobre idade, sexo & amor”, dois dos três aspectos enfatizados da entrevista realizada pelo BILD encontram-se entre os três citados anteriormente: sexo e amor. Em “(Babs Becker) - Casamento dos Sonhos”, “(Barbara Schöneberger) – Casamento secreto - Agora ela é uma aristocrata” e “Til Schweiger - Esta é minha nova paixão (Esta é minha nova amada)”, o tema amor (paixão) é evidente. Já na

61

Amor aqui se refere ao sentido romântico e, não, fraternal.

54

subdivisão BILD-Girl, todos os títulos enfatizam aspectos como sensualidade e o sexo, o que se justifica pela própria proposta da secção: mulheres comuns, semi-nuas, respondendo perguntas sobre sexo. Entre as notícias da categoria Variedades, é possível constatar também que aspectos curiosos tem espaço, podendo se encaixar nesta afimação os seguintes títulos: “Sextas-feiras tem peixe”, “Iguana-Rock!”, “Alemães comem cada vez mais peixe” e “A mãe de óctuplos e sua montanha repleta de felicidade”. Nos dois primeiros, a foto é o ponto alto da reportagem: um pássaro com um peixe no bico e uma iguana parecendo tocar uma guitarra, respectivamente. Já no título “Alemães comem cada vez mais peixe”, a ênfase encontra-se no número (nos dados e nas espécies mais consumidas), a titulo de curiosidade. O mesmo acontece no referente à mãe e aos oito filhos, onde o surpreendente é a ênfase do fato. Uma vez que os valores-notícia de um jornal popular são diversos dos de jornais tradicionais, é possível perceber que a ampla presença da categoria “Variedades” no impresso condiz com tais critérios de noticiabilidade próprios de jornais desta categoria, como define Amaral (2006, p. 63): Na imprensa popular, um fato terá mais probabilidade de ser noticiado se: - possuir capacidade de entretenimento; - for próximo geograficamente ou culturalmente do leitor; - puder ser simplificado; - puder ser narrado dramaticamente; - tiver identificação dos personagens com os leitores (personalização); - for útil.

As quatorze notícias acima analisadas tem capacidade de entretenimento, simplificação, proximidade geográfica e cultural do leitor e possível identificação com as personagens. Felipe Pena (2005) afirma que “a espetacularização da vida” se destaca hoje frente às outras formas de distração e que as pessoas consomem tais informações como capítulos de filmes. É o caso de cinco dos sete títulos da subcategoria celebridades referentes a casamentos de personalidades (secreto e dos sonhos), nova paixão de ator, depoimentos sobre amor, sexo e idade de compositor e mulher que dá a luz a óctuplos, os quais nada tem de interesse público, mas, sim, de espetacularização da vida de pessoas públicas e proeminentes. Sobre isso, destaca Pena (2005, p. 88 e 89): Cada acontecimento em torno de um indivíduo é superdimensionado, transformado em capítulo e consumido como um filme. Mas a valorização dos acontecimentos individuais é diretamente proporcional à capacidade desse indivíduo em roubar a cena, ou seja, em tornar-se uma celebridade. Aliás, as celebridades tornaram-se o pólo de identificação do consumidor-ator-espectador do espetáculo contemporâneo. São elas que catalizam a atenção e preenchem o imaginário coletivo.

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Ou seja, tais narrativas geram personalização e identificação dos indivíduos para com os proeminentes focos das notícias, um dos critérios de noticiabilidade do jornalismo popular. A leitura sobre a vida de celebridades recria, segundo Mira (apud Pena, 2005, p. 31), os pequenos bairros e comunidades onde todos sabem sobre a vida de todos, pois propiciam intimidade e proximidade entre leitor e famosos. Sobre tal editoria, Onken, editor-chefe do BILD Hamburg, aponta: [...] os alemães gostam de observar o que fazem as pessoas que estão na televisão, no teatro e no cinema. Quando elas [essas pessoas famosas] estão na cidade, então as pessoas querem ver isso. Aí nós as encontramos e conversamos com elas, como se essas histórias [as dos famosos] fossem as delas [leitores]. Isso chama-se fofoca.

Como destaca Onken, é possível perceber que as manchetes apresentam tom de familiaridade e intimidade para tratar da vida das personalidades em foco ou das mulheres da seção BILD-Girl. As frases tratam o leitor como ele fosse participante desta realidade e íntimo dos retratados, dando a impressão de estarem ouvindo um relato amigável sobre a vida destas pessoas, como fica evidente na notícia publicada no dia 10 de Setembro: “(Til Schweiger) Esta é minha nova paixão”. O título reconstitui um momento de apresentação, como se o autor estivesse introduzindo a namorada para os seus amigos. O critério de proximidade geográfica e cultural, destacado acima por Amaral (2006), pode ser percebido também nas notícias. As celebridades são conhecidas no espaço nos quais os leitores vivem, sendo, em sua maioria, de origem alemã, ou com fama no país. A única que não se encaixa neste contexto nacional é a mãe dos óctuplos, porém sua fama internacional pelo fator extraordinário torna-a também próxima da realidade dos leitores: o grande espaço fornecido pela mídia para o assunto gerou conhecimento da história de modo amplo, gerando proximidade e, como já citado, até intimidade com a personalidade em questão. Além disso, a notícia “Contemporâneos relembram a queda do muro” diz respeito igualmente a um cenário próximo e conhecido: a situação de divisão que viveu o país até cerca de 20 anos atrás. A presença de notícias curiosas encaixa-se no âmbito do entretenimento, mas também do singular, do extraordinário. Ou seja, “se um cachorro morde um homem, não é notícia, mas, se um homem morde um cachorro, aí então é notícia, e sensacional” (Amus Cummings, apud Pena, 2005, p. 90). Tais títulos podem ser relacionados também, desta forma, ao valor notabilidade, o qual Traquina (2008, p. 82), caracteriza como “a qualidade de ser visível, tangível”, estando associado à quantidade de pessoas que envolve o acontecimento (“Alemães comem cada vez mais peixe”), ao excesso/escassez (notícia relativa à mãe de óctuplos) e a inversão, segundo autor, “o contrário do ‘normal’” (“Sexta-feira tem peixe” e “Iguana-Rock!”, fator explicitado através das imagens que acompanham o título, já descritas). Já as notícias

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sobre celebridades podem ser relacionadas ao valor notoriedade, devido à importância e a evidência dos que estão em foco nas notícias. Em relação a todos os títulos da categoria “Variedades” deve-se também destacar que, considerando-se que cada capa possui um título principal, ou seja, que hieraquicamente está mais destacado, é possível perceber que apenas dois deles encontram-se na categoria citada. Os outros quatro são pertencentes a editoria “Economia e Política”, a qual ocupa a segunda posição na tabela. Tal observação comprova que, apesar da primeira ser mais numerosa nas capas da semana analisada, os títulos referentes à segunda, tem maior destaque no jornal durante o período. No entanto, o fato reflete também o contexto da semana observada: dentro de duas semanas ocorreriam eleições Federais na Alemanha, realizadas no dia 27 de setembro de 2009.

3.1.2.2 Economia e Política Quando questionado sobre qual seria a editoria mais importante do jornal BILD Hamburg, o editor-chefe regional Onken foi claro: política e desenvolvimento da cidade. O primeiro tema é comprovado pela análise como um dos mais privilegiados juntamente com economia: a editoria aqui em foco é o segundo tema mais numeroso nas capas do BILD Hamburg, com um quinto dos títulos referente a este assunto. O destaque é justificado por Onken através de características da cidade de Hamburgo: Importante é a política. Porque Hamburgo, como cidade-estado – isto é, não é um estado no que diz respeito à área, uma cidade que tem governo próprio -, tem um grande significado na região norte da Alemanha; (Hamburgo) é a segunda maior cidade do país, e, também pelo fato de termos aqui uma política de coalizão, nova na Alemanha – Preto e Verde, CDU e Verdes; [...] além disso, há os muitos projetos grandes na cidade, a Elbphilharmonie, por exemplo. Por isso a Política é muito importante e interessa às pessoas.

Em ano eleitoral, as notícias de política entram ainda mais em evidência. Os títulos da amostra refletem o período de debates e disputas pré-eleitorais no país, além de notícias econômicas de âmbito nacional. Os temas estão interligados, tendo em vista que mudanças políticas tem consequências econômicas e vice-versa. Os títulos relacionados nesta categoria estão presente nas capas do BILD Hamburg de quase todos os dias da amostra (a única capa que não apresenta notícias do gênero é a de 12.09.09, sabádo), como pode ser observado abaixo:

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08.09 - (Trabalho mal feito!) - Pensões calculadas incorretamente – Cabe a você agora também uma diferença? 09.09 - A maior aposta eleitoral de todos os tempos – Ganhe um milhão de Euros 09.09 - Economia Suiça Número 1 10.09 - A grande aposta eleitoral do BILD – Eu vou buscar o Milhão para mim! 10.09 - (Linhas de Crédito - Juros- Exploração) -Alemães pagam 512 Milhões de Euro a mais! 11.09 - Opel (um pouco) salva... mas a que preço? 11.09 - 2ª parte! Hoje Wahl-Soap no BILD.de 11.09 – Outra vez novas quedas de preços através de descontos! 14. 09- (Duelo amigável (aconchegante) em vez de luta eleitoral) Sim, nós bocejamos! Como citado na secção anterior, a categoria aqui analisada detém quatro títulos principais, do total de seis pertencentes ao BILD Hamburg, definidos de acordo com a metodologia já esclarecida. Destes, três são relacionados às eleições e um à economia, todos enfatizando em seus títulos conseqüências ou repercussão direta dos fatos que estão noticiando. Segundo Amaral (2006, p. 61), tal fato constitui uma característica dos produtos dirigidos às classes populares, os quais “tendem a priorizar o que está relacionado com o mais próximo e concreto da vida do leitor” (utilidade). A característica é evidenciada quando da análise de tais títulos principais. No primeiro, pertencente ao dia 08.09, o destaque para a aplicação prática da notícia fica evidente através da pergunta: “Cabe a você agora também uma diferença?” O espaço ocupado pelo título na capa é, neste caso, maior que o utilizado pela reportagem na parte interna do jornal. É possível perceber que o fato encontra-se na primeira página por sua aplicação e repercussão direta e não por sua extensão ou complexidade. A ênfase é na utilidade: possibilitar ao leitor saber se tem direito à diferença e como proceder caso a resposta seja afirmativa. O segundo título principal traz também outro aspecto peculiar dos jornais populares, a realização de promoções como forma de atrair os leitores. Desta forma, a frase “A maior aposta eleitoral de todos os tempos – Ganhe um milhão de Euros” não só enfatiza, como o título acima analisado, a conseqüência de ordem prática (prêmio) como anuncia o início de uma nova promoção referente às eleições. A notícia evidencia um modo peculiar do jornal de atrair os leitores para o tema, no caso, os pleitos eleitorais. A iniciativa faz parte de uma

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campanha lançada pelo jornal chamada “Ich bin dann mal wählen” (em português, “Então eu vou votar desta vez”) para incentivar os leitores a irem às urnas 62. A promoção premia com a quantia aquele(s) que acertar(em) a porcentagem obtida pelos cinco maiores partidos nas eleições federais, que definem a ocupação das cadeiras do Parlamento. O participante deve também comprovar que votou nas eleições principais e realizar a “aposta” até o final do dia 21 de Setembro 2009, seis dias antes do pleito no país, marcado para 27 de Setembro daquele ano. Da mesma maneira que as anteriores, o terceiro título principal, referente à Opel, realça as conseqüências diretas da decisão política de salvar a fabricante alemã de automóveis. A ênfase pode ser percebida através da frase “mas a que preço?”. O jornal seduz os leitores através da proposta de esclarecimento e explicação do fato: no caso, conseqüências para o Estado, para os trabalhadores da empresa e para os contribuintes (os quais, na reportagem, são divididos através de subtítulos). O acontecimento é também de grande repercussão. O último título principal pertencente a esta categoria, publicado no dia 14.09, não diz respeito a conseqüências, mas a repercussão do fato, no caso, do debate realizado entre os dois principais candidatos a chanceler do país: Ângela Merkel e Frank-Walter Steinmeier. A reportagem resume o debate televisionado e adiantado através do título, o resultado: “Duelo amigável em vez de luta eleitoral - Sim, nós bocejamos!”. Dentre os cinco títulos restantes (secundários nas capas), o enfoque prático pode ser notado em outros dois deles: “A grande aposta eleitoral do BILD – Eu vou buscar o Milhão para mim!” e “Outra vez novas quedas de preços através de descontos!”. No primeiro, a frase torna ação e conseqüência claras: eu participo da aposta do BILD e eu vou arrebatar o prêmio. Já no segundo, o foco está nos descontos de produtos em supermercados. Somado aos outros títulos com tal característica analisados acima, seis dos nove títulos desta categoria destacam a praticidade, sendo três deles principais, o que demonstra ser esta uma proposta do impresso ao tratar de notícias relacionadas à economia e política: o maior destaque é dado àquelas notícias que tem conseqüências claras (diretas) ou grande repercussão no país. Os outros três títulos secundários não possuem aplicação prática, mas, da mesma forma que os anteriores, apresentam as notícias de formas claras e simples: “Economia Suíça Número 1” (nota sobre as mais competitivas economias do mundo) “Alemães pagam 512 Milhões de Euros a mais!” (nota sobre lucros dos bancos com juros e linhas de crédito) e “2ª parte! – Hoje Novela Eleitoral no BILD.de” (notícia com foto sobre novo vídeo referente as

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Na Alemanha, as eleições são facultativas, estando aptos para exercer o direito os cidadãos acima de 18 anos.

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eleições no site do jornal). Assim, é possível perceber que a capacidade de simplificação, citada por Amaral como critério de noticiabilidade típico dos jornais populares, pode ser relacionado aos títulos. Traquina (2008, p. 91) também disserta sobre o valor, relacionando-o como de construção, da seguinte forma: “por valores-notícia de construção entende-se os critérios de seleção dos elementos dentro do acontecimento dignos de serem incluídos na elaboração da notícia.” Ainda de acordo com o autor, a simplificação pertence a esta categoria e foi identificada por Ericson, Baranek e Chan (apud Traquina, 2008), determinando ela que quanto menos complexa uma notícia, mais chance ela tem de ser compreendida e notada. Este valor pode ser identificado em todos os títulos do BILD Hamburg pertencentes à categoria em análise. O critério de personalização pode ser também relacionado às notícias. Compilados por ambos os autores, Amaral (2006) define o valor como típico dos veículos populares, porém Traquina (2008, p. 92) igualmente disserta sobre ele: “Por personalizar, entendemos valorizar as pessoas envolvidas no acontecimento: acentuar o fator pessoa”. No “A grande aposta eleitoral do BILD – Eu vou buscar o milhão para mim!”, a notícia é um desdobramento do título do dia anterior “A maior aposta eleitoral de todos os tempos- Ganhe um milhão de euros”. Nela, pessoas públicas como cantores populares e boxeadores, e pessoas comuns, como uma estudante de Munique, informam que vão participar da promoção, funcionando como um incentivo para os outros leitores participarem. Segundo Traquina (2008, p.92), “inúmeros estudos sobre o discurso jornalístico apontam para a importância da personalização como estratégia para agarrar o leitor porque as pessoas se interessam por outras pessoas”. O autor afirma também que quanto mais personalizada uma notícia, maior a chance de ela ser notada. O mesmo acontece na iniciativa anunciada no título “2ª parte! - Hoje Novela Eleitoral no BILD.de”. Na seqüência de vídeos intitulada “Zeit der Entscheidung” 63 (Tempo de Decisão), é evidenciado como a política influencia a vida das pessoas, personificando os temas através dos personagens da pequena novela. O título faz uma ligação do meio digital com o impresso, remetendo o leitor a acessar o site do periódico para visualizar o material. A criação de enredos facilita o entendimento dos conteúdos de política apresentados no jornal, simplificando-os, além de evidenciar as propostas dos cinco maiores partidos: o final do 63

BILD. So funktioniert die interaktive BILD.de-Wahl-Soap. [S.l.], 2009. Disponível em: http://www.bild.de/BILD/politik/2009/09/03/wahl-soap/erste-interaktive-wahl-soap.html Acesso em: 02 jun 2010.

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material audiovisual é aberto e interativo, podendo o usuário escolher entre cinco finais referentes aos partidos CDU/CSU, SPD, FDP, Grüne ou Die Linke. Assim, é possível perceber que o título é uma mera remissão a uma iniciativa digital, porém que se encontra interligada com o impresso: uma vez que o leitor compreenda melhor o universo político, ele entenderá mais facilmente as reportagens sobre o assunto veiculados no jornal, daí, provavelmente, o destaque da notícia na primeira página. Desta forma, é possível perceber que além do valor-notícia de construção personificação, o de consonância encontrase também relacionado a este material. Segundo Traquina (2008), “quanto mais uma notícia se insere numa ‘narrativa’ já estabelecida, mais possibilidades a notícia tem de ser notada”. Os vídeos criam uma narrativa, a fim de chamar a atenção do leitor para os temas eleitorais em pauta naquele mês. Portanto, de maneira geral, os títulos referentes à economia e política publicados na amostra possuem enunciados simples e diretos, refletem o período eleitoral pelo o qual o país passa naquele momento e enfatizam o aspecto prático e direto da reportagem ou sua repercussão. Os valores notícia simplificação, personalização e consonância podem ser identificados nas notícias apresentadas, sendo que o primeiro é o único evidente em todos os títulos da amostra.

3.1.2.3 Polícia e Crimes A categoria Polícia e Crimes é a terceira mais privilegiada da amostra, juntamente com Esportes, que possui o mesmo número de títulos que a primeira: seis, o que representa cerca de 13,3% do total. Os títulos aqui relacionados são os seguintes: 08.09 - Exército Federal mata piratas 09.09 - Processo contra Demjanjuk na prisão? 12.09 - Cada vez mais crimes econômicos na Internet. 14.09 - (S-Bahn- Drama) Pisoteado até a morte, porque protegeu crianças. 14.09 - Homicida enterrado sem cérebro 14.09 – Pelo menos 30 civis mortos no ataque aéreo da OTAN! Através da análise das frases acima, é possível perceber que três delas estão relacionadas diretamente à morte: valor-notícia de seleção, enquadrado nos critérios

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substantivos, segundo Traquina (2008). Os títulos “Exército Federal mata piratas”, “(S-BahnDrama) Pisoteado até a morte, porque protegeu crianças” e “Pelo menos 30 civis mortos no ataque aéreo da OTAN!”, podem ser nele enquadrados. O autor destaca que Wolf divide os critérios de seleção em dois subgrupos: substantivos e contextuais, sendo o primeiro relacionado “à avaliação direta do acontecimento em termos de sua importância ou interesse como notícia.” A morte é destacada por Traquina (2008, p. 79) como valor-notícia fundamental: “Onde há morte, há jornalistas”. Outro critério que pode ser observado é a notoriedade, o qual define que “o nome e a posição da pessoa são importantes como fator de noticiabilidade” (TRAQUINA, 2008, p. 81) No caso, o valor pode ser identificado também em quatro dos seis títulos. No primeiro, referente a “Exército Federal mata piratas” o critério é observado por parte do agressor (Exército Federal), assim como no título publicado em 14 de Setembro daquele ano: “Pelo menos 30 civis mortos no ataque aéreo da OTAN”. Na frase que diz respeito a John Demjanjuk, o valor é percebido no próprio réu, que se tornou famoso ao ser acusado de ter sido guarda em um campo de concentração nazista na época de Hitler e cúmplice na morte de cerca de 28 mil judeus. Finalmente, no “Homicida enterrado sem cérebro”, o título diz respeito a um adolescente que, numa crise de loucura, matou cerca de 16 pessoas no sudoeste da Alemanha. O fato teve espaço em jornais de todo o mundo e daí, a notoriedade do envolvido. É possível perceber também a característica de dramatização, relacionada conforme já mencionado, aos periódicos populares. O critério é identificado em cinco dos seis títulos analisados, excluindo-se somente o publicado no dia 12 de setembro daquele ano. Segundo Amaral (2006, p. 119), “dramatizar é tornar um fato interessante e comovente como um drama, apresentando-o sob aspecto trágico ou evocando-o com cores mais vivas do que as que realmente têm.” A autora afirma que tal fato faz parte do papel do jornalista, no entanto, limites devem ser levados em conta para não se exagerar na hora de contar uma história. Dos cinco títulos enquadrados neste aspecto, dois parecem ultrapassar a barreira mencionada pela autora: “(S-Bahn- Drama) Pisoteado até a morte, porque protegeu crianças” e “Homicida enterrado sem cérebro”. Na primeira, a descrição do modo do assassinato não tinha necessidade de ser explicitada e poderia ser suprimida ou escrita de modo menos agressivo. Já na segunda, a reportagem revela que os pais do assassino em questão cederam o cérebro do adolescente para a ciência. Desta forma, o foco não precisava estar no fato de o menino ser enterrado sem o órgão, mas sim, de o cérebro ter sido cedido para análise científica.

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Por fim, quatro dos títulos desta categoria podem ser enquadrados no critério de noticiabilidade infração que, segundo Traquina (2008) refere-se à violação de normas. No caso da notícia “Cada vez mais crimes econômicos na Internet”, índices são enfatizados, em detrimento das particularidades de cada transgressão, o que não acontece nos outros três títulos: “Exército Federal mata piratas”, “(S-Bahn- Drama) Pisoteado até a morte, porque protegeu crianças” e “Pelo menos 30 civis mortos no ataque aéreo da OTAN!”, os quais enfatizam os acontecimentos e não estatísticas. Os outros dois títulos neste critério ainda não comentados - Processo contra Demjanjuk na prisão?”e “Homicida enterrado sem cérebro”-, são continuações de fatos já anteriormente noticiados e não noticiam os crimes em si. Desta forma, os títulos enquadrados nesta categoria estão relacionados a critérios como morte, notoriedade, dramatização e infração, tendo dois dos seis descrição excessivamente detalhada do modo de assassinato e enfoque desnecessário em aspectos chocantes, como já analisado. A dramatização das notícias é aspecto freqüente e recorrente em todos os títulos, com exceção de apenas um. A análise dos títulos evidencia também que a terceira editoria mais privilegiada relata crimes, índices ou repercussão de notícias policiais já anteriormente publicadas, tendo maior espaço (possuem mais títulos relacionados) aquelas com potencial de dramatização e não as referentes a índices ou números.

3.1.2.4 Esporte A grande quantidade de espaço para notícias referentes ao assunto foi destacada na parte inicial deste capítulo e é corroborada agora através da análise das capas. A editoria de esportes está entre as quatro mais privilegiadas no jornal, reprensentando, igualmente como Polícia e Crimes, 13,3% dos títulos. A unanimidade de notícias referentes a Futebol na amostra, revelam a modalidade ser a de maior destaque dentro de sua categoria, conforme pode ser observado abaixo: 08.09 - (3 x 1 contra a Noruega) - Siiim! Nossas mulheres na final do Campeonato Europeu. 09.09 - So cool são nossas mulheres do futebol 10.09 – 4 x 0 - Jogi clamou o despertar da Alemanha 11.09 - (Alemanha- Inglaterra) 6 x 2 11.09 - (HSV- Choque) Guerrero - 6 meses de Pausa 14.09 - (HSV & Pauli fortes como nunca) Hamburgo em “êxtase-futebolística”

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Tal hegemonia pode ser relacionada a popularidade da prática na Alemanha, que, de acordo com Silva e Santos (2006), poder ser considerada, assim como o Brasil, o país do futebol. Sobre a popularidade do esporte nos países, os autores escrevem: (..) por volta de 1919 no Brasil e em torno de 1922 na Alemanha- o futebol já é um esporte de massas, mobilizando milhares de pessoas e enchendo estádios especialmente construídos para este esporte. Mais importante de tudo: a partir dos anos 20 do século XX, o futebol é, em ambos os países, um esporte popular, praticado nas escolas, nas ruas e nos campos improvisados. (SILVA E SANTOS, 2006, p. 17)

Desta forma, é possível perceber que o destaque dado ao assunto se deve, além de outros fatores, a um cenário que se constituiu através de anos, em que o futebol tornou-se modalidade popular entre os alemães. No entanto, as notícias acima relacionadas se encaixam também em alguns dos critérios de noticiabilidade dos jornais populares citados por Amaral (2006): capacidade de entretenimento, proximidade geográfica ou cultural do leitor, potencial de simplificação e possibilidade de ser narrado dramaticamente. A capacidade de entretenimento e a proximidade cultural é evidente tendo em vista a popularidade do esporte no país e, por conseguinte, na cidade da publicação em questão, Hamburgo. A proximidade geográfica é maior nos dois títulos referentes aos times locais HSV e St. Pauli, publicados nos dias 11 e 14 de setembro. Porém, os outros quatro também possuem a característica, visto que referem-se a seleção do país e seu avanço no campeonato europeu, espaço geográfico próximo e conhecido. A dramatização é também um recurso utilizado pelo jornal ao se referir ao assunto. O esporte gera emoção para quem acompanha os jogos, e em três dos seis títulos da amostra é possível perceber claramente isso, sendo eles: “Siiim! Nossas mulheres na final do Campeonato Europeu”, “Jogi clamou o despertar da Alemanha” e Hamburgo em “êxtasefutebolística”. No primeiro, o “siiim” representa um grito de comemoração, que é evidenciado pela pontuação e a repetição da vogal tônica. No segundo, o vocábulo “clamou”, juntamente com a imagem que acompanha o título (foto do treinador com a boca aberta, como se estivesse gritando e a mão levantada), demonstram igualmente sentimento e emoção. Por fim, no terceiro título, a expressão que demonstra a dramatização é “êxtase-futebolística” Além disso, as notícias relacionadas ao tema tem grande potencial de simplificação: o futebol é por si só, um esporte de fácil entendimento, com apenas 17 regras. Num país onde a modalidade é popular, o funcionamento do esporte é conhecido e não necessita explicação.

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Desta forma, as notícias informam resultados, repercussões de jogos e mudanças concretas nos times, como jogadores lesionados, venda ou compra deles. A única exceção entre os títulos é “So cool são nossas mulheres do futebol”, em que o jornal apresenta pequenos perfis das “heroínas” que chegaram a final do Campeonato Europeu feminino, a realizar-se no dia seguinte ao da publicação, contra a seleção da Inglaterra. Assim, é possível relacionar o valor-notícia personalização à reportagem, além de uma “celebrização das jogadoras”, ou seja, um tratamento das integrantes da equipe como celebridades. Sobre tal fator, ratifica Smart (2005, p. 102, tradução nossa): “No âmbito da força cultural e comercial formado pela estreita articulação do esporte, da televisão e do patrocínio, o caráter do herói esportivo tem sido substituído pela figura da celebridade da estrela do esporte”. A ampliação e evidência do assunto deve-se também ao momento (final de campeonato), onde o nacionalismo e união afloram no país. Como enfatiza Schubart (2009, p. 36, tradução nossa): As nações como construções simbólicas tem necessidade permanente de serem reproduzidas de maneiras incontáveis e na maioria das vezes não espetaculares através de rotinas do dia a dia e interações. Os esportes se ajustam bem a essa demanda porque, por um lado, um imenso número de pessoas está associado a isto através da presença nos estádios ou através dos meios de massa, e porque suas ‘contribuições narrativas’ por outro lado são mais facilmente relacionadas a estereótipos culturais e nacionalistas que outros fenômenos sociais

Apesar de o autor afirmar que, na maioria das vezes, as manifestações relacionadas ao futebol caracterizam-se como não espetaculares, observa-se hoje grande espetacularização da mídia em relação aos grandes times e campeonatos, como evidenciado nos títulos. No entanto, voltando às características gerais dos títulos, além dos fatores já apresentados, o futebol é, segundo Murad (2007, p. 14), “o esporte mais popular do planeta. Envolve direta e indiretamente bilhões de pessoas, entre praticantes amadores, atletas profissionais, torcedores e incaculáveis recursos humanos (...)” Desta forma, a atividade mobiliza um grande número de pessoas e este, segundo Amaral (2006), representa também um critério de noticiabilidade, porém citado pela autora como próprio dos veículos de referência. Outro fator que deve ser salientado é a participação da editoria de esporte na popularização dos jornais. De acordo com Conboy (apud Boyle, 2006, p. 35, tradução nossa), “a capacidade de narrativas esportivas serem desenvolvidas num âmbito amplo de história popular foi um elemento crucial na popularização dos jornais com crescimento de leitores”. O periódicos que nasceram em Nova York nas décadas de 1880 e 1890 eram caracterizados pela informação e entretenimento, e o esporte fazia parte desssa segunda função.

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Sendo assim, os títulos aqui enquadrados, além de evidenciarem a popularidade do futebol na Alemanha, possuem valores-notícias característicos de jornais populares como capacidade de entretenimento, proximidade geográfica ou cultural do leitor, potencial de simplificação e possibilidade de ser narrado dramaticamente. O envolvimento de um grande número de pessoas no assunto constitui também um critério de noticiabilidade. Além disso, os jogadores são tratados pela mídia, muitas vezes, como celebridades.

3.1.2.5 Emprego e Serviços Com apenas quatro notícias pertencentes a esta categoria, a editoria representa, juntamente com Saúde, 8,9% dos títulos da amostra. As notícias aqui relacionadas dizem respeito ao trabalhador ou oferecem informações de aplicabilidade direta com o cotidiano dele. Empregos e Serviços encontra-se entre as três categorias menos privilegiadas no jornal BILD Hamburg e constitui-se pelos seguintes títulos: 08.09 - Hartz IV - Beneficiários não estão dispostos a se relocar 10.09 - O chefe dos transportes Grube apresenta-se aos leitores do BILD 10.09 - Quase um a cada dois vai trabalhar mesmo doente 12.09 – O tempo na Alemanha Entre os títulos, dois relacionam-se a emprego, sendo eles: “Hartz IV - Beneficiários não estão dispostos a se relocar” e “Quase um a cada dois vai trabalhar mesmo doente”. Ambos, no entanto, não apresentam aplicabilidade prática e constituem apenas informações que dizem respeito aos trabalhadores. Ambos os títulos se relacionam ao valor-notícia notabilidade, neste caso, através do registro de inversão, que, segundo Traquina (2008), é definido como “o contrário do ‘normal’”. No primeiro, o esperado é que os beneficiados desejassem se relocar, arrumar um novo emprego, o que, no entanto, não ocorre. Da mesma forma no segundo: o regular seria os trabalhadores doentes não dirigirem-se ao emprego, porém, de acordo com a reportagem, 50% exercem seus ofícios mesmo debilitados. As outras duas notícias têm como foco o serviço. A primeira, referente ao chefe dos transportes, propõe que os leitores enviem duas perguntas (através de carta ou email) para a redação principal do BILD, em Berlim. Na semana seguinte, as dúvidas mais freqüentes seriam respondidas pelo chefe dos transportes, Rüdiger Grube, e publicadas no jornal. A

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notícia constituía-se, desta forma, um veículo de esclarecimento para os leitores, servindo de intermediário. Já o título que informa a previsão do tempo na Alemanha, não busca gerar esclarecimento, mas informar sobre fato que interfere diretamente no dia a dia. A notícia é informação pura e simples. Tais títulos estão relacionados ao valor-notícia utilidade, típico do segmento popular, segundo Amaral (2006), devido a aplicabilidade prática e direta. É interessante ressaltar também, que a reportagem referente ao chefe dos transportes, gera no leitor a impressão de proximidade com a autoridade: eu posso mandar perguntas e obter respostas. E, para o receptor, o responsável por isso foi o jornal, o BILD.

3.1.2.6 Saúde Conforme já explicitado, à editoria “Saúde”, destina o jornal BILD Hamburg, o mesmo número de títulos que à anteriomente analisada (Empregos e Serviços). As quatro notícias aqui relacionadas são as seguintes: 08.09 - (Pílula do dia seguinte) – Agora ela faz efeito em até 5 dias 09.09 - Está a caminho a vacina contra o Câncer de Próstata? 12.09 - (Gripe Suína) – Primeira vacina em 4 semanas 14.09 - Em breve pílula contra álcool? Os títulos relacionados a esta categoria enfocam temas que dizem respeito a realidade dos leitores. Em relação a primeira notícia, a pílula do dia seguinte é receitada e vendida na Alemanha somente sob prescrição médica e, segundo pesquisa com 2,5 mil jovens entre 14 e 17 anos, divulgada em 2002, 8% destas adolescentes alemãs já a usaram alguma vez (Deutsche Welle). O segundo título, refere-se ao câncer de próstata, doença que atinge 60 mil alemães a cada ano, segundo a própria notícia. Já o terceiro diz respeito ao vírus da Gripe Suína, o qual configurou uma pandemia mundial em 2009, matando cerca de 18 mil pessoas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde referentes a 7 de maio de 2010. Por fim, a última notícia desta categoria refere-se, da mesma forma, a um problema de dimensão mundial, o alcoolismo. Tais fatores podem ser relacionados ao valor-notícia relevância, que segundo Traquina (2008), “responde à preocupação de informar o público dos acontecimentos que são importantes porque têm um impacto sobre a vida das pessoas.” No entanto, dois deles não

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possuem

aplicabilidade

prática,

pois

constituem

somente

pesquisas

ainda

em

desenvolvimento, sendo eles: “Está a caminho a vacina contra o Câncer de Próstata?” e “Em breve pílula contra álcool?”. Assim, o critério relevância não pode ser aplicado a todos os títulos relacionados nesta categoria, pois não possuem um impacto sobre a vida das pessoas, visto que ainda não há concretude dos acontecimentos. Desta forma, é possível afirmar que todas as notícias dizem respeito à realidade mundial ou nacional, mas nem todas possuem relevância. Da mesma forma, os valores-notícia novidade e notabilidade podem ser também relacionados aos títulos. O primeiro, segundo Traquina (2008) pode ser definido como “o que há de novo”. O fato pode ser comprovado a partir da análise das manchetes acima citadas e de seus enfoques: novo medicamento, pesquisa para possível vacina, data de vacinação nacional e pesquisa para pílula contra alcoolismo, respectivamente, de acordo com a data de publicação. Já o critério notabilidade possui, ainda segundo o autor, um registro correspondente a grande quantidade de pessoas envolvidas, o que já foi comprovado segundo os dados apresentados nos parágrafos anteriores. As notícias caracterizam-se também por constituírem espécie de “cultura de almanaque” relacionadas ao singular, extraordinário, configurando quebra do normal e, assim, relacionando ao registro inversão do critério notabilidade. Já de acordo com os critérios de noticiabilidade característicos do jornalismo popular citados por Amaral (2006),os quais já foram aqui especificados, as notícias podem ser relacionadas a dois deles: ser útil e próximo geográfica e culturalmente do leitor. Os dados relacionados no início desta secção comprovam que os temas das notícias são parte da realidade e, portanto, possuem proximidade geográfica e cultural. Já o valor utilidade, pode ser relacionado somente a dois deles: “(Pílula do dia seguinte) Agora ela faz efeito em até 5 dias” e “(Gripe Suína) – Primeira vacina em 4 semanas”, pois constituem os únicos a ter aplicabilidade imediata.

3.1.2.7 Local A categoria “Local” é a menos privilegiada pelo BILD Hamburg, com apenas dois títulos nas capas da semana avaliada, sendo eles os seguintes: 11.09 - Novo aborrecimento nos trens! Limite de velocidade para 760 trens regionais.

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12.09 - Forte tumulto após manifestação da NPD em Hamburgo As notícias dizem respeito a fatores próximos geograficamente dos leitores, um valornotícia que é citado por Amaral (2006) como característico dos veículos populares. Entre os critérios destacados pela autora como específicos do gênero, os valores utilidade e capacidade de simplificação também podem ser associados às notícias, porém não a todas. O primeiro (utilidade) relaciona-se somente ao título publicado no dia 11 de setembro, visto que outro relata acontecimento passado, sem reflexo direto no cotidiano das pessoas naquele momento. O segundo (simplificação) pode ser relacionado ao texto referente ao tumulto: a notícia apresenta uma cronologia da manifestação através de itens, evidenciando exatamente o ocorrido, passo a passo. O primeiro título não necessita de simplificação, pois o é por si só: o limite de velocidade dos trens intermunicipais foi reduzido de 160 para 125 km/h. Já entre os valores-notícias relacionados por Traquina (2008) os quais não foram acima citados, podem relacionar-se os títulos aos critérios notabilidade e inesperado. A quantidade de pessoas envolvidas nos fatos comprovam a relação das notícias com o primeiro critério. O título referente aos trens influi na vida de milhares de pessoas e o relacionado ao tumulto, ocorre após manifestação que envolveu cerca de 2.700 pessoas diretamente e mais milhares indiretamente (engarrafamentos e etc). O valor inesperado também é justificado devido a ambas as medidas fugirem do padrão: o normal de velocidade dos trens regionais é 160 e sofreu mudança; da mesma forma, manifestações não acontecem diariamente na cidade, muito menos do porte que a noticiada apresentou (cerca de 2.700 pessoas envolvidas).

69

4 Diário Gaúcho Com trajetória ainda recente, o jornal Diário Gaúcho completa no ano de 2010, uma década de existência. Apesar de muito mais novo que o periódico alemão BILD, o Diário Gaúcho encontra-se consolidado hoje no mercado brasileiro de comunicação: dados refentes a 2009, mostram que o jornal situa-se entre os dez maiores do Brasil, ocupando a oitava posição, com cerca de 155 mil exemplares vendidos ao dia (INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO apud ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS) 64. Em relação a este dado, é importante ressaltar que o Diário Gaúcho alcança tal posição mesmo tendo circulação principalmente em Porto Alegre e Região Metropolitana, sem presença significativa no interior do Rio Grande do Sul. Quando do lançamento em abril de 2000, 95 mil exemplares foram disponibilizados nas bancas. Em apenas dois meses, o periódico atingiu níveis semelhantes aos atuais, cerca de 180 mil (INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO apud AMARAL, 2006). Ao longo desses dez anos, o jornal apresentou algumas mudanças: incorporou seções e retirou outras, adaptando-se de acordo com os interesses dos leitores. Alexandre Bach, Gerente-Executivo de Produto do Segmento da Maioria do Grupo RBS (Diário Gaúcho e rádios Cidade, Farroupilha e Rural), enfatiza que a exigência do público é sempre a mesma: o jornal deve ser bom. No entanto, tais interesses mudam, devido inclusive ao momento econômico pela qual o país passa, e o jornal deve estar atento a isso. As alterações do DG foram editoriais, diretamente relacionadas a determinadas editorias, e não modificaram o modo de apresentação dos fatos, o texto ou o número de páginas 65. De acordo com Bach, que acompanha o jornal desde seu lançamento 66, os pilares-básicos que formam o jornal continuam os mesmos. Tal fato é corroborado pelo texto publicado na edição de 17 de abril de 2010, em comemoração aos dez anos do jornal. Muito obrigado! Você já deve ter percebido que esta é uma edição mais do que especial do Diário Gaúcho. Não é apenas pela comemoração dos dez anos. É a renovação dos nossos compromissos em oferecer aos leitores um jornal surpreendente, vibrante, útil, de 64

Dados referentes à circulação média diária no periodo de janeiro a dezembro de 2009. Como forma de atualização, é importante ressaltar que em março de 2010, o jornal Diário Gaúcho passou a ser impresso em um novo Parque Gráfico do Grupo RBS, o qual permitiu que sua impressão, a partir daquele dia, totalmente em cores. O projeto gráfico sofreu também modificações, alterando-se os cabeçalhos e certos detalhes gráficos. A capa não sofreu grandes modificações. Algumas seções foram também ampliadas (como O Que Há de Novo, Seu Problema é Nosso, Com a palavra, Leitor e Retratos da Fama) e' a coluna Ponto Final foi incorporada ao cabeçalho da contracapa. 66 O jornalista era editor-adjunto quando do lançamento, posteriormente, ocupou o cargo de editor-chefe (2003 a 2009), sendo hoje gerente-executivo. 65

70

linguagem simples e capaz de retratar boas histórias dia após dia. Queremos dividir com você a nossa alegria pela jornada de sucesso que começou em 17 de abril de 2000. Muita coisa mudou na última década, mas o Diário Gaúcho manteve firmes todos os pilares fixados desde a primeira edição. Entre eles, o de facilitar a vida das pessoas, com serviços, dicas de diversão e interatividade, e de chorar de emoção ou de tristeza em muitos momentos. (DIÁRIO GAÚCHO, 2010).

O texto ratifica a permanência de conceitos e premissas-chave do DG, enfatizando, como também já destacado por Bach, que as alterações sofridas pelo jornal desde o seu lançamento não tiveram influência em sua filosofia e valores. Segundo o gerente-executivo, Bach, o Diário Gaúcho baseia-se principalmente em três premissas: comunicação com o leitor (no sentido de estar aberto a eles), utilidade e bom humor. Os leitores são um pilar à medida que pautam os assuntos que se encontram no periódico (não por escreverem nele) e, segundo o jornalista, esse é um ponto que não se pode relegar. No âmbito da utilidade, o jornal procura informar de modo a enfatizar aquilo que afeta a vida das pessoas. O bom-humor é outro fator salientado pelo profissional. Segundo ele, o DG é um jornal divertido, alegre, não só por causa das cores, das fotos e da parte de variedades. Ele enfatiza que a equipe sempre procura fazer um jornal de alto astral. Porém, evidentemente, ele destaca que existem momentos em que isto não é possível, como, por exemplo, quando acontece alguma tragédia. No entanto, segundo o Gerente-Executivo, de maneira geral, o jornal procura ser bem humorado e descontraído. Os valores destacados por Bach podem ser também identificados no texto de apresentação do jornal através das afirmações: busca por “facilitar a vida das pessoas” (utilidade), “dicas de diversão e interatividade, e de chorar de emoção ou de tristeza em muitos momentos” (comunicação com o leitor e emotividade). O Diário Gaúcho, ou DG, como informalmente também é conhecido, é hoje comercializado a 75 centavos de Real e circula principalmente na cidade de Porto Alegre e Região Metropolitana. O jornal possui formato tablóide (28,8cm x 37,5cm) não possui assinatura e é vendido de forma avulsa em pontos diversos da cidade. Segundo Bach, a última pesquisa do Instituo Marplan evidencidou que o periódico possui cerca 1,3 milhão de leitores, o que significa 66% dos leitores de jornais da região. O DG possui redação própria (fotógrafos e repórteres), porém está sempre interligado com outros jornais do Grupo RBS, sendo comum reportagens permutarem de um para o outro, principalmente entre Zero Hora e Diário Gaúcho, alterando-se apenas a linguagem do texto, compartimentando-o e/ou substituindo-se alguns termos. Segundo o editor-chefe do jornal, Cláudio Thomas, o Diário Gaúcho é um jornal diferenciado em relação aos demais jornais. Primeiramente, em relação ao público que se destina, pois, desde seu lançamento, o DG tem como foco trabalhar com leitores da classe C,

71

D e E. Thomas ressalta que a publicação é calcada em pontos como serviço, entretenimento, esporte (profissional e amador) e segurança pública (polícia). O jornal tem como uma de suas estratégias a realização de promoções, sendo o “Junte e Ganhe” a mais popular e de caráter permanente. Nela, o acúmulo de selos possibilita a troca por kits de panelas ou outros utensílios. Os brindes são sazonais. O jornal popular do Grupo RBS tem quantidade de páginas variadas (de 28 à 40 no período analisado) e não possui nenhum caderno além do principal. A publicação apresenta-se em cores virantes e tem forte presença de imagens. Seu estilo informal e diferença em relação aos veículos tradicionais evidencia-se também em outras escolhas gráficas: a presença de ilustrações é frequente, balões de fala é um recurso aqui utilizado, além de bonecos em formato de círculo e o peculiar resumo da notícia, característico do periódico (vide figura 12, 13, 14 e 15). Em relação às ilustrações, elas aparecem difusas pelas páginas do jornal, sendo um ponto marcante da publicação. Elas estão presentes em selos sazonais como a do Acampamento Farroupilha, mas também em permanetes, como a imagem ao lado do santo do dia, na seção Bom Dia, publicada diariamente na Figura 12 - Selo do Acampamento

página dois. Os desenhos situam-se Farroupilha

Fonte: Diário Gaúcho,

também nas caricaturas dos colunistas, 14 de Setembro 2009 na parte de esportes (na avaliação do

desempenho dos jogadores, ali chamados de “boleiros”), na seção presságios (a qual apresenta ilustrações de cada signo e outras imagens relacionadas ao assunto), além de serem também freqüentes na seção de empregos, variedades e na publicação como um todo. A Figura 13 – Desempenho dos “Boleiros” Fonte: Diário Gaúcho, 31 Agosto de 2009

característica alude a um estilo lúdico

de

apresentação

das

notícias, que busca traduzir um

pouco do que está expresso na reportagem ou seção através de figuras. Os balões de fala demonstram igualmente tal Figura 14 – Balões de fala no depoimento dos jogadores

característica, além de evidenciarem um padrão pouco Fonte: Diário Gaúcho, 14 de convencional de apresentação de depoimentos dos jogadores.

Setembro 2009.

72

Já o resumo da notícia (figura 13), concentra o lead do assunto retratado em um box, o qual está presente nas reportagem de maior valor hieráquico. O formato de apresentação condensa

o

conteúdo

e

permite

um

maior

entendimento ao leitor que, assim, pode saber de forma sucinta sobre o assunto e continuar a ler somente se for de seu interesse. As fotos de entrevistados ou personagens centrais em formato circular demonstram também que a publicação não

Figura 15 – Resumo da Notícia segue as normas e os padrões tradicionais ao Fonte: Diário Gaúcho, 11 de Setembro 2009.

apresentar seus conteúdos. Quanto ao texto, o Diário Gaúcho busca construir seus relatos de forma simples, com construções lineares. De acordo com o manual de redação do próprio jornal 67, datado de agosto de 2005 e ainda vigente, sete princípios devem ser observados ao se escrever o texto: “1) O texto do Diário Gaúcho deve ser claro, simples e preciso. Deve ser construído como um meio termo entre a linguagem falada e a linguagem literária. Com uma restrição: o repórter nunca deve escrever o que não diria. 2) Devem ser usadas palavras adequadas para cada descrição na reportagem. De modo geral, sempre há uma palavra par descrever uma situação. Não é proibido repetir palavras desde que seja necessário para que a narração e o significado de um fato fiquem claros ao leitor. 3) Não está proibido o uso de palavras ou termos mais elaborados ou técnicos nos textos desde que seja explicado, entre parênteses, seu significado. Mas, sempre que possível, devem ser evitados. 4) Deve, sempre, ser adotada a ordem direta na narração dos fatos. Uma história tem começo, meio e fim. E o respeito a essa situação cronológica, conduz mais facilmente o leitor à essência da notícia. 5) Os parágrafos não podem ser escritos como se fossem histórias estanques. A cada parágrafo, uma frase, uma palavra ou uma expressão deve fazer uma ligação harmoniosa com o período anterior, de forma que o texto tenha um ritmo único. 6) Um jornal é um intermediário entre o leitor e o fato, e o repórter é o agente deste processo. Assim, ao escrever, o repórter não deve colocar no texto apenas informações objetivas, coletadas com uma fonte formal. Também deve rechear o texto com detalhes observados ou obtidos informalmente durante a confecção da reportagem e que sejam importantes para se entender o contexto da situação. São esses detalhes que enriquecem o texto. O olho do repórter numa cena é o olho do leitor. 7) Está terminantemente proibido o uso de expressões ou palavras consideradas chavões. Texto simples não significa texto pobre.”

O jornal propõe-se, então, a publicar texto acessível, com parágrafos interligados. Os recursos utilizados visam à facilidade de entendimento (linearidade do texto) e reconstrução do cenário (através de descrição). Outros fatores que merecem destaque são a busca por fontes não oficiais e a linguagem proposta (“meio termo entre a linguagem falada e a linguagem 67

Brochura que circula na redação do periódico.

73

literária”). Tais premissas permitem uma inserção do leitor no contexto da notícia (descrição) e geram identificação com o jornal (linguagem). O editor-chefe do periódico, Cláudio Thomas, afirma que o estilo do texto do Diário Gaucho é o mais simples possível, um texto que qualquer pessoa leia e entenda. Ele ressalta também que, apesar de não estar presente quando da criação do projeto, é sabido que um dos pontos que era tido como meta era tornar os textos do jornal acessíveis a um público de 8 à 80 anos: “Então, nossa linguagem é direta, concisa, objetiva e clara. Mesmo que seja uma reportagem especial, o texto é simples. Pode ser elegante, mas simples, com um vocabulário que qualquer pessoa entenda. Se tiver alguma palavra de uso não comum, entre parênteses estará a tradução daquela palavra, o que ela significa.” (THOMAS, 2010)

O estilo informal evidencia-se também nas legendas, títulos e chamadas. De maneira geral 68,

eles

apresentam

flexibilidade

e

construções que fogem do padrão utilizado em jornais tradicionais, sendo comum o uso de interjeições ou pontuação para dar ênfase e oralidade a eles. Entre estas construções, Figura 16– Retratos da Fama Fonte: Diário Gaúcho, 1 de Setembro de 2009

destacam-se as legendas da seção “Retratos da Figura 17 – Retratos da Fama

Fama”, em que o “Véio” é a figura de Fonte: Diário Gaúcho, 3 de linguagem recorrente e tornou-se uma espécie Setembro de 2009

de marca do jornal. As figuras ao lado exemplificam o fato e possuem as seguintes legendas: “Como é mesmo aquele exercício com as pernocas para cima? Mostra para o Veio, Bia!” (01.09) e “O Veio ordena: mãos ao alto!” (03.09) e “O Veio ta cheio de idéias: vamos passar na floresta, enquanto seu lobo não vem?! (09.09.09). As legendas enfatizam aspectos sensuais, porém, de modo indireto. São utilizados jogos de palavras e figuras de linguagens para transmitir as idéias, que relacionam-se ao interesse sexual Figura 18 – Retratos da Fama Fonte: Diário Gaúcho, 9 de Na seção “Retratos da Fama”, publicada diariamente Setembro de 2009

ou desejo.

68

Títulos serão analisados com profundidade quando da análise das capas pertencentes a amostra (vide Recorte Metodológico).

74

na página central do periódico, encontram-se as notícias de celebridades e, com freqüência, são veiculadas fotos sensuais de mulheres famosas. O apelo erótico é mais ou menos evidente dependendo da edição do dia, como fica claro ao observar as figuras 16, 17 e 18: umas mais conservadoras e outras nem tanto. Apesar disso, diferentemente do jornal alemão, não há seios a mostra, e as fotos mais insinuam do que mostram verdadeiramente o corpo das mulheres. Dentre as celebridades retratadas na seção uma sempre é chamada de capa, fazendo com que a presença da figura feminina seja constante na primeira página do periódico. Além da página central, há também outras divisões fixas, semanais ou diárias, presentes no Diário Gaúcho. A capa e a contracapa constituem-se espaço nobre dos jornais, principalmente para aqueles vendidos de forma avulsa, como o Diário Gaúcho. Assim, a contracapa do DG traz seções diferentes a cada publicação de acordo com o dia da semana. Na segunda feira, é publicado o “De Bem com a Vida”, com reportagens que possam trazer ânimo ou melhorar o dia-a-dia dos leitores. Na terça-feira, o “Pah!” traz assuntos relacionados ao jovens. Na quarta-feira, o “Faça Você Mesmo” ensina confeccionar algum artesanato. Na quinta, o “Passeio da Família” sugere entretenimento de preço acessível. Na sexta, o “Cozinha do Diário” veicula receitas e , por fim, no sábado, é publicado o “Moda & Estilo”. As seções tratam dos assuntos de forma prática, dando dicas para os leitores, de modo que eles tenham certa utilidade. Sobre o conteúdo, assim como o periódico alemão, o jornal não apresenta indicação de editoria no topo da página, com exceção das divisões fixas, as quais possuem cartola padrão. Elas estão presentes em muitas das páginas do jornal (pois são numerosas), e, assim, de certa forma, guiam a leitura. O DG possui colunistas que escrevem periodicamente e reportagens sobre assuntos variados 69. As seções fixas diárias evidenciam alguns dos assuntos que tem espaço no jornal, sendo elas: Bom Dia e o que há de novo (publicados na página 2: o primeiro constitui uma cartola de ‘boas-vindas’, com o santo do dia e informação sobre data comemorativa e o segundo apresenta pequenas notas sobre fatos de grande repercussão mundial e nacional), Espaço do Trabalhador (informações sobre vagas e assuntos relacionados ao tema emprego), Jogo Total (referente a esporte), Presságios (horóscopo, interpretação de sonhos, etc), A Boa do Dia (eventos, festas ou sugestão de programas de televisão para distração), Ronda Policial (matérias referente à editoria de polícia) e Classidiário (anúncios). Entre as seções semanais estão “Caranga e Cia” e “Estrelas da Periferia” (ambos veiculados às terças-feiras), Planeta Moto (publicado às quartas-feiras) e Informática Fácil (nas quintas69

Assuntos privilegiados serão analisados quando da avaliação dos títulos na seção Capas do Diário Gaúcho, pertencente a este capítulo.

75

feiras) e Jardim do Diário (conteúdo infantil, veiculado nos fins-de-semana), Retratos da Vida (perfil de morador da região de abrangência do jornal) e Carta da Redação (texto escrito pelo editor-chefe enfatizando algum fato da semana). Para interação com o público, há também espaços e canais específicos. As seções Fala, Leitor”, “Página do Leitor”, “Clube dos Corações Solitários”, “Falando de sexo” e “Falando de amor” desempenham a função de diferentes formas e são publicadas todos os dias, exceto as duas primeiras, que não são veiculadas na edição de fim-de-semana.. No “Fala, Leitor”, cartas e fotos de leitores, enquetes, textos sobre pessoas que buscam familiares ou amigos são publicadas, além de um artigo sobre algum acontecimento em pauta. Já na “Página do Leitor” são publicados o “Seu Problema é Nosso”, o “Meu sonho é.. Real!!!”, o “pede-se providências”, o “meu sonho é...” e o “pergunte a quem sabe”’. O primeiro constitui-se de reportagem feita mediante telefonemas e reclamações de leitores sobre problema de responsabilidade pública o qual ainda não foi resolvido. Já o “Meu sonho é...” e o “Meu sonho é.. Real!!!” são interligados. No primeiro, cartas de leitores são publicadas com os seus desejos e, logo abaixo dele, um texto informa um contato do jornal para quem se disponha a ajudar. O periódico faz o papel de intermediário do processo. No “Meu sonho é.. Real!!!”, então, uma reportagem conta história de um sonho que foi atendido. Por fim, o “pergunte a quem sabe”’ traz informações úteis como ortografia, remédios ou outros assuntos produzidos por especialistas. Em relação às seções que funcionam como canais diários de comunicação com o leitor (veiculados inclusive na edição de final-de-semana) os assuntos tratados são mais amenos que nas seções anteriores. O “Clube dos Corações Solitários” consiste na publicação de cartas de pessoas em busca de um par. No “Falando de sexo”, o Dr. Batista responde à perguntas de leitores, sem identificá-los no periódico. Já no “Falando de amor”, Isabella Fernandez publica cartas sobre o assunto contento declarações ou procurando amores do passado, por exemplo. Ela comenta os textos e dá conselhos. A interatividade é citada no manual do jornal como um dos pilares editoriais do periódico que, como foi especificado, destina páginas e seções específicas para atendê-los. Segundo informações obtidas na redação, a editoria de Opinião, responsável pelo setor, recebe cerca de 250 cartas por mês e cerca de 30 telefonemas ao dia. Neste sentido, é importante lembrar que a interação com o público aprimorou-se, no que diz respeito ao modo de

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comunicação, com o lançamento do novo site do jornal, no ar desde o dia nove de Setembro de 2009, fato noticiado na capa do jornal da data 70. Anteriormente,

o

veiculo

possuía página online somente com conteúdo

estático

e

informações

reduzidas. O novo portal é mais dinâmico e atualizado, além de, nele, ser mais fácil achar informações. O recurso online facilita a comunicação à quem tem acesso ele, à medida que Figura 19 – Site do jornal Diário Gaúcho concentra informações, possibilitando

Fonte: Site do Diário Gaúcho, 5 de junho de 2010

ao usuário pode completar o processo de interação sem precisar recorrer a outro meio (como enviar reclamação através de formulário digital). Promoções também passaram a ser divulgadas no site, sendo algumas exclusivas do meio online. Além de facilitar a comunicação, o portal relaciona conteúdos de diferentes naturezas, como blogs sobre diferentes assuntos produzidos por repórteres e colunistas do jornal e vídeos produzidos pelos profissionais da redação. Há também um guia de serviços com informações como localização do radar móvel, cálculo de tempo de contribuição para aposentadoria, direcionamento de onde realizar boletim de ocorrência online, entre outros. O conteúdo do jornal é veiculado no portal de forma parcial, tendo prioridade esporte, entretenimento e assuntos factuais. Desta forma, nem todo o conteúdo do jornal impresso está disponível online. No entanto, as reportagens ali publicadas se encontram na íntegra. O material disponível no site engloba notícias publicadas no DG e também em outros veículos pertencentes ao Grupo RBS, como Zero Hora e Clique RBS. O site pode ser visualizado de forma integral, sem necessitar de login. O núcleo de produção e elaboração do Diário Gaúcho tanto impresso, quanto online, encontra-se na redação do jornal, situado no prédio do Grupo RBS, na sede da Av. Ipiranga, em Porto Alegre. A equipe trabalha em pequenos núcleos em uma sala comum, os quais são dispostos de acordo com as editorias ou função que desempenham: Polícia, Opinião, Dia-aDia, Esporte, Variedades, Online, Fotógrafos e Diagramadores. O trabalho, diferentemente do jornal alemão, possui a figura de uma produtora, a qual organiza todo o trabalho dos jornalistas do veículo impresso: define o fotógrafo que acompanhará cada repórter e organiza 70

A publicação pertence à amostra e será avaliada no subcapítulo 3.1 Capas do Diário Gaúcho.

77

os horários de realização das pautas. O objetivo é ter profissionais suficientes para realizar as tarefas e também, não atrasar o fechamento do jornal. No trabalho de atualização do Diário Gaúcho online atuam seis jornalistas, sendo uma delas a editora do setor. Já a produção de conteúdo do jornal impresso envolve 14 repórteres, dois sub-editores, oito editores, uma produtora, um editor-adjunto e um editor-chefe, além de um gerente-executivo. Na equipe, encontram-se também quatro foto-repórteres e cinco diagramadores. O trabalho na redação começa por volta das sete horas e, segundo Rozanne Adamy, produtora do jornal, o Diário Gaúcho começa a trabalhar nas pautas do dia mais cedo que o outro periódico do Grupo, a Zero Hora, que funciona no mesmo prédio. De acordo com os dados coletados quando da visita da autora à redação do periódico 71, a rotina do Diário Gaúcho funciona da seguinte forma: 7h – Produtora chega à redação. Ela precisa estar atenta às notícias veiculadas nos meios de comunicação para pensar nas pautas a serem realizadas naquele dia e em possíveis manchetes para o jornal do dia que virá. Além disso, ela olha sugestões de matérias, reportagens que estão sendo realizadas e os assuntos que os repórteres já deixaram préagendados para aquela data. Assim, ela sabe exatamente quem pode escalar para os assuntos a serem realizados naquele dia e em qual horário. Neste momento também, ela organiza a agenda da data de forma a ter fotógrafos e repórteres disponíveis para os assuntos que precisam ser cobertos. As pautas sofrem adaptações ao longo do dia, conforme necessidade. 8h - Começam a chegar os repórteres. Cada um tem um horário diferente, no entanto, os primeiros a chegarem à redação são da editoria de Polícia. Eles saem para cobrir às pautas de acordo com os horários organizados pela produtora. O deadline para finalização do texto é flexível. 9h – Começam as chegar os repórteres da editoria de Dia-a-Dia e os das outras seções. 12h30min /13h – O primeiro diagramador chega à redação e a parte referente a Variedades começa a ser diagramada. Os outros profissionais da seção também se apresentam para trabalhar no transcorrer da tarde. O turno é destinado para o desenho das páginas que tem anúncios fixos ou não possuem publicidade.

71

Vide Recorte Metodológico.

78

14h/ 15h – Reunião. Editor-chefe, editor-adjunto, produtora e editores das seções conversam sobre as pautas do dia e pré-definem a capa do jornal. A reunião de segunda-feira é mais demorada, pois avaliam a semana anterior e também pré-definem pautas para a seguinte. Por isso, nesse dia, ela inicia mais cedo, por volta das 14h. Nos outros dias, a reunião começa perto das 15h. O horário é aproximado. Aqui é definida a manchete do dia, porém pode ainda haver mudanças. 17h – Primeira versão do espelho é disponibilizada. Assim, a equipe de diagramadores pode começar a desenhar as páginas que ainda não foram trabalhadas. No entanto, o espelho pode sofrer alterações depois desta versão. Ele é flexível de acordo com a necessidade do jornal e do comercial. Assim, alguns detalhes podem, às vezes, ser negociados. 19h - Por volta deste horário começa o processo de revisão das páginas. Normalmente, cada página é lida pelo editor correspondente e mais dois profissionais. Os repórteres trocam as páginas entre si, revisando as reportagens uns dos outros. 20h – As páginas da edição são entregues ao editor-adjunto para revisão e aprovação. Além dos horários e reuniões diárias acima descritos, os repórteres e editores de cada seção fazem uma reunião própria por semana para pensar nos assuntos a serem trabalhados no período. Neste momento, eles discutem temas e ganchos para as pautas, além de avaliarem o que foi feito na semana anterior. Rozanne Adamy, produtora do jornal, afirma que é preciso ter pautas pensadas para não ficar “refém do dia” e que isso é importante especialmente na editoria de Polícia. Assim, as pautas são pensadas com certa antecedência e algumas são prédefinidas na reunião semanal realizada por cada editoria. Desta forma, cada editor pesquisa assuntos para abordar no jornal durante a semana e freqüentemente deixa outros pré-agendados, conforme já descrito. No entanto, cabe à produtora organizar os horários e ver os assuntos factuais, aqueles que não podem ser pensados previamente. Durante o dia, as pautas são debatidas pela produtora e editor-adjunto, os quais dialogam também com editores e repórteres para ver o que está sendo feito e de que forma está sendo abordado, as fotos produzidas pelos fotógrafos, etc. É no momento da diagramação que os títulos de cada reportagem são definidos pelo editor correspondente. No entanto, os repórteres podem também dar sugestões. A definição da

79

organização e desenho da página é, muitas vezes, definida em conjunto por diagramador e editor responsável pela reportagem, porém só o primeiro trabalha na página. O repórter, autor da matéria, não tem muita voz neste processo, somente o editor. Este último pode dizer mais ou menos como pensa a página e discutir com o diagramador que, irá, então, executar o desenho da página. É possível também o diagramador pensar e realizar o desenho e, posteriormente, encaminhar para o editor responsável. A capa, no entanto, tem tratamento especial. Ela é desenhada em conjunto pela editora de diagramação, o ilustrador (que trabalha em setor externo à redação do jornal), o editor de fotografia, o editor-adjunto e o editor-chefe. As chamadas são definidas pelo editor-adjunto quando do desenho da página. Sobre os horários, assim como o trabalho nas pautas do dia começa mais cedo no veículo popular do Grupo RBS, o periódico também fecha sua edição antes que o jornal tradicional, a ZH. O fechamento da edição do DG ocorre normalmente por volta das 22h. O periódico possui duas edições: a primeira vai para a região metropolitana e, a segunda, para a capital. Esta última pode ser alterada até mais tarde. Em relação às editorias para as quais os repórteres respondem, existe certa flexibilidade: se ele tiver uma idéia boa ou precisar, pode ajudar em outra também. Além disso, como forma de comunicação e integração de conteúdos entre os veículos do Grupo RBS, todas as pautas do DG são repassadas pela produtora para os outros veículos da empresa. Os outros jornais, rádios e meios televisivos procedem da mesma forma. Assim, é possível ficar a par do que os outros estão produzindo e organizar-se com as reportagens. Desta forma, assim como realizado em relação ao jornal alemão BILD Hamburg, esta seção propôs-se a elucidar os processos produtivos do jornal Diário Gaúcho e descrever o periódico, o qual é um dos objetos de análise desta monografia. Tendo em vista que trata-se de uma comparação, é preciso conhecer ambos jornais sobre os aspectos relacionados na metodologia de modo a viabilizar a análise. As informações acima relacionada tornam possível uma análise específica das capas do DG, a seguir, tendo em vista que o objeto de estudo e suas rotinas já são conhecidos.

80

4.1 As Capas do Diário Gaúcho A primeira página é o espaço mais privilegiado em uma publicação. Ela chama a atenção dos leitores e destaca os assuntos principais da edição 72. Da mesma maneira que o realizado em relação ao jornal BILD Hamburg no capítulo anterior, as capas do periódico Diário Gaúcho são agora foco de análise. A natureza comparativa desta monografia exige avaliação semelhante de ambos os periódicos, sendo as capas do Diário Gaúcho dos dias 8 à 14 de Setembro de 2009 (exatamente as mesmas datas observadas no periódico alemão) o foco deste subtítulo. O objetivo, da mesma forma que no subtítulo referente ao BILD Hamburg, é estabelecer os assuntos privilegiados, através dos títulos das capas, e a identidade do jornal, através de descrição do projeto gráfico.

4.1.1 Aspecto Gráficos O logotipo do Diário Gaúcho tem

forte

relação

com

o

tradicionalismo do Rio Grande do Sul. As cores vermelho, amarelo e verde são as mesmas da bandeira do Estado, proporcionando identificação com o Figura 20 – Logotipo do Diário Gaúcho espaço em ele que circula - o Rio

Fonte: Diário Gaúcho, 8 de Setembro de 2009

Grande do Sul- e, consequentemente, com os próprios leitores, que pertencem a esta região. O nome do jornal também alude à identificação e bairismo, através do termo “gaúcho”. A expressão refere-se aos habitantes do Estado, tendo também forte apelo tradicionalista. Segundo o autor do projeto, Luiz Adolfo Lino de Souza 73, as cores foram escolhidas de acordo com sua vibração, apelo de venda e função cultural. As tonalidades do logotipo são também as principais do projeto gráfico, apesar de outras tonalidades também serem contempladas no jornal (como roxo e azul), a fim de dar um carácter mais segmentado à proposta. Eu não tinha porque fazer um jornal com cores clássicas, cores sóbrias. Entre o vermelho e o vinho, eu precisava ficar com o vermelho. Entre o amarelo e azul, eu tinha que optar pelo amarelo. Eu também não podia fazer um jornal nem muito vermelho nem muito azul, pela questão de Inter e Grêmio. Além disso, eu não queria fazer um jornal muito vermelho pela coisa de ‘espreme sai sangue’. Então foi muito fácil para mim, descartando o vermelho, azul, o vermelho e preto (do Extra), definir: 72 73

Vide Recorte Metodológico. Em entrevista presencial à autora em 25 de maio de 2010.

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as cores que vão identificar o jornal são as cores da bandeira do Rio Grande. (SOUZA, 2010)

Assim como no periódico alemão, a tipografia escolhida para o logotipo- e, no caso do DG, também para o projeto gráfico- foi a lapidária (ou bastão), a qual caracteriza-se pela ausência de serifa e uniformidade, sendo indicada para textos curtos e visuais (Fernandes, 2003). Da mesma maneira que o BILD quando de seu lançamento, o DG não possui assinatura. A escolha mostra-se, então, adequada, uma vez que a legibilidade característica da família escolhida é propícia para venda avulsa em bancas e nas ruas. Entre as particularidades do logo, é possível notar também certa inclinação nas fontes, acompanhando as linhas vermelha e amarela em sua lateral esquerda (fonte em estilo itálico). O preço, externo ao logotipo, é um item móvel, podendo estar junto ao nome do jornal (vide figura 20) ou expresso em outro espaço, sempre na metade superior do periódico. A informação é sempre indicada em fonte preta dentro do box oval de fundo amarelo com contorno vermelho. O destaque do custo justifica-se, tanto pelo público-alvo (classes de baixo poder aquisitivo, onde o preço representa fator de compra) como também pela característica de venda. As informações de data estão localizadas sempre abaixo do logotipo, juntamente com o local, ano, número e indicação de vínculo com o Grupo RBS. O logotipo do DG localiza-se sempre no canto superior esquerdo, abaixo do banner do “Junte e Ganhe”, e, até os dias de hoje, não sofreu alterações gráficas, tendo mantido sua identidade 74. Sobre a capa, Souza comenta que ela é inspirada em um cartaz. Nela, há sempre um título principal, em corpo maior que 80, ao qual se localiza próximo ao logotipo e abaixo dele, ocupando toda ou quase toda largura da página (vide capas em anexo). A característica do sublinhado, retirada do jornal BILD, permanece na primeira página do Diário Gaúcho e está presente quase que diariamente no título principal, com exceções onde a manchete encontra-se diagramada juntamente com uma imagem ou arte, como na capa do dia 8 de Setembro (em anexo). Com exceção de quando há uma grande notícia, a capa apresenta em média de sete títulos, não sendo obrigatório a foto dominante estar ligada à manchete principal. “Isso não ocorre, inclusive, em jornais não-populares. Nem sempre, o fato mais importante do dia tem uma imagem forte que possa ser capa de jornal.” (Souza 75, 2010). A capa do DG possui excesso de estímulos e contrastes, da mesma que o BILD Hamburg: cores, imagens, fios e boxes. É uma linguagem tipicamente popular, a qual difere 74

Apesar de não fazer parte da amostra, é importante destacar, como forma de atualização, que no ano de 2010 foi incorporado um retângulo vermelho com fonte em cor branca escrito “10 anos”, junto a letra “O” da palavra Gaúcho, aludindo aos dez anos da publicação. 75 Em texto enviado à autora.

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da de referência. No entanto, a capa do Diário Gaúcho não possui mistura de fontes e a ausência de texto passa uma impressão de maior clareza do que no jornal alemão. A capa é vibrante, colorida e apresenta somente fotos, títulos e chamadas. Não há texto de reportagem na capa, sendo ela utilizada somente para chamar os assuntos. O tamanho tablóide influencia também para a visualização, tendo em vista que o tamanho do jornal BILD contribui para maior quantidade de pontos de foco de atenção. Na capa, os títulos são escritos em caixas altas e baixas, porém as linhas de apoio vêm expressas normalmente em caixa alta, assim como as manchetes que acompanham as fotos de celebridades. Souza afirma que o design gráfico da página condiz com uma linguagem própria do público-leitor, gerando identificação: Para se dirigir para a classe B, C e D tem que se fazer uma coisa poluída visualmente, graficamente suja? Não, mas não vamos abrir mão de que essas coisas estão dentro do universo das ruas, das casas e é uma linguagem. Há códigos no vestuário, há códigos também no design. Eu acho que se eu buscasse um design limpo, clássico, talvez eu não identificasse o jornal tanto com o público. (SOUZA, 2010)

Assim como no restante do jornal, as fotos recortadas estão presentes na capa: as imagens femininas de celebridades apresentam quase sempre este recurso. Seu uso é uma característica dos jornais populares e umas das influências do BILD na publicação. A técnica permite maior flexibilidade de diagramação e ênfase nas figuras humanas: As fotografias de jornais populares, também, priorizam rostos e imagens humanas, em função de sua pauta estar focada em comportamento, celebridades, esportes e fatos que envolvem pessoas. O recurso de recortar ou siluetar fotos favorece o foco nesses rostos e permite uma diagramação variada com maior integração entre a disposição de textos e imagens.Um ritmo mais agitado e vibrante é uma necessidade de edição e diagramação de jornais que buscam um sensacionalismo gráfico que integra a gênese desse tipo de publicação. (SOUZA, 2010 76)

A disposição dos elementos na capa não se adapta a uma colunagem fixa e há certa flexibilidade em sua organização, dependendo dos assuntos do dia. Porém os espaços em branco permitem visualizar as fotos e títulos com clareza e evidenciam as manchetes. Os títulos são dispostos de modo a preencher todo o espaço a ele destinado. Há abuso de fios, boxes e balões.

76

Em texto enviado à autora.

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4.1.2 Títulos Assim como realizado com a edição regional de Hamburgo do jornal BILD, a categorização dos títulos do Diário Gaúcho evidenciou escolhas editoriais, estando aqui também a “Variedades” na primeira posição. No entanto, no DG, a editoria “Local” possui apenas um títulos na capa a menos que a anteriomente citada, o que demonstra que tem importância praticamente análoga a ela. Dos 42 publicados nas capas dos dias em análise (8 a 14 de Setembro de 2009), dez estão relacionados à essa categoria, nove à Local, sete a Polícia e Crimes e este mesmo número à Esporte (vide

Variedades

10

23,3%

Local

9

20,9%

Polícia e Crimes

8

18,6%

Esporte

7

16,3%

Emprego e Serviços

5

11,6%

Economia e Política

2

4,7%

Saúde

2

4,7%

Tabela 2 77 – Categorização dos títulos do Diário

tabela 2). Estas representam, desta forma, as editorias Gaúcho mais privilegiadas na semana estudada, tendo Fonte: O autor (2010)

Empregos e Serviços, Economia e Política e Saúde menor destaque e importância na amostra. O modo de tratamento dos títulos e os critérios à eles relacionados são agora foco de análise, dividos nas respectivas categorias em que os títulos foram enquadrados.

4.1.2.1 Variedades A editoria Variedades detém a maioria entre os títulos da semana, com dez deles. Porém sua hegemonia é menor que no periódico alemão: além de nenhum de seus títulos ser o principal das edições, no Diário Gaúcho, a categoria supera em apenas um título a editoria Local. Variedades representa 23,3% dos títulos da amostra e evidencia-se com presença garantida diariamente nas capas. Apesar de alguns títulos possuirem destaque iconográfico, eles nunca constituem chamada principal da primeira página. Dos dez títulos da categoria, metade refere-se a celebridades e o restante, a outros assuntos da seguinte forma:

Celebridades 08.09 - Olha só que bela tatuagem! 77

Os números foram arredondados, considerando-se, para isso, a segunda casa decimal: quando este algarismo era maior ou igual a cinco, somou-se um a primeira casa decimal. Quando era inferior, ele foi apenas desconsiderado

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08.09 - (Estrelas da Periferia) O funk do Algarve! 09.09 - Playboy no ritmo da Gafieira 10.09 – Essa mulher é uma aventura 12.09 - Quase cinco décadas de glórias

Outros 10.09 - (Baita Show!) Daniel tem sede de romance 10.09 - Os leitores aprovaram! (evento de divulgação do site no mercado público) 11.09 - Are Baba, não perca o último capítulo 12.09 - (Diversão) Tem show do Daniel e JA especial 14.09 – Viver a Vida vem aí! A partir da análise dos títulos de ambas as subcategorias, é possível perceber relação deles com os seis valores- notícia associados por Amaral (2006) como típicos da imprensa popular: capacidade de entretenimento, proximidade geográfica ou cultural do leitor, capacidade de simplificação, possibilidade de dramatização, identificação (personalização) e utilidade. Na primeira subcategoria, as frases “Olha só que bela tatuagem!”, “Playboy no ritmo da Gafieira”, “Essa mulher é uma aventura” e “Quase cinco décadas de glórias” remetem a reportagens sobre as celebridades em questão, no caso, a atrizes Paula Barbosa e Juliana Alves, a apresentadora Dani Monteiro e a modelo e atriz Luiza Brunet, respectivamente. Os textos aludem à vida das celebridades em foco, com especulações sobre os próximos trabalhos, depoimentos ou dicas de beleza. As notícias, além de capacidade de entretenimento, possuem também possibilidade de simplificação, devido ao próprio tema, que por si só mostra-se de fácil entendimento. Outra característica que pode ser associada aos títulos citados é a proximidade cultural. Todas as celebridades em questão encontram-se em evidencia no momento: duas estão participando de novelas (Juliana Alves e Paula Barbosa), uma é apresentadora de programa de esporte (Dani Monteiro) e, a outra, é matéria de revista sobre cuidados com o corpo naquele mês (Luiza Brunet). Partindo da teoria, já apresentada quando da avaliação dos títulos do BILD Hamburg, que a leitura de conteúdos referentes a celebridades cria certa intimidade entre os leitores e os noticiados, o valor de proximidade cultural justifica-se. Sobre o assunto, Pena (2002, p. 155) ratifica: “Se, no passado, era preciso ler a biografia de uma estrela para

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conhecer passagens de sua intimidade que ela julgasse conveniente divulgar, hoje a biografia é escrita diariamente na mídia”. Dentre os títulos da subcategoria “Celebridades”, um foi excluído quando da avaliação acima, devido a possuir peculiaridade, sendo ele: “(Estrelas da Periferia) O funk do Algarve!”. A manchete relaciona-se a seção semanal que evidencia grupos que estão fazendo sucesso em bairros ou regiões de circulação do periódico. São artistas ainda desconhecidos e que estão no início de uma possível carreira, diferentemente dos outros personagens da subdivisão em questão. Desta forma, como os outros títulos acima analisados, este possui também capacidade de entretenimento, simplificação e proximidade cultural (música pertencente a cultura popular). Porém, outras duas características podem ser aqui identificadas de forma mais evidente: proximidade geográfica e identificação. Os artistas da categoria são locais, pertencentes a ambientes e regiões do conhecimento dos leitores. Além disso, representam pessoas comuns, gerando identificação ainda maior que a presente em celebridades em geral. Sobre o assunto, Pena (2002, p. 155) afirma: “Mais do que se identificar, o espectador se vê na figura da estrela instantânea. (...) A mídia cria um sentido de auto-semelhança”. Nesse sentido de identificação, podem também ser incluídos os títulos referentes a novelas, pertencentes à subdivisão outros: “Are Baba, não perca o último capítulo” e “Viver a Vida vem aí!”. No Brasil, as telenovelas representam forte fator de projeção, como afirma Maia (2007, p. 6): Nesta era líquida-moderna, os meios de comunicação despontam como potentes colaboradores do intrincado processo de construção identitária dos sujeitos, fabricando em grande escala modelos para projeção e identificação. Neste contexto, destacam-se as mídias audiovisuais, meio com poder suficiente para interferir no inconsciente e no imaginário social, compondo cenários em que novas identidades também flutuantes - são apresentadas e defendidas.

Não é uma espetacularização da vida como no caso das celebridades, mas é momento em que o espetáculo gera identificação com o dia-a-dia da população. As reportagens relacionadas aos títulos apresentam, respectivamente, os acontecimentos a serem apresentados no último capítulo da novela das 20h da Rede Globo Caminho das Índias e o início da próxima, Viver a Vida, da mesma emissora. Assim, o entretenimento encontra-se também intrinsecamente ligado a manchete. A capacidade de simplificação do fato pode ser percebida pela própria natureza do tema, que constitui-se elementar. A dramatização dos fatos encontrase também evidente. Por fim, a proximidade cultural evidencia-se na popularidade das telenovelas no Brasil.

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Em relação aos títulos “(Baita Show!) Daniel tem sede de romance” e “(Diversão) Tem show do Daniel e JA especial”, ambos constituem-se de anúncio de evento na cidade e estão também diretamente ligados ao valor entretenimento. No primeiro, o foco encontra-se no anúncio de show do cantor sertanejo Daniel na cidade, o qual interpretará repertório romântico. A manchete remete à reportagem que anuncia a vinda do show para a cidade e informa dados da venda de ingressos, local e outros. Já o segundo título, é também relacionado ao cantor sertanejo, porém com foco também na edição especial do telejornal regional JA (Jornal do Almoço) a ser filmada em ponto específico da cidade, apresentando também dados sobre as atividades. Assim, ambas as notícias possuem - além dos valores entretenimento, proximidade geográfica e cultural do leitor e capacidade de simplificação - o fator utilidade, por apresentarem informações concretas e que podem ser úteis para os leitores. O único título ainda não analisado constitui “Os leitores aprovaram!”, o qual refere-se a evento de lançamento do site do próprio jornal, promovido pelo impresso em questão. A notícia trata sobre o acontecimento realizado na região de circulação do periódico e, por conseguinte, área próxima aos leitores, informando sobre a impressão deles para com o site do Diário Gaúcho. Assim sendo, o título pode ser enquadrado nos critérios de personalização e proximidade geográfica, além de capacidade de simplificação. A reportagem é a única que não possui forte capacidade de entretenimento e mostra-se com certo grau de autopromoção do próprio veículo. Desta forma, a análise dos títulos permitiu constatar que todos eles vinculam-se a pelo menos um dos critério citados por Amaral (2006) como característicos de meios populares. Porém, eles podem ser relacionados também a outros valores, como notabilidade e novidade, citados por Traquina (2008). Os títulos “(Estrelas da Periferia) O funk do Algarve!”, ‘Playboy no ritmo da Gafieira”, “Essa mulher é uma aventura”, “(Baita Show!) Daniel tem sede de romance, “Os leitores aprovaram!, “Are Baba, não perca o último capítulo”, “(DIVERSÃO) Tem show do Daniel e JA especial” e “Viver a Vida vem aí!” representam novidade pela revelação de evento, conteúdo televisivo, promoção de banda nova e por apresentar outra face de artista. Já ao critério notabilidade, relacionado a proeminência dos personagens e quantidade de pessoas envolvidas, podem ser relacionadas todas as notícias, por um motivo ou outro. Em relação a esta categoria, outro fator que merece destaque é o apelo sensual presente em sete deles. A característica nem sempre pode ser percebida através da análise isolada dos títulos, pois em algumas ocasiões, a relação com a foto é que revela a característica. No caso de “Olha só que bela tatuagem!”, a foto evidencia a posição da tatuagem destacada na frase, a

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qual situa-se na parte inferior das costas da atriz Paula Barbosa, próxima aos glúteos. Já em “Playboy no ritmo da Gafieira” acompanhada de foto da atriz Juliana Alves, o termo Playboy já carrega o sentido. O título “Essa mulher é uma aventura” vem expresso juntamente à foto sensual da apresentadora Dani Monteiro e pode ser interpretado também em sentido figurado, no sentido de namorar ela ser uma aventura. Na chamada “Quase cinco décadas de glórias”, a atriz e modelo Luiza Brunet encontra-se também em pose sensual, tapando os seios com as mãos. Assim como em Viver a Vida vem aí!, onde a atriz encontra-se de biquíni na capa do jornal. No título “(Baita Show!) Daniel tem sede de romance” o caráter sensual encontra-se no trocadilho realizado, o qual dá a impressão de que ele procura uma namorada ou companheira e, no entanto, a reportagem refere-se ao repertório de seu show. A intensidade da característica sensualidade vinculada a cada título é variada, de acordo com seu tratamento e imagem a ele relacionada. Além dos já citados, é possível perceber também traços sensuais em “Are Baba, não perca o último capítulo”, devido a imagem escolhida para a capa ser a de personagem de apelo sensual, caracterizada por deixar parte do sutiã à mostra.

4.1.2.2 Local A categoria menos privilegiada no BILD Hamburg é, no Diário Gaúcho, uma das de maior destaque. A editoria “Local” possui nove títulos nas capas do período e detém 20,9% do total deles. Além de ser a segunda mais privilegiada na semana avaliada, ela possui um dos seis títulos principais da amostra: “(Defesa Civil está mobilizada para atender vítimas da chuva) - Perigo de cheias deixa moradores em alerta”. Notícias relacionadas a esta categoria são chamadas de capa diariamente no período analisado, como pode ser verificado abaixo: 08.09 - Alvorada e as suas crateras 09.09 - E ainda chamam isto de rua... 09.09 - (Chuva) Temporal deixou estragos 10.09 - Paradas sem identificação em Alvorada 10.09 -(Trânsito) Um gesto para garantir a vida 11.09- (Faixas de Segurança) Pedestre aprova idéia, falta só o motorista. 12.09 - (Defesa Civil está mobilizada para atender vítimas da chuva) - Perigo de cheias deixa moradores em alerta 12.09 - A internet comunitária

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14.09 - (Chuvarada) Apreensão com a cheia de rios Em “Local”, o próprio nome da categoria relaciona-se a um critério de noticiabilidade: a proximidade geográfica. As notícias referem-se a principal região de circulação do jornal, a Grande Porto Alegre, espaço de moradia da maior parte dos leitores. Os assuntos retratados nos títulos possuem em comum características como capacidade de simplificação, de dramaticidade, e de identificação com os leitores. Além disso, pode ser relacionado a eles também, o valor utilidade, de forma que, dos seis valores citados por Amaral (2006) como típicos do segmento popular, apenas um não relaciona-se aos conteúdos: capacidade de entretenimento. Em relação a proximidade cultural e personalização, Amaral (2006) ressalta: “O jornalismo caracteriza-se como popular quando se interessa pela vida das pessoas do povo. Assim, um fato tem muito mais probabilidade de ser notícia se tiver impacto na vida de uma pessoa comum e puder ser comentado por alguém do povo. É frequente a personalização dos problemas e das soluções. Personalizar é dar um caráter pessoal, definir um conjunto de parâmetros para que se atenda às exigências de uma pessoa em especial.”

As notícias da categoria “Local” apresentam tal característica: retratam problemas próximos do leitor, de onde eles vivem e também adjacentes à sua realidade e, muitas vezes, utilizam os próprios leitores para evidenciar os problemas, agregando emoção e dramaticidade às notícias. O fato é corroborado quando da análise dos títulos, imagens que os acompanham e legendas presentes nas capas. Das dez manchetes da categoria, sete possuem fotografia na primeira página (agregada ao título) e, dessas, três remetem já na capa à singularização e personalização dos conteúdos. Em “Paradas sem identificação em Alvorada”, “(Faixas de Segurança) Pedestre aprova idéia, falta só o motorista” e “A internet comunitária”, pessoas comuns protagonizam a imagem e as legendas das chamadas de capa, sendo estas últimas as seguintes, respectivamente: “Elemar Friedrich não sabe o número do ponto de ônibus que usa diariamente”, “Kais Ismail estendeu o braço para o carro parar, mas não foi respeitado”, “A casa de Viviane de Campos é um exemplo de como a rede é acessada na periferia”. O jornal busca atrair o leitor através da apresentação na capa de pessoas semelhantes a ele, configurando-se uma ordem peculiar de ênfase de conteúdo e captação da atenção do público: por meio da singularização, captando “leitores através de leitores”. A característica mostra relação com a apresentação dos fatos no antigo sensacionalismo, não referente ao tratamento de conteúdo, mas em relação à hierarquização dele. De acordo com Genro Filho (1989), neste segmento a notícia é apresentada de maneira diversa do que em um de

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referência. O autor, ao questionar a tese da pirâmide invertida, afirma que um fato se torna notícia (em qualquer segmento) devido ao seu aspecto singular. Para ele, o triângulo eqüilátero evidencia “um equilíbrio entre a singularidade do fato, a particularidade que o contextualiza e, com base nesta relação, numa certa racionalidade intrínseca que estabelece seu significado universal.” (Genro Filho, 1989, p.191). Neste sentido, o sensacionalismo constituir-se-ia de um triângulo isósceles, onde ocorre uma extrema singularização dos fatos, em detrimento do contexto, com objetivo de provocar sensação, emoção: Não é por acaso que esse tipo de jornalismo recebe o nome de sensacionalista. Se a informação jornalística reproduz as condições de uma "experiência imediata", as sensações têm um importante papel nessa forma de conhecimento. Aliás, o que o jornalismo busca é uma forma de conhecimento que não dissolva a "sensação da experiência imediata", mas que se expresse através dela. Porém, na singularização extrema, isto é, no sensacionalismo, ocorre uma distorção do concreto através dos seus aspectos sensíveis no contexto da percepção e da apropriação subjetiva. A sensação assume um papel destacado na reprodução da realidade e o fundamento histórico e dialético do fenômeno, ao invés de ser sugerido, é diluído na superfície do sensível. (GENRO FILHO, 1989, p.197)

O autor corrobora, portanto, que esta personalização e hierarquização permitem uma dramatização maior dos fatos: capta-se a emoção do leitor através da história daquele que poderia facilmente ser seu vizinho ou amigo, é a valorização do “gente como a gente”. Genro Filho atenta para também a extrema singularização dos fatos, porém, para estabelecer se essa exacerbação realmente ocorre, seria preciso realizar análise profunda dos textos, os quais não são foco desta pesquisa. O que é enfatizado aqui, com esta referência, é que a valorização do leitor e do aspecto humano tem papel diferenciado do que na imprensa de referência, tendo aproximação com o descrito por Genro Filho ao relacionar a hierarquização da notícia no sensacionalismo. No entanto, talvez, o enfoque encontre-se em um espaço intermediário. Os títulos evidenciam, desta forma, que o leitor tem papel de destaque, dando a eles um espaço “rarefeito” na mídia de referência, como evidencia Amaral (2006, p. 67): Ao conceder lugar para a fala dos populares, os jornais inovam porque no mercado simbólico do campo jornalístico a manifestação popular tem uma tímida história de inclusão nos jornais impressos, nos quais os lugares disponíveis para as falas se relacionam à importância social, econômica e cultural das fontes.

O foco no leitor é um aspecto de relevância ao referir-se a jornais populares e ao Diário Gaúcho: como citado anteriormente, o Gerente-Executivo, Alexandre Bach, afirma ser esse um dos pilares do periódico, no sentido de eles pautarem os assuntos. A análise dos títulos só vem a corroborar tal fato, evidenciando que a presença do leitor nas matérias, por vezes, é destacada como parte principal da notícia, sendo sua imagem elevada à capa da

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publicação e a sua história particular, a um ponto crucial de captação de leitores. A personalização da história agrega também simplificação: explicar um acontecimento através de exemplos práticos facilita o entendimento do que está sendo narrado e, acompanhado de uma linguagem corriqueira, responde a uma forma de narração típica do jornalismo popular. Assim, é importante ressaltar que as três notícias que possuem fotografias de leitores na capa, evidenciam personalização e proximidade cultural agregada à identificação que propicia. No entanto, os outros títulos apresentam igualmente características populares. A personalização não é evidenciada na chamada de capa, porém a proximidade cultural encontra-se vinculada à manchete à medida que ela trata de problemas pertencentes à região de moradia da maioria dos leitores ou próxima a eles. Os títulos são todos diretos e claros, com palavras simples e a maioria agregado à imagem que auxilia a compreensão: sete possuem fotografias e, um, ilustração (“Um gesto para garantir a vida”). Desta forma, do montante avaliado, somente um não é acompanhado de recurso iconográfico de caráter ilustrativo. A característica permite, portanto, a relação do valor simplificação às notícias. Por fim, a análise dos títulos permite relacioná-los a mais um valor típico do segmento popular: a utilidade. As notícias dizem respeito a informações úteis para os leitores: algumas de forma prática e imediata, e outras de caráter mais perene. Na primeira, relacionam-se sete dos nove títulos desta categoria, sendo eles: Alvorada e as suas crateras”, “E ainda chamam isto de rua...”, “(Chuva) Temporal deixou estragos”, “Paradas sem identificação em Alvorada”, “(Faixas de Segurança) Pedestre aprova idéia, falta só o motorista”, “(Defesa Cívil está mobilizada para atender vítimas da chuva) - Perigo de cheias deixa moradores em alerta”, “(Chuvarada) Apreensão com a cheia de rios”. Nestas, as notícias relatam problemas que, ao serem publicados, pressionam o poder público a sua resolução, como buracos em ruas e etc. Além disso, há títulos referentes a problemas relacionados a eventos climáticos, e, nestes, as reportagens informam números para emergências e dados referentes a números de pessoas ou municípios atingidos. Os títulos restantes - “(Trânsito) Um gesto para garantir a vida” e “A internet comunitária”- dizem respeito a informações nas quais a utilidade tem caráter mais permanente. No primeiro, o foco é o anúncio de uma nova campanha de trânsito, em que um sinal facilitaria para o pedestre atravessar vias onde existe faixa de segurança, a fim de diminuir índices de atropelamento. No segundo, o foco é a internet comunitária. Personagens são utilizados para falar do assunto e os tipos de internet e locais onde é disponibilizado o serviço gratuitamente são relacionados.

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Em relação a critérios não-específicos de veículos populares, podemos relacionar também o valor-notícia notabilidade, compilado por Traquina (2008). Ele relaciona-se aos títulos pelo fato de ser tangível, atingir significativo número de leitores e também por, nos casos de problemas públicos, constituírem uma falha, neste caso, referente ao poder público. O valor novidade relaciona-se somente a um dos títulos: “Um gesto para garantir a vida”, o qual refere-se à nova campanha a entrar em vigor na Capital.

4.1.2.3 Polícia e Crimes A categoria “Polícia e Crimes” possui sete títulos na amostra e ocupa a terceira posição na tabela que relaciona as editorias mais privilegiadas na semana avaliada. Os títulos referentes a Polícia e Crimes constituem 18,6% do montante, sendo eles: 08.09 - (Ronda Policial) O terror dos bondes em Canoas 09.09 - (vítimas de assaltos relatam drama de conviver com o medo e a insegurança) Vida marcada pela violência 10.09 - (Assaltante furta equipamentos de som de paróquias) Ladrão deixa igrejas sem voz 10.09 - Estudante baleado em escola 11.09 - (Faculdade também vira vítima de homem que furta microfones) Ladrão de Igreja ataca outra vez 11.09 - Bando descarrega arma na Brigada 14.09 - (Ronda Policial) Assalto e morte em motel 14. 09 - (Ronda Policial) Protesto no Caso Franciele É possível perceber que apenas uma edição do período avaliado não possui manchete policial na primeira página do jornal: a do final de semana, referente aos dias 12 e 13 de Setembro. A editoria “Polícia e Crimes” está presente na maioria das capas e, muitas vezes, possui papel de destaque. Dentre os oito títulos aqui enquadrados, três são títulos principais: “(vítimas de assaltos relatam drama de conviver com o medo e a insegurança) Vida marcada pela violência”, “(Assaltante furta equipamentos de som de paróquias) Ladrão deixa igrejas sem voz” e “(Faculdade também vira vítima de homem que furta microfones) Ladrão de Igreja ataca outra vez”. O número é expressivo uma vez que cada edição possui apenas um título considerado como principal, gerando um total de seis títulos no período analisado. Assim, a

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editoria “Polícia e Crimes” detém 50% dos títulos principais da semana, fato que evidencia que, apesar de menos numerosa que “Local” e “Variedades”, seu destaque na primeira página foi mais expressivo. Segundo o gerente-executivo Alexandre Bach, pesquisas mostram que esta é uma das editorias mais lidas do jornal, juntamente Esporte e a seção “O Que Há de Novo”, que traz pequenas notas sobre notícias nacionais. O fato evidencia que a preferência dos leitores é corroborada pelo jornal, que dá destaque à editoria em sua primeira página. Os títulos enquadrados nesta categoria podem ser relacionados a cinco critérios relacionados por Amaral (2006) à imprensa popular: proximidade geográfica e/ou cultural do leitor, capacidade de simplificação, possibilidade de ser narrado dramaticamente, personalização/identificação e utilidade. O primeiro pode ser a todos os títulos relacionados, tendo em vista que as notícias relatadas acontecem nas imediações das moradias da maioria dos leitores: a Grande Porto Alegre. A proximidade cultural também é evidente, uma vez que a cidade de Porto Alegre teve cerca de 35 mil furtos, 350 homicídios e 20 mil roubos somente no ano de 2009 (SIP/PROCERGS apud Secretaria de Segurança Pública) 78. A editoria “Polícia e Crimes” relaciona-se a títulos referentes a reportagens sobre temas afins à violência e criminalidade. Já a capacidade de dramatização é evidente devido ao próprio tema aos quais os títulos dizem respeito, da mesma forma que a capacidade de simplificação: narrar acontecimentos pontuais sobre crimes e transgressão de regras não constitui tema de difícil entendimento e a construção pode ser realizada de maneira linear. Já a personalização pode ser observada em apenas um dos títulos: “(vítimas de assaltos relatam drama de conviver com o medo e a insegurança) Vida marcada pela violência”. A reportagem chama a atenção para transtornos pós-traumáticos partindo da narração do caso de cinco pessoas. O artifício propicia identificação dos leitores com os fatos narrados, utilizando situações particulares para falar de problemas gerais: os transtornos que podem sofrer pessoas que passam por traumas. Os demais títulos remetem a crimes ou transgressões pontuais, relatando o fato através de vítimas e autoridades, porém não caracterizam personalização, pois constituem narração de evento em particular. Em relação à utilidade, todos apresentam vínculo com a característica, mas de maneira diversa. Na maioria delas (sete), a relação é meramente informativa e instantânea, fornecendo descrição dos crimes e, quando o autor ou procedimento é recorrente (ladrão de igrejas e bondes), descrição de como identificá-los. Na restante, “(vítimas de assaltos relatam drama de

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Ocorrências cadastradas (delitos consumados) no RS, por município, até o dia 31 de dezembro de 2009.

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conviver com o medo e a insegurança) Vida marcada pela violência”, a abordagem da violência através do drama de cidadãos comuns traz à tona informações de uso público sobre transtornos de estresse agudo e pós-traumático e locais para buscar ajuda gratuita ou em que o pagamento é feito de acordo com a renda, fornecendo espécie de serviço no final da reportagem. Em relação a valores não vinculados especificamente à imprensa popular, o critério de noticiabilidade infração (transgressão de regras) pode ser vinculado à maioria dos títulos, excluindo-se somente deste critério “Protesto no Caso Franciele”, o qual se refere à passeata em homenagem a jovem de 24 anos assassinada há um mês, com o intuito também de pedir justiça. Já o valor conflito e controvérsia, que, segunda Traquina (2008) refere-se à violência física ou simbólica, pode também ser relacionado aos títulos, excluindo-se a anteriormente citada, referente ao protesto e a “Vida marcada pela violência”, devido ao foco da notícia não estar na violência em si, mas no protesto contra o assassinato de Franciele e nos transtornos que a violência causa nos cidadãos, respectivamente. Em “Assalto e morte em motel” o valor morte pode ser também a ele relacionado.

4.1.2.4 Esporte Conforme destacado anteriormente, o Esporte encontra-se entre as editorias mais lidas pelos leitores do Diário Gaúcho e, assim como ocorre na seção de Polícia, aqui também sua preferência é corroborada pelo jornal, que, diariamente, publica na primeira página títulos referentes ao assunto. A categoria “Esporte” é a quarta mais privilegiada na primeira página da semana avaliada, detendo 16,3% dos títulos da amostra. A editoria possui também um título principal entre os seis da semana: “Ufa! Nasceu a vitória lá fora”, em relação a jogo gremista. Os sete títulos da categoria são os seguinte: 08.09 - Como o Grêmio perdeu Leandro 09.09 - Guerra: Seleção joga para cumprir tabela 10.09 - (Eliminatórias - Copa do Mundo) Nilmar é o nome do jogo 11.09 - Seleção libera Sandro 12.09 - Vencer é o desafio da Dupla (Campeonato Brasileiro 2009) 14.09 - (Grêmio ganha do Náutico e fica pertinho do G4) - Ufa! Nasceu a vitória lá fora 14.09 - Colorado falha na hora H (2 Inter x 3 Cruzeiro)

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Assim como ocorre no periódico alemão BILD Hamburg, no Diário Gaúcho há também uma hegemonia de títulos referentes a futebol. As manchetes demonstram esta ser a modalidade mais privilegiada na seção de Esportes. O acontecimento engloba uma série de fatores como a popularidade da modalidade no país e a relação dele com a própria identidade do povo. No Brasil, o futebol perpassa uma série de esferas: “Estritamente regulado pela CBD, pela FIFA e pelas respectivas federações estaduais, o “esporte rei” insere-se na sociedade brasileira, não apenas como uma instituição social, mas também política, econômica e sobretudo cultural, no que se refere a uma identificação com a nossa brasilidade.” (SANTOS E SILVA, 2006, p. 188)

Os títulos referentes a futebol possuem, portanto, forte proximidade cultural para com os leitores, além de capacidade de entretenimento e possibilidade de simplificação. O esporte possui quantidade de regras reduzidas, conforme citado quando da análise dos títulos do BILD Hamburg, tornando o assunto em si facilmente compreensível. Além disso, a utilização de figuras e imagens nas matérias serve de apoio à informação. É importante também ressaltar que, devido ao futebol ter ligação com a cultura do país, existe identificação para com a modalidade. Além disso, o esporte possui função não só de entretenimento, mas também como uma válvula de escape dos problemas diários. Segundo Lyra Filho (apud SILVA E SANTOS, 2006, p.189), “O povo brasileiro vale-se de um grande jogo de futebol, por exemplo, para pôr em fuga os aperreios acumulados em sua vida cotidiana”. A dramatização é outro valor que pode ser relacionado aos títulos, no sentido de passar sentimento e conceder grande importância ao fato. O futebol possui no Brasil forte apelo popular e a emoção encontra-se intrinsecamente ligada a ele. Assim, os títulos traduzem, por vezes, o possível sentimento dos torcedores em relação aos jogos, como na manchete: “Ufa! Nasceu a vitória lá fora”, referindo-se a vitória gremista em campo adversário. A interjeição agrega também característica oral ao título, gerando coloquialidade. Outro fator que merece destaque é em relação aos times noticiados: do total, quatro referem-se a Grêmio ou Inter (times locais) e três a Seleção Brasileira. A amostra reflete um momento específico no futebol: Campeonato Brasileiro e Eliminatórias de Copa do Mundo. Por este último justifica-se a significativa presença de notícias sobre a Seleção. Segundo o editor-chefe do Diário Gaúcho, Cláudio Thomas, “o jornal tem uma cobertura intensa de esporte, de quatro a cinco páginas por dia, com prioridade para Grêmio e Inter e demais

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esportes, esporte amador com destaque principalmente para a questão do futebol de várzea.” A amostra evidencia tal destaque dado aos times da dupla Grenal, oriundos da Capital e pertencentes ao espaço de moradia da maioria dos leitores. A presença dos jogos da Seleção justifica-se pelo momento estudado e pela mobilização cultural que existe em torno de jogos com o time nacional. Assim, em relação aos critérios relacionados por Amaral (2006) como típicos da imprensa popular, apenas um não possui significativa ligação com os títulos: a utilidade. A funcionalidade das reportagens encontra-se em âmbito informativo e sem relação prática e direta, em relação a assunto fortemente ligado ao lazer e que, apesar de perpassar âmbitos sociais, culturais e econômicos, não tem influência direta sobre o dia a dia da maioria dos leitores, a não ser de modo lúdico, como evidencia Silva e Santos (2006, p.314): Com um apelo comercial maior do que qualquer outro esporte, o futebol sai na frente na defesa de determinado discurso de globalização que prega a organização da sociedade voltada para o consumo de bens cada vez mais distantes das necessidades humanas básicas e cada vez mais carregadas de valores simbólicos.

Por fim, os títulos podem ser relacionados a mais um critério, compilado por Traquina (2008): a notabilidade. O esporte constitui assunto tangível, além de envolver milhões de pessoas ao redor do mundo todo e também no Brasil: não só em relação a torcedores, mas também funcionários, patrocinadores, etc: “A FIFA possui um número superior a 193 países filiados. Nos quatro anos, entre uma Copa e outra, dá treinamento e cursos para mais de 40.000 pessoas, financia aproximadamente 1270 reuniões para 45 mil técnicos, envolvendo 200 milhões de pessoas em todo o mundo.” (VOSER, 2006, p. 9)

Portanto, esta análise evidenciou que o destaque dado à modalidade futebol na categoria Esporte no jornal Diário Gaúcho relaciona-se a critérios tipicamente populares, como proximidade geográfica e cultural, capacidade de entretenimento, possibilidade de simplificação, além de certo grau de dramatização. Além desses, o critério de notabilidade, devido a envolver grande número de pessoas e ser tangível, relaciona-se também aos títulos.

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4.1.2.5 Empregos e Serviços A categoria “Empregos e Serviços” possui cinco títulos da amostra a ela relacionados, o que representa 11,6% do total. São eles: 08.09 -(Comércio amplia quadros para o Natal) Há 8,6 mil vagas 09.09 - Conheça o novo site do Diário 09.09 - Mais de 630 ofertas de empregos 11.09- Mais de 600 ofertas de empregos 14.09- Agenda de chances da semana Os cinco títulos acima relacionados podem ser vinculados a três valores notícias tipicamente populares: utilidade, proximidade geográfica e simplificação. No que diz respeito ao primeiro, as manchetes “Mais de 630 ofertas de empregos”, “Mais de 600 ofertas de empregos” e “Agenda de chances da semana” constituem um serviço onde o trabalhador pode visualizar as oportunidades e fazer contato caso alguma vaga ou curso lhe interesse. Nelas, além de vagas em empresas privadas, são divulgados também a abertura de concursos públicos e de cursos de qualificação gratuitos. O serviço não se mostra útil simplesmente para aqueles que se encontram desempregados, mas também aos que almejam um trabalho melhor. As vagas de emprego constituem utilidade direta e imediata, porém os cursos configuram uma utilidade mais perene. No entanto, os títulos evocam a primeira, vinculando-se a uma utilidade prática. As informações contemplam também o valor notícia simplificação, sendo os títulos escritos de forma direta e enfatizando o objetivo do conteúdo. Internamente, as oportunidades são apresentadas em itens, boxes e fios, além da página possuir ilustrações, facilitando o entendimento e visualização. Em “(Comércio amplia quadros para o Natal) Há 8,6 mil vagas”, título principal do dia 08 de Setembro, o destaque é o mesmo que nas anteriores (enfoque no título para as vagas de emprego), porém o conteúdo e sua apresentação são diversos. O texto constitui de reportagem com dados e personagem (personalização) e não meramente informação de vagas e requisitos, apesar de o título aludir somente às vagas. Assim, não há apresentação de vagas, mas estimativas de números de pessoas a serem contratadas na época e dicas de como preparar-se e comportar-se quando da seleção, além de informação sobre curso de qualificação gratuita. Tal divulgação de formas de aperfeiçoamento ocorre também em “Agenda de chances da semana”.

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Ao divulgar cursos de qualificação e dicas, a informação torna-se mais perene e de utilidade mais ampla, trazendo para o jornal informações que podem ajudar na ascensão profissional dos leitores. Em contrapartida, o título “Conheça o novo site do Diário”, possui utilidade restrita e específica estando vinculado principalmente a uma esfera comercial, no sentido de autopromoção do novo meio recém integrado ao periódico. Todos os títulos só mostram-se pertinentes uma vez que se encontram próximos geograficamente dos leitores, dizendo respeito ao lugar onde vivem a maioria deles. Assim, é possível vincular também o critério proximidade geográfica a eles. Em relação aos critérios não vinculados especificamente à imprensa popular, o valor-notícia novidade pode ser vinculado a todos eles: no caso do site, o motivo é evidente, o lançamento do portal; nos outros, a novidade encontra-se nas vagas, que modificam-se todos os dias, sendo novas anunciadas. O valor notabilidade relaciona-se também aos títulos devido a envolver grande número de pessoas.

4.1.2.6 Economia e Política A categoria “Economia e Política” tem espaço pouco expressivo nas capas da amostra do Diário Gaúcho. Nenhum dos dois títulos é o principal de alguma das edições da semana. As duas manchetes, juntas, representam 4,7% do total dos títulos analisados, sendo elas: 11.09 – (25%) Cai o imposto para sacoleiros 11.09- Pedido de impeachment de Yeda O critério de simplificação pode ser vinculado a ambos os títulos. As notícias anunciam de forma direta e clara o que está expresso na reportagem e, internamente, simplificam o conteúdo através de itens e boxes. O valor utilidade também encontra-se a eles relacionados, porém de maneira diversa: o primeiro representa conseqüência já consumada para o grupo de leitores que busca mercadorias no Paraguai para comercializar; já o segundo apresenta utilidade de âmbito informativo, tendo em vista que noticia uma possibilidade e não um fato consumado. Os títulos vinculam-se também ao espaço geográfico dos leitores e imediações, sendo o título referente ao imposto justificado também devido ao Rio Grande do Sul fazer fronteira com o Paraguai.

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Em relação a critérios não especificamente vinculados às notícias publicadas na imprensa popular, os valores de notoriedade e notabilidade podem ser relacionados ao título “Pedido de impeachment de Yeda”. O primeiro, segundo Traquina (2008) diz respeito a notoriedade do ator principal, no caso, à governadora Yeda Crusius. Já o segundo pode ser vinculado à notícia devido à quantidade de pessoas a que essa informação diz respeito, ou seja, diretamente a todos os cidadãos do Rio Grande do Sul, além disso, o fato representa uma quebra do normal, do usual.

4.1.2.7 Saúde A categoria “Saúde” possui o mesmo número de títulos que a anterior: Economia e Política. As duas manchetes aqui enquadradas, representam, juntas, 4,7 % do total de títulos da amostra. São elas: 09.09- Dr. Batista: bem juntinho dos leitores 12.09 -(Guaíba) Portas fechadas para os bebês O primeiro título refere-se à ampliação para o universo online da coluna sobre sexo que é publicada diariamente no jornal. O título relaciona-se a expansão da comunicação com os leitores da coluna “Falando de Sexo”. O título tem característica meramente informativa e sua utilidade é restrita a uma informação pontual: a ampliação da coluna no mundo online, através de blog. A notícia vincula-se principalmente a uma esfera comercial, sendo autopromotiva de um recurso relacionado ao site do jornal. O critério novidade pode ser relacionado ao título. Já a segunda manchete remete à reportagem. O título mostra vínculo com valoresnotícias relacionados ao segmento popular como: proximidade geográfica, utilidade e identificação (personalização). A localidade da notícia pertence à Grande Porto Alegre, principal local de circulação do jornal, mostrando a proximidade geográfica existente. Em relação à utilidade, a notícia é uma denúncia informativa sobre o hospital de Guaíba que não está realizando partos. A reportagem tem utilidade para todas as mulheres que utilizam o serviço e sua utilidade é direta e imediata. Outro valor que merece destaque é a personalização. Assim como ocorrido em outras reportagens da categoria “Local”, o título é acompanhado na capa de foto de duas mulheres grávidas que não puderam ter seus filhos no hospital de Guaíba. A legenda evidencia o

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destaque para as leitoras: “Jaqueline de Freitas (E) e Angélica da Silva terão de dar à luz na Capital”. O destaque demonstra a singularização e captação de leitores através de outros leitores. A singularização e dramatização permitem também certo grau de dramaticidade. Em relação aos critérios não relacionados especificamente aos veículos populares, o valor notabilidade pode ser à notícia relacionado, uma vez que envolve grande número de pessoas: todos àqueles que utilizam o serviço de maternidade do hospital, o qual atende a cidade de Guaíba e municípios vizinhos.

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5 Conclusão As semelhanças entre as publicações não se encontram somente no âmbito do planejamento gráfico (diagramação), mas estão conectadas intrinsecamente à proposta delas e ao momento em que surgiram. Os pontos de identidade entre a filosofia do BILD e do Diário Gaúcho evidenciam-se no destaque de determinados aspectos ao apresentarem-se quando de seu lançamento. Entre eles, merece atenção a relação de sua produção com o cumprimento de “missão para com os leitores”, o qual propicia sentimento de companheirismo e confiança entre os jornais e seu público, característica que possui maior destaque em publicações do segmento popular. Outro aspecto que merece destaque encontra-se no fator inovação (diferenciação frente aos outros jornais no contexto em que se encontravam) e o destaque ao custo do periódico, que busca evidenciar o caráter popular da publicação, ou seja, a sua relação com as massas, transmitindo a idéia de um jornal acessível a todos através do preço e da linguagem utilizada. Em relação ao contexto histórico, apesar das publicações nascerem em épocas e espaços geográficos diversos, o momento (em âmbito nacional) pelo qual passavam os países assemelha-se. O BILD nasce em uma conjuntura de pós- guerra, após momento de opressão Hitlerista. O período é de reconstrução material e social, reorganizando-se a sociedade e as fronteiras, em um país que, como conseqüência da guerra, encontrava-se dividido. Nasce, assim, de modo muito propício, uma publicação que deseja ser como o sabor de “um pedaço de vanila de manhã cedo”. Ou seja, era uma publicação de leitura leve, que estruturava as notícias através de fotos e que tinha como tema central o entretenimento. No Brasil, o período de nascimento dos jornais populares do estilo do Diário Gaúcho inicia-se em 1990, cinco anos após o final da ditadura no país. Nacionalmente, da mesma forma que no contexto alemão, o país vive um momento de reconstrução (aqui apenas de cunho social e político), de reestruturação de uma democracia e direitos dos cidadãos. A ascensão deste segmento de jornalismo no Brasil, do qual o DG faz parte, processa-se em um cenário semelhante ao do nascimento do BILD, uma vez que ambos situam-se em momento de reestruturação social e política. As publicações brasileiras, além do entretenimento tinham seu foco no leitor. Ou seja, sua participação era intensa e evidente. Após um momento de opressão, o fato tinha importância crucial. No caso do DG, apesar de seu lançamento acontecer em 2000, os fatores ainda relacionam-se da mesma forma, visto que seu nascimento foi também resultado de uma conjuntura de ascensão deste segmento de publicações em âmbito nacional. O jornal prega

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uma participação popular de uma maneira que era inexistente no Estado, tendo os leitores espaço inclusive na capa, conforme analisado. As publicações evidenciavam-se, assim, propícias da mesma maneira que na Alemanha. Uma leitura leve, com possibilidade de expressão e espaço para aqueles que estiveram às margens da sociedade midiática e, ainda, sem possibilidade de expressão devido a um regime autoritário. Ambos os jornais pregam o acesso à informação a todos, através de textos simples e compreensíveis, dando espaço e atenção a uma classe que vinha sendo subjugada. Além disso, é importante destacar a função lúdica e auto- explicativa das imagens e fotos. A grande quantidade de recursos iconográficos em ambos os jornais remetem a um “jornal televisivo”. O BILD define-se inclusive como uma resposta impressa à televisão. Ele previne-se ao novo meio logo no início de seu processo de desenvolvimento (seu lançamento). No Brasil, essa resposta à televisão talvez tenha chegado depois, com os jornais populares. Os periódicos impressos de referência não tinham grande espaço entre as massas. A televisão, no entanto, sempre ocupou lugar de destaque nas casas, mesmo entre as pessoas com menor poder aquisitivo. Essa relação do jornal e imagens, possivelmente foi um fator que gerou identificação no Brasil, e conseqüente maior popularização do meio. O abuso de fotos e entretenimento trazia as publicações para um universo próximo de seu leitor, que já possuía intimidade com a apresentação do conteúdo aliada a imagens no meio televisivo. Em relação aos conceitos que permeiam as publicações (sensacionalista e popular), é possível afirmar que eles não são totalmente independentes e diferentes. Ambas as expressões referem-se a impressos destinados às massas, diferindo-se em seu tom destes e no julgamento de valor agregado aos conceitos. Ao sensacionalismo estava relacionado abuso de violência e sangue, entre outras abordagens pejorativas. A expressão vinculava-se também a um preconceito de valor empregado pelas elites (burguesia) às publicações destinadas às massas. O uso do termo popular justifica-se, portanto, devido à adaptação destas publicações, que não se valem mais de sangue e cadáveres para agregar leitores. O limite, porém, entre sensacionalismo e popular é tênue, uma vez que o popular tem nuances (características) do antigo sensacionalismo (fotos e manchetes grandes), mas sem abuso de sangue ou descrições desnecessárias de crimes. No entanto, o segmento popular não é totalmente novo, mas uma readaptação de um modelo antigo. A nova nomenclatura justifica-se pelo abandono de um preconceito e julgamento de valor prévio, o qual estava intrinsecamente ligado ao sensacionalismo, mas não ao ineditismo da fórmula. As alterações da sociedade ocorrem de forma lenta e suas modificações acontecem à medida que uma idéia passa a ser considerada antiga, como afirma Hoggart (1975, p.10 e 11):

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As alterações dos comportamentos processam-se, na maioria dos aspectos da vida social, com grande lentidão. As atitudes novas são incorporadas noutras já existentes, parecendo, por vezes, à primeira vista, formas das atitudes ‘antigas’ que receberam uma nova aparência. Os indivíduos vivem assim simultaneamente e sem dificuldades aparente em ‘climas mentais’ diferentes. (...) O que tem como resultado que as perspectivas contemporâneas sejam aceites apenas na medida em que é possível identificá-las parcialmente com atitudes ‘antigas.

Conclui-se, então, que a adoção de um termo novo para caracterizar os termos justifica-se em âmbito social e de valor a ele agregado, para que estas publicações possam ser estudadas e lidas sem julgamento prévios, buscando também exterminar lentamente o preconceito vinculado às publicações para as massas. Tais impressos possuem, sim, características provindas das massas e sustentam-se justamente por que dizerem respeito a elas. Além dos fatos acima, a análise específica das capas possibilitou relacionar outras inferências aos jornais e seus títulos. As capas evidenciaram peculiaridades do jornalismo popular do BILD Hamburg e do DG e permitiram conclusões no que diz respeito ao tratamento de temas e também aos assuntos privilegiados nas publicações, as quais são elucidadas abaixo. Foi possível estabelecer relações também ao contexto de publicação dos jornais e ao modo de abordagem das notícias a ele relacionados. Em relação aos aspectos gráficos, verificou-se que o logotipo do BILD Hamburg e Diário Gaúcho representa forte identidade para ambos os períodicos, não tendo eles, por isso, sofrido mudanças de grande porte no decorrer de sua história. A importância do recurso gráfico relaciona-se à própria imagem do jornal, mas possui ainda mais relevância uma vez que ambos possuem somente ou basicamente venda avulsa 79. A diagramação das capas dos jornais assemelha-se, o que explica-se, uma vez que o DG foi inspirado em jornais europeus do segmento popular, entre eles o BILD. Além disso, através da análise gráfica foi possível concluir que os periódicos adequam-se a sua proposta popular, tendo cores fortes e vibrantes, além de tipografias e diagramação que dizem respeito ao público ao que se destinam. A diagramação dos jornais mostra-se desorganizada e com apelos visuais que deixam o leitor sem saber para onde olhar, porém o fato condiz com característica de periódicos populares, como o BILD. Sobre isso, afirma García (2009, tradução nossa),

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O jornal BILD Hamburg possui assinatura, porém, conforme os dados apresentados no capítulo da referida publicação (Capítulo 2- BILD Hamburg), o número é pouco expressivo se comparado às vendas avulsas. Já o Diário Gaúcho não possui assinatura.

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[...] bom design é aquele que é apropriado para o meio e audiência para o qual ele é pensado. Com essa definição, ninguém faz isso melhor que o BILD, e consistentemente, o que é importante. Eu chamo, o que esse pássaro exótico e colorido na forma de um jornal faz, de ‘caos sistemático’, com continuidade visual e surpresas por todo o lado.

A diagramação do Diário Gaúcho, inspirada em jornais como o BILD, é também adequada aos seus leitores e condiz com a proposta editorial do jornal. Foi possível concluir também que as cores do periódico gaúcho remetem a identidade do próprio povo, além do estilo de diagramação estilo cartaz dizer respeito à cultura das ruas. A análise dos títulos evidenciou sua estreita relação com valores notícias caracterizados por Amaral (2006) como tipicamente populares, tais como: capacidade de entretenimento; proximidade geográfica ou cultural do leitor; capacidade de simplificação, possibilidade de ser narrado dramaticamente; capacidade de identificação dos personagens com os leitores (personalização) e utilidade. Porém, percebeu-se também que outros critérios podem ser relacionados às notícias como morte, notoriedade, novidade, notabilidade, inversão, falha, excesso/escassez, inesperado, infração, entre outros. A relação com os critérios relacionadas ao segmento popular está presente de forma mais ampla e significativa nos periódicos, mostrando-se mais intrínseca neles, porém a relação com outros critérios também mostra-se presente e evidente. Outra característica que merece destaque é o vocabulário utilizado nas manchetes, as quais, muitas vezes, possuem marcas de oralidade, como: pontuação, letras repetidas (evidenciando emoção ou grito) e interjeições. Assim, através da análise e da própria descrição do texto pelos respectivos editores, conclui-se que, embora ele seja lido, o mesmo conserva características da difusão oral, propiciando proximidade cultural com o universo dos leitores e informalidade aos periódicos, além de gerar identificação do público para com os jornais. Através destes recursos gramaticais, cria-se certa sensação de companheirismo e amizade com os leitores, característica que começa a ser construída quando da apresentação dos jornais ao público através de seus textos e anúncios. A característica faz parte da proposta dos jornais. A compilação dos títulos revelou prioridades e escolhas por parte dos periódicos. A capacidade de entretenimento (valor-notícia principalmente vinculado aos títulos das categorias “Variedades” e “Esportes”) possui maior destaque. Mesmo que sua proeminência na capa (por meio dos títulos principais) não seja análoga em ambos os jornais, visto que o DG não possui títulos principais pertencentes à categoria Variedades, e que BILD Hamburg

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não possui relacionado a “Esportes”, é possível perceber que o entretenimento constitui um dos pilares do jornalismo popular do BILD Hamburg e do Diário Gaúcho. Entre as editorias com destaque em ambos periódicos, pode-se evidenciar Variedades, a qual tem maior proeminência no BILD Hamburg, mas possui também forte presença no DG. Além dela, as categorias “Polícia e Crimes” e “Esportes”, se sobressaem nos dois jornais em análise, sendo estas, no entanto, com maior destaque no Diário Gaúcho. A amostra evidencia também que a editoria “Local”, de grande importância para o Diário Gaúcho, é raramente citada na capa do BILD, evidenciando uma diferenciação editorial entre os jornais. Assim como a importância dos assuntos de “Economia e Política” também se mostra diferenciada no período avaliado, refletindo um momento de eleições na Alemanha, mas também características dos jornais no modo de tratamento dos temas. Percebeu-se também que os títulos, em sua maioria e independente de a qual editoria relacionam-se, evidenciam aspectos práticos, tendo forte ligação com o valor notícia utilidade, mostrando-se, por vezes, prática e outras, informativa. A análise permitiu também identificar enfoques e aspectos evidenciados nos títulos, demonstrando o tratamento a eles despendido. A presença e ênfase do aspecto particular, da história do leitor, na capa do Diário Gaúcho é um ponto que merece destaque. O DG é um jornal de leitores inclusive em sua capa, um jornal de rostos. As notícias são exemplificadas e destacadas, por vezes, através das histórias deles, com imagem e legendas a eles relacionadas na capa do jornal. Esta característica foi percebida, no DG, principalmente na categoria “Local”, mas também em outras. Já no BILD Hamburg, a presença de leitores na capa se dá unicamente a partir da seção BILD-Girl e BILD-Boy, sendo a feminina, conforme citado neste trabalho, muito mais abrangente. No entanto, essa participação dos leitores na capa tem valor pecuniário agregado e não constitui reportagem, mas uma entrevista pingue- pongue de cunho sensual e apelo sexual, destinando os jornais espaços diferenciados a seus leitores na primeira página. O destaque da categoria Variedades evidenciou uma semelhança editorial entre os periódicos. Porém, é importante ressaltar que sua proeminencia é ainda maior no periódico alemão, que possui títulos principais referentes ao assunto, além de maior quantidade deles, os quais representam quase um terço das notícias da amostra. Outro ponto que merece destaque é a ligação de grande parte das notícias aqui relacionadas à amor 80, sexo e/ou sensualidade. Nove dos quatorze títulos da categoria referente ao BILD Hamburg e sete, dos dez do DG,

80

Amor aqui se refere ao sentido romântico e, não, fraternal.

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enquandram-se nesta premissa. Percebe-se que este constitui aspecto característico de ambos os periódicos, porém com uma diferenciação no tom utilizado e na forma de abordagem. No periódico brasileiro, a sensualidade encontra-se relacionada ao títulos, mas o aspecto sexual não possui referência direta. A sensualidade no Diário Gaúcho evidencia-se através de imagens de celebridades ou títulos alusivos ao assunto, porém de modo mais sutil que no jornal alemão. No BILD Hamburg, o apelo sensual e sexual relaciona-se também a imagens e/ou títulos, porém é recorrente no jornal fotografias femininas com seios a mostra. A seção BILDGirl tem o topless como característica, além das perguntas relacionadas à sexo. Por vezes, há também celebridades representadas da mesma maneira na primeira página. Assim, além do fator sensualidade, percebeu-se que a representação da mulher de maneira sensual constitui característica das publicações. A presença da figura feminina seminua é recorrente e amplamente utilizada pelos periódicos, respeitando as devidas proporções. O grau de sensualidade e apelo sexual possivelmente relaciona-se ao contexto social e cultural em que as publicações encontram-se. A ausência de topless, proibido no Brasil, propicia maior conservadorismo em relação a exposição dos seios femininos. Já na Alemanha, onde a prática é permitida e amplamente realizada, inclusive em parques, a exposição da imagem do busto feminino possivelmente seja vista com outros olhos. Além disso, a cidade de Porto Alegre, pelo clima mais frio que no restante das capitais do país e pela inexistencia de praias, propicia também que a exposição do corpo seja menos frequente, sendo a população menos acostumada a tal exposição que no restante do país. O próprio Diário Gaúcho foi pensado de modo a responder ao conservadorismo peculiar do estado, como comenta Bach, gerente-executivo do jornal ao falar sobre o planejamento do periódico: “Ao pensar o jornal, a gente conhecia algumas coisas do gaúcho. As pessoas tendem a achar que nós temos uma visão moderna, mas somos ainda muito conservadores.” O DG foi pensado de modo a ser um jornal que respeitasse as particularidades do gaúcho e fosse um periódico que entrasse nas casas das pessoas. Assim, a diferenciação do apelo sensual possivelmente responde ao contexto social e cultural em que situam-se as publicações. A forma de abordagem é diverso nas publicações adequando-se ao ambiente em que circulam. Por fim, concluiu-se que a ampla presença das celebridades propicia intimidade e identificação dos leitores para com elas. Os periódicos analisados recriam, através das estrelas, um senso de comunidade entre o público e as personalidades retratadas. Ao saber da vida das celebridades, os leitores têm a sensação de tornarem-se íntimos de seus passos, como amigos ou pessoas próximas a elas.

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Já a categoria “Local” evidenciou significativa diferença editorial entre os periódicos. Através da análise, percebeu-se que, até devido ao fato do BILD Hamburg constituir edição regional do periódico de circulação nacional BILD, a ênfase na capa aos assuntos locais encontra-se, por ele, relegada. O BILD Hamburg evidencia, então, sua amplitude nacional na capa e, apesar de ser uma edição regional, o destaque para as notícias locais é inexistente. A grande característica do jornalismo popular brasileiro não tem o mesmo destaque no periódico alemão em análise. No DG, a categoria “Local” possui um título principal e, em seu somatório, é superada em apenas um título pela editoria “Variedades”, o que demontra que o “Local” tem destaque e privilégio praticamente igual ao da outra categoria. Os jornais do segmento popular no Brasil, como o Diário Gaúcho, possuem a ênfase ao regional como uma peculiaridade, conforme destaca Amaral (2006) ao descrever as publicações brasileiras do segmento: “(...) São jornais que atendem às regiões metropolitanas, apostam nas editorias Cidades e dificilmente se tornarão nacionais”. Tal descrição não condiz com a publicação alemã, constituindo diferença editorial importante. As capas de um jornal, por constituirem espécie de “janela” de seu conteúdo, destacam os assuntos de cada edição. Assim, por sua vez, refletem também o período e as notícias em pauta naquele momento, as quais pertinem a seu contexto de circulação. As edições do BILD Hamburg pertencentes à amostra, evidenciam assim, período pré-eleitoral no país, porém, ao analisar as notícias que possuem destaque (títulos principais) apenas metade delas (duas) relaciona-se a política, sendo as outras duas ligadas à economia. Assim, apesar de o período eleitoral influir no maior destaque ao assunto, percebe-se que títulos relacionados à “Economia e Política” possuem por si só mais destaque que no jornal brasileiro Diário Gaúcho. O DG apresentou apenas duas notícias relacionadas a esta editoria durante a semana analisada, evidenciando esta não ser uma editoria de grande destaque no periódico. O aspecto político e econômico em destaque justifica-se também em relação ao contexto de circulação do periódico alemão, pois Hamburgo é uma cidade-estado, possuindo grande importância política. O destaque da categoria evidencia outra diferença editorial, sendo ela um dos pilares do BILD Hamburg, mas não constituindo, da mesma forma, editoria privilegiada do Diário Gaúcho. Assim, o conteúdo político, que representava a base dos antigos jornais sensacionalistas brasileiros, hoje são conteúdo de pouco destaque no Diário Gaúcho, que possui apenas dois títulos relacionado ao tema na semana analisada: um

de conteúdo

econômico, dizendo respeito ao público-alvo do jornal e, o outro, relacionado à política, sobre assunto de grande repercussão. Percebeu-se também que o asunto política tem tratamento

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peculiar pelo jornal BILD Hamburg, que faz uso de promoções e personalidades para incentivar os leitores a votarem por exemplo. A editoria de “Polícia e Crimes” tem importância semelhante nos dois jornais, porém a análise evidenciou que no jornal brasileiro, ela tem maior destaque, já que ele possui três títulos principais relacionados ao assunto na semana analisada, e o jornal alemão, nenhum. O Diário Gaúcho possui também maior quantidade de títulos desta categoria na amostra. Assim, apesar de ambos possuírem percentuais semelhantes de títulos relacionados ao assunto, foi possível concluir o maior destaque dado à categoria pelo jornal brasileiro. No entanto, o tratamento deste tema nos periódicos é diverso, trazendo, certas vezes, o BILD Hamburg, descrição mais detalhada e ênfase desnecessárias a aspectos brutais dos acontecimentos em seus títulos, característica presente em dois dos seis da amostra. Em ambos os periódicos, as notícias desta categoria tem relação principalmente com valores-notícia como infração e dramatização. Percebe-se também que, no Diário Gaúcho, elas relacionam-se ao espaço geográfico próximo do leitor e, no BILD Hamburg, este espaço encontra-se mais ligado, principalmente, ao nacional, e não ao regional. O Esporte, relacionado principalmente ao critério de capacidade de entretenimento, possui significativo espaço em ambas as capas. Os títulos da amostra tratam exclusivamente de futebol, evidenciando parecença cultural dos locais em que os jornais circulam, uma vez que a popularidade da modalidade é forte em ambos os contextos. Nos dois periódicos, há ênfase para campeonatos locais e nacionais. Uma diferença, no entanto é que o BILD Hamburg trata uma de suas reportagens de modo a personalizar as jogadoras da seleção feminina do país, tratando-as como celebridades, o que não é observado nos títulos do DG. Observou-se também uso de interjeições e ênfases gramaticais para agregar emoção aos títulos. Através da análise dos títulos da categoria “Empregos e Serviços”, foi possível concluir que estas notícias tem enfoques totalmente diferentes nos dois periódicos. No DG, a ênfase encontra-se, na maioria deles, nas ofertas de emprego divulgadas na edição. Já no BILD Hamburg, o tema é destacado na capa através de notícias sobre o assunto, enfatizando situações e dados. A oferta de vagas pelo periódico brasileiro constitui serviço à população, e divulga, além das oportunidades de trabalho, cursos ou dicas para entrevista e etc. No BILD Hamburg, além das notícias relacionadas a emprego (duas), as outras duas relacionam-se à previsão do tempo no país e à perguntas que leitores poderiam enviar ao chefe dos transportes, constituindo-se também em serviço, mas de natureza diferente e com menor freqüência que no DG. O serviço publicado na capa do BILD Hamburg é variado e o do DG,

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mais específico, principalmente vagas de emprego. É importante, no entanto, ressaltar que aqui se enquadram as notícias que tem como foco central o serviço, porém outros títulos apresentaram traços da característica quando de sua análise, estando ela relacionada a utilidade prática e direta das notícias. A grande oferta de vagas de emprego no periódico brasileiro possivelmente diz respeito ao contexto social em que ele circula, onde os desempregados não têm o suporte existente na Alemanha. No país europeu, o seguro desemprego é fornecido inclusive à pessoas que possuem trabalho, como complemento de renda (DEUTSCHE WELLE, 2008). Há também outros benefícios sociais, e, por essa razão, deduz-se que as ofertas de vagas não têm o mesmo apelo popular. A editoria de “Saúde” possui pouca proeminência em ambos os jornais analisados. No entanto, a análise permitiu concluir também que a ênfase delas na capa é diferenciada. No jornal BILD Hamburg, metade das notícias relacionadas à saúde constituíam-se de pesquisas ainda em desenvolvimento, as quais não apresentam utilidade prática. As outras duas constituíam de serviço à população: anúncio de vacinação em um mês e maior duração da pílula do dia seguinte. Já no Diário Gaúcho, apenas duas notícias de capa relacionavam-se ao tema, tendo ela ainda menos destaque que no jornal alemão. As notícias traziam o fechamento da maternidade de Guaíba (Grande Porto Alegre) e a ampliação da coluna, que responde dúvidas de sexo dos leitores, para o meio online. O conteúdo, abordagem dos títulos e apresentação dos jornais refletem seu segmento, filosofia, contexto e público. O Diário Gaúcho, apesar de ter tido influência do segmento europeu para sua concepção, apresenta características próprias. O jornalismo popular gaúcho, por ele representado, destaca o entretenimento, assim como europeu, porém aspectos locais e vagas de emprego têm maior proeminência do que no alemão, representado, neste trabalho pelo BILD Hamburg. De abrangência nacional, este último possui semelhanças ao DG, porém igualmente reflete suas peculiaridades, mostrando-se, em sua capa, o local praticamente relegado. Tais diferenciações evidenciam-se no destaque dado aos títulos, na representação e espaço destinado aos leitores e no grau de apelo sensual na capas, que demonstram que os jornais são únicos e dizem respeito a uma cultura e local diferenciados. A expressão gráfica semelhante revela traços em comum e filosofias parecidas, porém os jornais possuem característica que lhe são peculiares.

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APÊNDICE A – Fotografia panorâmica da cidade de Hamburgo

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APÊNDICE B – Fotografia da reunião de pauta às 10h15- BILD Hamburg

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APÊNDICE C – Fotografia da entrada da redação da editoria de Local- BILD Hamburg

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APÊNDICE D – Fotografia da redação do BILD Hamburg – editoria de Local

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APÊNDICE E – Fotografia da sala de diagramação- BILD Hamburg

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APÊNDICE F – Fotografia do Editor-Chefe do BILD Hamburg – Matthias Onken

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APÊNDICE G – Fotografia panorâmica da cidade de Porto Alegre

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APÊNDICE H – Fotografia da reunião de pauta - Diário Gaúcho

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APÊNDICE I – Fotografia da reunião de pauta: Editor de Dia-a-Dia e Editor-Adjunto

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APÊNDICE J – Fotografia da Redação do Diário Gaúcho

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137

APÊNDICE K – Fotografia da Redação do Diário Gaúcho

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APÊNDICE L – Fotografia da Editor-Chefe do Diário Gaúcho- Cláudio Thomas

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ANEXO A – Primeira Propaganda do BILD Hamburg- 24 de junho de 1952

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ANEXO B – Texto publicado na primeira edição do Diário Gaúcho- 17 de abril de 2000

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ANEXO C – Documento original concedido na redação do BILD Hamburg- Rotina

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ANEXO D – Espelho do dia 9 de Setembro de 2009, concedido pelo BILD Hamburg

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ANEXO E – Espelho do dia 5 de Maio de 2009, concedido pelo Diário Gaúcho

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ANEXO F – Capa do BILD Hamburg do dia 8 de Setembro de 2009

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ANEXO G – Capa do BILD Hamburg do dia 9 de Setembro de 2009

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ANEXO H – Capa do BILD Hamburg do dia 10 de Setembro de 2009

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157

ANEXO I – Capa do BILD Hamburg do dia 11 de Setembro de 2009

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159

ANEXO J – Capa do BILD Hamburg do dia 12 de Setembro de 2009

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161

ANEXO K – Capa do BILD Hamburg do dia 14 de Setembro de 2009

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163

ANEXO L – Capa do Diário Gaúcho do dia 8 de Setembro de 2009

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165

ANEXO M – Capa do Diário Gaúcho do dia 9 de Setembro de 2009

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167

ANEXO N – Capa do Diário Gaúcho do dia 10 de Setembro de 2009

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ANEXO O – Capa do Diário Gaúcho do dia 11 de Setembro de 2009

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ANEXO P– Capa do Diário Gaúcho do dia 12 e 13 de Setembro de 2009

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ANEXO Q – Capa do Diário Gaúcho do dia 14 de Setembro de 2009

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