José Ferreira Custódio Júnior: um ilustre industrial na Marinha Grande

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Jornal da Golpilheira

. entrevista . história .

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Outubro de 2015 [19 anos]

.história. José Ferreira Custódio Júnior: um ilustre industrial na Marinha Grande

Miguel Portela Investigador José Ferreira Custódio Júnior, filho de José Ferreira Custódio Sénior e de Joaquina de Jesus Ferreira, nasceu a 15 de janeiro de 1855 na Marinha Grande, tendo sido batizado no dia 31 desse mesmo mês e ano, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Marinha Grande. Asseveramos que em 12 de junho de 1887 e com a idade de 32 anos, José Ferreira Custódio Júnior contraiu matrimónio com Maria do Rosário Duarte, de 30 anos, filha de Bernardino Duarte e Maria Rosa Órfã, todos moradores na Marinha Grande. À data, José Ferreira Custódio Júnior exercia o cargo de tabelião de notas da Marinha Grande e era, também, professor do ensino complementar (doc.1 e 2). No ano de 1889 iniciou-se a publicação do periódico Autonomia, impresso na Tipografia da Marinha Grande, cujo fundador e diretor foi precisamente José Ferreira Custódio Júnior. O jornal nasce graças ao movimento, liderado pelo seu diretor e que contava com variadas

tos de Concessão para Licenças Industriais. Governo Civil de Leiria. Atividades Económicas 1890-1898, Dep. III-79-C-3, (1893) fl. 1-2]. Juntamente com o requerimento de pedido de concessão de licença, José Ferreira Custódio Júnior apresentou uma memória justificativa do seu projeto, expondo algumas aclarações sobre o seu propósito, sobretudo no que se refere às condições gerais do processo de fabrico. Refere o documento: «Empregando um processo inteiramente novo, e de sua exclusiva invenção, por meio de cylindros de ferro e fornos de ar reaquecido, podendo apenas exalar insignificantes quantidades de acido sulphoroso, que nenhum damno póde causar á saúde publica e á vegetação, mal póde até considerarse um estabelecimento comphendido na 2.ª classe da tabela que faz parte do mencionado decreto [Decreto de 21 de outubro de 1863]». O documento menciona o local exato do seu estabelecimento, situando-o «no extremo da povoação, onde se encontram estabelecimentos compreendidos na 1.ª classe da tabela respectiva», afirmando ainda que «nenhuma reclamação fundamentada póde ser appos // [fl. 3] aposta á concessão da licença». Foi publicitado o respetivo edital, de acordo com a legislação da época, no periódico Autonomia, n.º 201 de 13 de agosto, e n.º 202 de 20 de agosto, ambos de 1893, do qual Custódio Júnior era proprietário, conforme

Anúncio da firma A Central de José Ferreira Custódio & Companhia, publicitado no Annuario Commercial…, Op. Cit, p. 622.

Anúncio publicitado no periódico A Integridade, n.º 4, datado de 26 de julho de 1896, 1.º Ano, p. 4. personalidades locais, que reivindicava a restauração do concelho da Marinha Grande. Todavia, só em 1917 esse objetivo seria cumprido (FERNANDES, Carlos, Os periódicos do concelho da Marinha Grande, Cadernos de Estudos Leirienses-5, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, 2015, pp. 75-92). Sabemos que em 7 de agosto de 1893 José Ferreira Custódio Júnior solicitara «licença para continuar a laboração d’uma officina, que tem junto da sua residencia na Marinha Grande, para a fabricação de soda artificial», apresentando-se nessa data como industrial [Arquivo Distrital de Leiria (A.D.L.) - Au-

referimos anteriormente. Achámos que haviam sido apresentadas reclamações relativas à instalação desta fábrica, afirmando o administrador do concelho de Leiria que: «das diligencias e averiguações a que procedi, em cumprimento do despacho de V. Ex.a de 2 de septembro ultimo, ácêrca de um requerimento de Jose Franco Junior, e outros da Marinha Grande, resulta que Jose Ferreira Custodio, da mesma villa, não tem fabrica alguma de sulfato de soda, comquanto tenha feito experiências para a preparação de um composto que designa sob a formulo - sulphocarbonato soda, em uma casa junto á sua residencia; experiencias estas

ficativamente para o desenvolvimento industrial da região e do país. Demonstra-se, através deste estudo, o seu papel relevante na defesa dos interesses da região e na restauração do concelho da Marinha Grande, facto reconhecido e perpetuado através da atribuição do seu nome a uma das ruas da sua Marinha Grande.

Documento 1

1855, janeiro, 31, Marinha Grande Registo de batismo de José Ferreira Custódio Júnior. A.D.L., Livro de Batismos da Marinha Grande, Dep. IV-36-B-7, assento n.º 1, fl. 28v.

Editais publicitados no periódico O Districto de Leiria, n.º 764, datado de 14 de novembro de 1896, Ano XV, p. 3. de que fez contra-prova nos dois estabelecimentos de vidraria. O referido Jose Ferreira Custodio declarou, por termo de 13 do dito mez de setembro, que tinha empregado // [fl. 3] o sal marinho e acido suphurico em vazos ou aparelhos fechados, com condençadores embora depois o passasse para fornos de elevada temperatura de corrente de ar aquecido, a que informaria com mais minudencia e precisão, se das experiencias conseguisse algum resultado, contando nesse caso habilitar-se com a devida licença». Após cumprir todos os trâmites legais, José Ferreira Custódio Júnior obteve o respetivo alvará de licença em 9 de outubro de 1893. Anos mais tarde, em 30 de outubro 1896, José Ferreira Custódio Júnior apresentou na casa da administração do concelho de Leiria dois requerimentos que solicitavam a concessão de licenças para instalação de duas fábricas, nomeadamente uma para laboração de uma fábrica de vidros e outra de uma fábrica de soda [A.D.L. - Autos de Concessão para Licenças Industriais. Governo Civil de Leiria. Atividades Económicas 1890-1898, Dep. III-79-C-3, (1896)]. No que concerne à fábrica dos vidros, este industrial solicitava explicitamente, no requerimento datado de 28 de outubro desse ano, «alvará de licença para a laboração de uma fabrica de vidros conhecida pela denominação de A Central, que se encontra instalada no sitio do Salgueiro, limite d’esta villa e freguezia», afirmando ainda que esta «encontra-se em propriedade do supplicante, que confronta do norte, nascente e poente com as ruas publica, e com terrenos de José Nobre e outros». Após o edital ter sido propagandeado no periódico O Districto de Leiria, (n.º 764, de 14 de novembro de 1896, Ano XV, p. 3) e depois dos trâmites processuais, foi lavra-

do o respetivo alvará de licença em 19 de janeiro de 1897. Todavia, a publicidade referente a esta fábrica figurava já no periódico A Integridade, n.º 4, de 26 de julho de 1896. Relativamente à fábrica de soda, e em conformidade com o requerimento exposto na casa do concelho de Leiria, confirmámos que esta unidade industrial tinha já sido alvo, anos antes, de um processo semelhante, conforme apontámos anteriormente, sendo que se solicitava um pedido formal de licença para iniciar a atividade enquanto unidade industrial. Assim, refere o aludido requerimento que «o abaixo assignado José Ferreira Custodio Junior, industrial, morador na Marinha Grande, deseja recomeçar a laboração da fabrica de soda, que possue n’esta villa junto da sua residencia, para a fabricação de sulfato e carbonato de soda». O alvará de concessão de licença para esta unidade fabril viria a ser obtido e lavrado em 5 de fevereiro de 1897. Tendo por base um Anuário Comercial editado em 1904, reconhecemos que José Ferreira Custódio Júnior desempenhava nesse ano o cargo de notário na Marinha Grande, assim como a empresa José Ferreira Custódio & Companhia, a mesma da fábrica de vidros, representava a agência bancária Economia Portugueza na freguesia da Marinha, que nessa data se encontrava anexa ao concelho de Leiria (Annuario Commercial de Portugal, Ilhas e Ultramar da Industria, da Magistratura e da Administração ou Annuario dos 600:000 Endereços em Lisboa, concelhos do reino, ilhas e colonias, Director: PIRES, Caldeira, XXIV Anno de publicação, Lisboa, 1904, pp.1282-1283). José Ferreira Custódio Júnior é, portanto, reconhecido como um dos maiores vultos da Marinha Grande, tendo contribuído signi-

[fl. 28v] Marinha Grande. 1855. Joze filho de Joze Ferreira Custodio Aos trinta e um dias do mez de janeiro de mil oitocentos e cincoenta e cinco, nesta Parochial Igreja de Nossa Senhora do Rozario da Marinha Grande, Bispado de Leiria, bapetizei solemnemente a Joze que nasceo a quinze deste mez filho legitimo de Joze Ferreira e de Joaquina de Jezus, moradores neste lugar da Marinha Grande e naturaes elle da Ouinteirinhos, ella deste lugar da Marinha Grande. Neto paterno de Custodio Ferreira e de Joaquina de Jezus naturaes elle deste lugar da Marinha e ella de Carvide. Neto materno de Joze Ferreira e de Joaquina de Jezus naturais elle deste lugar da Marinha Grande e ella de Cegodim, freguesia de Monte Real. Foram padrinhos Frederico Joze Lopes deste lugar da Marinha Grande, e Maria Anna, tia paterna. E para constar fiz este assento, que assignei com o padrinho.O cura Joaquim Duarte da Costa Frederico Joze Lopes

Documento 2

1887, junho, 12, Marinha Grande - Registo de casamento de José Ferreira Custódio Júnior com Maria do Rosário Duarte. A.D.L., Livro de Casamentos da Marinha Grande, Dep. IV-36-B-21, assento n.º 20, fl. 118-118v.

[fl. 118] N. 20 - Marinha Grande. José Ferreira Custodio Junior e Maria do Rosario Duarte. Aos doze dias do mez de junho do anno de mil oitocentos e oitenta e sette, n’esta Egreja Parochial de Nossa Senhora do Rosario da Marinha Grande, concelho de Leiria, Bispado de Coimbra, na minha presença compareceram os nubentes Joze Ferreira Custodio Junior e Dona Maria do Rosario Duarte, que sei serem os proprios, com todos os papeis do estylo correntes e sem impedimento algum canonico ou civil para este casamento; elle solteiro d’edade de trinta e dois annos tabellião de notas e professor d’ensino complementar d’esta freguezia natural d’esta mesma freguezia e lugar da Marinha Grande onde foi baptizado filho legitimo de Joze Francisco Custodio Senior e de Joaquina de Jesus Ferreia, proprietarios d’esta mesma freguezia e ella tambem solteira de edade de trinta annos natural e moradora no lugar e freguezia da Marinha Grande, onde foi baptizada filha legitima de Bernardino Duarte e Maria // [fl. 118v.] Rosa Orphã d’esta mesma freguesia, que vivem do seu trabalho e industria; os quaes nubentes se receberam por marido e mulher e os uni em matrimonio; procedendo em todo este acto conforme rito da Santa Madre Egreja Catholica Apostolica Romana. Foram testemunhas presentes que vi serem os proprios Antonio Nobre, viúvo, sachristão d’esta Egreja Parochial e Estevão Nobre, casado, empregado na fabrica dos vidros d’esta freguesia. E para constar mandei lavrar, em duplicado este assento que depois de ser lido e conferido perante os conjuges e testemunhas com elles o assigno. Era ut supra. O conjuge: (a) José Ferreira Custodio Junior A conjuge: (a) Maria do Rosario Duarte Custodio Testemunha: (a) Antonio Nobre Testemunha: (a) Estevão Nobre O prior: (a) Francisco Homem da Nave Valente

Fábrica de Vidros na Marinha Grande - A Central - de José Ferreira Custódio & Companhia em 1896. Autos de Concessão, LRA-Piso-1/ Dep.III/79/C/3-79/D/2, PT/ADLRA/AC/GCLRA/E/097-014 - Imagem cedida pelo Arquivo Distrital de Leiria (Agradecemos, muito penhoradamente, à Doutora Paula Cândido, Diretora do Arquivo Distrital de Leiria).

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